neurocisticercose humana e sua relaÇÃo com epilepsia … · 2020-05-23 · epilepsia...
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IBMR- LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES
Sylvia Vieira de Freitas Guimarães
NEUROCISTICERCOSE HUMANA E SUA RELAÇÃO COM
EPILEPSIA NA AMÉRICA: ESTUDO DE REVISÃO.
Rio de Janeiro
2016
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SYLVIA VIEIRA DE FREITAS GUIMARÃES
NEUROCISTICERCOSE HUMANA E SUA RELAÇÃO COM
EPILEPSIA NA AMÉRICA: ESTUDO DE REVISÃO.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao IBMR– Laureate International
Universities, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em
Biomedicina.
IBMR- LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES
Orientador: Prof. Dr. Julio Vianna Barbosa
Rio de Janeiro
2016
Sylvia Vieira de Freitas Guimarães
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Neurocisticercose humana e sua relação com epilepsia na América: estudo
de revisão.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Centro Universitário Hermínio da Silveira
– IBMR – Laureate International Universities,
como requisito parcial para a obtenção do
grau de Bacharel em Biomedicina.
Aprovada em ___ de ______________ de 2016.
BANCA EXAMINADORA
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Dedico este trabalho à minha família e a todos os meus
amigos que me apoiaram com todo carinho e afeto.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao meu pai e a minha mãe por apoiarem as minhas decisões, por
todo suporte, amor e carinho dados ao longo do curso e de toda a minha vida.
Ao programa de graduação do IBMR - Laureate International Universities e seus
coordenadores por me proporcionarem ao longo desses anos um ambiente rico em
informações relevantes e relações duradouras.
Um agradecimento especial ao meu orientador professor doutor Julio Vianna Barbosa pela
sua dedicação e incentivo não só nesse trabalho mas ao longo de toda graduação. Ter você
como professor fez toda diferença na minha formação acadêmica. Obrigada.
A professora Tatiana Fulco, suas aulas foram fundamentais para colocar minhas ideias no
lugar e concluir esse trabalho com satisfação.
Ao professor Daniel Pereira Reynaldo, pelo incentivo e apoio, me apresentando oportunidades
que foram fundamentais para minha formação acadêmica e pessoal.
A todos os professores do curso de graduação que através das disciplinas contribuíram para a
minha formação.
Ao professor Mauricio Cupello Peixoto pelas valiosas observações durante o
desenvolvimento deste trabalho.
A Cecilia e Marcelo, por sempre me acolherem e cuidarem de mim sendo sempre meu porto
seguro. Malu e Marcela, obrigada por me ajudarem a ter novos sonhos. Manoela mesmo longe
na reta final, obrigada por sempre estar presente com todo seu carinho e afeto. Vinicius,
obrigada pela amizade de sempre.
Maria Leticia, muito obrigada por tudo. Por partilhar um momento incrível e cheio de
desafios na Espanha e pela ajuda e incentivo absurdamente necessários nessa trajetória.
Quanto aos amigos que eu ganhei na faculdade, obrigada pelo carinho principalmente agora
no final.
Muito Obrigada.
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RESUMO
A neurocisticercose (NCC) é a doença parasitária mais importante que acomete o sistema
nervoso central. É causada pela ingestão acidental de ovos da Taenia solium, através da
eliminação fecal dos ovos por portadores do parasita em sua forma adulta, mostrando a
importância do complexo teníase/cisticercose. Estima-se que 75 milhões de pessoas vivem em
regiões endêmicas e que aproximadamente 400 mil pessoas possuem NCC sintomática. É
uma doença comum em países em desenvolvimento e calcula-se ser responsável por cerca de
50% dos casos de epilepsia adquirida em regiões endêmicas, sendo um problema significativo
de saúde. Esse artigo de revisão teve como objetivo verificar a distribuição epidemiológica da
neurocisticercose relacionando-a com a alta incidência de epilepsia na América Latina.
Conclui-se que a notificação obrigatória facilitaria a obtenção de dados para entender melhor
como fazer controle do complexo teníase/cisticercose, reduzindo de forma significativa o
número de casos de epilepsia adquirida em países em desenvolvimento, assim como o de
cisticercose em regiões não endêmicas, sejam elas dentro de um mesmo país ou não.
Palavras-chave: Neurocisticercose; Epilepsia; América; Epidemiologia
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ABSTRACT
Neurocysticercosis is the most important parasitic disease that affects the central nervous
system. It is caused by the ingestion of eggs of Taenia solium through the fecal elimination of
eggs by the carrier of the parasite in its adult form, showing the importance of the
taeniasis/cysticercosis complex. It is estimated that 75 (seventy five) million people live in
endemic regions and that approximately 400 (four hundred) thousand people have
symptomatic NCC. It is a common disease in developing countries e it is calculated to be
responsible for at least 50% of acquired epilepsy in endemic regions, being a significant
health issue. This revision article had the purpose of verifying the epidemiology distribution
of the neurocysticercosis relating it to the high incidence of epilepsy in Latin America. It is
possible to conclude that the obligatory notification would ease the acquirement of data to
better understand how to make control of the taeniasis/cysticercosis complex, reducing
significantly the numberof cases of acquired epilepsy in developing countries, as well as in
non-endemic regions, being inside the same country or not.
Key words: Neurocysticercosis; epilepsy; America; epidemiology
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Morfologia da Taenia........................................................................................................ 12
Transmissão e ciclo biológico da T. solium...................................................................... 13
Endemicidade mundial da T. solium................................................................................. 17
Prevalência de LTE e de AE por 1000, prevalência de NCC por TC e 95% de intervalo
de confiabilidade em países da América Latina................................................................
21
Número e taxa de hospitalizações por NCC nos Estados Unidos, por grupo
demográfico, 2003-2012....................................................................................................
27
Número de hospitalizações por valores em milhões de dólares........................................ 28
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
AE – epilepsia ativa do inglês active epilepsy
DTN – doença tropical negligenciada
EITB – Eletroimuno-transferencia Blot
IC – índice de confiabilidade
LTE – o tempo de vida da epilepsia do inglês lifetime epilepsy
NCC – Neurocisticercose
OMS – Organização Mundial de Saúde
SNC – Sistema Nervoso Central
T. saginata – Taenia saginata
T. solium – Taenia solium
TC – tomografia computadorizada
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................9
2. MÉTODO ............................................................................................................................11
3. REVISÃO DA LITERATURA .........................................................................................12
3.1 Ciclo Biológico da Taenia ...........................................................................................12
3.2 Cisticercose em hospedeiros intermediários não humanos ....................................14
3.3 Cisticercose Humana .................................................................................................15
3.4 Neurocisticercose ........................................................................................................16
3.5 Epilepsia ......................................................................................................................18
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................20
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................29
6. REFERENCIAS .................................................................................................................31
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1. INTRODUÇÃO
A Taenia solium (T. solium) é uma zoonose responsável pela cisticercose suína, teníase
e neurocisticercose (NCC) humana, e constituem um problema grave para saúde pública. A
NCC é definida como uma infecção do sistema nervoso central por formas larvárias da T.
solium, e é considerada a doença neurológica parasitaria humana mais importante, sendo
apontada como causa comum de epilepsia na América Latina. É adquirida pela ingestão de
ovos de T. solium eliminados via fecal pelos portadores de teníase. Constitui a complicação
mais importante do complexo teníase/cisticercose (ROMÁN et al,. 2000). A incidência de
NCC está relacionada a fatores culturais, de saneamento básico e também ao sistema precário
de criação de suínos e de não inspeção da carne (SILVA et al, 2007).
Estima-se que cerca de 75 milhões de pessoas vivem em áreas onde a cisticercose é
endêmica, e que aproximadamente 400 mil possuem NCC sintomática (BERN et al., 1999).
Pesquisas recentes mostram que a NCC representa um problema significativo de saúde em
regiões endêmicas, sendo causador de epilepsia adquirida em 0,6-1,8% da população. O que
indica que entre 450 mil e 1,35 milhões de pessoas são acometidas por epilepsia devido a
NCC apenas na América latina. (BRUNO et al., 2013)
A epilepsia é uma das doenças neurológicas não transmissíveis mais prevalentes no
mundo. Afeta aproximadamente 70 milhões de pessoas, sendo pelo menos 5 milhões na
América Latina. Bruno e colaboradores (2013) mostraram distribuições diferentes de epilepsia
em países da América Latina, com algumas regiões apresentando frequências mais altas,
sendo elas geralmente em regiões rurais. Essa diferença de frequência pode ser justificada por
várias causas, sendo as principais relacionadas à presença de fatores de risco ambientais
infecciosos e disponibilidade de recursos para saúde.
A classificação etiológica das epilepsias pode ser dividida em 4 categorias principais:
epilepsia idiopática, considerada de origem predominantemente genética e hereditária;
epilepsia sintomática, que está dividida em duas partes, uma é a adquirida que inclui causas
externas ou ambientais e a outra que inclui causas genéticas ou do desenvolvimento; epilepsia
provocada, causada predominante por um fator ambiental ou sistêmico especifico; epilepsia
criptogênica, presumidamente sintomática, sem causa identificada (SHORVON, 2011).
A incidência elevada de epilepsia em países em desenvolvimento pode ser
significativamente atribuível à epilepsia sintomática adquirida, que pode ser causada por
diversas doenças infecciosas e parasitárias, pouco existente em países desenvolvidos e
industrializados. Um exemplo de doença parasitária encontrada com frequência em pessoas
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com epilepsia adquirida em países em desenvolvimento é a NCC (SCOTT, LHATOO &
SANDER, 2001).
Portanto, o estudo tem como objetivo contribuir para o conhecimento da distribuição
epidemiológica da neurocisticercose na América Latina, relacionando esta doença com a
incidência de epilepsia adquirida e analisando a sua distribuição.
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2. MÉTODO
Para o desenvolvimento desse artigo foi utilizado o site de pesquisas bibliográficas
“PubMed” e 5 livros didáticos referentes ao tema, sendo incluídos artigos publicados em
outros anos devido a sua importância como referência ao tema. Os artigos encontrados foram
impressos ou mantidos em formato “pdf” para leitura e consulta. Foram pesquisados os
seguintes descritores referentes ao tema: Neurocisticercose; Epilepsia; América;
Epidemiologia.
A revisão abrange a pesquisa seguindo os critérios de inclusão e exclusão dos artigos,
sendo selecionados artigos no período de 2012 a 2016. Foram encontrados 22 artigos, dos
quais 17 selecionados, pois eram artigos com acesso livre. Desses, somente 11 foram
selecionados e 6 excluídos por serem de locais fora da América Latina ou por serem de
aspectos muito específicos de uma determinada característica da patologia.
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3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Ciclo Biológico da Taenia
As espécies de T. solium e T. saginata são helmintos da classe Cestoda e apresentam o
corpo em forma de fita segmentada. As duas podem parasitar o homem em sua fase adulta
(SILVA, 2011).
A T. solium pode medir de 3 a 5 metros de comprimento. Sua cabeça ou escólex possui
4 ventosas e o rostro, com dupla coroa de ganchos. Possui também o colo, parte mais delgada
do corpo onde se localiza a zona de formação das proglotes, e o estróbilo com o restante do
corpo do parasito, onde cada seguimento formado é uma proglote.
Já a T. saginata mede de 6 a 7 metros de comprimento e não possui ganchos no rostro,
possuindo também colo e estróbilo (Figura 1). A eliminação das proglotes gravídicas no caso
da T. solium são realizadas junto as fezes, podendo muitas vezes passar despercebidas pelo
hospedeiro, o que não ocorre no caso das proglotes da T. saginata, que são notadas pelo
hospedeiro e eliminadas ativamente graças a sua musculatura (PFUETZENREITER &
ÁVILA-PIRES, 2000 ; SILVA, 2011).
Figura 1: Morfologia da Taenia (Retirado de http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Reinos2/Teniase.php ).
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Reinos2/Teniase.php
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As proglotes são classificadas em jovens, maduras e gravídicas. A medida que as
proglotes vão se distanciando do escólex, nota-se que vão ficando mais compridas e largas, e
os seus órgãos reprodutores modificam-se e ficam repletos de ovos. Entretanto, apenas 50%
desses ovos são maduros ou férteis (SILVA, 2011).
O homem pode abrigar a Taenia por muitos anos no intestino delgado, durante seu
ciclo evolutivo liberando suas proglotes que contaminam o meio ambiente durante esse
período. No caso da T. solium são liberadas de 3 a 6 proglotes gravídicas diariamente e cada
uma delas contendo em media de 30 mil a 50 mil ovos e, no caso da T. saginata contendo em
torno de 80 mil ovos sendo que um paciente pode liberar no meio ambiente cerca de 700 mil
ovos por dia (REY, 1992).
O ciclo de vida da Taenia envolve 3 hospedeiros (Figura 2): os seres humanos, que são
os únicos hospedeiros definitivos para Taenia adulta; os bovinos, que são os hospedeiros
intermediários da forma larval da T. saginata; e os suínos, que assim como os seres humanos
podem atuar como hospedeiros intermediários da T. solium na forma larval, chamada
cisticerco (BRUNO et al, 2011; PFUETZENREITER & ÁVILA-PIRES, 2000).
Figura 2: Transmissão e ciclo biológico da T. solium (Modificado de: http://www.who.int/taeniasis/taenia
_solium_ transmission_life_cycle.png?ua=1)
A teníase ocorre quando o ser humano ingere carne suína ou bovina contaminada crua
ou mal cozida contendo cisticercos. Durante a digestão, com a ação dos sais biliares, o
http://www.who.int/taeniasis/taenia%20_solium_%20transmission_life_cycle.png?ua=1http://www.who.int/taeniasis/taenia%20_solium_%20transmission_life_cycle.png?ua=1
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escólex desenvagina e fixa-se na parede do intestino delgado, tendo as primeiras proglotes
eliminadas entre 60 e 70 dias após a ingestão (PFUETZENREITER & ÁVILA-PIRES, 2000).
Estão mais propensas à teníase pessoas que provam a carne antes de cozinhar e que se
alimentam fora de casa. Fatores culturais como hábitos alimentares, econômicos e religiosos
podem expor mais ou menos certos grupos de indivíduos, como por exemplo culturas em que
na culinária tradicional utilizam carne crua, como os árabes com quibe cru. (REY, 1992).
A teníase pode ser assintomática em alguns pacientes, já em outros pode manifestar
alterações no apetite, dor abdominal, diarreia, náusea, vomito, perda de peso, irritabilidade e
fadiga (PFUETZENREITER & ÁVILA-PIRES, 2000).
O seu diagnostico pode ser realizado através de exame parasitológico de fezes para
verificação de proglotes e ovos, e também através da técnica da fita gomada para verificação
de ovos na região perianal. Os ovos de T. solium e T. saginata não podem ser diferenciados
por microscopia óptica. Ambas as espécies de Taenia estão espalhadas em todo mundo, se
mostrando endêmicas na América latina e no Brasil, com uma frequência média de 3% entre
os anos de 1986 e 1989 (PFUETZENREITER & ÁVILA-PIRES, 2000).
3.2 Cisticercose em hospedeiros intermediários não humanos
A cisticercose bovina ocorre quando o boi, hospedeiro intermediário da T. saginata,
ingere os ovos da mesma, que podem estar dispersos no ambiente ou na água. Desenvolvendo
no boi a forma larvar, Cysticercus bovis, produzindo a cisticercose no animal
(PFUETZENREITER & ÁVILA-PIRES, 2000).
O homem é o único hospedeiro definitivo que abriga o parasita adulto tanto da T.
solium quanto da T. saginata, enquanto na fase larvária os cisticercos podem não ser
exclusivos dos hospedeiros intermediários. No caso do homem, esse se torna hospedeiro
intermediário aberrante quando ocorre a ingestão acidental de ovos da T. solium. Segundo
alguns autores, a cisticercose humana pela T. saginata não ocorre ou é muito rara
(PFUETZENREITER & ÁVILA-PIRES, 2000).
A doença nos suínos ocorre devido à ingestão de ovos de T. solium presentes no meio
ambiente contaminado por fezes de humanos parasitados pela forma adulta da Taenia. Os
suínos apresentam apenas a forma larvar, Cysticercus cellulosae, estes cisticercos podem ser
encontrados em diferentes locais, mas principalmente no tecido celular subcutâneo, muscular,
cardíaco, cerebral e no próprio globo ocular dos suínos. (GERMANO et al., 2015)
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A cisticercose suína é prejudicial às economias locais, em que os porcos fornecem uma
importante fonte de proteína e dinheiro. Pequenos proprietários tem uma criação mais livre
dos seus porcos, o que é importante para a disseminação, já que os ovos da T. solium estão
presentes no ambiente, podendo infectar os porcos, o que acarreta preço reduzido da venda ou
confisco da mercadoria (O’NEAL, WINTHROP, & GONZALEZ, 2011).
Intervenções que empobrecem ainda mais os pequenos proprietários não devem ser
feitas ou podem ter consequências inesperadas, como por exemplo o confisco de mercadoria,
podendo encorajar a venda ilegal de carne de animas contaminados introduzindo abatedouros
clandestinos, visando recuperar algum valor a partir do animal. Todas essas questões
dificultam ainda mais a solução da doença em zonas endêmicas (O’NEAL, WINTHROP, &
GONZALEZ, 2011).
A cisticercose suína é uma das preocupações dos criadores de médio e grande porte,
pois a sua ocorrência traz prejuízo na hora do abate e inspeção veterinária. No entanto a maior
preocupação é com os negócios de pequeno porte, pelo desconhecimento, ausência de higiene,
inexistência de saneamento e precária condição da criação dos animais, que são responsáveis
pelo alto índice de infecção nos suínos desses locais (GERMANO et al., 2015).
3.3 Cisticercose Humana
A cisticercose humana ocorre através da ingestão de ovos de T. solium, seja por
consumir vegetais frescos, carne crua ou água, o homem pode se transformar em hospedeiro
intermediário aberrante, desenvolvendo cisticercose. (OLIVEIRA & BEDAQUE, 2011)
Quando o homem ingere acidentalmente os ovos de T. solium, esses chegam ao
estômago, tendo a camada de quitina desgastada pelo ácido gástrico. No intestino delgado os
sais biliares permitem a liberação das oncosferas, que através das vilosidades passam por
vênulas, veias e linfáticos chegando à circulação geral, possibilitando o alcance de todo
organismo, de preferência tecidos com alta oxigenação para desenvolver e atingir a condição
larval (cisticerco). O local que apresenta maior incidência é o sistema nervoso central (SNC).
Cerca de 50% das pessoas contaminadas apresentam cisticercos nesse local. Também podem
ser encontrados com menor frequência na musculatura esquelética e no tecido celular
subcutâneo. Geralmente os cisticercos são múltiplos, podendo variar em até centenas de casos
de infestação visto em crianças. (OLIVEIRA & BEDAQUE, 2011)
Além da heteroinfecção que é a mais comum, decorrente de ingestão acidental dos
ovos do parasito, também podem ocorrer outros dois tipos de infecção. A autoinfecção
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externa, que ocorre através da ingestão de ovos de Taenia pelo próprio portador de teníase,
seja por maus hábitos de higiene, ou pelo paciente ser uma criança, ou ter algum déficit
mental. A autoinfecção interna, que ocorre em consequência de movimentos antiperistálticos
ou vômito, quando algumas proglotes gravídicas podem fazer o caminho inverso e voltar para
o estomago permitindo que um número grande de ovos viáveis desenvolvam cisticercos muito
numerosos e de ampla disseminação pelo corpo do hospedeiro (REY, 2008).
A manifestação clinica assim como o período de infecção são variáveis. A expressão
clinica vai depender do tamanho, quantidade e localização dos cisticercos além da resposta
imune do hospedeiro (DEL BRUTTO et. al., 1996). Quando os cisticercos se alojam em
músculos e em formas subcutâneas geralmente são assintomáticas, mas quando se alojam no
SNC levam ao quadro conhecido como NCC, podendo ocorrer manifestações clinicas severas
(BOUTEILLE, 2014).
3.4 Neurocisticercose
A neurocisticercose pode ocorrer devido à infestação do SNC por cisticercos de T.
solium no parênquima cerebral, espaço subaracnoide e ventrículos, gerando uma variabilidade
de sintomas. As características clinicas da NCC vão depender principalmente do número, tipo,
tamanho, localização e do estágio de desenvolvimento do cisticerco, assim como da resposta
imunitária do hospedeiro. (TAKAYANAGUI & ODASHIMA, 2006). A NCC é a doença
parasitária que mais ocorre no SNC e é considerada a mais grave, resultando em um
importante problema de saúde pública em regiões endêmicas para T. solium (figura 3).
(PFUETZENREITER & ÁVILA-PIRES, 1999).
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Figura 3: Endemicidade mundial da T. solium (Adaptada de: http://www.who.int/taeniasis/Endemicity_Taenia_
Solium_2015.jpg?ua=1)
O cisticerco consiste de duas partes: a vesícula e o escólex. Após a sua implantação no
SNC, os cisticercos vão passar por uma seria de etapas, nas quais vão ser diferenciadas por
características morfológicas e diferentes reações inflamatórias. A primeira etapa é a vesicular,
que ocorre logo depois da sua implantação, em que o cisticerco é viável, o liquido vesicular é
claro e a membrana é translucida. Nessa fase o cisticerco pode permanecer viável durante
anos ou por ação do sistema imunológico entrar em um processo de degeneração ou etapa
coloidal, na qual a resposta imune do hospedeiro desencadeia a degeneração hialina do
escoléx e o liquido se torna turvo. Na etapa granular, a parede do cisto fica mais espessa e o
escólex se mineraliza tomando aspecto de grânulos, nessa etapa ele já não é mais viável. No
estágio final o parasita se torna um nódulo calcificado (ESCOBAR, 2002; OLIVEIRA &
BEDAQUE, 2011).
Quanto à sintomatologia ao longo das fases do cisticerco, os pacientes em geral
costumam apresentar-se assintomáticos na fase vesicular. Na etapa coloidal os pacientes
frequentemente se encontram sintomáticos, apresentando como sintoma mais comum as crises
epiléticas e encefalopatias. Na etapa granular o processo inflamatório tende a regredir fazendo
com que os sintomas da fase aguda regridam, e quando chegam a fase calcificada os pacientes
normalmente se apresentam assintomáticos, a não ser em relação à hidrocefalia, pela fibrose
meningea, e a epilepsia ou gliose residual. (AUGUSTO & ELENI, 2011). No entanto muitas
pessoas com NCC são assintomáticas, e quando sintomáticas as manifestações clinicas mais
http://www.who.int/taeniasis/Endemicity_Taenia_
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comuns são a epilepsia, hipertensão intracraniana, déficit neurológico (TAKAYANAGUI &
ODASHIMA, 2006). O tratamento pode ser feito por 3 vias: cirúrgica, quimioterápica e a dos
tratamentos sintomáticos (REY, 2008).
Pode-se perceber um sério problema na saúde pública, tendo em vista que a doença
afeta de 20% a 50% de indivíduos acometidos por epilepsia tardia em todo mundo, sendo
mais de 400 mil casos sintomáticos na América Latina. Estima-se que 80% das pessoas,
dentro de um grupo de no mínimo 50 mil, que sofrem de ataques epiléticos, vivem em países
em desenvolvimento com grande chance se serem endêmicos para T. solium, que está
associada a neurocisticercose (WHO, 2010).
3.5 Epilepsia
De acordo com Yacubian (2002), as crises epilépticas ocorrem devido a um distúrbio
cerebral que acontece em decorrência da manifestação excessiva e/ou hipersincrona
proveniente das atividades cerebrais, geralmente autolimitadas de neurônios. Segundo a
Classificação Internacional das Crises Epilépticas de 1981 encontramos 3 tipos de crise: as
parciais, que ficam limitada apenas a uma parte de um hemisfério cerebral e se dividem em
parcial simples, havendo preservação da consciência e parcial complexa, em que o indivíduo
apresenta comprometimento da consciência. As crises generalizadas, que envolvem ambos os
hemisférios cerebrais e as crises não classificadas, que não se enquadram em nenhum dos dois
tipos apresentados.
Segundo Scott, Lhatoo & Sander (2001) existem no mundo mais de 50 milhões de
pessoas com epilepsia, sendo os países em desenvolvimento os mais afetados, calculando um
número cerca de 4/5 ou mais dentro da estimativa mundial. Observando que
aproximadamente 90% das pessoas que vivem em países em desenvolvimento não recebem o
tratamento adequado, possuindo uma qualidade de vida menor do que de pessoas que
possuem outras doenças crônicas.
Em estudos realizados foi mostrada uma taxa de prevalência de epilepsia ativa que
varia de 5 a 10 casos a cada 1000 pessoas que vivem em países em desenvolvimento. A
incidência anual de epilepsia em países em desenvolvimento pode chegar a 190 a cada 100
mil pessoas, sendo ela um problema de saúde e sócio econômico significativo e que requer
atenção. Comparando a países industrializados encontramos uma incidência menor, entre 50 e
70 casos a cada 100 mil pessoas (SCOTT, LHATOO & SANDER, 2001).
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A alta incidência de epilepsia pode ser devido a uma quantidade significativa de casos
de epilepsia sintomáticas, que pode ser causada por uma série de doenças parasitarias e
infecciosas, sendo a NCC encontrada frequentemente em pessoas com epilepsias em países
em desenvolvimento. Um estudo concluiu que a NCC é uma das principais causas de
epilepsia da América Latina (GARCIA et al., 1999).
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com o intuito de definir a incidência de epilepsia em países da América Latina e
investigar sua associação com a NCC, que é considerada uma das principais causas da mesma
em países em desenvolvimento, foi realizado um estudo de revisão sistemática e metanálise
da literatura, coletando-se dados até 2012. Foi verificada uma alta incidência de epilepsia e
NCC na América Latina e uma associação consistente entre as duas (BRUNO et al., 2013).
Estudos epidemiológicos em todo o mundo tem relatado a importante diferença na
estimativa da prevalência e incidência da epilepsia, mostrando o tempo de vida da epilepsia,
que significa pessoa que já tenha recebido em qualquer momento da vida um diagnostico de
epilepsia (do inglês lifetime epilepsy – LTE), que varia de 5.8 / 1.000 (variação 2.7 – 12.4) em
países em desenvolvimento a 15.5 / 1.000 (variação 4.8 – 49.6) em áreas rurais de países em
desenvolvimento. Variações semelhantes são observadas para a prevalência de epilepsia ativa,
que significa que a pessoa teve ao menos uma crise epiléptica nos últimos 5 anos (do inglês
active epilepsy - AE) e para sua incidência.
Na América Latina a média da prevalência de LTE varia de 6 / 1.000 a 43.2 / 1.000; já
a prevalência de AE de 5.1 / 1.000 a 57 / 1.000, indicando grande variabilidade, que pode ser
explicada por fatores relacionados ao desenvolvimento e recursos disponíveis do país,
limitando os estudos. Porém, a distribuição de fatores biológicos e ambientais relacionados à
epilepsia, como infecções do SNC, podem ser importantes para explicar a variabilidade,
especialmente em países com recursos limitados (BRUNO et al., 2013).
Os resultados encontrados nos países da América Latina, associando NCC e pessoas
com epilepsia, foram de 32,3% (IC 95% 26,0 – 39,0) por tomografia computadorizada (TC) e
19,6% (índice de confiabilidade - IC 95% 14,8 – 24,9) pela prova sorológica de Eletroimuno-
transferencia Blot (EITB). Na área rural foi encontrada uma proporção ainda maior, 37,5% de
TC e 23,7% de EITB contra 29,4% de TC e 12,1% de EITB relatados em áreas urbanas. Os
resultados da meta- análise por país são ilustrados na figura 4. (BRUNO et al., 2013).
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Figura 4: Prevalência de LTE e de AE por 1000, prevalência de NCC por TC e 95% de intervalo de
confiabilidade em países da América Latina (Retirado de: BRUNO et al., 2013).
A conclusão do estudo realizado por Bruno e colaboradores (2013), foi que a NCC
influencia a frequência de epilepsia na América Latina, sendo visto que os países com maior
incidência de epilepsia também apresentaram maior frequência de NCC, apontando a relação
entre as duas doenças em outra análise. É um resultando importante já que as infecções
parasitárias ocorrem por fatores modificáveis, o que poderia reduzir a carga de epilepsia
mundialmente.
Ainda discutindo estudos recentes realizados na América Latina, no Equador a NCC
foi apontada como causadora de pelo menos metade ou um terço dos casos de epilepsia
adquirida. Com uma média de 480 pessoas sendo hospitalizadas por ano devido à NCC e
1670 devido à epilepsia, onde em ambas a notificação é obrigatória. Destaca-se que embora o
país possua equipamento para o diagnóstico de prováveis causas da epilepsia adquirida,
doenças parasitarias e infecciosas, esses não são usados. Devido ao alto custo, o que pode
mascarar o resultado, ou seja, podem existir mais casos de epilepsia que não são associados à
NCC. Como exemplo mais de 82% dos casos de epilepsia permanecerem com causa
desconhecida devido à falta de um diagnóstico laboratorial, assim como acontece na maioria
dos países endêmicos para NCC. A observação pertinente encontrada no estudo foi que nas
últimas três décadas observou-se uma tendência decrescente nos casos de hospitalização
devido à NCC no Equador, em função da melhoria das condições sanitárias do país e maior
investimento na saúde (RON-GARRIDO et al., 2015).
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No México foi realizado o primeiro estudo a fim de medir o impacto da NCC
relacionando às duas manifestações clinicas mais comuns: epilepsia e dores de cabeça
crônicas severas. Esse estudo foi realizado para saber quantos anos de vida são perdidos por
consequência da NCC sintomática. O resultado encontrado foi que aproximadamente 0,14%
da população total do México foi considerada ter epilepsia e 0,08% com cefaleia crônica
severa, ambas associadas à NCC, sugerindo que anos de vida saudáveis estão sendo perdidos
devidos à essa doença no México. (BHATTARAI et al., 2012).
Foram encontrados 4 trabalhos sobre esse tema realizados no Peru. O’Neal e
colaboradores (2012) tiveram como objetivo determinar se suínos com língua positiva para
cisticerco poderiam indicar um foco geográfico de alto risco para teníase, com o interesse de
orientar esforços de rastreamento direcionados, visando utilidade na intervenção para
controlar o parasita causador da NCC. De um total de 548 suínos, 46,7% foram positivos para
o anticorpo da cisticercose utilizando EITB; das 402 amostras fecais de humanos, 1,5% foram
positivas para Taenia sp.. Foi constatado que a prevalência de teníase foi 8 vezes maior entre
pessoas que vivem a uma distância menor de 100 metros de um porco com a língua positiva
para cisticercose, do que uma pessoa que vive fora dessa faixa. Os resultados se mostraram
positivos quanto a uma triagem seletiva ou tratamento presuntivo para teníase nesses focos de
alto risco, mostrando que pode ser uma intervenção de controle prático, viável e eficaz em
áreas endêmicas.
Em outro estudo, realizado em 58 comunidades rurais do peru com o objetivo de
analisar a prevalência e as características da epilepsia e convulsões epilépticas nessa região
endêmica, foi aproveitada a realização de um programa de eliminação de cisticercose, onde
17.452 habitantes (86,41% da população total da comunidade, maiores de 2 anos)
concordaram em participar do estudo. A prevalência durante o tempo de vida da epilepsia foi
de 17,25 a cada 1000 indivíduos, e a prevalência de epilepsia ativa foi de 10,8 a cada 1000
indivíduos. Aproximadamente 40% dos indivíduos com epilepsia apresentaram anticorpos
para cisticercose. A TC mostrou imagens compatíveis com NCC em 39% dos indivíduos com
epilepsia, sendo soropositivos todos que apresentaram parasitas viáveis (MOYANO et al.,
2014).
Ainda no Peru, em 2014, foi publicado um trabalho que teve como objetivo coletar
dados sobre a prevalência de T. solium em sete comunidades rurais no norte do país. Foram
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utilizados voluntários do Corpo da Paz que vivem e trabalham nessas comunidades, para
facilitar a coleta de amostra de fezes. Esse estudo foi realizado, pois a T. solium aumenta o
risco de NCC não apenas para o portador de teníase, mas também para pessoas com quem ele
convive. O artigo ainda cita a NCC como principal causa de epilepsia adquirida no adulto em
todo mundo e como essa tem se apresentado como um problema de saúde publica cada vez
mais importante em países desenvolvidos com populações imigrantes. Como resultado do
estudo foram encontradas amostras de ovo de Taenia sp. em três das sete comunidades
pesquisadas, com positividade em 49 de 2.328 amostras e a prevalência geral por T. solium de
34 em 2.328 amostras. O estudo teve como pontos altos, além da alta prevalência de infecção
por T. solium em comunidades nunca pesquisadas, também um grande número de amostras
coletadas e examinadas graças a cooperação entre os pesquisadores e o Corpo da Paz de uma
maneira mutuamente benéfica (WATTS et al., 2014).
O artigo mais recente realizado em diferentes regiões do Peru teve como objetivo
analisar a prevalência de epilepsia e soropositividade à cisticercose em três populações:
indivíduos de regiões rurais, zona endêmica para cisticercose; indivíduos que migraram de
zona rural para favelas em zona urbana em um período de longo prazo; indivíduos nascidos e
vivendo no mesmo meio urbano, considerado não endêmico (GONZALES et al., 2015).
Como a NCC está estreitamente relacionada à pobreza e, possuindo uma alta
prevalência em ambientes rurais de países em desenvolvimento, que apresentam fatores de
risco, como deficiência de saneamento básico, falta de água potável, criação doméstica de
suínos, é também apontada como principal causa de epilepsia sintomática. Ela está se
tornando um problema global crescente, sendo relatados casos em países industrializados
devido à emigração de zonas endêmicas e também dentro de um próprio país, normalmente
mobilizando pessoas de regiões endêmicas para centros urbanos. Há poucos dados sobre a
variação na prevalência ou expressão de NCC depois dessa migração dentro de regiões
endêmicas (GONZALES et al., 2015).
No Peru, por razões históricas, houve um grande fluxo de pessoas de zonas rurais para
urbanas, o que propiciou o estudo de migração de doenças, entre elas a prevalência de
epilepsia e a soropositividade à cisticercose em indivíduos com mais de 30 anos. Nesse estudo
foram utilizadas as populações de San Jose de Secce, e uma favela, Pampas de San Juan de
Miraflores em Lima. Foi usado um total de 987 participantes, sendo 53% mulheres e 48%
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homens, com idade média de 48 anos. Para esse estudo todos os indivíduos que consentiram
responderam a um questionário padrão de 9 perguntas que atesta crise epilética. Os que
mostraram resultados positivos foram entrevistado por um neurologista treinado para
confirmar ou descartar um diagnóstico de convulsão ou epilepsia. Uma alíquota de soro foi
separada das amostras coletadas e foi testada para os anticorpos específicos contra a
cisticercose (GONZALES et al., 2015).
Dos 987, 985 responderam ao estudo e desses, 278 responderam como positivo, sendo
68% avaliados por um neurologista. Embora as diferenças não tenham sido significantes
estatisticamente, foi visto que a prevalência de epilepsia foi maior nos migrantes (35,6 em
1000) do que nos que vivem em aldeias rurais (25 em 1000), e ainda menor na população
urbana (15,3 em 1000). Pode-se observar um gradiente na soroprevalência de anticorpos de
cisticercose, sendo maior nos indivíduos que vivem em aldeias rurais, menor nos migrantes e
ainda menor nos residentes urbanos, demonstrando que a migração dentro do país, do meio
rural para o urbano, carrega um peso significativo em termos de resposta imunológica e de
sintomatologia (GONZALES et al., 2015).
A conclusão do estudo realizado por Gonzales e colaboradores (2015) é que entre as
comparações populacionais realizadas, foi confirmada a associação entre cisticercose e
epilepsia em zonas endêmicas rurais, mas que não se manteve nos imigrantes à longo prazo.
Isso pode ser explicado pela natureza crônica das crises epilépticas e à diminuição do
anticorpo ao longo do tempo nos indivíduos com NCC, que tiveram a inflamação causada
pelo cisticerco resolvida com ou sem a calcificação dos mesmos. Esse fato indica a
diminuição na soroprevalência, o que evidencia diferenças claras de endemicidade em um
país endêmico e que sugere que as consequências neurológicas da infecção ultrapassam a
resposta de anticorpos por anos, mostrando que a soroprevalência aumentou
consideravelmente de acordo com a idade que o indivíduo apresentava ao sair da zona rural,
sugerindo uma exposição acumulativa - quanto maior a idade na migração rural para urbano
maior a soroprevalência de anticorpos.
O artigo de Gonzales e colaboradores (2015) questiona dados interessantes sobre o
reflexo da migração e NCC dentro do Peru, de uma área endêmica para uma área não
endêmica, separando o estudo em 3 grupos diferentes. No entanto não foram usados exames
de imagem para o diagnóstico da NCC, já que não possuíam acesso a TC ou a uma máquina
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de ressonância magnética, para comprovar a positividade da NCC mesmo depois do cisticerco
calcificado e da diminuição da soropositividade, o que é uma grande limitação. Também
poderia ser realizados exames parasitológicos em fezes para estudar a incidência de teníase e
a sua relação com novos casos de NCC na comunidade não endêmica estudada.
A fim de conhecer o reflexo da migração de locais endêmicos para locais não
endêmicos de T. solium no método de inclusão da pesquisa realizada para esse estudo, foram
encontrados dados de NCC nos Estados Unidos devido a imigração de pessoas de países da
América Latina.
Em um artigo de revisão publicado por Serpa e White Jr. (2012) foi apresentada uma
atualização dos estudos clínicos sobre NCC em áreas não endêmicas, nos Estados Unidos.
Pode-se observar que o aumento do número de casos de NCC nos países desenvolvidos se dá
em grande parte pela migração de pessoas de regiões endêmicas para não endêmicas e pôde
ser constatado devido ao amplo acesso à neuroimagem. Foram observados também casos de
transmissão local, ligados principalmente a um portador de teníase na família, destacando a
NCC como um problema de saúde pública nos Estados Unidos. Nesse estudo estimou-se que
a incidência de NCC varia de 0,2 a 0,6 a cada 100.000 habitantes em geral, e 1,5 a 8 casos a
cada 100.000 latinos, ocorrendo de 1320 a 5050 novos casos de NCC todos os anos nos
Estados Unidos.
Outro artigo encontrado trata a NCC como uma doença parasitária negligenciada nos
Estados Unidos, apontando como manifestação clínica principal a epilepsia adquirida em
países endêmicos, representando 29% das pessoas com epilepsia e podendo chegar até quase
50% em algumas regiões endêmicas. Nos Estados Unidos cerca de 2% das visitas à
emergência por convulsões podem ser atribuídas à NCC. Acredita-se ser a América Latina o
principal responsável por NCC nos Estados Unidos devido a migração, porém já houve
relatos da doença entre pessoas nascidas nos Estados Unidos, que viajaram para locais
endêmicos ou através de humanos portadores do verme adulto, via infeção oral-fecal. É
sugerido que se tenha conhecimento do histórico de viagens do paciente e/ou fazer um
rastreamento de contatos próximos de portadores de NCC, no intuído de localizar possíveis
casos de teníase. Os autores comentam a falta de dados epidemiológicos da cisticercose nos
Estados Unidos e sugerem como solução a notificação obrigatória do diagnóstico ou a criação
de uma base de dados nacional integrada, o que permitiria uma maior compreensão da
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doença, possibilitando um maior e melhor alcance de saúde pública para as populações
afetadas (CANTEY et al., 2014).
Em um estudo mais recente foram avaliados os efeito da NCC nos Estados Unidos,
podendo-se observar 18.584 casos de internação devido à NCC no período de 2003-2012,
com custo hospitalar associado de mais ou menos 908 milhões de dólares. Concluiu-se que a
NCC é um crescente problema para a saúde pública dos Estados Unidos e que está
relacionada a população de imigrantes e a pessoas que viajaram para regiões onde a
cisticercose é endêmica, gerando custo elevado à saúde pública do país. O estudo teve como
objetivo comparar a frequência e custos associados à internações por NCC com outras
doenças tropicais de importante potencial nos Estados Unidos (O’NEAL & FLECKER,
2015).
O estudo menciona o pedido de reforços da Organização Mundial de Saúde (OMS)
para cisticercose, que é definida como uma doença tropical negligenciada (DTN). Em parte
continua sendo negligenciada pelo fato de existirem poucos dados populacionais na maioria
das regiões endêmicas. Isso se dá pelos países endêmicos contarem com poucos recursos para
diagnosticar a NCC, já que exames de neuroimagem geralmente não estão disponíveis. Esse
estudo proporcionou uma oportunidade para coletar dados populacionais nos Estados Unidos,
devido à grande população de imigrantes com risco de infecção, junto à disponibilidade de
infra-estrutura de vigilância de doenças e facilidade de exames de neuroimagem, embora
somente alguns estados exijam a notificação de casos de NCC (O’NEAL & FLECKER,
2015).
Através desse estudo foi encontrado um número anual de hospitalizações por NCC que
variou de um máximo de 2.247 em 2006 a um mínimo de 1.495 em 2012. A incidência anual
média de internações por idade e sexo foi maior entre os latinos (2,50 / 100.000), sendo 35
vezes maior do que a taxa de internação dos brancos não latinos, 10 vezes maior que a dos
negros e 8 vezes maior que a dos asiáticos/ ilhas do pacifico (Figura 5) (O’NEAL &
FLECKER, 2015).
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Figura 5: Número e taxa de hospitalizações por NCC nos Estados Unidos, por grupo demográfico, 2003-2012.
Adaptado de O’NEAL & FLECKER, 2015.
Dentre os indivíduos hospitalizados por NCC o diagnóstico mais comum foi o de
crises epilépticas/convulsão, que ocorreu em 57% do grupo estudado, seguido por 17,7% de
hidrocefalia obstrutiva e 12,4% cefaleia (O’NEAL & FLECKER, 2015).
A frequência e o custo total dos casos de cisticercose ultrapassaram todas as outras
DTN’s (figura 6). Estima-se que 23.266 das hospitalizações ocorridas no período de 2003 a
2012 foram associadas à cisticercose, resultando em um custo hospitalar total de
1.149.044.000 dólares comparado a um total de 20.029 internações devido à todas as outras
DTN’s com um custo de 1.043.109.000 dólares (O’NEAL E FLECKER, 2015).
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Figura 6: Número de hospitalizações por valores em milhões de dólares. Retirado de (O’NEAL E FLECKER,
2015).
O’Neal e Flecker (2015) concluíram que a cisticercose merece atenção e exploração
nos Estados Unidos, pois gera um alto gasto para a saúde pública do país e sendo o risco de
hospitalização maior em latinos. Com a taxa de hospitalização significativamente maior entre
os latinos comparada a dos brancos não latinos, o efeito da NCC sobre a economia americana
provavelmente aumentará nos próximos anos. Há uma projeção de crescimento da população
latina realizada pela “US Census Boreau” de 53 milhões em 2012 para 78 milhões até 2030,
levando a uma estimativa de custo por hospitalizações por NCC, apenas entre latinos, de 250
milhões de dólares no ano de 2030.
Esse artigo demonstra a preocupação e o interesse econômico envolvidos na
incidência de NCC nos Estados Unidos. Existindo a construção de um banco de dados que
conta com a notificação obrigatória em alguns estados do país, ajudando a compreender
melhor a doença. No entanto o artigo possui alguns limitadores, o banco de dados utilizado
para coletar informações não consegue identificar múltiplas hospitalizações de uma mesma
pessoa, não conseguindo assim quantificar a prevalência e incidência da doença, além de
muitos estados ainda não participarem da notificação obrigatória. Também faltam
informações como dados sobre o país de nascimento ou o histórico de viagens do paciente
com NCC para ajudar a entender a possível fonte causadora. Em nenhum momento o artigo
citou o complexo teníase/cisticercose e como a teníase poderia influenciar nos dados de
cisticercose humana nos lugares de imigração. Já é um começo para entender que a NCC não
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afeta apenas países endêmicos para T. solium, e que com a globalização passa a se tornar um
problema de saúde mundial (O’NEAL E FLECKER, 2015).
Usando como gancho o fato da NCC se tornar um problema de saúde mundial, com
base em um último artigo e acordo com o método de inclusão e exclusão, da autora Bouteille
(2014). Esse artigo aborda a epidemiologia da cisticercose e NCC no mundo, citando a
endemicidade de T. solium em países em desenvolvimento, como América Latina, Ásia e
África Subsaariana. Bouteille pontua que NCC é responsável por mais de 50% de epilepsia
adquirida em países em desenvolvimento, podendo ocorrer de 2 a 8 anos após a infecção, com
a sintomatologia aparecendo geralmente durante a degeneração dos cisticercos. O artigo
aponta 2,5 a 5 milhões de pessoas como portadoras do verme adulto e 50 milhões portadoras
de cisticercose, sendo ela responsável por 50 mil mortes por ano segundo a OMS. O homem
cumpre um papel importante na disseminação do parasita no meio ambiente já que é o único
hospedeiro definitivo do verme adulto. Apesar de ser considerada uma doença de países em
desenvolvimento, devido ao aumento da migração de pessoas de áreas endêmicas, a NCC tem
sido diagnosticada nos Estados Unidos, Europa e Austrália.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a construção desse artigo, foram analisados diversos estudos, que associavam
epilepsia e NCC em países da América Latina, a endemicidade de T. solium em regiões rurais
de países em desenvolvimento e o início de estudos relacionando a migração de indivíduos de
uma região endêmica para uma região não endêmica. Essa migração podendo ocorrer dentro
de um mesmo país ou para um país diferente, mostrando a sua repercussão com impacto para
a saúde pública. Assunto atual que merece atenção, é a imigração elevada do continente
africano endêmico para o continente europeu, podendo haver grande impacto na incidência de
casos de teníase e NCC.
Devido à falta de dados epidemiológicos justificados pela falta de recursos para o
diagnóstico podemos chegar a uma estimativa de 75 milhões de pessoas que vivem em
regiões endêmicas da América Latina e aproximadamente 400.000 casos de NCC. Pôde-se
concluir através dos dados coletados que o principal sintoma encontrado entre os pacientes foi
a epilepsia. Contudo até que ponto esses dados podem ser mascarado, devido ao seguinte
questionamento – será que os médicos de regiões endêmicas são capazes de relacionar
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epilepsia à NCC ou apenas descobrem a NCC como um achado em um exame de imagem em
função da investigação da epilepsia ou de outra encefalopatia.
Com os dados apresentados nesse artigo, podemos relacionar a alta prevalência de
epilepsia adquirida em países da América Latina com a NCC, além do reflexo da migração
que se dá para regiões e países não endêmicos para NCC. Além disso, foi evidenciado que
com o controle da T. solium, responsável pelo complexo teníase/cisticercose, diminuiria não
só o número de casos de NCC, mas também os casos de epilepsia adquirida. Para esse
controle se tornar possível é necessário o conhecimento dos dados epidemiológicos da NCC
em pais endêmicos e não endêmicos, através da notificação obrigatória, como já é observada
em alguns países, e também o rastreamento de pessoas próximas ao indivíduo acometido para
verificação de possíveis casos de teníase.
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