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7/28/2019 Nacionalidade portuguesa de judeus sefarditas expulsos (descendentes) | Projecto de lei do CDS-PP, 4-abr-2013
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Grupo Parlamentar
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PROJECTO DE LEI N. 394/XII/2
Quinta alterao Lei n. 37/81, de 3 de Outubro
(Lei da Nacionalidade)
Nacionalidade portuguesa de membros de comunidades de judeus sefarditas
expulsos de Portugal
Exposio de motivos
Designam-se de judeus sefarditas, os judeus descendentes das antigas e tradicionais comunidades
judaicas da Pennsula Ibrica (Sefarad), provindo a designao do hebraico Sefardim (Sefardi, no
singular).
muito antiga a presena destas comunidades no territrio peninsular, acreditando-se que aqui seestabeleceram ainda durante a era das navegaes fencias, embora a sua presena s possa ser
atestada desde o Imprio Romano. E aqui permaneceram nos alvores da cristianizao, bem como
nas subsequentes invases quer visigtica (e crist), quer moura (e muulmana). Eram, portanto,
comunidades pr-existentes formao dos reinos ibricos cristos, como foi o caso da formao de
Portugal a partir do sculo XII.
Estas comunidades judaicas foram objecto de perseguio por parte da Inquisio espanhola, a
partir de finais do sculo XV, datando as primeiras expulses de 1492. Muitos refugiaram-se na
altura em Portugal, onde as perseguies ainda no se verificavam e, pelo contrrio, uma lei
inicialmente promulgada por D. Manuel lhes garantia proteco. Porm, este quadro rapidamente
mudaria e tambm o rei portugus D. Manuel determinou, a partir de 1496, a expulso de todos os
judeus Sefarditas (tambm conhecidos por Marranos) que no se sujeitassem ao baptismo catlico.
Numerosos judeus foram, assim, expulsos de Portugal nos finais do sculo XV e incios do sculo XVI
tanto aqueles que, dos vizinhos reinos de Castela e outros, se haviam refugiado transitoriamente
no nosso pas, como os membros e descendentes das antigas e tradicionais comunidades judaicas
estabelecidas em solo portugus.
De modo geral, estes judeus peninsulares fugiram para pases como a Holanda e o Reino Unido e
para o Norte da frica, bem como, mais tarde, para territrios americanos, correspondentesactualmente a Brasil, Argentina, Mxico e Estados Unidos da Amrica. ainda a que, hoje,
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encontramos os descendentes das comunidades expulsas de Portugal, ocorrendo a maior frequncia
de casos no Brasil e tambm nos EUA.
Apesar das perseguies e do longo afastamento do seu territrio ancestral, bem como do facto de,
para sobreviverem, terem tido, em vrios perodos, que seguir secretamente as suas tradies ou
mesmo que interromper a sua prtica, muitos judeus sefarditas transmitiram o sentimento
portugus de gerao em gerao. Nomeadamente, muitos mantiveram ritos e objectos
tradicionais, tpicos do antigo culto judaico em terras do nosso pas, e foram conservando e
reproduzindo os seus apelidos portugueses, alm de cultivarem uma forte relao memorial a
Portugal.
Citam-se, designadamente, os seguintes apelidos Judeus-Sefarditas oriundos das regies do
Alentejo, Beira-Baixa e Trs-os-Montes:
Amorim; Azevedo; lvares; Avelar; Almeida; Barros; Basto; Belmonte; Bravo; Cceres;Caetano; Campos; Carneiro; Carvalho; Crespo; Cruz; Dias; Duarte; Elias; Estrela; Ferreira;
Franco; Gaiola; Gonalves; Guerreiro; Henriques; Josu; Leo; Lemos; Lobo; Lombroso;
Lopes; Lousada; Macias; Machado; Martins; Mascarenhas; Mattos; Meira; Mello e Canto;
Mendes da Costa; Miranda; Montesino; Moro; Moreno; Mores; Mota; Moucada; Negro;
Nunes; Oliveira; Osrio (ou Ozrio); Paiva; Pardo; Pilo; Pina; Pinto; Pessoa; Preto; Pizzarro;
Ribeiro; Robles; Rodrigues; Rosa; Salvador; Souza; Torres; Vaz; Viana e Vargas.
Por seu turno, encontramos os seguintes apelidos em famlias Judaico-Sefarditas na Dispora na
Holanda, no Reino Unido e nas Amricas:
Abrantes; Aguilar; Andrade; Brando; Brito; Bueno; Cardoso; Carvalho; Castro; Costa;
Coutinho; Dourado; Fonseca; Furtado; Gomes; Gouveia; Granjo; Henriques; Lara; Marques;
Melo e Prado; Mesquita; Mendes; Neto; Nunes; Pereira; Pinheiro; Rodrigues; Rosa;
Sarmento; Silva; Soares; Teixeira e Teles.
E, por ltimo, comum encontrar os seguintes apelidos Judaico-Sefarditas na Amrica Latina:
Almeida; Avelar; Bravo; Carvajal; Crespo; Duarte; Ferreira; Franco; Gato; Gonalves;
Guerreiro; Lon; Leo; Lopes; Leiria; Lobo; Lousada; Machorro; Martins; Montesino;Moreno; Mota; Macias; Miranda; Oliveira; Osrio; Pardo; Pina; Pinto; Pimentel; Pizzarro;
Querido; Rei; Ribeiro; Robles; Salvador; Solva; Torres e Viana.
A matriz portuguesa de muitos destes nomes de famlia bem suficientemente evidente, a par de
outros de clara matriz castelhana.
Descendentes h dessas comunidades judaicas que nunca esconderam o desejo de recuperar a
antiga nacionalidade de que esto privados pela expulso dos seus antepassados. E esse tema tem
sido objecto recorrente de reflexo normativa e de tratamento quer em Espanha, quer em Portugal,
em diferentes momentos histricos. Em Portugal, nunca foi, porm, estabelecida uma soluo
satisfatria e duradoira.
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Em 2010, correndo a 11 Legislatura, o Grupo Parlamentar do CDS-PP interessou-se por esta
problemtica, respondendo abordagem feita por representantes da comunidade de judeus
sefarditas, residentes no estrangeiro, que desejam poder recuperar a nacionalidade [portuguesa] que
foi a de seus antepassados. Neste contexto, o deputado Jos Ribeiro e Castro, que era tambm na
altura o presidente da Comisso de Negcios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, formulou
perguntas parlamentares ao ministro da Justia e ao ministro da Administrao Interna do XVIII
Governo Constitucional (governo minoritrio do PS, presidido pelo primeiro-ministro Jos Scrates).
Na altura, em 2010, corria tambm uma petio electrnica, intitulada Restituio da
Nacionalidade Portuguesa aos Judeus Sefarditas Portugueses, que pedia o seguinte:
Assim sendo, ns, cidados portugueses, atravs dos signatrios desta petio, vimos
solicitar perante os Poderes constitudos da Repblica Portuguesa, a restituio da
nacionalidade portuguesa aos judeus sefarditas portugueses.
Esta petio, dirigida Assembleia da Repblica e cujo primeiro subscritor Marco Antnio da Silva
Moreira, recolheu j a assinatura de 1.181 pessoas j subscreveram, no deu entrada oficial e
permanece aparentemente ainda pendente no seu endereo electrnico . A mais evidente sequncia parlamentar que teve
correspondeu s perguntas parlamentares do CDS, que retomaram vrios dos fundamentos desta.
Tratou-se, respectivamente, das perguntas parlamentares n. 2835/XI/1 e n. 2837/XI/1, ambas de
10 de Maio de 2010, mais tarde renovadas como perguntas parlamentares n. 4034/XI/1 e n.
4032/XI/1, ambas de 8 de Julho de 2010.
A, alegava-se:
b) Os judeus sefarditas foram expulsos de Portugal ou forados ao exlio a partir dasperseguies de finais do sculo XV, continuando a considerar-se e a referir-se a si mesmos
como judeus portugueses ou judeus da Nao portuguesa.
c) Presentemente, constituem um grupo pequeno, tendo alguns membros cidadania israelita,sendo que a maioria vive no Brasil na maior parte do tempo e correspondendo quase todos a
indivduos com educao de nvel superior, em geral profissionais liberais e que, na maioria,falam mais do que o portugus.
d) H muitos judeus sefarditas que aspiram a recuperar a nacionalidade portuguesa, de que seencontram privados merc da expulso e/ou exlio forado dos seus antepassados.
e) A Espanha que fez expulses similares s ocorridas em Portugal j adoptou legislao,desde 1982, que permite a naturalizao dos judeus sefarditas de origem espanhola ao fim
de dois anos de residncia em Espanha, semelhana da norma aplicvel a um conjunto
limitado de origens especficas. E, em 2008, adoptou a possibilidade por carta de natureza
e atribuiu a nacionalidade espanhola, independentemente de residncia, a judeus sefarditas,
merc unicamente de um conjunto de indicadores objectivos (apelidos, idioma familiar) e
competente certificao pelo rabino da comunidade.
http://www.peticaopublica.com/?pi=SEFARDIMhttp://www.peticaopublica.com/?pi=SEFARDIMhttp://www.peticaopublica.com/?pi=SEFARDIM -
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f) Os judeus sefarditas interessados em recuperar a nacionalidade portuguesa sublinham queoutros pases, como a Grcia, j adoptaram legislao de reaquisio de nacionalidade por
judeus expulsos e seus descendentes e que a prpria Alemanha o fez, face tragdia mais
recente.
g) Portugal dos poucos pases, seno o nico, que no dispe ainda de normas parareaquisio de nacionalidade pelos descendentes de judeus expulsos.
Pretendia, ento, o CDS obter resposta do Governo da altura s seguintes questes:
1. Tem conhecimento da situao e desta aspirao dos judeus sefarditas de origemportuguesa?
2. Considera que possvel atender a sua pretenso de reaquisio da nacionalidadeportuguesa, no quadro da lei e da regulamentao vigentes? Por que modo?
3. No havendo legislao vigente que possa satisfazer a aspirao dos judeus sefarditas deorigem portuguesa, est aberto a que possa ser adoptada proximamente? Concordanomeadamente com a adopo em Potugal de um regime de naturalizao dos judeus
sefarditas originrios de Portugal similar ao que j vigora na vizinha Espanha?
O ministro da Justia responderia s questes do CDS-PP por resposta com data de registo na
Assembleia da Repblica em 14 de Julho de 2010 e que pode ser consultada no DAR, II - srie B,
N.171/XI/1, Supl. 2010.07.14 (pg. 99-100).
A, depois de enquadrar a questo no contexto da Lei da Nacionalidade vigente (Lei n. 37/81, de 3
de Outubro) e da sua evoluo normativa (ltima alterao pela Lei Orgnica n. 2/2006, de 17 de
Abril), bem como de abordar genericamente o problema, o Governo da altura apontava para a
possibilidade de considerao de casos individuais ao abrigo do disposto no artigo 6, n. 6 da lei, no
uso do poder discricionrio que a fixado, apontando para uma sua aplicao de forma
proporcional, no mbito de uma avaliao sistemtica e enquadrada, numa perspectiva actualista,
de acordo com princpios e orientaes que permitem estabelecer um padro de justia reconhecvel
e respeitado por todos os intervenientes e interessados. A resposta governamental aludia, aqui, ao
regime constante, desde 1981, da vigente Lei da Nacionalidade que permite j ao Governo
conceder a nacionalidade portuguesa, por naturalizao () aos que forem havidos como
descendentes de portugueses [ou] aos membros de comunidades de ascendncia portuguesa,com
dispensa dos requisitos gerais de residncia duradoura em territrio portugus e de conhecimentosuficiente da lngua portuguesa.
Por outro lado, a resposta do Governo da altura admitia o seguinte: A criao de um regime
especial a aplicar especificamente a uma determinada comunidade, com razes num passado to
distante, teria no s que ter por base um estudo histrico e uma anlise aprofundada, com dados
actuais de natureza estatstica, suportada por um debate alargado na sociedade portuguesa, como
sobretudo teria que ter em conta o equilbrio necessrio e o respeito pelas aspiraes de outras
comunidades de ascendncia portuguesa, que remontam a um passado no distante.
Mas a mesma resposta do Governo de ento temperava restritivamente a aparente abertura, ao
acentuar que este tem sido o entendimento consolidado e constante do Ministrio da Justia,
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considerando que meras razes histricas no podem relevar, per si, para fundamentarem o recurso
ao regime excepcional previsto no n. 6 do artigo 6.
Por seu turno, a resposta, quase simultnea, do Ministrio da Administrao Interna s questes do
CDS-PP no acrescentava nada de relevante quele entendimento do Ministrio da Justia cfr.
DAR, II srie B, N.179/XI/1, Supl. 2010.07.23 (pg. 108-109).
O entendimento formado pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP divergia da resposta do Governo da
altura, uma vez que a nossa interpretao a de que o artigo 6, n. 6 da lei vigente era j base
suficiente para decidir favoravelmente os pedidos de naturalizao que fossem apresentados por
descendentes das antigas comunidades de judeus sefarditas expulsos de Portugal. Considervamos
que os competentes processos administrativos deveriam ser instrudos com critrios
suficientemente abertos, por forma a concretizar a justa reparao histrica aos requerentes que
comprovassem por meio suficiente descender daqueles antepassados forados ao exlio ou expulsos
do nosso pas.
Porm, convergamos e convergiramos na disponibilidade para encontrar e definir um regime
especial, inspirado no esprito e na letra da lei em vigor, mas que, por conter previso expressa
dirigida ao caso dos descendentes das comunidades portuguesas de judeus sefarditas, evitasse
conflitos de interpretao, fosse alm da mera discricionariedade e revestisse, assim, adequada e
desejvel segurana jurdica.
O CDS-PP viu, assim, com satisfao, a apresentao pelo Partido Socialista do Projecto de Lei n.
373/XII/2 Quinta alterao Lei n. 37/81, de 3 de Outubro (Lei da Nacionalidade) que o sinal
certamente de j ter sido concludo o estudo histrico e a anlise aprofundada a que se fazia aluso
na resposta governamental de 2010.
H, por isso, condies para avanar, no plano legislativo, num quadro desejvel de amplo e
alargado consenso poltico interpartidrio.
Assim, nos termos constitucionais e regimentais aplicveis, os deputados do Grupo Parlamentar do
CDS-PP apresentam o seguinte Projecto de Lei:
Artigo 1.
Alterao Lei n. 37/81, de 3 de Outubro
O artigo 6. da Lei n. 37/81, de 3 de Outubro, alterada pela Lei n. 25/94, de 19 de Agosto, pelo
Decreto-Lei n. 322-A/2001, de 14 de Dezembro, na redaco dada pelo Decreto-Lei n. 194/2003,
de 23 de Agosto, pela Lei Orgnica n. 1/2004, de 15 de Janeiro, e pela Lei Orgnica n. 2/2006, de
17 de Abril, passa a ter a seguinte redaco:
Artigo 6.
[]
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1- []
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3- []
4- []
5- []
6- []
7- O Governo conceder a nacionalidade por naturalizao, com dispensa dos requisitos
previstos nas alneas b) e c) do n. 1, aos judeus sefarditas de ancestral origem portuguesa, atravs
da demonstrao da tradio de pertena a uma comunidade sefardita de origem portuguesa, com
base em requisitos objectivos comprovados de ligao a Portugal, designadamente apelidos, idioma
familiar e descendncia.
Artigo 2.
Regulamentao
O Governo proceder s necessrias alteraes do Regulamento da Nacionalidade Portuguesa,
aprovado pelo Decreto-Lei n.237-A/2006, de 14 de Dezembro, no prazo de 60 dias a contar da
publicao da presente lei.
Artigo 3.
Entrada em vigor
A presente lei entra em vigor na data de incio de vigncia das normas regulamentares referidas no
artigo anterior.
Assembleia da Repblica, 4 de Abril de 2013
Os Deputados,