nicif - núcleo de investigação científica de incêndios ... · nicif - núcleo de...

40
Pr Pr Pr Pr Projecto Inter ojecto Inter ojecto Inter ojecto Inter ojecto Interreg III B/SUDOE - g III B/SUDOE - g III B/SUDOE - g III B/SUDOE - g III B/SUDOE - TERRISC TERRISC TERRISC TERRISC TERRISC Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Outubro de 2006 Outubro de 2006 Outubro de 2006 Outubro de 2006 Outubro de 2006 Pr Pr Pr Pr Projecto ojecto ojecto ojecto ojecto Ter er er er errisc risc risc risc risc Recuper ecuper ecuper ecuper ecuperação de paisa ação de paisa ação de paisa ação de paisa ação de paisagens de socalcos ens de socalcos ens de socalcos ens de socalcos ens de socalcos e pr e pr e pr e pr e prevenção de riscos na enção de riscos na enção de riscos na enção de riscos na enção de riscos natur tur tur tur turais nas ais nas ais nas ais nas ais nas ser ser ser ser serras do as do as do as do as do Açor e Estr Açor e Estr Açor e Estr Açor e Estr Açor e Estrela ela ela ela ela

Upload: vanlien

Post on 21-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

PrPrPrPrProjecto ojecto ojecto ojecto ojecto TTTTTerererererriscriscriscriscrisc

PrPrPrPrProjecto Interojecto Interojecto Interojecto Interojecto Interrrrrreeeeeg III B/SUDOE - g III B/SUDOE - g III B/SUDOE - g III B/SUDOE - g III B/SUDOE - TERRISCTERRISCTERRISCTERRISCTERRISCNúcleo de Investigação Científica de Incêndios FlorestaisNúcleo de Investigação Científica de Incêndios FlorestaisNúcleo de Investigação Científica de Incêndios FlorestaisNúcleo de Investigação Científica de Incêndios FlorestaisNúcleo de Investigação Científica de Incêndios FlorestaisFaculdade de Letras da Universidade de CoimbraFaculdade de Letras da Universidade de CoimbraFaculdade de Letras da Universidade de CoimbraFaculdade de Letras da Universidade de CoimbraFaculdade de Letras da Universidade de CoimbraOutubro de 2006Outubro de 2006Outubro de 2006Outubro de 2006Outubro de 2006

PrPrPrPrProjecto ojecto ojecto ojecto ojecto TTTTTerererererriscriscriscriscriscRRRRRecuperecuperecuperecuperecuperação de paisaação de paisaação de paisaação de paisaação de paisagggggens de socalcosens de socalcosens de socalcosens de socalcosens de socalcos

e pr e pr e pr e pr e preeeeevvvvvenção de riscos naenção de riscos naenção de riscos naenção de riscos naenção de riscos naturturturturturais nasais nasais nasais nasais nasserserserserserrrrrras do as do as do as do as do Açor e EstrAçor e EstrAçor e EstrAçor e EstrAçor e Estrelaelaelaelaela

Page 2: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

Mourízia

Aldeia das Dez

Page 3: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Rec

uper

ação

de

pais

agen

s de

soc

alco

se

prev

ençã

o de

risc

os n

atur

ais

Cabeça

Page 4: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

Título

Projecto Terrisc - Recuperação de paisagens

de socalcos e prevenção de riscos naturais

Coordenador

Luciano Lourenço

Consultor Científico

Fernado Rebelo

Investigadores

Adriano Nave

Nuno Pereira

Mafalda Silva

Ana Carvalho

José Fialho

Editor

Núcleo de Investigação

Científica de Incêndios Florestais

Composição, Paginação e

Desenho Gráfico

Adriano Nave

Revisão do Texto

Luciano Lourenço

Ilustrações

Marisa Espínola

Foto da capa

Vista parcial de Chãs de Égua,

Serra do Açor.

ISBN

972-99462-3-X

Depósito Legal n.º

249329/06

Impressão

Ediliber, Lda

Tiragem: 1000 exemplares

© Núcleo de Investigação Científica de

Incêndios Florestais

Outubro de 2006

- 2 -

Monte do Colcurinho, Serra do Açor

Page 5: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução

A partir da necessidade da

revitalização de um conjunto de estruturas

agrícolas tradicionais, surgiu um

ambicioso projecto no seio dos países do

Mediterrâneo. Dar a conhecer a

importância dos socalcos é a premissa

fundamental do Terrisc. Os socalcos

agrícolas são estruturas que contrariam a

natureza dos declives e permitem ao

homem desenvolver as actividades

agrícolas nos locais mais inóspitos. Ao

mesmo tempo, através da permeabilização

do solo previnem o desencadeamento de riscos naturais, como movimentos de terra

em vertentes.

Em Espanha, França e Portugal (fig. 1), procedeu-se a um exaustivo trabalho de

investigação nos socalcos, desenvolvendo directrizes de estudo direccionadas para

os governos locais, alertando para a sua valorização, para a recuperação das

paisagens, e para a prevenção de riscos naturais.

Em Espanha, o grupo de Palma de Maiorca coordena o projecto a partir do

Departamento do Ambiente e da Natureza (fig. 2), do respectivo Governo Regional, e

Fig. 1 - Localização geográfica dos grupos participantes no projecto Terrisc.

- 3 -

Page 6: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

Fig. 2 - Reunião de trabalho, Palma de Maiorca.

- 4 -

Fig. 3 - Saída de campo, Cévennes.

tem como associados a Universidade de Las Palmas, das Canárias, e a Fundação El

Solá, de Tarragona. Em França, são parceiros o Parque Nacional das Cévennes, em

associação com o Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS) do Languedoc -

Roussillon (fig. 3). Em Portugal, participam também como parceiros, as Faculdades

de Letras das Universidades do Porto e de Coimbra, esta através do Núcleo de

Investigação Científica de Incêndios Florestais.

Em Portugal os processos de erosão provocam, com grande frequência, fenómenos

de desgaste do solo, que se devem sobretudo à acção não controlada da água sobre

a terra. Os movimentos de massa aparecem, habitualmente, depois de chuvas mais

abundantes, e se o solo carece de vegetação, a sua coesão pode ficar comprometida

e, nestas condições, uma massa de terra é susceptível de se transformar num

verdadeiro fluido viscoso.

Ao favorecerem a diminuição do declive da vertente, os socalcos contribuem para

aumentar a infiltração da água, benéfica para a agricultura, e limitar a escorrência

superficial, prevenindo a erosão hídrica e outros riscos inerentes.

No entanto, as transformações socio-económicas que se foram desenvolvendo

no nosso país, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, manifestaram-se

num progressivo abandono agrícola, que levou a uma deterioração dos socalcos. Por

sua vez, os processos erosivos aumentaram com a desarticulação dos sistemas

hidrológicos que regularizavam a escorrência, pelo que na paisagem actual de socalcos

são frequentes os fenómenos de deslizamentos e desmoronamentos.

A degradação das paisagens de socalcos está bem patente nas regiões serranas

de Portugal. Foi a partir desta realidade que nos comprometemos a estudar algumas

destas áreas e a avaliar o seu grau de degradação, no sentido de facultar a cada

município da área de estudo elementos que os possam habilitar a justificar e a actuar

na revitalização dessas regiões.

Page 7: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 5 -

Fig. 4 - Enquadramento geográfico da área de estudo.

1. Enquadramento geográfico1. Enquadramento geográfico1. Enquadramento geográfico1. Enquadramento geográfico1. Enquadramento geográfico1.1. Caracterização física1.1. Caracterização física1.1. Caracterização física1.1. Caracterização física1.1. Caracterização física

As bacias hidrográficas do rio Alvoco e da ribeira de Pomares agrupam um conjuntode seis sub-bacias que se enquadram a título administrativo em três concelhos. Para oconcelho de Arganil destacam-se as bacias hidrográficas das ribeiras de Pomares e doPiódão. Dentro do concelho de Oliveira do Hospital as bacias hidrográficas em estudo sãoas das ribeiras de Avelar, de Aldeia das Dez e de Rio de Mel. Enquadrada no município deSeia encontra-se a bacia hidrográfica da ribeira de Loriga. Estas bacias hidrográficas dorio Alvoco e da ribeira de Pomares estão integradas nas Serras do Açor e da Estrela, quese encontram no conjunto montanhoso mais notável de Portugal, a Cordilheira Central.Com altitudes superiores a 1000m, estamos perante um ambiente agro-florestal mais oumenos homogéneo, mas que em termos litológicos comporta duas unidades distintas(fig. 4).

A Serra do Açor é essencialmente xistosa e a Serra da Estrela granítica, o que constituium quadro morfo-estrutural diversificado numa área que, do ponto de vista morfológico, érelativamente movimentada. Em termos climáticos estas serras desempenham um papelde barreira para as massas de ar provenientes de Oeste, quer pela sua elevada altitude,quer pelo seu posicionamento geográfico, registando, assim, quantitativos de precipitaçãoelevados, principalmente nas vertentes expostas a ocidente e a noroeste.

Page 8: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

Fig. 5 - Evolução da população residente, naárea de estudo.

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

1900

1911

1920

1930

1940

1950

1960

1970

1981

1991

2001

(nº)

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

1981 1991 2001

Pop

ulaç

ão e

mpr

egad

a no

Sec

tor P

rimár

io (n

º)

0

100

200

300

400

Índi

ce d

e E

nvel

heci

men

to (%

)

Sector Primário Índice de Envelhecimento

Fig. 6 - Evolução do índice deenvelhecimento e do sector primário.

- 6 -

Atendendo à baixa permeabilidade das rochas magmáticas presentes, juntamente

com a dos xistos e grauvaques, as taxas de infiltração são baixas e os coeficientes de

escoamento superficial elevados, o que contribui para tornar estas áreas bastante

vulneráveis. Estas características vão desencadear o aparecimento de ravinamentos

e de outros movimentos em massa, tais como desabamentos, desmoronamentos e

deslizamentos. São áreas fragilizadas que devem ser defendidas dos efeitos erosivos,em particular após a destruição da vegetação pelos incêndios florestais.

1.2. Caracterização demográfica1.2. Caracterização demográfica1.2. Caracterização demográfica1.2. Caracterização demográfica1.2. Caracterização demográfica

Numa análise espacial à escala concelhia, o quadro demográfico reflecte um

cenário actual de regressão e de desequilíbrio etário nestas áreas de montanha. Os

agentes que contribuíram para tal são de origem diversa, mas entre estes destaca-se

claramente o êxodo rural, que consequentemente levou à falta de manutenção dos

socalcos e à deterioração geral das paisagens.

Embora o êxodo rural seja naturalmente justificado pela procura legítima de

melhores condições de vida nas cidades, acabou por acarretar profundas modificações

nas estruturas socio-económica, etária e profissional dos residentes nas áreas

serranas, as quais, se fizeram repercutir negativamente no binómio agricultura – floresta

(Lourenço, 1996, p.385).

O abandono dos campos, quer se tenha verificado por êxodo rural, emigração ou

envelhecimento populacional, é uma realidade significativa. Nos últimos 50 anos a

população teve uma evolução regressiva. Se em 1950 a população residente na área

de estudo era de 10071 habitantes, já em 2001 a realidade é de um acentuado

decréscimo para 4747 habitantes (fig.5).

Page 9: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 7 -

Fig. 7 - Levantamento da área de socalcos,com recurso à foto-interpretação.

Fig. 8 - Pormenor do trabalho de levantamentode campo, nas áreas-amostra.

No entanto, a diminuição da população que afecta grande parte das freguesias do

interior destes concelhos teve, como uma das consequências, o envelhecimento da

população e o abandono progressivo da agricultura bem como do espaço agricultado

que tinha sido modelado para esse fim (fig. 6).

Efectivamente até 2001 a tendência geral foi para uma diminuição significativa da

população empregada no sector primário, sendo que, na generalidade, aquela que

ainda se ocupa neste sector, apresenta uma média de idades já bastante elevada, o

que de certa forma reflecte o cenário dos concelhos do interior do país.

2. Metodologia2. Metodologia2. Metodologia2. Metodologia2. Metodologia

A primeira fase estabelecida pelo Terrisc correspondeu à cartografia,

experimentação e inventariação da área em estudo, integrada num conjunto de

unidades geomorfológicas, num total de seis bacias hidrográficas, repartidas em

termos administrativos pelos concelhos de Oliveira do Hospital, Arganil e Seia. Pela

extensão da área de estudo foram delimitadas sete áreas-amostra escolhidas em

função da sua localização, nomeadamente, de forma a representar as características

geomorfológicas, litológicas e climáticas da área total.

Partindo da definição desta unidade geográfica, passamos ao estudo dos impactes

do escoamento fluvial, que correlacionado com as características físicas da área,

nomeadamente os acentuados declives das vertentes, fomenta consequências

significativas ao nível das torrentes que funcionam nas linhas de água provocando,

por sua vez, grandes efeitos erosivos.

O trabalho de gabinete encontrou a sua máxima expressão na cartografia da área

ocupada por socalcos, já que a presença dos socalcos cumpre um conjunto de

finalidades específicas, baseadas no aumento da espessura do solo, que por sua

vez, decorrente da diminuição local do declive da vertente e no favorecimento da

Page 10: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

Fig. 9 - Estação meteorológica e parcela deerosão do campo experimental de Loriga.

- 8 -

infiltração da água, limita a escorrência superficial e, consequentemente, a erosão

hídrica. Os objectivos deste parâmetro assentam na inventariação da estrutura dos

socalcos e no estado de conservação dos muros que os suportam e numa análise

mais específica do uso agrícola e fisionomia vegetal dos campos agrícolas.

A inventariação dos socalcos foi realizada a partir da análise integrada de cartas

militares do Instituto Geográfico do Exército, fotografias aéreas de 1958 e ortofotomapas

de 2004 (fig. 7). A partir da análise destas fontes de informação geográfica, procedeu-

se à vectorização dos socalcos através das ferramentas contidas no software ArcGis

9.1. Posteriormente, os resultados foram validados no terreno (fig. 8).

Um dos objectivos do Terrisc foi o de se proceder à quantificação de diferentes

aspectos que, directa ou indirectamente, se relacionam com a erosão do solo e que

permitem um acompanhamento e controlo sistemático da movimentação de materiais.

Para esse efeito instalaram-se parcelas de erosão, onde periodicamente se recolheram

amostras de material proveniente da escorrência, sendo esses, objecto de tratamento

laboratorial. Cada parcela tem uma área padronizada de 2,5 m2, constituída,

basicamente, por um rectângulo de chapa zincada, no qual foram instalados

equipamentos para a medição da água da escorrência e dos materiais sólidos

deslocados.

Os componentes principais da parcela de erosão são uma calha colectora que

armazena o material sólido, um limnígrafo de balança e um totalizador, com capacidade

para armazenar 30 litros de água da escorrência, podendo recolher o material sólido

mais fino transportado em suspensão.

Para a quantificação de um conjunto de

variáveis meteorológicas indispensáveis à

caracterização do clima local, instalaram-se

estações meteorológicas em cada um dos

municípios (fig.9). O principal objectivo desta

instalação foi o de se obter um registo de

informações relativas à pluviosidade,

temperatura, humidade relativa, pressão

atmosférica, vento e, também, monitorizar

episódios de precipitações concentradas.

A estação meteorológica é basicamente

constituída por anemómetro, termo-higrómetro

e pluviómetro, sendo a leitura destas grandezas

feita de forma contínua, com um intervalo de 30

minutos, através de um sistema automático de

aquisição e armazenamento de dados, cuja

recolha foi efectuada periodicamente ao longo

do projecto.

Page 11: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 9 -

3. Áreas-amostra e parcelas experimentais3. Áreas-amostra e parcelas experimentais3. Áreas-amostra e parcelas experimentais3. Áreas-amostra e parcelas experimentais3. Áreas-amostra e parcelas experimentais

Pela extensão da área de estudo das seis bacias hidrográficas (141,4 km2), foi

pertinente e fulcral a delimitação de unidades geográficas mais restritas, mas, que no

entanto, permitissem caracterizar as áreas-amostra no que respeita quer a aspectos

naturais, quer a situações demográficas. Escolheram-se sete áreas-amostra de 1km2

cada uma, localizadas dentro de um perímetro onde se encontram instaladas as

estações meteorológicas e as parcelas experimentais.

Os campos em socalcos, dentro da área de estudo perfazem um total de 18,4 km2.

A sua distribuição é o resultado de uma conjugação de características físicas e humanas

diversas (Quadro I).

Quadro I - Área total ocupada por socalcos.

Ribª de Pomares 44,7 7,1Ribª de Loriga 41,8 3,8Ribª do Piódão 34,3 3,1

Ribª do Rio de Mel 9,3 1,3Ribª do Avelar 7,6 1

Ribª de Aldeia das Dez 5,5 2,1Total 143,2 18,4

Bacias Hidrográficas Área das Bacias (km2)Área ocupada por campos

em socalcos (km2)

Fig. 10 - Área total ocupada por socalcos.

Page 12: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

Fig. 11 - Disposição paralela, Loriga. Fig. 12 - Disposição radial, Cabeça.

- 10 -

As áreas de meandros são particularmente favoráveis a essas construções e,

desde cedo, foram alvo de uma intensa exploração agrícola, a qual contribuiu para a

manutenção das formas aplanadas e para o aparecimento das aldeias (Lourenço,

1996). São áreas facilmente transformadas em solos agrícolas e facilmente irrigáveis.

A superfície actualmente ocupada por socalcos traduz, desde logo, uma disposição

linear, acompanhando o percurso das linhas de água e, sobretudo, concentrando-se

em volta dos aglomerados populacionais (fig. 10).

Conforme os objectivos propostos pelo projecto, foram alvo de intenso trabalho

de campo uma série de elementos envolventes ao património dos socalcos. Para

isso, foi essencial a inventariação da estrutura, estado de conservação, uso agrícola,

culturas agrícolas e da fisionomia vegetal dentro do perímetro delimitado para as

áreas-amostra.

3.1. Estrutura3.1. Estrutura3.1. Estrutura3.1. Estrutura3.1. Estrutura

Para o estudo desta variável

considerou-se toda uma série de

elementos construtivos dos socalcos e

do património adjacente. A observação

dos socalcos permitiu a delimitação de

tipos de disposição estrutural dos muros

em que se consideraram disposições

paralelas (fig.11), concêntricas, radiais (fig.12) e ortogonais, seguindo um critério de

orientação dos muros de socalcos perante a orientação das vertentes e das linhas de

água.

Page 13: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 11 -

Fig. 13 - Muro com aparelhamento,Piódão.

Fig. 14 - Remate sobreelevado com lajeperpendicular, Cabeça.

Os acessos entre os socalcos fazem-se a partir de escadarias ou rampas. As

escadarias são as estruturas mais vulgares e foram estabelecidos vários tipos:

paralela de laje simétrica (fig.15), paralela de laje destacada, embutida (fig.16), paralela

e embutida, oblíqua, e esculpida na pedra. As rampas são encontradas com alguma

raridade e observam-se normalmente em áreas de menor declive e patamares com

maior extensão, permitindo um maior aproveitamento agrícola do espaço.

Fig. 15 - Escadaria paralela de lajesimétrica, Muro.

Fig. 16 - Escadaria embutida, Colcurinho.

Foi também considerado o tipo de aparelhamento da pedra constituinte dos muros,

com as seguintes designações: sem aparelhamento, com pouco aparelhamento ou

irregular, com aparelhamento ou entrecruzado (fig.13), e poligonal. Foi ainda alvo de

estudo o tipo de acabamento superior do muro, nomeadamente, nivelado,

sobreelevado, sobreelevado com laje perpendicular (fig.14) e sobreelevado com laje

oblíqua .

Page 14: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

- 12 -

Fig. 17 - Mina de água, Cimo da Ribeira. Fig. 18 - Levada perene, Cabeça.

No que respeita ao património edificado associado aos socalcos são de destacar

as casas de habitação, que também serviam como lojas e locais de armazenamento

dos produtos agrícolas. As palheiras para acondicionar palha e os currais para guardar

os animais constituem um elemento determinante na paisagem agrícola dos socalcos

(fig.19). Salientam-se ainda as pontes e os pontões (fig. 20).

Fig. 19 - Palheira, Piódão. Fig. 20 - Ponte, Cabeça.

Os sistemas de aproveitamento de água destinados para a rega são estruturas

confinantes aos socalcos e contam-se fontes, tanques, minas de água (fig.17), minas

de água com tanque, poças, poços, açudes e levadas perenes (fig.18) e efémeras. Em

áreas em que o predomínio era a actividade primária, os principais sistemas de

aproveitamento da força motriz da água encontrados são os moínhos e os lagares de

azeite. No que respeita, aos sistemas hidráulicos de regularização da escorrência

contam-se os travessões/barragens.

Ao longo dos tempos as estruturas hidráulicas permitiram o desenvolvimento de

outros equipamentos e de outras actividades, como são exemplos, as piscinas naturais

e os parques de campismo, que abundam na área de estudo e que impulsionam o

turismo local, nomeadamente nos períodos de estio.

Page 15: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 13 -

Fig. 21 - Muro com saliência, Porto Silvado. Fig. 22 - Laje de pedra para cancela, Cabeça.

3.2. Estado de Conservação3.2. Estado de Conservação3.2. Estado de Conservação3.2. Estado de Conservação3.2. Estado de Conservação

O estado de conservação do

património de socalcos foi definido tendo

em conta os socalcos em bom estado,

mau estado e destruídos. Estes, implicam,

tanto para a sua construção como, depois,

na sua manutenção, avultados

investimentos. Como estão muito

expostos à erosão, nomeadamente

hídrica, resultante da escorrência da água

das chuvas (fig. 23), a conservação dos socalcos depende de muitos factores e de

uma mão-de-obra abundante, para serem explorados, reconstruídos e, sempre que

necessário, preservados (fig. 24).

Habitualmente, o estado de conservação dos socalcos encontra-se determinado

pelo seu uso e, em caso de abandono, pela duração desse período (fig. 25). Para

facilitar o abandono contribuem as características construtivas dos muros de suporte,

determinadas pela litologia da área onde estão implantados, a exposição das vertentes

que influencia a produtividade e a altitude a que os socalcos se encontram, pois

condiciona a acessibilidade e a produtividade e, por conseguinte, o período de

abandono.

Foram ainda considerados outros elementos construtivos, tais como, saliências

de grandes blocos inseridos nos muros dos socalcos (fig.21), suportes para vinha,

muros de separação de propriedade e suporte em laje de pedra para cancela/porteira

(Fig. 22).

Page 16: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

- 14 -

A realidade corrente e os trabalhos realizados conduzem a um cenário que se

caracteriza por um avanço significativo do abandono da superfície agrícola utilizada e

um retrocesso do total da área cultivada. Embora o bom estado dos socalcos predomine,

existe já uma área expressiva de degradação. As principais observações de regressão

nos socalcos são, entre outros, desmoronamentos nos muros (fig. 26), avanço

progressivo da vegetação nos interstícios dos muros, ausência de trabalho agrícola,

presença permanente de gado nos espaços agrícolas.

Na análise desta variável denota-se a influência de factores conjunturais,

relacionados sobretudo com o processo de terciarização da população e que resultou

em importantes mudanças na ocupação do solo. Em resultado destas mudanças

salienta-se a predominância da superfície agrícola não utilizada e das matas e florestas.

Fig. 23 - Desmoronamento de muro, Loriga. Fig. 24 - Recuperação de muro, Piódão.

Fig. 25 - Estado de conservação, Cabeça. Fig. 26 - Muros desmoronados, Porto Silvado.

Page 17: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 15 -

3.3. Uso agrícola3.3. Uso agrícola3.3. Uso agrícola3.3. Uso agrícola3.3. Uso agrícola

O sistema agrário tradicional, praticado pelas

gentes de outrora, foi sendo substituído por uma

agricultura de complementaridade, em que predomina

a importância das unidades familiares, da

pluriactividade e da agricultura de consumo doméstico.

Deste modo, os usos e culturas agrícolas que

caracterizavam estas áreas de socalcos foram sofrendo

alterações ao sabor de um conjunto de factores, dos quais se destacam o

despovoamento humano e o abandono das terras.

Para este estudo o uso agrícola foi definido tendo em conta socalcos produtivos e

socalcos não produtivos. Em função da caracterização dos factores sociais e físicos,

que influenciam a presente configuração da paisagem de socalcos nesta área, pode

concluir-se que a área produtiva ainda é superior à área não produtiva (fig.27).

Com efeito, os socalcos não produtivos encontram-se, em grande parte, em

altitudes mais elevadas ou mais distantes dos aglomerados populacionais. De um

modo geral, estas áreas estão, muitas vezes, em sobreposição com socalcos destruídos

ou em mau estado de conservação.

Nos dias de hoje, a agricultura já não determina a actividade principal dos meios

rurais. A actividade agrícola apenas constitui o modo de vida dos mais idosos, sendo

praticada a tempo parcial, reflectindo apenas uma ocupação.

Fig. 27 - Uso agrícola nos campos em socalcos das bacias hidrográficas em estudo.

68%

32%

Page 18: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

- 16 -

O abandono agrícola é um facto consumado e esta conjuntura socio-económica

que caracteriza o sistema agrário actual causou alterações significativas no mosaico

agrícola das áreas rurais. A redução da superfície agrícola utilizada, acarreta graves

consequências ao nível da erosão dos solos, da mesma forma que, a reconversão

destes espaços em áreas florestais, aumenta o risco de ignição e propagação de

incêndios florestais (fig. 28).

O espaço agrário nas áreas de socalcos caracteriza-se pela fragmentação em

pequenas parcelas, dedicadas na sua maioria a uma policultura de subsistência com

escassa orientação comercial. A maior parte destas estruturas estão dedicadas ao

cultivo de produtos hortícolas, vinha em arjoado (fig.29) ou árvores de fruto (fig. 30),

havendo cada vez mais parcelas abandonadas, sem qualquer tipo de aproveitamento

agrícola (QUADRO II).

Fig. 28 - Socalcos não produtivos, Alentejo. Fig. 29 - Vinha em arjoado, Chão Sobral.

Quadro II: Principais culturas agrícolas.Árvores de fruto

Castanheiro (Castanea sativa)Cerejeira (Prunus avium)

Figueira (Ficus carica)Laranjeira (Citrus sinensis)Macieira (Malus domestica)

Medronheiro (Arbutus unedo)Nespereira (Eriobotrya japonica)

Nogueira (Juglans regia)Oliveira (Olea europaea)

Pessegueiro (Prunus persica)

Romãzeira (Punica granatum L.)Culturas hortícolas

Alface (Lactuca sativa L.)Alho (Allium sativum)

Batata (Solanum tuberosum L.)Cebola (Allium cepa)

Couve (Brassica oleracea L.)Ervilha (Pisum sativum L.)Feijão (Phaesolus vulgaris)

Milho (Zea mays)Salsa (Petroselinum sativum)

Vinha em arjoado Fig. 30 - Macieiras, Loriga.

Page 19: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 17 -

Em determinadas áreas ocupadas por espécies arbóreas, surge um sub-bosque

formado por medronheiros (Arbutus unedo), urzes (Erica sp.) ou silvados (Rubus

ulmifolius) (fig. 33).

Fig. 31 - Fisionomia vegetal, Cimo da Ribeira. Fig. 32 - Socalcos com olival, Piódão.

Fig. 33 - Silvado (Rubus ulmifolius), Cimo da Ribeira. Fig. 34 - Urze (Erica arborea), Cabeça.

3.4. Fisionomia vegetal3.4. Fisionomia vegetal3.4. Fisionomia vegetal3.4. Fisionomia vegetal3.4. Fisionomia vegetal

A fisionomia vegetal foi definida tendo em conta a ocupação dos socalcos com

formações arbóreas, arbustivas ou herbáceas (fig. 31). A fisionomia vegetal encontra-se

directamente relacionada com o estado de conservação dos socalcos, bem como com o

seu uso agrícola, sendo condicionada, ainda, pelas características geomorfológicas e

litológicas da área, predominando as formações arbóreas (fig.32).

Page 20: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

- 18 -

Fig. 36 - Socalcos com eucaliptos, Chão

Sobral.A área de socalcos encontra-se ainda

ocupada por muitas culturas agrícolas,

muito embora com avançado estado de

degradação, e, por outro lado, é utilizada

também para usufruto do gado que vai

mantendo o estrato herbáceo. As

formações arbóreas ocupam o segundo

lugar nesta contagem, e estão

relacionadas, sobretudo, com extensas

áreas de mato abandonado e com áreas

que têm sido alvo de reflorestações, pelo

que existe uma grande variedade de

espécies vegetais (QUADRO III).

Fig. 35 - Fisionomia vegetal, Cimo da Ribeira.

Quadro III - Principais espécies vegetais.

Nome Vernáculo EspéciePinheiro-bravo Pinus pinaster

Oliveira Olea europaeaCastanheiro Castanea sativa

Árvores de Fruto Prunus, Citrus, Malus, etc.Eucalipto Eucalyptus globulus

Carvalho-alvarinho Quercus robur

Nome Vernáculo EspécieGiesta Cytisus sp.Urze Erica sp.

Medronheiro Arbutus unedoTojo Ulex sp.

Carqueja Chamaespartium tridentatumEsteva Cistus ladanifer

Rosmaninho Lavandula stoechas

Nome Vernáculo EspécieFeto Pteridium aquilinum

Fumária Fumaria officinalisDedaleira Digitalis purpureaErvilhaca Vicis sp.

Campainhas Campanula lusitanica

Arbóreas

Arbustivas

Herbáceas

Por outro lado, as espécies arbustivas surgem, frequentemente, junto à base dos

muros ou até no próprio muro, não definindo portanto, uma área propriamente dita (fig.

34).

Quanto às formações arbóreas, podemos apontar três tipos diferentes de

ocupação. Por um lado, temos as situações de olival e de castanheiros, que de uma

forma geral continuam a ser aproveitados e mantêm-se «livres» do crescimento

desregrado do sub-bosque. Por outro lado, temos a existência de árvores de fruto, tais

como cerejeiras (Prunus avium), figueiras (Ficus carica), pessegueiros (Prunus persica)

ou macieiras (Malus domestica), que coabitam com pequenas hortas (fig. 35). Por

último, encontramos os povoamentos de pinheiro-bravo ou eucalipto, em resultado da

reconversão dos campos agrícolas (fig. 36).

Page 21: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 19 -

Como já foi referido anteriormente, a leitura dos dados foi feita de forma contínua,

com um intervalo de 30 minutos, no período compreendido entre os meses de Janeiro

e Agosto de 2006. Para o projecto Terrisc, a importância destes dados é fulcral, na

medida em que ajudam a caracterizar as condições meteorológicas locais, e permitem

o cruzamento dos dados meteorológicos com os de escorrência registados nas

parcelas (fig. 38).

Fig. 37 - Vista geral do Piódão, Fevereiro de 2006.

Fig. 38 - Pormenor da ribª. de São Bento, Loriga, Março de 2006.

3.5. Condições meteorológicas locais3.5. Condições meteorológicas locais3.5. Condições meteorológicas locais3.5. Condições meteorológicas locais3.5. Condições meteorológicas locais

As observações meteorológicas foram realizadas a partir das estações instaladas

nas áreas-amostra do Piódão (fig. 37), no concelho de Arganil, do Colcurinho, em

Oliveira do Hospital e de Loriga, no município de Seia.

A estação meteorológica do Piódão encontra-se a 695m de altitude, numa latitude

de 40º13’42’’N e longitude de 7º49’44W. A estação do Colcurinho está a 650m de

altitude, numa latitude de 40º16’44’’N e longitude de 7º49’57’’W. A estação de Loriga

encontra-se a 633m de altitude numa latitude de 40º19’06’’N e longitude de 7º41’52’’W.

Page 22: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

- 20 -

Fig. 39 - Valores totais de precipitação etemperatura média.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

Colcurinho Piódão Loriga

(mm)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

(ºC)

Precipitação Total (mm) Temperatura média mensal (ºc)

Fig. 4 - Recolha periódica dos dadosmeteorológicos.

Fig. 41 - Temperatura média mensal e valoresextremos de máxima e minima, em Loriga.

A humidade relativa média das estações do Piódão, do Colcurinho e de Loriga foi,

respectivamente de 62,7 %, 63,4 % e 67,7 %, representando valores muito equitativos.

O vento soprou em média com uma velocidade de 1,2 km/h no Piódão, estação mais

abrigada, 3,9 km/h no Colcurinho (fig. 42) e 2,3 km/h em Loriga, e atingiu rajadas

máximas de 69,2 km/h, 85,3 km/h e 67,7 km/h. No que respeita à pressão atmosférica

média foi de 926,9 mb, 949,7 mb e 953,1 mb, respectivamente.

-5,0

0,05,0

10,0

15,020,0

25,0

30,035,0

40,0

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set

(ºC)

média max. min.

Fig. 42 - Pormenor do anemómetro da estaçãometeorológica do Colcurinho.

O estudo revela que apesar das estações apresentarem algumas semelhanças

em termos de temperatura, existem diferenças algo significativas no que respeita aos

quantitativos pluviométricos (fig. 39).

Assim, e no referido período, a estação do Piódão registou um total de 831,4 mm

de chuva, fazendo desta área a mais chuvosa de entre os três concelhos. Em termos

de temperatura registou uma média de 14,4 ºC, com uma máxima absoluta de 38 ºC e

uma mínima de -3,4 ºC. No Colcurinho o total de precipitação foi de 634,4 mm. A

temperatura média foi de 14,9 ºC, com uma máxima absoluta de 38,5 ºC e uma mínima

de -3,5 ºC (fig. 40). A estação de Loriga registou 740,8 mm de chuva e temperatura

média 14,7 ºC, com uma máxima de 37,4 ºC e uma mínima de -4,7 ºC (fig. 41).

Page 23: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 21 -

Fig. 43 - Campos em socalcos e palheirosnuma vertente de elevado declive.

Fig. 44 - Campos em socalcos colmatados commaterial sedimentar grosseiro.

Os factores que mais contribuem, directa ou indirectamente, para a erosão naárea de estudo são a precipitação, o gelo, a topografia, o coberto vegetal e os incêndiosflorestais e a acção biológica dos animais.

A análise da erosão registada nas bacias hidrográficas foi realizada a partir dacomparação dos valores da precipitação, escorrência e material erosionado.

Apresentam-se os valores de escorrência em cada área-amostra totalizados noperíodo já referido, e contabilizados a partir dos valores obtidos pelas parcelas deerosão. Destaca-se a parcela experimental de Loriga com valores totais na ordem dos55 l/m2, que não são de estranhar dado ser o local mais próximo da Serra da Estrela,e que se encontram associados aos quantitativos de água proveniente do degeloverificado, tanto nos meses de Inverno como nos de Primavera.

3.6. Erosão nos socalcos3.6. Erosão nos socalcos3.6. Erosão nos socalcos3.6. Erosão nos socalcos3.6. Erosão nos socalcos

Os campos em socalcos revelam o esforço, a tenacidade e a capacidade de

adaptação e sobrevivência do ser humano, face a um ambiente hostil e repulsivo (fig.

43). A realidade mostra-nos que estas antigas estruturas são muito eficientes na

protecção contra a perda de material mineral dos campos agrícolas, favorecendo a

infiltração e fazendo aumentar a humidade do solo essencial para a instalação da

vegetação. No entanto, a ausência da sua utilização agrícola e, consequentemente, da

sua conservação a médio e longo prazo, vai acarretar uma destruição parcial ou total

dos muros de suporte dos socalcos, levando ao aumento do risco de movimentos em

massa, com a perda de todo o solo agrícola presente no patamar (fig. 44).

Page 24: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

- 22 -

0

10

20

30

40

50

60

Loriga Cabeça Piódão Porto Silvado Colcurinho Cimo da Ribeira

(mm)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

(l/m2)

Escorrência (l/m2) Precipitação Total

0

10

20

30

40

50

60

Loriga Cabeça Piódão Porto Silvado Colcurinho Cimo da Ribeira

(l/m2)

0

10

20

30

40

50

60

g/m2

Material Erosionado (g/m2) Escorrência (l/m2)

Fig. 45 - Escorrência total na área de estudo.

Fig. 47 - Material erosionado total na área deestudo.

Apesar da influência exercida pelo declive do patamar ou pela litologia, por

exemplo, conclui-se que as parcelas que apresentam maiores quantitativos de material

erosionado, correspondem ás áreas que tinham ardido recentemente, nomeadamente,

Cabeça e Porto Silvado (fig. 46). Deste modo, os incêndios florestais, ao eliminar o

referido factor de protecção oferecido pela vegetação, potenciam a erosão hídrica

acelerada (fig. 47) e a situação só fica regularizada após alguns meses, quando a

regeneração natural das espécies permitir uma cobertura protectora de gramíneas e

espécies arbustivas (fig. 48).

Fig. 46 - Parcela experimental de Cabeça.

Fig. 48 - Parcela experimental do Colcurinho.

30-11-2005 a 21/04/2006

30-11-2005 a 21/04/2006

O lugar da Cabeça, influenciado pelas condições de Loriga, verifica ainda valores

de escorrência elevados representando 39,2 l/m2. Estas áreas-amostra são as que

representam melhor a impermeabilidade do solo face à escorrência, se observarmos

a reduzida diferença entre precipitação e escorrência, propícios a uma erosão hídrica

que desencadeia movimentos de vertentes, como foi possível constatar nas incursões

ao terreno (fig. 45).

As restantes áreas apresentam valores de escorrência reduzidos se compararmos

com os de precipitação. No caso do Piódão a precipitação total foi de 692,3 mm, e a

escorrência ficou-se pelos 24 l/m2, constituindo uma área-amostra representativa no

que respeita à acção de permeabilização do solo e à prevenção da erosão hídrica.

Este é um dos casos em que os socalcos ao limitar a escorrência superficial favorecem

a infiltração, prevenindo situações de deslizamentos e desmoronamentos em vertentes.

Page 25: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 23 -

Fig. 50 - Propagação do incêndio em direcçãoa um povoado de montanha.

Fig. 49 - Paisagem da Serra do Açor afectadapelos incêndios florestais.

Se por um lado, milhares de hectares são queimados, dando lugar a uma

paisagem árida e sem recursos naturais, por outro, ouve-se o grito desesperado das

populações que perdem os seus bens materiais, e onde por vezes se perdem vidas.

Desta forma, e para este estudo foi essencial a análise histórica e geográfica dos

incêndios florestais (fig. 51).

Com efeito, pode concluir-se que, em termos de área ardida, a evolução é cíclica,

ou seja, após fases de maiores quantitativos, seguem-se anos a registar menores

áreas ardidas. Quanto ao número de ocorrências, a distribuição é mais irregular e

aparentemente, não se pode estabelecer um padrão evolutivo, com igual certeza, dado

que os valores máximos atingidos apresentam uma distribuição mais ou menos

aleatória, correspondente aos anos de 1992,1995, 1998 e 2005.

4. Riscos Naturais4. Riscos Naturais4. Riscos Naturais4. Riscos Naturais4. Riscos Naturais4.1. Campos em socalcos e os incêndios florestais4.1. Campos em socalcos e os incêndios florestais4.1. Campos em socalcos e os incêndios florestais4.1. Campos em socalcos e os incêndios florestais4.1. Campos em socalcos e os incêndios florestais

Portugal, como os restantes países do Mediterrâneo, é habitualmente confrontado

por situações de riscos naturais característicos do seu clima e das suas condições

geomorfológicas. No nosso país, e principalmente, nas áreas de montanha, os

incêndios florestais tornaram-se no agente mais agressivo na modificação da

paisagem (fig. 49). O projecto Terrisc contribuiu para um estudo aprofundado das

situações dendrocaustológicas de Portugal, nomeadamente na forma como os

socalcos podem contribuir para as mitigar, respondendo assim a um dos objectivos

do projecto, a prevenção de riscos naturais.

Importa aqui sublinhar as consequências destruidoras que, ano após ano, se

verificam com a passagem dos incêndios pelas florestas, matas e núcleos

habitacionais (fig.50).

Page 26: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

- 24 -

Fig. 51 - Evolução da área ardida e número de ocorrências, nos concelhos de Arganil, Oliveirado Hospital e Seia.

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

1800019

80

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

(ha)

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

(nº)

AA Total nº de ocorrências tendência NIF tendência AAT

Os anos com maior número de ocorrências nem sempre correspondem aos de

maiores áreas ardidas, pelo que do ponto de vista dendrocaustológico, houve anos

caracterizados pela ocorrência de incêndios florestais de grandes dimensões.

A carta de reincidência das áreas ardidas ao longo dos últimos 30 anos, permitiu

localizar as áreas mais afectadas e quantificar as diferenças existentes entre os

campos em socalcos próximos dos aglomerados populacionais e os espaços

agro-florestais circundantes, mais afastados (fig. 52).

Fig. 52 - Grau de reincidência de incêndios florestais nas bacias hidrográficas da área deestudo, ocorridos entre 1975 e 2005.

Page 27: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 25 -

Quadro IV - Distribuição da área de estudopor grau de reincidência entre 1975 e 2005.

Grau Total % C/socalcos % S/socalcos %

0 3151,3 22,0 682,0 4,8 2469,3 17,2

1 3685,5 25,7 662,0 4,6 3023,5 21,1

2 4758,3 33,2 427,5 3,0 4330,8 30,2

3 2431,0 17,0 73,3 0,5 2357,8 16,4

4 257,8 1,8 1,5 0,0 256,3 1,8

5 49,8 0,3 0,0 0,0 49,8 0,3

6 2,5 0,0 0,0 0,0 2,5 0,0

Total 14336,0 100,0 1846,3 12,9 12489,8 87,1

Área de Estudo

Área de Estudo - 14336 ha

0

1000

2000

3000

4000

5000

0 1 2 3 4 5 6

Grau

(ha)

Com Socalcos Sem Socalcos

Fig. 53 - Distribuição da área de estudo porgrau de reincidência entre 1975 e 2005.

Através deste estudo foi possível verificar que os socalcos agrícolas têm

desempenhado ao longo dos tempos, e em certas ocasiões, uma barreira à propagação

do fogo, quando estes se encontram em bom estado de conservação e produtivos (fig.

54). Por outro lado, em determinadas ocorrências verificadas em 2005 o mau estado

dos socalcos, cobertos de arbustos secos e outros mater iais faci lmente

combustíveis, favoreceram a propagação de frentes de fogo, dificultando igualmente

o seu combate (fig. 55).

Fig. 54 - Vista geral de Chão Sobral. Fig. 55 - Simultaneidade de estratos vegetais.

O objectivo principal foi o de destacar o papel desempenhado pelos socalcos

na compartimentação da floresta, e por conseguinte, na progressão do fogo.

Relativamente à área de estudo propriamente dita, pode verificar-se que a

área nunca atingida por incêndios florestais é de 22 % (QUADRO IV).

Em contrapart ida, as classes 1 e 2 registam os maiores efect ivos,

correspondendo a 58,9 % de área ardida, na sua totalidade. Finalmente, de referir

a percentagem mínima de 0,35 % registada nas classes 5 e 6, num total de 52,3 ha

relativos a uma área de cabeceiras de linhas de água, localizada no Monte do

Colcurinho e no Outeiro dos Penedos.

Mais especificamente, a reincidência das áreas ardidas em campos em

socalcos, concentra-se maioritariamente nos graus de reincidência 1 e 2, num

total de 7,6 % do total da área de estudo (Fig. 53).

Page 28: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

- 26 -

Como estruturas capazes de contrariar estes intensos processos erosivos,

mormente após os incêndios florestais, surgem os socalcos, pois enquanto se

mantêm conservados, funcionam como verdadeiras estruturas anti-erosão. Com efeito,

a comparação da erosão dos solos, após incêndios florestais, em socalcos e em

vertentes naturais, não deixa qualquer dúvida sobre a acção anti-erosiva dos socalcos,

mesmo em situações de temporal.

Fig. 56 - Gráfico termopluviométrico horário, dodia 14 de Julho de 2006, Piódão.

0

5

10

15

20

25

30

0:00

1:30

3:00

4:30

6:00

7:30

9:00

10:30

12:00

13:30

15:00

16:30

18:00

19:30

21:00

22:30

(mm)

0

10

20

30

40(ºC)

Precipitação Total (mm) Temperatura média mensal (ºc)

Fig. 57 - Cheia de 16 de Junho, ribª. dePomares.

Fig. 58 - Destruição de estrada pela enxurrada, Piódão. Fig. 59 - Buscas da vitima mortal, rib.ª do Piódão.

4.2. Campos em socalcos e episódios pluviosos extremos4.2. Campos em socalcos e episódios pluviosos extremos4.2. Campos em socalcos e episódios pluviosos extremos4.2. Campos em socalcos e episódios pluviosos extremos4.2. Campos em socalcos e episódios pluviosos extremos

As serras do centro de Portugal são muitas vezes palco de fortes trovoadas, com

quantitativos pluviométricos muito elevados e concentrados, tanto no tempo como no

espaço (fig. 56). A inevitável perda de solos agrícolas, devido aos fenómenos extremos,

é muito potenciada pelos nefastos incêndios florestais que, insistentemente, fustigam

a área.

Na história, existem alguns episódios de intensa erosão hídrica acelerada dos

solos, principalmente após a ocorrência de grandes incêndios florestais, bem como,

o registo de cheias e inundações (fig. 57), destacando-se anos como de 1988 e 2006.

As chuvadas extremamente intensas e concentradas, verificadas na Serra do Açor,

deram origem a gigantescas enxurradas de pedra, terra e água (fig. 58), tendo, em

2006, levado mesmo à perda de um vida humana (fig. 59).

Page 29: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 27 -

5. Propostas de gestão e perspectivas5. Propostas de gestão e perspectivas5. Propostas de gestão e perspectivas5. Propostas de gestão e perspectivas5. Propostas de gestão e perspectivas

As perspectivas de futuro de uma área como esta, terão necessariamente de ser

audaciosas, mantendo uma visão integrada do território, tendo sempre em vista a

melhoria das condições de vida das populações locais, através da preservação e

valorização do património de socalcos. Apresentam-se então três propostas,

nomeadamente, da prevenção de riscos naturais, da preservação do património de

socalcos e de um roteiro turístico.

A recuperação das paisagens de socalcos é indissociável da prevenção dos riscos

naturais, uma vez que estes são os princípios responsáveis pela sua rápida

degradação, e já que é impossível fazer regressar os numerosos braços que, antes,

asseguraram a sua construção e preservação. Deste modo, só um esforço conjugado

entre o poder central do Estado, o poder local dos Municípios e os proprietários poderá

permitir a conservação dos socalcos mais emblemáticos deste vasto e valioso

património cultural dos povos da serra (fig.s 60, 61, 62,e 63).

Fig. 60 - Vista geral do Piódão. Fig. 61 - Vista geral de Loriga.

Fig. 62 - Casa de habitação abandonada,Colcurinho. Fig. 63 - Paisagem de socalcos, Cabeça.

Page 30: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

- 28 -

Para o efeito, o primeiro passo a ser dado passa pela prevenção dos riscos

naturais. Depois, pela valorização social do espaço de montanha, que permita aos

urbanos desfrutar das suas potencialidades e, em contrapartida, através de um turismo

sustentável, participem na viabilização económica desses espaços.

5.1.5.1.5.1.5.1.5.1. Pr Pr Pr Pr Preeeeevvvvvenção dos riscos naturais atraenção dos riscos naturais atraenção dos riscos naturais atraenção dos riscos naturais atraenção dos riscos naturais através da rvés da rvés da rvés da rvés da redução do riscoedução do riscoedução do riscoedução do riscoedução do riscode incêndio florestalde incêndio florestalde incêndio florestalde incêndio florestalde incêndio florestal

No que respeita à redução do risco de incêndio (fig. 64), apresentam-se uma série

de medidas que contribuem para a mitigação dos efeitos nefastos dos fogos florestais:

- Imediata rearborização de perímetros sob administração pública, privilegiando

espécies autóctones ou edafoclimaticamente adaptadas (fig. 65);

- Compartimentação do espaço através da introdução de ordenamento florestal

(infra-estruturas DFCI) em toda a área (fig. 66);

- Incentivo aos proprietários privados no sentido da reorganização e limpeza

das suas matas, nomeadamente, nos espaços circundantes às habitações (fig. 67).

Fig. 65 - Bosque de castanheiros, Loriga.

Fig. 66 - Falta de ordenamento florestal, ChãoSobral.

Fig. 67 - Falta de limpeza junto a habitações,Cimo da Ribeira.

Fig. 64 - Grande incêndio de Julho de 2005, Arganil.

Page 31: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 29 -

5.2. Preservação do património de socalcos5.2. Preservação do património de socalcos5.2. Preservação do património de socalcos5.2. Preservação do património de socalcos5.2. Preservação do património de socalcos

Nestas áreas serranas, os socalcos

constituem um forte elemento na afirmação

cultural das suas gentes. Após o exôdo rural

massivo que as afectou ao longo de várias

décadas, sente-se a necessidade de dar a

estes lugares uma nova vocação. O ponto

de partida, pode passar pela revitalização e

promoção dos saberes tradicionais com

vista á reabilitação do património construido.

Assim, para a preservação do património de socalcos sugerem-se as seguintes

medidas:

- Criação de um curso de formação profissional de alvenaria, como forma de

especializar técnicos em recuperação de muros e criar postos de trabalho;

- Restauração de algum património construído: casas de habitação, palheiras,

moinhos, lagares, etc (fig. 68).

- Desenvolvimento de rotas de interesse etnográfico:

- Rotas do azeite com a recuperação de lagares, para eco-museus, por exemplo;

- Rotas da gastronomia serrana, através da valorização de produtos regionais,

entre os quais, o mel, o queijo ou os enchidos;

- Rotas da transumância: identificação dos principais trilhos percorridos no

passado pelos pastores com os seus gados (fig. 69).

Fig. 68 - Palheira, Cabeça.Fig. 69 - Pastoreio em campos em socalcos,

Loriga.

Page 32: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

- 30 -

É a partir destas três propostas ambiciosas, que se pretende dotar as áreas de

socalcos de condições estruturais para que estas se tornem numa alternativa

harmoniosa em termos turísticos e económicos garantindo sempre a sua

sustentabilidade cultural e patrimonial.

Com vista à integração destas rotas e de outras que possam vir a ser criadas,

com algumas já existentes, desenvolvemos um percurso integrado, adaptável a

diversas circunstâncias, cujo objectivo será o de disponibilizar uma série de informação,

em particular com referência aos socalcos, que facilite a visita a públicos diversificados

e com diferentes tempos disponíveis (fig. 71).

Assim, será possível combinar uma deslocação base em veículo automóvel com

percursos pedestres, tanto mais detalhados quanto maior for o tempo de que se

dispuser.

Fig. 71 - Praia fluvial, Loriga.Fig. 70 - Socalcos conservados, Aldeia das Dez.

5.3.5.3.5.3.5.3.5.3. Roteir Roteir Roteir Roteir Roteiro o o o o TTTTTurísticourísticourísticourísticourístico

No seio deste projecto, desenvolveu-se um conjunto de percursos turísticos que

compreendem a Paisagem Protegida da Serra do Açor e do Parque Natural da Serra

da Estrela. Com este roteiro pretende-se a valorização destas áreas de socalcos, que

se encontram nos últimos anos, muito distantes da realidade urbana, votados, cada

vez mais, ao despovoamento e ao esquecimento.

A partir deste objectivo, foi perspectivado um percurso geral que liga Arganil, Oliveira

do Hospital e Seia. Entre as sedes de concelho ligam-se uma série de locais no meio

de vilas e aldeias, encontrando potencialidades patrimoniais, arquitectónicas, físicas,

etnográficas, gastronómicas, entre muitas outras (fig. 70). Assim, pretende-se divulgar

estas regiões serranas, incentivando o turista a percorrer estes caminhos e contribuindo

assim para revitalizar estas regiões e dinamizar a economia local.

Page 33: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 31 -

Fig. 72 - A população residente é cada vezmais idosa, Colcurinho.

Fig. 73 - Campos em socacos abandonados,ardidos em Julho de 2005, Torno.

De facto, os incêndios têm constituído o agente mais agressivo na destruição das

áreas de socalcos (fig. 73). Os impactes ambientais são elevados e a evolução das

vertentes é condicionada. Não só os efeitos directos do fogo são prejudiciais, mas

também aqueles que lhes são subsequentes fazem-se sentir por longos períodos de

tempo. As áreas serranas do centro de Portugal têm sido particularmente afectadas

por estes fenómenos, alterando por completo a paisagem, em grande parte agora

preenchida por matos e espécies vegetais mais rentáveis economicamente.

Aos socalcos pouca atenção tem sido dada. Ano após ano a mancha de socalcos

vai diminuindo e estas estruturas ancestrais vão sofrendo o abandono e a degradação

que os poucos e envelhecidos habitantes serranos não conseguem inverter. Perante

estas constatações, urge a sua preservação, que aqui sublinhamos, pela

representatividade do património natural e cultural que estas estruturas constituem. A

revitalização e preservação de algumas delas poderiam impelir o desenvolvimento turístico

destas regiões, que assim se alheariam do anonimato a que têm sido votadas (fig. 74).

6. Considerações finais

A partir da investigação realizada nas bacias hidrográficas do rio Alvoco e da ribeira

de Pomares foi possível analisar um conjunto de parâmetros que se encontram

relacionados com a actual utilização dos socalcos agrícolas. O estudo realizado nos

concelhos da área de estudo, quer através da análise cartográfica em gabinete, quer

na confrontação do terreno, revelou um panorama em que a degradação avança, ao

mesmo tempo que se perde a população e as actividades agrícolas (fig. 72). Como se

constatou, fenómenos como a terciarização e o êxodo rural contribuíram grandemente

para grandes mudanças na ocupação do solo. Com esta realidade, o estrato arbóreo

avança sobre os campos agrícolas e estende-se a área de matos descuidados mais

susceptíveis a incêndios florestais.

Page 34: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

- 32 -

Só que, para que tal venha a suceder, os municípios envolvidos não poderão ficar

à espera de que sejam os outros a resolver-lhe os problemas. Como muitos outros

munícipios que já estão a transformar e a valorizar o seu património de socalcos, terão

de deitar mãos à obra, pois, se assim o fizerem, ficarão para a história por terem

transformado áreas votadas ao abandono em exemplos de sucesso (fig.s 75 e 76).

Caso contrário, ficarão também para a história, mas desta vez pela negativa, ou

seja, por não terem sabido explorar as possibilidades de financiamento que o novo

Quadro Comunitário de Apoio lhes oferece para a valorização desses espaços e,

como tal, contribuirão consciente e decisivamente para a sua degradação. Se assim o

fizerem, no futuro serão responsabilizados por isso.

É uma questão de opção.

Fig. 74 - Paisagem de socalcos preservada, Cabrizes.

Fig. 75 - Um bom exemplo de recuperação dopatrimónio, Foz de Égua.

Fig. 76 - Muros de elevada qualidadeconstrutiva, Portela do Arão.

Page 35: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

B i b l i o g r a f i aB i b l i o g r a f i aB i b l i o g r a f i aB i b l i o g r a f i aB i b l i o g r a f i a

BENNET, Hugo Hamnond (1965), Elementos de conservación del suelo, Fondo de CulturaEconómica, Buenos Aires, México.

FOURNIER, F. (1975), Conservacion de suelos, Consejo de Europa, Ediciones Mundi-Prensa.

FOREY, P.; FITZSIMONS, C. (1995) Flores Silvestres, Colecção «Pequenos Guias da Natureza»,Plátano, Lisboa.

FOREY, P.; FITZSIMONS, C. (1997), Flora e Fauna Mediterrânicas, Colecção «Pequenos Guias daNatureza», Plátano, Lisboa.

FOREY, P.; LINDSAY, R. (1997), Plantas Medicinais, Colecção «Pequenos Guias da Natureza»,Plátano, Lisboa.

GONZÁLEZ, G. López (2004) Guia de los árboles y arbustos de la Península Ibérica y Baleares

(Espécies silvestres y las cultivadas más comunes), 2ª edição corrigida, Edições Mundi-Prensa,Madrid.

HUMPHRIES, C. J.; PRESS, J. R.; SUTTON, D. A. (1996), Árvores de Portugal e Europa, Guias«Fapas», Clássica Artes Gráficas, Porto.

LOURENÇO, L. (1989) – O Rio Alva. Hidrologia, Geomorfologia, Climatologia e Hidrologia. Institutode Estudos Geográficos, Coimbra, 162p.

LOURENÇO, L. (1996) – Serras de Xisto do Centro de Portugal – Contribuição para o seu

conhecimento geomorfológico e geo-ecológico. Dissertação de Doutoramento. Faculdade deLetras da Universidade de Coimbra, p.757 (inédito).

LOURENÇO, L. (2004) – «Efeitos erosivos observados em campos agrícolas das áreas montanhosasdo Centro de Portugal na sequência de incêndios florestais.», A Península Ibérica – O espaço em

mutação, Actas, VI Colóquio Ibérico de Geografia, Porto, p. 999-1009.

MILEU, Roberto (2002), Agricultura e desenvolvimento rural, Confederação Nacional da Agricultura,Coimbra.

MARTÍN, Lídia E. R.; FLANO, Purificación R.; CALVENTO, Luís H. (2003) El Espacio de Bancales

en el tramo inferior de la cuenca del Guiniguada: caracteristicas ecoantrópicas y estado actual,VEGUETA, Número 7.

MARTÍN, Lídia E. R.; FLANO, Purificación R.; PÉREZ-CHACÓN E. (1994) Consecuencias

geomorfológicas del abandono de los cultivos en bancales: la cuenca del Guiniguada (Gran

Canaria, Islas Canarias), Sección de Geografia, Universidad de Las Palmas de Gran Canaria.

MARI, Antoni Colomar et al. (2001), Patrimoni de Marjades a la Mediterránia Occidental, una

proposta de catalogació, Projecto PATTER do Programa Europeu RAPAHEL, FODESMA.

REBELO, Fernando (2003), Riscos Naturais e Acção Antrópica - Estudos e reflexões, 2ª ediçãorevista e aumentada, Imprensa da Universidade de Coimbra, 286 p.

- 33 -

Page 36: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

- 34 -

IndíceIndíceIndíceIndíceIndíce

Introdução -------------------------------------------------------------------------------------------------- 3

1. Enquadramento geográfico ------------------------------------------------------------------------ 5

1.1. Caracterização física ----------------------------------------------------------------- 5

1.2. Caracterização demográfica -------------------------------------------------------- 6

2. Metodologia -------------------------------------------------------------------------------------------- 7

3. Áreas-amostra e parcelas experimentais ----------------------------------------------------- 9

3.1. Estrutura ---------------------------------------------------------------------------------- 10

3.2. Estado de conservação -------------------------------------------------------------- 13

3.3. Uso agrícola -------------------------------------------------------------------------------- 15

3.4. Fisionomia vegetal ----------------------------------------------------------------------- 17

3.5. Condições meteorológicas locais --------------------------------------------------- 19

3.6. Erosão nos socalcos -------------------------------------------------------------------- 21

4. Riscos naturais --------------------------------------------------------------------------------------- 23

4.1. Campos em socalcos e os incêndios florestais -------------------------------- 23

4.2. Campos em socalcos e episódios pluviosos extremos ---------------------- 24

5. Propostas de gestão e perspectivas ----------------------------------------------------------- 27

5.1. Prevenção dos riscos naturais através da redução do risco de incêndio ---- 28

5.2. Preservação do património de socalcos ---------------------------------------- 29

5.3. Roteiro turístico ------------------------------------------------------------------------ 30

Considerações finais ----------------------------------------------------------------------------------- 31

Bibliografia ------------------------------------------------------------------------------------------------- 33

Page 37: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

- 35 -

Projecto TerriscRecuperação de Paisagens de Socalcos e

Prevenção de Riscos Naturais

Núcleo de Investigação Científica de Incêndios FlorestaisFaculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Aérodromo da Lousã, Chã do Freixo, 3200-395 LousãTel. 239 992 251 / Fax. 239 992 302

[email protected]

Page 38: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s

Cimo da Ribeira

Piódão

Page 39: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Loriga

Page 40: NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios ... · NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais / Faculdade de Letras da Universidade de

P r o j e c t o Te r r i s c - R e c u p e r a ç ã o d e pa i s a g e n s d e socalco s e pr e v e n ç ã o d e ri s c o s na t u r a i s