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2 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006 DUAS PALAVRAS Propriedade, Redacção e Administração Federação Nacional dos Professores Rua Fialho de Almeida, 3 1070-128 LISBOA Tels.: 213819190 - Fax: 213819198 E-mail: [email protected] Home page: http://www.fenprof.pt Director: Paulo Sucena Chefe de Redacção: Luís Lobo [email protected] Conselho de Redacção: António Avelãs e Manuel Grilo (SPGL), António Baldaia (SPN), Fernando Vicente (SPRA), Nélio de Sousa (SPM), Luís Lobo (SPRC), Manuel Nobre (SPZS) Coordenação: José Paulo Oliveira [email protected] Paginação e Grafismo: Tiago Madeira Composição: Idalina Martins e Lina Reis Revisão: Inês Carvalho Impressão: SOCTIP - Sociedade Tipográfica, S.A. Estrada Nacional, nº 10, km 108.3 - Porto Alto 2135-114 Samora Correia Tiragem média: 70 000 ex. Depósito Legal: 3062/88 ICS 109940 O “JF” está aberto à colaboração dos professores, mesmo quando não solicitada. A Redacção reserva- se, todavia, o direito de sintetizar ou não publicar quaisquer artigos, em função do espaço disponível. Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. SINDICATO DOS PROFESSORES DA GRANDE LISBOA R. Fialho de Almeida, 3 - 1070-128 Lisboa Tel.: 213819100 - Fax: 213819199 E-mail: [email protected] Home page: www.spgl.pt SINDICATO DOS PROFESSORES DO NORTE Edif. Cristal Park R. D. Manuel II, 51-3º - 4050-345 Porto Tel.: 226070500 - Fax: 226070595 E-mail: [email protected] Home page: www.spn.pt SINDICATO DOS PROFESSORES DA REGIÃO CENTRO R. Lourenço Almeida de Azevedo, 20 3000-250 Coimbra Tel.: 239851660 - Fax: 239851666 E-mail: [email protected] Home page: www.sprc.pt SINDICATO DOS PROFESSORES DA ZONA SUL Av. Condes de Vil’Alva, 257 7000-868 Évora Tel.: 266758270 - Fax: 266758274 E-mail: [email protected] SINDICATO DOS PROFESSORES DA REGIÃO AÇORES Av. D. João III, Bloco A, Nº 10 9500-310 Ponta Delgada Tel.: 296205960 - Fax: 296629698 Home page: www.spra.pt SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA Edifício Elias Garcia, R. Elias Garcia, Bloco V-1º A - 9054-525 Funchal Tel.: 291206360 - Fax: 291206369 E-mail: [email protected] Home page: www.spm-ram.org SINDICATO DOS PROFESSORES NO ESTRANGEIRO Sede Social: Rua Fialho de Almeida, 3 1070-128 Lisboa Tel.: 213833737 - Fax: 213865096 E-mail: [email protected] Home page: www.spefenprof.org Sindicatos membros da FENPROF Manuel Grilo Não existe excesso de Democracia [email protected] A democracia é o pior dos sistemas com excepção de todos os outros (Win- ston Churchill e cá pelo burgo título de uma canção de Sérgio Godinho) 1. Os cartoons com a figura de Maomé, publicados em Setembro, na Dinamarca, fo- ram o pretexto para a violência que agora ocupa diariamente a comunicação social. O texto da violência, esse, é bem mais complexo. Radica na imposição de dita- duras que garantiam o petróleo a pataco, numa política que armou Bin Laden e os talibans contra os russos, Musharraf contra(?) Bin Laden, Saddam Hussein contra os iranianos e por aí fora e que culminou com as guerras e ocupações do Afeganistão e do Iraque. Lá mais para trás ficaram divisões de países feitas a régua e esquadro, segundo as lógicas coloniais, e a impo- sição de monarquias dóceis para com o ac- tual império, mas sanguinolentas q.b. para com os respectivos povos (a Arábia Saudita é o exemplo mais emblemático, mas não é único). O problema dos países do médio oriente não é terem muito petróleo, é terem pouca democracia e muita corrupção. O povo que por lá anda está farto, pelos vistos, da corrupção generalizada das ditaduras, está farto da miséria, e, à falta de outras alternativas, virou-se para o fundamentalismo religioso e agora para a guerra santa contra o ocidente. Se a matriz da política externa ocidental tivesse sido a democracia, que apregoa internamente, aposto que as coisas estariam bem diferentes. Certamente, o ocidente não seria tão rico, mas não estaríamos agora na iminência de novas guerras e o futuro não pareceria tão sombrio. É uma suposição, claro, mas é uma suposição de quem acredita que a democracia tem a virtua- lidade de resolver os problemas através do diálogo e da negociação. 2. Em Portugal assiste-se a uma forma de acção governativa que tem na “decisão” o seu emblema por contraposição ao “diálogo”, que teria caracterizado a ante- rior governação socialista. Ambos se enquadram formalmente na democracia, claro. Resta saber se é possível continuar indefinidamente a decidir sem diálogo, a errar, mas a afir- mar que mais vale errar decidindo que negociar sem nada decidir. Não há nenhu- ma oposição entre diálogo sério e de- cisão, pelo contrá- rio, a democracia exige ambas as coi- sas. O que não pode acontecer são as decisões dispara- tadas (exactamente por ausência de diálogo), como a alteração dos horá- rios dos professores, a instituição de aulas de substituição gratuitas ou ainda os prolongamentos que transformam escolas em “armazéns”. Não existe “excesso de democracia” em lado nenhum, mas quanto à falta dela estamos fartos de ver os efeitos. A rubrica desta revista chama-se Duas Palavras, mas permitam-me uma terceira. O Director Regional de Educação de Lisboa pretendeu impedir as reuniões sindicais na área de Lisboa e vai daí tomou uma decisão. Pensou ter aprendido o essencial do método governativo. Decide-se e pronto, nem precisa olhar para o lado. Ao lado, registe-se, os outros directores regionais ficaram, e bem, quietos. O assunto está agora nos tribunais, mas para já uma providência cautelar interposta pelo SPGL suspendeu tão bizarra decisão. Para que conste, o Director Regional em causa já foi dirigente sindical, por poucos meses é verdade, mas foi, e fazia reuniões sindicais. Coerências… Se a matriz da política externa ocidental tivesse sido a democracia, que apregoa internamente, aposto que as coisas estariam bem diferentes. Certamente, o ocidente não seria tão rico, mas não estaríamos agora na iminência de novas guerras e o futuro não pareceria tão sombrio

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2 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

DUAS PALAVRAS

Propriedade, Redacção e AdministraçãoFederação Nacional dos ProfessoresRua Fialho de Almeida, 31070-128 LISBOATels.: 213819190 - Fax: 213819198E-mail: [email protected] page: http://www.fenprof.pt

Director: Paulo Sucena

Chefe de Redacção: Luís [email protected]

Conselho de Redacção: António Avelãs e ManuelGrilo (SPGL), António Baldaia (SPN), FernandoVicente (SPRA), Nélio de Sousa (SPM), Luís Lobo(SPRC), Manuel Nobre (SPZS)

Coordenação: José Paulo [email protected]

Paginação e Grafismo: Tiago Madeira

Composição: Idalina Martins e Lina Reis

Revisão: Inês Carvalho

Impressão: SOCTIP - Sociedade Tipográfica, S.A.Estrada Nacional, nº 10, km 108.3 - Porto Alto2135-114 Samora CorreiaTiragem média: 70 000 ex.Depósito Legal: 3062/88ICS 109940

O “JF” está aberto à colaboração dos professores,mesmo quando não solicitada. A Redacção reserva-se, todavia, o direito de sintetizar ou não publicarquaisquer artigos, em função do espaço disponível.Os artigos assinados são da exclusivaresponsabilidade dos seus autores.

SINDICATO DOS PROFESSORESDA GRANDE LISBOAR. Fialho de Almeida, 3 - 1070-128 LisboaTel.: 213819100 - Fax: 213819199E-mail: [email protected] page: www.spgl.pt

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Sindicatos membrosda FENPROF

Manuel Grilo

Não existe excesso de Democracia

[email protected]

A democracia é o pior dos sistemascom excepção de todos os outros (Win-ston Churchill e cá pelo burgo título de umacanção de Sérgio Godinho)

1. Os cartoons com a figura de Maomé,publicados em Setembro, na Dinamarca, fo-ram o pretexto para a violência que agoraocupa diariamente a comunicação social.

O texto da violência, esse, é bem maiscomplexo. Radica naimposição de dita-duras que garantiamo petróleo a pataco,numa política quearmou Bin Laden e ostalibans contra osrussos, Musharrafcontra(?) Bin Laden,Saddam Husse incontra os iranianos epor aí fora e queculminou com asguerras e ocupaçõesdo Afeganistão e doIraque. Lá mais paratrás ficaram divisõesde países feitas arégua e esquadro,segundo as lógicascoloniais, e a impo-sição de monarquias dóceis para com o ac-tual império, mas sanguinolentas q.b. para comos respectivos povos (a Arábia Saudita é oexemplo mais emblemático, mas não é único).

O problema dos países do médio orientenão é terem muito petróleo, é terem poucademocracia e muita corrupção.

O povo que por lá anda está farto, pelosvistos, da corrupção generalizada dasditaduras, está farto da miséria, e, à faltade outras alternativas, virou-se para ofundamentalismo religioso e agora para aguerra santa contra o ocidente.

Se a matriz da política externa ocidentaltivesse sido a democracia, que apregoainternamente, aposto que as coisas estariambem diferentes. Certamente, o ocidente nãoseria tão rico, mas não estaríamos agora naiminência de novas guerras e o futuro nãopareceria tão sombrio. É uma suposição,claro, mas é uma suposição de quemacredita que a democracia tem a virtua-

lidade de resolver os problemas através dodiálogo e da negociação.

2. Em Portugal assiste-se a uma formade acção governativa que tem na “decisão”o seu emblema por contraposição ao“diálogo”, que teria caracterizado a ante-rior governação socialista. Ambos seenquadram formalmente na democracia,claro. Resta saber se é possível continuar

indefinidamente adecidir sem diálogo,a errar, mas a afir-mar que mais valeerrar decidindo quenegociar sem nadadecidir.

Não há nenhu-ma oposição entrediálogo sério e de-cisão, pelo contrá-rio, a democraciaexige ambas as coi-sas. O que não podeacontecer são asdecisões dispara-tadas (exactamentepor ausência dediálogo), como aalteração dos horá-rios dos professores,

a instituição de aulas de substituiçãogratuitas ou ainda os prolongamentos quetransformam escolas em “armazéns”.

Não existe “excesso de democracia” emlado nenhum, mas quanto à falta delaestamos fartos de ver os efeitos.

A rubrica desta revista chama-se DuasPalavras, mas permitam-me uma terceira.O Director Regional de Educação de Lisboapretendeu impedir as reuniões sindicais naárea de Lisboa e vai daí tomou uma decisão.Pensou ter aprendido o essencial do métodogovernativo. Decide-se e pronto, nem precisaolhar para o lado. Ao lado, registe-se, osoutros directores regionais ficaram, e bem,quietos. O assunto está agora nos tribunais,mas para já uma providência cautelarinterposta pelo SPGL suspendeu tão bizarradecisão. Para que conste, o Director Regionalem causa já foi dirigente sindical, por poucosmeses é verdade, mas foi, e fazia reuniõessindicais. Coerências…

Se a matriz da políticaexterna ocidental tivessesido a democracia, queapregoa internamente,aposto que as coisas

estariam bem diferentes.Certamente, o ocidentenão seria tão rico, mas

não estaríamos agora naiminência de novas

guerras e o futuro nãopareceria tão sombrio

JORNAL DA FENPROF 3FEVEREIRO 2006

José Salvado SampaioNome de um homem íntegroÀ memória de José SalvadoSampaio que foi, com toda acerteza, um dos melhores de nósdurante toda a história doMovimento Sindical Docente.

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SUMÁRIO

ESCOLASAutonomia, sim! Contratualização, não!24

REVISÃO DO ECDUm processo que exige o envolvimento de toda a classeMário Nogueira4Substituições, prolongamentos de horárioe conteúdo funcional da profissão

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181º CICLODesenvolvimento do país exige uma nova Escola20

EM FOCOPosição da FENPROF em relaçãoao novo diploma de concursos

6 ACTUAL

16A profissão, os professores e a sua carreiraO debate fundamental!

ENCONTRO DE QUADROS

Professores e Administração Pública:Ninguém vira a cara à luta

ACÇÃO REIVINDICATIVA

O Dr. José Savado Sampaio participando numareunião de trabalho da FENPROF, aqui emconversa com Abel Macedo, Coordenador doSPN e membro do SN da Federação

JPO

4 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

Um processo que exige o envolvimentode toda a classe

P

REVISÃO DO ECD

ara a FENPROF a revisão do Estatutode Carreira dos Educadores deInfância e Professores dos EnsinosBásico e Secundário (ECD) não éuma prioridade. Todos sabem por

que razão o Ministério da Educação apretende: integrar no ECD medidas que têmsido aprovadas através de quadros legaisavulsos, designadamente relacionadas como regime e horário de trabalho ou com ascomponentes lectiva e não lectiva daactividade docente; alterar a estrutura dacarreira dos professores e educadores, bemcomo a avaliação do desempenho dopessoal docente, nomeadamente “afu-nilando” o acesso aos escalões de topo,criando constrangimentos e barreirasdiversas à progressão… medidas que nadatêm a ver com a valorização da profissãoou da carreira, com o reconhecimento doverdadeiro mérito dos professores eeducadores, mas somente dar corpo aosdesígnios economicistas das políticasgovernativas para a Administração Pública.

Porém, a FENPROF não enjeita essarevisão, pois sabe não depender de si ou davontade dos professores e educadores queela se realize. Assim, irá envolver-se narevisão com empenhamento e espíritoofensivo, pois jogar à defesa é sempre meiocaminho andado para perder.

A FENPROF apresentará propostas quevisam valorizar e dignificar a profissãodocente, dando enfoque ao capítulo dosdireitos e deveres profissionais. Aí se jogará(quase) tudo, pois será esse primeiro e muitoimportante capítulo que enformará o ECD.

Nesta revisão há que estar atento àstentativas de despojar o ECD das questõeséticas e deontológicas, procurando reservarpara outro(s) documento(s) essas refe-rências essenciais ao exercício profissionaldocente. Há que evitá-lo. O ECD não poderáser um mero contrato de trabalho, que fixeexclusivamente as normas de contrataçãoe relação laboral (salários, carreiras, regimede faltas e férias…). O ECD deverá manter--se a referência maior da profissão docenteem todas as suas vertentes.

Nele, há que definir, com rigor, o que écomponente lectiva e não lectiva, deixando

claro o que cabe emcada uma delas; há queaperfeiçoar o regime deavaliação do desem-penho, garantindo oseu carácter formativo,a sua centralidade noespaço-escola, o res-peito por dinâmicas deauto-avaliação e deavaliação cooperativa;é preciso que a estru-tura de carreira sejahorizontal e obedeça aprincípios de carreira única que valorize osgraus académicos e as formações acrescidasque se traduzam em efectivas “mais-valias”para os profissionais; é indispensável que oECD, depois de revisto, consagre princípiosde estabilidade de emprego e profissional quehoje não contém; é indispensável que o ECDconsagre os instrumentos indispensáveis aosprofessores para uma acção/intervenção desucesso numa escola cada vez mais exigentee complexa, fixando novas e mais favoráveiscondições de trabalho...

Não é isso que o Ministério da Educaçãoe o Governo querem para esta revisão. Logo,a FENPROF assume o compromisso de lutarcontra propostas que visem introduzir oscontratos individuais de trabalho naprofissão docente; que procurem criar umregime de avaliação com quotas paraatribuição das classificações mais elevadas;que tornem piramidal a estrutura da carreiradocente; que tentem integrar regras que,de forma avulsa, o ME tem vindo a impor,subvertendo as funções docentes e agra-vando os horários de trabalho; que preten-dam liquidar ou reduzir direitos hojeconsagrados por, justamente, respeitareme responderem a aspectos concretos e muitoespecíficos do exercício profissional docentee das condições em que se desenvolve.

Esta revisão será oportunidade, ainda,para tentar recuperar terreno perdido nasequência do brutal ataque desferido peloGoverno contra os direitos dos trabalha-dores da Administração Pública, comincidência directa nos professores eeducadores. É o caso do roubo do tempo de

serviço, que se mantém até ao próximo dia31 de Dezembro e ao aumento da idade deaposentação para os 65 anos. No primeirocaso, o Governo não respeitou um direitobásico de qualquer trabalhador e roubou osdias de trabalho. Quanto à aposentação, oGoverno e o ME revelaram-se insensíveis àespecificidade da docência e ao desgasteque provoca nos profissionais o exercíciocontinuado da profissão. Demagógica, comohabitualmente, a ministra veio afirmar dasua disponibilidade para aprovar um tipode actividade diferente da lectiva para osúltimos anos da profissão. Demagógica,claro, porque se fosse essa a sua intençãonão teria revogado unilateralmente o artigo121º do ECD e, assim, retirado aos docentesa dispensa de componente lectiva no anoda sua aposentação.

O ME, percebendo que os professorespretendem envolver-se, como devem, narevisão, vai já, prepotente e arrogantementecomo é timbre dos seus responsáveis,tomando medidas anti-democráticas pelasquais pretende impedir os professores departicipar na actividade sindical. Por muitoque tente não conseguirá evitar o envolvi-mento dos professores no processo derevisão e nas lutas que se adivinham,enormes e muito fortes, se vierem aconfirmar-se as intenções governativas.

Na estratégia negocial que a FENPROFvier a definir terá uma particular impor-tância a estratégia reivindicativa. Uma nãosobreviverá sem a outra. Ambas exigirão dosprofessores e educadores um grandeempenhamento.

Mário Nogueira (Secretariado Nacional da FENPROF,Coordenador da Comissão Negociadora Sindical)

Na estratégia negocial que a FENPROF vier a definir terá uma particularimportância a estratégia reivindicativa

JORNAL DA FENPROF 5FEVEREIRO 2006

Paulo Sucena (Secretário Geral da FENPROF)EDITORIAL

Dizer não basta

T

JORNAL DA FENPROF 5FEVEREIRO 2006

odo o pensamento progressista acompanhacom inquietação a falta de uma respostaeficaz do sistema educativo público àsexigências contidas na Constituição daRepública e na LBSE. Portugal necessita

urgentemente de uma população activa dotada demuito melhores qualificações do que aquelas queos trabalhadores hoje em dia possuem. Tal objectivosó é possível de atingir se a escola pública erradicaros inaceitáveis índices de insucesso e abandonoescolar precoce que a afligem. Sem postergar o papeldo sistema privado no desenvolvimento da educaçãoe do ensino, a FENPROF, desde sempre, defende quea democratização do ensino em Portugal passa pelaexpansão de uma escola pública de qualidade einclusiva. Uma escola que seja um espaço de realizaçãohumana e de desenvolvimento multilateral de todosos seus alunos, uma escola que atraia e não queafugente, uma escola que mostre e demonstre que osaber e o saber fazer são indispensáveis.

Pôr essa escola de pé é um desígnio que nãopode mais ser esquecido ou olhado prazenteira-mente como se o futuro pudesse esperar. Claro quepensamos num futuro muito diferente destepresente, com cerca de um milhão de analfabetos,com perto de dois milhões de pessoas no limiar dapobreza, com uma percentagem inaceitável deadolescentes e de jovens a abandonarem o sistemaeducativo sem qualificações que lhes permitam umaentrada esperançosa no mundo do trabalho.

Este é um presente eivado pela mais profundainjustiça consubstanciada no facto de cada vez maisvermos mais alunos singrarem no sistema com oreforço extra-escolar que as famílias com posseslhes facultam. E o que acontece e acontecerá àmaioria dos estudantes que são provenientes defamílias cuja pecúnia não chega para esses extrasse a escola pública não tiver as condiçõesnecessárias para lhes abrir os caminhos do sucessoeducativo? Soçobram como até hoje tem acontecido.O país tem que vencer esta injustiça ou Abrilpermanecerá pobre.

A FENPROF tem reiteradamente afirmado àMinistra da Educação que a nossa Federação temelegido como lema dos seus últimos Congressos adefesa de uma escola pública de qualidade para

todos e que os seus dirigentes e os dos seusSindicatos bem como os professores portuguesesestão disponíveis para colaborarem autónoma massolidária e criticamente na construção e expansãodessa escola. A Professora Maria de LurdesRodrigues, pelo seu lado, diz frequentemente que asua grande aposta é também essa, mas dizer nãobasta. É preciso debater as estratégias, definir osobjectivos, arrolar os recursos, mobilizar osprofessores, responsabilizar as famílias, implicar oGoverno, assumir um projecto e um compromisso.

E vamos a isso, Senhora Ministra! Aqui lhe deixouma primeira sugestão, singular, é certo, mas derelevante e decisiva importância – exija o máximode profissionalidade de cada docente. Porém essaexigência só é eticamente legítima se a Ministra daEducação atender e respeitar a incontornávelreivindicação dos professores – a de que o Ministérioda Educação não abastarde o seu perfil profissionalnem secundarize as grandes finalidades e objectivosdo desempenho quotidiano dos docentes. Se tal foraceite, isso implicará, em tempo oportuno, asuspensão dos dois funestos despachos, a avaliaçãorigorosa das consequências da sua aplicação e umaposterior decisão política que desanuvie o pesadoclima que se vive em muitas escolas, passo primeiroe indispensável para a construção da escola públicaque a Ministra da Educação tanto diz ansiar vererguida.

Os professores vão dar-lhe um sinal e umaforcinha, na semana de 20 a 24 de Fevereiro, paraque tome a decisão que o futuro da Educação exigeà Professora Maria de Lurdes Rodrigues, Ministrada Educação num presente de portas fechadas parao futuro porque não há futuro nesta área sem amobilização dos professores, estimulados pelaconfiança e solidariedade do Governo nelesdepositadas, e pelo incentivo e valorização social eprofissional promovidos quotidianamente peloMinistério da Educação.

Ou a Professora Maria de Lurdes Rodrigues ajudaa que o ainda que não é se concretize no futuro – eesse ainda já é semente e movimento em direcção aesse futuro – ou, em termos políticos, morrerá naescassez do seu dizer, mergulhada num presentetragicamente voltado para o passado.

6 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

ME recusou negociação,professores avançaram para a GreveNo fecho desta edição do JF, o Secretariado Nacional da FENPROF, reunido a 9 e 10 deFevereiro em Lisboa, confirmava a Greve às actividades de substituição e à permanência dosprofessores e educadores nos prolongamentos de horários em escolas do 1º Ciclo do EnsinoBásico e Jardins de Infância. A Greve foi marcada para a semana de 20 a 24 de Fevereiro.

Substituições e prolongamentos de horário

decisão da FENPROF reforça-secom a falta de disponibilidade doMinistério da Educação parainiciar e desenvolver um processonegocial em torno das propostas

por si apresentadas no sentido da suspensãoe substituição dos Despachos 16795 e17387, ambos de 2005, limitando-se ainformar a FENPROF que “caso seja essa a[sua] vontade” o ME aceita uma reunião arealizar no próximo dia 16, quinta-feira.Contudo, não lhe atribui carácter negocial.

A FENPROF recorda que estes doisdespachos foram publicados em Agosto de2005, sem qualquer negociação com asorganizações sindicais, e introduziramgraves perturbações no funcionamento dasescolas e na sua organização pedagógica,para além de darem origem a inúmerassituações irregulares e ilegais, violadoras,designadamente, do Estatuto da CarreiraDocente.

FENPROF propõesoluções construtivas, ME rejeita

Durante o primeiro período do presenteano lectivo, a FENPROF tentou efectiva-mente negociar um conjunto de soluçõesque permitiriam substituir aqueles des-pachos por normativos respeitadores doconteúdo funcional da profissão docente eque garantiriam uma boa organização dasescolas, melhorando as condições indis-pensáveis ao seu bom funcionamento e aoêxito educativo dos alunos.

Em Novembro, o ME rejeitou, noessencial, as propostas apresentadas pelaFENPROF, razão que levou à realização deuma das maiores greves e manifestações dedocentes no dia 18 daquele mês.

A não aceitação, naquela altura, das

posições do ME e, por consequência a nãoassinatura de um protocolo de acordo pelaFENPROF levaram o Ministério a juntar-seà FNE e a produzir um conjunto deinterpretações/orientações que foramenviadas às escolas. Só que essas orien-tações não resolveram os problemas e, emalguns aspectos, até os agravaram.

No início do mês de Janeiro a FENPROFsolicitou reunião ao ME para formalizar aentrega de propostas concretas com vistaà suspensão e substituição dos despachos,a qual se realizou no dia 25. Nessa reuniãoforam entregues as propostas sindicais,tendo sido solicitada a abertura e odesenvolvimento de um processo negocialespecífico.

No dia 31 de Janeiro, a FENPROF

reiterou a necessidade de se iniciar oprocesso negocial pretendido, tendo sidoagora confrontada com a possibilidade derealização de uma reunião, relativamente àqual o ME já fez saber que não levará àsuspensão dos despachos, limitando-se aenviar à FENPROF o relatório ME/FNE jásobejamente conhecido.

É neste quadro de arrastamento desituações que constrangem e prejudicam onormal funcionamento das escolas e violamdireitos legais consagrados, a que se juntaum Ministério da Educação, que recusaqualquer negociação sobre esta matéria queo Secretariado Nacional da FENPROF confir-mou a necessidade de se avançar para aGreve às substituições e aos prolonga-mentos de horário.

A

A incapacidade negocial e a teimosia do ME prejudicam directamente a vida escolar

ACTUAL

JORNAL DA FENPROF 7FEVEREIRO 2006 JORNAL DA FENPROF 7

PROPOSTAS PARA ALTERAÇÃODO DESPACHO 16.795

PROLONGAMENTOS DE HORÁRIO

1. As respostas sociais a prestar àscrianças e respectivas famílias serãogarantidas através da generalização de umacomponente de apoio social às famílias.

2. No 1.º Ciclo do Ensino Básico deverá,gradualmente, ser desenvolvida umacomponente de apoio social às famíliassemelhante à que se encontra organizadapara a Educação Pré-Escolar.

3. Os estabelecimentos do 1.º Ciclo doEnsino Básico, poderão manter-se abertos,no mínimo, até às 17.30 horas, com vista àoferta de actividades de animação e deapoio às famílias. Poderão ainda serdesenvolvidas actividades de enriqueci-mento curricular, bem como outras, defrequência facultativa.

4. Em caso algum compete aos docenteso acompanhamento directo ou desenvol-vimento de actividades de animação e deapoio às famílias, independentemente deterem ou não serviço lectivo atribuído.

5. As actividades de enriquecimentocurricular ou outras, que sejam da responsa-bilidade de professores e educadores:

a) serão consideradas no âmbito da suacomponente lectiva se tiverem regularidadesemanal;

b) serão consideradas serviço docenteextraordinário se não revestirem essecarácter regular;

c) em quaisquer circunstâncias haverá

sempre lugar ao pagamento dedeslocações, quando se efectu-arem.

6. As actividades referidasdeverão integrar o projectoEducativo de Escola/Agrupa-mento.

7. Compete aos órgãos degestão das escolas/agrupa-mentos supervisionar as activi-dades que têm lugar em horáriopós lectivo (o que não significa anecessidade de acompanhamentodirecto).

PROPOSTAS PARA ALTERAÇÃODO DESPACHO 17.387

1. De acordo com o Despachonº 17387/2005, de 12 de Agosto,compete às escolas e agrupamentosdeterminar o número de horas a

fixar no horário dos docentes, assim comodefinir as actividades a desenvolver pelosprofessores no âmbito da componente nãolectiva de estabelecimento. Neste contexto,o número total de horas registado, conside-radas as componentes lectiva e não lectivado horários dos professores e educadores,deve ter como referência o previsto noartigo 77º do ECD. Os tempos comuns aosprofessores das várias estruturas peda-gógicas intermédias, para a realização detrabalho colectivo, serão definidos peloConselho Pedagógico, ouvidas essas estru-turas, designadamente no que respeita àdefinição de referenciais temporais paraesse trabalho.

2. Os docentes que desempenhemserviço nos SPO’s regem-se pelas mesmasregras de organização do horário.

3. As actividades de apoio pedagógico,complemento curricular e reforço deaprendizagens, incluindo as que se desen-volvem nos termos do Despacho 50/2005,integram-se na componente lectiva dosdocentes.

SUBSTITUIÇÃO DE PROFESSORES

4. Na ausência imprevista e de curtaduração de docentes, na educação pré-es-colar e no ensino básico, os alunos poderãoser ocupados em actividades educativas desubstituição, organizadas nos termosestabelecidos nos artigos 10º, 82º e 83º doEstatuto da Carreira Docente e, em conse-quência, consideradas serviço docenteextraordinário. Para este efeito, a escola

deve organizar, em espaços diversificados edevidamente apetrechados, actividades desala de estudo, biblioteca, leitura orientada,sala de informática, clubes, entre outras.

5. Estas actividades só poderão serdesenvolvidas por docentes com redução dacomponente lectiva nos termos do artigo79º do ECD, não podendo ultrapassar os50% da redução até um máximo de doistempos semanais.

6. As actividades referidas no ponto 4poderão revestir o carácter de aulas desubstituição, na mesma disciplina ou grupodisciplinar. Nesse caso, serão de caráctervoluntário, continuando a ser entendidascomo serviço docente extraordinário, nostermos do artigo 83º do ECD.

7. A ausência do docente a períodos de45 minutos, ainda que de uma aula de 90,será registada como falta a um tempo lectivo.

8. O exercício de cargos de naturezapedagógica dá sempre origem a redução donúmero de horas lectivas.

9. O crédito global de horas atribuídoàs escolas e agrupamentos de escolas deveráser calculado de acordo com as suasnecessidades reais tendo em conta onúmero de alunos e de turmas existentes,os projectos educativos específicos, asnecessidades ao nível do apoio pedagógicoe as actividades decorrentes da aplicaçãodos planos de acompanhamento, recu-peração e desenvolvimento.

Os despachos nº 16795/2005 e nº17387/2005, publicados, respecti-vamente, em 3 e 12 de Agosto,sem que tivesse decorrido qual-quer processo negocial, intro-duziram nas escolas graves per-turbações de organização e fun-cionamento. Além de que, emdiversos aspectos, contrariamdisposições legais contidas noEstatuto de Carreira dos Educa-dores de Infância e dos Profes-sores dos Ensinos Básico eSecundário (ECD), bem como emoutra legislação.

8 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

ENCONTRO DE QUADROS SINDICAIS DE REFLEXÃO SOBRE A CARREIRA DOCENTE

s palavras são de Paulo Sucena eforam proferidas no encerramentodo recente Encontro de QuadrosSindicais de Reflexão sobre aCarreira Docente. O secretário-geral

da FENPROF sublinhou, noutra passa-gem, que "deveremos continuar a reflectircorajosamente sobre o que queremos paraa nossa profissão".

A iniciativa, que decorreu nos dias 26 e27 de Janeiro, nas instalações do INATEL,na Caparica, e que reuniu dirigentes detodos os Sindicatos que integram aFENPROF, constituiu um excelente contri-buto para a dinamização de um debatealargado sobre a profissão, os professores ea sua carreira.

"Liquidar ou reduzir direitos, ardua-mente conquistados e a que o Governo deSócrates chama privilégios é o grandeobjectivo da revisão do Estatuto da CarreiraDocente que o Ministério da Educação se

Um debate fundamentalA profissão, os professores e a sua carreira

"Os professores nunca tiveram medo de ser avaliados. O problema é saber como se avalia comrigor, sem criar injustiças nem desigualdades num sector com cerca de 150 mil profissionais,em contextos humanos, sociais e culturais extraordinariamente diferentes. Como é que sepode dizer: este é que merece, aquele não. Temos que estar preparados para a construção derespostas objectivas a este problema. Vão continuar a aparecer por aí os doutores da opiniãopública a mandar depois uns palpites sobre a matéria. Temos que olhar de frente esta questão.Não temos medo das avaliações, mas também sabemos o que é a profissão docente e a suacomplexidade".

prepara para fazer avançar", afirmou, porseu turno, Mário Nogueira, coordenador doSPRC, membro do Grupo Negociador daFENPROF e do seu Secretariado Nacional.O dirigente sindical, que falava também nosmomentos finais do encontro da Caparica,ao abordar essencialmente "as linhas geraispara o trabalho futuro", deixaria ainda outroalerta a propósito das negociações do ECDque se aproximam:

"Vamos ter que resistir, mas vamostambém ter que definir e divulgar junto dosdocentes de todo o País, em todas as escolasde todas as regiões, os nossos objectivos deluta e as nossas propostas, dinâmicas econstrutivas, capazes de unir os educadorese os professores. Vamos ter que lutar muito,mas temos também que fazer uma boagestão da luta, numa perspectiva de acçãodos professores, a nível das escolas, a nívelnacional, no âmbito da AdministraçãoPública e do conjunto dos outros tra-

balhadores, no quadro da CGTP-IN".O segundo dia do encontro incluiu o

tratamento de temas como a estabilidadedo corpo docente e os incentivos (comu-nicações de Anabela Delgado e Vítor Gomes)e direitos e deveres profissionais (AdrianoTeixeira de Sousa e Abel Macedo).

Faltas, férias, dispensas e licenças: oregime geral e as especificidades daprofissão docente (João Baldaia e AntónioGonçalves) e a aposentação dos professores:o desgaste provocado por uma profissãocom grandes exigências (Henrique Borgese Francisco Almeida) - foram outros temasem foco no segundo dia do encontro dereflexão promovido pela FENPROF.

O Encontro, recorde-se, abriu, na manhãdo dia 26, com breves notas de enquadra-mento da iniciativa com indicações precisasrelativamente aos objectivos do Secre-tariado Nacional com a sua marcação, porparte de Mário Nogueira (Coordenador do

A

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JORNAL DA FENPROF 9FEVEREIRO 2006

Grupo Negociador da FENPROF) e de PauloSucena (secretário-geral), que centraram assuas intervenções nas razões da escolha dostemas para preparar a intervenção conse-quente da organização sindical e iniciar umdebate tão aprofundado quanto possívelsobre o que é ser Professor hoje, as basesda profissão, responsabilidades, perspectivase expectativas em relação ao futuroprofissional dos docentes.

Contributos de Almerindo Janela Afonsoe Isabel Baptista

O primeiro dia dos trabalhos registouas comunicações de Almerindo JanelaAfonso (foto), da Universidade do Minho, eIsabel Baptista, membro do ConselhoNacional da FENPROF e da Direcção do SPNe docente da Universidade Católica no Porto,que intervieram a propósito das expecta-tivas e perspectivas existentes sobre aprofissão, os profissionais e a carreiradocente, bem como sobre o papel da Escolaenquanto factor de aprofundamento de umacultura democrática, solidária e mul-ticultural.

O Encontro prosseguiu, de tarde, com odebate sobre a avaliação do desempenhodos professores e educadores, cruzandodiversas realidades existentes na admi-nistração pública e no sector privado,avaliando a actual legislação e as intenções

mais ou menos declaradas de mudançasnesta matéria, nomeadamente através daextensão dos modelos uniformizadoresimpostos para administração pública quenão têm em conta realidades específicas,como neste caso da profissão docente. Asintervenções iniciais sobre esta matériapertenceram a Manuela Mendonça, Au-gusto Pascoal e Isabel Baptista.

A edição de Fevereiro do Jornal daFENPROF dará particular atenção a esteEncontro promovido pela Federação Nacio-nal dos Professores, incluindo contributosde outros convidados que por motivos deforça maior não puderam estar presentesna Caparica.

JPO/LL

O Movimento “Não apaguem aMemória!”, constituído na se-quência de uma acto público deprotesto no passado dia 5 deOutubro contra a conversão doedifício que albergou a sede daantiga PIDE/DGS em condomínioresidencial, é uma iniciativa cívicaaberta e plural visando contribuir,em convergência com todas asorganizações e cidadãos que par-tilham as mesmas preocupações eobjectivos, para a salvaguarda, investigação e divulgação da memóriahistórica do Estado Novo e da resistência à ditadura nesse período epara dar força à exigência de que os poderes públicos assumam as suasresponsabilidades no aproveitamento e preservação, com essa finalidade,dos principais espaços emblemáticos dessa realidade.É assim que “Não apaguem a memória” se dirige aos professores eeducadores para que apoiem e se envolvam neste projecto que “foi jáobjecto de adesão de muitos cidadãos dos mais diversos sectores sociaise correntes de opinião”.Consulta, descarrega, promove, assina e envia o abaixo-assinadodisponível em http://maismemoria.org

Para que “Fascismo nunca mais!”Não apaguem a memória!

O edifício na actualidade, ondenascerá um condomínio de luxo

Rua da Misericórdia, 951200-271 Lisboa

JORNAL DA FENPROF 9FEVEREIRO 2006

10 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

s problemas dos professores nadatêm a ver com a inexistência de umaOrdem profissional. Os problemasdos professores são as insuficientescondições de trabalho que encon-

tram em muitas escolas; é a ausência derecursos para concretizarem os seusprojectos educativos; é o isolamento e oafastamento, durante semanas, de fami-liares e amigos; é o desemprego e ainstabilidade, os contratos a prazo e oshorários-zero. Os problemas dos professoressão as medidas impostas que os obrigam aficar de plantão à espera de substituircolegas e em prolongamentos a animar

tempos livres (os animadores foram sópromessa da ministra); é o congelamentoda carreira e o roubo de tempo de serviçoimposto pelo Governo; é quererem emerecerem reformar-se, mas terem deesperar até aos 65 anos. Esses sim, sãoalguns dos mais relevantes problemas queafectam os profissionais e a profissãodocente e que urge combater para alterar.

Os problemas dos professores não são adefinição de habilitações para o exercícioda sua profissão, ainda que a qualidade dasformações careça de grande discussão. Masesse é um problema de sucessivos governosque temem enfrentar os lobbies instalados,

A velha conversa da Ordem…Mário Nogueira (Secretariado Nacional da FENPROF, Coordenador da Comissão Negociadora Sindical)

De vez em quando os professores e educadores portugueses são confrontados com a questãoda Ordem. A sua eventual criação surge como o remédio para os problemas que afectam oexercício profissional da docência... puro engano!

alguns, hoje, com forte presença no ME. Osproblemas dos professores não se resolvemcom a criação de uma qualquer instânciaque os fiscalize, lhes caia em cima, os punae penalize, disso já têm e dão-se mal. O quefaltam são incentivos e apoios, esses sim,seriam de grande importância.

Dizem que quem não é pela Ordemdefende que a actividade docente nãodeverá respeitar regras de ética e deonto-logia profissional. Deverá e respeita. Aliás,se não respeitasse, com os maus exemplosque chegam de cima, mal iriam as escolase a relação dos professores com os seusalunos. Há maus exemplos, casos em relação

Isabel Baptista, na sessão que teve por tema “Ser Professor hoje”, contrariando a ideia deque a profissão necessita de uma Ordem dos Professores - no que foi acompanhada porAlmerindo Janela Afonso, docente da Universidade do Minho - ou de um Código Deontológico,defendeu a integração de uma ética da profissão no conteúdo do Estatuto da CarreiraDocente. Apresentou, também, sete ideias por si defendidas que fomentariam uma reinvençãodemocrática da profissão, a partir dos próprios profissionais e em seu interesse e dasociedade:

1. Defender a pedagogia como referência dos professores;

2. Defender que a formação inicial e contínua dos professores e educadores constituamespaços de excelência para o desenvolvimento de uma ética profissional;

3. Ter uma escrita profissional que fomente e fundamente a profissão com a sua especificidadee autonomia;

4. Desfazer o divórcio entre instituições de formação de professores e as escolas e osprofessores;

5. Reforço do associativismo docente, alargando as boas práticas sindicais e dandocorrespondência às melhores expectativas que a sociedade tem dos Sindicatos;

6. Desenvolvimento da solidariedade profissional, o estabelecimento de redes deprojectos e o cruzamento de dados com vista à promoção e divulgação de boas práticas;

7. Valorizar a Escola e investir na Escola Pública.

Para a assunçãode uma ética profissional

Isabel Baptista

O

ENCONTRO DE QUADROS SINDICAIS DE REFLEXÃO SOBRE A CARREIRA DOCENTE

10 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

JORNAL DA FENPROF 11FEVEREIRO 2006

aos quais se pode apontar o dedo? Pois há...mas também há 147.000 professores eeducadores em Portugal!

As regras de conduta, ética e deon-tologia profissional, que se defendem, nãoprecisam de constar em qualquer código ouser fiscalizadas por instâncias a criar. Elasdeverão integrar-se no estatuto de carreirados docentes, cabendo aos pares, no âmbitoda gestão democrática das escolas e, emespecial, dos seus órgãos pedagógicos,analisar em cada momento a atitudeprofissional dos colegas. A profissionalidadedocente não é avaliável por nenhum inspec-tor ou outro agente da administraçãoeducativa, muito menos pelo Ministério daEducação e de forma alguma por umaOrdem ou instância do género, exterior àescola, aos seus contextos educativo e so-cial, às suas dinâmicas de trabalho.

Unidade dos Professores

Não se pretende, com esta reflexão,criticar a existência de ordens profissionais.Cada profissão tem especificidades ecaracterísticas que a tornam diferente dasrestantes e compete aos respectivosprofissionais fazer a sua própria reflexão etomar as suas decisões neste domínio.Quanto aos professores, ainda há cerca dedois meses a Assembleia da República sedebruçou sobre o assunto tendo a ideia deuma Ordem para os profissionais docentessido larga e duramente criticada. E umaOrdem, para ser criada, tem de mereceraprovação parlamentar, não bastando queuma qualquer associação coloque a per-gunta a um grupo de associados que nãorepresenta sequer 10% do total dosprofissionais.

Termino reforçando a ideia da unidadedos professores na exigência e na acção poruma profissão valorizada, dignificada erespeitada. Nesse sentido contribuiria,ainda, e de forma determinante, que osgovernantes, ministra e primeiro-ministroincluídos, respeitassem em actos e palavrasos professores e educadores. Não o fazem ecom essa atitude abrem portas a outrosdesrespeitos, o que é mau... É esse discurso,é essa prática, são os problemas atrásreferidos que têm de ser resolvidos para quea profissão docente seja respeitada, se valo-rize e, com isso, ganhem não só osprofessores, mas o ensino e a sua qualidadee também as escolas e os alunos. Com aOrdem ganhariam apenas alguns... os queordenassem.

BlocodeNotasSobre pressão...no refeitórioEla?! Professora?! Sim.

Maria é uma personagem real comuma interpretação irreverente e extraor-dinária. Resiste à pressão que sobre elaé exercida diariamente, mas, apesardisso, sem baixar o braços, Maria nãoquis deixar que espezinhassem os seusdireitos e resistiu sempre às sucessivasordens para que exercesse funçõescompletamente abstrusas se as consi-derarmos no âmbito da sua profissão.

Uma delas prende-se com o horáriode refeitório. SIM! O horário que tinhade cumprir no refeitório da sua escola,integrando a sua componente nãolectiva de estabelecimento. Eram asaulas inúteis de substituição e os ilegaisapoios pedagógicos fora da compo-nente lectiva, pois, aos olhos do minis-tério, trata-se de horas em que seocupam crianças e jovens sem intencio-nalidade pedagógica...

Mas Maria recusou. Maria não

queria acreditar que alguém a quisessepôr a tomar conta de meninos norefeitório da escola. Porém aconteceu.Tendo solicitado esclarecimentos sobreas reais intenções do chefe, não passoumuito tempo para ficar tão esclarecidaquanto se poderá ver. “Velar pelocumprimento de regras aquando daentrada para a cantina” e “Impedir queos alunos, enquanto estes almoçam,pratiquem actos impróprios para o lugaronde se encontram, como por exemplo,colocar os guardanapos e outros dentrodas canecas da água, falar alto, etc.”...

Sim?... É mesmo verdade.Não estamos já só perante uma

rude violação do conteúdo funcional daprofissão de Maria. Estamos perante aperda absoluta de sensatez. Tenho deme espantar num mundo onde infeliz-mente muitos de nós começam a perdera capacidade de o fazer.| LL

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Açores

Atenção!Os docentes de escolas dos Açores deslocados no Continente pordestacamento ou requisição, no próximo ano lectivo não podem usufruirdessa forma de mobilidade. Apenas podem usufruir da mobilidade por con-curso. Assim, é de todo conveniente que os docentes, abrangidos por estasituação, regularizem a sua colocação no continente sob pena de teremde regressar ao quadro da escola de origem.Esta norma resulta da aplicação da Lei do Orçamento de Estado.

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ENCONTRO DE QUADROS SINDICAIS DE REFLEXÃO SOBRE A CARREIRA DOCENTE

Reforçar os laços de cooperaçãoe de solidariedade profissional

anuela Mendonça, do Secreta-riado Nacional da FENPROF,lançou para o debate o queconsidera os desafios que, noâmbito da revisão do Estatuto da

Carreira Docente, a avaliação do desem-penho levanta à classe profissional docente.Destes releva a ideia central de que aavaliação do desempenho, mais do queconstituir um requisito para a progressãona carreira, deve ser um instrumento demelhoria da acção pedagógica e de promo-ção do desenvolvimento profissional dosprofessores e educadores, podendo contri-buir para o reforço dos laços de cooperaçãoe de solidariedade entre os docentes.

Isabel Baptista, dirigente do SPN edocente na Universidade Católica, no Porto,abordando os aspectos da avaliação dodesempenho pelo prisma da dimensão éticada profissão, chamou a atenção para anecessidade de alicerçar a avaliação dosprofessores na sua autonomia profissional,alertando para os riscos de fracasso dequalquer modelo se não tiver em conta estacondição, essencial à sua exequibilidade.Para Isabel Baptista, a avaliação dodesempenho deverá passar por uma reflexão

sobre a actividade, pela análise da funçãodocente incidindo no processo e no produtoe na reflexão sobre os próprios resultadosda avaliação, sempre numa perspectiva devalorização das competências que osdocentes possuem e vão adquirindo aolongo de todo o processo.

Para a docente da Católica, a garantiade uma avaliação do desempenho adequadapara as mudanças necessárias nas práticasdocentes e educativas, bem como para oreconhecimento do papel fundamental daprofissão docente e para a sua valorização,passa por um verdadeiro trabalho de equipaenvolvendo todo o corpo docente.

Manuela Mendonça colocou no centrodo debate as propostas da FENPROFsufragadas há 8 anos pelos professores,aquando da última revisão do ECD: o seucarácter formativo, globalizante e sistémico;a existência de um modelo comum a todosos escalões, numa clara referência às suascaracterísticas de carreira horizontal e derejeição do conceito de promoção; acentralização do processo na Escola,respeitando a especificidade da profissão ea sua autonomia; o ser um factor deexigência profissional; a sua realização com

A sessão dedicada à avaliação do desem-penho dos professores e educadores tevecomo matrizes da análise o modelo actualde avaliação do desempenho, o sistemaintegrado de avaliação do desempenho daadministração pública, o qual carece deregulamentação específica para os corposespeciais do sector, e as propostas da FENPROF.

Mrecurso às estruturas intermédias deorientação educativa.

A dirigente do Secretariado Nacional daFENPROF considerou ser essencial “o reconhe-cimento da necessidade de avaliação dodesempenho e da sua importância”, assimcomo “a recusa de perspectivas de avaliaçãoassociadas aos resultados dos alunos”.Considerando inaceitável o Sistema Integradode Avaliação do Desempenho na Adminis-tração Pública, assente em questões de méritoe excelência, Manuela Mendonça defendeuser necessário “encontrar formas de as escolaspoderem reconhecer, e eventualmenterecompensar, o trabalho extraordinário dealguns dos seus professores”.

Augusto Pascoal, do SecretariadoNacional, intervindo também de início,defendeu a ideia de uma avaliação dodesempenho independente da progressãona carreira, recorrendo ao exemplo deescolas profissionais. Por esse caminhosairia reforçada a ideia de que as relaçõesprofessor-comunidade, professor-professor eprofessor-aluno e o processo ensino-aprendizagem seriam valorizados, estabe-lecendo-se a partir destas relações, nomea-damente, as necessidades de formação. LL

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JORNAL DA FENPROF 13FEVEREIRO 2006

esmo no plano dos novos diplo-mas, como é o caso do dashabilitações para a docência, asáreas técnicas e tecnológicas vãopara a contratação directa. Em

relação às línguas, a divisão dos grupos,tornando-os unidisciplinares, vai criarmuitas situações de horário zero e de horassobrantes que serão remetidas para acontratação, já que serão de horáriosreduzidos (casos do Latim, do Alemão, etc.).Na verdade, o caminho agora seguidoaponta para um quadro de progressivaentrega da contratação às escolas, com aconsequente desregulamentação e progressivoesvaziamento do concurso nacional.

Para a FENPROF a estabilidade assentanos Quadros de Escola, definidos de acordocom as reais necessidades das escolas.Importa por isso esclarecer os conceitos decomponente lectiva e não lectiva, clarifi-cando que as actividades de substituição,as salas de estudo, os Apoios PedagógicosAcrescidos e outras actividades com alunos,são componente lectiva dos docentes ecomo tal devem ter reflexos na definiçãodo número de lugares dos quadros.

De facto, o que está na actual legislação,nomeadamente no Estatuto da CarreiraDocente, a ser cumprido, permitiria estabi-lizar verdadeiramente o corpo docente nasescolas. É que os quadros de escola referem--se às “necessidades permanentes dosestabelecimentos” e os de zona pedagógica“destinam-se a assegurar a satisfação denecessidades não permanentes (...), asubstituição de docentes dos quadros deescola, as actividades de educação extra-escolar, o apoio a estabelecimentos deeducação ou de ensino que ministrem áreascurriculares específicas ou manifestemexigências educativas especiais, bem comoa garantir a promoção do sucesso educa-

Estabilidade do Corpo Docentee Incentivos

tivo”. Na realidade estas funções têm vindoa ser remetidas para os professorescontratados que deveriam assegurar só “oexercício transitório de funções (...) tendoem vista a satisfação de necessidades dosistema educativo não colmatadas pelopessoal docente dos quadros (...)”. Estalógica, assente nos Quadros de Escola, é queestá a ser totalmente subvertida, privile-giando a contratação em vez da criação delugares de quadro.

Em relação à contratação a FENPROFcontinua a afirmar o princípio da vincu-lação, como matriz das suas posições sobreesta matéria.

No campo dos incentivos à fixação emzonas desfavorecidas ou isoladas a FENPROFsempre pugnou pela sua regulamentação (oprincípio está consignado no artº 63º do ECD).

Ideias-chave e interrogações

Em relação à Educação Especial, VítorGomes, o outro orador deste painel, colocoua questão da estabilidade destes docentesno mesmo plano da dos outros gruposdisciplinares, ressaltando que a limitaçãodo “público-alvo” aos alunos com necessi-dades educativas especiais de carácterprolongado deixa de fora grande parte dosalunos que naturalmente a ele teriam direitoe não leva sequer em linha de conta com asnovas necessidades criadas com a recentelegislação sobre os planos de recuperação.

Em relação à questão dos incentivos foilistada uma série de possibilidades, algumasdas quais constantes de uma proposta doGoverno Regional dos Açores, como abonificação de juros bancários, a preferênciano acesso à formação contínua e compen-sações em tempo de serviço, além dosubsídio de fixação.

No debate ocorrido algumas ideias-

chave e outras tantas interrogações nãopodem deixar de ser referidas:

• Devemos ter como eixo estratégico danossa intervenção a defesa da estabilidade;

• Que tipo de resposta dar à eventualproposta de “quadros de agrupamento” (naprática, um primeiro passo já foi dado peloME com a criação dos grupos de docênciado ensino especial nas escolas-sede dosagrupamentos)?

• Temos de ser claros e rigorosos no quediz respeito aos destacamentos, até porqueas colocações plurianuais irão, previsi-velmente, gerar múltiplos destacamentospara os mais variados projectos. A esterespeito devemos defender o princípio deque as funções técnicas não devem serdesempenhadas por professores, mas por....técnicos?

• Devemos formular propostas demecanismos de estabilização dos professo-res das áreas artísticas e tecnológicas. Tendoem conta que são, regra geral, horáriosmuito pequenos deveremos encarar ahipótese de admitir, para os docentes destasáreas, o quadro de agrupamento?

• A defesa das equipas educativas comomodelo de docência no 1º Ciclo do EnsinoBásico deve ter tradução no plano dosquadros;

• Finalmente foi assinalada a questãodos professores de habilitação própria. Estesdocentes se não conseguirem colocação nopróximo concurso deixarão de poderconcorrer, pelo que há que lhes garantir oacesso à profissionalização ou propor, muitorapidamente, mecanismos para que possamcontinuar a poder concorrer. | MG

Neste painel do Encontro da Caparica, Anabela Delgadocomeçou por referir que para o Ministério da Educação aestabilidade do corpo docente nas escolas é conseguida atravésde concursos e colocações plurianuais, embora e paralelamente,remeta um grande número de horários para a contratação de escola.

M

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s dois oradores, Henrique Borges eFrancisco Almeida, colocaram sobre-tudo questões, de uma forma muitoconcreta, justificado pelo objectivoprimeiro de «suscitar o debate», que

conduza à construção de propostas pelaFENPROF, no âmbito da revisão do Estatutoda Carreira Docente (ECD), que se avizinha.

Tempo de serviçoPara determinar as condições para a

aposentação dos docentes é preciso antesreflectir sobre o que é ser professor e o quelhe exigimos, salientou Henrique Borges.Afinal, quando devemos «chegar ao fim»?Quando se cumpre o nosso ciclo?

Aposentação:quando e como “chegar ao fim”?

Perguntou ainda se o professor deveaposentar-se no «auge do seu desempenho»,independentemente da idade. A maior«estabilidade, segurança e realizaçãoprofissional», em final de carreira, poderájustificar, no entender do orador, que o pro-fessor não se aposente aos 30 anos de serviço.

No debate, um interveniente referiu quenos podemos aposentar aos 70 anos se foressa a vontade, mas considera importanteestabelecer-se «um limite».

Actividades não lectivasO desempenho de outras funções (não

lectivas), nos últimos anos de carreira, éoutra matéria, defendida pela FENPROFdesde 1996, que não goza de unanimismo.Depois de explanado o tema por Francisco

ENCONTRO DE QUADROS SINDICAIS DE REFLEXÃO SOBRE A CARREIRA DOCEN

m dos temas em reflexão e debateno Encontro de Quadros foi Férias,Faltas e Licenças na ProfissãoDocente, assunto que está regula-mentado no Sub-capítulo do Esta-

Almeida, alguém lembrou que a maioria dosdocentes não quer ser, no fim da carreira,«pau para toda a obra» ou uma «espécie decriado» com dispensa da componentelectiva. Que actividades seriam essas?Quantos anos seriam?

«Ir embora mais cedo» é uma ideia commuito apoio, mas Mário Nogueira, já na mesapara a intervenção final, lembrou o princípioda «redução» da componente lectiva, aolongo da carreira, devido ao desgaste.

Se cedermos à tentação de a trocar pela«reforma mais cedo» poderão outros pôr emcausa a realidade do desgaste na profissão.Apelou ainda à unidade dos sectores deensino, em vez de cada qual procurar«agarrar-se» ao que pode ter melhor perantea recente legislação. NDS

Que Regalias? Que Privilégios?que os professores têm limitação na suamarcação e gozo, as mesmas só podem sergozadas entre o final do ano lectivo e oinicio do ano lectivo seguinte, por isso nãopodem usufruir da bonificação de 5 dias(existente para o Regime Geral da Admi-nistração Pública). Mesmo assim, o gozo deférias é, muitas vezes, interrompido para arealização de tarefas escolares, nomea-damente as relacionadas com os examesnacionais. Os professores têm tambémlimitação na acumulação de férias, (inexis-tente na Administração Pública Geral)imposta pelo ECD que no seu artº 89ºestabelece como 30 dias o seu limitemáximo. Também os docentes contratadoscom menos de um ano de serviço, nãousufruem do mesmo número de dias deférias que os outros funcionários e agentesda Administração Pública.

Relativamente às faltas, convém desdelogo referir que não existe nenhumprivilégio dos professores em relação ao

Férias, faltas e licenças

tuto da Carreira Docente. Assim, é de todopertinente analisá-lo, uma vez que tem sidoalvo de polémica perpetrada pelo Ministérioda Educação e sectores da sociedade quese julgam “opinion makers”, argumentandoa existência de privilégios e regalias daclasse docente. O facto de existir algumalegislação específica sobre as faltas, fériase licenças, não pode ser considerado umprivilégio, antes resulta da especificidadeda função profissional e social dos pro-fessores. Conforme foi afirmado, estalegislação não favorece a classe docente,uma vez que até apresenta “medidasrestritivas e cerceadoras da aplicação dasnormas aprovadas para a generalidade daAdministração Pública”. Tenta-se fazerpassar a ideia de que o que é diferente éprivilégio, quando, neste caso, é precisa-mente o contrário. Por isso, foram apre-sentados alguns aspectos regulamentadoresque a FENPROF gostaria de ver alterados.

Relativamente às férias, convém referirU

O

14 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

JORNAL DA FENPROF 15FEVEREIRO 2006

O resultado da mudança imediata podesituar-se entre a explosão de alegria evã tristeza de um ente querido perdido.Se é verdade que o SPN Informaçãoque conhecíamos nunca foi velho,nunca perdeu seriedade no plano daspublicações sindicais, que transferiupara o texto a originalidade da riquezadas propostas e que deixa a saudadede quem esteve sempre ao lado dedezenas de milhar de docentes ediversas entidades ou organizações,também é verdade que a revoluçãooperada no Sindicato dos Professoresdo Norte a nível da Informação veiorevelar uma publicação que vai ganharum espaço indiscutível.Trata-se uma revista sindical que temum “design não corporativo” (“Isto É”),mas que mantém um conteúdo reve-lador do conhecimento concreto darealidade dos Professores e dosEducadores, da Escola e da Educação.O secretismo que a direcção do SPNmanteve nos últimos tempos, emrelação ao que aí vinha, foi, assim,completamente justificado. Mantendoas suas características sindicais,melhora no formato, no papel, ao tactoe ao cheiro, na organização e apre-sentação do espaço, na ilustração(Pedro Lino e Marta Madureira - dosilustradores, por vezes, não se fala). DoConselho de Redacção do JF, partemos parabéns e um forte abraço, paraque o desafio lançado com este primeironúmero (da 2.ª série) se renove em cadaedição. | LL

SPN INFORMAÇÃO

À conquista de novos(mais) leitores

NTE

Regime Geral da Administração Pública. OECD determina que as mesmas podem serusadas num dia total ou na sua fracção porhoras, pode assim o professor faltar a tem-pos lectivos que serão adicionados atéperfazerem um dia. Esta possibilidaderesulta da especificidade da sua função,uma vez que o horário diário está construídoem blocos lectivos. Em virtude das alteraçõesimpostas pelo ME, relativamente à marcaçãoda componente não lectiva no horário doprofessor, urge levantar algumas questões:

• As faltas deverão ser contabilizadaspor “tempos” ou por “horas”?

• A componente não lectiva deverá tero mesmo “peso” que a componente lectiva?

• Porque é que quando se falta a umexame ou reuniões de avaliação a falta éconsiderada um dia independentemente dasua duração? Porque se restringe a suajustificação?

Também é condicionado o uso das faltasdadas ao abrigo do Estatuto de TrabalhadorEstudante, consagrado no artº 96º do ECD,porque a sua utilização não “pode acarretarprejuízo para o serviço docente”, norma quetem sido objecto de interpretações variadaspelos órgãos de gestão. Além disso, aredução de horário incidindo exclusiva-mente na componente não lectiva, tornaimpossível a presença nas aulas ou aparticipação em trabalhos.

Nas faltas dadas por conta do períodode férias, artº 102º, o ECD limita a 12 dias asua utilização, ao passo que os trabalha-dores do Regime Geral da AdministraçãoPública podem usufruir de 13 dias por ano.

As dispensas para formação e equipa-ração a bolseiro são também específicaspara a classe docente, sendo regula-mentadas por normativos próprios. Masestes direitos têm vindo a ser destruídos de“forma gradual e grosseira”, tendo-semesmo assistido ultimamente, a indeferi-mentos ao acesso às dispensas paraformação, com base na argumentação dúbiade que as mesmas não “podem provocargraves prejuízos na actividade das escolas”.O direito a equiparação a bolseiro temmesmo uma condicionante só aplicável aosprofessores, os mesmos têm que cumprir nosistema de educação ou ensino, os anoscorrespondentes a 50% do período deconcessão - esta obrigatoriedade não existeno Regime Geral da Função Pública.

Nas dispensas para amamentação oualeitação os direitos são aplicados de formadiferenciada em relação ao Regime Geral

da Administração Pública e também en-tre os diversos sectores de ensino. Nos2º e 3º ciclos e Secundário as horas sãodistribuídas pelas componentes lectivae não lectiva, sendo a máxima reduçãoda componente lectiva de 6 horas; naEducação Pré-Escolar e 1º CEB, osdocentes têm direito a uma hora deredução diária, enquanto no RegimeGeral o trabalhador é que regista no seuhorário a dispensa de 2 horas diárias, 1de manhã e 1 de tarde de acordo com oseu interesse.

Outra das denúncias foi o facto denão ser aplicável aos docentes as faltasjustificadas por deslocação para aperiferia, artº 103º, uma vez que asmesmas estão condicionadas à regula-mentação do artº 63º do ECD (regula-mentação dos benefícios de carácter nãoremuneratório), que apesar de todas asexigências da FENPROF nunca foiregulamentado. Também foi posta emcausa a interpretação da Caixa Geral deAposentações e do Gabinete de GestãoFinanceira do ME, relativamente às faltaspara assistência à família, nomea-damente para filhos menores de 10 anos.O Código de Trabalho determina queestas faltas, para o sector privado, nãoimplicam a perda de quaisquer direitossalvo a retribuição. Mas, para a Admi-nistração Pública, apenas refere quecontam para antiguidade e categoria.Ora, esta diferença de texto, levou a queestas faltas além de determinarem aperda de remuneração também nãofossem contabilizadas para efeitos deaposentação.

Outra perda de direitos dos docentesfoi a revogação da bonificação deassiduidade, prevista no artº 104º. Estarevogação traduziu-se num ataque aosdireitos dos professores e a uma tenta-tiva de intoxicação da opinião públicade que a classe docente possui muitasregalias e privilégios.

É esta intoxicação constante que oME tenta a todo o custo passar para asociedade, no sentido de denegrir aimagem social dos professores, e poderassim destruir, ainda mais, todos osdireitos que esta classe foi conquistando.A ideia de desvirtuar os conteúdosfuncionais da profissão docente, é umaconstante deste Ministério da Educação,a que os professores saberão dar aresposta certa. FV

FEVEREIRO 2006

16 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

ACÇÃO REIVINDICATIVA

Professores e Administração Pública:

Educadores e professoresde diferentes regiões doPaís participaram na Mani-festação Nacional da Ad-ministração Pública, que,na tarde de 3 de Fevereiro,em Lisboa, reuniu milha-res de pessoas.Em luta por salários dig-nos, pela estabilidade deemprego, contra o au-mento do custo de vida,pela valorização das fun-ções sociais do Estado, amanifestação ligou o altodo Parque Eduardo VII aSão Bento e testemunhoua firme disposição dostrabalhadores na defesados seus legítimos di-reitos. Nas escolas, nasrepartições, nas autar-quias, na Saúde e na Jus-tiça, em todos os sectoresdo Estado, a hora é demobilização e de unidade.

JPO

JORNAL DA FENPROF 17FEVEREIRO 2006

ninguém vira a cara à luta! no alvoMilhares de trabalhadoresna manifestação nacionalda Frente Comum

Cerca de 25 mil trabalhadores da FunçãoPública aderiram, no dia 3 de Fevereiro, àmanifestação convocada pela FrenteComum para protestar contra o aumentosalarial de 1,5 por cento proposto peloGoverno, o congelamento das carreiras eo quadro de supranumerários.Os manifestantes, que se concentraram noalto do Parque Eduardo VII, iniciaram opercurso até São Bento cerca das 15h15,entoando palavras de ordem como «di-reitos conquistados não podem ser rou-bados», «justiça social faz falta a Portugal»e «trabalho sim desemprego não».O coordenador da Frente Comum, PauloTrindade, adiantou que a acção de lutaconta com trabalhadores de todos osdistritos do País.«É uma afronta um aumento salarial de 1,5por cento, para todos os funcionáriospúblicos» afirmou.«Na última reunião dita de negociaçãosuplementar, a única coisa que ouvimos doGoverno foi um aumento do subsídio derefeição, de dois cêntimos. Isto é umaprovocação para todos os trabalhadoresportugueses», acrescentou.Por sua vez, Carvalho da Silva, o se-cretário-geral da CGTP, entende que oprotesto é um aviso à consideração doGoverno. O dirigente sindical classificou oprotesto realizado como uma «luta justa».«É um bom sinal de determinação, não sópara os trabalhadores da Função Pública,mas para os trabalhadores no geral e paraos portugueses, porque as questões daadministração pública precisam de sertransparentes», defendeu.A manifestação provocou alguns cortes detrânsito, como no Marquês de Pombal.A cor dominante nas bandeiras e cartazes- como o que encabeça a manifestaçãocom «basta de sacrifícios» seguido de outrocom «contra a ofensiva do Governo» - é overmelho da Federação Nacional dosTrabalhadores da Função Pública e doSindicato dos Trabalhadores da Admi-nistração Local.

Lusa, 3/02/2006

18 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

FENPROF considera que o ciclo dereuniões que decorreu e levou àaprovação do novo regime de con-cursos de professores não consu-bstanciou um verdadeiro processo

negocial, pois, na verdade, não houve daparte do ME uma postura que viabilizasse,como determina a Lei 23/98, de 26 de Maio,um consenso passível de se transformar emacordo. Ao contrário da FENPROF que, emdiversas matérias, procurou consensos, oM.E. não o fez designadamente no querespeita a uma das questões que maioresdivergências suscitou: o carácter plu-rianual do concurso.

A FENPROF reconhece, contudo, queperante a pressão dos educadores eprofessores, a qual se revelou um reforçoinsubstituível das posições apresentadas,foram dados passos importantes tendo oM.E. cedido em aspectos que correspondemàs propostas sindicais.

É, no entanto mais relevante oconteúdo negativo do novo regime agoraaprovado. Deste novo regime, a FENPROFdiscorda:

• do carácter plurianual do concurso;• da eliminação de critérios, actual-

mente em lei, que determinam a aberturade lugares nos quadros das escolas;

• da ausência de mecanismos de vin-culação dos docentes contratados; dapossibilidade de renovação de contratos,com a agravante de se exigir um parecerfavorável da escola nesse sentido;

• da exclusão de docentes com ha-bilitação própria;

• do tratamento desigual que é dado adocentes transferidos por ausência deserviço e dos destacamentos para apro-ximação;

• do tratamento desigual que é dadoaos docentes que adquiriram o grauacadémico de licenciado, ou equiparado, nos

Estabilidade fica adiada,teimosia é consagradacom plurianualidadedo concurso

Posição da FENPROF faceao novo regime de concurso

EM FOCO

termos dos artigos 55º e56º do ECD;

• do conceito restritoe, salvo melhor opinião,ilegal de “necessidadeseducativas especiais decarácter prolongado”;

• da não consideraçãoda especialização como profissionalizaçãopara os grupos de recrutamento da Edu-cação Especial;

• da colocação dos docentes de Edu-cação Especial em “quadros de agru-pamento”, que não existem;

• da consideração de formações com-plementares para efeito de cálculo daclassificação profissional, com a agravantede se considerarem apenas algumasformações;

• da não exigência de apresentaçãoprévia, a junta médica, de todos oscandidatos a destacamento por condiçõesespecíficas.

Já no que respeita a aspectos que seavaliam positivamente, a FENPROF relevao destacamento para aproximação à resi-dência e o respeito pela graduação pro-fissional na fase de colocação de docentespor afectação e este tipo de destacamento;a eliminação do mecanismo de recondução;a colocação de docentes, por concurso, emhorários abaixo das 12 horas; a previsívelresolução, em definitivo, das situações dedoença ou deficiência permanente deprofessores; a inclusão, na primeira prio-ridade do concurso externo, dos docentesprofissionalizados que leccionam em esta-belecimentos de ensino sob tutela de outrosministérios, bem como os que se encontramem cooperação nos PALOP, ou no EnsinoPortuguês no Estrangeiro; a criação de umregime transitório para primeira can-didatura dos docentes aos diversos gruposde recrutamento da Educação Especial; a

consideração do tempo de serviço pres-tado por professores no ensino superior.

A FENPROF considera indispensável queseja tido em consideração, já no primeiroconcurso, o facto de muitos docentes, nãose poderem apresentar este ano ao concursopara o continente devido ao compromissoassumido nas Regiões Autónomas da Ma-deira e dos Açores, de aceitação decolocação plurianual. A confirmar-se oimpedimento, dele decorreriam prejuízoselevadíssimos para os professores tendo em contaa plurianualidade imposta pelo ME. Deverão estee as Secretarias Regionais de Educação da Ma-deira e dos Açores encontrar uma solução quesalvaguarde os direitos dos professores eeducadores abrangidos por esta situação.

Ao não subscrever qualquer acordo aFENPROF assume uma posição de demar-cação do regime agora aprovado que, emsua opinião, não promoverá a estabilidadedos docentes nem das escolas.

Entende a FENPROF que esta não seconsegue através da fixação à força deprofessores às escolas, mas sim pelaabertura dos lugares de quadro quecorrespondam às necessidades efectivas dasescolas, bem como pela existência deincentivos à fixação de docentes em zonasdesfavorecidas ou isoladas. Nesse sentido,contribuirá a regulamentação do artigo 63.ºdo ECD, pelo que a FENPROF reafirma a suadisponibilidade para, sobre essa matéria,encetar o devido processo negocial.

O Secretariado Nacional da FENPROF

A

JORNAL DA FENPROF 19FEVEREIRO 2006

20 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

orque mantém a sua inteira dispo-nibilidade para encontrar asmelhores soluções, a FENPROFapresenta aos professores e aopaís os eixos centrais desse plano

já entregue ao ME no início da presentelegislatura e que resulta da reflexão e dotrabalho realizado nos últimos anos.

Neste trabalho, que ganhou maiorvisibilidade em 2001, a FENPROF realizouem conjunto com a CONFAP diversasiniciativas de que destacamos: visita guiadaa escolas do 1º Ciclo; Manifesto “Por umaNova Escola do 1º Ciclo do Ensino Básico”,que reuniu o apoio de 2009 organizaçõesde todo o país; Fórum Nacional queterminou com a aprovação de uma Decla-ração Pública; e Declaração Conjunta apropósito do Programa PER 1º CEB.

As condições de funcionamentodas escolas

Por todo o país há bons exemplos daintervenção do Poder Local na área daeducação.

No entanto, apesar de algum investi-mento do poder local feito nos últimos anos,um número significativo de escolas do 1ºCiclo do Ensino Básico vive na maiscompleta penúria de recursos - são as

1º CICLO

O desenvolvimento do País exigeuma Nova Escola do 1º Ciclo do Ensino BásicoSem qualquer negociação, oMinistério da Educação estádesenvolver algumas medidasavulsas relacionadas com o 1ºCiclo do Ensino Básico. Aquise incluem o alargamento dohorário de funcionamento dasescolas e a introdução doensino do inglês para os 3º e4º ano de escolaridade. Ora,do ponto de vista da FENPROF,importa que a renovação daEscola do 1º Ciclo do EnsinoBásico assente num pensa-mento estratégico e global.

escolas do quadro preto, do giz, dos manuaisescolares e da grande dedicação dosprofessores.

No imediato, exige-se:1. um plano nacional de emergência que

recupere edifícios, crie condições de higienee salubridade nos estabelecimentos deensino, mas, sobretudo, que permita dotaras escolas dos espaços equipamentosindispensáveis.

2. uma Lei de Financiamento dosestabelecimentos de educação e ensino nãosuperior, que assegure também às escolasdo 1º CEB os recursos financeiros indis-pensáveis ao seu funcionamento. O finan-ciamento das escolas deve assentar emcritérios objectivos que tenham, nomea-damente, em conta o número de alunos, onúmero de turmas e o número de estabele-cimentos de ensino envolvidos.

3. a colocação de pessoal auxiliar quepermita, pelo menos, a sua responsa-bilização pela ajustada higiene e limpezadas instalações e vigilância dos recreios.

A reorganização da rede escolar

A FENPROF recusa em absoluto oprocesso que o ME vem promovendo comvista ao encerramento de milhares deescolas, com menos de vinte alunos.

Em primeiro lugar importa afirmar quea escola situada nas pequenas aldeias éaquela que está mais perto das famílias eque, no processo ensino-aprendizagem, oescolar não se pode distanciar doeducativo e que este só ganha sentidoquando enraizado na comunidade ecimentado nas vivências das crianças. Poroutro lado, dada a larga dimensão geo-gráfica que caracteriza muitos dos nossosconcelhos, a manutenção da escola daaldeia pode contribuir para um saudáveldesenvolvimento da criança evitando apermanente deslocação e o desenrai-zamento cultural.

Este é um modelo que vai de encontroàs reais necessidades, expectativas einteresses das crianças, alicerçado nainclusão cultural e comunitária, por formaa rentabilizar o capital de vivências e deconhecimentos que as crianças transportamconsigo potenciando, desta forma oobstáculo em recurso, assumindo-se, aescola, como um verdadeiro pólo dedesenvolvimento local.

Ora, a necessidade de manter uma redeescolar bastante mais dispersa, exigirámaior atenção e investimento no quadro doplano nacional de emergência que aFENPROF reclama desde o seu Congressorealizado em 2001.

P

JORNAL DA FENPROF 21FEVEREIRO 2006

Mas, a FENPROF entende que, emalgumas regiões, a renovação do 1º Ciclodo Ensino Básico pode passar pelo encerra-mento de pequenas escolas e pela cons-trução outras de média dimensão. Estecaminho exige que essas novas escolassejam dotadas de espaços, serviços,equipamentos e materiais que rompam coma situação actual. Cantinas, refeitórios,pavilhões desportivos, campos de jogos,salas específicas de educação musical,expressão plástica, informática, serviçosadministrativos, equipamentos audiovisuais,biblioteca, mediateca e os materiais eequipamentos pedagógico-didácticos têmque fazer parte desses novos estabele-cimentos de educação.

Do ponto de vista da FENPROF areorganização da rede escolar não pode serencarada apenas como um processo deracionalização de recursos. Neste domínio,a FENPROF jamais aceitará a soluçãoadministrativa de formato único.

Este caminho que o ME pretende imporconduziria inevitavelmente ao aprofun-damento da desertificação de largasregiões do país e ao desemprego demilhares de professores

Sempre que as soluções encontradassejam o encerramento de pequenas escolase a consequente concentração de criançasem estabelecimentos de ensino de maiordimensão, a FENPROF exige que sejamobservadas quatro condições:

a) o indispensável estabelecimento deconsensos com as populações;

b) a salvaguarda da razoabilidade nasdeslocações das crianças na tripla vertente:conforto e segurança das crianças, duraçãodos percursos e distâncias a percorrer;

c) o desenvolvimento de um processoespecífico de negociação entre o Governoe a FENPROF sobre todas as questõesprofissionais decorrentes do reordena-mento da rede escolar.

Em causa está a estabilidade profissionalde milhares de professores, bem como ovínculo de muitos outros a escolas em con-creto.

De igual forma, é indispensável procederà concretização de um direito profissionalconsagrado no Estatuto da Carreira Docente– incentivos a fixação dos docentes em zo-nas isoladas e desfavorecidas.

d) a construção de Centros Escolares demaior dimensão que, de facto, corres-pondam a uma Nova Escola.

De um outro ponto de vista, importadizer que as aparentes preocupações doGoverno e do ME com a reorganização derede escolar deviam dirigir-se desde já para

o esforço e investimento para pôr fim àssituações de horário de curso duplo quefunciona num elevado número de escolas.

Uma resposta social de qualidadee actividades de enriquecimento

curricular

É inquestionável a necessidade dasfamílias encontrarem nas escolas umaresposta para a ocupação de tempos livresdas crianças e jovens em idade escolar.

A FENPROF jamais aceitará que aosprofessores seja solicitada intervenção nosserviços de resposta às necessidades dasfamílias, por duas ordens de razões:

i) toda a sua atenção e empenhamentodevem estar voltados (nas componenteslectiva e não lectiva do horário) para asactividades curriculares; ii) o conteúdofuncional da carreira docente não permiteo envolvimento dos professores naquelasactividades de resposta social da escola.

A ocupação de tempos livres: nestedomínio, a primeira questão que devecolocar-se é a de que a resposta socialque as famílias necessitam não podeobedecer a um modelo nacional único,antes se exigindo a organização de soluçõesmultidisciplinares, social e culturalmentelocalizadas que possam utilizar diversos

equipamentos comunitários. Em todo ocaso, a ocupação de tempos livres deveobedecer a requisitos nacionais de quali-dade, nomeadamente quanto a: espaços,equipamentos, pessoal com formaçãodiferenciada na área da animação sócio-educativa, horários e número de criançaspor grupo.

A ocupação de tempos livres não podeassumir um carácter escolarizante, antesdevendo possuir uma forte componentelúdica e cultural.

É aos poderes central e local que cabeassegurar a resposta a esta crescentenecessidade das famílias, mas não podeaceitar-se que fique dependente daexistência de maiores ou menores recursosdas autarquias, sob pena de poderem serdiscriminadas as famílias e crianças demuitas regiões do país.

O que o Governo decidiu neste domínioestá a colocar actividades de enrique-cimento curricular no lugar da ocupação detempos livres, muitas vezes armazenandocrianças nos mesmos espaços onde decorrea actividade lectiva sem qualquer financia-mento específico e com recurso aosprofessores, desvalorizando a profissãodocente e quase impedindo o trabalho in-dividual dos docentes indispensável a umaboa qualidade da actividade lectiva.

A ocupação de tempos livres não pode assumir um carácterescolarizante, antes devendo possuir uma forte componentelúdica e cultural.

22 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

O serviço de refeições: tal como acontececom outros ciclos de escolaridade, as escolasdo 1º Ciclo do Ensino Básico têm que passara dispor de serviço de refeições. Trata-se deuma reclamação antiga da FENPROF quesucessivos governos ignoraram.

Num primeiro momento, é necessárioconferir qualidade e salubridade àssoluções improvisadas que vão crescendopelo país em que, de forma intolerável, osprofessores são desviados da sua funçãoeducativa para realizar tarefas adminis-trativas e outras.

Tal como acontece noutros sectores deeducação, é aos órgãos de administraçãodos agrupamentos de escolas e ao pessoalnão docente que cabe organizar, con-feccionar e acompanhar o almoço dascrianças do 1º Ciclo do Ensino Básico.

O financiamento deste serviço por viada acção social escolar deve ser feito nosexactos termos em que ele ocorre noutrossectores de ensino. A FENPROF regista comagrado as recentes decisões do Governoneste domínio e, em tempo, avaliará o seugrau e qualidade de concretização.

É fundamental que o “Programa deGeneralização do Fornecimento de Refei-ções Escolares aos Alunos do 1º CEB”garanta, de facto, em condições adequadasde salubridade, uma refeição equilibrada atodas as crianças que o frequentam.

A iniciação à língua inglesano 1º Ciclo do Ensino Básico

A FENPROF afirma a sua concordânciacom a iniciação a uma língua estrangeira

no 1º Ciclo do Ensino Básico. Esta questãoé, há vários anos, uma das propostas daFENPROF e consta mesmo do Manifesto “Poruma Nova Escola do 1º Ciclo do EnsinoBásico”, subscrito por milhares de entidadesde todo o país.

Mas, as decisões do Governo nestedomínio produziram efeitos que urgeultrapassar no próximo ano lectivo: a) aleccionação da iniciação à língua inglesafoi em larga escala entregue a instituiçõesprivadas escapando ao Estado qualquercontrole; b) não existe qualquer mecanismode articulação com as escolas e os seusórgãos pedagógicos; c) o programa lançadopelo Governo exclui milhares de criançasque chegarão ao 2º Ciclo do Ensino Básicoem situação de discriminação intolerável.

Para o desenvolvimento desta medida aFENPROF apresenta as seguintes propostas:

a) a iniciação a uma língua estrangeiradeve ser incluída no tempo curricular (o queimplica a revisão do Dec-Lei 6/2000) e deveser alargada rapidamente a todas ascrianças que frequentam os 3º e 4º anos deescolaridade; b) a generalização dainiciação a uma língua estrangeira no 1º CEBimplica que o ME promova o desenvol-vimento de processos de formação especia-lizada que permita habilitar docentes paraeste ciclo de escolaridade e para a docênciada língua; c) esta medida coloca também anecessidade de o ME negociar com aFENPROF duas questões: - a formaçãoinicial dos professores do 1º Ciclo do EnsinoBásico; - o regime de docência no 1º Ciclodo Ensino Básico.

A introdução da iniciação à língua

inglesa no 1º CEB e também o desenvol-vimento das actividades de enriquecimentocurricular exige que sejam acauteladosdireitos profissionais dos professoresconsagrados no Estatuto de CarreiraDocente. Os horários/lugares docentes paraa leccionação da iniciação a uma línguaestrangeira devem ser colocados a concurso.As deslocações entre escolas devem serpagas e incluídas nos horários de trabalho.

Equipas educativas– um novo regime de docência

A organização curricular do 1º Ciclodo Ensino Básico inclui áreas disciplinarestão diversificadas como: língua portuguesa,matemática, estudo do meio, expressões(artísticas e fisico-motoras). Como áreascurriculares não disciplinares o currículodeste ciclo da escolaridade básica incluitambém a área de projecto, o estudoacompanhado, a formação cívica e faculta-tivamente a educação moral e religiosa eactividades de enriquecimento, em que sedestaca a iniciação a uma língua estrangeira.

Assim, na senda do que, a partir de1986, a LBSE passou a determinar no seuartigo 8º, a FENPROF apresenta comosolução a constituição de EquipasEducativas no 1º Ciclo do Ensino Básicoque permitam às escolas e aos professoresuma mudança efectiva na organização edinâmica pedagógica. Abrir-se-á caminhoa um trabalho mais cooperativo, articuladoe sustentado entre os professores, comganhos significativos para as aprendizagensdos alunos.

1º CICLO

Actividades de enriquecimento curricularEstas actividades devem ser desenvolvidas por profissionais da educação colocadosnas escolas especificamente para este trabalho. A solução decidida pelo ME no sentidode ocupar a componente não lectiva do horário dos docentes nestas actividadescontinuará a merecer firme oposição da FENPROF e a contestação generalizada dosprofissionais da educação.

O número de alunos e anos de escolaridadepor turmaA FENPROF exige que as turmas do 1º Ciclo do Ensino Básico sejam constituídaspor dezanove alunos e no máximo dois anos de escolaridade. As turmas que integremcrianças com necessidades educativas especiais ou com mais de dois anos deescolaridade (situação que temporariamente se admite) devem ser constituídas, nomáximo, por doze ou quinze alunos respectivamente.No que respeita aos tempos lectivos no 1º CEB, importa que rapidamente o Governotome medidas para pôr fim ao chamado horário de curso duplo que continua a mantermuitas crianças a frequentar a escola apenas no turno da manhã ou só no da tarde.Como é óbvio, não faz sentido que se caminhe para o funcionamento das escolas atéàs 17.30 h sem que se comecem a resolver problemas a montante.

JORNAL DA FENPROF 23FEVEREIRO 2006

O Ministério da Educação vai en-cerrar, este ano, mais de 900 escolasdo 1.º Ciclo do Ensino Básico na áreade intervenção da Direcção Regionalde Educação do Norte (DREN). Oprocesso de selecção está já em faseavançada e, em breve, a tutela deveráanunciar o número definitivo deescolas primárias abrangidas peloreordenamento da rede escolar.Simultaneamente serão anunciadosavultados investimentos de curto prazonos designados centros escolares, ouescolas de acolhimento. Até ao final dalegislatura, em 2009, o Governo projectafechar, em todo o país, mais de quatromil escolas com menos de dez alunos,ou com menos de 20 alunos e com taxasde aproveitamento inferiores a 89%(média nacional).Os números definitivos poderão serrevelados nos próximos dias, mas o JNsabe que no distrito de Viseu, porexemplo, serão fechados 279 estabe-lecimentos, entre os 769 actualmente emfuncionamento, e no Alentejo o mesmoacontecerá com 60 escolas (três dasquais no concelho de Beja).Ao que o JN apurou, junto de algunsagrupamentos escolares, as escolasabrangidas pelo encerramento já nãoconstam da base de dados oficial quedefine a gestão do parque escolar dopróximo ano lectivo.(…) JN 16/01/2006

Governo quer fecharmais de 900 escolas sóno Norte do país

Projecto do ME vai atingirquatro mil primárias

no alvo

As equipas educativas de cada escolaou grupo de escolas devem ser constituídaspor um conjunto de professores profissio-nalizados para a docência no 1º Ciclo e comformações diferenciadas, de forma a darresposta às necessidades de organizaçãopedagógica e de cumprimento do currículo.

As alterações decididas pelo ME,nomeadamente quanto à organização cur-ricular, iniciação à língua inglesa, genera-lização das actividades de enriquecimento,exigem um funcionamento diferente daEscola do 1º Ciclo do Ensino Básicoreforçando a justeza das propostas daFENPROF quanto à necessidade de institu-cionalização das equipas educativas.

A FENPROF tem reflexão feita e exigeque o ME inicie negociações sobre estaimportante questão para a renovação do 1ºCiclo do Ensino Básico, por forma a evitarque este se transforme numa colagem depequenas peças sem ligação e coordenação.

Uma organização democráticae participada numa escola dotada

de autonomia

Ao contrário do que o próprio DL 115-A/98 estabelece, a maior parte dos agru-pamentos não resultou de dinâmicasassociativas locais. Esses agrupamentos sãoresultado de soluções meramente admi-nistrativas, desenhadas pelos CAE’s, sob

uma lógica centralista e burocrática.Foram impostos pelo anterior go-

verno mega-agrupamentos com dezenasde estabelecimentos e milhares dealunos que nada acrescentaram depositivo à vida das escolas, antes seconfiguram como novos patamares daadministração, burocratizaram boa parteda actividade docente, mataram ainiciativa de muitas escolas, a cria-tividade e o entusiasmo de todos osparceiros educativos.

Neste contexto, a FENPROF exige queo ME avalie a situação criada com estesagrupamentos impostos pelo anteriorgoverno e proceda a ajustes na suacomposição.

A organização interna das escolas, aarticulação com a Educação Pré-Esco-lar e o 2º Ciclo, o funcionamento dasestruturas de coordenação pedagógicae orientação educativa, as actividadesde articulação curricular e de apoioeducativo constituem aspectos essen-ciais para que as escolas reúnamcondições à prestação do serviço públicode educação com qualidade.

Neste quadro, a FENPROF propõeque, nos agrupamentos de escolas, ocrédito global de horas semanais sejacalculado na base de uma fórmula queinclua o número de alunos e escolas do1º Ciclo do Ensino Básico.

Ao contrário do que o próprio DL 115-A/98 estabelece, amaior parte dos agrupamentos não resultou de dinâmicasassociativas locais. Esses agrupamentos são resultado desoluções meramente administrativas, desenhadas pelosCAE’s, sob uma lógica centralista e burocrática

JORNAL DA FENPROF 23

24 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

1. AUTONOMIA DAS ESCOLASUM PRINCÍPIO A DEFENDER

A autonomia dos estabelecimentos deeducação e ensino, entendida como acapacidade de tomar decisões e não apenascomo a possibilidade de executar, mesmoque de forma diversa, decisões centrais, éuma reivindicação antiga da FENPROF, naluta por uma escola pública, democrática ede qualidade.

A concretização dos Projectos Educa-tivos só poderá ser conseguida se as escolasdispuserem de autonomia que possibiliterespostas diversas e contextualizadas aosproblemas específicos e diferenciados decada comunidade educativa. Em muitosmomentos, a FENPROF tem denunciado osconstrangimentos burocráticos, adminis-trativos e financeiros a que as escolas estãosujeitas, chamando a atenção para umaretórica discursiva que aposta na autonomiae uma prática que não só não a favorececomo, em muitos casos, a contraria.

Preocupações com a autonomia dosestabelecimentos de ensino estão no centrodo debate educativo em muitos países. Estedebate tem evidenciado a necessidade deproblematizar implicações do desenvol-vimento da autonomia ao nível do reforçoda selectividade social, do controlo dasescolas por grupos de interesses, da criaçãode escolas separadas para minorias étnicase religiosas, de processos pouco demo-cráticos na selecção do pessoal, etc.

2. DOMÍNIOS DE AUTONOMIA

Tendo em conta a experiência de outrospaíses, mas também, e sobretudo, a nossaprópria realidade, importa definir comclareza os domínios de autonomia necessá-rios à melhoria do serviço público deeducação. A FENPROF defende que asescolas devem, nomeadamente, poder:

• tomar decisões curriculares, tendo emconta os contextos sociais, culturais eeconómicos e a sua adequação ao nívelpedagógico e administrativo;

• definir o seu modelo de organização,com vista ao desenvolvimento dos seusprojectos educativos e dos processos deensino-aprendizagem, de modo a que estespromovam a consecução dos objectivosgerais e específicos aprovados pelas escolas;

• definir a composição e as compe-tências das estruturas de gestão intermédia;

• decidir sobre a organização dosespaços, tempos, e números de alunos porturma;

• definir e gerir os créditos horáriosdestinados ao desenvolvimento de projectose ao desempenho de cargos, incentivandoa colegialidade e a cooperação;

• elaborar as suas regras internas defuncionamento, assumindo o regulamento

ESCOLAS

Autonomia sim!Contratualização não!No momento em que o Minis-tério da Educação anuncia acelebração de contratos deautonomia com algumas es-colas, a FENPROF relembra assuas posições e manifesta asua intenção de acompanharcriticamente este processo,avaliando a sua aplicação noterreno.

interno como um instrumento ao serviço dasopções expressas no Projecto Educativo deEscola.

A FENPROF defende que a autonomiadas escolas não deve implicar:

• a contratação dos docentes pelasescolas (ou pelos municípios). A situaçãode enorme instabilidade a que estão aindasujeitos milhares de docentes ver-se-iaagravada num contexto de arbitrariedadee falta de transparência e equidade.Estabilizar o corpo docente nas escolasimplica, como a FENPROF tem reafirmadoa sucessivos governos, a abertura de lugaresde quadro de escola de acordo com as suasnecessidades efectivas e a regulamentaçãode incentivos à fixação em zonas isoladasou desfavorecidas.

• a livre selecção dos alunos pelasescolas. O Estado tem a obrigação, consti-tucionalmente consagrada, de organizaruma rede pública de educação que permitaaos alunos frequentar uma escola próximada sua residência. Se isso não for garantido,é o próprio direito à educação que é postoem causa.

• a dotação global de um orçamento àsescolas, que inclua despesas com pessoal.Sendo necessária uma maior intervençãodas escolas na determinação dos seus

Pode defender-se a autonomia das escolas, recusando a desresponsabilização do Estadoem matéria de educação e ensino

JORNAL DA FENPROF 25FEVEREIRO 2006

orçamentos, assim como uma maiorflexibilidade na gestão das verbas relativasàs despesas correntes e de capital, aatribuição desta dotação global, sobretudono quadro de sub-orçamentação a que asescolas estão sujeitas, criar-lhes-ia dificul-dades acrescidas, por um lado porquepoderiam vir a ter que equacionar dispensarpessoal para poder fazer face a outrasdespesas, e por outro porque teriam queafectar mais recursos humanos à gestãofinanceira, acabando por prejudicar odesenvolvimento de trabalho na vertentepedagógica.

• a atribuição às escolas de perso-nalidade jurídica para efeitos de recurso acréditos bancários, numa lógica de auto-financiamento. Independentemente dasreceitas próprias que algumas escolas jáhoje conseguem obter, a FENPROF sublinhaa responsabilidade do Estado no financia-mento da rede pública de educação e ensino.

3. CONTRATOS DE AUTONOMIA

Defendendo a autonomia das escolas, aFENPROF tem uma posição contrária à suacontratualização, nos termos em que éproposta no DL 115-A/98. No actualcontexto de centralização da administraçãoeducativa, as escolas estarão sempre emdesvantagem na negociação destes con-tratos. A autonomia das escolas, e ascondições do seu exercício, ficam assimdependentes da capacidade reivindicativade cada escola e da discricionariedade daadministração. Por outro lado, a possibi-lidade de haver escolas que realizamcontratos (e, por essa via, têm maiscompetências e recursos) e outras que nãoos realizam pode contribuir para agravar asdesigualdades entre as escolas, não servindopara pôr em prática uma discriminaçãopositiva, que favoreça as escolas com maisdificuldades. Para além disso, esta contra-tualização escola a escola representa umrisco de desregulação do sistema educativo- evidente no primeiro, e até agora único,contrato de autonomia assinado entre o MEe a Escola da Ponte.

Em alternativa à contratualização, aFENPROF defende a aprovação de uma Leida Autonomia para a educação pré-escolare os ensinos básico e secundário. Osdomínios de autonomia, depois de consen-sualmente delimitados, devem ser osreferentes a partir dos quais todas as escolaspodem definir os seus objectivos, ainda queno respeito por diferentes velocidades depercurso e diferentes concretizações.Defende, ainda, a aprovação de uma Lei de

Financiamento, que determine regrasuniversais e transparentes para a fixaçãodos orçamentos das escolas e incorpore umconjunto de princípios clarificadores daresponsabilidade da administração perantea dotação orçamental a ser atribuída a cadaescola/agrupamento de escolas da redepública.

CONTRATO DE AUTONOMIADA ESCOLA DA PONTE

Neste contrato, a Escola da Ponte viuconsagrado, no plano pedagógico, o regimede funcionamento e as dinâmicas detrabalho que há décadas desenvolve semenquadramento legal. No entanto, estecontrato, celebrado ao abrigo do Decreto--Lei 115-A/98, contraria aspectos funda-mentais da matriz desse regime de auto-nomia e gestão, estabelecendo nomea-damente que: o órgão máximo da escola éo Conselho de Pais/Encarregados deEducação; os docentes estão em minoria noConselho de Direcção; o Presidente doConselho de Direcção é necessariamente umdos Encarregados de Educação; o Gestor eo Conselho de Gestão não são eleitos, mas

A FENPROF defende que as escolas devem poder definiro seu modelo de organização, com vista ao desenvol-vimento dos seus projectos educativos e dos processosde ensino-aprendizagem, de modo a que estes promovama consecução dos objectivos gerais e específicosaprovados pelas escolas

sim nomeados pelo Conselho de Direcção.A legalidade deste contrato parece

claramente posta em causa em face dadecisão do Tribunal Constitucional, que, em2003, declarou ilegal o Regime de Auto-nomia e Gestão da Região Autónoma daMadeira, por dois motivos principais: i) oConselho Executivo não é eleito - éseleccionado por concurso pelo Conselho daComunidade (designação atribuída àAssembleia de Escola); ii) a eleição dosmembros docentes do Conselho da Comu-nidade não respeita o método de Hondt.Esta decisão do Tribunal Constitucional foitomada por unanimidade, com base naviolação que as referidas alteraçõesrepresentavam ao que está estatuído noDecreto-Lei 115-A/98.

Mas o contrato de autonomia da Escolada Ponte vai ainda mais longe, ao estipularque: os lugares de quadro da escola serãogradualmente extintos à medida que osprofessores com essa situação jurídica aforem abandonando, passando o pessoaldocente a ser anualmente seleccionado peloConselho de Gestão; os orientadoreseducativos (conceito que substitui os deeducador e professor) não estão sujeitos ao

26 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

Alterado regime contratual das escolasprofissionais públicas

Conquistada exigência da FENPROF

regime geral de habilitações para adocência e comprometem-se formal-mente a subordinar as normas doEstatuto da Carreira Docente e demaislegislação aplicável ao Projecto Edu-cativo e ao Regulamento Interno daEscola.

A FENPROF - que apoiou o projectoFazer a Ponte em momentos cruciais dasua existência - considera que nestecontrato há aspectos que claramenteextravasam os domínios de autonomiaque defende para as escolas. O ECD é,por excelência, o instrumento estru-turante e regulador da profissãodocente. Não é aceitável que, no âmbitoda sua autonomia, as escolas decidam,de modo singular, impor horários detrabalho, conteúdos funcionais ouestatutos profissionais diferenciados, quedeste modo apagariam o ECD comoreferente universal.

A autonomia das escolas não é umaquestão técnica, é uma questão essen-cialmente política. Por isso, as medidasde reforço da autonomia podem assumirdiferentes objectivos e modalidades deconcretização, em função de diferentesperspectivas políticas. São estas pers-pectivas que têm que ser discutidas, noquadro de um projecto político nacionale dos princípios fundadores da EscolaPública como um bem comum: auniversalidade do acesso, a igualdadede oportunidades e a promoção dosucesso educativo de todos.

Para a FENPROF, não faz sentidoconsiderar como opositores ao processode autonomia das escolas os que põemalguns limites à sua definição. Assim:

• Pode defender-se a autonomia dasescolas, recusando a desresponsabili-zação do Estado em matéria de edu-cação e ensino.

• Pode defender-se a autonomia dasescolas, recusando a desregulação daoferta pública nacional de ensino.

• Pode defender-se a autonomia dasescolas, recusando um sistema derecrutamento de professores arbitrárioe pouco transparente.

• Pode defender-se a autonomia dasescolas, recusando a desregulamen-tação da profissão docente e a restriçãode direitos essenciais à sua dignificaçãoe indispensáveis ao desenvolvimento daescola como um espaço mais autónomo,livre e democrático.

A Federação Nacional dos Professores regista “como positiva a proposta apresentadapelo Ministério da Educação de alteração ao Decreto-Lei nº 4/98, nomeadamente na parterelativa ao regime de recrutamento e colocação do pessoal docente da área sócio-cultural ecientífica das escolas profissionais públicas”.

Segundo o parecer emitido pelo Secretariado Nacional, datado de 9 de Fevereiro, esteprocesso passará a reger-se pela legislação aplicável ao restante pessoal docente das escolaspúblicas, designadamente o recém publicado Decreto-Lei 20/2006.

A FENPROF discorda, no entanto, da “manutenção de contratos de prestação de serviçospara a leccionação das disciplinas da componente de formação técnica, tecnológica, artísticae prática”, por corresponder a uma incompatibilidade evidente entre o exercício da actividadedocente e um contrato de prestação de serviços e por, acresce o parecer, ser “uma evidentedesconformidade com o Estatuto da Carreira Docente, que consagra no seu artigo 33º afigura de contrato administrativo como a adequada para a leccionação destas disciplinas”.

As conquistas obtidas com esta alteração resultam, refere a nota do Secretariado Nacional,da luta que foi permanentemente desenvolvida “no sentido de que a estes profissionais seaplicassem as mesmas regras de recrutamento e colocação” dos restantes professores.

Pode ser consultado em www.mnarqueologia-ipmuseus.pt o Programa Educativo 2005/2006 do Museu Nacional de Arqueologia,localizado na Praça do Império (Mosteiro dosJerónimos), 1400-206, Lisboa.As escolas interessadas podem contactar oSector de Extensão Cultural / Serviço Educativopelo telefone 21 3620000, pelo fax 21 3620016 ouainda pelo e-mail [email protected] Programa Educativo do Museu Nacional deArqueologia, destinado a grupos escolares dosensinos básico, secundário e outros, contempla um diversificado conjunto de actividades(visitas guiadas a exposições, dramatizações e ateliers) em torno de matérias como:Antiguidades Egípcias, Religiões da Lusitânia, Mosaicos Romanos, Tesouros da ArqueologiaPortuguesa e a Presença Romana em Cascais: um Território da Lusitânia Ocidental.O Museu dispõe de maletas pedagógicas com réplicas de peças de vários períodos,que podem ser alugadas no Serviço Educativo.

Programa Educativodo Museu Nacional de Arqueologia

JORNAL DA FENPROF 27FEVEREIRO 2006

A educação e a aprendizagem ao longoda vida são direitos de todos os cidadãos ecidadãs, promovendo a igualdade de opor-tunidades e permitindo, ainda, a valorizaçãopessoal e, simultaneamente, a adaptação àeconomia baseada no conhecimento.

Sendo a baixa qualificação de activosum grave problema estrutural do País, nãoé possível alcançar taxas de crescimentoelevadas e duradouras, nem romper com omodelo de desenvolvimento assente em baixossalários e em trabalho pouco qualificado, semaumentar o nível geral de escolaridade detrabalhadores e entidades patronais.

É preciso tratar obrigatoriamenteas políticas sociais. O país está, mergulha-do em desigualdades crescentes e seriagrave, por exemplo, que se continuasse afragilizar e a reduzir as funções sociais doEstado e a pôr em causa o sistema públicoe universal da Segurança Social. Tem quese garantir os direitos sociais, o que implicavalorizar o papel do Estado e as funções daAdministração Pública, ao serviço doscidadãos. As reestruturações no sector dasaúde não podem ser feitas para facilitar aentrada dos privados e a sua concepção denegócio, dificultando o acesso dos cidadãos.

Preparar uma iniciativa conjugadaque unifique as lutas em curso

CGTP-IN reuniu Conselho Nacional

O órgão máximo da Centralentre congressos apontou“a necessidade dedesenvolvermos, a prazocurto, e em forma a definirem função das condiçõesconcretas que os diversossectores considerem maisadequadas, uma acçãomobilizadora dostrabalhadores, em torno dosseus problemas concretos edas suas reivindicações,numa iniciativa conjugadaque unifique e amplie aslutas em curso”. Dasconclusões do ConselhoNacional da Inter realizadono passado dia 31 deJaneiro, extraímos brevesapontamentos.

Não se pode prosseguir a aplicação demedidas descoordenadas ou contraditóriasna Educação, que vão produzindo maioresassimetrias na vida das crianças e dos jovensportugueses.

É também da maior actualidade ocombate à Directiva Bolkenstein para queesta deva ser, pura e simplesmente, abandonada,visto manter o princípio do país de origem, bemcomo abrir e subordinar os serviços públicos deinteresse geral (saúde, educação, cultura, etc.)às leis do "livre mercado".

Apesar de toda a discordância já mani-festada pelos trabalhadores e seus sindicatos,bem como por todas as forças progressistas,a ameaça da Directiva continua a pesar sobrea cabeça dos trabalhadores europeus.

É por isso de extrema importância amanifestação de 14 de Fevereiro, em Estras-burgo, na véspera da votação no ParlamentoEuropeu. Os deputados europeus têm que serresponsabilizados. Os sentimentos popularesprofundamente críticos, expressos emmanifestações europeias e nacionais eigualmente aquando dos referendos sobre oTratado Constitucional, têm que ser ouvidos,compreendidos e respeitados, sob pena de oafastamento dos cidadãos face ao projectoeuropeu se acentuar ainda mais.

O Conselho Nacional manifesta oseu apoio e solidariedade à luta dosjovens trabalhadores e apela à sua activaparticipação no Dia Nacional da Luta, arealizar no próximo dia 28 de Março - DiaNacional da Juventude - pelo emprego, con-tra a precariedade, pelos direitos, peloscontratos colectivos e pelos salários.

O CN apela a todos os activistas sindicaispara intensificarem o trabalho com vista aoreforço da organização sindical, em particu-lar a de base, tema central da 4.ª ConferênciaSindical sobre esta temática.

“Saberemos responder aos desafios quese nos colocam, lutar pela concretização dasaspirações dos trabalhadores, contribuirpara a construção de um país mais desen-volvido, justo e solidário”, conclui odocumento aprovado no último ConselhoNacional da CGTP-IN.

MOVIMENTO SINDICAL

28 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

Dada a importância do temapara o futuro do Ensino Su-perior em Portugal, a FENPROFlamenta o curto prazo dadopara a apresentação de pare-ceres sobre este Anteprojecto,peça fundamental para aaplicação do Processo deBolonha, sublinha uma notadivulgada no passado dia 3 deFevereiro pelo SecretariadoNacional da Federação.

FENPROF caracteriza em seguida“os principais objectivos” que“defende para a aplicação doProcesso de Bolonha no nosso país,e que correspondem a preocupações

há muito manifestadas pela Federação”:• O aumento da qualidade e da relevân-

cia social das formações, e o crescimentoda qualificação dos jovens e da populaçãoactiva;

• A promoção do sucesso escolar eeducativo, e a redução do abandono escolar;

• O reforço, ou pelo menos a nãodiminuição, da responsabilidade do Estadopelo financiamento do Ensino SuperiorPúblico, em particular, a não exigência aosestudantes e às suas famílias, em todos osnovos mestrados, de propinas de valor maiselevado do que as que se encontram emvigor para as actuais licenciaturas;

• O eficaz aproveitamento da totalidadedas capacidades instaladas em meiosmateriais e humanos qualificados no EnsinoSuperior Público e a promoção do empregocientífico e tecnológico.

Noutra passagem, pode ler-se:“Quanto à maioria daqueles objectivos,

a FENPROF mantém a opinião de que, paraalém de produzir legislação, seria essencialque fossem criadas condições nas institui-ções para uma eficaz intervenção profissi-onal daqueles que irão aplicar o Processo

de Bolonha no terreno - osdocentes -, o que implicaria umaacção prática do MCTES e dasinstituições no sentido:

• da melhoria do conheci-mento dos corpos docentessobre os objectivos do processo,da sua participação activa naaplicação das reformas e de umapoio efectivo ao desenvol-vimento das competências pe-dagógicas necessárias para aaplicação adequada e não buro-crática do novo sistema decréditos (ECTS) e da nova abordagem, centradano aluno, que lhe subjaz;

• do aumento dos rácios professor/aluno, de forma adaptada ao novo sistemapedagógico, com a consideração dastutorias explicitamente nas cargas lectivasdos docentes;

• do necessário apoio financeiro doEstado que permitisse que a adequação dasformações e o desenvolvimento de inicia-tivas de aprendizagem ao longo da vida sepudesse realizar, nas instituições, num climade estabilidade, com a garantia de que aaplicação do Processo de Bolonha não iriaser realizada para aumentar a desres-ponsabilização do Estado pelo financia-mento do Ensino Superior Público.

A FENPROF constata que nenhumadestas condições se está a verificar, o queaumenta os receios de que a aplicação doprocesso vai ser, em muitos casos, cosméticae que não vai atingir os objectivos que seriaimportante que alcançasse e que poderiamser conseguidos com uma acção governativamais consequente.

• Em particular, a FENPROF entende queé muito negativo:

• que não tenha sido, afinal, constituídoo grupo de missão para promover umacorrecta aplicação do Processo de Bolonhanas instituições;

• que se acentue a instabilidade emmuitas escolas do Politécnico e em algumasUniversidades, devido aos cortes orça-mentais sofridos e às perspectivas de novoscortes no futuro, que têm provocado umacrescente insegurança de emprego e o

despedimento de muitos docentes contra-tados a prazo, por ausência de oportuni-dades de passagem ao quadro;

• que esta situação de incerteza quantoao futuro de instituições e de docentesesteja a impossibilitar o clima de serenidadenecessário à consolidação e ao desenvol-vimento dos projectos indispensáveis àviabilização das instituições e ao plenoaproveitamento das capacidades instaladasem recursos humanos qualificados embenefício do desenvolvimento do país;

• não deixando de considerar existiremaspectos positivos no anteprojecto, aFENPROF receia que as muitas indefiniçõesquanto a formulações que têm a ver comexigências de qualidade permitam inter-pretações e aplicações que mantenham asactuais situações de carência em corposdocentes próprios e adequadamentequalificados, e de actividade real deinvestigação, condição para atribuição dedoutoramentos;

A FENPROF reafirma, finalmente, anecessidade de o Governo e o MCTEScriarem as bases materiais - e não apenasas legislativas - necessárias para que aaplicação do Processo de Bolonha não venhaa revelar-se uma oportunidade perdida queacabe por colocar o nosso país em grandedesvantagem face aos países de UE,realizando-se assim o objectivo, indiciadopor um relatório de um grupo de trabalhoda Comissão Europeia, de remeter o nossopaís para um papel secundário e desva-lorizado no âmbito do futuro EspaçoEuropeu do Ensino Superior.

ENSINO SUPERIOR

Posição da FENPROF a propósitodo anteprojecto de Decreto-Lei dos grausacadémicos e diplomas

Graus académicos e diplomas: precipitação governamental?

A

JORNAL DA FENPROF 29FEVEREIRO 2006

A Comissão dos DireitosHumanos da Ordem dosAdvogados Portugueses atribuiuo Prémio Ângelo d’AlmeidaRibeiro do ano de 2005 àAssociação “O Ninho”.

O Movimento Democrático de Mulheres(MDM) saúda o reconhecimento aotrabalho desta associação, criada em1967, que tem como objectivo apromoção humana e social dasmulheres vítimas da prostituição.Lutando contra as adversidadeseconómicas e a falta de meios eficazes,“O Ninho” procura que a sua voz sejaouvida na denúncia da escravatura, daexploração sexual de crianças, jovens emulheres e tem desenvolvido umtrabalho notório e notável no que aocombate à prostituição e suas causasconcerne.Uma especial referência à Dra. InêsFontinha, presidente desta associação,Conselheira Nacional do MovimentoDemocrático de Mulheres,recentemente nomeada para o PrémioNobel da Paz e reconhecida pela revistaVisão como uma das “heroínas”portuguesas.Aqui fica o nosso modesto e sinceroapreço pelo trabalho desta Mulher, quededica a sua vida a uma causa em queacredita, à transformação da sociedade,numa perspectiva feminina e feminista,materializando com a sua conduta aafirmação de que a prostituição é umponto ómega da indignidade ehumilhação para as mulheres e que,sem dúvida, “um outro mundo épossível”.

Infomulheres, MDM,Janeiro 2006

Drª Inês Fontinha

Na primeira linha da cidadania

Encontro de Leitores das Universidades Portuguesas

Que futuro?

Esta iniciativa da FENPROF decorreu num dos anfiteatros da Faculdade deLetras de Coimbra

sta breve passagem da intervenção de Elfriede Engelmayer, da Faculdade deLetras da Universidade de Coimbra, regista a tónica que presidiu ao Encontroque a FENPROF realizou no passado dia 11 de Fevereiro, no anfiteatro 3 daquelaescola.

A situação de instabilidade profissional dos leitores que trabalham nas instituiçõesde Ensino Superior portuguesas (nacionais e estrangeiros) e a revisão do Estatuto da CarreiraDocente Universitária (ECDU) foram os dois pontos em foco no oportuno debate.

Dois dirigentes da FENPROF e do respectivo Departamento de Ensino Superior eInvestigação, os Professores João Cunha Serra, coordenador, e Nuno Rilo, e um jurista,o Dr. Carlos Fraião, participaram neste encontro, que revelou, com múltiplos exemplospessoais, os difíceis “momentos de indefinição em relação ao futuro profissional” dosleitores, vítimas de uma onda de ameaça de despedimento “sem regras”.

Recorde-se que, como instrumento base de preparação desta iniciativa, aFENPROF elaborou um questionário distribuído a todos os leitores, tendo obtidouma resposta que excedeu as melhores expectativas, com a adesão de mais de 80por cento dos destinatários.

O próximo suplemento do JF dedicado ao Superior dá mais pormenores desteencontro. | JPO

“Não nos reunimos para conquistar direitos novos, maspara tentar assegurar o pouco da precária estabilidadeque tivemos até agora. E a ameaça, desta vez, não partepropriamente (para já) do legislador, que muitas vezessimplesmente ignora o que é um leitor e que, por isso,muitas vezes peca por ignorância. A ameaça parte, comopudemos confirmar em várias respostas ao nosso inquérito,das instituições de ensino onde os leitores trabalham.”

E

JORNAL DA FENPROF 29

30 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

Dia da Mulher é importante mas nãocomo mera lembrança ou come-moração. É importante lembrar que,em 1857, 129 mulheres operáriastêxteis entraram em greve para

exigir a redução do horário de trabalho,lutando pela dignificação das condições detrabalho e pelo direito à cidadania.

Lembrar esta luta é lembrar tantasoutras datas e lutas - em 1919 publica-seem Portugal um decreto que generaliza ohorário de 8 horas diárias; em 1966 aConvenção 100.º da O.I.T. estabelece oprincípio do salário para trabalho de igualvalor para homens e mulheres; em 1976 aConstituição da República Portuguesaestabelece a igualdade entre homens emulheres em todos os domínios, etc.

Mas a melhor maneira de lembrar ecomemorar é continuar a lutar pelos direitose pela igualdade real.

A CGTP realizou em 2005 a IV Confe-rência sobre Igualdade entre Mulheres eHomens com o lema “Garantir a Igualdade.Agir para Mudar” e ficou cada vez mais claropara o movimento sindical que a luta pelaigualdade entre mulheres e homens é umaluta para consagrar na lei os direitos, paraexigir a aplicação das políticas a fim degarantir a mudança necessária, mas étambém uma luta contra todas as formasde discriminação.

De facto, hoje sabemos que lutar con-tra as discriminações é lutar por situaçõesmais justas para mulheres e homens(exemplo disso são as lutas pela revalo-rização profissional das profissões maiori-tariamente femininas que, quando saemvitoriosas, valorizam os salários de todos,mulheres e homens).

Nesta Conferência foi eleita uma “Comissãopara Igualdade entre Mulheres e Homens” queé formada por sindicalistas, homens e mulheres,dos vários sectores e profissões.

Participam nesta comissão dois ele-mentos em representação dos sindicatos dosProfessores e da FENPROF.

Os vários Sindicatos que formam aFENPROF estão a organizar comissões deIgualdade e a FENPROF organizou umaComissão que agrega um elemento de cadasindicato a fim de dinamizar o trabalho noâmbito destas actividades.

A Comissão de Igualdade da FENPROFpropõe-se participar regularmente no JFdenunciando situações discriminatórias e denão cumprimento das leis, publicando

8 DE MARÇO

Dia Internacional da Mulher

O

A linguagem não é

neutra e a igualdade de

género, enquanto área

das ciências sociais,

requer um léxico

próprio e apela a uma

alteração no modo de

referir o masculino e o

feminino como partes

integrantes da

humanidade.

Maria José Maurício,Mestre em Estudos sobre as

Mulheres, Formadorae colaboradora do departamento

de igualdade entre mulherese homens da CGTP-IN

textos de opinião e divul-gando as actividades nosvários sindicatos.

8 de Março,Dia Internacionaldas Nações Unidaspara os Direitos

da Mulher e para a Paz

A ONU começou a cele-brar o Dia Internacional daMulher em 1975, AnoInternacional da Mulher. Aproclamação deste dia temcomo objectivo que os Esta-dos “contribuam para acriação de condições favo-ráveis à eliminação da discriminação con-tra as mulheres e para a sua plena parti-cipação no processo de desenvolvimentosocial”.

Direitos

O despedimento de trabalhadora grá-vida, puérpera ou lactante é inválido se aentidade empregadora não tiver solicitadoo parecer prévio da CITE (Artº 51º, Nºs 1, 2 e4 do Código do Trabalho).

A entidade empregadora deve comu-nicar à CITE o motivo da não renovação decontrato de trabalho a termo, sempre queesteja em causa uma trabalhadora grávida,puérpera ou lactante (Artº 133º, nº 3 doCódigo do Trabalho)

Nova directiva europeia

Em Abril de 2004, a Comissão daComunidades Europeias apresentou umaProposta de Directiva sobre a aplicação doprincípio da igualdade de oportunidades eigualdade de tratamento entre mulheres ehomens em relação ao emprego e àactividade profissional.

A CGTP-IN considera-a aquém dos avançosconquistados no domínio dos princípios, sobrea igualdade entre os sexos, pautando-se pelaausência de referências ao já consagrado nodireito comunitário e internacional e por nãofazer referência ao papel dos sindicatos napromoção da igualdade entre mulheres ehomens. Está também ausente o apelo a umapedagogia da mudança e à obrigação deos estados membros promoverem o direitoda igualdade.

JORNAL DA FENPROF 31FEVEREIRO 2006

José Salvado SampaioNome de um homem íntegro

m nome do Secretariado Nacional daFENPROF e de todos os sindicatos quea constituem, presto comovida home-nagem à memória de José SalvadoSampaio que foi, com toda a certeza,um dos melhores de nós durante toda

a história do Movimento Sindical Docente.É com profunda emoção que escrevo estas

palavras de despedida a José SalvadoSampaio. Emoção provinda da fraternacamaradagem que juntos construímos aolongo de três décadas de extensas conversas.Emoção também gerada pela memória domodo muito vivo e impressivo com que o meuamigo Salvado Sampaio se referia a factos epessoas que de perto me tocaram, incluindomeu pai.

Como não é de memórias partilhadas porambos que aqui venho falar mas de umhomem íntegro e bom, generoso e solidário,justo e rigoroso, frontal mas sempre delicado,reparo que, ao decidir-me à realização destepropósito, me sinto apenas o sujeito dodiscurso enquanto o doador do seu conteúdoé José Salvado Sampaio, ou se preferirem, aslongas conversas que com ele mantive sobrediversos temas e muitas pessoas e ainda osseus livros e o seu pensamento disseminadopor diversas revistas e jornais.

Salvado Sampaio viveu a adolescência ea juventude num tempo histórico extrema-mente conturbado, com a Espanha violenta-mente sacudida por uma prolongada e cruelguerra civil e mais tarde a Europa devastadapela barbárie dos exércitos nazis. Esses anosviveu-os Salvado Sampaio em Coimbra etambém em Lisboa. Numa Coimbra onde parasempre se tinha calado a voz inigualável doseu futuro amigo Edmundo de Bettencourt,esse discretíssimo quanto grande poeta quehavia dado o nome à revista “presença” queRégio, Gaspar Simões e Casais Monteiromantinham viva quando Salvado Sampaiochegou à Universidade. Numa Coimbra que,nos inícios da década de 40, vê surgir a“Vértice” revista de orientação estética eideológica diferente, em que a influência domarxismo e do socialismo, então designadopor novo-humanismo, eram evidentes.Sampaio foi sensível a este ideário que a suaformação universitária – licenciatura emCiências Histórico-Filosóficas – permitiuaprofundar ao longo da vida e que a vindapara Lisboa também facilitou porque ecoavampelas tertúlias as polémicas e os textos

Paulo Sucena (Secretário Geral da FENPROF)

insertos em “O Diabo”, o de boa memória, deÁlvaro Cunhal, Mário Dionísio, Piteira Santos,Manuel da Fonseca e outros. Este abraçar donovo-humanismo contribuiu para a cons-trução ideológica do homem de princípios econvicções e também de esperança e con-fiança no futuro e nos humanos que foiSalvado Sampaio. O professor distinto as-sume-se como cidadão na área da esquerda,num posicionamento comummente designa-do como o de “compagnon de route” do PCP.

Terminado o seu curso, Salvado Sampaioabraça apaixonadamente a profissão docente,fazendo uma carreira brilhante como profes-sor e autor de livros de que lembro a“Gramática da Língua Portuguesa”, publicadapela Porto Editora, produzida em parceria comOrlando Pinto Baptista.

O seu labor intelectual e o seu perfil deextremo rigor investigativo levaram-no aoCentro de Investigação da Gulbenkian e àprodução de trabalhos de grande interesse equalidade, designadamente relativos aoEnsino Primário. Mas é a Revolução de Abrilque abre portas para que o investigador e ocidadão mostrem com mais evidência as suasveras dimensões. Em primeiro lugar, naDirecção Geral do Ensino Básico, para que foiconvidado por Rogério Fernandes, ondeproduziu um trabalho notável em prol darenovação do então ensino primário. Apresença do seu pensamento manifestava--se de forma plural mas é de justiça assinalara sua colaboração na revista “O Professor”,nomeadamente quando tinha na direcção ena chefia de redacção os seus estimadosamigos Rogério Fernandes e José FranciscoNereu, prematuramente desaparecido.

Relevante papel foi o desempenhado porSalvado Sampaio no Sindicato dos Professoresda Grande Lisboa, na FENPROF, de que foidirigente como membro do Conselho Nacionaldo 1º ao 7º Congresso, na CGTP-IN de quedurante vários anos foi membro do seuConselho Nacional, no Instituto Irene Lisboade que foi o primeiro Presidente e no ConselhoNacional de Educação em que esteve durantelongos anos como representante da CGTP-IN.Em todos estes lugares desenvolveu umanotável actividade e afirmou-se como umapersonalidade que suscitava, naturalmente,o respeito de todos os que o ouviam. SalvadoSampaio impôs-se, mesmo sem querer, comouma referência para muita gente. Do pontode vista político-partidário não é possível

esquecer a sua actividade no MDP/CDE e oseu relevante papel na construção da Lei deBases do Sistema Educativo que lhe suscitouum livro de imprescindível consulta pelos quese interessem por saber como foi o com-portamento dos partidos políticos comassento na Assembleia da República, naelaboração desta Lei. José Salvado Sampaiocontinuou a sua acção cívica e política, depoisda extinção do MDP/CDE, na IntervençãoDemocrática onde a sua figura moral e o seupensamento se afirmaram com a coerênciade sempre.

Diria, a terminar, que Salvado Sampaio seperfilou como um cidadão do seu tempo. Umavoz da pedagogia e da investigação. Uma vozdo movimento sindical. Uma voz da política,no que esta tem de mais nobre – a defesa deuma prática baseada em princípios, a defesade estratégias sustentadas por normas éticas,a exigência de uma acção consequente embusca da emancipação dos humanos, aassunção de um combate sem oportunismosna construção de uma sociedade democráticasem exploradores e explorados e sem quais-quer opressões políticas, económicas, sociaise culturais. Uma voz ideológica no mundo daeducação com a sua crítica progressista e deesquerda às políticas educativas de sucessivosgovernos; com a sua intransigente e funda-mentada defesa da estabilidade profissionaldos professores, da qualidade da sua formaçãoe da sua valorização social; com o seucombate pela criação de múltiplos recursos emeios que proporcionassem o sucessoeducativo a todos os alunos, evitando-se adiscriminação dos oriundos de meios desfa-vorecidos; com a permanente reivindicaçãode uma acção social escolar que con-templasse todos os que dela verdadeira-mente necessitassem e não apenas uma ridí-cula minoria; com a batalha que empenha-damente travou contra o analfabetismo; coma sua insistência, sempre convicta efundamentadamente expressa, na demo-cratização do sistema educativo, pilarinsubstituível de um Portugal de Abril; coma defesa da Lei de Bases do SistemaEducativo e de uma escola pública da maisalta qualidade para todos.

José Salvado Sampaio, um cidadão deraras qualidades, um homem íntegro a quemagradeço profundamente por me ter acolhidono discreto calor da sua estima e cujamemória preservo.

HOMENAGEM

E

JORNAL DA FENPROF 31FEVEREIRO 2006

32 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

DIVULGAÇÃO

As comemorações docentenário de Agos-tinho da Silva arran-caram a 13 de Fe-vereiro no CentroCultural de Be-lém (...) As cele-brações, que seprolongam portodo o ano de

2006, incluemco lóqu ios ,exposições,

a edição de umselo comemorativo e a abertura da cátedra“Agostinho da Silva” na Universidade deBrasília (...)

Para assinalar os cem anos do nasci-mento do pensador português, os go-vernos de Portugal e do Brasil (país ondeo escritor esteve exilado) e a AssociaçãoAgostinho da Silva planearam um conjuntode iniciativas (...)

Das edições previstas fazem parte uma“Autobiografia”, resultante de um conjuntode cartas dirigidas por Agostinho da Silvaa Júlio Gomes, e o “Caderno de Lem-branças”, texto também de cariz auto-biográfico.

Está ainda calendarizado o lançamentodos ensaios “O Essencial sobre Agostinho

Cem anos do nascimento de Agostinhoda Silva celebrados durante 2006

da Silva” e “Religião e Metafísica no Pensarde Agostinho da Silva”, ambos de RomanaValente Pinho, bem como “Portugal vistopor Agostinho da Silva, Agostinho da Silvavisto pelos Portugueses”, de RenatoEpifânio.

“Reencontrar Agostinho da Silva: oPoeta e o Poema”, de José Flórido, e“Presença de Agostinho da Silva no Brasil”, dePedro Agostinho e Amândio Silva, são outrasdas obras a publicar ao longo deste ano.

Também previsto está um volume “InMemoriam”, que reunirá contributos dequase cem personalidades portuguesas ebrasileiras, enquanto no Brasil será feitauma reedição de “Pensamento à Solta”,por iniciativa de Pedro Agostinho, filho maisvelho do filósofo.

A inauguração, no Porto, cidade ondeAgostinho da Silva nasceu, de um conjuntoescultórico de Lagoa Henriques sobre asua figura e a edição de um conjunto decinco DVD com as “Conversas Vadias”,são outros dos eventos programados.

Da lista de actividades consta ainda acriação de um programa de intercâmbioescolar - similar ao programa Erasmus -que terá o nome do filósofo e visará acirculação de estudantes de licenciaturaentre os países de língua portuguesa.

Lusa, 31/01/2006

A UNICEF apelou aos doadores e à opiniãopública internacional para que contribuamcom 805 milhões de dólares a fim de prestarassistência às crianças e mulheres em 29emergências humanitárias.“As emergências comprometem a pres-tação de serviços básicos e protecção àscrianças,” afirmou recentemente a Directo-ra Executiva da UNICEF, Ann M. Veneman.“No passado, uma série de desastresnaturais e crises humanitárias persistentesdeixaram milhões de crianças e famíliasvulneráveis à doença, à má nutrição e àviolência”, lembrou.Do montante solicitado de 805 milhões de USD, mais de um terço do total, 331milhões, destina-se ao Sudão. O conflito e a insegurança persistentes na regiãoOcidental de Darfur afectaram a vida de cerca de 3.4 milhões de pessoas e está aameaçar a sobrevivência de 1.4 milhões de crianças, das quais cerca de 500.000são menores de cinco anos, revela a UNICEF.

UNICEF precisa de 805 milhões de dólarespara emergências humanitárias

LisboaSede: Av. António Augusto de Aguiar,56 - 3º Esq., 1069-115 LISBOAtel: 21 317 75 00 • fax: 21 354 79 13email: [email protected]@unicef.pt

www.unicef.pt

Depois das exibições no Auditório Mu-nicipal António Silva, no Cacém, oTeatro TapaFuros está disponívelpara apresentar nas escolas as “Estó-rias do Arco da Velha”, a partir detextos de António Torrado e comencenação de Rui Mário.O espectáculo tem música original dePedro Hilário; interpretação deCláudia Faria, Marco Martin, Rui Márioe Samuel Saraiva. O trabalho de ceno-grafia / figurinos é da responsabilidadede Flávio Tomé, o desenho de luz deDavid Martins, a fotografia da AgênciaZero e a produção de David Martins eMarco Martin.Informações/Reservas: 919 053 476;e-mail: [email protected]; sítio:www.tapafuros.comEspectáculo aconselhado para maio-res de 4 anos.

“Estóriasdo Arco da Velha”vão às escolas

JORNAL DA FENPROF 33FEVEREIRO 2006

Laboratórios e departamentosda Universidade da Beira Interiorabertos à população

Os laboratórios e de-partamentos da Uni-versidade da Beira In-terior (UBI), na Covilhã,vão estar de portasabertas à população,de 14 a 16 de Março,numa iniciativa intitu-lada “Dias da UBI”.A partir desta semanaestão abertas as inscri-ções para participar nainiciativa. As visitas guiadas, a realizar durante os trêsdias, são gratuitas e têm como público-alvo os alunosdos ensinos básico e secundário e empresários.“É um projecto pedagógico de aproximação ao meiouniversitário, para mais tarde facilitar aos jovens aescolha por um curso superior”, explica a instituição,sublinhando que a iniciativa serve ainda para “apresentaraos empresários o potencial de investigação da UBI eas possibilidades de recrutamento de licenciados”.O programa dos “Dias da UBI” inclui actividadespráticas, como experiências em laboratórios eutilização de novas tecnologias e multimédia.Paralelamente, cada departamento organiza exposi-ções e conferências das suas áreas de intervenção.A UBI é frequentada por cerca de cinco mil alunosdistribuídos por 31 licenciaturas.

De 14 a 16 de Março

XV Encontro de Investigaçãoem Educação Matemática

Currículo e Desenvolvimento Curricular

O crescente desinteresse dosjovens pela formação emáreas científicas é um pro-blema, comum a muitos paí-ses desenvolvidos, queafecta a sociedade e cujosefeitos são já muito nítidos emPortugal. À semelhança demuitos outros países (Ingla-terra, França, Alemanha),urge desenvolver programasde estímulo ao estudo das

Ciências, que vise inverter o desinteresse dos jovens por áreastradicionais como a química, a física e a matemática.Ciente desta situação, o Departamento de Química da Universi-dade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está empenhadoem contribuir com acções que despertem o interesse dos jovenspela Química. Uma das actividades propostas para o ano lectivo2005/06 é a organização de um ciclo de conferências, aberto atoda a sociedade, mas em particular aos alunos e professores doensino secundário e 3º ciclo do ensino básico, intitulado: "OsINCRÍVEIS… momentos em QUÍMICA".À semelhança do filme The Incredibles também a história daQuímica está repleta de momentos incríveis. Este ciclo de colóquiospretende despertar os jovens para a importância que as incríveisdescobertas da Química têm na qualidade das nossas vidas e nonosso bem-estar e aliciá-los a serem eles próprios, no futuro, osprotagonistas de novas aventuras, de novos momentos incríveisno mundo da Química. Este ciclo de conferências será proferidopor um conjunto de cientistas e investigadores portugueses quetêm em comum a paixão da Química e a capacidade de adivulgarem de uma forma empolgante.Aqui fica a agenda das próximas sessões:

• 15 de Março (quarta-feira) - 15:00h, Auditório da CM de Chaves"A Química que falta descobrir"Fernando Braga - Universidade de Trás-os-Montes e Alto DouroDestinatários: alunos do 10 ao 12º ano

• 26 de Abril (quarta-feira) - 15:00h, Aula Magna da UTAD"A Química é uma Ciência experimental. Brincando com osreagentes"Carlos Correia - Faculdade de Ciências do PortoDestinatários: alunos do 10 ao 12º ano

• 10 de Maio (quarta-feira) - 15:00h, Aula Magna da UTAD"A Ciência e o Detective"Carolina Antunes - Laboratório da Polícia Científica da Área doPorto da Polícia JudiciáriaDestinatários: alunos do 9 ao 12º ano

• 7 de Junho (sábado) - 15:00h, Aula Magna da UTAD"Um dia na vida do Zéquinha"Helena Tomás - Universidade da MadeiraDestinatários: alunos do 8 ao 9º ano

UTAD promove ciclode conferências

Avança a preparação do XV Encontro deInvestigação em Educação Matemática,subordinado ao tema central “Currículo eDesenvolvimento Curricular - Desafiospara a Educação Matemática”, marcadopara os dias 7, 8 e 9 de Maio próximo emMonte Gordo, Algarve.

A iniciativa, anunciada pela Sociedade Portuguesa deCiências de Educação e organizada por docentesuniversitários de Lisboa e do Algarve, está aberta “a todosos investigadores e professores que se interessam pelotrabalho de investigação no desenvolvimento curricular, nodesenvolvimento profissional e na aprendizagem daMatemática”.Além de sessões de trabalho e grupos de discussão, oprograma do encontro inclui a realização de conferênciaspor especialistas de Portugal, França e Holanda.Contactos: Luciano Veia e Carlos Miguel Ribeiro, ESE daUniversidade do Algarve, Campus da Penha, 8000-117 Faro;e-mails: [email protected]; [email protected]; sítio:www.ualg.pt/ese/eiem2006

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34 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

INTERNACIONAL

Trabalhadores sobre a ponte do Guaíba

prioritário fazer da “educação para acidadania democrática um dos marcosde identidade dos nossos sistemaseducativos”, sublinha o documentoaprovado no recente XIX Encontro

Galego-Português de Educadores para a Paz.A reunião teve lugar entre 18 e 20 de

Novembro passado, em Camposancos - AGuarda (Pontevedra) e contou com aorganização e dinamização dos Educadorespela Paz - Nova Escola Galega, do Departa-mento de Pedagogia e Didáctica das CC.EEda Universidade da Coruña, do Movimentodos Educadores pela Paz de Portugal (MEP)e da Associação Galego-Portuguesa deEducação para a Paz (AGAPPAZ).

Constatando a importância da Educaçãopara a cidadania democrática na construçãode sociedades plenamente democráticas, osparticipantes na reunião de Camposancosinsistem na necessidade de uma presençasignificativa e continuada dessa matéria nocurrículo de todas as etapas do sistemaeducativo, “assim como na forma deorganização das escolas e das aulas quedevem ser coerentes com os princípiosdemocráticos”.

Declarar 2005-2015 como o “Decénioda Educação para a Cidadania Democráticae os Direitos Humanos”, planificando eavaliando “diferentes actividades paraconsolidar esta dimensão educativa”, é umadas propostas em destaque no documentoque sintetiza as conclusões e recomen-dações às autoridades educativas aprovadasna reunião de Camposancos.

O Encontro propôs que os responsáveispolíticos da Educação de Portugal, Galiza eEspanha demonstrem junto do Conselho deMinistros do Conselho da Europa a necessi-dade (e a oportunidade) de declarar aqueleDecénio. Trata-se de avançar com umaproposta que “siga a resolução 2004/71aprovada pela Comissão dos DireitosHumanos da ONU em 21 de Abril de 2004”,na qual se sugere à Assembleia Geral um

XIX Encontro Galego-Português de Educadores para a Paz deixa um desafio

novo Programa Mundial para a Educação, noquadro da defesa e aplicação dos direitosfundamentais de toda a comunidadeinternacional.

O XIX Encontro Galego-Portuguêscriticou a fraca adesão institucional, até aomomento, dos ministérios de educaçãogalego, espanhol e português em matéria deEducação para a cidadania democrática, eesclarece que essas entidades não cumprem“as recomendações propostas pelas NaçõesUnidas e outros organismos internacionais

No decurso do encontro de Camposancos - A Guarda foram aprovados os estatutosda nova Associação Galego-Portuguesa de Educação para a Paz (AGAPPAZ),presidida por Xesús R. Jares.“Promover e difundir a Educação para a paz e os direitos humanos, odesenvolvimento de uma cultura de paz em todos os âmbitos educativos, tantona educação formal como não formal, numa perspectiva positiva, crítica e nãoviolenta”, é um dos objectivos da Associação.A AGAPPAZ vai trabalhar também para “promover o diálogo, a reflexão, acomunicação, o intercâmbio de experiências e opiniões, o trabalho cooperativo entreos seus membros, em torno dos princípios da educação para a paz, assim como comoutras associações ou organizações, de forma que juntemos esforços num contextocada vez maior.”“Fomentar a investigação no âmbito da educação para a paz, dos direitos humanos edo desenvolvimento” e “difundir e elaborar materiais didácticos no âmbito da educaçãopara a paz, dos direitos humanos e do desenvolvimento”, são outros objectivos daAssociação, que vai “propor medidas e programas educativos no âmbito da educaçãopara a paz, dos direitos humanos e do desenvolvimento.”No âmbito da sua actividade, a AGAPPAZ vai “exigir àsautoridades educativas a implementação de políticasde apoio à investigação na área da educação para apaz” e “participar em campanhas que incidam naconstrução social de uma cultura de paz.”A Direcção eleita no encontro de Novembro passadointegra os seguintes elementos:Presidente: Xesús R. Jares (Galiza); Vice-presidente:Helena Proença (Portugal); Secretária: Teresa MªRodrigues Ferreira (Portugal); Tesoureiros: Mª EmiliaCorreia Moreira Dias Gregório (Portugal) y SantiagoRodríguez Sánchez (Galiza); Vogais: Mª VirgíniaRodrigues, Isabel Lima e Américo Nunes Peres (Portu-gal), Bernardo Carpente Allegue, Noa Caamaño, CarmenDíaz Simón e Marisa Gamallo Bouzo (Galiza).

Declarar 2005-2015 como o “Decénioda Educação para a Cidadania Democráticae os Direitos Humanos”

como a UNESCO ou o Conselho de Europa”.Segundo os educadores reunidos na

Galiza, para que a educação para acidadania democrática tenha uma presençasignificativa no sistema educativo énecessário tomar medidas no âmbito docurrículo, da formação de professores, naorganização e gestão das escolas e aindano contexto de uma política de criação demateriais didácticos e de experiênciaseducativas inovadoras nesta área.

JPO

AGAPPAZ

É

JORNAL DA FENPROF 35FEVEREIRO 2006

no alvo

No próximo dia 20 de Março decorremtrês anos sobre a invasão e ocupação doIraque pelas tropas dos Estados Unidos da América e seusmais fiéis aliados.

Os pretextos utilizados são hoje reconhecidamente falsos comojá o havia sido denunciado pelos milhões de cidadãos que, no iníciode 2003 e em todo o Mundo, saíram à rua para protestar contra aentão iminente invasão.

Em Portugal realizaram-se as maiores manifestações pela Pazque há memória!

Três anos volvidos são já dezenas de milhares de mortos eestropiados, na sua maioria iraquianos mas também militares das forçasde ocupação, assassinatos selectivos de intelectuais daquele país e aconstante violação dos Direitos Humanos, a destruição das infra-estruturas e delapidação dos recursos económicos iraquianos.

A situação na região e no mundo é hoje mais perigosa!As ameaças dos EUA ao Irão e à Síria, assim como a

manutenção da ocupação militar israelita da Cisjordânia e a transformação da Faixade Gaza em campo de concentração, são, entre outros, factores que contribuem para estainstabilidade.

A pretexto do combate ao terrorismo, os Estados Unidos e também países da UniãoEuropeia têm vindo a implementar medidas securitárias que visam silenciar o justo repúdiodos trabalhadores e dos povos contra as políticas neo-liberais e imperialistas.

A adesão e participação empenhada de todos será um contributo importante paraobrigar as tropas de ocupação a retirarem do Iraque e para estabelecer a Paz na região.

A CGTP-IN e todas as suas estruturas sectoriais, regionais e locais foram, desde aprimeira hora, dos mais activos componentes deste movimento.

Os objectivos centrais são:• Mobilizar a opinião pública portuguesa para as graves consequências da ocupação

do Iraque.• Exigir a imediata retirada de todas as tropas de ocupação.• Manifestar a nossa solidariedade ao povo iraquiano e saudar a sua capacidade de

resistência face aos ocupantes.• Exigir às autoridades do Estado português que contribuam positivamente para uma

solução do conflito e reafirmar a nossa total e absoluta recusa de qualquer envolvimentomilitar de Portugal.

IRAQUENão à ocupação, pela paz

Iniciativas em Portugalno mês de MarçoA par de outras organizações, a CGTP-IN está apreparar um conjunto de iniciativas, pela paz noIraque, a realizar no nosso país, no próximo mês deMarço. Aqui fica, em traços gerais, o plano dessasactividades, em que irão participar, certamente, muitoseducadores e professores:

• Concentração dia 18, no Largo de Camões em Lisboa

• Realização de um Colóquio/Debate em data a decidir,integrado no esclarecimento e mobilização da opinião pública

• Debates e/ou divulgação pública de documento sobrea situação em diversas regiões do país.

A última década fez aumentar o fosso en-tre os países «mais pobres» e os «maisricos» do mundo, revela o estudo «O Cres-cimento não está a funcionar: a distribuiçãodesigual de custos e benefícios do cresci-mento económico», apresentado estasemana pela New Economics Foundation(NEF), uma instituição independente depesquisa da Grã-Bretanha.Segundo os investigadores da NEF, «osdados mostram que o crescimento eco-nómico sozinho não gera distribuição derendimento, como defendem algumasreceitas económicas ortodoxas». Um doscasos mais paradigmáticos, citado noestudo, é o do Brasil, país que, apesar deser uma das maiores economias mundiais,poderá levar 304 anos a atingir o mesmonível de distribuição do rendimento dospaíses ricos.«A nossa obsessão com o crescimento e abusca incessante de um sistema global quecria ainda mais dependência de cresci-mento colocou-nos numa estrada para aperdição», afirma David Woodward, chefedo programa da NEF e investigador princi-pal do referido estudo.De acordo com a investigação, «de cada100 dólares de aumento do rendimentomundial entre 1990 e 2001, os mais pobresficaram com apenas 60 centavos. Istorepresenta uma queda de 73 por cento emrelação aos 2,20 dólares ganhos durante adécada de 1980», que, curiosamente, foientão considerada uma «década perdida».Os autores acrescentam que, para piorar asituação, os danos ambientais e asalterações climáticas estão a afectar maisos países pobres.O estudo da NEF foi divulgado a poucosdias da abertura do Fórum EconómicoMundial, em Davos (…)

Expresso on line, 24/01/2006

Aumenta o fossoentre ricos e pobres

Portugal é o país mais desigual e mais pobreda União Europeia e a diferença entre osmais ricos e os mais pobres acentuou-se apartir de 2001. O número de pessoas a vivercom menos de 350 euros por mês ronda osdois milhões e teima em não descer.

Público, 12/1/06

JORNAL DA FENPROF 35

36 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

CGTP-IN lançou recentemente uma cam-panha de âmbito nacional pela efectivaçãodo direito à formação profissional. Assessões de sensibilização desta oportunainiciativa, incluindo debates regionais e

sectoriais, decorrerão de Março a Junho deste ano,nos distritos de Porto, Coimbra, Lisboa, Évora, Faro,Castelo Branco e nas Regiões Autónomas dos Açorese da Madeira.

Depois, entre Julho e Novembro terão lugaracções de reflexão nos sindicatos e nas empresas,ao mesmo tempo que se avançará na elaboraçãode um aprofundado estudo sobre a realidade daformação profissional no nosso País. De Dezembrode 2006 a Janeiro de 2007 decorrerá o trabalho,por um lado, de avaliação das acções e dosinquéritos entretanto realizados e, por outro, depreparação e dinamização de uma ConferênciaNacional, agendada para a primeira quinzena deFevereiro do próximo ano. Trata-se de um projectode grande alcance com a qual a Inter pretender darum contributo muito significativo para um desafioa que o País tem que obrigatoriamente respondercom dinamismo e frontalidade: a qualificaçãoprofissional de milhares de portugueses, etapa fun-damental para a construção de um verdadeiro fu-turo de progresso e desenvolvimento.

“Agir para a realização prática das orientaçõesdefinidas no Programa de Acção adoptado no 10ºCongresso da CGTP-IN, onde se considera aeducação ao longo da vida como um direito detodos, permitindo uma valorização pessoal e aomesmo tempo um meio de adaptação à sociedadee à economia baseada no conhecimento”, é um dosgrandes objectivos desta campanha.

Para alcançar esse fim, a Central tem bempresente “a necessidade de se articular e darcoerência a várias vertentes: formação inicial,formação contínua, certificação das competências,educação/formação de adultos, acções especificascontra o abandono e insucesso escolar e para osmenores de 18 anos que ingressam no mercado deemprego, o sistema nacional de formação pro-fissional e de certificação.”

Neste quadro, a formação contínua constituiuma dimensão essencial da educação ao longo davida, importando concretizar os acordos deconcertação social e a lei, que garantem um tempode formação anual e outras condições para melhorara qualificação dos trabalhadores e trabalhadoras, edinamizar a contratação colectiva”.

CAMPANHA

Campanha nacional pela efectivação do direito à formação profissionalUma iniciativa de grande alcance lançada pela CGTP-IN

José Paulo Oliveira (Jornalista)

A Central recorda ainda que, através das estruturas derepresentação onde tem assento, pretende “defender umaformação profissional de qualidade e certificada, ao nível daformação inicial (basicamente para os jovens de 16 a 18 anos)e da formação contínua (basicamente para os adultosempregados ou desempregados), garantindo a igualdade deoportunidades de acesso entre trabalhadoras e trabalhadores,portugueses ou imigrantes.”

Importa, também, defender a realização de mais cursos deEducação/Formação, permitindo a dupla certificação escolar eprofissional, acrescenta a Inter.

Com esta campanha, a CGTP-IN quer “suscitar um amplodebate sobre, por um lado, a urgência de criar instrumentosregulamentares específicos para este tipo de ensino e, por outrolado, sobre a necessidade de um Sistema Nacional de duplacertificação escolar e profissional, de forma a utilizar um únicoreferencial de competências para a certificação das profissõese a certificação da formação.”

Outra perspectiva da Central aponta para a passagem deinformação e conhecimentos às organizações e aos quadrossindicais “que os ajudem a defender, através da acçãoreivindicativa, da negociação colectiva e nas estruturas derepresentação, a criação de respostas concretas face ànecessidade de melhoria da qualificação nas empresas”.

Tal melhoria terá que incluir “várias vertentes, nomeadamentea aplicação da legislação em vigor e do recente Acordo assinadoentre os parceiros sociais sobre esta matéria”, tendo em vistadar aos trabalhadores o necessário acesso a acções deformação e de certificação das suas competências e a suadevida valorização no mundo do trabalho.

Por uma formação profissionalde qualidade e certificadaA

JORNAL DA FENPROF 37FEVEREIRO 2006

Mário Botas: Fundação mexe na Nazaré

O pintor “comprometido”com as outras artes

José Paulo Oliveira (Jornalista)

“A inquietação, a irreverência e a recusaa qualquer restrição, aliados aos seusinteresses literários, artísticos, musicais eteatrais, encontram-se largamento docu-mentados nos seus desenhos e aguarelas”,escrevia Margarida Veiga, Directora doCentro de Exposições do Centro Cultural deBelém em 1999, por ocasião da retros-pectiva da pintura de Botas, ali apresentadanaquele ano.

“E porque a literatura é indissociável”do trabalho do pintor nazareno - escrevia opoeta e ensaísta José Manuel de Vascon-celos (1) - “teremos de procurar motivosdesencadeadores ou inspiradores nasleituras” de Mário Botas, que Vasconceloscaracteriza assim:

“Oscilam entre o surrealismo e as suasmargens e os escritores do fim do séculoXIX, sobretudos os simbolistas franceses e,acima de todos, Charles Baudelaire (...)”.

“Mário Botas”, regista ainda J.M.Vasconcelos, “foi um autodidacta, não tevequalquer formação académica em artesplásticas, não se inserindo em correntes ouescolas e assumindo a relativa margina-lidade dos artistas recusados e proscritos.

Mário Botas, nascido em 23 de Dezembro de 1952 naNazaré, assinou uma obra notável (infelizmente curta) comopintor - irreverente, crítico, inquieto, vítima também dealguma marginalização e esquecimento a que são votadosmuitos dos criadores, especialmente enquanto vivos.

Relacionou-se mais comescritores, com os quaisconviveu assiduamente ecolaborou, fazendo desenhospara livros de alguns deles”.

Esta ligação do artistaao universo da escrita estábem patente no testa-mento em que deixou defi-nidas as linhas mestras deorganização da futuraFundação, incluindo a indi-cação de que às salasdeveriam ser atribuídosnomes de escritores.

Do entusiasmo da 1ªexposição individual (C. Municipal deTurismo da Nazaré, 1970) e da 1ª mostra nacapital (Galeria São Mamede, 1973), àmorte do artista em 29 de Setembro de1983, apenas com 31 anos de idade, vai umcurto período que Botas aproveitou commuita força criativa, transformando as suasmeditações (muitas delas assinaladas noálbum “Afrodisíaco”, pequeno bloco dedesenhos e apontamentos) em trabalhos depintura, desenho e ilustração, dando corpoa interessantes exposições em vários pontosdo País e também no estrangeiro.

O artista plástico comprometido com aliteratura, a música e o teatro (encenou em1980 “O Marinheiro”, de Fernando Pessoa),o brilhante aluno de Medicina (licenciadoem 1975, nunca exerceu), o filho da Nazaréque nunca esqueceu as suas gentes vaicontinuar a contemplar o mar partir da suaFundação e, certamente, em animadastertúlias com os seus amigos e com-panheiros de sempre - os artistas e osescritores deste País à beira-mar plantado.

(1) - In catálogo da Exposição de Pintura deMário Botas, 23 de Junho a 25 de Agosto de 2001,

Galeria Municipal do MontijoPormenor do Auto-Retrato, tinta da

china e aguarela s/papel, n. dat.

Edifício onde ficará instalada a Fundação Mário Botas,no coração da Nazaré

JORNAL DA FENPROF 37FEVEREIRO 2006

38 JORNAL DA FENPROF FEVEREIRO 2006

Música

VIII Semana Cultural propõe 80 eventos “De Mar a Mar”

CULTURAIS

Vitorino: um novo CDaos 30 anos de carreira

Exposições

June Tabor

Universidade de Coimbra

O

Depois de em 2004 nos ter remetido para omundo do futebol diferente daquele quehoje se vive, com em «Ninguém nos ganhaaos Matraquilhos», Vitorino está de regressocom um CD que assinala uma carreira de30 anos.O primeiro disco de Vitorino foi "SemearSalsa ao Reguinho" e o último (de originais)é "Ninguém Nos Ganha aos Matraquilhos",lançado em 2004.Neste novo álbum da obra de Vitorino, com50 canções, reunidas sob o nome de «Tudo»,há uma viagem às recordações de outrostempos. Um regresso aos baús de recor-dações que Vitorino tem espalhadas peloAlentejo, por Lisboa epelo amor. | TSF, 30/01/2006

O Museu Nacional da Im-prensa apresenta, no CentroMultimeios de Espinho, aexposição “Júlio Verne naImprensa Portuguesa” .Organizada em colaboraçãocom a Câmara Municipal deEspinho, a exposição pretendelembrar os momentos maisimportantes da vida do precur-sor da ficção científica e a formacomo a imprensa portuguesa(editores e publicações perió-dicas) acolheu a sua obra.Inaugurada na sede do Museu da Impren-sa, em Março de 2005, esta foi a primeiraexposição que se realizou em Portugalsobre a obra de Júlio Verne.A sua apresentação em Espinho marca oencerramento das comemorações docentenário da morte que se tem vindo acomemorar um pouco por todo o mundo,desde o ano passado.A mostra é composta por cerca de meiacentena de publicações periódicas,revistas e livros, podendo ser vistasprimeiras edições das obras de Júlio Vernee outras traduzidas para português.Está patente, na mostra, um original comcapa dura colorida, da 1ª edição das “20

Espinho fecha Centenário de Júlio Vernemil léguas submari-nas”, livro editado porPierre Hetzel, primeiroeditor de Júlio Verne,com o qual celebrouum contrato por 20anos. Um exemplar daRevista Camões e vá-rios volumes do “Bul-letin de la Société JulesVernes” também po-dem ser apreciados. “Avolta ao mundo em 80dias”, “Os filhos do

capitão Grant”, e “Viagem ao centro daterra”, editados por David Corazzi - o seuprimeiro editor em Portugal, através daempresa “Horas Românticas” - são obrastambém patentes.Um conjunto de painéis contam a históriada vida do escritor francês e num delespode ser visto o seu famoso iate St. Michel,que aportou em Lisboa, em 1878.Júlio Verne nasceu em Nantes, em 1828,e faleceu em Amiens, em 1905, depois deter escrito quase uma centena de obras.A exposição vai estar patente ao públicono Centro Multimeios de Espinho, até 12de Março, no seguinte horário: 3ª a 6ª 10h-22h. Sáb. e Dom. 14h-22h. Entrada livre.

mar é o mote da VIII Semana Culturalda Universidade de Coimbra (UC), adecorrer de 1 a 11 de Março com cercade 80 eventos, que este ano se alargaa outras cidades do litoral Centro.Intitulada “De Mar a Mar”, a Semana

compreende espectáculos, colóquios, ateliers,seminários, passeios/visitas e concursos,envolvendo toda a UC e diversas organizaçõesnão universitárias.

Este ano, o programa “ultrapassa as fronteirasde Coimbra e estende-se a outras localidades dolitoral Centro” como a Figueira da Foz, Canta-nhede, Peniche, Óbidos e Ílhavo, realçou o pró-reitor para a Cultura, João Gouveia Monteiro, naapresentação pública da Semana Cultura.

Além disse, “cobre praticamente todas asáreas científicas e um grande número de áreasculturais”, constituindo “um desafio à cidade”,salientou ainda o pró-reitor, ao apelar à adesãoda população à oferta que lhes é proposta para

estes onze dias.Um concerto pela Orquestra Sinfónica

ARTAVE com entrada gratuita celebra, na noitede 1 de Março no TAGV, o 716º aniversário daUniversidade de Coimbra, após, durante a tardee numa sessão solene comemorativa, serentregue o Prémio UC à especialista emAntiguidade Clássica Maria Helena da RochaPereira e ainda o Prémio Blupharma.

“O mar como factor estratégico do desenvol-vimento de Portugal” é o tema de uma mesa-redonda prevista para 4 de Março no Centro deArtes e Espectáculos da Figueira da Foz.

Mário Soares, que foi professor convidadoda Universidade de Coimbra, profere dia 2 umaconferência sobre “Mares Multilaterais: Portu-gal na construção de uma Política Global paraos Oceanos”, antecipando o simpósio “AEconomia Marítima (ainda Existe?)”, marcadopara o dia seguinte, ambos organizados pelaFaculdade de Economia.

A Faculdade de Letras organiza um colóquio,dia 7, sobre “Mediterrâneo, Orientes e Globa-lização” e propõe ainda um congresso interna-cional acerca do “Mar Greco-Romano” (dias 9 e10) e um ciclo de conferências subordinado aotema “Mare Oceanus - Atlântico - espaço dediálogo” (2,3,6 e 7 de Março).

Um fórum da “Água e da saúde” é um doseventos da Faculdade de Medicina, enquanto

JORNAL DA FENPROF 39FEVEREIRO 2006

Cinema

Mário Laginha

Fantasporto até 5 de MarçoArrancou a 20 de Fevereiro e termina a 5de Março a 26ª edição do Fantasporto, comexibições e actividades no Rivoli TeatroMunicipal, no AMC Arrábida 20, no Cine-ma Passos Manuel e no Palácio de Cristal.“Dead Meat” ( I r landa) , de ConnorMcMahon, “The Hamster Cage” (Canadá),de Larry Kent e “The Nun” (Espanha), deLuis de La Madrid, são 3 dos 400 filmes emfoco nesta 20ª edição do Fantas.“Coisa Ruim”, dos portugueses TiagoGuedes e Frederico Serra, com guião dojornalista Rodrigues Guedes de Carvalho,estava agendado para a abertura docertame, considerado um dos 60 festivaisde cinema mais importantes do mundo.

“Coisa Ruim”

Direito organiza um colóquio sobre o tema“O mar aproximando os povos: A universa-lização do direito”, ambos no dia 10.

No cinema é proposto o ciclo “Mar Portu-guês” e no teatro os espectáculos “De mar amar - há ir e provar”, pela Camaleão, “APesca” (de Brecht), pela cooperativa Boni-frates, entre outros.

Um concerto de música iraniana, dia 7,e exposições sobre a cartografia portuguesa,algas e conchas marinhas e a vida marinha ea história dos mares de Portugal fazemtambém parte do programa, entre outrasiniciativas.

“Quando uma instituição como a Uni-versidade de Coimbra faz um esforço destanatureza, é óbvio que ficaríamos satisfeitosque contribuísse para aumentar o númerode pessoas envolvidas no fenómeno dacultura”, frisou o reitor, Fernando Seabra Santos,ao exortar também a população a aderir a estaoitava edição da Semana Cultural.

O certame compreende ainda o “Diaaberto” nas faculdades, em que estas escolasrecebem alunos do ensino básico e secun-dário. | Lusa, 2/2/2006

Festivais

Jazz & Blues em SeiaAté 4 de Março decorre na cidade de Seia, nocoração da Serra da Estrela, o Festival Internacionalde Jazz e Blues, agora na sua 2ª edição.Os concertos terão lugar no Cinte-Teatro local,na Av. Luís de Camões. Mais pormenores pelotelefone 238310249.

Há cinquenta anos, Samuel Beckett escrevia “Todos os que caem”,um retrato, com humor, das misérias de quem chega “ao extremo dadificuldade de existir”. Agora é possível apreciar este trabalho, no Teatro daComuna, à Pç. de Espanha, em Lisboa, num interessante projecto comencenação de João Mota e interpretação de Carlos Paulo, Maria do CéuGuerra, Álvaro Correia, Ana Lúcia Palminha, Alexandre Lopes, João Tem-pera, Miguel Sermão, Sara Cipriano, Hugo Franco, Victor Soares.

A história desenrola-se a partir de Maddy, a forte Mrs. Rooney, queaguarda a chegada do marido na estação de comboios. Em apenas umacto, a peça é o trajecto desta mulher, envelhecida e doente, masconformada com a existência.

Maria do Céu Guerra é esta figura amarga, desconcertante, irónica,comovente, trágica. Mais que gorda. Mais que idosa. “É uma pessoa disforme do ponto de vistafísico, é casada com um cego e são os desesperados. Chegaram ao extremo da dificuldade deexistir”, diz a actriz.

“Todos os que caem” mais não é do que “uma metáfora sobre o ser humano, uma metáfora sobrenós (...) que muitas vezes nos perguntamos qual é o sentido da vida”, explica Maria do Céu Guerra.

O palco é um verdadeiro estúdio de rádio, ou não fosse esta uma peça escrita por Beckett depropósito para a rádio. Na Comuna, cada representação é gravada e ao movimento juntam-sesons criados com a ajuda dos mais diversos utensílios de cozinha.

“Todos os que caem” é uma das iniciativas que comemoram, entre nós. o centenário do nascimento deum dos maiores dramaturgos do Teatro do Absurdo e vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 1969.

Até dia 1 de Abril, de quinta-feira a sábado, às 21h00. Bilhetes a 5 e 10 euros. Maisinformações pelo telefone 217221770

Um museu de arqueologia industrial vai nascer dasruínas da Metalurgia Duarte Ferreira (MDF), umafundição que marcou a história da indústria pesadaem Portugal e mudou a face da vila de Tramagal,em tempos “capital da metalurgia” do País (...)Dez anos depois do encerramento da MDF, ondenasceram charruas, debulhadoras, lagares,componentes de locomotivas, carros de combatee de bombeiros, empresários e autarcas unem--se na construção de um museu evocativo destamemória (...) Lusa, 12/02/2006

Arqueologia Industrial

Museu salva memóriasda “capital da metalurgia”

Bailado

“Dançar Kylian, Duatoe Bigonzetti”no Teatro Camõesem MarçoA Companhia Nacional de Bailadoapresenta em Março, no TeatroCamões, em Lisboa, o espectáculo“Dançar Kylian, Duato e Bigonzetti- Return to a Strange Land / Porvos Muero / Kazimir’s Colours”, comcoreografias, respectivamente, de JiriKylian, Nacho Duato e MauroBigonzetti.As sessões estão marcadas para osdias 17, 18, 24, 25 e 31 às 21h00 edia 26 às 16h00.

“Todos os que caem”Beckett visita a Comuna em ano de centenário do seu nascimento

A actriz Maria do Céu Guerra