nobreza humana
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Uma das raras coisas boas que a TV proporcionou ao grande público foi a aproximação com a música clássica.
Dos anos 80, começo dos 90, popularizou especialmente os cantores
que ficaram conhecidos como "Os Três Tenores“, São eles:: Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras.
Com sua arte, abrilhantaram diversos eventos, até mesmo Copas do Mundo de futebol! Os três são brilhantes, mas,
aqui, vai-se tratar apenas dos espanhóis: o Madrileño Plácido Domingo (tecnicamente o mais completo, já que além de maestro, toca vários instrumentos) e o Catalão,
nascido em Barcelona, José Carreras.
Mesmo os que nunca visitaram a Espanha conhecem a rivalidade existente entre os Catalães e os Madrileños,
sendo que os primeiros lutam até por sua independência, pretendendo uma nacionalidade própria, que não a
espanhola.
Mesmo no futebol os maiores rivais são Real Madrid e Barcelona, que exibe em seu belíssimo Estádio, o Camp Nou o sugestivo dístico "Todas as cidades tem um time. O Barcelona é o único Time que tem uma cidade!".
Carreras e Plácido não fugiram à regra quando, em 1984, por questões políticas que não vêm ao caso, tornaram-se inimigos.
Sempre muito requisitados em todas as partes do mundo, ambos faziam constar em seus contratos que só se apresentariam em
determinado show se o desafeto não fosse convidado!
Foi surpreendido com um diagnóstico terrível:
LEUCEMIA! Sua luta contra o câncer foi sofrida e persistente. Submeteu-se a vários
tratamentos, como autotransplante de medula
óssea, além de troca de sangue, o que o obrigava a viajar uma vez por mês
aos Estados Unidos. Claro que, nessas condições, não podia trabalhar e,
apesar de dono de uma razoável fortuna, os altos custos das viagens e do tratamento rapidamente
minguaram suas finanças.
Quando não tinha mais condições financeiras, tomou conhecimento de uma Fundação existente em Madrid com a
finalidade única de apoiar o tratamento de leucêmicos! Graças ao apoio da Fundación Hermosa venceu a doença e voltou a
cantar!
Claro que, recebendo novamente os altos cachês a que faz jus, tratou de associar-se à Fundação e, lendo seus estatutos, descobriu que o fundador, maior colaborador e presidente da Fundação, era o desafeto Plácido Domingo! Descobriu, ainda, que o mesmo criara a entidade em princípio para atendê-lo e se mantivera no anonimato para não constrangê-lo a "ter que aceitar auxílio de um inimigo".
O momento mais lindo e comovente entre os dois foi o
encontro, imprevisto por parte de Plácido, em uma de suas apresentações em Madrid, onde Carreras interrompe o
evento e, humildemente, ajoelhando-se aos seus pés, pede desculpas e o agradece em público.
Plácido levanta-o, e com um forte abraço, os dois selam, naquele instante, o início de uma grande amizade!
Certa vez, em Madrid, numa entrevista de Plácido Domingo, a repórter o indagava por que criara a Fundación Hermosa num momento que, além de beneficiar um "inimigo" ainda reviveu o único artista que poderia fazer-lhe alguma concorrência.
Esta é uma história que não deve cair no esquecimento e, tanto quanto possível, deve servir de inspiração e exemplo do que é capaz de fazer um ser humano.