municÍpio de sÃo josÉ das palmeiras: …...essa análise foi de grande valia, pois as mudanças...

19

Upload: haduong

Post on 20-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A TRANSFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E O PERFIL DA POPULAÇÃO NO

MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DAS PALMEIRAS: 1980- 2010

Autor: Sirlei de Oliveira Lorscheider1

Orientador: Reinaldo Aparecido de Lima2

RESUMO

Este artigo apresenta um estudo de processos geográficos sobre o Município de São José das Palmeiras, localizado na região Oeste do Paraná bem como o entendimento das transformações demográficas e o perfil da população entre os anos de 1980 a 2010. Essa análise foi de grande valia, pois as mudanças quando não são percebidas ou analisadas, dificultam uma interpretação e posicionamento diante do seu contexto social. Nesse sentido, ao estudar o município de São José das Palmeiras pretendeu-se buscar alternativas para a compreensão do perfil social e econômico atual da população e compreender o contexto histórico ao qual estamos vivendo. No município estudado, assim como em muitos outros de dimensão territorial semelhante, percebeu-se a redução no número de habitantes por volta da década de 80, provocado por questões políticas e econômicas da época. São José das Palmeiras hoje é um município constituído por uma população jovem, e grande parte pendulares. Pretendeu-se com este trabalho familiarizar os estudantes com conceitos geográficos e noções do processo de emigração da população e, em especial, da população de São José das Palmeiras.

Palavras-chave: Município de São José das Palmeiras; Imigração; Movimentos

pendulares;

1 INTRODUÇÃO

1 Pós Graduação em Graduação em Metodologia do Ensino de Geografia no Processo Educativo,

Graduação em Geografia. Professora da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino do Paraná, Colégio Estadual São José – Ensino Fundamental e Médio, município de São José das Palmeiras.

2 Professor Reinaldo Aparecido de Lima, Bel.pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), professor

substituto na Unioeste ( Universidade do Oeste do Paraná) e mestrando do curso de geografia da Unioeste - Campus de Marechal Candido Rondon.

O Paraná, nos anos de 1940 até 1980, apresentou taxas médias de

crescimento econômico e demográfico superiores às das demais regiões brasileiras

e à própria média nacional. Nesse período, houve uma grande expansão e

consolidação da fronteira agrícola da área, movimento que foi mais intenso no Oeste

do Paraná. O Estado e a região até o ano de 1970 eram considerados áreas de

grande atração populacional e expressiva absorção de imigrantes (RIPPEL, 2005).

Com o processo da modernização agrícola, a partir de 1970, houve uma

alteração na capacidade de absorção e manutenção de mão-de-obra no campo, o

que resultou numa forte queda de migração para a região Oeste do Paraná. Esse

fato gerou diversos problemas sociais e provocou, a partir de 1980, um declínio

substancial nas condições socioeconômicas, resultando num movimento de

expulsão de pequenos proprietários de suas áreas (MAGALHÃES, 1996). Esse fato

acabou conduzindo a Região Oeste do Paraná para um processo inverso na

dinâmica populacional, ou seja, de receptora de importantes fluxos migratórios, a

Região passou a ser considerada uma das mais preponderantes áreas de

emigração do país, devido ao acelerado êxodo rural e urbanização concentradora

principalmente nos municípios de Toledo e Cascavel (MARTINE, 1994; RIPPEL,

2005).

A modificação nas relações de produção e nas relações sociais do campo

paranaense, que significou em modernização das relações agrícolas e agrárias,

resultou em deslocamento da população da área rural para os centros urbanos.

Denominado de êxodo rural, a população dos pequenos municípios que dependiam

basicamente das atividades agrícolas desenvolvidas nas pequenas propriedades,

tiveram suas terras comercializadas, ou então, concentradas nas áreas das grandes

propriedades (SILVA, 2010).

Diante desse fato, São José das Palmeiras, assim como outros municípios do

Oeste Paranaense, tiveram uma drástica diminuição populacional e grande

concentração de propriedade de terras entre os anos de 1980 e 2010. Muitos

agricultores venderam suas propriedades de terras, e partiram principalmente para

outras cidades e regiões. Isso ocasionou uma diminuição populacional em São José

das Palmeiras, freando o desenvolvimento econômico, pois grande parte das terras

foi transformada em pastagens, oferecendo pouco retorno financeiro para o

município e seus habitantes, muito comerciantes fecharam suas portas e também

partiram com suas famílias para cidades maiores em busca de outros meios de

sobrevivência.

A dimensão demográfica do espaço geográfico é um conteúdo abordado na

DCE de Geografia (2008), portanto buscamos realizar uma análise sob o foco das

relações da distribuição e mobilidade demográfica relacionada às questões

econômicas e políticas que interferem na organização do espaço geográfico.

Ao realizarmos o estudo sobre a transformação demográfica e o perfil da

população de São José das Palmeiras, pretendeu-se que os alunos do Colégio

Estadual São José compreendam que ele é agente do espaço geográfico e

contribuir para reflexão da organização populacional atual do Município.

Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo principal analisar as

transformações demográficas ocorridas entre os anos de 1980 a 2010 no Município

de São José das Palmeiras, e o perfil atual da população, com vistas à elaboração

de um material didático com o tema Transformação demográfica e Distribuição

Espacial da população. Utilizaram-se diversos recursos para apresentar de forma

didática as informações levantadas sobre as mudanças ocorridas nesse período, a

ocupação, a história do município e o perfil econômico atual da população.

2 DESENVOLVIMENTO

Ao longo do século XX, o Brasil teve uma expressiva mudança no que diz

respeito à distribuição demográfica entre a população da zona urbana e rural. O País

deixou de ser rural, onde a maioria da população vivia no campo e a atividade

econômica principal era a agropecuária para se transformar no Brasil urbano que

hoje conhecemos (Tabela 1).

Ano Urbana% Rural%

1940 31,23 68,77

1950 36,16 63,84

1960 44,67 55,33

1970 55,92 44,08

1980 67,60 32,40

1991 75,47 24,53

2000 81,30 18,70

2010 84,00 16,00

Tabela 1. Distribuição da população brasileira Rural e Urbana no período de 1940 – 2010

Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010.

Segundo o censo demográfico de 2010, realizado pelo IBGE, mais de 84% da

população brasileira vive em áreas urbanas. As atividades econômicas

desenvolvidas nas cidades também avolumaram, tanto no setor secundário como no

terciário, superando em importância as atividades realizadas no campo.

O afastamento gradativo do homem do campo, não foi percebido pelos

poderes e nem sequer houve qualquer movimentos para sustá-los, vindo daí, o

desencadeamento como um surto epidêmico do êxodo rural (CASSOL, 1984).

O pequeno agricultor, considerado obsoleto e superado, viu no seu caminho,

as primeiras pedras, onde o tratamento que deveria receber para seu sustento foi

minguando e cedendo lugar ao desânimo restando-lhe a alternativa da fuga em

busca de outros recursos como meio de sobrevivência (CASSOL, 1984).

Oliveira (2005, p.73) relata:

O processo de transformação pelo qual a agricultura brasileira tem passado nos últimos trinta anos trouxe alterações profundas na estrutura produtiva do campo, sobretudo no sul do país. Estas alterações foram provocadas pela expansão da cultura da soja no sul do Brasil; pelas crises sucessivas que a lavoura cafeeira veio sofrendo no norte do Paraná; pelas obras de Itaipu e pela própria expansão da fronteira.

No bojo destas alterações e como produto contraditório deste processo, trabalhadores rurais tornaram-se suas vítimas. Trabalhadores assalariados ficaram desempregados. Meeiros e rendeiros perderam a possibilidade do trabalho em terra alheia.

Camponeses acabaram expropriados ou pressionados economicamente para vender suas terras.

O estado do Paraná (Figura 1) localiza-se na Região Sul do País, ocupando

uma área de 199.314 km2, que corresponde a 2,3% da superfície total do Brasil e

contando atualmente com 399 municípios instalados (GOVERNO DO ESTADO DO

PARANÁ, 2011).

A região Oeste do Paraná é constituída por 51 municípios, com uma área de

22.840 Km2, sendo a terceira região mais populosa do Estado (IPEA, 2000 apud

PORTZ, 2010).

Figura 1. Mapa do Estado do Paraná, as diferentes cores dividem as regiões, em destaque a região Oeste.

Fonte : www.ipardes.gov.br com modificações.

No modelo de colonização implantado no Oeste do Paranaense e por

empresas colonizadoras, as propriedades tinham uma ligação com os rios e com os

divisores de água, sendo a média das propriedades de 25 hectares. A característica

de pequena propriedade é uma marca fundamental desses pequenos agricultores de

origem européia oriundos dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e que

colaboraram para o desenvolvimento dos primeiros anos da região Oeste e do

desenvolvimento atual (PEITROWSKI; VANDERLINDE, 2007).

Na década de 1970, a agricultura da região sofreu transformações resultantes

da modernização da agricultura nacional, fato este incentivada pelo Estado e que

teve como base uma política de crédito com juros reais abaixo da taxa de inflação,

acompanhada pela comercialização dos principais produtos (soja e trigo), para o

atendimento da demanda externa em grande escala, primordialmente da crescente

demanda por proteínas vegetais no mercado internacional. Isto, somando à

condição geofísica e a topografia da área , possibilitaram a mecanização de vastas

áreas, o que rebateu diretamente no comportamento de absorção ou repulsão de

indivíduos na região ao longo do tempo. Com efeito, o que se percebe é que a

grande expansão populacional das décadas de 1950 a 1970 está atrelada à grande

quantidade de vendas das terras agrícolas, fatos que estimulou o crescimento da

área e que encontrou na migração elemento fundamental para o processo, e que,

justamente por causa destas características econômicas e sociais dos migrantes,

embasou a economia regional inicialmente na policultura (RIPPEL, 2005).

De acordo com Portz (2010), com a intensificação tecnológica da agricultura,

houve um impacto profundo no modo tradicional dos camponeses, exigindo

mudanças e rearticulações no modo tradicional de vida. O modelo atual de

agricultura na região, chamado de convencional, com intenso uso de mecanização

agrícola, prevaleceu o êxodo rural e falência de muitos agricultores, os quais

mudaram sua forma de produzir e, dessa forma, se endividaram de tal maneira, que

tiveram que abandonar suas propriedades (PEITROWSKI; VANDERLINDE, 2007).

No Oeste paranaense, tanto a modernização agrícola, quanto a construção da

Hidrelétrica de Itaipu colaboraram na deterioração da condição de vida e de trabalho

dos agricultores. O represamento do lago de Itaipu afetou diretamente dezesseis

municípios, entre eles São José das Palmeiras, que em 1984, perderam 13,90% dos

seus territórios. Consequentemente houve uma redução da produção agrícola, já

que as áreas alagadas eram consideradas como das mais férteis do mundo, a

evasão populacional e seus reflexos da recita e diminuição da capacidade de

investimentos dos municípios afetados, e infra-estrutura constituída e, além disso,

ambientes naturais sobrepostos pelas águas (MAZZAROLLO, 2003).

Para Zaar (1999), durante a projeção da obra, e a construção destas e de

outras hidrelétricas, ocorreram além das pressões para com os desapropriados, na

maioria das vezes pequenos agricultores e indígenas, um intenso trabalho

ideológico, como objetivo de convencer a todos de que o projeto energético era

essencial ao desenvolvimento do país, mesmo que para isto alguns fossem

prejudicados.

Segundo Mazzarollo (2003), 8.000 familias foram obrigadas a deixar suas

terras, casas, benfeitorias e a região que eles ajudaram a formar, e lançar-se na luta

pela reestruturação de suas vidas, famílias e comunidades. Os que tinham

propriedade foram indenizados, e ebtre estes houve os que conseguiram fazer bons

negócios e também os que arruinaram. Mas havia muitos que nada possuiam, como

os posseiros, arrendatários, empregados e bóias-frias, e estes, salvo exceções,

tiveram que abandonar a área de mãos vazias.

Foi no período de 1947-1951 e 1956-1961, que cinco empresas imobilárias

atuaram no munícipio de São José das Palmeiras (Bentheim, Codal, Coroados,

Francisco Antono Sciara e Jamaica), sendo a Bentheim, a principal empresa, que

revendia lotes entre 10 e 50 alqueires. Os primeiros imigrantes foram atraidos pela

propaganda de solos férteis e propício para a plantação de hortela e café (PORTZ,

2010). Segundo Paludo e Barros (1989) e Schnorr (1993) o cultivo de café trouxe

trabalhadores de diversas regiões do Brasil, ficando essa migração conhecida como

“frente cafeeira”. Com a constituição de alguns municipios, como Diamante do

Oeste, São José das Palmeiras, São Pedro do Iguaçu, Ouro Verde do Oeste, entre

outros, por esses imigrantes, tornou-se famosa a “parte morena do Oeste do

Paraná”, por seus costumes, tradições e origens étnicas serem diferentes dos

municipios que tivera a migração dos descentes alemães, italianos, poloneses, entre

outros provindos dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Schnorr

(2010) isto demonstra que o Oeste paranaense não é tão homogêneo como se

pretende, o que abala o mito da colonização européia.

No inicio da colononização os imigrantes do municipio, tiveram dificuldade

para se intalarem e desenvolverem, o que culminou em uma precária instalação.

Com o tempo, as propriedades não suportavam as necessidades produtivas,

precisava-se de muitos investimentos em insumos agrícolas, circunstância agravada

pela incidencia, no ano de 1975, de uma forte geada, a qual dizimou a cafeiculturra

em nível de Estado e, consequentemente, no município de São José das Palmeiras

(PORTZ, 2010).

Na década de 80, o distrito de São José tornou-se um local de concentrações

de pessoas, atraídas por vendas de terras e do trabalho agrícola, devido a

intensificação do trabalho para a extração de madeira e produção de hortelã. Em

1986, o distrito de São José é emancipado político e administrativo de Santa Helena,

alterando seu nome para São José das Palmeiras (Mapa 2) (SCHNORR, 1993;

PORTZ, 2010). Nessa mesma década, Schnorr (2010) relata que o declínio do

algodão pelo alto custo da produção e o baixo preço de renda, juntamente com a

procura por terras no Estado do Mato Grosso e Rondônia, contribuiu para o

afastamento de inúmeras famílias de São José, ao que se soma a concentração das

pequenas propriedades em áreas onde a criação de gado ocupa espaços cada vez

maiores. Estes fatores caba avolumando-se de forma a implicar no esvaziamento

populacional de São José das Palmeiras.

Figura 2. Mapa da região Oeste do Paraná, em destaque (vermelho) o Município de São José das Palmeiras.

Fonte: www.ipardes.gov.br

Para realizar uma análise crítica da transformação demográfica no município

de São José das Palmeiras: 1980- 2010 foram analisados o perfil desta população,

como a faixa etária, população urbana e rural, estrutura fundiária, fonte de renda e

movimentos pendulares.

Os dados referentes à faixa etária, população urbana e rural foram retirados

da base de dados dos censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) e inseridos em tabelas. Para analisar a fonte de renda e, como

essa população que em 1980 era predominante rural e atualmente urbana foram

levantados alguns dados como número de bolsa auxílio, comércio, aposentados,

funcionário públicos e pendulares. Esses dados auxiliaram na compreensão da

manutenção de vários trabalhadores em São José das Palmeiras, mesmo que o

município não tenha uma oferta de trabalho para toda a população.

A questão básica foi identificar a mudança demográfica que ocorreu no

Município de São José das Palmeiras, quando iniciou seu processo de

transformação demográfica e em que estágio desta transformação encontra-se

atualmente. Entendem-se, neste trabalho, por transformação demográfica as

mudanças que ocorrem no crescimento e na estrutura de uma população, indicadas

por sua composição em grupos etários, população rural e urbana, taxas de

crescimento e fonte de renda.

Verifica-se na tabela 2 que a redução populacional entre os anos de 1980 e

1990, foi de 42%, entre 1990 e 2000 foi de 26,72% e 2000 a 2010 uma redução de

6,6%. A grande transformação demográfica ocorreu entre as décadas de 1980 e

1990, onde a população que era composta por 9.638 pessoas em 1980 diminuiu

para 5.598 pessoas em 1990. Essa grande diminuição ocorreu na área rural, pois

em 1980 o Município era predominantemente rural, com a falta de incentivo, o

homem do campo foi para a cidade, entretanto, pela falta de emprego apenas 58%

permaneceram em São José das Palmeiras, e 42% migraram para outros

municípios. Outro fato importante foi que a população urbana entre 1980 e 2010

cresceu 33,48%, enquanto que a rural reduziu em 81,87%. Provavelmente essa

grande redução deu-se pela estrutura fundiária, pois o pequeno agricultor (com até

50 ha de terra) correspondia a 806 estabelecimentos e uma área de 13.810,30 ha de

terra em 1985, reduziu para 411 estabelecimentos e 5.255,13 há de terra em 2008.

Enquanto que o fundiário (mais de 50 há de terra) que em 1985 possui 5.767,70 ha,

em 2008 aumentou 135,1%, e os três grandes fazendeiros (>500 ha) atualmente

detém 7.636,26 ha.

População 1980 1991 2000 2010

Urbana 1.807 2.355 2.259 2.412

Rural 7.831 3.243 1.843 1.419

Total 9.638 5.598 4.102 3.831

Tabela 2: Dados da população Urbana e Rural de São José das Palmeiras/PR. Fonte : IBGE Censo demográfico de 1980, 1991, 2000 e 2010.

1985 1992 2008

Classes

(ha)

Número de

estabelecimentos

Área (ha) Número de

estabelecimentos

Área (ha) Número de

estabelecimentos

Área (ha)

< 10 235 1.699,60 141 1.015,20 192 1.186,54

10 a 20 475 8.616,60 305 5.597,20 146 1.951,50

20 a 50 96 3.494,10 73 2.657,20 73 2.117,09

50 a 100 15 973,60 11 714,30 21 1.450,70

100 a 200 6 816,40 16 2.176,90 20 2.916,05

200 a 500 3 736,20 7 1.717,80 6 1.557,36

> 500 4 3.241,50 7 5.690,90 3 7.636,26

Tabela 3: Estrutura fundiária do município de São José das Palmeiras/PR, demonstrando o número de estabelecimentos e áreas (ha) no período de 1985, 1992

e 2008. Fonte : Schnorr (1993) citado por Portz (2010), com dados da Emater, para os anos

de 1985 e 1992 e Prefeitura Municipal de São José das Palmeiras para o ano de 2008.

Do ponto de vista demográfico, envelhecimento é caracterizado pelo aumento

na proporção da população a partir de 60 anos, para países em desenvolvimento, e

de 65 anos, para os desenvolvidos, em relação à população total. Esse processo

ocorre como consequência da queda da fecundidade, aliada ao aumento da

expectativa de vida e à redução da mortalidade (MOREIRA, 2000; CARVALHO;

GARCIA, 2003 apud NOGUEIRA et al., 2008).

No Brasil, verifica-se que atualmente a redução da natalidade ocorre em ritmo

mais acelerado do que a diminuição da mortalidade, resultando em limitação

progressiva no ritmo de crescimento populacional (WONG; CARVALHO, 2006 apud

NOGUEIRA et al., 2008). Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os

idosos representavam, em 2005, 10,4% da população mundial, e projeções revelam

que, até 2050, esse valor será superior a 20%. Paralelamente, o percentual de

crianças reduzirá de 30% para 21%, no mesmo período.

Segundo dados do IBGE (2010), 54,20% da população de São José das

Palmeiras são de Adultos (faixa etária entre 20 e 59 anos) correspondendo a 2.076

pessoas; 31,82% são de Crianças e Jovens (0 a 29 anos) o que corresponde a

1.219 pessoas e 13,96% de Idosos (acima de 60 anos) com 535 pessoas.

Essa análise justifica-se, pois é de grande valia o entendimento, se está

ocorrendo um envelhecimento da população, pois os jovens por falta de emprego, à

procura de melhoria na condição de vida, e ou para dar prosseguimento aos

estudos, migram para outras cidades e regiões, resultando em uma diminuição da

população neste município. Entretanto verificou-se que a maior porcentagem da

população está entre as pessoas com idade entre 10 e 19 anos, seguido da faixa

etária entre 20 a 29 anos, 30 a 39 anos e 40 a 49 anos.

Faixa etária Homem Mulher Total

≥ 100 1 1

90 – 99 2 4 6

80 – 89 26 22 48

70 – 79 77 62 139

60 – 69 181 160 341

50 – 59 195 223 418

40 – 49 260 266 526

30 – 39 271 267 538

20 – 29 281 313 594

10 – 19 350 349 699

0 – 9 283 237 520

1.926 1.904 3.830

Tabela 4. Distribuição da população de São José das Palmeiras por sexo, segundo os grupos de idade. Fonte: IBGE, 2010

Para compreendermos as atividades econômicas desenvolvidas no Município

de São José das Palmeiras foi elaborada uma tabela com o número de

estabelecimentos e empregos segundo as atividades econômicas no Município em

2010 (Tabela 5). Em 1980 a população era predominantemente agrícola, e as

principais atividades econômicas estavam ligadas com a zona rural, já em 2010 as

atividades econômicas são a Administração pública direta e indireta e o comércio

varejista.

Atividades Econômicas Estabelecimentos Empregos

Indústria metalúrgica 1 1

Indústria da borracha, fumo, couros, peles, prod. sim e ind. diversa 2 16

Indústria de produtos alimentícios, de bebida e álcool etílico 1 -

Construção civil 1 1

Comércio varejista 31 73

Comércio atacadista 1 8

Instituições de crédito, seguro e de capitalização 1 2

Transporte e comunicação 2 6

Serviços de alojamento, alimentação, reparo, manutenção, radiodifusão e

televisão

5 5

Serviços médicos, odontológicos e veterinários 3 8

Administração púbica direta e indireta 2 165

Agricultura, silvicultura, criação de animais, extração vegetal e pesca 22 47

TOTAL 72 332

Tabela 5 . Número de estabelecimentos e empregos segundo as atividades econômicas – 2010.

Fonte: TEM – RAIS apud IPARDS, 2010.

Entretanto, ao analisar a tabela 5, verifica-se apenas uma pequena parcela da

população envolvida diretamente nas atividades econômicas do Município, diante

desse fato pesquisa de campo através de entrevistas e levantamento de dados com

a Prefeitura Municipal de São José das Palmeiras foram levantados para elucidar

quais são as fontes de renda da população e entender quais são os fatores que

permitem e/ ou colaboram para a manutenção de moradores nesse Município

(Tabela 6).

Fonte de renda Número

Pendulares 505 pessoas

Bolsa família 285 famílias

Peti 78 famílias

Tabela 6 . Fonte de renda e número de pessoas que são pendulares ou recebem bolsa auxílio do governo.

Fonte: Prefeitura Municipal de São José das Palmeiras e entrevistas com pendulares

Segundo dados da Prefeitura Municipal de São José das Palmeiras, 366

famílias recebem o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) e Bolsa

Família, sendo distribuídos 78 Peti e 285 Bolsa Família. Esse número é bastante

elevado se considerarmos que cada família seja constituída por quatro membros

terá uma população estimada de 1.464 pessoas, o que corresponde a 38,22% da

população.

O Peti e a Bolsa Família são programas do Governo Federal. O Peti articula

um conjunto de ações visando à retirada de crianças e adolescentes de até 16 anos

das práticas de trabalho infantil, exceto na condição de aprendiz a partir de 14 anos.

Famílias com renda por pessoa até R$ 70: R$ 68 + R$ 22 por beneficiário (no

máximo até 3) + R$ 33 por jovem de 16 e 17 anos frequentando a escola (até 2

jovens). Famílias com renda por pessoa acima de R$ 70 e menor que R$ 140: R$ 22

por beneficiário (até 3) + R$ 33 por jovem de 16 e 17 anos frequentando a escola

(até 2 jovens) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À

FOME, 2012).

O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência direta de

renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo

o País. O Bolsa Família integra o Plano Brasil Sem Miséria (BSM), que tem como

foco de atuação os 16 milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a

R$ 70 mensais, e está baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e no

acesso aos serviços públicos. O valor da bolsa família corresponde a R$ 32,00

mensais a cada criança até cinco anos, R$ 38,00 crianças de seis a 17 anos

(MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2012).

Atualmente, no Brasil, os deslocamentos de curta distância passaram a ter

certa predominância no contexto da economia brasileira. Segundo dados do Censo

demográfico de 2000 revelaram que no país, 7,4 milhões de pessoas trabalham ou

estudam fora de seu município de residência, realizando assim, o movimento

pendular (BAENINGER, 1996; ANTICO, 2003 apud STAMM e STADUTO, 2008).

No Paraná, os movimentos internos de pessoas que buscam trabalho e/ou

estudam em outro município paranaense, que não o de residência, contabiliza um

total de 359.407 pessoas (DESCHAMPS, 2009).

Como São José das Palmeiras não possui indústrias e empregos para a toda

a população residente nesse Município, 505 pessoas (Copagril 155 pessoas, Sadia

200 pessoas, Fiasul 50 pessoas, Prati 100 pessoas), são trabalhadores pendulares

(PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DAS PALMEIRAS, 2012) que se

deslocam diariamente para as cidades de Toledo e Marechal Cândido Rondon. Esse

número corresponde a 13,83%. Possivelmente, essa população reside em São José

das Palmeiras pelo baixo custo da moradia e pelo fácil deslocamento, entretanto,

esse deslocamento é algo cansativo como relato um aluno do Colégio Estadual São

José e trabalhador pendular.

Trabalho no Frigorífico da Sadia em Toledo no segundo turno, e também estudo no Ensino Médio no período da manhã. A minha rotina é puxada saio de casa para pegar o ônibus que busca os trabalhadores aqui em São José as 13 horas e 30 minutos, começo a trabalhar as 15 horas e para só as 00 horas e 30 minutos, só chego em casa as 2 horas da madrugada e as 7 horas e 30 minutos tenho que estar no Colégio para estudar, estudo até 12 horas.Durmo apenas 5 horas por dia, o sono é demais. Trabalho de segunda a sexta feira, descanso nos sábados e domingos, mas tem alguns sábado que tenho que trabalhar também para repor algum feriado. No turno que trabalho vão cerca de 100 pessoas, eu sou o único que estuda, porque muitos pararam de estudar por causa do cansaço que é grande, é essa a minha rotina.

Durante o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, uma das

atividades proposta foi a Produção Didática , sendo esta Produção articulada com a

Intervenção/Implementação Pedagógica na escola. Como Produção Didática,

elaborou-se um Caderno Temático intitulado: TRANSFORMAÇÃO

DEMOGRÁFICA E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO.

O Caderno Temático teve o objetivo de auxiliar o Professor no processo de

Ensino na área de Geografia, com o tema Transformação Demográfica e

Distribuição Espacial da População, e o aprendizado de alunos do 2º ano do Ensino

Médio.

Propomos uma intervenção pedagógica, partindo da realidade dos alunos,

possibilitando-os uma leitura geográfica do mundo e do seu cotidiano. Embora as

migrações sejam problemas bastante discutidos, consideramos importante levar aos

alunos, uma abordagem mais abrangente, para que possam entender que os

movimentos migratórios são antigos e ocorrem por vários motivos, principalmente os

econômicos.

É importante salientar que o homem abandona suas áreas de origem em

busca de melhores condições de sobrevivência. Isso vem ocorrendo em espaço e

tempo diferentes, mas dando ênfase com o desenvolvimento capitalista. E a história

do Brasil, do Paraná e do Município não pode ser desvinculado da história mundial.

No decorrer dos estudos e pesquisas os alunos foram estimulados a refletir

sobre os problemas que atingem nosso município, percebendo que o espaço que o

produzimos e reproduzimos está de acordo com os interesses da sociedade.

Propondo esse olhar das transformações demográficas, analisada a partir da

ação dos fatores econômicos na formação e (re) organização do espaço geográfico,

pode-se perceber um maior e melhor aprimoramento nos conhecimentos por parte

dos alunos.

Durante a realização do Grupo de Trabalho em Rede – GTR foram

discutidos os resultados obtidos durante a pesquisa de campo sobre os processos

migratórios em São José das Palmeiras, e vários professores relataram que o

mesmo havia acontecido em seus municípios. Várias propostas de estudo surgiram,

podendo destacar as colocações de um professor que propôs trabalhar as

migrações que ocorrem nos municípios lindeiros e no País vizinho o Paraguai:

“temos um problema em nossa escola, pois migrantes vindos do Paraguai se

mudam para o nosso município durante o período letivo ,os alunos têm muitas

dificuldades na aprendizagem,e retornam ao País de origem ou migram para outros

municípios antes de finalizar o ano letivo”. Esse relato chamou a atenção, pois são

processos migratórios que ocorrem durante o ano, onde esses migrantes têm como

objetivo buscar uma melhor qualidade de vida, ou empregos, e vão e vem e os seus

filhos acabam sendo prejudicados por não ter um acompanhamento pedagógico

necessário para sua aprendizagem.

4 CONCLUSÃO

Ao estudar as transformações demográficas e o perfil da População do

Município de São José das Palmeiras, inserindo-o num contexto regional e global, foi

importante para a ampliação da visão de mundo dos alunos envolvidos. A

compreensão de quais foram os fatores que provocaram o êxodo rural e a

diminuição da população e os fatores que promovem a manutenção da população

no Município, detalhes que antes lhes passavam despercebidos, passaram a ter

outros significados.

Propondo esse olhar da situação atual e da história que envolve as

transformações demográficas, analisada a partir da ação dos fatores econômicos na

formação e (re) organização do espaço geográfico, pode-se perceber um maior e

melhor aprimoramento nos conhecimentos por parte dos alunos. Podendo-se

ampliar o campo de investigação para além da proposta. O professor tem a

liberdade de expandir a proposta, com objetivo de fazer outros estudos sobre o

município e consequentemente além deste. Pois durante a aplicação do Caderno

Temático, outras propostas de estudo surgiram para compreender as questões

geográficas do nosso município.

Nesta oportunidade, a preocupação restringiu-se ao conhecimento das

transformações dos aspectos geográficos através da interferência das atividades

econômicas. O objetivo foi compreender as transformações demográficas e o perfil

atual da população de São José das Palmeiras. A focalização maior sobre esse

tema foi o êxodo rural, faixa etária, população urbana e rural, estrutura fundiária,

fonte de renda e movimentos pendulares.

Pretendeu-se com este trabalho deixar evidente a importância e influência das

atividades econômicas na construção e organização espacial do espaço geográfico

de um município, que neste caso o Município de São José das Palmeiras.

REFERÊNCIAS

DESCHAMPS, M. V. Análise dos movimentos pendulares nos municípios de Santa Catarina: uma abordagem regional REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.116, p.195-216, jan./jun. 2009. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).Censo demográfico de 1940,. Disponível em: http://www1950, 1960, 1970, 1980, 1991, .google.com.br/#hl=pt-BR&biw=1600&bih=767&q=ibge+popula%C3%A7%C3%A3o+urbana+e+rural+de+1940+a+1991&aq=f&aqi=&aql=&oq=ibge+popula%C3%A7 >> Acesso em 11/11/2010 IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).Censo demográfico de 2000 Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/demograficas.html >> Acesso em 11/11/2010

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo demográfico de 2010.Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>> Acesso em 11/11/2010

IPARDES (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social)http://www.ipardes.gov.br/pdf/mapas/base_fisica/regioes_geograficas_parana.pdf>> Acesso em 17/12/2010

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ. http://www.cidadao.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=73. Acesso em 21/03/2011. MAGALHÃES, M. V. O Paraná e as migrações: 1940 a 1991. Dissertação (Mestrado em Demografia) – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 1996. MARTINE, G. A redistribuição espacial da população brasileira durante a década de 80. Brasília: IPEA, 1994. (Textos para discussão, 329). MAZZAROLLO, J. A Taipa da Injustiça: esbanjamento econômico, drama social e holocausto ecológico em Itaipu. São Paulo: Loyola, 2003. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME. http://www.mds.gov.br, Acesso em 2012 NOGUEIRA, S.L.; GERALDO, J. M.; MACHADO, J. C.; RIBEIRO, R. C. L. Distribuição espacial e crescimento da população idosa nas capitais brasileiras de 1980 a 2006: um estudo ecológico. R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 25, n. 1, p. 195-198, jan./jun. 2008 OLIVEIRA, A. U. A geografia das lutas no campo. São Paulo: Contexto, 2005. PALUDO, G. B.; BARROS, D. Síntese da Historia do Paraná. Cascavel: Assoeste, 1989. PIETROWSKI, V.; VANDERLINDE, T. O Espaço socioeconômico da agricultura familiar: impactos e inclusão tecnológica no Oeste do Paraná. In: Migrações e Construções do Oeste do Paraná século XXI em perspectiva. Org. VANDERLINDE, T.; GREGORY, V.; DEITOS, N. J. Cascavel: Coluna do Saber. 2007.

PORTZ, M. A. A preservação ambiental das propriedades camponesas na comunidade Serrinha em São José das Palmeiras – PR. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Francisco Beltrão, 2010. RIPPEL, R. Migração e desenvolvimento econômico no oeste do Estado do Paraná: uma análise de 1950 a 2000. Tese (Doutorado em Demografia) – Universidade de Campinas, São Paulo, 2005. SCHNORR, P. L. A concentração de posse da terra, o processo migratório e o cotidiano dos “bóias-frias” no município de São José das Palmeiras/PR. Monografia (Geografia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Marechal Cândido Rondon: 1993. SCHNORR, P. L. A concentração da propriedade da Terra, o processo migratório e o cotidiano dos “bóias-frias” e ex “bóias-frias” no Município de São José das Palmeiras – PR. Disponível on-line < www.diaadiaeducacao.pr.gov.br > acesso em 2010. SILVA, L. S. Altônia - do café ao algodão. Disponível on-line < www.diaadiaeducacao. pr.gov.br > acesso em 2010. STAMM. C.; STADUTO, J. A. R. Movimentos pendulares das cidades interioranas de porte médio de Cascavel e Toledo, no Paraná. R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 25, n. 1, p. 131-149, jan./jun. 2008. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Superintendência da Educação, Diretrizes Curriculares de geografia para Ensino Médio. Curitiba: SEED/PR, 2008.

ZAAR, M. H. A produção do espaço agrário da colonização à modernização agrícola e formação do Lago de Itaipu. Cascavel: Edunioeste, 1999.