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    OS MUNICPIOS NO PORTUGAL MODERNODOS FORAIS MANUELINOS S REFORMAS LIBERAIS

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    Coleco: BIBLIOTECA ESTUDOS & COLQUIOS

    (Direco: CIDEHUS.UE)

    1. Diplomacia & Guerra: Poltica Externa e Poltica de Defesa em Portugal. Do finalda Monarquia ao Marcelismo Actas do I Ciclo de ConfernciasFERNANDO MARTINS (ed.)

    2. Elites e Redes Clientelares na Idade Mdia: Problemas MetodolgicosFILIPE THEMUDO BARATA(ed.)

    3. Indstria e Conflito no Meio Rural: Os Mineiros Alentejanos (1858-1938)PAULO GUIMARES

    4. Causas de Morte no Sculo XX: A transio da mortalidade e estruturas de causade morte em Portugal ContinentalMARIA DAGRAA DAVID DE MORAIS

    5. Concepes de Histria e de Ensino de Histria Um Estudo no AlentejoOLGAMAGALHES

    6. Elites e Poder. A Crise do Sistema Liberal em Portugal e Espanha (1918-1931) == Elites y Poder. La Crisis del Sistema Liberal en Portugal y Espaa (1918-1931)MANUEL BAIA(ed.)

    7. D. Pedro de Meneses e a construo da Casa de Vila Real (1415-1437)NUNO SILVACAMPOS

    8. Histria e Relaes Internacionais. Temas e debatesLUS NUNO RODRIGUES e FERNANDO MARTINS (ED.)

    9. Igreja, Caridade e Assistncia na Pennsula Ibrica (Scs. XVI-XVIII)LAURINDAABREU (ed.)

    10. Os Municpios no Portugal Moderno: dos forais manuelinos reformas liberaisMAFALDASOARES DACUNHAe TERESAFONSECA(ed.)

    Coleco: FONTES & INVENTRIOS (Direco: CIDEHUS.UE)I. Srie GAZETAS (Direco: CHC-UNL e CIDEHUS.UE)

    1. Gazetas Manuscritas da Biblioteca Pblica de vora. Vol. I (1729-1731)JOO LUS LISBOA; TIAGO C. P. DOS REIS MIRANDA; FERNANDA OLIVAL

    2. Gazetas Manuscritas da Biblioteca Pblica de vora. Vol. II (1732-1734)JOO LUS LISBOA; TIAGO C. P. DOS REIS MIRANDA; FERNANDA OLIVAL

    II. Srie GERAL (Direco: CIDEHUS.UE)

    1.Antnio Henriques da Silveira e as Memrias analticas da vila de Estremoz

    TERESAFONSECA

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    Mafalda Soares da CunhaTeresa Fonseca

    (Ed.)

    OS MUNICPIOS NO PORTUGAL MODERNO

    DOS FORAIS MANUELINOS S REFORMAS LIBERAIS

    Edies Colibri

    CIDEHUS / UE Centro Interdisciplinar de Histria, Culturas e Sociedadesda Universidade de vora

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    Os municpios no Portugal Moderno : dos forais manuelinoss reformas liberais. - ed. Mafalda Soares da Cunha, TeresaFonseca. - (Biblioteca - estudos & colquios ; 10)ISBN 972-772-526-0

    I - Cunha, Mafalda Soares da, 1960-II - Fonseca, Teresa, 1950-

    CDU 35294(469)"15/17"(042.3)

    BIBLIOTECA NACIONAL CATALOGAO NAPUBLICAO

    TTULO Os Municpios no Portugal Moderno: Dos foraismanuelinos s reformas liberais

    ED. Mafalda Soares da Cunha e Teresa Fonseca

    EDITOR Fernando Mo de Ferro

    EDIO Edies Colibri e CIDEHUS-UE

    PAGINAO Albertino Calamote

    CAPA TVM Designers

    DEP. LEGAL 220 656/05

    Lisboa Maio 2005

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    ndice

    Introduo .................................................................................... 7

    Francisco Ribeiro da Silva (FL-UP)Historiografia dos municpios portugueses (sculosXVIeXVII) .......... 9

    Jos Viriato Capela (Univ. Minho)Administrao local e municipal portuguesa do sculoXVIIIs refor-mas liberais (Alguns tpicos da sua historiografia e nova Histria) .... 39

    Nuno Gonalo Monteiro (ICS-UL)Sociologia das elites locais (sculosXVII-XVIII). Uma breve reflexohistoriogrfica ................................................................................ 59

    Teresa Fonseca (CIDEHUS.UE)O funcionalismo camarrio no Antigo Regime. Sociologia e prticasadministrativas .............................................................................. 73

    Mafalda Soares da Cunha (CIDEHUS.UE)Relaes de poder, patrocnio e conflitualidade. Senhorios e munic-

    pios (sculo XVI-1640) ................................................................... 87

    Fernanda Olival (CIDEHUS.UE)As Ordens Militares e o poder local: problemas e perspectivas deestudo ............................................................................................ 109

    Laurinda Abreu (CIDEHUS.UE)

    Cmaras e Misericrdias. Relaes polticas e institucionais ............... 127Rute Pardal (CIDEHUS.UE)

    As relaes entre as Cmaras e as Misericrdias: exemplos de comu-nicao poltica e institucional ........................................................ 139

    Margarida Sobral Neto (FL-UC)Senhorios e concelhos na poca moderna: relaes entre dois poderesconcorrentes ................................................................................... 149

    Pedro Cardim (FCSH-UNL)Entre o centro e as periferias. A assembleia de Cortes e a dinmica

    poltica da poca moderna .............................................................. 167

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    Jos Manuel Subtil (Inst. Politcnico Viana do Castelo/UAL)As relaes entre o centro e a periferia no discurso do Desembargodo Pao (Scs.XVII-XVIII) .............................................................. 243

    Rui Santos (FCSH-UNL)Balano final: Questes para uma sociologia histrica das instituiesmunicipais ..................................................................................... 263

    6 OSMUNICPIOS NOPORTUGALMODERNO: DOS FORAIS MANUELINOS S REFORMAS LIBERAIS

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    Introduo

    O colquio Os municpios no Portugal Moderno. Dos Forais Manuelinoss Reformas Liberais ocorrido na cidade de Montemor-o-Novo a 6 e 7 deNovembro de 2003, constituiu uma iniciativa conjunta da CmaraMunicipal de Montemor-o-Novo e do Centro Interdisciplinar de Histria,Culturas e Sociedades (CIDEHUS) da Universidade de vora.

    A sua realizao revestiu-se de particular significado para Montemor--o-Novo, que nesse ano comemorou em simultneo os 800 anos da con-cesso do foral de D. Sancho I e os 500 anos da atribuio do foral deD. Manuel I. E para o CIDEHUS, a colaborao com a autarquia monte-morense representou uma possibilidade de realizao de um evento departicular interesse cientfico fora do mbito acadmico, abarcando destemodo um auditrio mais vasto e diversificado.

    O evento afirmou-se ainda como uma excelente oportunidade de refle-xo sobre o municipalismo portugus. Permitiu efectuar o ponto da situa-o da historiografia relativa ao tema, atravs de abordagens respeitantess suas diversas vertentes. E o confronto de perspectivas de anlise e dosdiferentes casos estudados, possibilitou a caracterizao da sociologia e dasprticas poltico-administrativas em diferentes contextos espaciais, contri-buindo assim para aprofundar o conhecimento das especificidades regio-nais, nomeadamente as do Sul do pas.

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    Historiografia dos Municpios Portugueses(sculos XVI eXVII)

    FRANCISCO RIBEIRO DASILVA

    (Universidade do Porto Faculdade de Letras)

    Introduo

    O desafio que me foi proposto pela Prof. Teresa Fonseca o de fazero ponto da situao da bibliografia portuguesa sobre concelhos e admi-nistrao municipal referente aos sculosXVI eXVII muito mais dif-cil do que o que parece. Para ser executado cabalmente, para alm da pes-

    quisa em catlogos de bibliotecas, em listas bibliogrficas contidas nasobras da especialidade e na web, deveria ter-me levado s Faculdades eInstitutos de investigao para fazer o levantamento das teses de mestra-do e outros trabalhos que tm sido escritos, foram defendidos em provaspblicas e permanecem inditos. Para tal no dispus de tempo e, por isso,provavelmente vo ficar fora das minhas consideraes estudos e trabalhosdos quais no tive notcia.

    Posta em causa a inventariao total por ser praticamente impossvel,a matria que me foi dada para estudo pode ser tratada e encarada sobdiversas perspectivas e ngulos de observao. Entendi dividir o trata-mento dos trabalhos conhecidos em trs grandes pacotes:

    no primeiro, ensaiarei uma resenha das fontes publicadas;no segundo, considerarei os trabalhos sobre forais manuelinos;no terceiro tentarei um ponto da situao dos estudos sobre concelhos

    e administrao municipal.

    I Fontes Publicadas

    Num primeiro desenvolvimento pareceu-me oportuno fazer umadigresso pelo panorama das fontes impressas.

    Os Municpios no Portugal Moderno: dos forais manuelinos s reformas liberais

    Lisboa, Edies Colibri CIDEHUS-UE, 2005, pp. 9-37.

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    sempre importante para quem se inicia nos segredos de Clio saberque, embora mais dia menos dia se torne indispensvel aprender e cal-correar assiduamente os caminhos dos Arquivos, possvel recorrer a bonsmateriais que outros investigadores foram pondo disposio dos vin-douros em letra de imprensa. uma dvida de gratido para com essesbenemritos que nunca demais realar.

    Mas as dificuldades para uma inventariao til e completa so muitas.

    Antes de mais, necessrio distinguir os tipos de fontes e a sua diversanatureza. Uma coisa so as leis ou normas gerais como as Ordenaes doReino, os regimentos rgios, os alvars vlidos para todo o espao nacional,outra as provises e cartas rgias que no abrangem seno uma cidade, umavila ou um concelho. Uma coisa so as Actas de uma determinada Cmara,outra as correies ou sentenas relativas a um certo Concelho, outraainda os captulos particulares e gerais levados a Cortes, a correspondnciaou os forais, antigos e novos.

    No ser temerrio da minha parte tentar um inventrio? com todaa certeza. Mesmo assim arriscarei na esperana de que a minha lista seja ocomeo de uma recolha que ir engrossar com o contributo de outros at

    se tornar exaustiva. Quem sabe se de imediato as sugestes dos presentesno a iro completar?Numa primeira anlise de fundo geogrfico, farei referncia s fontes

    que alcanam todo o Reino. So sobretudo as normas, cdigos e leis.Para alm das Ordenaes Manuelinas e Filipinas, lembraremos as

    coleces de legislao, de que destacmos:

    Para o sculoXVI Duarte Nunes de Leo, Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelolicenciado ... per mandado do muito alto e muito poderoso Rei DomSebastio Nosso Senhor, Lisboa, 1569Para o sculoXVII

    Jos Justino de Andrade e Silva, Colleco Chronologica da LegislaoPortugueza, Lisboa, 1854-56. Frana, F. da C., Colleco Chronologica de leis extravagantes, compi-ladas por...., Coimbra, Imprensa da Universidade, 1819. Leys e provises que el-rei Dom Sebastio nosso Senhor fez depois quecomeou a governar, Lisboa, Francisco Correa, 1570.

    Foram-me teis e por isso aqui deixo notcia do:

    Regimento dos oficiais das cidades, vilas e lugares destes reinos, em edi-o facsimilada do texto impresso por Valentim Fernandes em 1504,aparecida em Lisboa em 1955 por iniciativa do professor Marcelo

    Caetano sob os auspcios da Fundao da Casa de Bragana.

    10 OSMUNICPIOS NOPORTUGALMODERNO: DOS FORAIS MANUELINOS S REFORMAS LIBERAIS

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    Manoel Fernandes Thomaz, Repertorio Geral, ou Indice Alphabeticodas Leis extravagantes do Reino de Portugal, publicadas depois dasOrdenaes..., 2 tomos, Coimbra, 1815. Manuel Borges Carneiro,Mappa chronologico das leis e mais disposi-es de direito portuguez, publicadas desde 1603 ate 1817, com umsuplemento, Lisboa, 1818.

    E j agora (perdoe-se a publicidade) de Francisco Ribeiro da Silva,Filipe II de Espanha Rei de Portugal (Coleco de documentos filipinosguardados em Arquivos Portugueses), 2 vols., Zamora, Fundao ReiAfonso Henriques, s/d.

    Poderamos incluir aqui os muitos Regimentos que foram publicadosem colectneas ou isoladamente.

    Para alm das fontes impressas de abrangncia geral, h que referir asfontes dirigidas s localidades (que, s vezes inesperadamente ultrapassama dimenso local).

    As terras que dispem de fontes histricas impressas (para o nossoperodo) so imensas:

    Sobre Lisboa Eduardo Freire de Oliveira, Elementos para a Histria do Municpiode Lisboa, interessam-nos os vol.s 1 a 4, Lisboa, 1882-1889. Documentos do Arquivo Histrico da Cmara Municipal de Lisboa,Livros de Reis, VI, Lisboa, 1962 Gis, Damio de, Lisboa de Quinhentos. Descrio de Lisboa, trad. deRaul Machado, Lisboa, Livraria Avelar Machado, 1937.

    Livro do lanamento e servio (1565), Lisboa, Cmara Municipal,1947-1948.

    Livro dos Regimentos dos officiaes mecanicos da mui nobre e sempre leal

    cidade de Lixboa (1572), ed. de Virglio Correia, Coimbra, Imprensada Universidade, 1926.Sobre o Porto

    Corpus Codicum Latinorum et Portugalensium. Dizem respeito poca aqui considerada os vol.s III a V, cujos ttulos so respectiva-mente os seguintes:

    Livro da Contenda entre a Cidade e o Conde de Penaguiam, Porto,1914-1915

    Livro 1. das Chapas, Porto,1938-1952Livro 2. das Chapas, Porto, 1953-1961

    Privilgios dos cidados da cidade do Porto, Porto, 1878

    11HISTORIOGRAFIA DOSMUNICPIOSPORTUGUESES(SCULOSXVIeXVII)

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    Guimares, Fernando, O Porto na Restaurao. Subsdios para a suaHistria, Porto, 1941. Cruz, Antnio Augusto Ferreira da, O Porto seiscentista. Subsdios paraa sua Histria, Porto, Cmara Municipal, 1943. (Captulos de Cortes)Sobre Coimbra

    Jos Branquinho de Carvalho, Livro 2. da Correia (Cartas, provises

    e alvars rgios registados na Cmara de Coimbra 1275-1754), Coim-bra, 1955.Sobre vora

    Gabriel Pereira, Documentos Histricos da Cidade de vora, Lisboa,Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1998Sobre Braga

    Frei Antnio do Rosrio, Acordos e Vreaes da Cmara de Bragano Episcopado de D. Frei Bartolomeu dos Mrtires, 1559/82 in Bra-cara Augusta, vol.s XX-XL Braga, 1970-1990.Sobre Portalegre

    Sotto Maior, Diogo Pereira, Tratado da cidade de Portalegre, int. deLeonel Cardoso Martins, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda,1984.Sobre Guimares

    Alberto Vieira Braga,Administrao Seiscentista do Municpio Vima-ranense, Guimares, Cmara Municipal, 1953. (Na verdade, esta obraem rigor no uma publicao de fontes, mas sendo constituda porresumos de actas e de outros documentos municipais que, embora ela-borados com mrito pelo seu Autor, permanecem muito prximos dosoriginais, decidimos met-la aqui, sem prejuzo de abaixo poder serretomada).

    Sobre Viseu(Do mesmo modo e por maioria de razo entendemoscolocar neste elenco os trabalhos que seguem) Alexandre de Lucena e Vale, Um sculo de administrao municipal.Viseu. 1605-1692, Viseu, 1955. Alexandre de Lucena e Vale, O livro dos Acordos de 1534, Viseu, 1956 Alexandre de Lucena e Vale, ndice do livro dos acordos do sc. XVI,Viseu, 1948SobreAveiro Madail, A.G. da Rocha, Notcia e ndice do livro de registos da Cmarade Aveiro 1581-1792 in Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. XXIII,

    Aveiro, 1967.

    12 OSMUNICPIOS NOPORTUGALMODERNO: DOS FORAIS MANUELINOS S REFORMAS LIBERAIS

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    Neves, Francisco Ferreira, Livro dos Acordos da Cmara de Aveiro de1580. Subsdio para o estudo da vida municipal e nacional portuguesa,

    Aveiro, 1971.Sobre Esposende Manuel Albino Penteado Neiva, Posturas municipais de Esposende sculosXVIIaXIX, Esposende, s.n, 1987.

    Sobre Braganae Trs-os-Montes Alves, Francisco Manuel, Abade de Baal,Memrias Arqueolgico-his-tricas do Distrito de Bragana, ed. revista, Porto, Afrontamento, 2000. Barros, Doutor Joo de, Geografia dantre Douro e Minho e Trs-os--Montes, Porto, Biblioteca Pblica Municipal, 1919.Sobre Loul, Duarte, Lus Miguel e Machado, Joo Alberto,Actas das Vereaes deLoul, Loul, Cmara Municipal, 1984Sobre oAlgarve em geral Guedes, Lvio da Costa,Aspectos do Reino do Algarve nos sculosXVI

    e XVII. A descrio de Alexandre Massaii (1621), Lisboa, Boletim doArquivo Histrico Militar, 1988.Sobre as Ilhas Funchal Jos Pereira da Costa, Vereaes da Cmara Municipal do Funchal

    primeira metade do sculoXVI, Funchal, CEHA, 1998 Jos Pereira da Costa, Vereaes da Cmara Municipal do Funchal segunda metade do sculoXVI, Funchal, CEHA, 2002 Lus Francisco Cardoso de Sousa Mello publicou um Tombo doRegisto Geral da Cmara Municipal do Funchal na Arquivo Histricoda Madeira, vol.sXV-XVIII, 1972-1974.

    Haver por certo outros volumes contendo fontes. Para alm destas, bom no esquecer que muitos historiadores e estudiosos conservam obom hbito de publicar documentos em anexo aos seus trabalhos. Masdesses nunca ser possvel uma memria exaustiva.

    Por outro lado, convm no perder de vista certos textos de narrativahistrica que, pela sua antiguidade, acabaram por se converter em fontes.Esto neste caso, por exemplo, o Catlogo e Histria dos Bispos do Porto deD. Rodrigo da Cunha; o Anacrisis historialde Manuel Pereira de Novaisou as descries de viagens como o livro de Joo Baptista Lavanha, Viagemda Catholica Real Magestade del-Rey D. Filipe II, N. S. ao Reyno de Portu-

    gal. Ou os escritos de Manuel Severim de Faria, etc.

    13HISTORIOGRAFIA DOSMUNICPIOSPORTUGUESES(SCULOSXVIeXVII)

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    Como em tudo, o historiador ter que ter bem apurado o seu sentidocrtico para se dar conta de que uns autores merecem mais crdito do queoutros.

    II Forais

    sabido que os concelhos se ufanam muito dos seus forais e quase sepode dizer que est na moda a sua publicao.

    A questo esta: far algum sentido introduzir o tema dos forais numacomunicao sobre a historiografia do municipalismo portugus?

    Julgamos que sim, apesar de no ignorar que muitos deles no foramdados a concelhos mas a territrios mais amplos a que se chamava Terras,que englobavam ou podiam englobar mais que um concelho: exemplosterra da Feira ou de Ovar.

    Mas mesmo que apenas os concelhos em sentido estrito tivessem sidocontemplados, precisamos estar de sobreaviso. que, ao contrrio do quese possa pensar, a relao entre os forais manuelinos ( a esses que nosreportamos) e os concelhos marcada mais por ambiguidades do que porcumplicidades aprofundadas. Com efeito, os concelhos no so chamadospara arbitrarem o que quer que seja nas matrias a introduzir nos foraismanuelinos, mas apenas a apoiar logisticamente as inquiries preparat-rias e a servirem de guardies e fiis depositrios do documento final. Osforais de D. Manuel nem na letra nem no esprito tocam nas estruturastradicionais da administrao concelhia nem mexem nas competnciasgovernativas dos oficiais municipais. Mais do que confirmar ou reafirmarexpressamente capacidades de interveno das autoridades concelhias, osforais manuelinos pressupem-nas. Dito de outra forma: D. Manuel noaproveitou a reforma dos forais para reforar os poderes concelhios. Longedisso.

    Vejamos: a questo da reforma dos forais punha-se no objectivo e nopropsito de resolver bem uma relao triangular que se mostrava pro-gressivamente mais difcil entre os lavradores e foreiros de um lado, osdonatrios e senhores das terras por outro e o Rei-rbitro no cume do pro-cesso.

    Onde que entravam os concelhos? No seguinte: que os lavradorese foreiros, embora trabalhassem a terra individualmente ou em famlia,agrupavam-se em comunidades pequenas ou grandes inseridas e integra-das em concelhos (ou elas prprias eram concelhos) cujos oficiais eram osporta-vozes das queixas e os Paos do Concelho a cmara de ressonnciadas mesmas. Foi s Cortes quatrocentistas e quinhentistas que, atravs dos

    Procuradores dos Concelhos, chegaram as reclamaes e protestos dos

    14 OSMUNICPIOS NOPORTUGALMODERNO: DOS FORAIS MANUELINOS S REFORMAS LIBERAIS

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    lavradores explorados. E quando Ferno de Pina vai pelo Reino recolherelementos para proceder correcta reforma dos forais, faz as suas inquiri-es encontrando-se com a populao em quadro municipal porque nohavia outro com fora representativa e capacidade de mobilizao das pes-soas. A Igreja quando estava presente fazia mais o papel de senhorio doque o de porta-voz dos foreiros. E quando chegava o momento da deciso,era o Rei que surgia atravs de peritos de grande competncia e prestgio

    institucional por ele prprio nomeados.E depois de elaborado e escrito o foral, mantm-se o tringulo na sua

    distribuio ou encaminhamento: um exemplar entregue ao senhorio,outro fica na posse do poder central, guardando-se no stio prprio queera a Torre do Tombo e como era impensvel fornecer um exemplar a cadaforeiro, o terceiro confiava-se guarda do Concelho, competindo aos

    Juzes e Vereadores conserv-lo em bom estado, sob pena de repreenso oumesmo de punio por parte do Corregedor na sua correio anual.

    Da que os estudos sobre os forais se possam inserir numa viso gen-rica da historiografia municipal.

    Terminava aqui a relao do Concelho com o Foral? No, porque o

    mesmo foral previa mecanismos de punio do senhorio que abusasse oulevasse mais direitos do que os consagrados no diploma. E quem queaplicava essas penas? So exactamente oficiais locais de eleio ou confir-mao concelhia: juzes, vintaneiros ou at quadrilheiros. Resta saber seoficiais rudes e analfabetos, como seriam estes em grande percentagem,teriam coragem e fora para punir senhorios todos poderosos como, porexemplo, os Condes da Feira! Mas essa outra questo, embora seja a pen-sar nessa circunstncia que acima caracterizei de ambgua a relao entreos forais e os concelhos.

    Outra razo para tal que os forais podem fornecer elementos subsi-dirios para o estudo das relaes de poder dentro de um determinado

    espao, para alm de conservarem informaes preciosas sobre toponmia,antroponmia, direitos e costumes tradicionais.Posto isto, pode dizer-se que nos ltimos tempos o estudos dos

    forais tem merecido a assinalada ateno dos historiadores que podemoscaracterizar e fasear, ainda que um pouco artificialmente, do seguintemodo:

    A Um primeiro tempo de anlise da reforma dos forais no conjuntoda governao de D. Manuel. Situo nesse enquadramento oensaio de Marcelo Caetano, Os Forais de vora, publicado noBoletim Cultural da Junta Distrital de vora, n. 8, vora, 1967.Embora muito desfasado no tempo, enquadro nesta lgica de

    interpretao global o to breve quanto perspicaz ponto de vista

    15HISTORIOGRAFIA DOSMUNICPIOSPORTUGUESES(SCULOSXVIeXVII)

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    assinado por Margarida Sobral Neto no vol. III da Histria dePortugaldirigida por Jos Mattoso. (III, pp. 171-174)Essa tradio remonta ao sculoXIXtendo expresso nos textos de Joo Pedro Ribeiro, Dissertao histrica, jurdica e econmicasobre a reforma dos forais no reinado do senhor D. Manuel, Lisboa,Imprensa rgia, 1812, e de Francisco Nunes Franklin, Memoria para servir de ndice dos

    foraes das terras do Reino de Portugal e seus domnios, 2. ed., Lisboa,Academia das Cincias, 1825.

    B A um tempo de anlise sucedeu o tempo de publicao dos textosdos forais. A primeira fase remonta ao clima de exaltao patriticaque se viveu nos incios da dcada de 40 do sculo XX. Enquadronesse contexto os trabalhos de J. Pinto Loureiro, Forais de Coim-bra, Coimbra, Biblioteca Municipal, 1940 e Antnio AugustoFerreira da Cruz, Forais manuelinos da cidade e termo do Porto exis-tentes no Arquivo Municipal, Porto, Cmara Municipal, 1940,Mais tarde, entre 1961 e 1965, ainda que no sob o mesmoimpulso, surgiu o trabalho gigantesco de Lus Fernando de Car-

    valho Dias, Forais manuelinos do reino de Portugal e do Algarve con-forme o exemplar do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, 5 vols.,s.l., edio do autor, 1961-1965.

    C Sucedeu-se, se no cronolgica ao menos logicamente, um tempoque simultaneamente de enquadramento histrico, de anliseinterna e de publicao textual facsimilada, normalmente com oapoio e o interesse das Cmaras Municipais. Creio ser esse o tempoem que nos encontrmos o qual remonta aos fins da dcada deoitenta do sculo passado.Eis a bibliografia que pude coligir. Provavelmente haver omisses,apesar do esforo desenvolvido para que tal no acontea.

    Choro, Maria Jos Mexia Bigotte, Os forais manuelinos 1497--1520, Lisboa, IANTT, 1990. Fonseca, Jorge, O Foral Manuelino de Arraiolos, estudo e trans-crio de..., Cmara Municipal de Arraiolos, 2000. Forais de Silves, introd. de Maria Filomena Andrade, estudo his-trico de Manuela Santos Silva, Silves, Cmara Municipal, 1993. Forais e foros da Guarda, direco, direco introd. e reviso cien-tfica de Maria Helena Cruz Coelho, glossrio de Maria do RosrioMorujo, Guarda, Cmara Municipal, 1999. Foral (O) da Ericeira no arquivo-museu, coord. de MargaridaGarcez Ventura, Lisboa, Colibri, 1993.

    16 OSMUNICPIOS NOPORTUGALMODERNO: DOS FORAIS MANUELINOS S REFORMAS LIBERAIS

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    Foral concedido a Abrantes por D. Manuel em 10 de Abril de 1518,ed. de Eduardo Campos, Abrantes, Cmara Municipal, 1991. Foral de Besteiros, ed. fac-similada, transcrio de Maria TeresaNobre Veloso, Coimbra, Arquivo da Universidade, 1992. Foral de Coimbra de 1516, ed. de Carlos Santarm Andrade,Coimbra, Cmara Municipal, 1998.

    Foral de Colares, ed. fac-similada, Sintra, Cmara Municipal, 2001. Foral de Guimares-1517, Guimares, Sociedade Martins Sar-mento, 1989. Foral manuelino de Lisboa, apresentao de Maria Calado, introd.de Ins Morais Viegas, estudo de Nuno Campos, Lisboa, CmaraMunicipal, 2000. Marques, Jos, Os forais da Pvoa de Varzim e de Rates, ed. de...,Pvoa de Varzim, Cmara Municipal, 1991 Marques, Jos, Os Forais de Barcelos, introduo, transcrio enotas de..., Barcelos, Cmara Municipal, 1998. Marques, Jos, Os Forais de Melgao, introduo, transcrio enotas de..., Melgao, Cmara Municipal, 2003. Martins, Manuela Alcina Oliveira e Mata, Joel Silva Ferreira,Os forais manuelinos da Comarca da Estremadura in Revista deCincias Histricas, Porto, vol. IV (1989) pp. 195-222, vol. V,1990, pp.71-90 e vol. VI, 1991, pp. 161-186. Monteiro, Nuno Gonalo, Forais e regime senhorial. Os contrastesregionais segundo o inqurito de 1824, Lisboa, ISCTE, 1986 (mimeo). Neto, Margarida Sobral da Silva, O foral manuelino de Ansioin Actas do II Colquio sobre Histria de Leiria e da sua regio,II vol., Leiria, Cmara Municipal, 1995, pp. 255-267.

    Santos, Cludia Valle/Fonseca, Jorge/Branco, Manuel,Montemor--o-Novo Quinhentista e o foral manuelino, Montemor-o-Novo,Cmara Municipal, 2003. Silva, Filomeno, Os Forais do Burgo e de Arouca. As cartas deCouto do Mosteiro de Arouca,Arouca, 1994. Silva, Francisco Ribeiro da e Garcia, Jos Manuel, Os foraismanuelinos do Porto e do seu termo, Lisboa, INAPA, 2001. Silva, Francisco Ribeiro da, O Foral manuelino da Terra de Paiva:uma preciosidade patrimonial in Poligrafia, n. 3, Arouca, 1994. Silva, Francisco Ribeiro da, O Foral de Cambra e a Reformamanuelina dos forais in Revista da Faculdade de Letras. Histria, II

    srie, vol. VI, Porto, 1989.

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    Silva, Francisco Ribeiro da, O Foral manuelino de Felgueiras:um marco histrico da identidade da Terra e das Gentes in Fel-

    gueiras Cidade, Felgueiras, ano 2, n. 6, Dezembro 1994. Silva, Francisco Ribeiro da, O Foral dado por D. Manuel I Vilada Feira e Terra de Santa Maria a 10 de Fevereiro de 1514, ed. fac-similada do original, introduo e estudo de, Santa Maria daFeira, Cmara Municipal, 1989.

    Silva, Francisco Ribeiro da, Os Forais manuelinos da Terra deOvar e do Concelho de Pereira Jus, estudo comparado e leitura,Ovar, Cmara Municipal, 2000. Valrio, Joo Antnio, Os forais manuelinos de Alvito e Vila Novada Baronia, Alvito, Cmara Municipal, 1996Que temas em concreto possvel colher e apreender nestas publi-caes?

    Aspectos histricos e histrico-jurdicos dos forais; estrutura for-mal e divises internas; os foros e o seu significado econmico-social; a propriedade e o uso da terra; as regras de uso e partilha dos

    meios de produo; forais e senhorialismo, as relaes foraleirasentre lavradores e senhorios; notas sobre antroponmia e topon-mia; glossrio dos termos utilizados, etc. Mas so possveis e desej-veis estudos transversais.. Eu prprio ensaiei, seno com sucesso aomenos com grande autosatisfao, uma matria que atravessa mui-tos forais manuelinos, de que resultou um artigo a que chamei

    A pesca e os pescadores na rede dos forais manuelinose foi publicadona revista Oceanos, n. 47/48, Lisboa, Julho-Dezembro 2001,pp. 8-28. Foi necessrio examinar todos, no s os do litoral ondeera suposto encontrar as informaes que procurava mas tambmos do interior, sobretudo das terras banhadas por rios. Apliquei a

    mesma metodologia ao estudo sobre o peso do sal nos foraismanuelinos.D H ainda um quarto momento que foi inaugurado por Maria

    Olinda Rodrigues Santana, da Universidade de Trs-os-Montes eAlto Douro que em 1998 defendeu uma tese de doutoramento(de que tive a honra de ser co-orientador), Livro dos foraes novos dacomarqua de Trallos Montes. Edio, enquadramento histrico e an-lise estatstico-lingustica, 4 vols, UTAD (policopiado) 1998. publi-cado em parte pelo Editor de Mirandela, Joo Azevedo, em 1999.Como o ttulo indica, tratou-se de combinar e cruzar cientifica-mente o estudo da histria e do direito foraleiro com o tratamen-

    to lingustico do texto.

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    III Estudos sobre os Concelhos e a Administrao Municipal

    No so muito numerosos os estudos directos e exclusivos sobre osconcelhos portugueses nos sculosXVI eXVII, sendo bastante mais abun-dantes os dedicados ao sculo XVIII e aos finais do Antigo Regime.Provavelmente esta ser uma tendncia geral da historiografia portuguesae no apenas da historiografia sobre o municipalismo.

    As pesquisas que levamos a cabo na web, stio da Biblioteca Nacional,utilizando palavras-chave lgicas tais como concelhos, administrao,municpio, municipal ou elites indicaram-nos cerca de 30 ttulos,alguns de contedo muito vago face ao tema que nos foi sugerido.

    Por outro lado, as Actas do Congresso sobre o Municpio no MundoPortugus realizado na Madeira em Outubro de 1998 que reuniu a maiorparte dos investigadores que em Portugal (e no Brasil) se dedicam a estestemas, revelam-nos que sendo 39 o nmero total das comunicaes publi-cadas, apenas 10 se dedicaram em todo ou em parte aos sculos referidos.

    De qualquer modo, possvel apresentar aqui um ponto da situaoque pode ser tambm uma espcie de balano.

    Gostaria antes de mais de comear esse balano por duas ou trs notasque nascem da observao da realidade actual do panorama lusitano:

    1 A sensibilizao do Ensino Superior para estas matrias

    Comearei por constatar uma realidade e me congratular com ela:todos os cursos de Histria das Faculdades de Letras tm dedicado aten-o e inserido os estudos sobre Histria Local e Regional nas suas ofertasde ps-graduao, nomeadamente ao nvel dos mestrados e at dos dou-toramentos nos quais o tema do municipalismo assduo, directa ou indi-rectamente. De norte a sul tm sido elaboradas, discutidas e s vezespublicadas teses, algumas de grande mrito e utilidade, umas quantas

    sobre os sculosXVI eXVII. De uma ou outra tive eu prprio oportuni-dade de ser arguente ou orientador. O caso mais recente de arguio foiprecisamente na Universidade de vora, onde tive oportunidade de apre-ciar o trabalho de Rute Maria Lopes Pardal,As elites de vora ao tempo dadominao filipina: estratgias de controle do poder local (1580-1640),orientado por Laurinda Abreu.

    E no s nas Faculdades de Letras e no apenas nas UniversidadesPblicas. Sinal do renovado interesse pelos estudos locais e regionais e tal-vez do desaparecimento do preconceito de que a Histria Local era umassunto menor, mais prprio para amadores desocupados do que parauniversitrios. Como se pudesse haver verdadeira e sria Histria

    Nacional ou Geral sem o contributo das monografias dos espaos mais

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    pequenos e das micro-instituies ou como se entre uma e outras sepudessem estabelecer diferenas abissais de metodologia e de objecto.

    Um outro dado a reter (ao qual no a primeira vez que fao meno) o progressivo interesse das Cmaras pelos estudos municipais, como sepode concluir dos repetidos colquios e congressos sobre o poder localque tm patrocinado, com o suporte cientfico das Universidades e, aquie ali, pelo apoio que tm dado a publicaes sobre a terra. O exemplo dos

    forais acima lembrado elucidativo.Nem sempre o que move os autarcas o puro e desinteressado interes-se cientfico. Nem tem que ser. Por isso, no serei eu a criticar quando daconvergncia dos interesses dos historiadores e estudiosos e dos governan-tes dessa terra resultam jornadas de divulgao e edies de livros.Tambm por esta via pode ser frutuosa a colaborao das Universidadescom as Cmaras Municipais.

    Assuntos estudados

    Quanto aos assuntos estudados, distinguirei por um lado os estudos dembito geral, nos quais incluo as Histrias de Portugal e outros estudos desntese e por outro as monografias e estudos locais e regionais especficos.

    Quanto s Histrias de Portugal, comeando pela de A.H. de OliveiraMarques (a de 1972 e a Breve mais recente) embora no se demoran-do muito no que toca administrao municipal neste perodo, tem omrito de chamar a ateno para a importncia da implantao dos con-celhos nas Ilhas Atlnticas e nas conquistas ultramarinas, especialmenteno Brasil onde as Cmaras adquiriram enorme importncia, em contrastecom a metrpole onde, segundo aquele eminente historiador, mostravamsinais de decadncia.

    Quanto Histria de Portugalde Joaquim Verssimo Serro, em cadaum dos 3 volumes que, no conjunto, tocam os sculos XVI e XVII, so

    consagradas algumas pginas aos concelhos e ao pas profundo de quedestaco os seguintes aspectos: evoluo relativa das reas regionais, pro-moo de vilas a cidades, dialctica entre a centralizao e as pretensesautonmicas dos concelhos, funes administrativas dos mesmos, repre-sentao dos Concelhos em Cortes, lugar que cada um dos concelhos ocu-pava na hierarquia dos bancos de Cortes, fora progressiva dos mesteres,incidncia da legislao central sobre a vida quotidiana dos municpios.

    A Histria de Portugaldirigida por Hermano Jos Saraiva no seu vol. 4,(Lisboa, Alfa,1983), em captulo assinado por J. A. Nogueira dedica poucomais de meia pgina ao assunto da diviso administrativa do Reino.

    A nica nota que vale a pena realar a afirmao, algo enigmtica, dodesaparecimento das particularidades locais no perodo que nos ocupa.

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    AHistria de Portugaldirigida por Jos Mattoso, no volume dedicadoao Alvorecer da Modernidade, coordenado por Joaquim Romero deMagalhes, consagra 10 pginas aos Concelhos, integradas num longocaptulo sobre os equilbrios sociais do poder. Em concreto, Romero deMagalhes parte de D. Manuel cuja poltica interna analisa, discorre sobreo binmio poder central/poder local, sobre competncias prprias e dele-gaes de poderes, sobre o processo eleitoral e, tal como Oliveira Marques,

    consagra algumas linhas aos Concelhos ultramarinos. Duas ideias fortesde Romero de Magalhes devem ser destacadas, sem que isso signifiqueconcordncia ou discordncia da nossa parte: a primeira a de que cadaunidade administrativa era completamente independente em relao s vizi-nhas; a segunda a de que o poder em Portugal a-regional e anti-regional.

    Por sua vez, no volume seguinte, sobre o Antigo Regime, coordenadopor Antnio Manuel Hespanha, dedica-se um subcaptulo de 30 pginasaos Concelhos e s Comunidades, num longo desenvolvimento sobre a

    Arquitectura dos Poderes que, pelo que se indica no ttulo genrico dovolume, abrange um perodo que vai de 1620 a 1807. O autor, NunoGonalo Monteiro, procura sintetizar nessas trs dezenas de pginas os

    estudos publicados em Portugal sobre administrao municipal. A obri-gao de sntese a que os Autores so constrangidos e provavelmente oplano geral do Coordenador leva-os a seleccionarem, de entre a bibliogra-fia disponvel, os aspectos que mais substantivos lhes parecem. Mesmoresumida, a matria dos concelhos nesta Histria relativamente abun-dante, oferecendo-se uma srie de temas sugestivos que podero propor-cionar inspirao para ulteriores desenvolvimentos:

    Instituies e poderes locais Cmaras e ordenanas centro e periferia instrumentos de fiscalizao do centro A hipottica viragem da segunda metade do sculo XVIII As repblicas municipais governo econmico local e finanas locais

    poderes municipais e elites locais entre oligarquia e comunidadeA Nova Histria de Portugal(direco de Joel Serro e A. H. de Oliveira

    Marques vol. V coordenado por Joo Alves Dias, Lisboa, 1998), paraalm de aluses avulsas aos concelhos ao longo do volume, dedica algu-mas pginas s instituies concelhias e ao seu governo, na pressuposio

    j referida de Romero de Magalhes de que o poder em Portugal arre-gional ou anti-regional e que o papel principal pertenceu oligarquia doshomens bons (texto de Jos Adelino Maltez, pp. 406-412).

    O vol. VII da mesma Nova Histria de Portugal (Lisboa, 2001) coor-denado por Avelino de Freitas de Meneses, consagra 8 pginas (pp. 56-68)

    ao tema dos concelhos, assinadas por Maria Paula Maral Loureno. Nelas

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    a autora, utilizando com habilidade e originalidade boa parte da biblio-grafia conhecida, fazendo alarde de boa capacidade de sntese, desenvolvedois itens: a administrao central perifrica e os poderes delegados eainda o poder absoluto e as cortes.

    O vol. VIII da mesma Nova Histria de Portugal em vias de publica-o, coordenado por Lus A de Oliveira Ramos, dedicado aos finais do

    Antigo Regime no subcaptulo escrito por mim prprio tratar da admi-

    nistrao municipal numa perspectiva predominantemente institucional: As divises do territrio e o seu significado As leis reformistas dos finais da poca moderna e a sua incidncia na

    administrao municipal A importncia dos Provedores, dos Corregedores das Comarcas e dosJuzes de Fora e a problemtica da centralizao versus autonomia. Aprogressiva influncia do Corregedor em prejuzo das outras duasmagistraturas (Juzes de Fora e Provedores).

    Estruturas fundamentais da administrao municipal e funes dosoficiais camarrios e dos magistrados rgios em relao aos serviosprestados e ao correcto ordenamento da vida quotidiana

    Os oficiais das freguesias e aldeias.Quanto a trabalhos gerais sobre o Municipalismo na poca moderna,sublinharemos o interesse da Histria dos Municpios e do Poder Local. (Dos

    finais da Idade Mdia Unio Europeia),dir. de Csar de Oliveira, Lisboa,Crculo de Leitores, 1996.

    H algum desequilbrio entre o espao concedido ao Antigo Regime(isto , sc.sXV-XIX cerca de 175 pginas) e o conferido aos sculosXIXe XX (mais de 400 pginas). Compreende-se que assim seja no s pelonmero potencial de leitores interessados como tambm pela bibliografiadisponvel: muito mais abundante para os sc.s XIXe XXdo que para o

    Antigo Regime.

    Alm disso, no fcil estabelecer ao certo a percentagem de pginasque, na 1. parte, Nuno Gonalo Monteiro, coordenador e principal autor1dedica aos sculos XVI e XVII. Nem isso importante e se aludo aqui atal apenas porque a minha comunicao trata dos sculos XVI eXVII.

    Embora se encontre nesta obra alguma coisa de comum com o cap-tulo que o Autor escreveu na Histria de Portugal, na minha opinio,nesta obra, muito mais profundo, sugestivo e inovador. Basta lembrar osttulos dos principais captulos para evocar os contedos:

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    1 Com a colaborao pontual de Isabel dos Guimares S, Jos Vicente Serro, AnaCristina Nogueira da Silva, Paulo Jorge Fernandes, Paulo Silveira e Sousa e Mafalda

    Soares da Cunha).

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    A sociedade local e os seus protagonistas em que louvavelmentedesce at s parquias

    O central, o local e o inexistente regional O espao poltico e social local.

    Esta obra constitui, portanto, uma referncia obrigatria para quemestuda o municipalismo em Portugal.

    Dentro das obras de mbito geral, no poderemos deixar de lado umatese de doutoramento que justamente tem constitudo uma trabalho sem-pre citado. Refiro-me a Antnio Manuel Hespanha e sua obraAs vspe-ras do Leviathan. Instituies e Poder Poltico (Coimbra, Almedina, 1994).E de entre o conjunto do trabalho emerge para ns, pela inovao queintroduz, o longo captulo da Arqueologia do Poder e a sua viso integra-da do poder poltico-administrativo em Portugal na poca moderna, naqual desempenha papel de relevo o que ele chama a administrao perif-rica da Coroa.

    No deverei passar frente sem uma breve aluso a um texto-sntesemuito citado e esgotadssimo O Poder concelhio das origens s CortesConstituintes. Notas de histria social, de Maria Helena Coelho e Joaquim

    Romero de Magalhes (Coimbra, CEFA, 1986).Depois e para alm disso, h todo um acervo de obras de ndole local

    no seu objectivo imediato ainda que possam conter sugestes metodol-gicas de largo alcance e at de valor universal.

    Em Portugal continental, pode dizer-se que existem trabalhos valiososdedicados a muitas cidades, especialmente quelas onde existem EstudosSuperiores: (continuo a ater-me aos sculos XVI e XVII). Lisboa, Porto,Coimbra, vora, Braga, Guimares, Santarm, Viseu, Aveiro, Viana doCastelo tm sido objecto de vrios estudos, uns artigos e ensaios de ambi-o moderada, outros teses e obras de maior flego. Mas no apenas rela-tivos a essas cidades: tambm Portimo, Esposende, Vila do Conde,

    Lous, Ponte de Lima, e quantas outras...H tambm que dar a devida importncia ao incremento dos estudossobre o municipalismo nas Ilhas, tanto dos Aores como da Madeira, atra-vs de instituies de investigao como o Instituto Histrico da IlhaTerceira ou o Centro de Estudos de Histria do Atlntico que nos ltimosanos promoveu dois Congressos sobre o municipalismo e j prepara o ter-ceiro. Em ambos os arquiplagos a apetncia por estas matrias est emcrescendo.

    No me parece que deva enveredar aqui pela anlise de pormenor dostextos que se debruaram sobre terras determinadas. No entanto, h umaque me marcou desde muito cedo. Refiro-me a Antnio de Oliveira,A vidaeconmica e social de Coimbra de 1537 a 1640, 2 vols., Coimbra, 1972.

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    Rasgou caminhos e incentivou trabalhos de outros. Como o ttuloindica no foram propriamente as matrias de governo local que preocu-param o Autor mas antes os problemas da economia e da sociedade. Notempo em que o Prof. Antnio de Oliveira comeou a investigar, o pri-mado da histria econmica e social era indiscutvel e intocvel. Mas hdois aspectos que me parece de justia enfatizar neste apanhado: o pri-meiro o facto de, ao ter escolhido uma cidade e o seu aro como objecto

    da sua dissertao de doutoramento, ter aberto caminhos com futuro paraa histria local e regional. Por outro lado, e esse o segundo aspecto,embora no fosse seu interesse imediato assumido o enquadramento ins-titucional e administrativo ele no podia ser ignorado. Basta ler o seu pri-meiro longo captulo sobre circunscries administrativas e jurisdiomunicipal para se perceber o alcance destas matrias no conjunto do seuexcelente e pioneiro trabalho.

    Parece, por conseguinte, mais interessante e til revisitar os contedosdos trabalhos acadmicos que ultimamente tm sido publicados.

    Comeando pelas grandes reas temticas estudadas, dividiria assim asmatrias:

    A das infra-estruturas: aspectos geogrficos, demografia, recenseamen-to dos moradores, actividades econmicas, profisses, propriedade daterra.

    A da estrutura, diversificao e funcionamento das instituies e seussuportes materiais como os edifcios dos Paos do Concelho e Arqui-vo, etc.

    A das pessoas envolvidas e as estratgias do poder e das relaes inter-familiares na perspectiva do acesso e do exerccio do poder. As repre-sentaes pblicas do poder. Festas e cerimnias rituais locais come-morativas de nascimento de prncipes e da morte de membros dafamlia real.

    A dos servios: obras pblicas, abastecimento de alimentos, de gua,de bens de consumo; questes de sade e da higiene, organizao dadefesa. As ordenanas. Os tempos de lazer e as festas na perspectivados que delas usufruem.

    As actividades mesteirais e o controlo possvel exercido pelas admi-nistraes municipais.

    A das finanas: receitas e despesas. O patrimnio municipal. Sistemasde organizao fiscal e pessoal envolvido.

    A participao cvica dos cidados e da plebe. Tm tido lugar aqui osestudos sobre movimentos sociais e tumultos, quantas vezes atribu-dos pelo poder central inrcia das Cmaras. O problema da ordempblica.

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    A das relaes com o poder central e as chancelarias rgias. Entramaqui os estudos sobre o papel e atribuies dos agentes rgios, taiscomo o Corregedor da Comarca, o Provedor ou o Juiz de Fora.

    A da conflitualidade no interior do concelho e o choque com outrasentidades eclesisticas ou civis.

    A religiosidade e a influncia dos Mosteiros no aro concelhio. As pr-ticas religiosas privadas e pblicas. As procisses, em especial a doCorpo de Deus. As confrarias e as prticas de sociabilidade.

    Os diversos aspectos da vida quotidiana, tais como alimentao,higiene, questes de segurana.

    A geografia do poder e a importncia e sacralizao de certos espaospblicos.

    Outro tema que se tem revelado extremamente fecundo o da forma-o das elites e das oligarquias locais, sua mltipla caracterizao, estratgiasde poder, mobilidade social. claro que mais uma vez se impe referir onome do Prof. Nuno Gonalo Monteiro. Impressionou-me fortemente oensaio publicado na Anlise Social, (n. 141, 4. srie, vol.XXXII, 1997)

    Elites locais e mobilidade social em Portugal nos finais do Antigo Regimeno s por constituir uma excelente sntese de tudo (ou quase tudo) quan-to se escreveu ultimamente entre ns sobre o assunto mas tambm poroferecer uma quase completa bibliografia dos ttulos publicados sobre onosso tema municipalismo na poca moderna.

    Ligado a este, tm-se retomado em Portugal h uns anos a esta parteos estudos sobre as Misericrdias, analisando as Irmandades no apenasnos seus aspectos organizacionais internos e na lgica da assistncia masprocurando situ-las e inseri-las nas redes e estratgias de poder local. Naverdade, o poder municipal exercido no mbito concelhio e o poder feitode honra e de prestgio no seio das confrarias eram de natureza diferente,ainda que o servio pblico fosse a razo de ser de ambos. No deixa deser relevante que os nomes de topo das elites municipais se repitam naslistas dos nomes dos principais dirigentes das Misericrdias. Cmara eMisericrdias cruzam-se e complementam-se. Este novo enfoque inter-pretado por jovens historiadoras e historiadores parece-me muito promis-sor e justifica que se revisitem e provavelmente se reescrevam numerosasmonografias sobre as Misericrdias portuguesas.

    Outro provvel caminho do futuro creio que poder ser o do estudocomparado dos concelhos de Portugal e dos pases colonizados porPortugal, nomeadamente o Brasil no s na poca colonial como no pero-do ps-independncia. Histria comparada dos Concelhos.

    Outra pista a desenvolver ser a do estudo da organizao paroquial,

    das freguesias e das suas relaes com a cabea do Concelho. H ou no

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    um espao de autonomia para as freguesias, houve ou no reivindicaesneste domnio? Os concelhos foram espao de coeso interna ou antes deconflitualidades e clivagens?

    Para alm destes reas, perdoar-me-o a imodstia de lembrar algunspequenos temas que tratei em artigos e ensaios que me pareceram inte-ressantes e que podem ser desenvolvidos a nvel municipal:

    em primeiro lugar, os temas da alfabetizao e a sua relao com oexerccio de cargos municipais. O meu posto de observao tem sidoo Porto e da talvez a provvel sobreavaliao das capacidades de lite-racia dos investidos no poder municipal que, alis, me pareceu aindamais favorvel em Braga no tempo de D. Frei Bartolomeu dosMrtires. Os livros das chancelarias rgias fornecem muitos exem-plos de contratao pelas Cmaras de Mestres de Ler e de Gramticaque no tm sido aproveitados sistematicamente;

    o tema da venalidade e da hereditariedade dos ofcios pblicos pare-ce-me sugestivo na medida em que sou levado a concluir que essaprtica, alm de funcionar sobretudo a nvel local e concelhio, e

    sobretudo nos sculos XVI e XVII, desempenhou papel importantecomo factor de mobilidade social ascendente; outro tema que gostei de ter tratado foi o das relaes entre o poder

    central e o poder local na perspectiva da participao dos concelhosnas Cortes. Como sabido, por cada convocatria, as Cmaras redi-giam Captulos gerais e particulares, que eram ora pontos de vista ereclamaes que se destinavam ora a ser discutidos pelo TerceiroEstado, ora a ser apresentados ao Rei na expectativa de uma respos-ta favorvel. Sobre que incidiam esses captulos e qual o seu encami-nhamento na perspectiva do dilogo institucional entre a Corte e osconcelhos parece-me um problema interessante e que poder revelar

    que as indicaes de governo no eram de sentido nico do centropara a periferia mas provavelmente tambm da periferia para ocentro. Contudo, no podemos esquecer que a partir de 1697 no hmais Cortes em Portugal.

    Para alm de tudo isso, o que estudar mais dentro da histria do muni-cipalismo?

    Eu diria tudo, se tal fosse possvel! A histria total o objectivo te-rico final do historiador. Mas que isso de tudo e de total? A mim pare-ce-me algo simultaneamente desejvel e inatingvel.

    Devo confessar que comecei por estudar as instituies municipais,como se fosse um jurista, recorrendo antes de mais s normas, s leis que

    as estruturaram e lhes fixaram as regras de funcionamento. Um exemplo:

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    a leitura do tit. 66 do Livro 1. das Ordenaes Filipinas(sobre os verea-dores) foi importante como norma e como fonte para a fixao do perfile do modelo institucional desses oficiais municipais to tpicos dos muni-cpios lusitanos. Mas um historiador depressa se d conta que a realidadevivida algo muito mais complicado que a realidade sonhada ou progra-mada a qual s vezes tem pouco a ver com as normas. Muito cedo inte-riorizei a frase de Jaime Vicens Vives a Histria das Instituies no

    Histria propriamente dita!Mas as instituies so feitas por homens e para pessoas concretas. Se

    ns conseguirmos ligar as pessoas concretas que serviram as instituies spessoas concretas a quem se dirigia a sua aco, ento talvez a histria dasinstituies possa ser histria propriamente dita.

    Neste processo, veio em meu auxlio um historiador catalo, PedroMolas Ribalta2 que me seduziu com a sua teoria da Histria Social da

    Administrao. Ou seja, mais do que fazer histria das instituies, talvezfosse melhor tentar a histria social da administrao. Como? Indagandoas relaes entre a instituio e os grupos sociais, tentando perceber aestrutura efectiva do poder inserida na comunidade at chegar ao reco-

    nhecimento da importncia do exerccio do poder como elemento deter-minante da estrutura interna dos estados e dos grupos. A Histria daAdministrao bem entendida tem que resultar da confluncia da Hist-ria do Direito, da Histria Poltica, da Histria Econmica e Social, daHistria das Mentalidades, das atitudes, dos comportamentos.

    A Histria Social do Poder tender ento a ser uma espcie de biogra-fia colectiva. Ou seja, apurando-se as circunstncias econmicas, sociais,culturais, religiosas, e outras dos indivduos que povoaram e deram vidas instituies do poder local e regional e exerceram efectivamente essemesmo poder, chegaremos ao conhecimento das circunstncias profundasda seduo e da conquista do poder e do seu exerccio.

    Foi esse objectivo que me moveu em grande parte na preparao domeu doutoramento e em vrios trabalhos posteriores e mesmo em teses demestrado que tive o gosto de orientar. A mesma preocupao esteve pre-sente na minha Lio das provas de Agregao quanto aos Procuradoresdo Porto s Cortes do sculo XVII. Quem eram afinal esses senhoresProcuradores? Quando espervamos que todos fossem fidalgos provavel-mente de tradies bem aliceradas e antigas, surge a surpresa: alguns afi-nal eram netos de oficiais mecnicos e, por essa razo viram adiado ( por

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    2 MOLAS RIBALTA, Pedro, La Historia Social de la Administracin in Historia Social de la

    Administracin Espaola. Estudios sobre los siglosXVIIyXVIII, Barcelona, 1980.

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    algum tempo) o seu requerimento, a sua habilitao para serem admitidosao Hbito da Ordem de Cristo.

    Tal metodologia implicou que na Tese de Doutoramento tal como foipublicada, tenha utilizado 43 pginas com os nomes das pessoas que ani-maram as Instituies. bvio que os nomes sem mais so meras indica-es, como que esqueletos sem carne, e no valero muito se no os situar-mos na sua realidade existencial e institucional e na sua rede de relaes.

    Concluso

    H que concluir. Os estudos sobre os concelhos e o municipalismoforam suficientemente atractivos para ocuparem historiadores de exceln-cia no passado de que basta lembrar o exemplo de Alexandre Herculano.

    As circunstncias do tempo presente pautadas pela ideia de globalizaoaparentemente privilegiam o universal e secundarizam o regional e o local.Mas, paradoxalmente, num mundo globalizado que o interesse real peloque que local e regional se vem acentuando. No s porque de repenteo que vivido escala local, em virtude e por fora das novas tecnologias,pode adquirir e adquire valor global mas porque a vida real das pessoas,de cada pessoa, decorre normalmente em cenrio local. A Europa que seest a construir poder esbater ainda mais as ditas soberanias nacionais.Mas o que no pode nem deseja apagar as regies e as multmodas diver-sidades regionais

    Por isso, e para que no se percam as identidades e o gosto pela diver-sidade, parece de incentivar os estudos locais e regionais. No s os defundo histrico. No s nem sequer principalmente das instituies. Masdas pessoas concretas na sua insero social e comunitria, do modo comoas famlias e os grupos se organizaram e que tipos de redes de relaciona-mento e que vias de desenvolvimento e de progresso conseguiram estabe-

    lecer.

    28 OSMUNICPIOS NOPORTUGALMODERNO: DOS FORAIS MANUELINOS S REFORMAS LIBERAIS

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    Anexo

    Subsdios para uma bibliografia sobre a histria dos Concelhose do Municipalismo em Portugal (scs. XVI-XVII)

    Abreu, Laurinda, Memrias da alma e do corpo A Misericrdia de

    Setbal na Modernidade, Viseu, Palimage Editores, 1999. Abreu, Laurinda,A Santa Casa da Misericrdia de Setbal entre 1500 e1755. Aspectos da sociabilidade e do poder, Setbal, Santa Casa daMisericrdia, 1990.

    Abreu, Laurinda, Misericrdias e poder local in O Poder local emtempo de globalizao, Coimbra,

    Actas das Jornadas sobre o Municpio na Pennsula Ibrica (scs.XIIaXIX),Santo Tirso, Cmara Municipal, 1988.

    Alves, Vtor Fernandes da Silva, Sazes de Lorvo de 1660 a 1760: espa-o, sociabilidade e poderes numa parquia rural, Coimbra, FLUC, 1989(polic.).

    Andrade, Antnio Alberto Banha de, Montemor-o-Novo, vila realenga:ensaio de histria da administrao local, 2 vols., Lisboa, Grupo dosamigos de Montemor-o-Novo, Academia Portuguesa da Histria,1976-1979.

    Andrade, Antnio Alberto Banha de, Conspecto socioeconomico de umavila no Renascimento. Montemor-o-Novo no sculo XVI, Lisboa,

    Academia da Histria, 1979. Arajo, Jorge Filipe Pereira de, A administrao municipal do Porto

    1508-1511, Porto, 2001 (Faculdade de Letras do Porto, policopiado). Arajo, Maria Marta Lobo de, Dar aos pobres e emprestar a Deus: as mise-

    ricrdias de Vila Viosa e Ponte de Lima (scs. XVI-XVIII), Ponte deLima, Santa Casa da Misericrdia, 2000.Arqueologia do Estado. Actas das 1.asJornadas sobre formas de organiza-

    o e exerccio do poder na Europa do Sul, sculos XIII-XVIII, 2 vols.,Lisboa, 1988.

    Barreira, Manuel de Oliveira, A Santa Casa da Misericrdia de Aveiro.Pobreza e Solidariedade, Coimbra, FLUC, 1995 ( dissert. de Mestrado).

    Basto, Artur de Magalhes, Estudos Portuenses, 2 vols., 2. edio, Porto,Biblioteca Pblica Municipal, 1990.

    Basto, Artur de Magalhes, Histria da Santa Casa da Misericrdia do

    Porto, 2 vols., 2. edio, Porto, Santa Casa da Misericrdia, 1997-1999.

    29HISTORIOGRAFIA DOSMUNICPIOSPORTUGUESES(SCULOSXVIeXVII)

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    Beirante, Maria ngela, Santarm Quinhentista, Lisboa, Liv. Portugal,1981

    Braga, Alberto Vieira,Administrao Seiscentista do Municpio Vimara-nense, Guimares, Cmara Municipal, 1953.

    Brito, Antnio Pedro, Patriciado urbano quinhentista: as famlias dominan-tes do Porto (1500-1580), Porto, Arquivo Histrico Municipal, 1997.

    Brito, A da Rocha de, As finanas quinhentistas do municpio coim-bro in Arquivo Coimbro, vol. VII, Coimbra, 1943. Cmara, Teresa Maria Bettencourt da, bidos. Arquitectura e

    Urbanismo. SculosXVIeXVII, bidos, 1990. Capela, Jos Viriato, Tenses Sociais na regio de Entre Douro e

    Minho I. O Couto de Rendufe e o concelho de Entre Homem eCvado (1640-1750), in O Distrito de Braga, vol. III, Braga, 1978.

    Capela, Jos Viriato e outros (Coord.), O Municpio Portugus naHistria na Cultura e no desenvolvimento Regional, Braga, Universidadedo Minho, 1998.

    Cardim, Pedro, Cortes e Procuradores do reinado de D. Joo IV inPenlope. Fazer e Desfazer a Histria, Lisboa, n 9/10, 1993, pp. 63-71.

    Carneiro, Virglio de Oliveira,A freguesia de Requio do concelho de VilaNova de Famalico em meados do sc.XVII: ensaio de demografia histri-ca, Porto, edio do Autor,1972.

    Castro, Armando de, A estrutura dominial portuguesa dos sculos XVIaXIX (1834), Lisboa, Editorial caminho, 1992.

    Coelho, Maria Helena e Magalhes, Joaquim Romero de, O Poder con-celhio das origens s Cortes Constituintes. Notas de histria social, Coim-bra, CEFA, 1986.

    Costa, M.M. da Silva, Esposende na era de Seiscentos. Dez anos de

    administrao municipal in Boletim Cultural de Esposende, n. 6,Esposende, 1984, pp. 7-48.

    Crespo, Albertino, Vrzea da Rainha: subsdios para o estudo de um lati-fndio no concelho de bidos (scs.XVI-XIX), Bombarral, s. n, 1982.

    Cruz, Antnio, Algumas observaes sobre a vida econmica e social dacidade do Porto nas vsperas de Alccer-Quibir, Porto, Biblioteca Muni-cipal,1967.

    Cruz, Antnio Augusto Ferreira da, O Porto seiscentista. Subsdios para asua Histria, Porto, Cmara Municipal,1943.

    Cunha, Mafalda Soares da, A Casa de Bragana (1560-1640).Prticas

    Senhoriais e redes clientelares, Lisboa, Editorial Estampa, 2000.

    30 OSMUNICPIOS NOPORTUGALMODERNO: DOS FORAIS MANUELINOS S REFORMAS LIBERAIS

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    Curto, Diogo Ramada, Descries e representaes de Lisboa 1600--1650 in O Imaginrio da Cidade, Lisboa, Fundao Calouste Gul-benkian, 1989.

    Dias, Joo Jos Alves,A comunicao entre o poder central e o poder local:a difuso de uma lei no sculo XVI, s.l./ s. d, 1989 ( Sep. de Actas das

    Jornadas sobre o Municpio da Pennsula Ibrica (sc.XII aXIX).

    Duas cidades ao servio de Portugal. Subsdios para o estudo das relaes deLisboa e Porto durante oito sculos, Porto, Cmara Municipal, 1947. Ferreira, Ana Maria Pereira, Algumas despesas do Municpio por-

    tuense nos incios do sculo XVI:1509-1510 in Actas das Jornadassobre o municpio na Pennsula Ibrica (scs. XII-XIX), Santo Tirso,Cmara Municipal, 1988, pp. 189-205.

    Ferreira, Ana Maria,Algumas despesas do municpio portuense no incio dosculoXVI, s.l./ s. n., 1989 ( Sep. de Actas das Jornadas sobre o Muni-cpio na Pennsula Ibrica (sc. XII aXIX).

    Ferreira, Cristina Isabel de Oliveira Gomes, A Vereao da Cidade doPorto (1512-1514), Porto, FLUP, 1997 (dissert. de mestrado).

    Ferro, Joo Pedro, Para a histria da administrao pblica na Lisboa seis-centista, Lisboa, Planeta Editora, 1996.

    Garcia, Joo Carlos, A percepo do espao numa corografia seiscen-tista do reino do Algarve in Revista da Faculdade de Letras, Lisboa, 5srie, n 6, 1986.

    Gomes, Ftima Freitas, Machico. A vila e o termo. Formas do exercciodo poder municipal (fins do sculo XVII a 1750), Funchal, DirecoRegional dos Assuntos Culturais, 2002.

    Hespanha, Antnio Manuel, As vsperas do Leviathan. Instituies ePoder Poltico, Coimbra, Almedina, 1994.

    Hespanha, Antnio Manuel, Centro e Periferia nas estruturas admi-nistrativas do Antigo Regime in Ler Histria, Lisboa, n. 8, 1986, Lalanda, Maria Margarida de S Nogueira,A administrao do concelho

    de Vila Franca do campo nos anos de 1683-1686: subsdios para o seuestudo, Angra do Herosmo, Instituto Histrico da Ilha Terceira, 1983.

    Langhans, Franz-Paul de Almeida, Estudos de Direito Municipal. As pos-turas, Lisboa, 1937.

    Langhans, Franz-Paul de Almeida,A Casa dos Vinte e Quatro de Lisboa,Lisboa, Imprensa Nacional, 1948.

    Loureiro, J. Pinto,Administrao coimbr no sculo XVI. Elementos para

    a sua histria, Coimbra, Biblioteca Municipal, 1942.

    31HISTORIOGRAFIA DOSMUNICPIOSPORTUGUESES(SCULOSXVIeXVII)

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    Loureno, Maria Paula Maral, A Casa e o Estado do Infantado 1654--1706, Lisboa, 1995.

    Lousada, Maria Alexandre, As divises administrativas de Portugal doAntigo Regime s Reformas Liberais in V Colquio Ibrico de Geogra-fia, Lon, 1989.

    Machado, Maria de Ftima, O Central e o Local (A Vereao do Porto deD. Manuel a D. Joo III, Porto, Edies Afrontamento, 2003.

    Magalhes, Joaquim Romero de, Reflexes sobre a estrutura municipalportuguesa e a sociedade colonial brasileira in Revista de HistriaEconmica e Social, Lisboa, n. 16, 1985, pp. 17-30.

    Magalhes, Joaquim Romero de, Algumas notas sobre o poder muni-cipal no Imprio portugus durante o sculoXVI in Revista Crtica deCincias Sociais, n 25-26, 1988.

    Matos, lvaro, e Rasgas, Ral, (coord.), Primeiras Jornadas de HistriaLocal e Regional (Faculdade de Letras de Lisboa), Lisboa, EdiesColibri, 1993.

    Menezes, Avelino de Freitas de, Os Aores e o domnio filipino (1580-1590),

    Angra do Heroismo, Instituto Histrico da Ilha Terceira, 1987. Menezes, Avelino de Freitas de, Rodrigues, Vitor Lus Gaspar e Vieira,

    Alberto, O Municpio do Funchal (1550-1650). Administrao, Eco-nomia e Sociedade. Alguns elementos para o seu estudo inActas do 1.Colquio Internacional de Histria da Madeira, Vol. II, Funchal, 1990.

    Monteiro, Nuno Gonalo, Elites locais e mobilidade social em Portu-gal nos finais do Antigo Regime inAnlise Social, Lisboa, n. 141, 4.srie, vol.XXXII, 1997.

    Monteiro, Nuno Gonalo, Elites e Poder. Entre o antigo regime e oLiberalismo, Lisboa, Imprensa de Cincias Sociais, 2003.

    Monteiro, Nuno Gonalo, Poderes municipais e elites locais (sculosXVII-XVIII). Estado da questo inMunicpio (O) no Mundo Portugus.Seminrio Internacional, Funchal, CEHA, 1998, pp. 79-89.

    Moreira, Manuel Antnio Fernandes, O Municpio e os forais de Vianado Castelo, Viana do Castelo, Cmara Municipal, 1986.

    Moreno, Humberto Baquero, Os municpios portugueses nos sculos XIIIa XVI, Lisboa, Presena, 1986.

    Municpio (O) de Lisboa e a dinmica urbana (sculosXVI-XX). Actas dassesses, Lisboa, Cmara Municipal, 1997.

    Municpio (O) no Mundo Portugus. Seminrio Internacional, Funchal,CEHA, 1998. (Entre as pp. 696 e 703 publica uma resenha bibliogr-

    fica abundante sobre o tema).

    32 OSMUNICPIOS NOPORTUGALMODERNO: DOS FORAIS MANUELINOS S REFORMAS LIBERAIS

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    Neto, Maria Margarida Sobral, Regime senhorial em Ansio. O foralmanuelino e seus problemas nos sculos XVII e XVIII in RevistaPortuguesa de Histria, tomoXXVIII, Coimbra, 1993.

    Neto, Maria Margarida Sobral, A vida econmica e social de Gouveiana poca moderna in Revista Portuguesa de Histria, tomo XXXV,Coimbra, 2001/2002, pp. 247-271.

    Neves, Francisco Ferreira, Livro dos Acordos da Cmara de Aveiro de1580. Subsdio para o estudo da vida municipal e nacional portuguesa,

    Aveiro, 1971. Olival, Fernanda,As Ordens Militares e o Estado Moderno. Honra, Merc

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    Explorao e Produo agrcola no vale do Cvado durante o Antigo regi-me, 2 vols., Porto, 1979 (policopiado). Oliveira, Aurlio de, Aristocracias Locais e poder central. O exemplo

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    Guimares na primeira metade de seiscentos in Bracara Augusta,Braga, 1988.

    Oliveira, Csar de, Histria dos Municpios e do Poder Local. (Dos finaisda Idade Mdia Unio Europeia),direco de, Lisboa, Crculo deLeitores, 1996. (ampla resenha bibliogrfica pp, 519-531.

    Oliveira, Joo Nunes de,A produo agrcola de Viseu entre 1550 e 1700,Viseu, Cmara Municipal, 1990.

    Oliveira, J.M. Pereira de, O espao urbano do Porto. Condies naturais edesenvolvimento, Coimbra, Instituto de Alta Cultura, 1973.

    Pardal, Rute Maria Lopes,As elites de vora ao tempo da dominao fili-pina: estratgias de controle do poder local (1580-1640, vora, 2002(tese de mestrado , policopiada).

    Pereira, Antnio dos Santos,A administrao municipal na Vila das Velasna segunda metade do sculo XVI, Angra do Herosmo, InstitutoHistrico da Ilha Terceira, 1983.

    Pereira, Antnio Santos,A Ilha de S. Jorge nos sculos XV-XVII. Contri-

    buio para o seu estudo, Ponta Delgada, 1984.

    33HISTORIOGRAFIA DOSMUNICPIOSPORTUGUESES(SCULOSXVIeXVII)

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    33/271

    Pestana, Manuel Incio, Pautas municipais de Lamas de Orelho de1657 a 1680 in Razes e Memrias, n. 5, 1984.

    Pinto, Maria Helena Barbosa, A Vereao Municipal do Porto em 1545,Porto, 2001, (Faculdade de Letras do Porto, policopiado.

    Ramos, Carla Susana Barbas dos, A administrao municipal e asVereaes do Porto de 1500 a 1504, Porto, FLUP, 1997.

    Rodrigues, Jos Damio, Poder municipal e oligarquias urbanas. PontaDelgada no sculoXVII, Ponta Delgada, s/n, 1994. Rodrigues, Miguel Jasmins, Organizao dos poderes e estrutura social. A

    Madeira 1460-1521, Lisboa, Universidade Nova, FCSH, 1995. Rodrigues, Vtor Lus Gaspar, A administrao do Concelho de Ponta

    Delgada na dcada de 1639-1649, Angra do Herosmo, InstitutoHistrico da Ilha Terceira, 1983;

    Rosa, Alberto de Sousa Amorim,Anais do Municpio de Tomar, Tomar,1969 e 1971.

    Rosa, Jos Antnio Pinheiro e, Faro no sculoXVII: a urbe e a civitas,Faro, s.n., 1980 (Sep.anais do Municpio de Faro).

    S, Isabel dos Guimares,A assistncia aos expostos no Porto. Aspectos ins-titucionais (1519-1838), Porto, FLUP, 1987 (Dissertao de Mestrado).

    Santos, Joo Marinho dos, Os Aores nos sculosXVeXVI, 2 vol.s,, PontaDelgada, Secretaria Regional de Educao e Cultura,1989.

    Silva, Armando Carneiro da, Sisa de 1567, Coimbra, Cmara Munici-pal, 1970.

    Silva, Armando Carneiro da, Sisa de 1599, Coimbra, Cmara Munici-pal, 1973.

    Silva, Francisco Ribeiro da, O Foral manuelino da Terra de Paiva umapreciosidade patrimonialin Poligrafia, n 3, Arouca, 1994.

    Silva, Francisco Ribeiro da, A Alfabetizao no Antigo Regime (1580--1650). O caso do Porto e da sua regio tese complementar de douto-ramento in Revista da Faculdade de Letras. Histria, II srie, vol. III,Porto, 1986, pp. 101-163.

    Silva, Francisco Ribeiro da,A cidade do Porto e a Restaurao in Revistada Faculdade de Letras Histria, II srie, vol. XI. Porto, 1994

    Silva, Francisco Ribeiro da,A estrutura administrativa do Condado da Feirano sculo XVII in Revista de Cincias Histricas, n. 4, Porto, 1989.

    Silva, Francisco Ribeiro da,A interveno do Povo no governo municipaldo Porto durante o Antigo Regime in O Tripeiro, 7. srie, ano XI/ n. 2,

    Porto, 1992.

    34 OSMUNICPIOS NOPORTUGALMODERNO: DOS FORAIS MANUELINOS S REFORMAS LIBERAIS

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    Silva, Francisco Ribeiro da,A participao do Porto nas Cortes de Lisboade 1619 in Boletim Cultural da Cmara Municipal do Porto, 2.srie, vol. I, Porto, 1983.

    Silva, Francisco Ribeiro da,As Cortes seiscentistas e o seu significado nasrelaes entre os Concelhos e o Poder central in Anais I Colquio deEstudos Histricos Brasil e Portugal, Belo Horizonte, 1994.

    Silva, Francisco Ribeiro da, As Elites portuenses no sculo XVII, Porto,Universidade Moderna, 2001, 23 pp. (n. 1 da Coleco Registos daHistria).

    Silva, Francisco Ribeiro da, Autonomia Municipal e centralizao doPoder no perodo da unio ibrica in Revista da Faculdade de Letras.Histria, 2. srie, vol. IV, Porto, 1987.

    Silva, Francisco Ribeiro da, Historiografia Municipal Portuguesain O Muni-cpio Portugus na Histria na Cultura e no Desenvolvimento Regional,

    Actas, Braga, Universidade do Minho,1999, pp. 57-70. Silva, Francisco Ribeiro da, Les cidados de Porto au XVII. me sicle:

    caractrisation sociale et voies d` accs in Hidalgos y Hidalgua danslEspagne desXVIe-XVIIIesicles, Paris, CNRS, 1989.

    Silva, Francisco Ribeiro da, Mecanismos do poder e articulaes institu-cionais entre Centro e Periferia no Portugal dos fins do Antigo Regime in

    Articulation des Territoires dans la Pninsule Ibrique (textes unis et pre-sents par Franois Guichard, Bordeaux, Maison des Pays Ibriques,2001, pp. 181-192 (IV.esJournes dtudes Nord du Portugal Aqui-taine (CENPA), Talence, 19-21 de Novembro de 1998).

    Silva, Francisco Ribeiro da, Nveis de Alfabetizao dos Oficiais Adminis-trativos e Judiciais do Concelho de Refojos de Riba dAve e da Maia na

    primeira metade do sculoXVIIinActas do Colquio de Histria Local eRegional, Santo Tirso, 1981.

    Silva, Francisco Ribeiro da, O Concelho de Gaia na primeira metade dosculo XVII: instituies e nveis de alfabetizao dos funcionrios inGaya, vol. II, Vila Nova de Gaia, 1984.

    Silva, Francisco Ribeiro da, O Foral de Cambra e a Reforma manuelinados foraisin Revista da Faculdade de Letras. Histria, II srie, vol. VI,Porto, 1989.

    Silva, Francisco Ribeiro da, O Foral manuelino da Feira e Terra de Santa

    Mariain Revista de Histria, vol.XI, Porto, CHUP, 1991.

    35HISTORIOGRAFIA DOSMUNICPIOSPORTUGUESES(SCULOSXVIeXVII)

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    Silva, Francisco Ribeiro da, O Foral manuelino da Terra e Concelho deGouveia: um exemplo inslito de contratao colectiva entre enfiteutas esenhorio inAmarante Congresso Histrico 98, Amarante, Actas, vol. IV,

    Amarante, 2001, pp. 125-138. Silva, Francisco Ribeiro da, O Foral manuelino de Felgueiras: um marco

    histrico da identidade da Terra e das Gentes in Felgueiras-Cidade,Felgueiras, ano 2, n. 6, Dezembro 1994.

    Silva, Francisco Ribeiro da, O Porto e as Cortes do sculo XVII ou osConcelhos e o Poder Central em tempos de Absolutismo in Revista daFaculdade de Letras. Histria, II srie, vol. X, Porto, 1993.

    Silva, Francisco Ribeiro da, O Porto e o seu Termo (1580-1640). Os Homens,as Instituies e o Poder, 2 vols., Porto, Arquivo Histrico, 1988.

    Silva, Francisco Ribeiro da, Os Concelhos e as Cortes seiscentistas portu-guesas: representao e interveno dos Concelhos (O caso do Porto), inO Municpio no Mundo Portugus. Seminrio Internacional, Funchal,Centro de Estudos de Histria do Atlntico, 1998, pp. 63-77.

    Silva, Francisco Ribeiro da, Paos de Ferreira na poca moderna, in

    Paos de Ferreira Estudos Monogrficos, 2 vols., Paos de Ferreira,1986.

    Silva, Francisco Ribeiro da, Senhorio e municipalismo em Braga ao tempode D. Frei Bartolomeu dos Mrtires, in IX Centenrio da dedicao da Sde Braga. Congresso Internacional. Actas, vol. II/2, Braga, 1990.

    Silva, Francisco Ribeiro da, Tempos Modernos, in Histria do Porto, dir.de Lus A. de Oliveira Ramos, 3. edi., Porto, Porto Editora, 2000.

    Silva, Francisco Ribeiro da, Venalidade e hereditariedade dos ofcios pbli-cos em Portugal no sculoXVII. Alguns aspectos, in Revista de Histria,vol. VIII, Porto, 1988.

    Silva, Francisco Ribeiro da, Vila do Conde no contexto das reformas admi-nistrativas de D. Manuel I, in A igreja nova que hora mamdamosfazer 500 anos da Igreja Matriz de Vila do Conde, Vila do Conde,Cmara Municipal, 2002, pp. 40- 59.

    Silva, Maria Amlia Polnia da, Vila do Conde no sculo XVI: reflexessobre alguns ndices de desenvolvimento urbano, Vila do Conde, 1994(Sep. de Boletim Cultural da Cmara Municipal de Vila do Conde).

    Silveira, Lus Espinha da, (Coord.), Poder central, poder regional, poderlocal. Uma perspectiva histrica, Lisboa, Edies Cosmos, 1997.

    Soares, Edite Rute dos Santos Bentos, O Concelho portuense em 1551,Porto, 2001 (Faculdade de Letras do Porto policopiado).

    36 OSMUNICPIOS NOPORTUGALMODERNO: DOS FORAIS MANUELINOS S REFORMAS LIBERAIS

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    Soares, Fraquelim Neiva, A freguesia de SantIago da S na visitaocapitular de 1562, in Bracara Augusta, Braga, vol.XL, 1990.

    Soares, Jos Guerra Soares, O Barreiro e a expanso portuguesa: imagensdo concelho dos sculos XVaXVII, Coord. de, Barreiro, Cmara Muni-cipal, 1992.

    Soares, Srgio da Cunha, A Cmara de Coimbra e a Universidade nos

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    , in O Municpio Portugus na Histria na Culturae no desenvolvimento Regional, Braga, Universidade do Minho, 1998,pp. 117-138.

    Soares, Srgio da Cunha, Os Vereadores da Universidade na Cmarade Coimbra (1640-1777) in Revista Portuguesa de Histria, Coimbra,tomoXXVI, 1991.

    Vale, Alexandre de Lucena e, Um sculo de administrao municipal.Viseu. 1605-1692, Viseu, 1955.

    Verssimo, Nelson, Poder municipal e vida quotidiana: Machico nosculoXVII, in O Municpio no Mundo Portugus, Seminrio Interna-cional, Funchal, CEHA, 1998, pp. 291-299.

    Verssimo, Nelson, Relaes de poder na sociedade madeirense do sculoXVII, Funchal, Direco Regional dos Assuntos Culturais, 2000.

    Vieira, Alberto, A dinmica municipal no Atlntico Insular (Madeira,Aores, Canrias) sculos XV a XVII, Lisboa, Histria e Crtica, 1988(Sep. deArqueologia do Estado).

    Vieira, Alberto, As Posturas Municipais da Madeira e Aores dos scu-los XVa XVII, in Boletim do Instituto Histrico da Ilha Terceira, vol.

    XLVIII-XLXIX, Angra do Heroismo,1993-1994. Vieira, Alberto e Rodrigues, Vctor, Ponta do Sol. Um sculo de vida

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    tria da Madeira, Funchal, CEHA, 1003, pp. 265-280.

    37HISTORIOGRAFIA DOSMUNICPIOSPORTUGUESES(SCULOSXVIeXVII)

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    Administrao local e municipal portuguesa do sculoXVIII s reformas liberais (Alguns tpicos da sua

    Historiografia e nova Histria)

    JOSVIRIATO CAPELA

    (Universidade do Minho Dept. de Histria/Instituto de Cincias Sociais)

    1.A Historiografia da administrao local. Breve perspectiva histrica

    1.1. O municpio como objecto por excelnciados estudos de Histria da Administrao local

    A Histria Municipal e atravs dela a Histria da Administrao Muni-cipal , sem dvida, um dos ramos da Historiografia Portuguesa que maisse desenvolveu nos tempos mais recentes. Concentrou-se sobretudo naHistria Municipal da 2. metade do sculo XVIII em diante, Pombalis-mo, Ps-Pombalismo, crise do Estado de Antigo Regime. Desenvolveu-seem forte articulao com a problemtica da construo e reforo do Esta-do Moderno ou da sua crise e da Sociedade de Antigo Regime, para quealis veio dar contributos essenciais pelo novo prisma de abordagem daquesto, e ao qual se apresenta alis no plano das realizaes como ins-trumento, de reforma ou mesmo alternativa.

    A abordagem da questo municipal est j largamente presente nos

    textos dos reformistas e ilustrados do sculoXVIII

    e seus finais, ainda quea partir de um discurso mais poltico do que histrico. em geral um dis-curso muito crtico ao papel e lugar que o Municpio tem no bloquea-mento aos desenvolvimentos e reformas necessrias da Sociedade, Admi-nistrao Pblica e Economia Portuguesa. Alguns tem mesmo sobre eleposies radicais ao ponto de afastar o Municpio do rol das instituiesque propem para a nova ordenao da nossa administrao pblica eterritorial. Esta posio inviabilizaria, na prtica, fraco desenvolvimentoda investigao histrica sobre o municpio portugus, porque no estavaem causa a sua legitimao e continuidade histrica.

    Os Municpios no Portugal Moderno: dos forais manuelinos s reformas liberais

    Lisboa, Edies Colibri CIDEHUS-UE, 2005, pp. 39-58.

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    verdadeiramente o sculo XIX em particular da sua 1 metade que ver florescer a Histria do Municpio e emergir mesmo o iderioMunicipalista.

    Com A. Herculano, e em grande medida como reaco aos excessos daCentralizao promovida pela dinmica das novas instituies liberais aDiviso dos Poderes e o Cdigo de 1842 a soluo do municipalismoque se apresenta como alternativa global que emergir em grande fora no

    mito historiogrfico do municpio medieval. Mas ser com FlixNogueira, H. Lopes de Mendona, Rodrigues Sampaio quando o muni-cipio se inserir mais realisticamente no jogo e na aco poltico-social dosequilbrios e harmonias necessrias entre a centralizao e a descentraliza-o, que a Histria do Municpio far novos avanos, ultrapassando devez o enclausuramento romntico medieval e fixando mais desenvolvi-damente a sua aco e adaptao dos Tempos Modernos, do Centralismoe Absolutismo Monrquico.

    Deste modo, se so esparsos os estudos histricos sobre o municipalis-mo dos Tempos Modernos em Herculano que o Absolutismo segundoele matara com H. Flix Nogueira e seus continuadores emergiro final-

    mente com grande desenvolvimento, os estudos do Municpio portugusem tempos da Monarquia Absoluta, que depois se continuaro. Com sig-nificativo espao na obra de polticos, economistas, ensastas e sobretudode administrativistas, no tem porm lugar autnomo nas Histrias dePortugalde Oitocentos.

    A Reforma descentralizadora de Rodrigues Sampaio (1875-1890) pro-mover sem dvida um dos mais profundos desenvolvimentos das coor-denadas da vida municipal portuguesa e tambm da Histria do Munici-palismo. O iderio republicano, socialista, consubstanciado por H. F.Nogueira no seuMunicpio Novo teria por ento uma das suas primeirasgrandes aplicaes interrompida com a crise financeira de 1890 e que

    a Repblica intentar de novo retomar, repondo o Cdigo descentralizadorde R. Sampaio. Intenta-se ento tambm a elaborao de monografiassobre os concelhos e os municpios e obras de conjunto sobre a temtica.

    A Repblica (1910-1926), manter-se- nas peugadas doutrinriaslegadas pelos iderios de Oitocentos, fazendo tambm seu o programa dadescentralizao e municipalizao da administrao e territrio. Nesteltimo ponto sem grande sucesso, quer no plano prtico quer at no his-toriogrfico.

    Nas origens do Estado Novo, o iderio corporativo anti-liberal e anti-democrtico, haveria de trazer um novo flego e novos horizontes s inves-tigaes sobre o Municpio pela intensa reflexo histrica sobre as origens

    e natureza da instituio municipal designadamente a sua anterioridade

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    ou filiao no Estado Portugus em correlao com a fundamentaodas razes e natureza corporativa da Sociedade e do Estado, envolvendo-seno estudo histrico das corporaes de ofcios medievais e tambm dacorporao municipal. Mas muitos deles alargar-se-iam tambm aoestudo das corporaes dos ofcios nos Tempos Modernos e em relaocom eles tambm dos concelhos e at ao fim do Antigo Regime do tra-balho mesteiral e oficinal. Este um perodo de grandes evocaes de

    Histria Municipal, com particular incidncia no campo doutrinrio maisdo que no campo historiogrfico. Deste resultar em particular o enormetrabalho de estudo e publicao das fontes e fundos da produo admi-nistrativa camarria. Pela 1. vez, de um modo sistemtico, a Histria doMunicpio Moderno estudada a partir das suas prprias fontes, o que fazdesenvolver particularmente os estudos posteriores ao sculoXV, quandose localizam os fundos mais completos e desenvolvidos da vida municipal.E pela descoberta e explorao destes fundos, revelar-se-ia com muitomais pormenor a vida de outras instituies locais muito articuladas aosMunicpios e que a deixaram muitas marcas e registos nos fundos arqui-visticos.

    Esta ideologia de base corporativa no deixaria ainda de se fazer sentirnos estudos de Histria municipal que se desenvolveram entre ns, pelosanos 30 e 40 do sculoXXem correlao com os programas de desenvol-vimento regional que pretende suportar e fazer assentar no municpio(e outras instituies histricas) programa desenvolvimentista a que entose prendem as elites locais portuguesas municipais e distritais para tirar aProvncia do seu letargo e abatimento e por eles regenerar o pas. Tais pro-gramas tiveram eco nas discusses volta do Cdigo Administrativo de1936 do Estado Novo, tendo vingado a soluo centralizadora do Regimecontra as alternativas mais descentralizadoras de municipalistas e autarcas.Na prtica esse tambm um perodo de grande discusso sobre a admi-

    nistrao local autrquica no tocante a matrias que se referem a: proble-mticas da centralizao/descentralizao, o sistema e os problemas daadministrao local em si e em correlao com a descentralizao e a inter-veno e coordenao dos servios tcnicos e administrativos do Estado,o desenvolvimento dos servios municipalizados. Tal estar na origem deum novo reforo da anlise da Histria e evoluo histrica do Municpio,com um alargamento das temticas que as novas questes a resolver exigiam.(Problemas de Administrao Local Centro de Estudos Poltico-Sociais.Lisboa, 1957).

    A Historiografia municipal para os Tempos Modernos sofrer no ps25 de Abril de 1974 um extraordinrio desenvolvimento. Ela est certa-

    mente em relao com a emergncia da figura do poder localno nosso

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    ordenamento poltico-administrativo revolucionrio que rompe com oconceito vindo do Estado Novo da administrao local autrquica e tam-bm com o seu particular desenvolvimento assente na mobilizao sociale poltica de que foi alvo, permitida e sustentada pelos 3 novos pilaresconstitutivos do seu desenvolvimento: a lei da autonomia, das finanaslocais, da separao dos sectores. Tal desenvolvimento continua as linhasde rumo tradicionais da historiografia municipal portuguesa, a que gene-

    ricamente se vem apelidando de estadualistaque privilegia o estudo domunicpio nas suas relaes e mtuas adaptaes ao Estado; e agora, commais fora e vigor, a que lhe contrape o modelo corporativo, prprio organizao da Sociedade de Antigo Regime.

    Para a renovao da historiografia municipal concorreram poderosa-mente novos domnios de investigao historiogrfica que lhe foram apli-cados: a Histria Econmica, com desenvolvimentos particularmentenotrios na Histria econmica da administrao municipal, na Histriafinanceira e da contabilidade municipal, mercados e formao de preos,no funcionamento das almotaarias, mas tambm do papel das posturas eregimentos locais no desenvolvimento e enquadramento econmico mais

    geral. Mais decisivos ainda foram os desenvolvimentos da Histria Institu-cional, que iniciando-se pelo estudo da Histria Social da AdministraoMunicipal com contributos decisivos para a configurao social dosdiferentes orgos municipais receberia contributos fundamentais donovo campo da Histria Social, das Elites e tambm Histria daMobilidade Social e dos Sistemas Eleitorais. A matriz e a base de Histriaeconmica e social com que se renovou a historiografia municipal maisrecente, essa entronca j na referida renovao do papel do municpiocomo autarquia local na administrao pblica e territorial portuguesa dasdcadas de 50 e 60, mas tambm, em correlao com ela, os novos hori-zontes da Historiografia econmica europeia do Ps-Guerra e da Histria

    Econmica e Social dosAnnales. Desta etapa histrica sai particularmen-te beneficiado o estudo histrico do municpio portugus na pocaModerna, o Metropolitano e logo tambm o Ultramarino, com impor-tantes estudos monogrficos dirigidos aos grandes municpios portugue-ses nos seus quadros institucionais, mas tambm nos seus territrios e atregies.

    Nestes estudos, certamente tambm pelo seu marcado cunho institu-cional, sai particularmente beneficiada a perspectiva estadualista, queestuda os mecanismos do reforo dos elementos da articulao econ-mica e financeira dos municpios Coroa e Fazenda Pblica, os mecanis-mos sociais no ordenamento social local e sua articulao com a Sociedadede Corte e nos elementos e agentes de articulao poltica pelo estudo dopapel e aco dos magistrados rgios para o governo da periferia, que

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    prestam ateno para alm da aco dos juzes de fora, tambm a doscorregedores, provedores e as novas instituies polticas do EstadoModerno, do Absolutismo e do Despotismo.

    Menos consequncias teve a nosso ver, para a Histria municipal desteperodo, a perspectiva da Historiografia e do paradigma Corporativo, amais antiga (do Estado Novo) e a mais recente. Se em geral forneceunovos enquadramentos e fixou outras coordenadas de abordagem e de

    percepo da chamada estadualizao ou politizao da Sociedade, econtribui para ajudar a definir um outro e novo modelo municipal, nocontribui to decisivamente como parece dever ser o seu papel, para aabordagem social da Histria e vida do Municpio, designadamente parao estudo daquelas perspectivas que to descuradas tem sido pela Histo-riografia Poltica e Institucional Municipal, a saber, a Histria da Admi-nistrao, vista e vivida pelo lado dos administrados. Histria e perspectivaesta que j R. Mousnier nos estudos integrados em La Plume, les Faucilleet le Marteau (Paris, P. U. F, 1970) aconselha a fazer adentro do quadroanaltico conhecido que o da construo do Estado Moderno e seuslimites e constrangimentos, sobretudo sociais. E que Jorge Borges de

    Macedo aconselhou e seguiu no artigo Absolutismo do Dicionrio deHistria de Portugal (dir. de Joel Serro, 1971) mas sem grandes conse-quncias futuras. Perspectiva e abordagem sem as quais nunca formare-mos uma viso completa da Histria Municipal e muito menos da emer-gncia das suas Reformas, designadamente a territorial, a eleitoral e danova configurao dos poderes, para cuja abordagem se tem recorridosobretudo e quasi em exclusivo perspectiva da Histria do Estado e da

    Administrao, que unilateral e insuficiente.

    1.2. Para alm dos Municpios.A Histria e historiografia da parquia

    O estudo histrico da administrao territorial portuguesa tem sidoconfigurado e reduzido Histria Municipal, naturalmente pela fora edimenso que a instituio municipal mas tambm o iderio municipalganhou na Sociedade e Cultura Portuguesa, ao longo dos tempos. Mas,apesar disso, no se pode perder de vista, no plano institucional e das rea-lizaes, o estudo dos outros domnios da administrao do territrio, asaber, os campos, os poderes e as instituies para a administrao rgia,a senhorial, a vincular e sobretudo a paroquial e a eclesistica, nelesincluindo tambm os outros campos do exerccio dos poderes sociais maisinformais ou sem base territorial, designadamente o das comunidadesconfraternais, profissionais ou religiosas, dos baldios, dos usos e costumescomunitrios. Mas tambm no plano dos iderios, o das correntes anti-

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    -municipalistas ou o dos crticos de solues poltico-administrativasassentes na exclusiva soluo municipal, a propor solues alternativas aomunicpio e a desenvolver ou propor outras solues poltico-institucio-nais. Com efeito a particular concentrao