natanael rinaldi
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Natanael Rinaldi: “‘A Grande Esperança’ ou mais uma heresia?”PUBLICADO EM 12 DE MAIO DE 2012, POR LEANDROQUADROSPOSTADO EM: A VERDADE SOBRE OS ADVENTISTAS, DEBATES
INTRODUÇÃO
O pastor e apologista Natanael Rinaldi, um dos maiores combatentes do adventismo no
Brasil, publicou em 25 de março de 2012, no site do Centro Apologético Cristão de
Pesquisas (CACP), uma entrevista intitulada “‘A Grande Esperança’ ou mais uma
heresia?”
Nela, o autor faz comentários negativos sobre o projeto evangelístico da Igreja Adventista
em distribuir, gratuitamente, cerca de 160 milhões de cópias do livro A Grande
Esperança em todo mundo. O material é uma edição condensada da obra atualmente
intitulada O Grande Conflito, publicada pela primeira vez em 1888.
Um dos objetivos da igreja Adventista do Sétimo Dia com a distribuição massiva do livro, é
mostrar às pessoas que a volta de Jesus é a única “bendita esperança” (Tt 2:13) para um
mundo mergulhado no sofrimento e afogado pelas tragédias existenciais.
Porém, isso não mereceu destaque da parte de Rinaldi. Ao final das considerações sobre
o adventismo e o livro A Grande Esperança, o responsável pelo artigo recomenda aos
seus leitores:
“[...] Dispensemos o livro A Grande Esperança se alguém nos quiser presentear com
ele”.
Por que ele desaconselhou a leitura desse livro, que é o resumo de uma importantíssima
obra de Ellen White que influenciou positivamente a vida de muitas pessoas? Há várias
razões para isso e não irei me deter em todas elas, por que posso cair no erro de julgar as
pessoas sem conhecer suas reais intenções (Cf. Mt 7:1, 2).
Porém, uma razão fica evidente: desacreditar a obra de Ellen White e “vacinar” os cristãos
contra o adventismo, considerado por ele uma “seita” herética que faz dos escritos de
Ellen White uma “segunda Bíblia”.
Esta breve resposta analisará algumas afirmações do referido artigo assinado por
Natanael Rinaldi, com base em fontes primárias, não consultadas ou não devidamente
compreendidas por ele. Se o leitor quiser maiores informações sobre o projeto “A Grande
Esperança”, e desejar fazer o download gratuito do livro para compartilhar com outros
amigos, para que conheçam A Grande Esperança da Volta de Jesus, poderá acessar o
site http://agrandeesperanca.com.br
Para que nosso amigo internauta tenha acesso ao mais poderoso argumento em favor
do livro O Grande Conflito e do projeto “A Grande Esperança”, basta clicar aqui e assistir
ao testemunho do querido irmão Marcos Alexandre Martins que, apesar de possuir uma
síndrome rara e que lhe trouxe certas limitações, foi poderosamente usado por
Deus para levar o evangelho à psicóloga dele, dando a ela de presente o livro O Grande
Conflito.
Essa história já seria suficiente para desmerecer o artigo de Rinaldi e provar que o
conselho dado por ele, para que as pessoas “dispensem” o livro A Grande Esperança, não
vem de Deus. Porém, vamos apontar as distorções do referido autor, na esperança de que
ele pelo menos reconheça o próprio erro em fazer mau uso de fontes primárias (no pouco
que as usou), mesmo que não concorde com as doutrinas distintivas adventistas.
ELIMINANDO DISTORÇÕES
O documento publicado pelo CACP apresenta pelo menos cinco distorções que teriam
sido evitadas, se o apologista estivesse realmente familiarizado com fontes primárias,
aquelas reconhecidamente oficiais, publicadas por uma das editoras da Igreja Adventista
do Sétimo Dia.
A primeira das discrepâncias foi a afirmação de que a obra A Grande Esperança “se trata
de um livro no qual foram formuladas as doutrinas adventistas elaboradas como um credo,
com o título ‘Nisto Cremos’”.
Bastaria uma simples leitura do livro supracitado para ver que o Nisto Cremos não se
constitui num credo adventista, e sim num resumo das principais “crenças adventistas
numa estrutura organizada”[1] Os editores da referida obra esclareceram:
“Não escrevemos este livro para que servisse como um credo – ou declaração de
doutrinas montadas sobre concreto teológico. Os adventistas possuem apenas um credo:
‘A Bíblia, e a Bíblia somente’”.[2]
Além disso, desde os primórdios do movimento adventista, os pioneiros se opunham
fortemente a qualquer estabelecimento de credo que pudesse atrapalhar as pessoas de
expandir a mente para o estudo da Bíblia.
Se Rinaldi tivesse familiarizado com o livro Portadores de Luz: História da Igreja
Adventista (Imprensa Universitária Adventista, 2009), dos historiadores Richard Schwarz e
Floyd Greenleaf, págs. 92, 160, 161, 607 e 645, saberia que, desde o início do movimento
adventista, nunca adotamos credos formais. Desse modo, teria evitado tamanha distorção
em seu artigo.
Outro deslize pode ser percebido na afirmação de que as menções ao sábado, ao longo
das páginas de A Grande Esperança, apontam “a guarda do sábado como meio de ganhar
a vida eterna no entendimento da escritura Ellen Gould White”. Essa falsa alegação
poderia ter sido evitada se o autor tivesse lido a citação da Sra. White no livro Atos dos
Apóstolos, onde a autora adventista afirma:
“[...] Se nossa salvação dependesse de nossos próprios esforços não nos
poderíamos salvar; mas ela depende de Alguém [Jesus Cristo] que está por trás de
todas as promessas.”[3] (Grifo acrescentado).
Além do mais, se Rinaldi realmente conhecesse o livro O Grande Conflito, saberia que,
para Ellen White e os adventistas, muitos observadores do domingo que foram sinceros, e
viveram de acordo com a luz que receberam, estarão no céu:
“Mas os cristãos das gerações passadas observaram o domingo, supondo que em assim
fazendo estavam a guardar o sábado bíblico; e hoje existem verdadeiros cristãos em todas
as igrejas, não excetuando a comunhão católica romana, que creem sinceramente ser o
domingo o dia de repouso divinamente instituído. Deus aceita a sinceridade de propósito
de tais pessoas e sua integridade”[4]
A terceira afirmação infundada é a de que os adventistas não observam o sábado como
orienta a Bíblia. Ele baseia essa falsa alegação no texto de Êxodo 35:3, que orienta o povo
de Israel e não acender fogo “em nenhuma de suas casas no dia de sábado” (NVI). Sendo
que os adventistas aquecem a comida nesse dia, a conclusão “lógica” de Rinaldi é que
eles não guardam o sábado como professam, pois, estariam, na visão dele, observando-o
de modo contrário ao que os escritos de Moisés ensinam.
Por mais “lógica” que essa afirmação parecer, ela é tendenciosa e até mesmo absurda. O
apologista poderia ter informado seus leitores que “Antigamente, acender fogo requeria
esforço considerável”[5], de modo que cozinhar alimentos naquele contexto traria um
esforço tremendo. As pessoas teriam, em alguns momentos, de caminhar distâncias
consideráveis para conseguir lenha, e não tinham isqueiros ou palitos de fósforos que
facilitassem um trabalho que, para elas, se tornava árduo e que atrapalhava o adorador
em seu repouso no sétimo dia.
Em nosso contexto atual, diante dos fascinantes avanços tecnológicos, acender fogo é
uma atividade extremamente simples, de modo que avaliar o comportamento adventista
atual, tendo como base a época Israelita, carente de recursos tecnológicos, é, no mínimo,
algo irresponsável da parte de Rinaldi.
Naquele contexto, em que os Israelitas moravam no deserto e eram alimentados
milagrosamente com o chamado maná (veja Ex 16), eles não necessitavam de fogo a não
ser para cozinhar, pois, aquecer alimentos naquele clima era desnecessário para a saúde.
Além disso, sendo que na sexta-feira Deus enviava o pão do céu (maná) em dobro (Ex
16:22-24), para que eles não tivessem o trabalho de recolhê-lo no sábado, não haveria
necessidade de aquecer outro tipo de alimento por que eles já tinham o bastante para
passarem o dia todo em espírito de adoração – e bem alimentados.
Mesmo sendo falhos, devemos fazer o nosso melhor
Os adventistas se esforçam para fazer a vontade de Deus com a ajuda da graça dEle (Fp
2:13) e, mesmo não sendo perfeitos, fazem o seu melhor para separar o sábado para se
relacionarem por mais tempo com o Criador, passar mais tempo de qualidade com a
família e para realizar atividades religiosas próprias para esse dia (Mt 12:12; Lc 4:16; At
16:13; Jo 5:17, 18)
O esforço dos adventistas em obedecer a Deus é tão óbvio que em sua literatura
denominacional há material instrutivo para a dona de casa, por exemplo, aprender a
desfrutar do sábado ao lado do Senhor Jesus, sem as atividades domésticas rotineiras (Cf.
Ex 20:11) “disputem” o mesmo espaço com o Salvador.
Em seu livro Estaré lista para el Sábado: Guía del ama de casa para lograr que el viernes
sea el día más aliviado de la semana, publicado em castelhano em 2009 pela Asociación
Casa Editora Sudamericana (Argentina), Yara Cerna Young fornece dicas muito práticas
para que as observadoras do sábado passem mais tempo com o Salvador, assim como
Maria, irmã de Marta (Cf. Lc 10:38-42).
Rinaldi poderia ter evitado seu falso julgamento (Mt 7:1, 2) se soubesse da existência
desse livro.
Curioso é que Natanael Rinaldi, que acusa aos adventistas de não guardarem o sábado,
não citou pelo menos um livro de um observador do domingo protestante, que esteja
preocupado com a maneira como o primeiro dia é observado em sua respectiva igreja.
Nisso, o catolicismo está à frente dos demais observadores do domingo, como se pode na
carta apostólica de João Paulo II, intitulada “Dies Domini”, de 31 de maio de 1998. Para ler
esta carta, clique aqui.
Mas, digamos que Rinaldi tenha razão em afirmar que os adventistas não observam o
sábado segundo a Bíblia, como também alega o Pr. Paulo Sergio Batista, outro autor que
propaga “mitos” sobre o adventismo. Será que isso desobrigaria tais apologistas de serem
obedientes a Deus? Afinal, a obrigação moral de Natanael Rinaldi e de outros críticos
é com o Criador e “Senhor do Sábado” (Is 58:13) ou com os adventistas?
Se os adventistas fossem negligentes com a observância do quarto mandamento, isso não
justificaria a rejeição do preceito por parte dos apologistas. Afinal, “cada um de nós dará
contas de si mesmo a Deus” (Rm 14:12).
A Bíblia diz que no dia santo o cristão deve adorar a Deus (Lv 23:3), deixando de lado todo
trabalho secular (Ex 20:8-11), incluindo atividades comerciais de compra e venda (Nee
13:15-22). Sabendo disso, o leitor poderá ser tentado a pensar se Natanael Rinaldi
observa com seriedade o domingo, seguindo essas diretrizes bíblicas.
É mais honesto consigo mesmo reconhecer que está transgredindo a Lei de Deus, ao
invés de justificar-se no comportamento dos outros. Apenas quando somos sinceros em
reconhecer o quanto somos pecadores, e que precisamos desesperadamente da graça de
Cristo, é que Deus ganha licença para atuar em nosso coração (Cf. Ap 3:20), e tornar o
nosso estilo de vida agradável a Ele em todos os aspectos.
A quarta discrepância é a afirmação de que “não há um só mandamento de guardar o
sábado no Novo Testamento e nem Jesus ordenou a guarda do sábado”. Esse argumento
Rinaldi pegou emprestado de Ricardo Pitrowsky, autor de o O Sabatismo à Luz da Palavra
de Deus (publicado em 1925), que, por sua vez, plagiou Dudley Marvin Canright, primeiro
grande crítico do adventismo e autor do rancoroso livro Seventh-day Adventism
Renounced (Repúdio ao Adventismo do Sétimo Dia), publicado pela primeira vez em 1889.
Isso não é de admirar por que os apologistas brasileiros que combatem o adventismo
plagiam uns aos outros e, consequentemente, propagam os “mitos” e fantasias a respeito
do adventismo. Com ajuda de Deus estou conseguindo comprovar isso em minha
dissertação de Mestrado, e espero concluí-la em breve.
Voltando à afirmação infundada de Rinaldi onde ele afirma que o mandamento do sábado
não foi repetido no Novo Testamento, percebe-se que, mesmo sendo conhecedor da
resposta de Arnaldo Benedicto Christianini a esse argumentado plagiado de Canright, o
autor não informou aos seus leitores que Christianini, em seu livro Subtilezas do Erro, no
capítulo intitulado “Desprezo ostensivo pelo quarto mandamento”, nas págs. 164 e 165
(Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1965) provou que no Novo Testamento
são mencionadas pelo menos 90 reuniões religiosas no dia se sábado, mesmo em
territórios pagãos (At 16:13). Isso prova definitivamente que o sábado não era observado
por Paulo apenas por que ele era judeu, mas, por fazer parte do estilo de vida dele.
Na referida entrevista publicada pelo CACP, o articulista se utiliza de Colossenses 2:16
para alegar que essa e outras festividades “eram restritas aos judeus e não devem ser
guardadas por nós Cristãos que vivemos dentro da nova aliança”.
Além de demonstrar desconhecimento da teologia bíblica da aliança, que, longe de tirar a
Lei de Deus da experiência da vida cristã, coloca os mandamentos como parte do estilo de
vida dos salvos (Hb 8:10), Rinaldi não considerou o mais recente estudo adventista sobre
os “sábados” em Colossenses 2:16, realizado por Ron du Preez.
Se Rinaldi tivesse lido a obra Judging the Sabbath: Discovering What Can’t Be Found in
Colossians 2:16, publicada pela Andrews University Press em 2008, saberia que uma
análise sintática, exegética e linguística comprova que o termo grego sabbaton (“sábados”)
em Colossenses 2:16 está vinculado ao texto de Oseias 2:11, que tratada de três tipos de
festas cerimoniais dos hebreus.
Na igreja de Colossos, essas três festas religiosas estavam sendo observadas no contexto
sincretista religioso e herético daqueles dias (Cf. Cl 2:18, 21-23), desconsiderando assim
que Cristo era Aquele a quem tais festas apontavam (Cl 2:17). O Salvador estava
deixando de ser o centro da experiência religiosa deles e era essa a grande preocupação
do apóstolo Paulo. Rinaldi desconsiderou esse contexto.
As festas religiosas chamadas de “sábados” nesse texto são especificamente os três
festas cerimoniais conhecidas como Trombetas, Expiação e anos Sabáticos. Preez não
chegou a essa conclusão de maneira irresponsável, mas, elaborou um estudo sério, com
base na sintaxe hebraica e grega, com o auxílio de eruditos da atualidade[6] (mesmo
sendo observadores do domingo) e de comentários bíblicos reconhecidos no âmbito
acadêmico.
A quinta afirmação insustentável é fruto de uma leitura tendenciosa da crença fundamental
número 18 dos adventistas do sétimo dia, sobre o dom de profecia na vida e obra de Ellen
White. No artigo publicado pelo CACP há apenas parte da citação que se encontra na
página 276 do livro Nisto Cremos, seguida de uma interpretação pessoal, sem que o leitor
pudesse ter a oportunidade de ler todo o texto como consta no livro
original. Natanael Rinaldi não permitiu que o leitor pensasse por si mesmo, e
comprovasse se realmente o adventismo tem os escritos de Ellen White como uma
“segunda Bíblia”.
Depois de afirmar que os escritos de Ellen White “são uma contínua e autorizada fonte de
verdade [...]”, a crença fundamental adventista é clara em dizer que, todavia, os escritos de
Ellen White “tornam claro que a Bíblia é a norma pela qual deve ser provado todo ensino e
experiência”[7]
Ou seja: os adventistas creem que o dom profético dado a Ellen White é autorizado por
que sua autoridade vem Espírito Santo (1Co 12:11; At 2:17, 18), não de Ellen White. Além
disso, a crença fundamental 18 é clara ao mostrar que os escritos de Ellen White são
testados pela Bíblia e nunca o contrário.
Se os apologistas fizessem o devido uso de fontes primárias, veriam que os adventistas
consideram Ellen White uma profetisa não canônica, assim como Natã e Gade (1Cr 29:29)
e que, mesmo tendo autoridade profética (por receber tal dom do Espírito), ela é
subordinada à Bíblia. Seus escritos, longe de acrescentar doutrinas à Palavra de Deus,
têm uma função bem diferente: levar as pessoas de volta às verdades das Escrituras.
Uma simples leitura de Primeiros Escritos, p. 78, e dos capítulos 13 e 14 do Conselhos
Para a Igreja, seriam suficientes para o apologista evitar mais essa distorção, que não
condiz com aquilo que os adventistas realmente acreditam.
Se o articulista tivesse feito uma leitura responsável do livro A Grande Esperança, teria
visto nas páginas 64 e 65, por exemplo, no capítulo “Nossa única segurança”, que Ellen
White apresenta a Bíblia como autoridade suprema, e não os próprios escritos:
“Somos encaminhados à Bíblia como a proteção contra o poder ilusório do mal [...]
Ninguém, a não ser aqueles que se fortaleceram com as verdades da Bíblia, poderá
resistir no último grande conflito [...] Mas Deus terá um povo que mantém a Bíblia, e a
Bíblia somente, como padrão de todas as doutrinas e base de todas as mudanças
[...]” (Grifos acrescentados).
PALAVRAS FINAIS
Ninguém é obrigado a concordar com todas as crenças adventistas. Entretanto, o mínimo
que um pesquisador deveria fazer é ir a fontes primárias e, na permanência de dúvidas,
entrevistar a liderança da igreja adventista para comprovar, de fato, se eles realmente
pregam heresias que contradigam as crenças ortodoxas do cristianismo.
Pelo menos nisso, Natanael Rinaldi e os demais apologistas brasileiras poderiam imitar o
exemplo do apologista Walter Martin, fundador do Instituto Cristão de Pesquisas nos EUA.
Depois de entrevistar a liderança da igreja adventista, ele concluiu que, apesar de o
adventismo possuir crenças distintivas (com as quais ele não concordava), “é
perfeitamente possível de ser um Adventista do Sétimo Dia e ser um verdadeiro seguidor
de Jesus Cristo [...]”[8]
Se ao invés de não recomendar a leitura do livro A Grande Esperança Rinaldi tivesse pelo
menos o lido atentamente, teria tido mais uma fonte primária em seu auxílio.
Consequentemente, não teria publicado cinco discrepâncias tão evidentes, que
comprometem seriamente a própria credibilidade dele como apologista diante do público
evangélico e dos membros da igreja a qual pertence.
www.leandroquadros.com.br
CeltasOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Nota: Para Celta, um carro da Chevrolet, veja Chevrolet Celta. Para grupo de línguas
homônimo, veja línguas celtas.
Distribuição diacrônica dos povos celtas::
██ núcleo do território Hallstatt, por volta do século VI a.C.
██ expansão máxima dos celtas, por volta do século III a.C.
██ área lusitana da península ibérica onde a presença dos celtas é incerta
██ as "seis nações célticas" que mantiveram um número significativo de falantes celtas na Idade Moderna
██ áreas onde as línguas celtas continuam a ser faladas hoje
Tópicos indo-europeus
Línguas indo-europeias
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Proto-indo-europeus
Língua · Sociedade · Religião
Hipóteses Urheimat
Hipótese Kurgan · Hipótese anatóliaHipótese armênia · Hipótese indiana · TCP
Estudos indo-europeus
Celtas é a designação dada a um conjunto de povos (um etnónimo), organizados em
múltiplas tribos e pertencentes à família linguística indo-europeia que se espalhou pela maior
parte do oeste da Europa a partir do segundo milénio a.C.. A primeira referência literária aos
celtas (Κελτοί) foi feita pelo historiador grego Hecateu de Miletono século VI a.C..
Boa parte da população da Europa ocidental pertencia às etnias celtas até a eventual conquista
daqueles territórios pelo Império Romano; organizavam-se em tribos, que ocupavam o território
desde a península Ibérica até a Anatólia. A maioria dos povos celtas foi conquistada, e mais
tarde integrada, pelos Romanos, embora o modo de vida celta tenha, sob muitas formas e com
muitas alterações resultantes da aculturação devida aos invasores e à posterior cristianização,
sobrevivido em grande parte do território por eles ocupado.
Existiam diversos grupos celtas compostos de várias tribos, entre eles os bretões, os gauleses,
os escotos, os eburões, os batavos, os belgas, os gálatas, ostrinovantes e os caledônios.
Muitos destes grupos deram origem ao nome das províncias romanas na Europa, as quais que
mais tarde batizaram alguns dos estados-nações medievais e modernos da Europa.
Os celtas são considerados os introdutores da metalurgia do ferro na Europa, dando origem
naquele continente à Idade do Ferro (culturas de Hallstatt e La Tène), bem como das calças na
indumentária masculina (embora essas sejam provavelmente originárias das estepes asiáticas).
Do ponto de vista da independência política, grupos celtas perpetuaram-se pelo menos até
ao século XVII na Irlanda, país onde por seu isolamento, melhor se preservaram as tradições
de origem celta.[1] Outras regiões europeias que também se identificam com a cultura celta são
o País de Gales, uma entidade sub-nacional do Reino Unido, a Cornualha (Reino Unido),
a Gália (França, e norte da Itália), o norte de Portugal e a Galiza (noroeste da Espanha). Nestas
regiões os traços linguísticos celtas sobrevivem nos topônimos, nalgumas formas linguísticas,
no folclore e tradições.
A influência cultural celta, que jamais desapareceu, tem mesmo experimentado um ciclo de
expansão em sua antiga zona de influência, com o aparecimento de música de inspiração celta
e no reviver de muitos usos e costumes conhecidos atualmente como celtismo.
Índice
[esconder]
1 Nomes e terminologia
2 A localização dos Celtas segundo os autores da Antiguidade
3 Demografia
4 História
o 4.1 Teoria centro-europeia
o 4.2 Críticas
o 4.3 Teoria da idade do bronze atlântica
5 Língua e cultura
o 5.1 Língua
o 5.2 Cultura
6 Organização social
o 6.1 Religião
7 Mitologia
8 Tribos e povos celtas
9 Figuras históricas
10 Cidades históricas
11 Ver também
12 Referências
13 Bibliografia
14 Ligações externas
[editar]Nomes e terminologia
Estela funeráriagalaica: Apana · Ambo/lli · f(ilia) · Celtica /Supertam(arica) · / [j] Miobri · /an(norum) · XXV ·
h(ic) · s(ita) · e(st) · /Apanus · fr(ater) · f(aciendum)· c(uravit) ·.
Na Antiguidade os celtas foram conhecidos por três designações diferentes, pelos
autores greco-romanos: celtas (em latim Celtae, em grego Κελτοί, transl. Keltoí); gálatas (em
latim galatae, em grego Γαλάται, transl. Galátai); e galos ou gauleses (latim gallai, galli; grego
Γάλλοί, transl. Galloí).[2] Os romanos se referiam apenas aos celtas continentais como celtae; os
povos da Irlanda e das ilhas Britânicas, nunca foram designados por celtas, nem pelos romanos
nem por si próprios,[3][4] eram chamados de Hiberni (hibérnios) e Britanni (bretões),
respectivamente, e só começaram a ser chamados de celtas no século XVI d.c..[5][6] No De Bello
Gallico, Júlio César comentou que o nome "celta" era a maneira pela qual os gauleses se
chamavam a si próprios na "língua celta" (lingua Celtae).[7][8] Pausânias comentou ainda que os
gauleses não só se chamavam a si mesmos de celtas como era também por este nome que os
outros povos os conheciam.[9] A atestar este facto temos evidência na epigrafia funerária onde
se confirma que havia povos chamados de celtas que se identificavam como tal,
nomeadamente os Supertamarici.[10] Plínio o velho registou que os habitantes
de Miróbriga usavam o sobrenome de Celtici: "Mirobrigenses qui Celtici cognominantur".[11] No
santuário de Miróbriga um habitante deixa gravado a sua origem celta:
D(IS) M(ANIBUS) S(ACRUM) / C(AIUS) PORCIUS SEVE/RUS MIROBRIGEN(SIS) /
CELT(ICUS) ANN(ORUM) LX / H(IC) S(ITUS) E(ST) S(IT) T(IBI) T(ERRA) L(EVIS [12]
A raiz do termo "celta" aparece como elemento dos nomes próprios nativos
da Gália, Celtillos, e da península Ibérica, Celtio, Celtus, Celticus; nos nomes
tribais, célticos, celtiberos; e nostopónimos, Celti, Céltica,Céltigos e Celtibéria.[13][14][15]
Existem duas principais definições do termo celta, uma dada pelos autores da Antiguidade
e uma definição moderna, criada por autores contemporâneos. A definição moderna do
termo celta tem significados diferentes em contextos
diferentes; linguistas, antropólogos, arqueólogos, historiadores, folcloristas todos o usam
de forma diferente revelando discrepâncias entre os diferentes conceitos.[16][17] A validade
de empregar o termo celta, para além da definição dada pelos autores greco-romanos da
Antiguidade, é polémica e já era contestada por autores do século XIX.[18][19][20]
Segundo os linguistas, são celtas os povos que falaram ou falam uma língua celta,[21][22][23]
[24] e, por associação, são celtas as terras onde eles vivem.[25] Segundo esta teoria, os
povos celtas que deixaram de falar uma língua celta também deixaram de ser designados
de celtas.
Em arqueologia determinou-se chamar celtas os povos que partilham uma cultura material
e um estilo de arte específico. Associam-se as culturas de Hallstatt e La Tène às culturas
celtas e proto-celtas. Definem-se como celtas os povos das áreas da Europa continental,
da Irlanda e das Ilhas Britânicas que partilharam estas culturas.[26][27][28][29]
[editar]A localização dos Celtas segundo os autores da Antiguidade
O Gaulês Agonizante, cópia romana em mármore de uma escultura helenística do século III aC.,
famosa representação de um celta. Museus Capitolinos, Roma
Século VI a. C
Os celtas são referidos pela primeira vez na literatura grega por Hecateu de Mileto. Da sua
obra sobrevivem fragmentos muito curtos sobre os celtas: escreve que o país celta fica
perto de Massalia, uma colónia de comerciantes gregos e refere-se a Narbona como
cidade de comércio celta e a Nirax como cidade celta.
Massalia: cidade da Ligúria perto do país celta, uma colónia dos foceus. Narbona: centro de comércio e cidade dos celtas. Nírax: cidade celta.
— '
Século V a.C.[30]
Segundo Heródoto, a localização dos celtas era para além dos Pilares de Hércules e
vizinha dos Conii.
Os Keltoi vivem para além dos Pilares de Hércules, sendo vizinhos dos Cynesii e são a mais ocidental de todas as nações que habitam a Europa". — Heródoto,
II, 33[31]
O rio Ister nasce na terra dos Keltoi na cidade de Pyrene e percorre o centro da Europa. Os Keltoi vivem além das colunas de Hércules, sendo vizinhos doKynesioi e são a mais ocidental de todas as nações que habitam a Europa. E assim, se estendem por toda a Europa até as fronteiras da Cítia
— Heródoto, IV, 49[32][33][34]
Século III a.C.
Eratóstenes situava os celtas na parte ocidental da Europa, segundo o comentário
de Estrabão.
Eratóstenes diz que até Gades, o exterior (SC. da Iberia) é habitado pelos gálatas; e se a parte ocidental da Europa é ocupada por eles, esqueceu-se deles na sua descrição da Ibéria, nunca faz menção aos gálatas.
— '
Século I a.C.
Diodoro refere a diferença das denominações dada aos celtas por romanos e gregos.
E agora, será útil fazer uma distinção que é desconhecida de muitos: Os povos que habitam no interior, acima de Massalia, os das encostas dos Alpes, e os deste lado das montanhas dos Pirenéus são chamados de celtas,
ao passo que os povos que estão estabelecidos acima desta terra Céltica, nas partes que se estendem para o norte, ambas ao longo do oceano e ao longo da Montanha Hercinia , e todos os povos que vêm depois destas, tão longe quanto Cítia, são conhecidos como gauleses, os romanos, no entanto, incluem todas estas nações juntando-as debaixo de um único nome, chamando-as de uma, e a todos de gauleses.
—Diodoro Sículo [35]
Sobre a terra dos Celtas
A primeira referência à terra dos celtas, Céltica, é provavelmente do geógrafo Timageto.
[...]o Fasis [e o Istro] procedem dos montes Ripeos, que são da terra keltica, e logo vão desaguar numa lagoa dos celtas
— '
Estrabão indica a informação que Ephorus possuía sobre a terra dos celtas.
Ephorus, em seus relatos, faz Céltica tão excessiva em seu tamanho, que ele atribui às regiões da Céltica a maioria das regiões, tão longe quanto Gades, no que hoje chamamos península Ibérica" — Estrabão,
IV, 4, 6
[editar]Demografia
As origens dos povos celtas são motivo de controvérsia, especulando-se que entre 1900 e
1500 a.C. tenham surgido da fusão de descendentes dos
agricultores danubianos neolíticos e de povos de pastores oriundos dasestepes.[36] Esta
incerteza deriva da complexidade e diversidade dos povos celtas, que além de englobarem
grupos distintos, parecem ser a resultante da fusão sucessiva de culturas e etnias.
Na península Ibérica, por exemplo, parte da população celta se misturou aos iberos, o que
resultou no surgimento dos celtiberos.[37][38]
Todavia, estudos genéticos realizados em 2004 por Daniel Bradley,[39] do Trinity College
de Dublin, demonstraram que os laços genéticos entre os habitantes de áreas célticas
como Gales, Escócia, Irlanda, Bretanha eCornualha são muito fortes e trouxeram uma
novidade: a de que, de entre todos os demais povos da Europa, os traços genéticos mais
próximos destes eram encontrados na península Ibérica.
Daniel Bradley explicou que sua equipe propunha uma origem muito mais antiga para as
comunidades da costa do Atlântico: há pelo menos 6000 anos ou até antes disso. Os
grupos migratórios que deram origem aos povos celtas do noroeste europeu teriam saído
da costa atlântica da península Ibérica nos finais da última Idade do Gelo e ocupada as
terras recém libertadas da cobertura glacial no noroeste europeu, expandindo-se depois
para as áreas continentais mais distantes do mar.
O geneticista Bryan Sykes confirma esta teoria no seu livro Blood of the Isles (2006), a
partir de um estudo efectuado em 2006 pela equipe de geneticistas da Universidade de
Oxford. O estudo analisou amostras de ADNrecolhidas de 10 000 voluntários[40] do Reino
Unido e Irlanda, permitindo concluir que os celtas que habitaram estas terras, —
escoceses, galeses e irlandeses —, eram descendentes dos celtas da península
Ibérica que migraram para as ilhas Britânicas e Irlanda entre 4.000 e 5.000 a. C.[41][42]
Outro geneticista da Universidade de Oxford, Stephen Oppenheimer, corrobora esta teoria
no seu livro "The Origins of the British" (2006). Estes estudos levaram também à conclusão
de que os primitivos celtas tiveram a sua origem não na Europa Central, mas entre os
povos que se refugiaram na península Ibérica durante a última Idade do Gelo.[43]
Estudos da Universidade do País de Gales defendem que as inscrições encontradas
em estelas no sudoeste da península Ibérica demonstram que os celtas do País de
Gales vieram do sul de Portugal e do sudoeste de Espanha.[44][45]
[editar]História
Distribuição dos celtas na Europa.
[editar]Teoria centro-europeia
A área verde na imagem sugere a possível extensão da área (proto-)céltica por volta
de 1000 a.C.. A área laranja indica a região de nascimento da cultura de La Tène e a área
vermelha indica a possível região sob influência céltica por volta de 400 a.C. Vestígios
associados à cultura celta remontam a pelo menos 800 a.C., no sul da Alemanha e no
oeste dos Alpes. Todavia, é muito provável que o grupo étnico celta já estivesse presente
na Europa Central há centenas ou milhares de anos antes desse período.
Durante a primeira fase da Idade do Ferro céltica (do século VIII a.C. ao século V a.C.), as
sepulturas encontradas pelos arqueólogos indicam o surgimento de uma nova aristocracia
e de uma crescente estratificação social. Essa estratificação aprofundou-se a partir
do século VI a.C., quando grupos do norte da Europa e da região oeste dos Alpes entraram
em contato comercial com as colônias gregas fundadas no Mediterrâneo Ocidental.
O intercâmbio com os gregos, que chamavam aos celtas indistintamente de keltoi, é
evidenciado pelas finas peças de cerâmica grega encontradas nos túmulos. É igualmente
provável que os gregos tenham adotado o costume de armazenar o vinho em vasos de
cerâmica após os contactos com os celtas, que já os utilizavam como forma de
armazenamento de provisões.
Gália Cisalpina 391-192 a.C.
Os objetos inumados das sepulturas comprovam que o comércio dos celtas se estendia a
regiões ainda mais afastadas, tendo sido encontradas peças de bronze de origemetrusca e
tecidos de seda seguramente oriundos da China.
A partir do século V a.C., verifica-se um deslocamento dos centros urbanos celtas, até
então localizados ao longo dos rios Ródano, Saona e Danúbio, evento associado a
segunda fase da Idade do Ferro europeia e ao desenvolvimento artístico da cultura La
Tène. As sepulturas deste período apresentam armas e carros de combate, embora sejam
menos ricas do que as do período pacífico anterior, provavelmente, reflexo da sua fase de
maior expansão, quando invadiram o sul da Europa após 400 a.C..
Em 390 a.C. os celtas invadiram o norte da península Itálica (Gália Cisalpina) e
saquearam Roma. Por volta de 272 a.C., pilharam Delfos na Grécia. As hostes celtas
conquistaram territórios na Ásia Menor, nos Balcãs e no norte da Itália, onde o contingente
mais numeroso era o dos gauleses.
A partir do século II a.C., os celtas começam a perder território para os povos de língua
germânica, e os romanos, pouco a pouco, conseguem dominá-los, o que consolidam a
partir de 192 a.C., quando anexam a Gália Cisalpina ao Império Romano.
Os golpes finais na dominância celta ocorrem no século I a.C., quando Júlio
César conquista a Gália, e no século I d.C., quando o imperador Cláudio domina
a Bretanha. Somente a Irlanda e o norte da Escócia, onde viviam os escotos,
permaneceram fora da zona de influência direta do Império Romano.
[editar]Críticas
Críticos afirmam que não há qualquer evidência linguística, arqueológica ou genética, que
comprove que as regiões onde se originaram as culturas Hallstatt ou La Tène sejam o local
de origem dos povos celtas. Indicam que este conceito deriva de um erro feito pelo
historiador Heródoto há 2500 anos, num comentário sobre os "Keltoi," onde os localizava
na nascente do rio Danúbio, a qual ele julgava ser perto dos Pirenéus.
Este erro foi depois mais tarde, em fins do século XIX, aproveitado pelo historiador francês
Marie Henri d'Arbois de Jubainville para basear a sua teoria de que Heródoto queria dizer
que a terra original dos celtas era no sul da Alemanha.[46][47]
[editar]Teoria da idade do bronze atlântica
Segundo esta teoria os celtas teriam origem no sul da península Ibérica. Baseia-se na
evidência histórica, de que Heródoto, localizava os Keltoi na Ibéria e dizia que eram
vizinhos dos Kunetes localizados na atual região doAlgarve; na hipótese da
língua tartéssica ser uma língua celta, o que indicaria que as línguas celtas ter-se-iam
originado na zona atlântica durante a Idade do Bronze; e em evidências genéticas.[48][49][50][51]
[editar]Língua e cultura
Ornamento celta da Idade do Ferro (Museu Nacional da Antiguidade, Saint-Germain-en-Laye,França).
[editar]Língua
As línguas célticas derivam de dois ramos indo-europeus do grupo denominado centum: o
celta-Q (goidélico), mais antigo, do qual derivam o irlandês, o gaélico da Escócia e alíngua
manx da Ilha de Man, e o celta-P (galo-britânico), falado pelos gauleses e pelos habitantes
da Bretanha, cujos descendentes modernos são o galês (do País de Gales) e
o bretão (na Bretanha). Os registos mais antigos escritos numa língua celta datam
do século VI a.C..[52]
As informações atualmente disponíveis sobre os celtas foram obtidas principalmente
através do testemunho dos autores greco-romanos. Isto não permite traçar um quadro
completo e imparcial do que foi a realidade quotidiana desses povos. O chamado "alfabeto
das árvores" ou Ogham surgiu apenas por volta de 400 d.C. [53]
Edward Lhuyd identificou em 1707 uma família de línguas ao notar a semelhança entre
o irlandês, o bretão, o córnico e o galês e a extinta língua gaulesa, as quais classificou
como línguas celtas. Lhuyd justificou o uso da expressão pelo fato de estas pertencerem à
mesma família linguística do gaulês e a língua gaulesa e a maioria das tribos gaulesas
terem sido chamadas de celtas.[54][55][56][57]
Fontes clássicas e arqueológicas atestam que os celtas faziam uso limitado da
escrita. Júlio César, no De Bello Gallico, comentou que os helvécios usavam o alfabeto
gregopara registar o censo da população e que os druidas recusavam-se a registar por
escrito os versos, mas que faziam uso do alfabeto grego para as transações públicas e
pessoais.[58] Diodoro disse que nos funerais os gauleses escreviam cartas aos amigos, e
jogavam-nas na pira funerária, como se elas pudessem ser lidas pelos defuntos.
[59]Já Ulpiano determina que os fidei comunis podiam ser escritos em gaulês, entre outras
línguas, o que gerou especulações de que no século III esta língua ainda seria escrita e
falada.[60]
O alfabeto ibérico foi usado para registar o celtibéro, uma língua celta da península Ibérica.
O alfabeto de Lugano e Sondrio foi usado na Gália Cisalpina e o alfabeto grego naGália
Transalpina. Variações do alfabeto latino foram usadas na península Ibérica e na Gália
Transalpina.[61] Estudos colocam a hipótese de haver uma relação entre as inscrições de
Glozel e um dialecto celta.[62][63][64]
[editar]Cultura
As manifestações artísticas celtas possuem marcante originalidade, embora denotem
influências asiáticas e das civilizações do Mediterrâneo (grega, etrusca e romana). Há uma
nítida tendência abstrata na decoração de peças, com figuras em espiral, volutas e
desenhos geométricos. Entre os objetos inumados, destacam-se peças ricamente
adornadas em bronze, prata e ouro, com incisões, relevos e motivos entalhados. A
influência da arte celta está ainda presente nas iluminuras medievais irlandesas e em
muitas manifestações do folclore do noroeste europeu, na música e arquitectura de boa
parte da Europa ocidental. Também muitos dos contos e mitos populares do ocidente
europeu têm origem na cultura dos celtas.
Alguns estereótipos modernos e contemporâneos foram associados à cultura dos celtas,
como imagens de guerreiros portando capacetes com chifres[65] e ou asas laterais
(vide Astérix),[66][67] comemorações de festas com taças feitas de crânios dos inimigos,
[68] entre outros. Essas imagens são devidas em parte ao conhecimento divulgado sobre os
celtas durante o século XIX.
Diógenes Laércio, na sua obra Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres, comenta que a
origem do estudo da filosofia era atribuída aos celtas, (entre outros povos
considerados bárbaros). O conhecimento da filosofia era atribuído aos druidas e
aos semnothei.[69]
Massalia era um conhecido centro de aprendizagem onde os celtas iam aprender a cultura
grega, a ler e a escrever.[70][71]
Entre os eruditos da antiguidade de origem celta ou oriundos das regiões celtas são
conhecidos Gneu Pompeu Trogo,[72] Marcelo Empírico,[73] Públio Valério Catão,[74] Marco
Antônio Gnífon,[75] Cornélio Galo,[76] Rutílio Cláudio Namaciano,[77] Virgílio, Vibius
Gallus [78] Tito Lívio [79] Cornélio Nepos [80] e Sidônio Apolinário.
[editar]Organização social
A rainha Maeve e um druida(ilustração de Stephen Reid paraThe Boys' Cuchulainn de Eleanor
Hull, 1904).
A unidade básica de sua organização social era o clã, composto por famílias aparentadas
que partilhavam um núcleo de terras agrícolas, mas que mantinham a posse individual do
gado que apascentavam.
Com base em estudos efectuados na Irlanda, determinou-se que a sua organização política
era dividida em três classes: o rei e os nobres, os homens livres e os servos, artesãos,
refugiados e escravos. Este último grupo não possuía direitos políticos. A esta estrutura
secular, agregavam-se os sacerdotes (druidas), bardos e ovados, todos com grande
influência sobre a sociedade.
Mais recentemente foram apresentadas novas perspectivas sobre a celtização do Noroeste
de Portugal e a identidade étnica dos Callaeci Bracari.[81] No país, os povoados castrejos do
tipocitaniense apresentavam características similares às dos povoados celtas. A citânia de
Briteiros é exemplo de um povoado com características celtas, sendo, porém, necessário
tomar esta designação no seu sentido lato: isto é - seria o local de habitação das
numerosas tribos celtizadas (celtici).[82] Tongóbriga é um sítio arqueológico situado na
freguesia de Freixo, também antigo povoado dos Callaeci Bracari..[83]
[editar]Religião
Série sobre
Mitologia celta
Politeísmo celta
Divindades celtas
Mitologia gaélica
Mitologia irlandesa
Mitologia escocesa
Mitologia hébrida
Tuatha Dé Danann
Ciclo mitológico
Ciclo do Ulster
Ciclo Feniano
Mitologia britânica
Religião britânica da Idade do Ferro
Mitologia britânica
Mitologia galesa
Mitologia bretã
Mabinogion
Livro de Taliesin
Trioedd Ynys Prydein
Vocações religiosas
Druidas · Bardos · Ovados
Festivais
Samhain, Calan Gaeaf
Imbolc, Gŵyl Fair
Beltane, Calan Mai
Lughnasadh, Calan Awst
Artigos relacionados
Esta caixa: ver • editar
Ver artigo principal: Politeísmo celta, Mitologia céltica, Druida e Homem de vime
Os celtas exaltavam as forças telúricas expressas nos ritos propiciatórios. A natureza
era a expressão máxima da Deusa Mãe. A divindade máxima era feminina, a Deusa
Mãe, cuja manifestação era a própria natureza e por isso a sociedade celta embora
não fosse matriarcal mesmo assim a mulher era soberana no domínio das forças da
natureza.[84][85] A religião celta era politeísta com características animistas, sendo os
ritos quase sempre realizados ao ar livre. Suspeita-se que algumas das suas
cerimônias envolviam sacrifícios humanos. O calendário anual possuía várias festas
místicas, como o Imbolc e oBelthane, assim como celebrações
dos equinócios e solstícios.
Embora se saiba que os celtas adoravam um grande número de divindades, do seu
culto hoje pouco se conhece para além de alguns dos nomes. Tendo um fundo
animista, a religião celta venerava múltiplas divindades associadas a atividades,
fenômenos da natureza e coisas. Entre as divindades contavam-se Tailtiu e Macha, as
deusas da natureza, e Epona, a deusa dos cavalos. Entre as divindades masculinas
incluíam-se deuses como Goibiniu, o fabricante de cerveja, e Tan Hill, a divindade do
fogo. O escritor romano Lucano faz menções a vários deuses celtas, como Taranis,
Teutates e Esus, que, curiosamente, não parecem ter sido amplamente adorados ou
relevantes.
Cernunnos (Museu da Idade Média, Paris).
Algumas divindades eram variantes de outras, refletindo a estrutura tribal e clânica dos
povos celtas. A esta complexidade veio juntar-se a plêiade de divindades romanas,
criando novas formas e designações. É nesse contexto que a deusa galo-romana dos
cavalos, Epona, parece ser uma variante da deusa Rhiannon, adorada em Gales, ou
ainda Macha, que era adorada na região do Ulster.
As crenças religiosa dos celtas também originaram muitos dos mitos europeus. Entre
os mais conhecidos está o mito de Cernunnos, também chamado de Slough Feg ou
Cornífero na forma latinizada, comprovadamente um dos mitos mais antigos da
Europa ocidental, mas do qual pouco se conhece.
Com a assimilação no Roma, os deuses celtas perderam as suas características
originais e passaram a ser identificados com as correspondentes divindades romanas.
Posteriormente, com a ascensão do Cristianismo, a Velha Religião foi sendo
gradualmente abandonada, sem nunca ter sido totalmente extinta, estando ainda hoje
presente em muitos dos cultos de santos e nas crenças populares assimilados no
cristianismo.
Com a crescente secularização da sociedade europeia, surgiram movimentos neo-
pagãos pouco expressivos, que buscam a adaptação aos novos tempos das crenças
do paganismo antigo, sendo alguns dos principais representantes a wicca e os neo-
druidas, que embora contenham alguns elementos celtas, não são célticos, nem
representam a cultura do povo celta.
A wicca tem sua origem na obra de ocultistas do século XX, como Gerald Brousseau
Gardner e Aleister Crowley. Já o neo-druidismo não tem uma fonte única, sendo uma
tentativa de reconstruir o druidismo da Antiguidade, tendo sua estruturação sido
iniciada em sociedades secretas da Grã-Bretanha a partir do século XVIII.
[editar]Mitologia
Ver artigo principal: Mitologia celta
Consideram-se três as fontes principais sobre a mitologia celta, os autores greco-
romanos, a arqueologia, e os documentos britânicos e irlandeses.
São riquíssimas as narrativas mitológicas celtas, principalmente as transmitidas
oralmente em forma de poema, como "O Roubo de Gado em Cooley". Nesta, o
herói irlandês Cú Chulainnenfrenta as forças da rainha Maeve para defender o
seu condado. Outra narrativa, do Livro das Invasões (Lebor Gabala Erren), conta
a lenda dos filhos de Míle Espáine e o seu trajecto até chegarem à Irlanda.
Outros legados dos celtas são as histórias do Ciclo do Rei Artur da Inglaterra e
relatos míticos dos quais se originaram os contos de fadas, como, por
exemplo, Chapeuzinho Vermelho (onde a menina representa o Sol devorado pela
noite do inverno, ou seja, o lobo).[86]
[editar]Tribos e povos celtas
Arvernos
Bitúrigos
Brácaros
Bretões
Brigantinos
Calaicos
Caledônios
Catuvelanos
Celtiberos
Célticos
Éduos
Gauleses
Eburões
Escotos
Helvécios
Icenos
Pictos
Suetones
Trinovantes
[editar]Figuras históricas
Ambiorix
Ambrósio
Boadicéia
Breogam
Carataco
Cartimandua
Cassivellaunus
Catelo
Cunobelin
Vercingétorix
[editar]Cidades históricas
Armagh
Caerphilly
Cardiff
Carmarthen
Numantia
Tara
Tintagel
Porto
[editar]Ver também
Arte celta
Celtismo
Cultura de Hallstatt
Cultura de La Tène
Cultura castreja
Grupos étnicos europeus
Línguas celtas
Anexo:Lista de tribos celtas
Nações celtas
Topónimos celtas em Portugal
Carbono-14Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Carbono 14)
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Índice
[esconder]
1 Datações por carbono 14
2 A radioatividade do carbono 14
3 Ocorrência
o 3.1 Em combustíveis fósseis
o 3.2 No corpo humano
4 Ver também
5 Referências
O carbono-14, C14 ou radiocarbono é um isótopo radioativo natural do elemento carbono,
recebendo esta numeração porque apresenta número de massa 14 (6 prótons e 8 nêutrons). Este
isótopo apresenta dois neutrons a mais no seu núcleo que o isótopo estável carbono-12.
Entre os cinco isótopos instáveis do carbono, o carbono-14 é aquele que apresenta a maior meia-
vida, que é de aproximadamente 5 730 anos.
Forma-se nas camadas superiores da atmosfera onde os átomos de nitrogênio-14 são
bombardeados por neutrons contidos nos raios cósmicos:
7N14 + 0n1 → 6C14 + 1H1
Reagindo com o oxigênio do ar forma dióxido de carbono ( C14O2 ), cuja quantidade permanece
constante na atmosfera. Este C14O2 , juntamente com o C12O2 normal, é absorvido
pelosanimais e vegetais sendo, através de mecanismos metabolicos, incorporados a estrutura
destes organismos. Enquanto o animal ou vegetal permanecer vivo a relação quantitativa entre
o carbono-14 e o carbono-12 permanece constante. A partir da morte do ser vivo, a quantidade
de C-14 existente em um tecido orgânico se dividirá pela metade a cada 5 730 anos. Cerca de
50 mil anos depois, esta quantidade começa a ser pequena demais para uma datação precisa.
Quando o ser vivo morre inicia-se uma diminuição da quantidade de carbono-14 devido a sua
desintegração radiativa. No carbono-14 um neutron do núcleo se desintegra produzindo
um próton ( que permanece no núcleo aumentando o número atômico de 6 para 7 ) com
emissão de uma partícula beta ( elétron nuclear ). O resultado da desintegração do neutron
nuclear do carbono-14 origina como produto o átomo de nitrogênio-14:
6C14 → 7N14 + -1β0
Como essa desintegração ocorre num período de meia-vida de 5730 anos é possível fazer
a datação radiométrica de objetos ou materiais arqueológicos com idades dentro desta
ordem de grandeza. O método não é por isso adequado à datação de fósseis que têm
idades na casa dos milhões de anos e que são datados por métodos estratigráficos e por
decaimento de outros elementos radioativos.
[editar]Datações por carbono 14
Ver artigo principal: Datação por radiocarbono
A técnica de datação por carbono-14 foi descoberta nos anos quarenta por Willard
Libby.[1] Ele percebeu que a quantidade de carbono-14 dos tecidos orgânicos mortos
diminui a um ritmo constante com o passar do tempo. Assim, a medição dos valores
de carbono-14 em um objeto antigo nos dá pistas muito exatas dos anos decorridos
desde sua morte.
Esta técnica é aplicável à madeira, carbono, sedimentos orgânicos, ossos, conchas
marinhas - ou seja todo material que conteve carbono em alguma de suas formas, e o
absorveu, mesmo que indiretamente, como pela alimentação com
organismos fotossintetizantes, da atmosfera. Como o exame se baseia na
determinação de idade através da quantidade de carbono-14 e que esta diminui com o
passar do tempo, ele só pode ser usado para datar amostras que tenham até cerca de
50 mil a 70 mil anos de idade.
Este limite de valor é dado pelos limites práticos da sensibilidade dos métodos
analíticos, que para quantidades extremamente pequenas do elemento a detectar,
passam a tornar a determinação pouquíssimo confiável ou mesmo impossível.
[editar]A radioatividade do carbono 14
Libby, que era químico, utilizou em 1947 um contador Geiger para medir a
radioatividade do C-14 existente em vários objetos. Este é um isótopo radioativo
instável, que decai a um ritmo perfeitamente mensurável a partir da morte de um
organismo vivo. Libby usou objetos de idade conhecida (respaldada por documentos
históricos), e comparou esta com os resultados de sua radiodatação. Os diferentes
testes realizados demonstraram a viabilidade do método até cerca de 70 mil anos.
Depois de uma extração, o objeto a datar deve ser protegido de qualquer
contaminação que possa mascarar os resultados. Feito isto, se leva ao laboratório
onde se contará o número de radiações beta produzidas por minuto e por grama de
material. O máximo são 15 radiações beta, cifra que se dividirá por dois por cada
período de 5.730 anos de idade da amostra.
[editar]Ocorrência
[editar]Em combustíveis fósseis
Muitos compostos químicos feitos pelo homem são feitos de combustíveis fósseis, tais
como o petróleo ou carvão mineral, na qual o carbono 14 deveria ter decaido
significativamente ao longo do tempo. Entretanto, tais depósitos frequentemente
contém traços de carbono 14 (variando significativamente, mas numa faixa de 1% da
razão encontrada em organismos vivos em quantidades comparáveis a uma aparente
idade de 40 mil anos para óleos com os mais altos níveis de carbono 14) [2]. Isto pode
indicar possível contaminação por pequenas quantidades de bactérias, fontes
subterrâneas de radiação (tais como o decaimento de urânio, através de taxas de14C/U
medidas em minérios de urânio[3] que implicariam aproximadamente em um átomo de
urânio para cada dois átomos de urânio de maneira a causar a taxa medida de
10−15 14C/12C), ou outras fontes secundárias desconhecidas de produção de carbono
14. A presença de carbono 14 na assinatura isotópica de uma amostra de material
carbonácio possivelmente indica sua contaminação por fontes biogênicas ou o
decaimento de material radioativo no estrato geológico circundante.
[editar]No corpo humano
Dado que essencialmente todas as fontes de alimentação humana são derivadas das
plantas, o carbono que compõe nossos corpos contém carbono 14 na mesma
concentração da atmosfera. Os decaimentos beta de nosso radiocarbono interno
contribui com aproximadamente 0,01 mSv/ano (1 mrem/ano) para cada dose pessoal
de radiação ionizante.[4] Isto é pequeno comparado à doses de potássio 40 (0,39
mSv/ano) e radônio (variável). Carbono 14 pode ser usado como um traçador
radioativo em medicina. Na variante inicial do teste respiratório com uréia, um teste
diagnóstico para Helicobacter pylori, uréia etiquetada (marcada) com
aproximadamente e 37kBq (1.0 µCi) de carbono 14 é fornecida ao paciente. No caso
de uma infecção por H. pylori, a enzima urease bacterial quebrará a uréia
em amônia e dióxido de carbono marcado radioativamente, o qual pode ser detectado
por contagem de baixo nível na respiração do paciente.[5] O teste respiratório de uréia
com C14 tem sido grandemente substituído pelo teste respiratório de uréia com C13 o
qual não apresenta questões relacionadas à radiação.