nascer, não basta uma vez

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1 NASCER, NÃO BASTA UMA VEZ

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  • 1

    NASCER, NO BASTA UMA

    VEZ

  • 2

    PRLOGO

    Um dia eu tive um sonho. Sonhei com minha me. J fazia alguns

    anos que ela havia desencarnado. No sonho, ela estava completamente

    diferente de quando era encarnada, mas eu sabia que era ela. No

    sonho, eu a via em companhia de uma figura masculina que no era

    meu pai. Eles estavam num lugar que eu no conhecia, mas

    identifiquei como a Ptria Espiritual. Durante todo o sonho, minha

    me tentava falar comigo, mas, eu no queria ouvir. No dia seguinte,

    quando acordei, fiquei por muito tempo com esta imagem na minha

    mente. Todo o dia seguinte, e nos outros que se seguiram, esta

    lembrana no saia de minha cabea. Tal sonho me entristeceu muito

    quando eu pensava no meu pai, e por ser muito apegada a ele, achava

    que o mesmo estava sendo trado.

    O tempo foi passando, e eu procurei tirar da cabea tal pensamento,

    at que:

    Sonhei outra vez. Sonhei o mesmo sonho, e mais uma vez veio a

    tristeza. No conseguia aceitar minha me em companhia de outro que

    no fosse meu pai. Tentei esquecer outra vez. Deixar pra l, pois no

    passava de um sonho.

    Nunca consegui esquecer. Sempre que o sonho vinha em minha

    mente, eu sofria muito.

    Recentemente, voltei a ter o mesmo sonho. Vi outra vez a minha me

    em companhia de outra pessoa que no era meu pai .Era o mesmo

    homem do sonho anterior. Mas, como se fosse pra me dar alguma

    explicao, me foi mostrado, no que parecia uma tela de cinema, toda

    uma histria. Era a histria de uma famlia.

  • 3

    Assim, quando acordei, de to surpresa com o desenrolar da histria,

    me vi sentada na cama. Ainda trazia no corao, o mesmo sentimento

    que tive durante todo o meu sonho. Apesar de ter entendido o recado,

    minha alma no estava em paz. Passei toda uma semana, meditando

    sobre o sonho. Era como se algum, quisesse me dar um recado. E de

    repente, como se algum me dissesse no ouvido, escreva, ponha no papel tudo que viu, s assim se sentir melhor. Mas, eu no sabia como comear, pois nunca escrevi uma histria. Porm, aquela voz

    continuava a insistir. Ento eu decidi que deveria escrever aquela

    histria. A lembrana de minha me me fez tomar esta deciso.

    Esperei algum tempo, e um dia me sentei diante do computador, abri

    uma pgina e pensei que no sabia como comear. Tudo que eu me

    lembrava, se fosse falar para algum, se resumiria em no mximo trs

    pginas, era uma sinopse.

    Mas, ali sentada, diante da tela em branco, fiz uma orao. Pedi ao

    Pai, que se fosse realmente este o seu desejo, eu o faria. Certamente

    seu filho Jesus estaria meu lado enquanto eu redigisse qualquer

    frase. Agradeci, e me pus a escrever.

    Assim foram todos os dias. Quando me punha diante do computador,

    eu no sabia o que vinha pela frente, mas, era apenas comear, e as

    palavras surgiam como se fossem uma cascata, iluminava a minha

    mente, e inundava as teclas de meu computador.

    A est a histria que eu assisti. Digo assisti, porque foi exatamente

    assim, um filme. Tenho certeza, que quem me mostrou foi a

    espiritualidade maior. E certamente, eles queriam que eu tomasse

    conhecimento para mostrar a quem tivesse interesse em conhecer

    alguma coisa a mais de nossas vidas passadas. Queriam com certeza

    mostrar, o que pode levar uma pessoa a errar, e como depois querer, a

    mesma, reencontrar o seu caminho.

    Tenho certeza, que esta histria s foi escrita porque Deus nosso pai o

    permitiu.

  • 4

    Podem existir muitas histrias iguais a esta, na minha, na sua, ou em

    qualquer outra famlia, mas esta foi escrita com a ajuda da

    espiritualidade maior, logo; no sintam-se, ningum, dentro dela.

    Qualquer semelhana, mera coincidncia.

    Todos aqueles que um dia tiverem estes escritos nas mos, que tenham

    uma boa leitura.

    So Paulo, 28 de agosto de 2013

    Clair Schiavi

  • 5

    PRIMEIRA PARTE

  • 6

    CAPITULO UM

    Na poca, o calendrio marcava o ano de 1822. O pas estava numa

    tremenda euforia. Acabava de ser promulgada a lei urea, quando a

    princesa Izabel , penalizando-se do sofrimento dos negros, deu fim a

    escravido. Nas fazendas onde o servio se valia da mo de obra

    escrava, estava um verdadeiro caos. Os senhores fazendeiros, tudo

    faziam para reter os negros, fazendo propostas, as quais, no tinham

    nenhuma inteno de cumprir. Muitos negros, ainda assustados com a

    nova situao, se perdiam em caminhos que no levavam a lugar

    nenhum. Acabavam muitos, por retornar s fazendas, onde, por um

    msero prato de comida, acabavam se restabelecendo. E assim , muitos

    negros se perderam, praticando roubos, vivendo como refugiados da

    justia. Muitos acabaram presos, sofrendo mais do que quando eram

    escravos.

    neste clima de represso e sofrimento, que vamos encontrar muitas

    famlias, se desestruturando diante da situao muitas casas de

    fazendeiros, onde a mo de obra domstica, escassa, acabava por

    arruinar muitas famlias onde no havia preparao para o momento

    chegado.

    Nas ruas, era uma verdadeira balburdia. Negros a esmolar por todos os

    cantos. Os homens da lei, passavam os dias a prender e repreender os

    arruaceiros.

  • 7

    Nas fazendas, as plantaes se perdiam, por falta de cuidados. A

    desordem era total. assim que vamos encontrar a famlia Silva

    Pedrosa, onde o sr. Amlcar Silva Pedrosa ,patrono da referida famlia,

    se desesperava por alcanar uma soluo para seus problemas. Junto

    da sua numerosa famlia, que constava de esposa e seis filhos, passava

    j por situaes um tanto desagradveis, tendo mesmo de se desfazer

    de alguns bens. Os desentendimentos do casal vinham atingindo a

    famlia como um todo, e o desagrado era geral. O filho mais velho do

    Sr. Amlcar que lutava nas lavouras do pai, para tentar manter um

    padro de vida para si e para os irmos. nio Silva Pedrosa, era assim

    que se chamava; nunca se deixou levar por dinheiro, mesmo quando a

    situao era seu favor. Era honesto e trabalhador, e nunca se

    envolveu em situao que pusesse em dvida o seu carter. Desde

    criana, nunca deu trabalho seu pai, tendo sido sempre, o melhor

    aluno quando na escola, O mais cobiado por moas de boa famlia,

    mesmo ainda na adolescncia .Era assim que se destacava , como bom

    filho e bastante amigo de seu pai. Vamos ento encontrar, a senhora

    Ana Silva Pedrosa, esposa do Sr. Amlcar, em conversa com sua

    enteada, a jovem Clarisse, na grande cozinha da casa da fazenda, onde

    tentavam ajudar a nica domstica que se disps a ficar a servio da

    famlia, por no ter outra opo .Preparavam ento o desjejum ,de

    mais um dia que prometia ser de intensos problemas.

    Clarisse, assim como seu irmo mais velho ,nio, no eram filhos de

    dona Ana. Quando ela desposou o Sr. Amlcar ,este j era um sr.

    vivo. Sua esposa tinha desencarnado j h mais de um ano, por

    problemas do corao, quando ele conheceu a famlia de dona Ana.

    Ana Silva Pedrosa, antes Ana Paciega, era a filha mais velha de uma

    famlia, que vinha passando por dificuldades, onde o pai, acostumado

    a jogatinas e bebida s, perdera a sua fortuna e assim deixara a famlia

    em situao de vergonha e misria.

  • 8

    Ana, h algum tempo, havia se enamorado de um jovem, que j era

    comprometido, estando mesmo prestes a se casar. Epitcio, era este o

    seu nome, tambm se apaixonou por Ana, mas, por imposio da

    famlia, teve que deixa-la, para esposar Vleri, que era sua prometida

    desde a infncia.

    Ana nunca se conformou com a situao, e jurou que jamais iria se

    casar com outro, pois seu corao pertencia a Epitcio, at que a

    situao de sua famlia, se torna insustentvel, pois, a misria rondava

    a casa, e seu pai , julgando-se dono de seus filhos, arranjou , como era

    de costume naquela poca, a unio de Ana com Amlcar.

    Dona Ana Silva Pedrosa, nunca escondeu de seu marido, que no o

    amava, muito pelo contrario, deixava claro que seu corao no lhe

    pertencia. O Sr. Amlcar, ao contrario, aprendeu a amar dona Ana, e

    tudo fazia para agradar-lhe.

    E assim os anos foram passando, vieram os filhos sempre contra a

    vontade de dona Ana. Para ela, j bastavam os enteados. Dizia que

    davam muito trabalho, e que ela no tinha pacincia com crianas.

    Mas, para o Sr. Amlcar, famlia feliz , era aquela bastante numerosa.

    E assim, sempre que dona Ana engravidava, a vida do casal se tornava

    bastante tumultuada. Ela no escondia o desagrado. Zangava-se com

    tudo e com todos, mas principalmente com o marido, por quem

    ela no escondia o seu desprezo.

    E neste clima de desagrado, chegou a primeira filha do casal. Selena.

    Era uma criana forte e bela, mas no alegrava o corao da me.

    Comia e dormia, e parecendo no sentir o amor que desejava da me,

    tornou-se uma criana bastante forte, e ao mesmo tempo muito quieta

    e introspectiva, onde bastava a ela um bom prato. Assim, cresceu,

    pouco em altura, mas muito em largura, o que lhe rendeu alguns

    problemas quando j adolescente e adulta.

  • 9

    No tinha ainda dois anos a pequena Selena, quando chegou o

    segundo filho do casal Silva Pedrosa. Era um menino, assim como a

    primeira, este tambm no alegrou o corao da me. Adoeceu assim

    que chegou ao mundo, e durante seus primeiros meses, correu risco de

    morte, no fosse a f do Sr. Amlcar, e os cuidados da ama de leite,

    empregada da fazenda, ainda em tempos ureos. Mas, como tudo na

    vida segue o rumo do destino, Nilo conseguiu se safar das doenas e

    cresceu forte e saudvel.

    Dois anos depois, sempre contra a vontade de dona Ana, chegou

    Amlia, e quando estava com cinco anos, chegou Geraldo.

    Completando assim quatro filhos do casal, mais dois enteados.

    E a vida tomava seu rumo. Dona Ana nunca demonstrava a menor

    alegria, enquanto seu Amlcar tudo fazia para torna-la feliz. Enquanto

    o sr. Amlcar administrava sua fazenda, dando o melhor de si para a

    famlia, esta crescia aos cuidados de empregados , negras que

    cuidavam da casa, e encaminhavam as crianas para a escola, fazendo

    o que se esperava da me, mas esta apenas se preocupava com seus

    problemas de infelicidade e solido.

    Geraldo, o menor dos filhos, tinha um ano quando tudo aconteceu. A

    vida da famlia Silva Pedrosa despencou barranco abaixo. Veio o

    sofrimento, a dor e a vergonha, que aniquilou a vida do Sr. Amlcar.

  • 10

    nesta data, onde o calendrio marca 1822, e a vida do brasileiro

    toma novos rumos, que vamos encontrar dona Ana em conversa com

    sua enteada Clarisse, na cozinha da fazenda, onde a falta de

    empregados vem piorar a situao j bastante tumultuada da famlia

    Silva Pedrosa Sempre mal humorada, reclamava ela da dificuldade

    que vinham tendo, com a mudana de rumo no pas, e a falta de

    empregados que ajudavam na plantao e colheita ,da fazenda, o que

    antes lhes dava uma vida bastante tranquila, agora , comeavam a

    trazer grandes problemas. Na roa, poucos restaram, assim como na

    casa grande, onde os negros que permaneceram foi por falta de opo,

    para no mendigar nas ruas, pois no tinham onde morar. Dona Ana,

    passava os dias entediada e solitria, julgando a vida sem sentido,

    quando no s apareceram os problemas ,advindo com a lei que liberta

    a escravido, como tambm, para piorar a situao, chega a seus

    ouvidos a notcia de que seu antigo e inesquecvel amor de

    adolescncia, veio a se tornar vivo, com a inesperada morte de

    Vleri, sua antiga rival.

    Vleri, tendo uma gravidez cheia de problemas, no conseguiu dar o

    filho que manteria a sua unio com Epitcio , como tambm veio a

    perder a prpria vida.

    Dona Ana , no conseguia esconder seu nervosismo, e andava de um

    lado para outro, deixando a famlia bastante preocupada

    ,principalmente o sr. Amlcar ,que j desconfiava do motivo , e no

    escondia a preocupao, j que ele tambm sabia do antigo

    envolvimento de sua esposa com o ento vivo Epitcio.

  • 11

    Para Clarisse, que j era uma adolescente, nada passava despercebido,

    e o seu temor era que o pai a quem ela tinha um grande amor e apreo,

    viesse a sofrer. Cismava pelos cantos, sempre a sondar o

    comportamento de dona Ana. Nunca nutriram uma pela outra, nenhum

    carinho. Como madrasta sempre assim dona Ana se comportou.

    Nunca deu aos dois filhos do primeiro casamento do sr. Amlcar,

    nenhum amor que merecesse aqui ser descrito. Apenas os suportava.

    neste clima de ansiedade, que as duas palestravam, e Clarisse tenta

    captar os sentimentos de dona Ana. Para Clarisse, a felicidade de seu

    pai, corre perigo, e ela no esconde o quanto isso a preocupa. A

    palestra corre em torno das dificuldades que a famlia vem passando,

    mas dona Ana no deixa escapar nenhuma palavra que possa trair seus

    sentimentos. E assim, junto com a empregada, preparam a primeira

    refeio daquele dia. Primeiro, dos muitos que viro trazer muito

    sofrimento para aquela famlia. Primeiro, dos muitos, onde a vergonha

    vem alcanar um homem de bem Um homem que tudo faz pela

    famlia. Um homem que escolheu viver na paz, mas sem querer

    encontrou a guerra.

  • 12

    Com boatos correndo por todos os cantos do vilarejo, de que o sr.

    Epitcio estava vivo, os comentrios de sua vida chegava sempre aos

    ouvidos de dona Ana. Esta impaciente, num momento de total

    impetuosidade, fez com que ele soubesse do seu interesse em um

    encontro, para que segundo ela, pudesse dar o seu apoio. O Sr.

    Epitcio, sem nunca ter esquecido de seus sentimentos por dona Ana,

    sentiu-se feliz com uma possvel aproximao.

    Sem deixar que seu marido e filhos pudessem ao menos perceber a sua

    inteno de se aproximar de seu antigo amor, fez com que chegasse s

    mos de Epitcio um bilhete marcando um encontro. Este,

    amargurado com sua situao e os caminhos que a vida lhe reservou,

    sentiu-se lisonjeado e esperanoso com expectativa de novos rumos

    para sua vida.

    Sem nenhum pudor, e respeito pela sua famlia, dona Ana saiu s

    escondidas para o to esperado encontro. Mal se viram, e os antigos

    sentimentos afloraram em seus coraes. No foi possvel para ambos

    controlar o antigo desejo que sentiam um pelo outro. Deixaram, de

    lado, o que poderia acontecer com suas famlias e o que poderia

    acontecer em suas vidas, e se envolveram num clima de intensa

    paixo.

    Desde esse dia, seus encontros se tornaram mais amide. Em casa

    dona Ana no fazia nenhuma questo de esconder a sua felicidade.

    Logo isso naturalmente no passou despercebido ao seu marido, nem

    aos seus filhos, que, viam na me uma outra pessoa .O clima na casa

    da fazenda comeou a esquentar. Enquanto dona Ana no parava em

    casa, deixando s obrigaes do lar nas mos de sua enteada, e

    deixando seu marido desconfiado e triste, o falatrio comeou a

    chegar aos ouvidos de amigos da famlia.

  • 13

    A vida do sr. Amlcar , e de seus filhos, tornou-se bastante complicada

    e vergonhosa, tendo ele deixado at de sair de casa para no encontrar

    olhares piedosos em sua direo.

    No bastasse a dificuldade nos negcios, este episdio veio ajudar na

    derrocada de uma famlia que parecia at pouco tempo, se no feliz,

    ao menos slida diante da sociedade.

    No demorou muito, para a pior noticia chegar aos ouvidos do sr.

    Amlcar .Notcia esta que sua prpria mulher fez questo de lhe dar:

    estava esperando um filho, e este naturalmente no era seu. A casa

    veio abaixo. A pouca estrutura ainda existente, rolou como um

    oceano, vindo desaguar por todas as ruas do vilarejo. Era a vergonha

    total, o fim .

    Mas o fim ainda estava longe. Enquanto dona Ana, enfiada em seu

    quarto gestava seu filho bastardo, o Sr. Amlcar deixava-se levar por

    uma infinita tristeza e prostrao. A vida tomou rumos sofridos para a

    famlia.

    Assim vamos encontrar nio, tomando conta quase que sozinho da

    administrao dos negcios, e Clarisse envolvida nas prendas do lar, e

    nos cuidados com os irmos .Selena sentia muito a falta da me, que

    passou a ignorar o restante da famlia. Comia tudo que vinha pela

    frente, e engordava cada vez mais. Nilo crescia forte, sob os cuidados

    da irm e da empregada. Mas, seu comportamento no era de um

    menino de sua idade. Qualquer coisa que o desagradasse, ficava

    furioso e agia com violncia.

  • 14

    Amlia e Geraldo, ainda muito pequenos; foram deixados totalmente

    nas mos de Tina, este era o nome da negra que restou para os

    servios domsticos da casa grande. Assim seguia a vida naquele que

    deveria ser um lar; mas, por obra do livre arbtrio de seus habitantes,

    tornou-se um lugar de angstia e dor

    E o tempo foi passando. E,

    Neste clima de dor e angstia, chegou Mila, a filha do pecado e da

    vergonha, j que nesta poca a traio ao matrimonio, no tinha

    perdo nem para as famlias, nem para a sociedade. Chegou forte e

    saudvel, apesar dos problemas que a envolviam.

    Dona Ana, depois da euforia por ocasio de seu reencontro com

    Epitcio, quando se descobriu prenha, voltou a sua antiga apatia. No

    cuidava sequer da pequena, e seus dias seguiam tristes e solitrios. A

    vida para ela perdeu, se antes j no tinha, todo o significado.

    Ignorava por completo seu marido. E no dava a menor das atenes

    seus filhos. Quando Mila chegou a situao que j era grave, piorou.

    Era mais uma que iria crescer sem o amor e o carinho necessrios de

    uma me.

    O Sr. Amlcar, apesar da tristeza , tentava dar amor seus filhos,

    inclusive Mila, que no era sua, mas a sua dor era visvel e crescente,

    e ele cada vez mais entrava numa depresso que cedo ou tarde o

    levaria ao aniquilamento .nio e Clarisse , tudo faziam para alegrar e

    levantar o animo de seu pai, mas tudo parecia em vo. nio se enfiava

    no trabalho, j que seu pai deixou tudo em suas mos, enquanto

    Clarisse sofria ao ver o pai se acabando pouco a pouco.

  • 15

    No demorou muito, para dona Ana, assim que a oportunidade lhe foi

    propcia, voltar a se encontrar com seu antigo namorado, e como as

    coisas escondidas nunca o so para sempre, veio a cair no falatrio,

    atingindo ainda mais a reputao da famlia Silva Pedrosa.

    Dona Ana, no fazia nenhuma questo, como j dissemos

    anteriormente, de proteger o marido, ao contrario, parecia feliz por v-

    lo cada vez mais afundado no seu prprio sofrimento. Nem os filhos,

    para os quais eram muito caros, no conseguiam levantar o animo do

    Sr. Amlcar. J no se importava, se os negcios iam bem ou mal, se

    tinha ou no condies de manter a casa e a famlia, tudo a seu redor

    parecia vago e sem importncia. Caia numa prostrao sem conseguir

    se levantar. A vida j no fazia sentido para ele.

    Foi nesta condio que Dona Ana, sem pensar nos prs e nos contra,

    assim sem mais nem menos, sem nem ao menos anunciar sua deciso,

    deixou o lar. Deixou para traz uma famlia despedaada de dor.

    Deixou os filhos, inclusive a filha do seu pecado maior. Deixou para

    traz, a vida que ela nunca gostou que ela nunca aprovou, e os filhos

    que ela nunca quis ter. Seguiu seu amado, seguiu seu corao, sem

    nem ao menos consultar a razo. E assim, tomavam rumos diversos

    os integrantes dessa triste famlia. Cada um, seguia seu destino,

    traado naturalmente por eles prprios, numa outra encarnao.

    Seguiam suas vidas tendo o livre arbtrio para tomarem suas prprias

    decises.

    E como para cada um a vida deveria continuar, tambm para a famlia

    Silva pedrosa, o mundo no podia parar.

  • 16

    CAPITULO DOIS

    No calendrio, os dias seguiam cheios de atropelo. J estvamos no

    final do ano de 1823, e a vida de cada um tomava rumos inesperados.

    Para desespero de nio e Clarice, seu pai cada vez mais se

    aprofundava na solido. A situao estava ficando insustentvel.

    Nenhum remdio, nenhum argumento tirava o Sr. Amlcar da

    depresso. O fim era esperado, para desespero dos filhos mais velhos.

    nio, com apenas dezoito anos, carregava um peso muito grande para

    sua idade. Clarice, com dezesseis anos, carregava nos ombros a

    responsabilidade de cuidar da casa e de seus irmos menores. nio,

    herdou do pai; a facilidade com as contas, por isso, no se tornou

    difcil para ele a administrao da fazenda. Clarice levava muito jeito

    com as prendas domsticas, por isso tirava de letra os cuidados com a

    casa, mas sua vida no era fcil, com relao educao de seus

    irmos. Tudo parecia tomar um rumo incontrolvel.

    Selena crescia gorda e introspectiva, nada conseguia fazer com que ela

    aprendesse a conviver em sociedade. Era inteligente, mas no tinha

    nenhuma iniciativa. Nilo continuava forte e saudvel, mas, muito

    agressivo com seus irmos. Era comum chegar reclamaes da escola

    por agresso a seus colegas de turma, sem aparente motivo. Amlia

    veio a se tornar uma menina muito ciumenta, no gostava de dividir

    seus brinquedos com ningum , e sua rabugice era quase insuportvel.

    Geraldo crescia agindo com indiferena a tudo e a todos. Mila sentia

    a falta da me. Para todos eles, a vida parecia seguir um rumo em

    linha reta. Mas,...

  • 17

    Prostrado numa cama, magro e desnutrido, pois recusava-se a ingerir

    qualquer alimento, vamos encontrar o Sr. Amlcar .Sem foras e sem

    vontade de se levantar, passava os dias no quarto, recusando todo o

    empenho e insistncia de sua filha para que ele se alimentasse e

    cuidasse de sua sade. Era tudo em vo. Nada conseguia tir-lo de seu

    devaneio. Afundava-se cada vez mais no sofrimento e na dor. J no

    havia mais esperana para a sua recuperao. Os filhos mais velhos se

    desesperavam na iminncia de uma separao, e, na dor insuportvel

    que era perder o pai muito amado. At que este dia no tardou a

    chegar.

    Era a manh de um novo dia. Enquanto nio tomava seu desjejum,

    Clarice foi verificar o quarto do pai. No tardou a descobrir que seu

    pai havia desencarnado. Sua dor foi insustentvel. Com um grito,

    desmaiou. nio ouvindo, correu em seu socorro, deparando assim

    com o quadro de dor. Os poucos empregados da fazenda, vieram em

    auxilio dos patres. O boato correu pela cidade. Vieram os vizinhos,

    os poucos amigos, e os curiosos. Em todo canto, s se ouvia

    cochichos, de que o Sr. Amlcar morreu de abandono e de dor. Na

    boca de todos a culpada dessa tragdia era to somente dona Ana, que

    partiu, deixando ao abandono um homem de bem.

    E assim debaixo de muitas lgrimas e muito falatrio, foi sepultado o

    patriarca da famlia Silva Pedrosa, deixando seis filhos e uma enteada

    nas mos do destino e do livre arbtrio de cada um.

    E o tempo foi passando...

  • 18

    CAPITULO TRS

    Sete anos se passaram. Os tempos eram difceis. As dificuldades

    rondavam as famlias de bem. As mudanas nas leis trouxeram

    prejuzos queles que no estavam preparados. Incluindo para a

    famlia Silva Pedrosa. Nenhuma notcia de Dona Ana. Parece que

    desapareceu no ar. Os sete irmos seguiam seu destino.

    nio, diante das dificuldades para manter os irmos, se disps a

    vender parte da fazenda gerando assim uma renda muito menor.Com

    as contas apertadas, decidiu dispensar alguns colonos que o ajudavam

    na lavoura. Comeou assim, para os irmos, a surgir as dificuldades

    que se arrastariam para um eterno sofrimento.

    nio, j com seus vinte e cinco anos, no tinha ainda se decidido a

    formar um lar. J estava cortejando a algum tempo, Cleonice , moa

    bonita e educada, filha de um pequeno proprietrio vizinho de sua

    fazenda. J havia planejado seu consrcio por vrias vezes, mas

    sempre acabava adiando por falta de dinheiro. Agora, estava decidido,

    apesar dos problemas, a levar adiante a sua vontade de se unir

    Cleonice.

    Tudo estava preparado para seu consrcio, quando sua irm Clarice

    veio a cair de cama.

    Clarice, depois do sumio de sua madrasta e da morte de seu pai,

    assumiu definitivamente a direo da casa; ajudando ainda seu irmo

    quando ele assim o requeria, j que ela tambm tinha facilidades com

    as contas, herana esta herdada do pai. Com as dificuldades surgidas

    no decorrer dos tempos, com relao s finanas, e com a morte de

  • 19

    Tina, a velha empregada da casa; vamos encontrar Clarice envolvida

    de manh at noite com os afazeres da casa.

    Vale lembrar aqui, que Clarice no era nenhuma fortaleza, tinha um

    fsico franzino, e sua sade nunca foi das melhores. Faltou a ela, o

    amparo de uma me. Cresceu, e se tornou moa, sem a orientao

    necessria ,no teve, em toda a sua infncia nenhum divertimento.

    Ainda na adolescncia, teve de assumir a responsabilidade com os

    irmos. Trabalhou pesado na manuteno da casa, e com seus vinte e

    trs anos, parecia j uma pessoa velha e cansada.

    Assim, sem nem ao menos conhecer a vida de namoro e passeios, que

    toda jovem almeja, veio Clarice a adquirir uma doena grave nos

    pulmes, que fazia seu fsico definhar a cada dia.

    Os cinco irmos mais jovens viviam relegados sua prpria sorte.

    Cada um procurava viver do seu prprio jeito. Selena, j era uma

    adolescente e no mudava em nada. Nunca saia de casa, vivia trancada

    em seu quarto e s saia do mesmo se fosse para comer. Crescia, cada

    vez mais para os lados, e com vergonha de seu fsico, ela se recusava a

    manter uma vida em sociedade. Achava que era motivo de chacotas e

    que os rapazes da cidade a ignoravam.

    Nilo j era um rapazinho e, diferente de nio, que cedo comeou na

    labuta da lavoura, e por isso adiou a vida de namoro e passeios; vivia

    j correndo atrs das mooilas da cidade. Sem nenhuma vontade de

    trabalhar, ajudava seu irmo na lavoura, isso a custo de muitas brigas

    e discusses. Seu carter era duvidoso. No era de muitas palavras, e

    parecia sempre que escondia alguma coisa. Era impetuoso, e no

    media as consequncias de suas palavras. Agia sempre com violncia,

    e no respeitava ningum.

    Amlia j era uma mocinha, mas continuava a agir como um bebe.

    Nos seus onze anos, no conseguia ter um relacionamento de afeto

    com seus irmos. Para ela s prestava o que lhe pertencia, mesmo

    assim, vivia querendo sempre mais. Achando-se preterida por todos,

  • 20

    respondia, sempre, a qualquer tentativa de dilogo, com grosseria e

    malcriao. Era muito difcil, para qualquer um dos irmos, manter

    um bom relacionamento de amizade com Amlia.

    O pequeno Geraldo vivia envolvido em seu prprio mundo. Crescia

    perdido e sem rumo. Sentia muito a falta de algum para lhe orientar.

    Quase no falava com ningum, e, passava os dias, envolvido em sua

    solido.

    Ah! Mila, pequenina e j to abandonada. Com a doena de Clarice,

    a pequena, com apenas sete anos, j se sentia perdida e sem rumo.

    Chorava muito e reclamava a falta de ateno. Os irmos mais velhos,

    mal lhe davam o que comer e a abandonavam prpria sorte. Passava

    os dias no mais completo abandono e solido. Ningum dela se

    aproximava para fazer um carinho, ningum lhe dava amor.

    neste clima de tristeza, que vamos encontrar nio envolvido no seu

    futuro consrcio com Cleonice. Sem a ajuda da irm bastante

    adoentada, resolve ele antecipar o casamento, para trazer junto de si a

    companheira que viria lhe trazer algum conforto naquele lar to triste

    e abandonado.

    Mas, como tudo na vida segue o destino que cada um escolheu para si,

    em tempos passados, cada filho de Deus certamente passar por

    momentos difceis, de acordo com seu comportamento em vidas

    anteriores. Nada impede uma mudana, haja visto, que nossa frente

    sempre temos dois caminhos a seguir. Basta no escolher o mais fcil,

    por preguia ou orgulho, ou outro motivo qualquer. Basta um pouco

    de vontade de ajudar o prximo, e no querer tudo para si, renegando

    os fatos que lhe envolvem, fechando os olhos para as dificuldades que

    rondam o pobre irmo.

  • 21

    CAPITULO QUATRO

    E o tempo foi passando. Vamos ento encontrar nio j desposado

    com Cleonice. Tudo parecia seguir um rumo diferente do atual. No

    incio do casamento a vida do casal, apesar dos problemas com os

    irmos, parecia calma e tranquila. A casa tomava novos ares nas mos

    de Cleonice, apesar da doena de Clarice que se agravava cada vez

    mais. Os mais jovens, continuavam arrastando seus prprios

    problemas, e, o sol se escondia no horizonte a cada dia, prometendo

    voltar.

    A fazenda, agora com menos extenso de terra, produzia apenas o

    suficiente para manter a famlia, e l se iam os tempos de fortuna,

    deixando apenas o necessrio para honrar as contas e manter o lar sem

    sobressaltos.

    Tudo parecia bem, quando nio, sem motivos aparentes, comeou a

    desenvolver o habito do cime.

    Cime, sentimento pobre, sentimento que brutaliza. Sentimento que

    reduz o homem condio de animal.

    E assim, no raiar de cada novo dia, com ele chegava o sol, mas com

    ele no vinha a luz. A casa onde j houvera tantas desiluses, parecia

    agora entrar na mais completa escurido.

    Cleonice passava os dias a se perguntar por que sua vida seguia um

    rumo to indesejado. Tudo fazia para agradar seu marido, e o que

    recebia era s ingratido. Nunca saia de casa, pois nio no permitia.

    At para visitar sua famlia ele colocava obstculos.

  • 22

    Para nio, tudo era motivo de cime. Cleonice no tinha mais vida

    prpria. Mesmo neste clima de desentendimento entre o casal,

    Cleonice veio a engravidar. Nem as condies em que se encontrava,

    dava trgua s constantes brigas naquela casa.

    E Clarice piorava a cada dia. Os irmos se separavam cada vez mais,

    no existia nenhuma unio naquela famlia.

    Como se no bastasse os problemas dentro de casa, nio arrastava os

    mesmos para o trabalho. Passava os dias matutando e sofrendo, diante

    de uma situao que ele mesmo criou. No tinha sossego, pois no seu

    ntimo, sua mulher poderia vir a tra-lo. Em horrio onde deveria estar

    cuidando dos negcios, como a lavoura que reclamava seus cuidados,

    saia para espreitar o comportamento de sua mulher. No tinha

    fundamento a sua desconfiana. Como nio, um rapaz que parecia to

    equilibrado, passou a nutrir um sentimento to pobre e se comportar

    de um modo to leviano?

    Voltemos um pouco no tempo.

    Os primeiros anos de sua vida, nio foi educado pela sua me, e

    recebeu toda orientao que um menino de sua idade necessitava. Seu

    pai, embora passasse o dia cuidando dos negcios, no deixou de dar

    seu apoio nas horas em que passava em casa com a famlia. Teve

    ento uma boa estrutura que o ajudou muito quando sua me veio a

    desencarnar. Por isso, a falta de carinho por parte de sua madrasta, no

    veio a desestruturar sua educao nem mudar seu carter. Mas, como

    tudo que se passa a nossa volta, pode de alguma forma nos atingir,

    acreditamos aqui, que , o ambiente no qual nio cresceu, pode ter

    influenciado na sua vida, e deixado na sua conscincia alguma coisa

  • 23

    que mais tarde veio a tona, e, portanto acabou afetando seu

    relacionamento com sua mulher.

    Eis, que vamos encontra-lo com a cabea tumultuada de maus

    pensamentos, trazendo para sua vida muitos transtornos, onde as

    aes, poderiam gerar reaes perigosas, acumulando deste modo

    muitas dvidas para seu esprito.

    Em sua mente, nio achava que sua mulher poderia fazer o caminho

    que percorreu sua madrasta. Nem de longe, ele admitia que nem todas

    as pessoas podem ter comportamento semelhante. Passava horas

    divagando sobre um possvel acontecimento que poderia faz-lo

    sofrer assim como sofreu seu pai. No esquecia a situao lamentvel

    pela qual passou sua famlia, de vergonha e dor. No conseguia tirar

    da mente o estado de profunda prostrao que acometeu seu pai, e que

    o levou morte.

    nio, todos os dias, procurava um motivo para discusso. As horas

    que deveriam ser de paz junto de sua mulher, se transformavam em

    momentos de angstia e de dor. Cleonice no suportava mais. J no

    sabia mais que atitudes tomar.

    Neste clima de dor, chega o primeiro filho do casal. Nem este

    acontecimento, onde uma vida nova deveria trazer alegria e paz,

    mudou os sentimentos daquele pai.

    Vamos ento encontrar Cleonice, embalando seu filho, chorando suas

    mgoas e consumindo-se em dor.

  • 24

    Voltemos ento, nossa ateno para outro integrante da famlia.

    Clarice, abandonada sua prpria sorte, sem ningum para ajuda-la,

    deixava que o destino resolvesse a sua situao. No tinha mais

    esperanas de se recuperar. Sua doena avanava por caminhos

    irreversveis. Remdios j no faziam mais efeito. As dores no peito e

    a tosse consumia seu corpo a cada dia. Tudo que lhe restava era

    esperar a piedade de Deus.

    No conseguindo mais ajudar nos servios domsticos, passava os

    dias em seu quarto, onde os pensamentos invadiam sua alma, e tirava

    o seu sossego.

    Assim como para nio, tambm para Clarice, a vida junto de sua

    madrasta trouxe problemas que afetariam mais tarde o seu modo de

    pensar Clarice nunca perdoou Dona Ana pelo sofrimento e morte de

    seu pai. Trazia em seu peito mgoa e rancor.

    Nunca perdoou sua madrasta, pelo motivo de no ter uma vida igual a

    de todas as moas de sua idade .Por no ter tido a sorte de encontrar

    algum que lhe desse amor. Algum com quem poderia ter mudado o

    rumo de sua vida. Julgava injusto o comportamento de sua madrasta,

    deixando quando partiu a responsabilidade que no era dela, de trazer

    nas costas os filhos de outra mulher.

    Os anos foram passando, e Clarice s foi alimentando sentimentos que

    lhe envolviam em energias negativas, e consequentemente

    comprometeriam ainda mais a sua to frgil sade.

    assim que vamos encontrar Clarice, quase inconsciente, delirando

    em febre, e prestes a deixar seu corpo para alar voo, para onde s

    Deus pode determinar.

  • 25

    Deste modo, deixemos Clarice, pois a vida dos outros deve continuar.

    Assim, os dias corriam em direo ao futuro. Passavam-se os meses e

    passavam-se os anos sem nada, nada naquela famlia mudar. A

    primavera teimava em trazer suas flores, mas no conseguia enfeitar a

    vida daqueles seres to sofridos. E vinha o vero irradiando o brilho

    do sol, e nem assim aquela famlia conseguia acordar .O outono, com

    suas lindas tardes no conseguia atingir aquele lar. E o inverno ali,

    teimava em ficar. Mas o tempo, certamente se encarregar daquela

    famlia cuidar.

    E as crianas cresceram.

    Vamos ao encontro de Selena. J adulta moa feita, trazia consigo as

    iluses de um futuro casamento, a vontade de formar uma famlia.

    Saia pouco, por isso no tinha oportunidade de travar conhecimento e

    fazer uma amizade. Sentia vergonha de seu fsico, mas nada fazia para

    melhorar.

    Num de seus poucos passeios pela cidade, acabou por travar

    conhecimento com os jovens de sua idade. E, acabou se enamorando

    de um rapaz. Tudo fazia para chamar sua ateno, mas ele teimava em

    no enxerga-la. Era em vo suas investidas. Acabou por sufocar seus

    sentimentos na solido e na comida.

    Selena nunca teve amor. Foi rejeitada desde o tero de sua me.

    Nasceu e foi relegada aos cuidados de estranhos. A ela no bastou o

    amor do pai, faltou o carinho da genitora que deveria ajuda-la a ter

    mais confiana em si, que deveria ajuda-la a tomar decises no

    decorrer de sua vida.

    Faltou Selena o amparo de uma famlia. As mos fortes de um pai,

    que levanta o filho quando ele est no cho.

  • 26

    E assim Selena seguia sua vida. Abandonada por todos. Sem o apoio

    da famlia e sem amigos. Passava o dia sonhando com um grande

    amor que nunca chegava. No fazia absolutamente nada para mudar o

    rumo de sua vida. E o tempo transcorria lendo e montono para quem

    no tinha nenhum propsito de vida. Nenhuma esperana.

    Vamos ento ao encontro de Nilo. J transformado num rapaz de

    modos rudes e truculento.

    Como j dissemos Nilo desde pequeno deixava transparecer o seu

    modo violento. Cresceu, e com ele cresceu tambm o seu modo

    desajustado. Tudo para ele era resolvido com brutalidade. Dentro da

    famlia, era difcil apart-lo das brigas com os irmos. No media as

    palavras, e muito menos a truculncia. Chegava a surrar os irmos

    menores.

    Na cidade, os jovens de sua idade no se atreviam nem a olh-lo de

    esguelha, e muito menos contrari-lo. Temiam pela integridade fsica.

    Era um jovem de poucos amigos. Amigos estes que ele dominava com

    sua arrogncia e egosmo. Estes poucos amigos, seguiam-no porque

    tinham o mesmo carter e se valiam de sua proteo. Formavam

    assim um grupo de delinquentes que assustavam o povoado, e que

    todos temiam. No era raro provocarem brigas, e fazerem arruaas.

    Assim era o jovem Nilo. Um rapaz que nasceu e cresceu sem o amor e

    a proteo de uma me. Que teve por pouco tempo, o carinho do pai.

    Que passou sua infncia aos cuidados de estranhos. Que seguiu um

    rumo que ningum indicou.

    Nilo seguiu o caminho que achou que lhe traria a segurana que lhe

    faltou na famlia; e ignorou o possvel resultado de uma ao baseada

    na violncia.

  • 27

    Deixemos Nilo, e vamos ao encontro de Amlia.

    Amlia e a sua intransigncia. Amlia e seu egosmo. Assim era

    Amlia, figura difcil de suportar.

    Amlia tinha o habito de mandar. S ela sabia tudo. S o que era dela

    valia alguma coisa. Ningum tinha o direito de opinar em nada.

    Era assim que agia Amlia. Desprezando os outros, rebaixando a

    capacidade de cada um. Amlia tratava os irmos como inteis.

    Tratava as poucas amigas, como se fossem lixo. Mandava e

    desmandava. O territrio lhe pertencia, era assim que pensava.

    Amlia era ainda uma garota, e j sofria por seu modo de ser. Com seu

    comportamento intransigente afastava de si os irmos. Afastava de si;

    as poucas amizades da escola.

    Em casa, passava os dias s e amuada.

    Assim cresceu Amlia. Com o tempo passou a ser uma pessoa triste e

    amargurada. Optou pelo caminho da solido.

    Caminho escuro, onde os dias passam sem ter o sol, e as noites, no

    tem estrelas, onde a vida escorrega pelas mos.

    Triste criana que no teve orientao. No experimentou o amor da

    me, por isso no o tinha para dar. No sentiu o amparo das mos

    fortes de um pai. No aprendeu o valor da unio que se deve ter numa

    famlia. Passou pela infncia sem perceb-la, sem brincadeiras e sem

    sorrisos. Sem a iluso, prpria da vida de uma criana.

    E assim nossa Amlia foi crescendo. Sem ningum para indicar-lhe

    os caminhos certos, foi se tornando cada vez mais uma persona non

    grata.

    Deixemos Amlia seguir seu rumo...

  • 28

    Vamos encontrar Geraldo, garoto arrogante e sem nenhuma meiguice,

    pois com apenas onze anos j sabia afastar de si as pessoas pelo seu

    jeito egosta de ser.

    Geraldo era praticamente um bebe quando foi abandonado pela me.

    Seu pai j estava bastante adoentado nesta ocasio, e logo foi criado

    aos cuidados de empregados da casa. No teve nenhum carinho, a no

    ser o de sua irm mais velha Clarice, que j bastante debilitada por

    motivo de sade no lhe dedicava o tempo que uma criana de sua

    idade exigia. O irmo mais velho, nio, no tinha tempo para ele, pois

    era ele que estava a frente dos custeios da casa. Os outros irmos to

    pouco lhe dava a ateno.

    Geraldo era um garoto destitudo de qualquer gesto que atrasse a

    ateno de uma pessoa. Parece, que ele fazia questo de afastar a

    todos. No acreditava em nada e em ningum. No dava valor a nada

    e a ningum. Gostava de achar que s ele sabia das coisas.

    Desconhecia a palavra f, e debochava de qualquer ato religioso.

    Geraldo era ainda muito pequeno, e tinha muito para aprender com a

    vida que tinha pela frente. Infelizmente no tinha a quem seguir, com

    quem se orientar, e certamente ainda sofreria muito por isso. Talvez,

    por seu gnio bastante difcil, ou talvez j fruto de vidas anteriores,

    mesmo pequeno j sabia dar sua opinio e seguir seus prprios

    pensamentos.

    Quantas vezes, na escola, na vizinhana com outras crianas de sua

    idade, ou mesmo em casa com seus irmos, houve brigas e

    desentendimentos por causa de suas ideias sempre avessas s dos

    outros. Sempre em desacordo com a maioria. Achava sempre que

    tinha razo.

    Deixemos Geraldo, e vamos encontrar Mila..

  • 29

    Pequenina Mila. Contava apenas com onze anos. J h muito sem

    me e sem pai. Ficava aos cuidados de empregados, at o dia em que

    eles no existiam mais. Muito cedo foi relegada ao abandono. Depois

    da morte de Clarice, sua irm mais velha, a nica que lhe dava algum

    carinho, foi deixada sua prpria sorte. Os outros irmos, mal lhe

    davam o que comer.

    A cunhada, mulher de nio, atarefada com seu prprio filho e com os

    afazeres da casa, pouco ensinou a Mila. Faltou orientao para que

    ela pudesse conduzir sua prpria vida. Faltou carinho. Faltou amor.

    Mila foi crescendo sem rumo. No tinha opinio prpria. Vivia

    sombra dos outros. No tinha iniciativa. E desenvolveu a mania de

    reclamar. Reclamava de tudo e de todos.

    Sem ningum para lhe dar rdeas, e dizer o que fazer, foi se tornando

    uma pessoa intil. No gostava dos afazeres da casa e se recusava a

    dar qualquer ajuda. Sempre se fazia de coitadinha, inventando

    qualquer doena para se safar das obrigaes. Nem escola ela se

    dedicava. Vivia sempre com os deveres em falta.

    Como no dedicava seus pensamentos s coisas teis, alm de

    reclamar da vida, passou a achar que as pessoas no gostavam dela.

    Que todos estavam contra ela.

    E assim crescia Mila. Passava os dias na rua, sempre procurando

    fugir dos compromissos de casa, e quando em casa, passava o tempo

    deitada, dormindo.

    E enquanto o tempo passava, Mila foi se tornando cada vez mais uma

    pessoa intil, e no construiu para si, nenhum propsito de vida.

    E o tempo foi passando para todos..

  • 30

    CAPITULO CINCO

    A vida segue adiante, independentemente do caminho que cada um

    escolhe para seguir. Cada vez que olhamos para frente, deparamos

    com dois caminhos, e temos a liberdade para escolher um.

    Naturalmente um deles o mais difcil de seguir, mas, nos d a

    garantia de chegar e ter alguma coisa de bom para oferecer ao nosso

    criador. O caminho mais fcil aquele que a maioria escolhe, pois no

    implica em responsabilidades, nem em boas aes, mas, quando

    chegamos no fim de nossas vidas , podemos observar e sentir na pele

    o quo intil foi a nossa passagem pela vida . o caminho que deixa

    um vazio imenso em nossos coraes, e vemos que no temos nada de

    construtivo para deixar para nossos irmos. Nada que possamos deixar

    de belo para sermos lembrados pelos nossos filhos e amigos. Nada que

    possa ser belo aos olhos de Deus nosso criador.

    Numa famlia, deve haver a unio. Toda famlia deve ter como base o

    Amor. com amor e unio que se constri uma famlia. Famlia

    educao. Sem famlia no existe uma nao.

    Todo e qualquer ensinamento, deve ser iniciado dentro da famlia. A

    famlia o alicerce para toda construo.

    Se existe amor e unio a educao flui e com naturalidade. Os

    ensinamentos se desenvolvem por si s .Tudo fica mais fcil, e tudo

    corre num clima de tranquilidade.

    com o amor dos pais, a unio, os exemplos dentro de casa que se

    forma uma famlia slida. Pronta para seguir os ensinamentos de

    Jesus.

  • 31

    Vamos adiante ao encontro dos protagonistas desta histria.

    Depois da morte de Clarice, temos frente dos cuidados da casa a

    mulher de nio. Cleonice passava o dia, envolvida nos cuidados da

    casa e da famlia de seu marido. Alm disso; dedicava -se tambm aos

    cuidados de seu filho. Mesmo no tendo muito tempo para sair e se

    dedicar ao lazer, ouvia muitas reclamaes de seu marido, que

    continuava com sua mania de perseguio mulher, achando sempre

    que ela podia estar envolvida com outro e a lhe trair.

    Com o passar do tempo, nio se tornava cada vez mais ciumento,

    trazendo muitos problemas para sua mulher, que j no conseguia

    mais viver em paz. Eram constantes as brigas, e ele no fazia nenhuma

    questo de esconder isso da famlia, que se via muitas vezes envolvida

    nas brigas do casal.

    Como vivia nio envolvido em maus pensamentos, atraiu para si

    muitos problemas de sade, tendo muitas vezes que abandonar o

    trabalho nas mos de Nilo, o irmo mais novo. Os negcios na lavoura

    iam de mal a pior. Muitas vezes passavam necessidade das coisas mais

    bsicas para a alimentao.

    Assim sendo, Cleonice que j no suportava mais os maus tratos do

    marido, tambm comeou a atrair para si o desgosto e a solido.

    Cleonice comeava a entrar em depresso.

    A vida do casal transcorreu neste clima at o final de suas existncias.

    Ambos envelheceram envolvidos em mgoas e desiluso. At que a

    depresso de Cleonice levasse para o tmulo, e deixasse nio a viver

    o resto de seus dias na mais completa solido.

    E mais uma vez a falta de estrutura na famlia, levou dois seres

    humanos a desperdiar toda uma existncia, jogando fora o presente

    de Deus de uma encarnao.

  • 32

    Vamos agora at Selena.

    Ao contrario do que todos esperavam, ou pensavam, Selena no que diz

    respeito vida amorosa, deu a volta por cima.

    Num de seus poucos passeios pela cidade, mais propriamente nos

    festejos que aconteciam na parquia do vilarejo, Selena veio a

    conhecer um rapaz que simpatizou muito com ela iniciando a, um

    namoro que acabou em casamento.

    Vale dizer, que Selena apesar de ter seu corpo acima do peso, era

    muito bonita de rosto o que acabou por chamar a ateno do rapaz.

    Selena no era muito de sair passeios, em compensao era muito

    trabalhadeira , e alm de ajudar nos cuidados da casa, estava sempre

    envolvida em trabalhos manuais.

    Selena no teve orientao materna para nada, mas procurou por si s

    os caminhos que a levariam a uma vida melhor. Um caminho que no

    a deixasse pensar no que no teve, mas no que poderia ter.

    A ento, depois de um namoro no muito longo, os noivos

    resolveram formar sua famlia, unindo-se em matrimonio, deixando

    ento Selena sua casa paterna para acompanhar o marido em seu novo

    lar.

    Tudo deveria transcorrer normalmente, se a falta do alicerce, que a

    base de tudo no tivesse faltado na infncia de Selena.

    Depois de algum tempo casada, Selena, sem nunca ter recebido

    orientao do que seria uma vida a dois, comeou a se sentir obrigada

    a retribuir os carinhos e as obrigaes que lhe eram impostas na

    convivncia do casal.

  • 33

    A ento, Selena comeou a desprezar seu marido. Fugia sempre das

    suas caricias, e sempre inventava alguma doena quando o marido a

    procurava.

    A vida do casal comeou ento a se deteriorar.

    Filhos, ela no queria nem pensar em ter, fugia do assunto sempre que

    a discusso partia para este rumo.

    Assim comeou uma trajetria que parecia no incio ser

    completamente diferente, quando tudo indicava que na famlia Silva

    Pedrosa, alguma pessoa se salvaria da falta dos pais.

    E assim Selena viveu seus dias. Envelheceu quase to s quanto era

    antes, apesar de morar na mesma casa com o marido. Este, no

    suportando o desprezo da mulher, passou a procurar por outras na rua,

    deixando o falatrio, chegar at sua casa, o que acabou arruinando

    ainda mais a vida do casal.

    Nesta angstia viveu o casal, no se separando para no enfrentar os

    problemas com a sociedade na poca. Viviam juntos como se fossem

    separados.

    E assim foi at o fim de suas vidas.

  • 34

    Em nossas vidas, todos os dias, temos pela frente dois caminhos a

    serem escolhidos. Depende de ns, se escolhemos o certo ou o errado.

    Para isso nosso Pai, nosso criador deixou-nos o livre arbtrio .Jesus,

    nosso mestre amado, veio ao nosso encontro a tempos atrs, e

    continua a nos amparar todos os dias de nossas vidas, tentando nos

    dizer com seus ensinamentos, qual o caminho que nos levar

    felicidade. Basta para ns, refletir sobre seu evangelho, para no

    cruzarmos com sofrimentos e dissabores, pela escolha do caminho

    errado.

    Enveredar pelo caminho mais fcil, onde no nos trar nenhum

    compromisso com nosso semelhante, pode parecer a principio a

    melhor escolha, mas , chegando no final de nossas vidas, ou seja da

    presente encarnao ,vamos sentir na pele o quo vazio existe dentro

    de ns, vamos sentir a inutilidade de toda uma existncia.

    Deus nosso Pai no quer para ns nenhum sofrimento, tudo que

    passamos durante as nossas encarnaes, so frutos que ns mesmos

    plantamos e hoje estamos colher.

    O Pai nos criou para sermos felizes.

    Basta para isso, que sigamos retamente as suas Leis.

    Seguir as Leis do criador, implica muitas vezes em escolher o

    caminho mais difcil, para isso, podemos sempre contar com a ajuda e

    o amor de nosso mestre Jesus.

    Jesus, sempre estar do nosso lado, se em nossos caminhos,

    cruzarmos com pedras e espinhos.

    Jesus sempre estar conosco se a vontade de segui-lo estiver em

    nossos coraes.

    num desses caminhos largos, que vamos encontrar nosso Nilo.

  • 35

    Adulto j, e com os mesmos modos de quando era ainda jovem, no

    mudou em nada. Continuava agindo como se fosse o dono do mundo.

    O jovem Nilo vivia envolvido em brigas. No saia das ruas,

    procurando encrencas com quem cruzasse seu caminho.

    Vale lembrar que Nilo era ainda muito pequeno quando ficou sem o

    amparo dos pais. No teve a orientao necessria que deve ter uma

    criana para levar adiante em sua vida. No teve nem a base da

    educao para ter uma vida regrada na honestidade e no bem. Faltou a

    ele o amor dos pais. Como os irmos mais velhos viviam para o

    trabalho de manuteno da casa, faltou a Nilo tambm a unio com a

    famlia.

    Nilo mal ajudava na lavoura. No tinha amor ao trabalho e somente o

    fazia para no entrar tambm em atrito com o irmo. Mas, aproveitava

    qualquer folga para procurar s ruas e as farras. Era tambm chegado

    jogatinas, onde gastava o que no tinha. Muitas vezes suas brigas

    eram frutos de dvidas que ele acumulava.

    Sempre que tinha alguma festa na cidade, Nilo procurava confuso.

    Indispunha-se com os rapazes por causa das jovens. Sempre quis o

    que pertencia aos outros. Era assim com relao s namoradas dos

    outros.

    Ningum na Vila gostava de Nilo. Quando chegava nos lugares era

    motivo de cochichos, e desdm. Continuava sendo como quando era

    criana, persona non grata.

    Assim era a vida de Nilo, at que...

    Parecia que tudo estava pronto, ali, esperando por aquele

    acontecimento. Destino ou livre arbtrio?

  • 36

    No importa, tudo estava plantado e era a hora da colheita. E o fruto

    no era de boa qualidade.

    Quando toda a cidade estava em festa, as famlias se divertiam, as

    crianas brincavam, os jovens namoravam, e tudo era alegria, veio a

    confuso.

    Nilo, j trazia consigo a desavena. Onde chegava; vinha junto a

    tristeza e a dor. Ningum, por melhor que fosse no passava

    despercebido ao seu mau carter. E foi assim que tudo comeou:

    Na cidade, havia um casal de namorados que Nilo perseguia. No

    deixava em paz a jovem que no dava a ele a menor ateno. Sendo

    esta apaixonada pelo namorado. Estavam os jovens entretidos em

    palestra quando Nilo passou e endereou ao rapaz seus insultos. Por

    mais que tentassem no se envolver, Nilo no os deixou em paz. Foi a

    que alguns jovens, amigos do casal se condoeram por eles e se

    envolveram na discrdia.

    Formou-se ento um grupo contra o brigo, e quando ele se viu

    cercado por muitos, sacou a arma que sempre levava consigo, e como

    fazem os covardes, puxou o gatilho vindo a tirar a vida de um inocente

    rapaz, que tudo o que queria era divertir-se ao lado de sua namorada.

    Nilo foi preso em flagrante, pois os homens da lei estavam ali, na

    praa, na hora da briga. Para ele no restava mais nada, seno

    acompanhar os guardas, pois havia muitas testemunhas.

    Ali terminava mais um episdio de dor.

    A, se encerra para mais um integrante da famlia Silva Pedrosa, uma

    vida que fora fadada a terminar em tragdia.

    Assim foi a trajetria de Nilo.

  • 37

    Enjaulado como um bicho, ali viveu os piores tormentos de sua vida.

    Sofreu todas as humilhaes que ele um dia fez os outros passar. Teve

    doenas de todo tipo, e no era socorrido. Deste modo, envelheceu

    muito em poucos anos, e deixando o corpo doente, acabou por

    sucumbir, partindo para a ptria espiritual.

    Assim a vida. Temos como presente de Deus a encarnao. Quando

    no soubermos aproveitar esta oportunidade, deixamo-la passar e

    perdemos um tempo precioso. Perdemos a oportunidade de aprender e

    crescer em esprito.

    Mas Deus pai. E como todo pai, quer o bem de seus filhos. E como

    pai todo poderoso que ele , certamente nos dar uma nova

    oportunidade. Para isso, basta que nos arrependamos de nossos

    pecados e desejemos de todo corao uma mudana em nossas vidas,

    e trabalhemos duro para que isso acontea.

    No basta s querer, temos que merecer. Por isso, o trabalho deve ser

    rduo. Amar, como Jesus nos amou. Este um bom comeo.

    Nilo certamente ter sua oportunidade. Basta querer e se fazer

    merecedor que Jesus o atender.

  • 38

    Amlia j era moa feita. Aqui vamos encontra-la ainda com suas

    intransigncias em relao s outras pessoas. No bastava ela ser

    chata apenas com seus familiares, agia do mesmo modo com todos

    que se relacionava. No conseguia ter um bom relacionamento com

    ningum. Todos para ela no passava de lixo. Continuava rebaixando

    as pessoas e se achando sempre a melhor.

    O tempo passava e Amlia por motivo de seu comportamento,

    tornava-se muito solitria. Saia s vezes sozinha, pois as jovens de sua

    idade fugiam de sua rabugice. Era sedutora, e namorados no lhe

    faltavam. Muitas vezes antes de terminar com um, j arranjava outro.

    Se viu em apuros por muitas vezes, mas, acabou por achar a situao

    agradvel e sempre procurava se envolver na mesma.

    Para sair da solido, que vivia quando era criana, e por achar que

    vivia s porque os outros a rejeitavam, passou a namorar com todos

    que a cortejavam. Foi assim que se tornou a namoradeira da vila.

    Nenhum rapaz da cidade lhe passava despercebido. Acabavam muitos

    deles se envolvendo com ela. Tornou-se motivo de falatrio na boca

    de todos.

    Para as jovens de sua idade, Amlia representava o perigo, fugiam

    dela, para proteger seus namorados. Para os rapazes, Amlia

    representava o prazer, era a mulher fcil.

    Foi assim que Amlia comeou sua trajetria de mulher da rua. Se no

    para enfrentar o falatrio, para enfrentar sua prpria solido.

    A famlia, envolvida em seus prprios problemas, no se dignava a

    prestar ateno na vida de Amlia, e assim ela seguia sem escrpulos

    por caminhos que seriam difceis de retornar. Era rechaada por todas

  • 39

    as jovens de boa famlia, e no era mais convidada para nenhuma festa

    que acontecia na cidade.

    Foi assim que Amlia engravidou pela primeira vez, e sem pensar

    duas vezes praticou o aborto.

    Sentindo-se livre do incomodo que lhe era a gravidez, Amlia no

    pensou duas vezes para voltar vida nas ruas, onde o dinheiro fcil e,

    o divertimento, passou a fazer parte de sua vida. Assim seguia sua

    trajetria.

    No demorou muito para que ela novamente praticasse outro aborto, e

    mais outro, onde acabou por prejudicar em muito a sua sade. Suas

    noitadas sem dormir, acompanhadas de bebidas alcolicas fez com

    que seu fsico e seus rgos sentissem o trauma. Acabou por adoecer e

    nem nas ruas mais era querida. Passou a ser motivo de chacota entre

    os homens, e motivo de distncia entre as mulheres.

    Sua famlia, que j no lhe dava ateno, passou a desprez-la.

    Como o dinheiro no entrava mais fcil em suas mos, Amlia passou

    a se unir aos piores indivduos das ruas, deitando-se com sujos e

    maltrapilhos, para poder sustentar seu vcio na bebida, e comprar algo

    para comer. Morava s, e estava na mais completa solido.

    Nunca sentiu nenhum remorso pelos atos hediondos que cometeu, e

    rejeitava qualquer aconselhamento de quem quer que seja. Para ela

    bastava farra e a bebida.

    Foi assim que perdeu toda a sua juventude, e a vida que Deus lhe deu.

    Com tantos problemas, veio a falecer ainda muito jovem,

    desperdiando uma oportunidade nica que atrasa em muito a

    evoluo do esprito, tendo este que voltar outras vezes para cumprir

    aqui os desgnios do pai nosso criador. Voltar, para tentar resgatar o

    que perdemos, por puro equvoco quando na escolha do nosso livre

    arbtrio.

  • 40

    Assim foi a vida de Amlia.

    Vamos encontrar Geraldo. Um jovem destitudo de qualquer

    sentimento de amor. Um jovem sem f.

    Para Geraldo, tudo girava em torno de si mesmo. Os outros, pouco lhe

    importava. Nunca teve um nico gesto de carinho com ningum. Dar

    algo para algum, nunca lhe passou pela cabea. Queria tudo para si,

    nada para os outros.

    Geraldo cresceu sem apoio dos pais, isso ns j sabemos. Sentiu muito

    a falta da me e a morte do pai. No teve quem lhe indicasse o sentido

    da unio. O valor da partilha. Como no recebeu o ensinamento do

    amor, no sabia amar.

    Era avarento, e escondia de todos os seus bens. Quando adolescente, e

    depois adulto, trabalhou sempre com o irmo, mas procurava ganhar

    por fora, s escondidas, sem deixar rastros para ser descoberto.

    J adulto, conheceu uma jovem, que tinha os mesmos pensamentos

    que ele, por isso logo, uniram-se em matrimonio.

    Para o casal, a vida dos outros no tinha a menor importncia, s a

    deles tinha algum valor. Nunca se importaram com as necessidades

    dos mais prximos, e tudo que queriam era distncia de todos, para

    no se sentirem na obrigao de ajudar.

    Foi assim que construram sua famlia. Tiveram um casal de filhos

    que mais tarde lhes trouxeram muitos aborrecimentos, pois a eles

    ensinavam o que achavam certo para si.

    Os filhos, engajados no mesmo sentimento dos pais, mais tarde se

    voltaram contra eles, tentando engan-los sempre que podiam ,

    roubando-os dentro de sua prpria casa, aproveitando toda

    oportunidade que aparecia.

  • 41

    Os pais, quando descobriam, tentavam argumentar, sem nenhum

    resultado, pois os filhos sempre negavam seus prprios delitos.

    Quando ensinamos atravs de exemplos, devemos acima de tudo ter

    responsabilidade, pois o resultado de nossos ensinamentos pode trazer

    prejuzos para ns mesmos.

    Geraldo, em toda sua vida sempre deixou transparecer o seu egosmo.

    Para os filhos, que cresceram ouvindo sempre o que os pais diziam,

    era normal agirem da mesma forma. Sempre que havia algum

    questionamento entre eles e os pais, deixavam claro que, estavam

    seguindo o seu exemplo.

    Geraldo era muito nervoso, e agia sempre com brutalidade com sua

    famlia. Sempre que discordava, ele e a mulher, do comportamento de

    seus filhos, aconteciam as brigas, onde os filhos no pensavam duas

    vezes para enfrentar os pais.

    Para Geraldo, a derrota com relao ao comportamento dos filhos,

    deixava sempre o gosto amargo da perda, haja visto, que se achava

    sempre o dono da verdade.

    Enquanto seus filhos cresciam, Geraldo e a mulher acumulavam

    derrotas e sofrimentos, sem nunca pensarem numa mudana de

    comportamento. Seguiam a vida, sempre achando que o mais

    importante era sempre a sua famlia, por mais problemas que tinham,

    os outros eram sempre relegados a plano nenhum.

    Por isso, tinham poucos amigos. As pessoas de bem, fugiam da

    companhia do casal, pois no se sentiam a vontade diante de

    conversas que s giravam em torno de si mesmos, diante de tanto

    egosmo.

    Assim foi a vida de Geraldo e dos seus. Eram belos e saudveis,

    tinham tudo para ser feliz, mas preferiram viver no egosmo, o que

  • 42

    acabou trazendo amargura para seus coraes. Adquiriram muitos

    bens materiais, mas no conquistaram a paz.

    Vamos voltar no tempo. Vamos encontrar a caula da famlia Silva

    Pedrosa. O piv de muito sofrimento, a causa de tanta dor.

    Mila.

    Como j sabemos, Mila foi abandonada por sua me ainda bebe.

    Relembremos que ela foi criada pelos serviais da casa, enquanto

    ainda eles existiam, e depois por sua irm Clarice at que esta veio a

    falecer. Logo, Mila foi deixada ao sabor dos ventos ainda muito

    criana.

    Relembremos tambm, que era uma criana muito chorona, e cresceu

    levando consigo estes atributos. Desenvolveu a mania de reclamar de

    tudo e de todos. Com a falta da me e sem nem conhecer o pai

    biolgico, e convivendo pouco com o pai adotivo, no teve quem lhe

    mostrasse um caminho diferente daquele que ela criou para si mesma.

    Mila, ainda muito jovem, comeou a fazer de tudo para chamar a

    ateno de sua famlia, ou seja, de seus irmos. Sem ter resultados

    com a sua choradeira, comeou a dissimular dores e doenas para ver

    se lhe prestavam ateno.

    No comeo, todos da casa, irmos e cunhada, ficavam preocupados,

    mas com o tempo, descobriram que tudo no passava de encenao.

    Sem se preocupar com o tempo que fazia os outros perderem com suas

    manias, Mila continuava a viver sua vida de mentiras.

    Com o tempo, e por terem cada um, sua vida a controlar, deixaram de

    prestar ateno Mila, que mesmo assim insistia nas encenaes.

  • 43

    O tempo foi passando, e esta mania de doenas foi se tornando o

    centro da vida de Mila, que s fazia reclamar e mesmo que ningum

    lhe desse a menor ateno, continuava com as encenaes.

    Mila, era uma jovem sem muitos atributos, no era feia, mas tambm

    no era bela. Por isso no tinha muitos pretendentes.

    Teve um namorado, que entediado com suas conversas em torno de

    doenas e reclamaes, acabou por deixa-la.

    Por sorte, conheceu outro rapaz, que se apaixonou por ela, e mesmo

    sabendo de suas manias, acabou por pedi-la em namoro.

    Amigas, Mila no s tinha, pois nenhuma jovem da cidade suportava

    a sua companhia. Diziam sempre que a amizade de Mila era uma

    algema, ela s prendia com seus problemas e suas reclamaes.

    O tempo passava e Mila no mudava seu comportamento, at que um

    dia, nem seu namorado que se dizia muito apaixonado, suportou mais

    a sua companhia. Tiveram uma discusso acirrada e ele deixou-a para

    sempre.

    Mila , depois de chorar muito, reclamar muito, e deixar toda a famlia

    esgotada com seus problemas, e ainda tentando chamar ateno para

    s com suas encenaes, entrou em depresso.

    Foram meses, onde a famlia j bastante desacreditada de seus

    problemas, no deram a devida ateno ao que estava acontecendo,

    enquanto isso , ela entrava mais e mais na depresso. Passou a ter um

    comportamento diferente. No chorava, no reclamava mais, no

    encenava. Fechou-se na sua dor e na sua solido.

    Passava os dias, trancada em seu quarto. No se alimentava direito, e

    comeou a ter problemas de sade.

    Foi assim que os dias se arrastavam sua volta. Foi assim que a pouca

    alegria morreu em seu corao. Foi assim que Mila, num dia em que

  • 44

    a esperana a deixou para sempre, tirou sua prpria vida, tomando do

    veneno que se usava para matar ratos na lavoura. Foi assim, que Mila

    passou pela vida sem prestar a menor ateno.

    E o tempo foi passando.

    O pas j se acostumara a nova situao. Famlias que eram muito

    ricas; empobreceram por falta de mo de obra nas lavouras. O Pas

    com sua imensa extenso de terras chamou ateno de outros povos.

    Vieram os imigrantes. Juntaram-se a muitos negros, empregando-os

    em suas terras, e comearam a fazer aqui suas fortunas.

    Para muitos, a vida estava mais difcil, enquanto para outros, que

    chegavam de longe, provavelmente de uma situao bem mais

    penosa, a situao se lhes apresentava como motivo de alegria e

    esperana.

    Enquanto uns regozijavam com a nova situao, outros sofriam as

    suas desiluses.

    No era diferente no que restou da famlia Silva Pedrosa.

    Muitos se foram, partiram desta vida para a ptria espiritual, outros

    continuavam a sua trajetria, nem sempre por caminhos onde brilhava

    o sol.

    Famlia de muitos integrantes, onde a unio deveria fazer a felicidade

    brilhar nos dias de cada um, onde a unio deveria trazer a alegria para

    todos os coraes. Mas, por ironia do destino ou livre arbtrio das

    pessoas, cada um seguiu por estradas tortuosas que levaram muitos

    ruina de mais uma encarnao.

    A famlia, j sem boa parte de seus integrantes, passou o resto de suas

    existncias em muito sofrimento, haja visto a falta da base, que o

    amor e a unio, deixado em branco pela partida inesperada da me e a

    morte do pai.

  • 45

    A famlia, por falta de responsabilidade por parte da me, ao

    abandonar os filhos e o marido, e a morte do pai, por desgosto e

    fraqueza para enfrentar uma nova vida, desenvolveu e se envolveu em

    sentimentos chulos, como o cime, a falta de amor prprio, a

    violncia, a intransigncia, o egosmo: que s atrasam o

    desenvolvimento do esprito, e arrastam muitas vezes o corpo fsico,

    presente abenoado que recebemos do Pai, para o tmulo.

    Partindo do princpio de que Deus, nosso Pai nos criou para sermos

    felizes, cabe a ns seguir os ensinamentos de seu filho Jesus, nosso

    irmo maior, para alcanar esta to almejada felicidade.

    Cabe a ns praticar e seguir suas leis, que so eternas e imutveis.

    Em todas as famlias, o que deve ser ensinado pelos pais, o respeito

    e a unio entre todos. Deve os pais, ensinar, dando os devidos

    exemplos. Devem deixar seus exemplos, como base e herana para

    seus filhos. Aos filhos, basta seguir as leis de Deus, os ensinamentos

    de Jesus, e os bons exemplos dos pais.

    Uma famlia s feliz, quando impera o respeito e o amor entre todos.

    Depende das famlias, o Pas em que vivemos.

    No podemos esquecer, que sem famlia, no existe a sociedade. Sem

    as famlias no possvel formar uma Nao.

    .-.-.-.-.-.-.-.-

  • 46

    SEGUNDA PARTE

  • 47

    _ Senhor Jesus, aqui estou, a teus ps, pedindo o teu perdo.

    _ Me amada, Nossa Senhora, aqui estou de joelhos, implorando a sua

    ajuda.

    _ Querida me de Jesus, que a todos ouve, escute as minhas preces.

    D-me a chance de provar meu arrependimento e minha vontade de

    mudar

    _ D-me a chance de desfazer os meus erros.

    _ Nossa Senhora. Vs que foi um exemplo de me, eu te peo com

    todo meu corao; Interceda junto a teu filho amado por mim. D-me

    a chance de reparar meus erros do passado. Faa Senhora com que eu

    possa um dia ser perdoada pelos meus filhos. Com que eu possa um

    dia vir a aconchega-los em meus braos. Braos estes que noutra vida

    deixaram de abra-los.

    _ Pai todo poderoso. Vs que sois a bondade suprema, d-me o seu

    perdo.

    Assim vamos encontrar Ana, na Ptria Espiritual, elevando suas

    preces Nossa Senhora, a quem aprendeu a amar; e debulhando-se

    em lgrimas.

  • 48

    Ana, nos ltimos meses de sua ltima encarnao, veio a cair doente

    em uma cama. J bastante idosa e sem ningum para lhe ajudar, sofreu

    todas as misrias da vida. Seu companheiro, j havia anos antes,

    desencarnado, tambm por motivos de sade.

    Ana se viu s e abandonada, e pode sentir em sua prpria pele os

    problemas que ela prpria havia causado aos seus. Lembrava-se

    constantemente de seus filhos e esposo, e sofria por pensar na dor e

    sofrimento que ela poderia ter lhes causado com seu gesto de imensa

    irresponsabilidade.

    Os seus ltimos meses de vida, foram para ela de imensa dor. Chorava

    desesperadamente e pedia perdo Deus pelos seus atos impensados.

    Como no tinha ningum que a ajudasse, dependia de favores de

    vizinhos que a socorriam nas suas mais prementes necessidades. Do

    contrrio, vivia sempre na mais completa solido.

    Nesses momentos de solido, que lhe vinham na mente todo o

    passado. E nesses momentos, que lhe aconteceu de sentir o imenso

    erro que cometeu com relao seus familiares, e ento veio a dor

    imensa do remorso.

    deste modo que Ana veio a falecer. Deixou o corpo, sem ningum

    para chorar por ela. Dependeu at o ltimo momento da vontade de

    estranhos, Mas, levou consigo para o tmulo, a dor do remorso que

    consumiu o seu corao.

    Em esprito, vagou algum tempo por territrios de imensa dor. Sofreu

    todas as penrias do abandono e da solido. At que num momento de

    luz em seu esprito, pediu socorro nossa senhora, que nos ltimos

    meses de sua vida, aprendeu a amar.

    Foi socorrida e levada para um posto de atendimento na Ptria

    Espiritual. Era um posto avanado de socorro aos necessitados, que

  • 49

    eram recolhidos junto da crosta terrestre. Um posto dirigido por

    abnegados irmos devotos de Nossa Senhora.

    Assim Ana foi socorrida com muito carinho por esses irmos.

    Enquanto Ana fazia suas preces, dirigidas nossa Senhora, e a Deus

    nosso Pai, entrou no quarto o irmo que a acompanhava nesta sua

    nova vida.

    Vendo que a porta foi aberta e adentrou o querido irmo, Ana

    encerrou suas preces em lgrimas e se dirigiu ao irmo.

    Este, aconchegando-a em seus braos e enxugando suas lgrimas,

    argumentou;

    _ Calma minha filha, no deixe que a perturbao prejudique seu

    crescimento. Deus nosso Pai, jamais desampara seus filhos. Jesus,

    nosso mestre amado, caminha sempre ao nosso lado e Nossa Senhora

    sempre ouve os coraes arrependidos.

    E continuou;

    _No deixe o desespero tomar conta de sua alma. Tudo tem seu tempo

    certo. O que devemos fazer ocup-lo com trabalho e estudo, e nos

    colocarmos nas mos do Pai.

    E vendo que Ana se acalmava, continuou;

    _ Vamos pensar na melhor maneira de voc ocupar o seu tempo. Aqui

    nesta instituio, existem muitos trabalhos voltados para o bem dos

    mais necessitados, e tambm muitos cursos e palestras voltadas para

    nosso crescimento espiritual.

    _ Tente ficar tranquila, e quando estiver mais confiante, podemos

    escolher juntos um curso que preencha suas expectativas, e juntos ,

  • 50

    podemos nos inscrever para as palestras que ocorrem nesta casa de

    amor.

    E assim dizendo, foi deixando Ana, e saindo para seus afazeres.

    Passaram-se alguns dias e o venervel irmo que vamos chamar aqui

    de Jos, voltou a procurar por Ana.

    Assim que entrou foi logo dizendo;

    _ Querida irm, hoje quero leva-la para um passeio. Existem aqui

    muitos parques com belas arvores e flores, que gostaria que

    conhecesse.

    Ana, contente com a ideia de sair do quarto, enxugando as lgrimas

    que agora eram constantes em seus dias, animou-se com o convite e

    foi logo se levantando para acompanhar o ilustre visitante.

    Saram para o parque. Percorreram belas alamedas e Ana se

    deslumbrava com as variadas flores dos jardins.

    Sentindo-se mais tranquila com o belo espetculo a seu redor, confiou

    no companheiro as suas dvidas:

    _ Por que, querido irmo, depois de tanto errar, ainda encontro aqui

    irmos que se preocupam comigo? Ser que mereo tamanha

    dedicao por parte de pessoas que nem me conhecem? Que no

    sabem o quanto eu fiz de errado na minha ltima encarnao?

    Depois de uma pausa, onde Ana novamente comeou a chorar, e, para

    que no ficasse sem respostas, as suas perguntas, disse o irmo Jos:

    _ Todos ns temos o nosso merecimento. Somos todos iguais perante

    Deus nosso Pai. Ele, certamente sabe o que ns fizemos, e nunca nos

    abandonou em nenhuma circunstncia. Ele, jamais se zanga conosco,

    porque sabe de nossas imperfeies, mas, acredita e espera

  • 51

    pacientemente que cresamos, e que um dia venhamos a no errar

    mais.

    _ Nunca esquea-se querida Ana, que Deus nos ama

    incondicionalmente. Faamos o que faamos, ele sempre vai nos

    amar. Ele sempre vai nos dar mais uma chance. Resta a ns querermos

    merecer o seu amor. Aproveitar as oportunidades que sempre esto

    nossa volta para melhorar, para crescer. Para um dia estar mais perto

    de seu filho Jesus, e consequentemente mais perto dele, nosso Pai.

    Sentindo que Ana se acalmava, calou-se, e juntos caminharam pelo

    parque, admirando toda a sua beleza.

    Pelo caminho, ainda encontraram muitos espritos que habitavam

    aquela colnia, e aproveitaram para discutir a importncia deste lugar

    na reeducao espiritual. A importncia de almas abnegadas servio

    da espiritualidade maior.

    E o irmo Jos retomou as conversaes;

    _ Como v amiga Ana, muitos se valem deste paraso no qual

    estamos, para melhorar-se em esprito. Lugar abenoado, dedicado

    Nossa Senhora, que nos d o privilgio de trabalhar em seu nome.

    _Como pode perceber tambm ela, Nossa Senhora, ouviu suas preces.

    Tambm ela se condoeu com seu sofrimento. Assim como seu filho

    amado, ela tambm se preocupa com nossos problemas e acredita na

    nossa vontade de querer mudar.

    _ Sempre que estiver em sofrimento, chame pela nossa me espiritual,

    que ela certamente interceder junto seu filho amado, que

    certamente , se estivermos falando de corao, nos atender e nos dar

    uma nova chance de recomear.

    E assim falando, foi conduzindo Ana para retornar aos aposentos, pois

    se aproximava a hora das oraes, que eram dirias naquela instituio

    de amor.

  • 52

    _ Vamos irm, que novos afazeres nos esperam.

    Passaram-se mais alguns dias, onde Ana j estava bem mais

    recuperada dos problemas que havia trazido consigo do tempo de

    encarnada, quando o amigo Jos bateu de novo em sua porta.

    Encantada com sua presena, Ana no deixou de esboar um largo

    sorriso, pois j estava sentindo sua falta, e havia inclusive comentado

    com as enfermeiras que a atendiam diariamente naquela casa.

    _ Querido irmo Jos, com que prazer volto a v-lo! Espero que tenha

    alguma novidade para mim! Foi logo perguntando Ana, assim que ele

    transps a porta de seu quarto.

    _ Como vai querida Ana? Espero que tenha aproveitado bem o seu

    tempo livre!

    _ Sim irmo Jos. Aproveitei o tempo para refletir sobre as nossas

    conversas, e cada vez mais me emociono quando relembro nossos

    passeios e os ensinamentos que aqui estou recebendo. No me canso

    de pensar, como Deus bom para conosco, e cada vez mais me sinto

    devedora de sua bondade.

    _ No esquea-se querida irm, de que Deus , nosso pai amado,

    mandou seu filho muito querido para ajudar-nos a chegar mais perto

    dele. Nunca esquea-se, que Jesus viveu entre ns ensinando e dando

    exemplos de vida, os quais ns muitas vezes teimamos em no seguir.

    No importa o tempo que levemos para acordar de nossos devaneios,

    o que importa a vontade que trazemos em nossos coraes quando

    despertamos para a verdade do pai.

    Ana, j comeava a se emocionar, e lgrimas comearam a rolar pelo

    seu rosto. As lembranas teimavam em rondar sua serenidade.

    Jos, antes que Ana se emocionasse demais, foi logo mudando de

    assunto e dizendo:

  • 53

    _ O que acha minha amiga, de um novo passeio pelos belos lugares

    desta instituio?

    Ana entusiasmada, se deixou levar em companhia do irmo Jos.

    Saram pelas ruas da colnia, e caminharam por um longo tempo em

    silencio, a observar a beleza do lugar.

    Vendo que Ana estava absorta em pensamentos, e para que ela no

    entrasse novamente nas lembranas que lhe tiravam a tranquilidade da

    alma, o irmo Jos entabulou uma nova conversao;

    _ Veja Ana, quantos irmos, temos aqui nesta instituio. Todos, a

    procura de entendimento para prosseguir em novas jornadas.

    E vendo que Ana passou a lhe dar ateno, continuou:

    _ Todos ns, espritos criados por um Deus, que sinnimo de puro

    amor, temos o privilgio de tentar sempre, muitas vezes se assim se

    fizer necessrio, uma renovao em nossa alma, atravs da

    oportunidade que temos de uma nova encarnao.

    _ Deus, que pura bondade, no deixa nunca seus filhos esquecidos

    na dor. Basta que lhe peamos, e uma nova oportunidade nos

    apresentada.

    _ Para isso, devemos tomar conhecimento das leis de Deus. Toda lei

    do criador, deve ser seguida sempre risca, caso contrrio, podemos

    cair no vcio de errar outra vez.

    O irmo Jos fez uma pausa, e vendo que Ana lhe interrogou com o

    olhar, prosseguiu:

    _ Tudo seu tempo. O Pai sbio, e d- nos o tempo necessrio para

    que cheguemos a ele da forma que ele sempre sonhou para ns.

  • 54

    Ana, embalada nas palavras de Jos, a tudo ouvia com a maior

    ateno. E como ele se calou para dar a ela o tempo de absorver a

    conversa, interrompeu o silencio para perguntas que se lhe

    amargurava o corao:

    _ Ser, irmo Jos, que um dia, tambm eu, terei a oportunidade de

    voltar vida terrestre, e reparar todos os meus erros com relao

    meus filhos e meu esposo?

    _ Ser querido irmo, que um dia, serei merecedora de tamanho

    obsquio da parte do pai?

    E sentindo todo sofrimento que transparecia no olhar de Ana, disse o

    irmo Jos:

    _Todos ns sempre teremos do Pai a misericrdia. D tempo ao

    tempo. Ainda temos muito que aprender antes de nos preocupar-nos

    com o futuro. Vamos aproveitar o presente. Vamos aproveitar as

    oportunidades de aprendizado que est nossa volta.

    _ Olhe dos lados. Repare que no est sozinha. Muitos irmos esto

    aqui a procura de novos entendimentos e novas oportunidades. Siga

    seus sentimentos e deixe o resto nas mos de Jesus.

    _ O importante no desistir nunca. Muito temos ainda que passar

    para chegar no lugar onde o pai nos espera. O que importa que

    saibamos passar pelos caminhos da dor sem ressentimentos. Que

    saibamos driblar o sofrimento sem nos enfraquecer com eles. Ao

    contrrio, o sofrimento deve sempre nos trazer crescimento para o

    esprito.

    Calou-se Jos, para que Ana pudesse absorver suas palavras.

    E seguiram silenciosos pelas alamedas floridas da colnia.

  • 55

    Para os encarnados, o calendrio marcava j os ltimos anos do sculo

    dezoito, enquanto que na Ptria Espiritual o tempo no tinha a menor

    importncia.

    Na terra, alguns dos filhos de Ana, ainda viviam, enquanto no mundo

    espiritual j fazia algum tempo da chegada de Ana.

    Ana, no tinha conhecimento de como estavam seus filhos, se viviam

    ou se j tinham retornado Ptria Espiritual, e muito menos no tinha

    conhecimento de quanto sofrimento eles passaram com a sua partida,

    e nem sabia da trajetria que cada um teve em suas vidas.

    A nica coisa que Ana pressentia, era que seus atos impensados

    quando encarnada, poderiam ter causado muitos danos para seus filhos

    e que ela, no gostaria de repetir tamanho erro em sua vida.

    Tudo que ela queria, era ter a oportunidade de rever cada um de seus

    filhos, e pedir perdo pelos seus erros do passado. Daria tudo que

    estivesse seu alcance para apagar o sofrimento na vida de cada um.

    Para isso, estava disposta a estudar e trabalhar, para adquirir todo

    entendimento necessrio que permitisse seu retorno vida corprea a

    fim de que pudesse recomear de onde parou; recomear de onde

    permitiu que seu egosmo falasse mais alto, e apagar todo passado de

    sofrimento e dor.

    Em seu quarto, Ana rememorava sua ltima encarnao, e a cada dia

    se sentia mais culpada, sem nem ao menos conhecer todo drama da

    famlia que ela teria causado com sua partida.

    A nica coisa que ela queria neste momento, era poder rever seus

    filhos. Queria ter a oportunidade de pedir perdo, mesmo no tendo

    ainda conseguido a serenidade para seu corao.

    Ana pensava tambm, em Epitcio, que desencarnou antes dela, mas

    no tinha coragem de perguntar por ele. Seu corao nunca deixou de

    ama-lo, mesmo quando veio o arrependimento de seus atos com

  • 56

    relao sua famlia. Queria estar mais preparada, sem sentir-se to

    culpada, para um dia se encher de coragem e perguntar pelo seu

    grande amor.

    Assim caminhava Ana em direo ao futuro.

    Futuro este que est nas mos do Pai. E que devemos tudo fazer para

    caminhar em companhia de seu filho Jesus, para que no venhamos a

    tropear nas pedras que se lhe nos apresentaro pelo caminho.

    Assim seguia Ana. Com a ajuda do irmo Jos, comeava a traar para

    si um novo caminho. Um caminho onde ela no queria mais errar.

    Mais alguns dias se passaram sem que o irmo Jos aparecesse para

    visitar Ana. Enquanto isso ela se preparava emocionalmente para

    receb-lo. Enquanto ele no aparecia para visita-la, Ana aproveitou

    para dedicar-se leitura do Evangelho. De tanto ouvir o irmo Jos

    falar de Jesus, Ana sentiu vontade de conhecer mais sobre seus

    ensinamentos. A cada dia se aprofundava mais e mais nos estudos.

    Ana sentia-se cada vez mais a vontade, naquela casa de amor.

    Aprendeu a agradecer todos os dias o privilgio de ser recolhida

    naquela instituio, e por sentir-se disposta para o trabalho, ofereceu-

    se para ajudar no que fosse preciso.

    As enfermeiras que a atendiam todos os dias, acharam por bem

    esperar a deciso do irmo Jos, antes de Ana comear a se dedicar

    alguma tarefa na casa.

    E assim os dias foram passando...

  • 57

    Estando Ana j preparada para ajudar nas tarefas de auxilio aos irmos

    que eram recolhidos naquele lar, apareceu ento para uma visita o

    irmo Jos.

    Ana sentiu-se muito feliz ao v-lo, e mostrou-se interessada para o

    incio de uma nova temporada naquela instituio.

    Assim que ele entrou pela porta, sentiu-se animada para uma nova

    conversao, e foi logo dizendo:

    _ Querido irmo, como tem passado? Esperava-o com ansiedade!

    Jos, vendo que Ana estava com aparncia bem melhor do que nas

    visitas passadas, entabulou uma conversao com ela.

    _Tambm eu estava sentindo sua falta querida irm, mas os deveres

    tomaram meu tempo nos ltimos dias. Sinto-me feliz por v-la to

    alegre e disposta. E perguntou:

    _Porque tanta ansiedade? Devo adverti-la que este sentimento no

    combina com os nossos propsitos.

    E Ana, sentindo-se intimidada por seu comportamento, abaixou os

    olhar, e esperou que Jos continuasse a palestra.

    _ Querida Ana, a pressa no combina com a perfeio. Tudo tem sua

    hora certa, como j falamos anteriormente. Devemos nos conservar

    em tranquilidade e esperar o momento certo para entregarmo-nos

    qualquer tarefa que exija de ns muita ateno e dedicao.

    E continuou:

    Todos esses dias em que no nos vimos, tenho certeza que soube

    aproveit-los muito bem. O estudo do evangelho abre sempre novas

    portas em nossas vidas. Indica sempre o caminho que devemos seguir

    para engrandecimento de nossas almas.

  • 58

    Ana mais encorajada com suas palavras, disse ento:

    _ Gostaria muito de saber sua opinio sobre minha vontade de

    trabalhar e estudar, nesta instituio que me acolheu com tanto amor.

    Gostaria de saber, quando achas que poderei empenhar meu tempo

    livre, para ajudar aqueles que tanto me ajudaram quando aqui cheguei.

    Ento, Jos, disse:

    _ Vamos sair para caminhar, e ao longo de nosso passeio,

    conversaremos sobre este assunto. E assim foi encaminhando Ana

    para a porta de sada.

    Desta vez, dirigiu-se para um novo lugar, que Ana deslumbrou-se com

    a beleza que havia nele. Era um grande parque verde, e tinha ali,

    flores de diversas espcies. Havia uma cachoeira, onde caiam guas

    que cintilavam com os raios do sol. Era de uma beleza esplendida, que

    tirava o folego de todos que iam ali passear.

    Depois de percorrer todo o lugar, admirando a sua beleza,

    acomodaram-se em um banco, debaixo de uma frondosa arvore, e por

    algum tempo guardaram silencio a fim de absorver todo o

    encantamento.

    E como se Ana aguardasse que Jos reiniciasse a conversao, disse

    ele ento:

    _ Creio querida Ana, que chegada a hora de comeares a pensar num

    incio de novas empreitadas. Temos aqui, etapas para sere