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“De catador de ferro velho em Minas Gerais a badalado designer de bolsas em Nova York.” O Estado de S. Paulo A história de Eli Roberto Vasconcelos Matos, o Roberto Vascon, se assemelha à de milhões de brasileiros. São narrativas e relatos de uma vida intensa de erros e acertos, alegrias e tristezas, derrotas e vitórias... de Fé! Roberto Vascon conheceu os extremos da vida. Passou pelas piores necessidades: sentiu fome e frio por dias no terrível inverno de Nova York. Em contrapartida, conheceu o mundo, os melhores hotéis e restaurantes, viajou de primeira classe, vestiu-se com as principais grifes mundiais. Foi nobre na pobreza e humilde na riqueza. Certamente por isso, adaptou-se a cada uma delas como em uma gangorra. Ora no baixo, ora no alto. Ora no fracasso, ora no sucesso. A história de Roberto Vascon é uma lição de vida, de perseverança e de superação. Uma prova real de que sonhos são possíveis e realizáveis. E de que Deus escuta nossos chamados. Mesmo que estejamos deitados num

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Nas asas de

um soNho

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Nas asas de

um soNho

RoBeRTo VasCoN

Uma história que muda vidase motiva pessoas

por Elias Awad

São Paulo 2013

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NAS ASAS DE UM SONHO

Copyright © 2013 by Elias Awad

Grafi a atualizada segundo o Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesade 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

COORDENAÇÃO EDITORIALSilvia SegóviaLetícia Teófi lo

CAPA E PROJETO GRÁFICOLumiar Design

REVISÃONatércia Pontes

Gleice CoutoThiago Fraga

CRÉDITO DAS FOTOSCapitulares: Studio Pixel – Daniel Mansur. Exceções:

capítulos 1, 5, 8 e 9, do arquivo pessoal de Roberto Vascon.

Caderno de fotos: do arquivo pessoal de Roberto Vascon. Exceções: Studio Pixel – Daniel Mansur páginas 7-8, 10-18 e 22.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)(CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL)

Awad, Elias Nas asas de um sonho : um história que mudavidas e motiva pessoas / por Elias Awad. --Barueri, SP : Novo Século Editora, 2013.

1. Bolsas - Design 2. Designers - Biografi a3. Vascon, Roberto I. Título.

13-09340 CDD-745.53

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:1. Designers de bolsas : Biografi a 745.53

2013IMPRESSO NO BRASIL

PRINTED IN BRAZILDIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À

NOVO SÉCULO EDITORA LTDA.CEA – Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 – 11º Andar

Bloco A – Conjunto 1111CEP 06455-000 – Alphaville – SP

Tel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323www.novoseculo.com.br

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1. O menino sonhador Eli [21]

2. O primeiro voo: Belo Horizonte [55]

3. Próximo voo: ser ator no Rio de Janeiro [81]

4. O maior voo de todos [105]

5. A interpretação do sonho com pássaros e bolsas [123]

6. The Leather Wizardry - O mágico do couro [139]

7. Revelações de uma carreira de sucesso [167]

8. A troca do dinheiro pela cultura [199]

9. New York again: A mesma praça, o mesmo banco... [219]

10. Quedas, tropeços e a retomada do sucesso [277]

Mensagem final [289]

sumário

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a arte de vencer, perder, reconquistar e ser feliz

Na garra e na fé. Nelas, eu sempre me agarrei. Graças a elas, su-perei a fome, a dor, o medo, a solidão, o fracasso, o sucesso, a ausência, a abundância...

Aceitei a vida como um convite recebido de Deus. Enfrentei momen-tos de muito tormento. Às vezes eu parava e os avaliava. Era como se minha vida fosse um quadro branco ou negro. Mas essa sensação nunca me trouxe medo ou insegurança. Eu tinha a certeza de que seria capaz de mudar e de colorir o meu destino.

Com garra e fé, tudo tem solução. Isso não é clichê barato! Este não é um livro de autoajuda. Prefiro que seja de autossoluções. Isso é realismo. Ou melhor, uma mistura de sonho e de realismo. Ora um coloria o outro, ora um descoloria o outro. Ora, um aliviava o outro, ora um destruía o outro, ora um alimentava o outro.

Cheguei aos meus cinquenta e dois anos e muitos podem achar que é cedo para a minha história ser registrada. Na verdade, acho que passou da hora de eu contar a minha vida em livro. Ter uma biografia é mais do que um sonho. É divagar no impossível.

Sim, eu tenho cinquenta e três anos, mas sinto que vivi quatrocentos! Talvez, uns trezentos deles com muito sofrimento, mas sempre com per-severança e acreditando na força de Deus e do amanhã. Fiz questão de escolher esse momento para registrar minha história. Entendo ser impor-tante mostrar que uma vida pode ser tão intensa em cinco décadas e ainda se ter tempo de viver outras experiências.

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Muita gente conhece a minha história. Sempre ouço: “Você não é o cara das bolsas?”; “Você não é o brasileiro que dormia no banco da pra-ça?”; “Você é aquele que morou no Central Park?”; “Você não é aquele que sonhou com os pássaros em formato de bolsas?”; “Você não é o cara que ficou milionário e perdeu tudo por várias vezes?”; “Você não é o cara das bolsas que vendeu tudo para conhecer o mundo?”; “Você não é...”.

Eu sou sim um pouco de cada um deles. Mais do que isso, sou, na re-alidade, Eli Roberto Vasconcelos Matos, filho de uma lavadeira de roupas e um garrafeiro que se embriagava. Gente muito sofrida. E eu me orgulho muito disso.

Dentro dessa realidade, meu amadurecimento se deu de forma preco-ce, aos cinco anos de idade. Naquela época, eu já tinha de pensar como gente grande. Este livro vai contar em detalhes o porquê disso. Mas posso adiantar dizendo que os fatores determinantes foram as necessidades de sobreviver e de preservar o meu pai.

Por muitos anos herdei a profissão do meu pai. Graças a ela criei asas. Voei de Raposos para Belo Horizonte e depois para o Rio de Janeiro. Bati asas para os Estados Unidos, em Nova York, onde me tornei Roberto Vas-con, designer de bolsas. E aí, sim, surgiu o voo mais alto, longo e maravi-lhoso que eu poderia imaginar: abri mão da segurança material e de tudo para conhecer o mundo.

Levei algumas décadas para realizar aquilo que eu já enxergava quando criança. Eu queria o mundo. E o mundo também me quis. Trocamos co-nhecimentos, experiências, culturas, dons...

Minha vida está em constante processo de mutação, mas sempre com dignidade. Tanto em momentos bons quanto difíceis eu estou feliz. Por isso, na minha essência não houve transformações significativas entre aquele menino nascido em Raposos e o designer internacional Roberto Vascon.

Viajei do céu ao inferno, e do inferno ao céu, por algumas vezes. Leia--se também da riqueza à pobreza e vice-versa. Esses altos e baixos me valeram para que eu pudesse mensurar o real valor do dinheiro e também das pessoas.

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Sim, pessoas também têm valor. Pena que algumas delas sejam tão desvalorizadas. Há um ditado que diz: “Se a pessoa te enganar uma vez, a culpa é dela. Se te enganar duas vezes, a culpa é sua”. Em contrapartida, outras merecem todo o investimento que fazemos nelas; o retorno pessoal e emocional é certo. São elas que nos permitem continuar a acreditar no ser humano.

Admiro, ainda, os pássaros e suas asas da liberdade. Asas que levam e trazem, que protagonizam chegadas e partidas. Detesto portas e janelas. Fiz do diálogo as chaves que abriram portas durante a vida.

Eu seria muito egoísta se guardasse tudo o que experimentei e conheci dentro de mim. Acredito que compartilhar é uma obrigação, uma missão. Mas posso dizer a você que não foi fácil passar por esse processo biográ-fico. Foram meses relembrando minha história. Sinto-me como se tivesse entrado vestido e saído nu do processo, sem segredos ou particularidades.

Nas páginas seguintes, você se tornará meu “sócio” do maior patrimô-nio que Deus me propiciou e que conquistei até aqui.

Esse patrimônio não tem preço, mas valor. Esse patrimônio é repre-sentado por cada segundo, minuto, hora ou dia da minha vida. Por cada lágrima derramada, por cada sorriso que dei, por cada sonho que realizei, por cada frustração pelo sonho não realizado. Por cada perda que tive, por cada conquista alcançada.

O real valor desse patrimônio deixará de ser apenas meu e daqui a algumas páginas será também nosso. Vibre e motive-se com ele. Olhe no espelho e diga: “Assim como Roberto Vascon, eu também tenho muito a aprender com a vida”.

Espero então que, ao conhecer a minha história, você possa redefinir alguns valores de vida. Quem tem casa, comida, um canto quente para dormir e alguém com quem falar e ouvir é um vencedor.

Sim. Eu sou aquele designer de bolsas que dormia em um dos bancos do Central Park, em Nova York. Se você aceitar o meu convite, sente ao meu lado, no mesmo banco, que eu vou lhe contar a minha história.

Roberto Vascon

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Biografia tripla

São três biografias e não apenas uma.A primeira é a do Eli, menino danado de esperto. Do tipo que faz uma suculenta omelete mesmo sem ter ovos para colocar nela.

A outra é a do Roberto. Um jovem que assumiu todos os sonhos do menino Eli, mas destruiu alguns. Coube a Roberto decifrar o sonho mais esquisito, o de voar como um pássaro. Também em Roberto a semente da sexualidade, brotada no menino Eli, ganhou liberdade de ação e expres-são, ganhou moldura.

Na terceira biografia, o menino Eli está outra vez presente. Roberto também. Eles ajudaram a construir um monstro. Um monstro como de-signer de bolsas... Vascon. Roberto Vascon!

Este sim, por meio do sonho com os pássaros, voou e conquistou o mundo. Ganhou respeito. Ganhou dinheiro. Perdeu dinheiro; na verdade, trocou-o pela cultura. Manteve o respeito. Reconquistou e perdeu dinhei-ro. Mudou e melhorou vidas. Fez cumprir os mandamentos de Deus.

Essas três biografias são partes que se somam e montam a trajetória de Eli Roberto Vasconcelos Matos até ele se tornar o conhecido Roberto Vas-con. Doce como um menino. Inseguro como um jovem de futuro incerto e sem perspectivas. “Insuportável” — definição dele próprio — como um gênio em designer de bolsas, como um ponto fora da curva, como muitos daqueles que se tornam referência no que fazem e alcançam sucesso.

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Este é o meu décimo sexto livro. Costumo dizer que em cada bio-grafia que escrevo conto cinquenta, sessenta, setenta, oitenta anos da biografia de alguém e pelo menos dois da minha. E cada uma delas tem a sua peculiaridade.

Sou um dos poucos entre aqueles que amam o que fazem. É uma pena que essa seja a exceção e não a regra entre as pessoas. Por isso, trabalho, aprendo e me divirto vinte e quatro horas por dia. Não sei em qual dessas situações nasceu para mim a biografia de Roberto Vascon. Talvez você me ajude a decifrar esse enigma.

Mas aqui vale uma confidência. Contar como cheguei até Roberto Vascon. Fui cortar os cabelos no clube em que sou sócio. Considero-me cliente fiel do cabeleireiro Antonio Carlos Soglia, o “Carlão”, como costu-mo chamá-lo. Ele bem sabe que sou biógrafo. Naquele sábado eu havia acabado de voltar de uma viagem internacional de férias com a família e fui ao clube com minhas filhas, Nicole e Camille.

Decidi começar pela cadeira do Carlos. Para minha surpresa, assim que me viu, ele gritou:

“Elias! Estou à sua procura! Preciso muito falar com você! Encontrei a biografia da sua vida!”

Eufórico e ofegante, Carlos começou a me contar sobre um tal Rober-to Vascon: “Anotei até o nome para te falar”, exaltou-se. Ao contar a histó-ria, seus olhos brilhavam. O amigo havia assistido uma grande matéria em um programa dominical de tv.

Carlos disse que foi no Fantástico, mas o vizinho de cadeira o corrigiu: “Apareceu no Domingo Espetacular, da Record.” E continuou a narrar a história. Em alguns momentos, ele foi interrompido por diferentes cabe-leireiros e clientes que o corrigiam: “Ele não é carioca, mas mineiro”, “Ele não sonhou com bolsas, mas com pássaros...”, e assim por diante.

Na hora, fiquei impressionado e pensei: Há cerca de dez, doze pessoas aqui, e quase todas elas opinaram sobre a matéria. Ou seja, assistiram, conhe-cem e foram conquistadas pela biografia desse rapaz. Percebi que a história impressiona, emociona, motiva e inspira. O que também me chamou a

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atenção foi o fato de a trajetória de Roberto Vascon mexer com as pessoas porque tem proximidade com a realidade de vida delas.

Não precisou de mais que alguns minutos para eu decidir que ia es-crever este livro. Antes mesmo de Carlos terminar o corte, eu já tinha acionado uma amiga jornalista e estava com o contato dele.

Na segunda-feira seguinte, conversei com meu editor, Luiz Vasconcelos, que deu sinal verde. Liguei para Roberto Vascon e ficamos de nos falar à noite. Retornei a ligação por volta das onze da noite. A longa conversa foi agradabilíssima. Desligamos o telefone perto da uma da madrugada.

Daí em diante, encontros e conversas que me fizeram vivenciar aquela história. Entramos, com água pela cintura, no rio em que ele acompanha-va sua mãe para lavar roupas. Fomos às casas em que morou em Raposos, Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Circulamos pela rotina dele nos mais variados momentos de sua vida.

Quanto mais nos encontrávamos, maior a certeza de que ali havia al-guém disposto a abrir o coração e a fazer da sua história um instrumento de inspiração e motivação.

Roberto Vascon e eu já fizemos a nossa parte. Agora é com você.

Elias Awad

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agradecimentos

A Roberto Vascon, que admiro como designer e ser humano, e a quem agradeço por ter me escolhido para esta missão.

Aos queridos amigos: Cristina e Antônio Geraldo Wolff, Celso Ferreira dos Santos, João Lellis e Luiz Afonso Souza Lima.

A Wanderley Nunes, um artista dos cabelos, dono de uma história riquíssima e meu futuro biografado.

Aos meus editores, Nilda e Luiz Vasconcelos, Silvia Segóvia, Letícia Teófilo e equipe da Novo Século Editora.

Às mulheres da minha vida: minhas filhas, Nicole e Camille. Minha esposa, Lúcia, e minha mãe, Maria. Amo vocês!

Elias Awad

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Prólogo

Era novembro de 1988, tarde da noite, quando Eli Roberto Vas-concelos Matos, o Roberto, chegou ao Central Park. Outro dia pesado. A escuridão do parque parecia um retrato do futuro dele.

Havia poucas estrelas. Eram as últimas luzes, as mesmas que represen-tavam a esperança de que algo poderia mudar, ou se apagar de uma vez.

Outro dia de desânimo. Outro dia perdido, improdutivo, de indefini-ção. O frio era insuportável. Embora houvesse desconfortos maiores. A fome, a dor no corpo pelas noites mal dormidas e desajeitadas, a solidão, o medo do amanhã, saudades da mãe no Brasil, do pão de queijo...

Até o sorriso, escudo contra as dificuldades, sumiu do abatido rosto de Roberto. Depois de vinte e sete anos de vida ele se questionava: “Estar em Nova York é sonho ou pesadelo? Valeu a pena tanto esforço, tantas mano-bras para estar aqui? Abrir mão de certa segurança que o Rio de Janeiro oferecia, para ser mais um cucaracha nos Estados Unidos?”.

As respostas vieram em forma de choro, pelas lágrimas que escorriam do rosto do rapaz. Era um choro sentido, doído, solitário. Enfim, restava apenas arrumar a “cama”, deitar e tentar dormir.

“Good night, Roberto! Tomorrow we will find many cans!”, gritou motiva-da a “vizinha de casa”, ou melhor, vizinha de banco e única amiga que ele fizera naquelas terras estranhas.

A mulher, cujo nome era Norah e que tinha aproximadamente cin-

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quenta anos, também vagava pelas ruas e morava no Central Park. Ela lhe desejava uma boa noite e dizia, esperançosa, que no dia seguinte am-bos encontrariam muitas latinhas pelas ruas. Era disso que Roberto e a mulher viviam, ou melhor, sobreviviam: de catar latinhas e vendê-las por cinco centavos de dólar cada.

“Good night, darling... Yes, tomorrow will be a great day!”, respondeu ele, ensaiando um sorriso e tentando se mostrar empolgado com a produção do trabalho do dia seguinte. Mais do que isso, buscando esconder o choro e a voz lagrimosa.

Mas o negócio ia de mal a pior. A demanda andava baixa. Com o frio, o consumo de sucos e refrigerantes diminuía bastante. Assim, encontrar latinhas era algo escasso.

Convenhamos... Aquilo era vida? Uma vida tão vazia quanto seu estô-mago. Naquela noite, Roberto não estava nada bem. Andava até de mal com Deus. Justamente ele, que era tão devoto.

Mesmo assim, já deitado e olhando para o céu, o jovem começou a re-zar. “Pai nosso que estais no céu... Santificado seja o Vosso nome... Venha a nós o Vosso reino...”, dizia ele em tom baixo. “Agora e na hora de nossa morte. Amém.”

Segundos de silêncio e reflexão que pareciam uma eternidade. O cho-ro, antes discreto, ficou mais forte e intenso. Ele estava cansado de lutar, de viver. “Agora e na hora de nossa morte. Amém!”, repetiu. Não havia mais forças:

“Deus, o Senhor me trouxe para esta festa aqui na terra, que é a vida, e eu sou muito grato por isso. Mas nada vem dando certo. Estou muito preocupado... Estou muito amedrontado... Cansado de lutar contra um inimigo que parece a cada dia mais forte. Não quero mais seguir dessa forma.”

O olhar estava fixado no céu. O rosto transmitia tensão. E no momento de maior fragilidade, física ou emocional, ele fez um apelo:

“Meu Deus, se esta festa, para a qual o Senhor me convidou, continuar assim tão monótona, vazia e perigosa, eu peço que me deixe ir embora dela. Se o Senhor não reserva nada de especial para a minha passagem

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na terra, imploro que me leve. Não suporto mais enfrentar tantas dificul-dades e adversidades. Meu corpo pede descanso. Minha mente também. Tire-me desta festa, Pai!”

Aquele nem parecia o esperto e sonhador Eli, de Raposos, o animado e confiante Roberto, do Rio de Janeiro. Parecia ser mais um entre milhões de indivíduos que se veem em um beco sem saída.

Roberto ia encerrar aquela conexão divina. Ele já tinha dito o que que-ria. Na verdade, Roberto não media as palavras. No fundo queria dizer a Deus que não aguentava mais sofrer, que não queria mais viver.

Ele já estava no ponto de dormir. Mas algo em seu coração o fez pros-seguir na conversa com Deus:

“Mas, meu Deus, se o Senhor reserva algo especial para mim, ao me-nos uma condição digna de vida, envie-me um sinal. Faça-me sentir que a situação possa mudar, acreditar que esta vida sub-humana é passageira. Peço que me mostre o caminho a seguir. Eu acredito no Senhor.”

Depois dessas frases, os problemas eram os mesmos, mas havia algo de diferente. Ele sentiu uma enorme paz interna. Estava mais aliviado. Mais esperançoso. A cabeça estava leve. A mente sadia. A dor sumiu. A fome também. O sono bateu. Roberto dormiu.

Passadas duas horas de sono, ele começou a ficar inquieto e a revirar o corpo no banco. Virou para a direita. Virou para a esquerda. De repente, parou de se mexer. Continuava dormindo, mas começou a esboçar um sorriso. Agora, a fisionomia era alegre. E o sono profundo, como se esti-vesse em uma confortável cama.

Apesar da baixa temperatura, o nascer do sol despertou Roberto. Ele se desenrolou dos jornais, que usava para aquecer o corpo, e logo estava pronto para começar o dia. Ele estava vibrante, eufórico. A todo instante, dizia: “Obrigado, meu Deus!”.

Havia motivos de sobra para agradecer. Nas primeiras horas de sono, Roberto teve um sonho lindo. Visualizou centenas, milhares de pássaros voando e se amparando em uma enorme árvore. Os pássaros se escondiam entre os galhos e as folhas. Ele então chacoalhava o tronco e os galhos da árvore, e delas os pássaros saíam voando. Seus corpos agora ressurgiam

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em formatos de bolsas com asas. Há muito tempo ele não sonhava e não tinha um sonho tão sereno. Há muito tempo ele não tinha um sonho tão empreendedor.

No entanto, Roberto não fez nenhuma grande reflexão ou leitura da-quele sonho. O rapaz olhou para o céu e viu um arco-íris. Viu também um céu tão azul e colorido como a tranquilidade, a esperança e a alegria que tomavam conta dele naquele dia. Parecia que Deus lhe tinha respondido que sua missão ainda não estava cumprida.

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