nossa relação com a eternidade · “e sei que o seu mandamento é vida eterna. aquilo, pois, que...
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Nossa Relação com a Eternidade
Por
Silvio Dutra
Nov/2018
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A474 Alves, Silvio Dutra Nossa relação com a eternidade / Silvio Dutra Alves Rio de Janeiro, 2018. 90p.; 14,8 x21cm 1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Alves, Silvio Dutra. I. Título. CDD 252
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“E sei que o seu mandamento é vida eterna.
Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente
como o Pai me ordenou.” (João 12.50)
“Assim como lhe deste autoridade sobre toda a
carne, para que dê a vida eterna a todos aqueles
que lhe tens dado. E a vida eterna é esta: que te
conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e
a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.” (João
17.2,3)
Em sua significação geral a palavra eternidade
carrega consigo a noção de tudo aquilo que
jamais deixará de existir. Ainda que o tempo
deixasse de existir, o ser eterno continuaria em
sua existência. É fácil de se supor que todos os
seres que vivem no céu, não estão sujeitos ao
tempo, conforme ele corre em sucessão aqui na
Terra, e pode-se dizer que todos os que lá vivem,
encontram-se em estado eterno.
Todavia, quando a palavra tem sua significação
restringida àquilo que é espiritual, duas
situações devem ser consideradas: 1) a primeira
é relativa à condição que é chamada de morte
eterna, em que se encontram todos os seres
morais que não desfrutam da vida de Deus, e 2)
a segunda, por conseguinte, à que é chamada de
vida eterna, por corresponder ao desfrute da
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vida de Deus por parte daqueles a quem isto é
concedido, sejam homens ou anjos. É a esta
segunda condição que os nossos textos de
abertura se referem.
Sendo Deus a fonte e a causa de todas as formas de vida que chegam por ele à existência, só
podem ter vida eterna, assim como esta se encontra na divindade, aqueles que conhecem
por experiência pessoal a Deus, e que têm participação da comunhão com ele, pois, é
evidente, que tudo o que se encontra desligado da fonte, não pode ter continuidade em si
mesmo., conforme tudo o que existe na fonte.
Daí nosso Senhor ter conceituado a vida eterna
de forma tão sucinta com as seguintes palavras: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti,
como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.”
Este é um assunto fascinante por sua própria natureza intrínseca em sua extensão ilimitada, com variadas e infinitas formas de abordagens,
das quais temos que selecionar e nos focar apenas naquilo que diz respeito às realidades
espirituais conformem elas existem na própria pessoa de Deus.
Mas, ao focarmos em Deus não estaremos, como muitos costumam conceber, fazendo
considerações de algo monótono e estacionário.
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Muito a contrário disso, trata-se de uma matéria sem limites, assim como é o próprio Deus, que
não poderiam confiná-lo a algum aspecto determinante de tudo o mais.
Deus é profundidade sem fundo, e suas múltiplas realidades e ações são todas elas de caráter eterno, assim como ele é eterno.
Só para ilustrar um destes muitos aspectos, podemos antecipar um de importância capital que é o ato da morte e ressurreição de Jesus, que
apesar de terem ocorrido historicamente em um determinado ponto do tempo, possuem um
caráter eterno não somente de gratidão e louvor por parte daqueles que são e serão para sempre
alcançados pela salvação, como também permanecem como atos eternos na produção de
seus benefícios. Toda vez que alguém se converte, é como se eles se renovassem e
ocorressem de novo, apesar de não ser assim, pois foram realizados de uma vez para sempre.
Assim, a vida eterna é composta também de vários momentos, inclusive já passados, mas
que carregam consigo não apenas a lembrança, mas a eficácia e os efeitos, de tudo aquilo que é bom e edificante, conforme existentes na
pessoa de Deus.
Por outro lado, pode-se definir a morte eterna, como o alijamento que durará para sempre, de
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toda a bondade que há em Deus, porque, não se tendo experiência desta bondade e amor, não é
possível trazê-los à lembrança, e nem mesmo ser participante de seus benefícios.
A morte eterna é o estado de completa destituição de graça divina. É a miséria absoluta que atormentará para sempre a consciência que
será ativada para este propósito de condenação perpétua, em todos aqueles que praticaram o
mal, e não foram perdoados e lavados de suas iniquidades.
Suas mentes serão aferroadas sem descanso por toda a eternidade, pelo próprio mal que praticaram, e do bem que fizeram, eles não
terão qualquer lembrança, por não ter sido feito em Deus e por Deus.
Somente o que procede de Deus terá a marca da eternidade, no que se refere ao bem. E nestes
que são alcançados pela vida eterna divina, não haverá lembrança do mal que os atormente,
porque tudo o que vier à tona, será para o louvor e glória de Jesus Cristo. Assim, até mesmo a
lembrança do mal, naqueles que alcançarem a vida eterna em Deus, a maldição será transformada em motivo de bênção, em razão
do perdão concedido a eles.
Davi era um grande conhecedor, na prática, destas verdades, e por isso podia dizer que só um
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dia nos átrios do Senhor tinha muito mais valor do que mil fora da Sua presença. Por que isto,
porque aqueles momentos de um só dia, ficariam marcados na lembrança e na vida, para
produzir todo um efeito bom de louvor, gratidão, alegria, e para consolidar a fé no amor
de Deus por seus filhos.
O profeta Jeremias, também conhecendo o poder e a realidade destes momentos de
eternidade com Deus, em suas aflições, sempre procurava trazer à lembrança as coisas divinas
pelas quais podia manter firme a sua esperança.
Nenhuma boa obra feita em Deus deixará de ter
o seu galardão, e jamais cairá no esquecimento. Aquele gesto de amor da mulher que derramou
o unguento precioso sobre Jesus, recebeu dEle a promessa de que aquilo seria lembrado onde
quer que o evangelho fosse pregado, para memória dela. E certamente, aquele ato nunca será esquecido por todos os crentes, por toda a
eternidade, porque marca o amor eterno em ação entre Deus e os Seus.
Não é preciso esperar para entrar nesta vida maravilhosa, porque ela já começa aqui; o reino
eterno de Deus está em nós, a vida do céu está em nós, a partir do momento mesmo que nos
convertemos a Cristo. A fé nos leva a nos apoderar das coisas que ainda não são vistas e
que esperamos. Ela nos permite viver na
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atmosfera espiritual e celestial ainda aqui neste mundo, e nos aponta a plenitude que teremos
disto na glória.
Somos seres criados para a eternidade – lembremos sempre disso, uma vez que formos criados para sermos à imagem e semelhança de
Deus.
Já à luz destas poucas reflexões nós podemos
concluir quão errado é o modo de se pensar na
vida eterna como algo desvinculado de nós
mesmos, como se fosse apenas um simples
prêmio recebido da parte de Deus, para ir para o
céu depois da morte neste mundo, e ser livrado,
por conseguinte, do castigo eterno no inferno.
Neste sentido, foram muitos que perguntaram a
Jesus o que deveriam fazer para herdar a vida
eterna, conforme se vê no registro dos
evangelhos. Não que eles estivessem pensando
que mudança deveria ser feita em suas pessoas,
como eles deveriam se converter a Deus, pois
não estavam dispostos a isto, senão
simplesmente, pensando se havia alguma
forma ritualística de adoração exterior que eles
ainda não conheciam, e que poderia lhes ser
revelada por Jesus. (Lc 18.18).
Sabemos, pelas Escrituras, que Deus planejou
antes mesmo da fundação do mundo que a
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salvação seria exclusivamente pela graça,
mediante a fé e o arrependimento.
Mas, quantas verdades estão atreladas a esta
graça, a esta fé e a este arrependimento! Aqui,
ao se falar de graça, não se deve pensar apenas
no que é gratuito, mas sobretudo em poder que
é capaz de converter e produzir santidade no
pecador. Ao se falar de fé, não está em foco
apenas crer e confiar, mas receber o dom de
Deus que nos liga a Cristo, para que possamos
receber da Sua própria vida, e todos os
benefícios que Ele conquistou para nós na cruz.
E o arrependimento que sempre acompanha a
verdadeira fé, não é mera resignação, mas
mudança de direção, do pecado para a
santidade, do mundo e do diabo, para Deus. É
uma mudança de mente, como está no original
grego (metanoia) – de uma mente carnal, para
uma mente espiritual.
“Para que todo aquele que nele crê tenha a vida
eterna. Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha
a vida eterna.” (João 3.15, 16).
“Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que,
porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas
sobre ele permanece a ira de Deus.” (João 3.36).
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A mente carnal que estava presa às coisas deste
mundo, e incapaz de conhecer a vida de Deus
por permanecer na ignorância das trevas,
quando é vencida, e passamos a ter a mente de
Cristo, que é obtida na conversão, abre-se um
amplo horizonte diante de nós, de
possibilidades que não têm fim, e que sempre
estão em contínuo movimento assim como as
águas de um rio que estão sempre correndo
para o mar. A vida que recebemos de Deus, é
como um rio de água viva que flui para o grande
oceano do amor de Deus, e este rio jamais
secará.
“Mas aquele que beber da água que eu lhe der
nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu
lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre
para a vida eterna.” (João 4.14).
Esta que é a maravilha da coisa, pois apesar de
Jesus ser o mesmo alimento do qual comemos
sempre, não há qualquer possibilidade de vir a
se tornar em uma rotina enjoada, porque assim
como as águas do rio correm continuamente,
elas nunca são as mesmas águas à medida que
vão avançando. Assim, em relação a Cristo, que
é sempre novo para nós, apesar de ser sempre o
mesmo. Por isso a vida que temos com ele é
chamada de novidade de vida, não apenas por
ser algo diferente, mas por ser algo que está
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sempre se renovando em nós, sem nunca
alterar a sua substância santa.
Paulo diz, a este respeito, que sendo novas
criaturas em Cristo, o que é velho já passou e
todas as coisas se fizeram novas, e que o homem
exterior se corrompe, mas o novo, criado em
Cristo e por Cristo, se renova diariamente.
“Trabalhai, não pela comida que perece, mas
pela comida que permanece para a vida eterna,
a qual o Filho do homem vos dará; pois neste,
Deus, o Pai, imprimiu o seu selo.” (João 6.27).
João 6.47: Em verdade, em verdade vos digo:
Aquele que crê tem a vida eterna.
João 6.54: Quem come a minha carne e bebe o
meu sangue tem a vida eterna; e eu o
ressuscitarei no último dia.
Como temos visto que a vida eterna se funda no
bem que está em Deus, o pecado é o grande
inimigo desta vida, e não podemos morrer para
o pecado se não morrermos juntamente com
Cristo, recebendo-o pela fé em nosso coração.
Se não nos despojarmos do velho homem e não
nos revestirmos do novo que é criado segundo
Deus em justiça, não podemos achar os efeitos
desta vida eterna atuando em nossa existência.
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“Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste
mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida
eterna.” (João 12.25).
É possível ter alcançado a vida eterna por meio
da fé em Jesus e no entanto viver como morto
espiritual, por causa da falta de mortificação do
pecado. Quando não andamos no Espírito, o que
há de prevalecer são as obras da carne.
A razão de tudo isto, é porque, como já dissemos,
a vida eterna é dinâmica, ela vive na piedade e
no crescimento contínuo na graça e no
conhecimento de Jesus. Se a água do rio é
bloqueada ela ficará estagnada. Importa então
exercitar-se diariamente na vida de piedade que
para tudo é proveitosa, pois sem isto, não se verá
todos os movimentos da vida eterna operando
em nós e através de nós.
Deus é Deus de vivos, e não de mortos. Vivos
espirituais, e por isso seu mandamento é que
não somente sejamos transportados da morte
para a vida, mas que vivamos perante Ele como
filhos avivados, renovados pelo Espírito Santo,
cheios do fruto de justiça e boas obras.
“E sei que o seu mandamento é vida eterna.
Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente
como o Pai me ordenou.” (João 12.50).
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“Porque o salário do pecado é a morte, mas o
dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo
Jesus nosso Senhor.” (Romanos 6.23).
Sendo Deus espirito, e sua eternidade sendo
então decorrente da sua espiritualidade, nunca
podemos esquecer que todas as coisas naturais
visíveis são temporais, e nada têm em si mesmas
da vida eterna que são espirituais e, portanto,
invisíveis, e que são reveladas como reais e
eternas que são, para nós, pela fé.
O nosso próprio corpo físico que tem a sua
importância como veículo da alma, todavia,
também é natural e temporal. Ele pode
participar do culto a Deus, pois devemos adorá-
lo também com o nosso corpo, mas de modo
algum ele é apto para atos espirituais, que são
provenientes exclusivamente das faculdades do
espírito. Por isso Jesus disse que a carne para
nada aproveita, e que tudo o que é gerado pela
carne é carnal e não espiritual. Somente o
espírito é o que vivifica, e pode responder
adequadamente à adoração a Deus, porque toda
a adoração verdadeira é espiritual, porque Deus
é espírito.
“Não atentando nós nas coisas que se veem, mas
sim nas que se não veem; porque as que se veem
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são temporais, enquanto as que se não veem são
eternas.” (II Coríntios 4.18).
“Porque quem semeia na sua carne, da carne
ceifará a corrupção; mas quem semeia no
Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.”
(Gálatas 6.8).
Não podemos esquecer que a vida eterna não é
algo que existe à parte de Jesus Cristo, porque
Ele própria é a vida eterna, como definiu em seu
ministério terreno que era a Videira Verdadeira,
e o caminho e a verdade e a vida. Disto se
depreende que somente pode ser dito que se
tem vida eterna, quando se está em união com
Cristo, participando de Sua vida, alimentando-
se dEle e vivendo nEle.
“Sabemos também que já veio o Filho de Deus, e
nos deu entendimento para conhecermos
aquele que é verdadeiro; e nós estamos naquele
que é verdadeiro, isto é, em seu Filho Jesus
Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.”
(I João 5.20).
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém
comer deste pão, viverá para sempre; e o pão
que eu darei pela vida do mundo é a minha
carne.” (João 6.51).
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“Antes que as montanhas fossem geradas, ou
você tivesse formado a terra e o mundo, de
eternidade a eternidade, tu és Deus.” (Salmo 90:
2).
O título deste salmo é uma oração; o autor,
Moisés. Ele menciona aqui a eternidade de
Deus, não somente com respeito à essência de
Deus, mas à sua providência federal; como ele é
a morada do seu povo em todas as gerações. A
duração de Deus para sempre é mais falada nas
Escrituras do que sua eternidade, embora essa
seja a base de todo o conforto que podemos tirar
de sua imortalidade: se ele tivesse um começo,
ele poderia ter um fim, e assim toda a nossa
felicidade, esperança e ser expiraria com
ele; mas as Escrituras às vezes notam que ele é
sem começo, assim como é sem fim: “Tu és da
eternidade” (Salmos 93: 2); “Bendito seja Deus
de eternidade a eternidade” (Salmo 41:13); “Fui
instituído desde a eternidade” (Provérbios 8:23):
se sua sabedoria existia desde a eternidade, ele
mesmo seria de eternidade; entendê-lo de
Cristo, o Filho de Deus, ou da sabedoria
essencial de Deus, é tudo um para o presente
propósito.
A sabedoria de Deus supõe a essência de Deus,
como os hábitos nas criaturas supõem que o ser
de algum poder ou faculdade é o assunto deles.
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A sabedoria de Deus supõe mente e
compreensão, essência e substância. A noção de
eternidade é difícil; como Agostinho disse do
tempo, se ninguém me fizesse a pergunta, que
horas são, eu sei bem o que é; mas se alguém me
perguntar o que é, não sei como explicá-lo;
então posso dizer da eternidade; é fácil na
palavra pronunciada, mas dificilmente
compreendida e mais dificilmente expressada;
é melhor expresso por negativas do que palavras
positivas. Embora não possamos compreender a
eternidade, podemos compreender que existe
uma eternidade; como, embora não possamos
compreender a essência de Deus o que ele é,
mas podemos compreender que ele é; podemos
entender a noção de sua existência, embora não
possamos entender a infinitude de sua
natureza; contudo, podemos entender melhor a
eternidade do que a infinitude; nós podemos
melhor conceber um tempo com a adição de
inumeráveis dias e anos, do que imaginar um
Ser sem limites; de onde o apóstolo junta a sua
eternidade com seu poder; “Seu eterno poder e
divindade” (Rom. 1:20); porque, ao lado do poder
de Deus, apreendido na criatura, nós viemos
necessariamente por raciocínio, a reconhecer a
eternidade de Deus. Aquele que tem um poder
incompreensível precisa ter uma natureza
eterna; seu poder é mais sensível nas criaturas
aos olhos do homem, e sua eternidade
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facilmente a partir daí é deduzível pela razão do
homem. A eternidade é uma duração perpétua,
que não tem começo nem fim; o tempo tem
ambos.
As coisas que dizemos são, no tempo, que
começam, crescem gradualmente, têm
sucessão de partes; a eternidade é contrária ao
tempo e é portanto, um estado permanente e
imutável; uma posse perfeita da vida sem
qualquer variação; compreende em si todos os
anos, todas as idades, todos os períodos de idade;
nunca começa; ela perdura após cada período
de tempo e nunca cessa; faz tanto tempo de fuga
quanto foi antes do começo: o tempo supõe algo
anterior; mas não pode haver nada antes da
eternidade; pois não seria então a eternidade.
O tempo tem uma sucessão contínua; o
primeiro tempo passa e outro sucede: o último
ano não é este ano, nem este ano o próximo.
Devemos conceber a eternidade contrária à
noção de tempo; como a natureza do tempo
consiste na sucessão de partes, então a natureza
da eternidade em uma duração infinita e
imutável. Eternidade e tempo diferem como o
mar e rios; o mar nunca muda de lugar e é
sempre uma água; mas os rios deslizam e são
engolidos pelo mar; assim é o tempo pela
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eternidade. Uma coisa é dita ser eterna ou
eterno em vez disso, nas Escrituras...
Quando é de longa duração, embora tenha um
fim; quando não tem medidas de tempo
determinadas a isso; então a circuncisão é dita
estar na carne por um “pacto eterno” (Gên
17:13); não puramente eterno, mas enquanto
essa administração da aliança deve durar. E
assim, quando um servo não deixaria seu
mestre, mas teria sua orelha perfurada, diz-se,
ele deveria ser um servo "para sempre" (Deut
15:17); isto é, até o jubileu, que era todo o
quinquagésimo ano: assim diz-se que a oferta de
carne que ofereciam "perpetuamente" (Lev.
6:20); dizem que Canaã é dada a Abraão por um
possessão “eterna” (Gên 17: 8); quando os judeus
são expulsos de Canaã, que é uma presa para as
nações bárbaras. De fato, a circuncisão não era
eterna; ainda a substância do pacto do qual isto
era um sinal, que Deus seria o Deus dos crentes,
permanece para sempre; e essa circuncisão do
coração que foi simbolizada pela circuncisão da
carne, permanecerá para sempre no reino da
glória.
Quando uma coisa não tem fim, embora tenha
um começo. Então anjos e almas são
eternos; ainda que o seu ser nunca cesse, mas
houve um tempo em que o ser deles
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começou; eles não eram nada antes de serem
algo, embora nunca sejam nada ainda, mas deve
viver em infindável felicidade ou miséria. Mas
isso corretamente é eterno e não tem começo
nem fim; e assim a eternidade é uma
propriedade de Deus.
Vejamos agora como Deus é eterno, ou em que
aspectos ele é assim.
A eternidade é um atributo negativo, e é uma
negação de Deus quaisquer medidas de tempo,
como a imensidão é uma negação de qualquer
limite de lugar. Como a imensidão é a difusão de
sua essência, a eternidade é a duração de sua
essência; e quando dizemos que Deus é eterno,
excluímos dele todas as possibilidades de
começo e fim, todo fluxo e mudança.
Enquanto a essência de Deus não pode ser
delimitada por nenhum lugar, por isso não deve
ser limitada a qualquer momento: como é sua
imensidão estar em toda parte, assim é sua
eternidade para sempre. Como as coisas criadas
dizem estar em algum lugar em relação ao
lugar, e estar no presente, passado ou futuro,
em relação a tempo; então o Criador em relação
ao lugar está em toda parte, em relação ao
tempo é sempre. Sua duração é tão infinita
quanto sua essência é ilimitada: ele sempre foi e
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sempre será, e não terá mais fim do que teve um
começo; e esta é uma excelência pertencente ao
Ser supremo. Como sua essência compreende
todos os seres, e os excede, e sua imensidade
supera todos os lugares; então sua eternidade
compreende todos os tempos, todas as durações
e infinitamente os excede.
Deus é sem começo. “No princípio” Deus criou o
mundo (Gên 1: 1). Deus era então antes do
começo disto; e que ponto pode ser estabelecido
onde Deus começou, se ele estava antes do
começo das coisas criadas? Deus não teve
começo, embora todas as outras coisas tiveram
tempo e começaram com ele. Como a unidade é
antes de todos os números, assim é Deus diante
de todas as suas criaturas. Abraão convocou o
nome do Deus eterno (Gênesis 21:33), o Deus
eterno. - Ele se opõe aos deuses pagãos, que
eram de ontem, novos e cunhados de novo; mas
o Deus eterno foi antes do mundo ser
feito. Nesse sentido, deve ser entendido; “O
mistério que foi mantido em segredo desde que
o mundo começou, mas agora se manifesta, e
pelas Escrituras dos profetas, de acordo com o
comando do Deus eterno, é tornado conhecido a
todas as nações pela obediência da fé” (Rom
16:26). O evangelho não é pregado pelo comando
de um Deus novo e temporário, mas daquele
Deus que foi antes de todas as idades: embora a
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manifestação disso seja no tempo, ainda assim o
propósito e a resolução disso foi desde a
eternidade. Se houvesse decretos antes da
fundação do mundo, haveria um Decreto antes
da fundação do mundo. Antes da fundação do
mundo, ele amava a Cristo como mediador; uma
pré-ordenação dele foi antes da fundação do
mundo (João 17:24); uma escolha de homens e,
portanto, um Seletor antes da fundação do
mundo (Efésios 1: 4); uma graça dada em Cristo
antes do mundo começar (2 Timóteo 1: 9) e,
portanto, um doador daquela graça. Desses
lugares, diz Crellius, parece que Deus era antes
da fundação do mundo, mas eles não afirmam
uma eternidade absoluta; mas estar diante de
todas as criaturas é equivalente ao seu ser da
eternidade. O tempo começou com a fundação
do mundo; mas Deus sendo antes do tempo, não
poderia ter início no tempo. Antes do começo da
criação e início dos tempos, não poderia haver
nada além de eternidade; nada além do que foi
criado, isto é, nada além do que era sem
começo. Estar no tempo é ter um começo; ser
antes de todos os tempos é nunca ter um
começo, mas sempre para ser; pois, como entre
o Criador e as criaturas, não há meio, então
entre o tempo e a eternidade não há meio. É
como facilmente deduzido que aquele que era
antes de todas as criaturas é eterno, como
aquele que fez todas as criaturas é Deus. Se ele
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tivesse um começo, ele deve tê-lo de outro, ou
de si mesmo; se de outro, aquele de quem ele
recebeu seu ser seria melhor que ele, então
mais um deus do que ele. Ele não pode ser Deus
que não é supremo; ele não pode ser supremo
que deve seu ser ao poder de outro. DEle não
seria dito apenas ter imortalidade como ele é (1
Timóteo 6:16), se ele dependesse de outro; nem
poderia ter um começo de si mesmo; se ele
tivesse dado início a si mesmo, então ele já seria
nada; haveria um tempo em que ele não era; se
ele não fosse, como ele poderia ser a Causa de si
mesmo? É impossível para qualquer um dar um
começo e ser para si mesmo: se agir, deve existir
e, portanto, existir antes de existir. Uma coisa
existiria como causa antes de existir como
efeito.
Aquele que não é, não pode ser a causa que ele
é; se, portanto, Deus existe, e não tem o seu ser
de outro, ele deve existir na
eternidade. Portanto, quando dizemos que Deus
é de e de si mesmo, queremos dizer que Deus
não deu ser a si mesmo; mas deve
negativamente ser entendido que ele não tem
causa de existência sem ele mesmo. Qualquer
que seja o número de milhões de milhões de
anos que possamos imaginar antes da criação do
mundo, todavia Deus era infinitamente anterior
a esses; ele é, portanto, chamado o "Ancião dos
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Dias" (Daniel 7: 9), como sendo antes de todos os
dias e tempo, e eminentemente contendo em si
mesmo todos os tempos e idades. Embora, de
fato, Deus não possa ser chamado
apropriadamente de antigo, que testificará que
ele está decaindo, e em breve não será; não mais
do que ele pode ser chamado de jovem, o que
significaria que ele não demorou muito
antes. Todas as coisas criadas são novas e
frescas; mas nenhuma criatura pode descobrir
qualquer princípio de Deus..
Deus é sem fim. Ele sempre foi, sempre é e
sempre será o que é. Ele permanece sempre o
mesmo em ser; tão longe de qualquer mudança,
que nenhuma sombra dela possa tocá-lo (Tiago
1:17). Ele continuará sendo enquanto ele já o
tiver desfrutado; e se poderíamos acrescentar
nunca tantos milhões de anos juntos, ainda
estamos tão longe de um fim como de um
começo; porque “o Senhor permanecerá para
sempre”(Salmo 9: 7).
Como é impossível que ele não seja, sendo
desde toda a eternidade, então é impossível que
ele não seja para toda a eternidade.
A Escritura é mais abundante nos testemunhos
dessa eternidade de Deus, ou após a criação do
mundo: diz-se que ele "vive para sempre”
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(Apocalipse 4: 9, 10). A terra perecerá, mas Deus
"durará para sempre", e seus "anos não terão
fim" (Salmos 102: 27).
Plantas e animais crescem desde pequenos
começos, chegam ao seu pleno crescimento, e
declinam novamente, e sempre têm notáveis
alterações em sua natureza; mas não há
declinação em Deus por todas as revoluções do
tempo. Daí alguns pensam que a
incorruptibilidade da Deidade foi significada
pela madeira de cedro, da qual a arca foi feita,
sendo de natureza incorruptível (Ex 25:10).
O que que não teve início de duração nunca
pode ter um fim ou qualquer interrupção
nele. Desde que Deus nunca dependeu de nada,
deve fazê-lo deixar de ser eternamente o que ele
tem sido, ou pôr fim à continuação de suas
perfeições? Ele não pode querer a sua próprio
destruição; isso é contra a natureza universal
em todas as coisas deixarem de ser, se elas
puderem se preservar. Ele não pode abandonar
o seu próprio ser, porque ele não pode deixar de
amar a si mesmo como o melhor e maior bem. A
razão pela qual qualquer coisa decai é sua
própria origem em fraqueza, ou um poder
superior de algo contrário a ela. Não há fraqueza
na natureza de Deus que possa introduzir
qualquer corrupção, porque ele é infinitamente
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simples sem qualquer mistura; nem pode ser
dominado por qualquer outra coisa; um mais
fraco não pode feri-lo, e um mais forte do que ele
não pode haver; nem pode ser enganado ou
contornado por causa de sua infinita sabedoria.
Como ele não recebeu seu ser de ninguém,
então ele não pode ser privado de si por
ninguém: como ele necessariamente existe,
então ele sempre necessariamente existe. Isto,
na verdade, é propriedade de Deus; nada tão
apropriado para ele como sempre ser. Quais
perfeições qualquer ser tem, se não for eterno,
não é divino. Só Deus é imortal; somente ele é
assim por uma necessidade da natureza. Anjos,
almas e corpos também, após a ressurreição,
serão imortais, não por natureza, mas por
concessão; eles estão sujeitos a retornar a nada,
se essa palavra que os levantou do nada deve
falar a eles em nada novamente. É tão fácil com
Deus despojá-lo quanto investir com ele; ou
melhor, é impossível, mas que eles deveriam
perecer, se Deus retira seu poder de preservá-
los, o que ele exerceu ao criá-los; mas Deus está
inamovivelmente fixo em seu próprio ser; que,
como ninguém lhe deu a vida, ninguém pode
privá-lo de sua vida ou da menor partícula dele.
Não é um monte de felicidade e a vida que Deus
infinitamente possui pode ser perdida; será
durável para sempre, como foi possuído desde a
eternidade.
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Deus revela a Sua eternidade nas Escrituras,
especialmente pelas profecias, pois, nas
mesmas demonstra que as coisas que ainda
serão são perante Ele como já realizadas, de
forma que tanto em casos particulares como a
antecipação dos nascimentos e nomes dos reis
Ciro e Josias, do engrandecimento que seria
dado a José no Egito, a morte expiatória de Jesus,
o surgimento sucessivo dos impérios da Assíria,
Babilônia, Grécia e Roma, tudo isto foi
profetizado por Deus com séculos de
antecedência, e ainda há muitas profecias que
aguardam por cumprimento, como o
arrebatamento da Igreja, a segunda vinda de
Jesus etc.
O Senhor fala destas coisas em sua eternidade,
como quem vê um desfile do alto e pode
observar toda a sucessão de modo diferente de
quem se encontra num ponto fixo aqui embaixo,
como é o nosso caso, que podemos ver apenas
aquilo que passa diante de nós, no que
chamados de presente.
Quando a Bíblia fala em Apocalipse que o
Cordeiro que morreu desde antes da fundação
do mundo, temos aqui uma referência à
eternidade do sacrifício de Jesus, que tem o
poder de beneficiar até mesmo aqueles que
viveram antes do dia da Sua morte na cruz. Na
27
condição de ter sido um momento eterno, ele
avança em todas direções quer passadas,
presentes ou futuras. E isto é a eternidade.
Não há sucessão em Deus. Deus é sem sucessão
ou mudança. "De eternidade a eternidade ele é
Deus”, ou seja, o mesmo. Deus não só
permanece sempre em ser, mas ele permanece
sempre o mesmo naquele ser: “tu és o mesmo”
(Salmos 102: 27) O ser das criaturas é sucessivo;
o ser de Deus é permanente e permanece
inteiro com todas as suas perfeições, inalterado
em uma duração infinita. De fato, a primeira
noção da eternidade é estar sem começo e fim,
o que nos indica a duração de um ser em relação
à sua existência; mas não ter sucessão, nada
primeiro ou último, nota antes a perfeição de
um ser em relação à sua essência. As criaturas
estão em um fluxo perpétuo; algo é adquirido ou
algo perdido todos os dias. Um homem é o
mesmo em consideração da existência quando
ele é homem, como era quando era criança; mas
há uma nova sucessão de quantidades e
qualidades nele.
Todos os dias ele adquire algo até chegar à
maturidade; todo dia ele perde algo até chegar
ao seu período. Um homem não é o mesmo à
noite que ele foi de manhã; algo é expirado e
algo é adicionado; todos os dias há uma
28
mudança em sua idade, um mudar em sua
substância, uma mudança em seus acidentes.
Mas Deus tem todo o seu ser em um e o mesmo
ponto, ou momento da eternidade.
Ele não recebe nada como um acréscimo ao que
era antes; ele não perde nada do que era antes;
ele é sempre a mesma excelência e perfeição na
mesma infinidade como sempre. Seus anos não
falham (Hebreus 1:12), seus anos não vêm e vão
como os outros; não há hoje, amanhã ou ontem,
com ele. Como nada é passado ou futuro com ele
em relação ao conhecimento, mas todas as
coisas estão presentes, então nada é passado ou
futuro em relação à sua essência. Ele não é em
sua essência neste dia o que ele não era antes,
ou será no dia seguinte. Todas as suas perfeições
são mais perfeitas nele a todo momento; antes
de todas as idades, depois de todas as idades.
Como ele tem toda a essência indivisa em todo
lugar, assim como em um espaço imenso, assim
ele tem todo o seu ser em um momento de
tempo, assim como em intervalos infinitos de
tempo. Alguns ilustram a diferença entre a
eternidade e o tempo pela similitude de uma
árvore, ou uma rocha em pé sobre o lado de um
rio ou costa do mar; a árvore permanece sempre
a mesma e imóvel, enquanto as águas do rio
deslizam ao longo do pé. O fluxo está no rio, mas
a árvore não adquire nada além de um respeito
29
e uma relação de presença diversa para as várias
partes do rio quando elas fluem. As águas do rio
pressionam e empurram um para o outro, e o
que o rio teve neste minuto, não tem o mesmo
no próximo. Assim são todas as coisas
sublunares em um fluxo contínuo. E embora os
anjos não tenham mudanças substanciais, ainda
assim eles têm uma acidental; pois as ações dos
anjos neste dia não são as mesmas ações
individuais que eles realizaram ontem: mas em
Deus não há mudança; ele sempre permanece o
mesmo. De uma criatura, pode-se dizer que ele
era, ou é, ou será; de Deus não pode ser dito,
senão somente que ele é. Ele é o que sempre foi,
e ele é o que sempre será; enquanto uma
criatura é o que ele não era, e será o que ela não
é agora. Como pode ser dito da chama de uma
vela, é uma chama: mas não é a mesma chama
individual que era antes, nem é a mesma que é
atualmente, depois; há uma dissolução
contínua no ar e um suprimento contínuo para
a geração de mais. Enquanto continua, pode-se
dizer que há uma chama; ainda não
inteiramente uma, mas em uma sucessão de
partes. Assim, de um homem pode-se dizer, que
ele está em falta de partes; mas ele não é o
mesmo que ele era, e não será o mesmo que ele
é. Mas Deus é o mesmo, sem a sucessão de
partes e de tempo; dele se pode dizer: "Ele é". Ele
não é mais agora do que era, e não será mais
30
além do que é. Deus possui um ser firme e
absoluto, sempre constante para si mesmo. Ele
vê todas as coisas deslizando sob ele em uma
variação contínua; ele contempla as revoluções
no mundo sem qualquer mudança de sua
natureza mais gloriosa e inamovível. Todas as
outras coisas passam de um estado para outro;
do seu original, ao seu eclipse e destruição; mas
Deus possui seu ser em um ponto indivisível,
não tendo começo, fim, nem meio.
Não há sucessão no conhecimento de Deus. A
variedade de sucessões e mudanças no mundo
não faz sucessão, ou novos objetos na mente
Divina; pois todas as coisas estão presentes para
ele desde a eternidade em relação ao seu
conhecimento, embora elas não estejam
realmente presentes no mundo, em relação à
sua existência. Ele não sabe uma coisa agora e
outra depois; ele vê todas as coisas ao mesmo
tempo: "Todas as coisas são conhecidas desde o
princípio do mundo" (Atos 15:18); mas na sua
verdadeira ordem de sucessão, como estão no
conselho eterno de Deus, para serem geradas no
tempo. Embora haja uma sucessão e uma ordem
de coisas à medida que são feitas, ainda não há
sucessão em Deus em relação a seu
conhecimento delas. Deus sabe as coisas que
devem ser feitas, e a ordem delas em seu ser
trazida ao palco do mundo; ainda as duas coisas
31
e a ordem que ele conhece por um ato. Embora
todas as coisas estejam presentes com Deus,
ainda assim elas estão presentes para ele na
ordem de sua aparição no mundo, e não tão
presentes com ele como se devessem ser
executadas ao mesmo tempo. A morte de Cristo
deveria preceder sua ressurreição em ordem de
tempo; há uma sucessão nisso; ambos de uma
vez são conhecidos por Deus; todavia, o ato de
seu conhecimento não é exercido sobre Cristo
como morrendo e ressurgindo ao mesmo
tempo; de modo que há uma sucessão nas coisas
quando não há sucessão no conhecimento de
Deus sobre elas. Desde que Deus conhece o
tempo, ele conhece todas as coisas como elas
são no tempo; ele não sabe todas as coisas de
uma vez, embora ele saiba imediatamente o que
foi, é e será. Todas as coisas são passadas,
presentes e futuras, em relação à sua existência;
mas não há passado, presente e futuro, em
relação ao conhecimento de Deus sobre elas,
porque não é suposto e conhecido por nenhum
outro, mas por si mesmo; ele é a sua própria luz
pela qual ele vê, o seu próprio espelho onde ele
vê; vendo a si mesmo, ele contempla todas as
coisas.
Não há também sucessão nos decretos de Deus.
Ele não decreta isso agora, o que ele não
decretou antes; porque assim como as suas
32
obras eram conhecidas desde o princípio do
mundo, assim foram decretadas as suas obras
desde o princípio; como são conhecidos
imediatamente, são decretados de uma só vez;
há uma sucessão na execução deles; primeiro
graça, depois glória; mas o propósito de Deus
para o enriquecimento de ambos foi em um e no
mesmo momento da eternidade. "Ele nos
escolheu nele antes da fundação do mundo,
para que fôssemos santos" (Efésios 1: 4): A
escolha de Cristo, e a escolha de alguns nele
para serem santos e felizes, foi antes da
fundação do mundo. É pelo eterno conselho de
Deus que todas as coisas aparecem no tempo;
elas aparecem em sua ordem de acordo com o
conselho e a vontade de Deus desde a
eternidade. A redenção do mundo é depois da
criação do mundo; mas o decreto pelo qual o
mundo foi criado e por meio do qual foi
redimido, foi na eternidade.
Deus é sua própria eternidade. Ele não é eterno
por concessão e disposição de qualquer outro,
mas por natureza e essência. A eternidade de
Deus nada mais é do que a duração de Deus; e a
duração de Deus nada mais é do que sua
existência duradoura. Se a eternidade fosse algo
diferente de Deus, e não da essência de Deus,
então haveria algo que não era Deus, necessário
para aperfeiçoar a Deus. Como a imortalidade é
33
a grande perfeição de uma criatura racional, de
modo que a eternidade é a perfeição da escolha
de Deus, sim, o brilho de todas as demais coisas.
Toda perfeição seria imperfeita, se nem sempre
fosse uma perfeição. Deus é essencialmente
tudo o que ele é, e não há nada em Deus além de
sua essência. Duração ou continuação como
existe em criaturas, difere de seu ser; pois eles
podem existir, senão por um instante, caso em
que deles pode ser dito como sendo, mas não
com duração, porque toda a duração inclui prius
et posterius. Todas as criaturas podem deixar de
ser se for o prazer de Deus; elas não são,
portanto, duráveis por sua essência e, portanto,
não são sua devassidão, não mais do que sua
própria existência. E embora algumas criaturas,
como anjos e almas, possam ser chamadas
eternas, como vida é comunicado a eles por
Deus; todavia, eles nunca podem ser chamados
de sua própria eternidade, porque tal duração
não é simplesmente necessária, nem essencial
para eles, mas acidental, dependendo do prazer
do outro; não há nada em sua natureza que possa
impedi-los de perdê-lo, se Deus, de quem eles o
receberam, planejasse retirá-lo; mas como Deus
é sua própria necessidade de existir, então ele é
sua própria duração em existir; como ele
necessariamente existe por si mesmo, então ele
sempre existirá necessariamente por si mesmo.
Portanto todas as perfeições de Deus são
34
eternas. Em relação à eternidade divina, todas as
coisas em Deus são eternas; seu poder,
misericórdia, sabedoria, justiça, conhecimento.
O próprio Deus não seria eterno se alguma das
suas perfeições, que são essenciais para ele, não
fosse eterna também, ele não teria sido um Deus
perfeito desde toda a eternidade, e assim todo o
seu eu não teria sido eterno. Se algo pertencente
à natureza de uma coisa está faltando, não se
pode dizer que seja aquilo que deveria ser. Se
qualquer coisa necessária para a natureza de
Deus estivesse faltando num momento, dele
não poderia ter sido dito ser um Deus eterno.
Deus é eterno. O Espírito de Deus nas Escrituras
condescende com as nossas capacidades em
significar a eternidade de Deus por dias e anos,
que são termos pertencentes ao tempo, através
dos quais o medimos (Salmos 102: 27). Mas não
devemos mais conceber que Deus é delimitado
ou medido pelo tempo, e tem sucessão de dias,
por causa dessas expressões, do que podemos
concluir que ele tem um corpo, porque os
membros são atribuídos a ele nas Escrituras,
para ajudar nossas concepções de sua gloriosa
natureza e operações. Embora os anos lhe sejam
atribuídos, ainda assim não podem ser
contados, não podem ser terminados, já que não
há proporção entre a duração de Deus e os
homens. “Eis que Deus é grande, e não o
35
podemos compreender; o número dos seus
anos não se pode calcular. Porque atrai para si as
gotas de água que de seu vapor destilam em
chuva,” (Jó 36:26, 27). O número das gotas de
chuva que caíram em todas as partes da terra
desde a criação do mundo, se subtraído do
número dos anos de Deus, seria encontrado
uma pequena quantidade, um mero nada,
comparado com os anos de Deus. Como todas as
nações do mundo comparadas com Deus, são
como a “gota de um balde, pior do que nada, do
que a vaidade” (Isaías 40:15); assim, todas as
idades do mundo, se comparado com Deus, não
chegam a tanto quanto a centésima milésima
parte de um minuto; os minutos da criação
podem ser numerados, mas os anos da duração
de Deus sendo infinitos são sem medida. Como
um dia é para a vida do homem, assim são mil
anos para a vida de Deus. O Espírito Santo se
expressa à capacidade do homem, para nos dar
uma noção de duração infinita, por uma
semelhança adequada à capacidade do homem.
Se mil anos são como um dia para a vida de Deus,
então como um ano é para a vida do homem,
assim são trezentos e sessenta e cinco mil anos
para a vida de Deus; e como setenta anos são
para a vida do homem, assim são vinte e cinco
milhões quatrocentos e cinquenta mil anos para
a vida de Deus. E ainda, como não há proporção
entre o tempo e a eternidade, devemos lançar
36
nossos pensamentos além de todos esses; por
anos e dias, medimos apenas a duração das
coisas criadas, e daquelas que são apenas
materiais e corpóreas, sujeitas ao movimento
dos céus, o que faz dias e anos. Às vezes, essa
eternidade é expressa por partes, olhando para
trás e para frente; pelas diferenças de tempo,
“passado, presente e futuro” (Apocalipse 1: 8),
“que era, e é, e está por vir” (Apocalipse 4: 8).
O Espírito Santo declara algo apropriado a Deus,
incluindo todas as partes do tempo; ele sempre
foi, é agora e sempre será. Pode sempre ser dito
dele, que ele era, e sempre pode ser dito dele,
que ele será; Não há tempo em que ele comece,
não há tempo em que ele cesse. Não se pode
dizer de uma criatura que ele sempre foi, ele
sempre é o que ele era, e ele sempre será o que
ele é; mas Deus sempre é o que era e sempre
será o que é; de modo que é uma expressão
muito significativa da eternidade de Deus, como
pode ser adaptado às nossas capacidades. Sua
eternidade é evidente, pelo nome que Deus dá a
si mesmo (Êxodo 3:14): “Disse Deus a Moisés: EU
SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos
filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros.”
Este é o nome pelo qual ele se distingue de todas
as criaturas; Eu sou, é o seu nome próprio. Esta
descrição está no tempo presente, mostra que
sua essência não conhece passado, nem futuro.
37
Eu sou, o único ser, a raiz de todos os seres; ele
está, portanto, na maior distância de não ser, e
isso é eterno. Assim, isso significa sua
eternidade, assim como sua perfeição e
imutabilidade.
A eternidade de Deus é oposta à volubilidade do
tempo, que é estendida ao passado, presente e
futuro. Nosso tempo é apenas uma pequena
gota, como uma areia para todos os átomos e
pequenas partículas de que o mundo é feito; mas
Deus é um mar ilimitado de ser. "Eu Sou o que
Sou", isto é, uma vida infinita; eu não tenho
agora, o que eu não tinha anteriormente, não
vou depois ter o que eu não tenho agora; eu sou
aquele em cada momento que eu era, e estarei
assim em todos os momentos do tempo, nada
pode ser adicionado a mim, nada pode ser tirado
de mim. Não há nada superior a ele, que possa
prejudicá-lo, nada desejável que possa ser
acrescentado a ele. Agora, se houvesse qualquer
princípio e fim de Deus, qualquer sucessão nele,
ele não poderia ser “Eu Sou”; pois em relação ao
que foi passado, ele não seria; em relação ao que
estava por vir, ele ainda não é. De todas as
criaturas, pode-se dizer que elas eram ou serão;
mas de Deus não se pode dizer outra coisa senão
que Deus é, porque ele preenche uma duração
eterna. Não se pode dizer que uma criatura seja,
se ainda não é, nem se é agora, mas tem sido.
38
Deus só pode ser chamado de "Eu Sou"; todas as
criaturas têm mais de não ser do que ser; pois
toda criatura não era nada desde a eternidade,
antes de fazer algo no tempo; e se for
incorruptível em toda a sua natureza, nada será
para a eternidade depois de ter sido algo no
tempo; e se não for corruptível em sua natureza,
como os anjos, ou em toda parte de sua
natureza, como homem em relação a sua alma;
contudo, não tem um ser apropriado, porque
depende do prazer de Deus de continuar ou
privá-lo dele; e enquanto é, é mutável e toda a
mutabilidade é uma mistura de não ser. S
Deus tem vida em si mesmo (João 5:26): “O Pai
tem a vida em si mesmo”; ele é o “Deus vivo”,
portanto, “firme para sempre” (Daniel 6:26). Ele
tem a vida pela sua essência, não pela
participação. Ele é um sol para dar luz e vida a
todas as criaturas, mas não recebe luz nem vida
de nada; e, portanto, ele tem uma vida ilimitada,
não uma gota de vida, mas uma fonte; não é uma
faísca de uma vida limitada, mas uma vida que
transcende todos os limites. Ele tem vida em si
mesmo; todas as criaturas têm sua vida nele e
dele.
Quando Deus pronunciou seu nome: "Eu Sou o
que Sou", anjos e homens já haviam sido criados,
Moisés, a quem ele fala, estava em existência;
39
mas somente Deus é, porque somente ele tem a
fonte de ser em si mesmo; mas tudo o que eles
eram era um riacho dele. Toda a vida está
assentada em Deus, como em seu próprio trono,
em sua mais perfeita pureza. Deus é vida; está
nele originalmente, radicalmente, portanto
eternamente. Ele é um ato puro, nada além de
vigor e ato; ele tem por sua natureza a vida que
os outros têm por sua concessão; donde o
apóstolo diz (1 Timóteo 6:16) não só que ele é
imortal, mas que tem imortalidade em plena
posse; não dependendo da vontade de outro,
mas contendo todas as coisas dentro de si
mesmo. Aquele que tem vida em si mesmo e é
de si mesmo, não pode deixar de ser. Ele sempre
foi, porque ele não recebeu o seu ser de nenhum
outro. Se havia algum espaço antes que ele
existisse, então havia algo que o fez existir; a vida
não estaria então nele, mas naquilo que o
produziu; ele não poderia então ser Deus, mas o
outro que lhe deu ser seria Deus. E dizer que
Deus surgiu por acaso, quando não vemos nada
no mundo que é trazido por acaso, mas tem
alguma causa de sua existência, seria vão;
porque desde que Deus é um ser, o acaso, que
não é nada, não poderia produzir algo e pela
mesma razão, que ele surgiu por acaso, ele pode
desaparecer totalmente por acaso. Que deus
estranho seria este! Tal Deus que não tinha vida
em si mesmo, mas do acaso! Visto que ele tem
40
vida em si mesmo, e que não havia causa de sua
existência, ele não pode ter causa de sua
limitação, e não pode mais ser determinado a
um tempo, do que pode a um lugar, o que tem a
vida em si, tem vida sem limites, e nunca pode
abandoná-la, nem ser privado dela; de modo que
ele vive necessariamente, e é absolutamente
impossível que ele não viva; enquanto todas as
outras coisas "vivem e se movem, e têm o seu ser
nele" (Atos 17:28); por isso, eles vivem de acordo
com sua vontade, de modo que não podem
retornar a nada à sua palavra. Se Deus não fosse
eterno, ele não seria imutável em sua natureza.
É contrário à natureza da imutabilidade
permanecer sem eternidade, pois tudo o que se
inicia muda em sua passagem do não ser para o
ser. Começou a ser o que não era; e se termina,
deixa de ser o que era; não pode, portanto, ser
dito que é Deus, se não havia nem começo nem
fim, nem sucessão nele (Malaquias 3: 6): “Eu sou
o Senhor, não mudo;” (Jó 37:23): “Ao Todo-
Poderoso, não o podemos alcançar; ele é grande
em poder, porém não perverte o juízo e a
plenitude da justiça.” Deus argumenta aqui, diz
Calvino, de sua natureza imutável como Jeová, a
sua imutabilidade em seu propósito. Se ele não
tivesse sido eterno, haveria a maior mudança de
nada para alguma coisa. Uma mudança de
essência é maior que uma mudança de
propósito. Deus é um sol resplandecendo
41
sempre na mesma glória, não crescendo na
juventude; sem passando para a idade avançada.
Se ele não fosse sem sucessão, permanecendo
em um ponto da eternidade, haveria uma
mudança do passado para o presente, do
presente para o futuro. A eternidade de Deus é
um escudo contra todo tipo de mutabilidade. Se
algo se espalhar na essência de Deus que não
existia antes, ele não poderia ser considerado
uma substância eterna ou inalterada. Deus não
poderia ser um Ser infinitamente perfeito, se
ele não fosse eterno. Uma duração finita é
inconsistente com a perfeição infinita. Tudo o
que é contraído dentro dos limites do tempo não
pode englobar todas as perfeições em si mesmo.
Deus tem uma perfeição insondável.
”Porventura, desvendarás os arcanos de Deus
ou penetrarás até à perfeição do Todo-
Poderoso?”(Jó 11: 7). Ele não pode ser
descoberto: ele é infinito, porque é
incompreensível. Incompreensibilidade surge
de uma perfeição infinita, que não pode ser
compreendida pela linha curta da compreensão
do homem. Sua essência em relação à sua
difusão, e em relação à sua duração, é
incompreensível, assim como sua ação. Se Deus,
portanto, tivesse início, ele não poderia ser
infinito; se não fosse infinito, ele não possuiria a
mais alta perfeição; porque a perfeição poderia
ser concebido além disto. Se o seu ser pudesse
42
falhar, ele não seria perfeito; pode merecer o
nome da mais alta sensibilidade, o que é capaz
de corrupção e dissolução? Ser finito e limitado
é a maior imperfeição, pois consiste em ser um
ser. Ele não poderia ser o Ser mais abençoado se
ele não fosse sempre assim, e não deveria
permanecer para sempre assim; e quaisquer
que fossem as suas deficiências, seria azedado
pelos pensamentos, que com o tempo eles
cessariam, e assim não poderiam ser puros
afetos, porque não permanentes; mas “ele é
abençoado de eternidade a eternidade” (Salmos
41:13). Se ele tivesse um começo, ele não poderia
ter toda a perfeição sem limitação; ele teria sido
limitado pelo que lhe dava o começo; o que lhe
deu ser seria Deus, e não ele mesmo, e portanto
mais perfeito que ele: mas como Deus é a
perfeição mais soberana, do que nada pode ser
imaginado como o mais amplo entendimento,
Ele é certamente “eterno”, sendo infinito, nada
pode ser adicionado a ele, nada pode prejudicá-
lo.
Deus não poderia ser onipotente, todo-
poderoso, se ele não fosse eterno. O título de
todo-poderoso não concorda com uma natureza
que teve início; tudo que tem um começo já foi
nada; e quando não era nada, nada poderia agir:
onde não há ser, não há poder. Nem o título de
todo-poderoso concorda com uma natureza que
43
perece: ele não pode fazer nada com propósito,
que não pode se preservar contra a força
exterior e a violência dos inimigos, ou contra as
causas internas de corrupção e dissolução.
Nenhuma consideração é feita do homem,
porque “a respiração dele está nas suas narinas”
(Isaías 2:22); poderia um relato melhor ser feito
de Deus, se ele fosse da mesma condição? Ele
não podia ser propriamente onipotente, nem
sempre poderoso; se ele é onipotente, nada
pode prejudicá-lo; ele que tem todo poder, e não
pode ter ferido. Se ele faz tudo o que lhe agrada,
nada pode torná-lo miserável, pois a miséria
consiste naquelas coisas que acontecem contra
a nossa vontade. A onipotência e a eternidade de
Deus estão ligadas entre si: “Eu sou Alfa e
Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que foi,
e que é, e que virá, o Todo-poderoso”
(Apocalipse 1: 8): onipotente porque é eterno e
eterno porque é onipotente.
Deus não seria a primeira causa de todos se ele
não fosse eterno; mas ele é o primeiro e o
último; a causa primeira de todas as coisas, o
último de todas as coisas: aquilo que é o
primeiro não pode começar a ser; não foi então
o primeiro; não pode deixar de ser: o que quer
que seja dissolvido, é dissolvido naquilo em que
consiste, que foi antes dele, e então não foi o
primeiro. O mundo pode não ter sido; não foi
44
nada; deve ter algum motivo para chamá-lo do
nada: nada tem poder para se fazer alguma
coisa; existe uma causa superior, pela vontade e
pelo poder, e assim dá a todas as criaturas suas
formas distintas. Esse poder não pode ser senão
eterno; deve ser antes do mundo; o fundador
deve estar antes da fundação; e sua existência
deve ser da eternidade; ou devemos dizer que
nada existiu desde a eternidade: e se não
houvesse ser da eternidade, não poderia haver
agora nenhum ser no tempo. O que vemos e o
que somos deve surgir de si mesmo ou de outro;
não pode de si mesmo: se alguma coisa se fez,
teve o poder de se fazer; isto então tinha um
poder ativo antes de ter um ser; era algo em
relação ao poder, e não era nada em relação à
existência ao mesmo tempo. Suponha que ele
tenha um poder para se reproduzir, esse poder
deve ser conferido a ele por outro; e assim, o
poder de se reproduzir não era de si mesmo,
mas de outro; mas se o poder do ser era de si
mesmo, por que não se reproduzia antes? Se
existe alguma existência, é necessário que
aquilo que era a “primeira causa” deveria existir
eternamente. ”Tudo o que foi a causa imediata
do mundo, senão a primeira e principal causa
em que devemos descansar, não deve ter nada
antes disso; pois se tivesse algo antes, não seria
a primeira; Deus, portanto, essa é a primeira
causa, deve ser sem começo; nada deve ser
45
antes dele; se ele teve um começo de outro, ele
não poderia ser o primeiro princípio e autor de
todas as coisas; se ele for o primeiro por causa de
todas as coisas, ele deve dar a si mesmo um
começo, ou ser da eternidade: ele não poderia
dar a si mesmo um começo; tudo que começa no
tempo não era nada antes, e quando não era
nada, não podia fazer nada; não podia se dar
nada, pois então daria o que não tinha, e faria o
que não poderia. Se ele se fez a tempo, por que
ele não se fez antes? o que o atrapalhou? Foi ou
porque ele não podia, ou porque ele não faria; se
ele não pudesse, sempre lhe faltou poder, e
sempre, a menos que fosse concedido a ele, e
então ele não poderia ser dito ser de si
mesmo. Se ele não faria a si mesmo antes, então
ele poderia ter feito a si mesmo quando ele iria:
como ele tinha o poder de querer e realizar sem
ser?
Então, se Deus foi a causa de todas as coisas, ele
existiu antes de todas as coisas, e isso desde a
eternidade.
A eternidade é apenas apropriada a Deus e não é
comunicável. É uma loucura tão grande atribuir
a eternidade à criatura, quanto privar o Senhor
da criatura da eternidade. É tão apropriado para
Deus, que quando o apóstolo provasse a
divindade de Cristo, ele a provaria pela sua
46
imutabilidade e eternidade, bem como por seu
poder criador: “Ainda: No princípio, Senhor,
lançaste os fundamentos da terra, e os céus são
obra das tuas mãos; eles perecerão; tu, porém,
permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual
veste; também, qual manto, os enrolarás, e,
como vestes, serão igualmente mudados; tu,
porém, és o mesmo, e os teus anos jamais terão
fim.”. (Heb 1: 10–12).
O argumento não teria força, se a eternidade
pertencesse essencialmente a qualquer outro
que não fosse Deus; e, portanto, somente dele é
dito ter "imortalidade" (1 Tim 6:16): todas as
outras coisas recebem seu ser dele, e podem ser
privadas de seu ser por ele: todas as coisas
dependem dele; ele de nenhuma de todas as
outras coisas que são como roupas, que se
gastariam se Deus não as preservasse.
A imortalidade é apropriada a Deus, isto é, uma
imortalidade independente. Anjos e almas têm
uma imortalidade, mas por doação de Deus, não
por sua própria essência; dependente de seu
Criador, não é necessário em sua própria
natureza: Deus poderia tê-los aniquilado depois
que ele os criou; de modo que sua duração não
pode ser apropriadamente chamada de uma
eternidade, sendo extrínseco para eles, e
dependente sobre a vontade do seu Criador, por
47
quem eles podem ser extintos; não é uma
imortalidade absoluta e necessária, mas
precária.
Tudo o que não é Deus é temporário; tudo o que
é eterno é Deus. É uma contradição dizer que
uma criatura pode ser eterna; pois nada criado é
eterno. O que é distinto da natureza de Deus não
pode ser eterno, a eternidade sendo a essência
de Deus. Toda criatura, na noção de criatura,
fala da dependência de alguma causa e,
portanto, não pode ser eterna. Como isso é
repugnante à natureza de Deus não ser eterno,
por isso é repugnante à natureza de uma
criatura ser eterna; pois então uma criatura ser
igual ao Criador, e o Criador, ou a Causa, não
seria antes da criatura, ou efeito. Seria tudo
como admitir muitos deuses, como muitos
eternos; e todos a dizerem que Deus pode ser
criado, como se dissesse que uma criatura não
pode ser ferida, o que é ser eterno.
Quando se diz que em Cristo o homem é imortal
e eterno, é no sentido que ele já não morre por
participar da vida dAquele que é imortal e
eterno, a saber, Cristo.
Assim, o homem não possui eternidade e
imortalidade por si mesmo, mas a recebe de
48
Outro, na medida em que participa da dAquele
que tem vida em si mesmo.
A criação é uma produção de algo do nada. O que
antes era nada, não pode, portanto, ser
eterno; em si mesmo, portanto, seu ser não
poderia ser eterno, pois deveria ser antes dele, e
seria algo quando não era nada.
Cristo "é antes de todas as coisas" (Col 1:17), ou
seja, todas as coisas foram criadas por ele; e ele
não é, portanto, criatura e, se não é criatura, é
eterno. "Todas as coisas foram criados por ele ”,
tanto no céu como na terra, anjos, assim como
homens, sejam tronos ou domínios (ver. 16).
Cristo não é mais hoje do que era ontem, nem
será outro amanhã do que hoje; e, portanto,
Melquisedeque, cuja descendência,
nascimento e morte, pai e mãe, começo e fim
dos dias, não estão registrados, era um tipo da
existência de Cristo sem variação de
tempo; “Não tendo princípio de dias nem fim de
vida, mas feito semelhante ao Filho de Deus”
(Heb 7: 3). A supressão de seu nascimento e
morte foi planejada pelo Espírito Santo como
um tipo de excelência da pessoa de Cristo na
eternidade e na duração de seu encargo em
relação ao seu sacerdócio. Como havia uma
aparência de uma eternidade na supressão da
49
descendência de Melquisedeque, assim há uma
verdadeira eternidade no Filho de Deus.
“Vim do Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o
mundo e vou para o Pai.” (João 16:28). Ele vai ao
Pai como ele veio do Pai; ele vai para o Pai "para
sempre", então ele veio do Pai "da eternidade";
há a mesma duração em sair do Pai, como no
retorno ao pai. Mas mais claramente: ele fala de
uma glória que ele “teve com o Pai antes da
fundação do mundo” (João 17: 5), quando não
havia criatura. Esta é uma glória real, e não
apenas em decreto; como a glória decretada que
os crentes têm, e por que não pode cada um
deles dizer as mesmas palavras: "Pai, glorifica-
me com a glória que tive contigo antes que o
mundo existisse"? Prova que a glória deles é
apenas por decreto.
Cristo fala de algo peculiar a ele, uma glória em
posse real antes que o mundo existisse:
“Glorifique-me, receba-me, honre-me como
teu Filho, enquanto Eu tenho sido agora, aos
olhos do mundo, lidado humildemente como
um servo.”
Por que ele não usou as mesmas palavras para
seus discípulos que estavam com ele?
50
Sua eternidade também é mencionada no
Antigo Testamento: “O SENHOR me possuía no
início de sua obra, antes de suas obras mais
antigas.” (Provérbios 8:22).
“E tu, Belém-Efrata, pequena demais para
figurar como grupo de milhares de Judá, de ti
me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas
origens são desde os tempos antigos, desde os
dias da eternidade.” (Miqueias 5: 2). Há duas
saídas de Cristo descritas, uma de Belém, nos
dias de sua encarnação, e outra da eternidade. O
Espírito Santo acrescenta, depois de sua
previsão de sua encarnação, sua saída da
eternidade, para que ninguém deve duvide de
sua divindade. Em Isaías 9: 6 ele é
particularmente chamado de "eterno" ou "Pai
eterno”, não o Pai na Trindade, mas um Pai para
nós; ainda "eterno", o "Pai da eternidade". Como
ele é o "poderoso Deus", ele é "o Pai eterno.”
Como a eternidade de Deus é a base de toda a
religião, assim a eternidade de Cristo é a base da
religião cristã. Poderiam nossos pecados ser
expiados perfeitamente se ele não fosse uma
eterna divindade para responder pelas ofensas
cometidas contra um Deus eterno? Sofrimentos
temporários seriam de pouca validade, sem
infinitude e eternidade em sua pessoa para
adicionar peso à sua paixão.
51
Se Deus é eterno, ele conhece todas as coisas
como presentes. Todas as coisas estão presentes
para ele em sua eternidade; pois esta é a noção
de eternidade, a saber, deve ser algo sem
sucessão.
Deus considera todas as coisas em sua
eternidade em um conhecimento simples,
como se estivessem agindo diante dele:
“Conhecidos por Deus são todas as suas obras
desde o princípio do mundo”.
Quando Saulo perseguia a Igreja ele não sabia
que nos conselhos eternos de Deus ele havia
sido designado para ser o apóstolo dos gentios,
cujo nome seria mudado para Paulo. Deus já
conhecia de antemão tanto perseguidor quanto
o apóstolo, e pelo seu poder, faria com que o
perseguidor se convertesse e viesse a ser
pregador do evangelho para os gentios.
E como Deus conheceu isto, bem como todas as
demais coisas, senão por sua eternidade
essencial?
O conhecimento é coeterno com ele; pois se ele
não conhecesse na eternidade, ele não seria
eternamente perfeito, pois o conhecimento é a
perfeição de uma natureza inteligente.
52
Quão audaz e tolo é para uma criatura mortal
censurar os conselhos e ações de um Deus
eterno, ou ser muito curioso em sua vida?
A eternidade coloca Deus acima de nossas
investigações e censuras. Bebês de um dia de
idade não são capazes de entender os atos de
cabeças sábias e grisalhas: nós, que somos de
um ser tão curto e compreensivo como ontem,
presumimos medir os movimentos da
eternidade por nossos escassos intelectos?
Como a eternidade não pode ser compreendida
no tempo, não pode ser julgada por uma criatura
do tempo.
Assim como a santidade implica vida eterna, o
pecado implica morte eterna, daí se dizer que o
salário do pecado é a morte.
O Deus eterno que é a fonte da verdadeira vida
demanda santidade de suas criaturas morais
para que compartilhem da vida eterna com ele.
De modo que toda aproximação dele deve ser
em ou para santificação.
Que loucura e ousadia existe no pecado, pois um
Deus eterno é ofendido por isso! Todo pecado é
agravado pela eternidade de Deus. A escuridão
das trevas da idolatria pagã estava em mudar a
53
glória do Deus incorruptível (Rom.
1:23); erigindo semelhanças dele contrárias à
sua natureza imortal; como se o Deus eterno,
cuja vida é tão ilimitada quanto a eternidade,
fosse como aquelas criaturas cujos seres são
medidos pelo curto período de tempo, que são
de natureza corruptível e passando diariamente
à corrupção; eles não poderiam realmente
privar Deus de sua glória e imortalidade, mas
eles o fizeram na sua estimativa.
Há na natureza de todo pecado uma tendência a
reduzir Deus a um não ser. Aquele que pensa
indignamente de Deus, ou age indignamente
em relação a ele, faz com que (tanto quanto nele
reside) sujem e destruam estas suas duas
perfeições: imutabilidade e eternidade. É uma
alta desonra, como se ele fosse tão desprezível
quanto uma criatura que não fosse de ontem, e
não permanecerá no amanhã. Aquele que
colocaria um fim na glória de Deus,
escurecendo-a, poria fim à vida de Deus em sua
mente e coração.
Se toda a adoração é devida exclusivamente a
Deus por conta das perfeições de sua
espiritualidade e eternidade, qual espaço há que
se introduza outro tipo de adoração, a criaturas,
ainda que sejam pessoas santas como foi a
Virgem Maria, os apóstolos Pedro e João, entre
54
outros? Eles têm eternidade de si mesmos, ou
são espíritos onipotentes, oniscientes e
onipresentes? Eles são redentores e criadores
da santidade que há nos que se convertem?
Os que o fazem desviam a adoração que é devida
exclusivamente às três pessoas da Trindade, e
pervertem o culto que é devido somente a Deus
“2 Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da
terra do Egito, da casa da servidão.
3 Não terás outros deuses diante de mim.
4 Não farás para ti imagem de escultura, nem
semelhança alguma do que há em cima nos
céus, nem embaixo na terra, nem nas águas
debaixo da terra.
5 Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque
eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que
visito a iniquidade dos pais nos filhos até à
terceira e quarta geração daqueles que me
aborrecem.” (Êxodo 20.2-5).
Quão terrível é estar sob o golpe de um Deus
eterno! Sua eternidade é um terror tão grande
para aquele que o odeia, pois é um conforto para
aquele que o ama; porque ele é o "Deus vivo, um
rei eterno, as nações não serão capazes de
suportar a sua indignação.” (Jer 10:10).
55
Embora Deus esteja menos em seus
pensamentos e seja feito luz no mundo, ainda
assim os pensamentos da eternidade de Deus,
quando ele vier para julgar o mundo, fará os
ofensores dele tremerem. Que o juiz e punidor
vive para sempre, é a maior mágoa para uma
alma na miséria, e adiciona um peso
inconcebível a ela, acima do que a infinitude do
poder executivo de Deus poderia fazer sem essa
duração. Sua eternidade torna o castigo mais
terrível do que seu poder; seu poder torna-o
afiado, mas sua eternidade torna-o perpétuo. E
como é triste pensar que Deus coloca sua
eternidade para penhorar a punição de
pecadores obstinados, e engaja-o por um
juramento, que ele "aguçará sua espada
cintilante", que sua "mão tomará juízo ”, que ele
“fará vingança a seus inimigos e uma
recompensa aos que o odeiam”; uma
recompensa proporcional à grandeza de suas
ofensas e à glória de um Deus eterno! “Levanto
a mão aos céus e afirmo por minha vida
eterna: se eu afiar a minha espada reluzente, e a
minha mão exercitar o juízo, tomarei vingança
contra os meus adversários e retribuirei aos que
me odeiam.” (Deut 32:40, 41): isto é, tão certo
como eu vivo para sempre, vou aguçar minha
espada reluzente. Como ninguém pode
transmitir bem com uma perpetuidade,
ninguém pode transmitir o mal com tal duração
56
eterna como Deus. É uma grande perda perder
uma embarcação ricamente carregada no
fundo do mar, para nunca mais ser lançada na
praia; mas quão maior é perder eternamente
um Deus soberano, do qual fomos capazes de
desfrutar eternamente, e passar por um mal
duradouro?
As misérias dos homens depois desta vida não
são atenuadas, mas aguçadas, pela vida e
eternidade de Deus.
Mas que fundamento de conforto podemos ter
em qualquer um dos atributos de Deus, não
fosse por sua infinitude e eternidade, em que ele
seja “misericordioso, bom, sábio, fiel?” Que
apoio poderia haver, se eles fossem perfeições
pertencentes a um Deus corruptível?
Que esperanças de uma ressurreição para a
felicidade podemos ter, ou da duração dela, se
aquele Deus que prometeu não fosse imortal
para continuá-lo, bem como poderoso para
efetuá-lo? Seu poder não seria todo poderoso, se
sua duração não fosse eterna.
Se Deus for eterno, sua aliança será assim. É
fundada sobre a eternidade de Deus; o
juramento pelo qual ele confirma isso é por sua
vida.
57
Visto que não há ninguém maior do que ele, ele
jura por si mesmo (Heb 6:13), ou por sua própria
vida, que ele engaja junto com sua eternidade
para o desempenho total; de modo que, se ele
viver para sempre, a aliança não será anulada; é
um “conselho imutável” (v. 16, 17). A
imutabilidade de seu conselho segue a
imutabilidade de sua natureza. Imutabilidade e
eternidade andam juntas.
A promessa da vida eterna é tão antiga quanto o
próprio Deus em relação ao propósito da
promessa, ou em relação à promessa feita a
Cristo por nós. “Vida eterna que Deus prometeu
antes do mundo começar.” (Tito 1: 2): Como há
uma ante-eternidade, também há uma pós-
natalidade; portanto, o evangelho, que é o novo
pacto publicado, é denominado “o evangelho
eterno” (Apocalipse 14: 6), que não pode mais
ser alterado e perecer, do que Deus pode mudar
e desaparecer em nada; ele pode negar
moralmente a sua verdade, como ele pode
naturalmente abandonar sua vida. A aliança
está aí representada em uma cor verde, para
notar sua verdura perpétua; o arco-íris, o
emblema da aliança "sobre o trono, era
semelhante a uma esmeralda" (Apocalipse 4: 3),
uma pedra de cor verde, enquanto que o arco-
íris natural tinha muitas cores; mas uma, para
significar sua eternidade.
58
Se Deus é eterno, ele sendo nosso Deus em
aliança, é um eterno bem e possessão. "Este
Deus é nosso Deus para todo o sempre" (Salmos
48:14): “Ele é uma morada de todas as gerações”.
Percorreremos o mundo por algum tempo e
então chegaremos às bênçãos de Jacó dadas a
José “as bênçãos dos montes eternos” (Gên
49:26). Se uma propriedade de mil libras por ano
dá vida confortável a um homem por um curto
período de tempo, quanto mais a alma pode ser
envolvida com alegria no desfrute do Criador,
cujos anos nunca têm fim, e que vive para
sempre para ser desfrutado, e pode nos manter
na vida para sempre para desfrutá-lo! A morte,
de fato, se apoderará de nós pela vontade de
Deus por uma ordem irreversível, mas o Criador
imortal fará com que ela vomite seu bocado e
nos coloque em uma gloriosa
imortalidade; nossas almas em sua dissolução, e
nossos corpos na ressurreição, após o que eles
permanecerão para sempre, na extensão dessa
ilimitada eternidade, na fruição do Deus
soberano e eterno; pois é impossível que o
crente, que está unido ao Deus imortal que é de
eternidade a eternidade, possa perecer; por
estar em conjunção com aquele que é uma fonte
de vida sempre fluindo, ele não pode permitir
que ele permaneça nas garras da
morte. Enquanto Deus é eterno e sempre o
mesmo, não é possível que aqueles que
59
participam de sua vida espiritual, não devam
também participar de sua eternidade. É da
consideração da imensidão dos anos de Deus
que a igreja conforta-se para que “seus filhos
continuem e sua semente seja estabelecida para
sempre” (Salmo 102: 27, 28). E da eternidade de
Deus Habacuque (cap. 1:12) conclui a eternidade
dos crentes: “Não és tu desde a eternidade, ó
SENHOR, meu Deus, ó meu Santo? Não
morreremos.” Depois que eles se aposentarem
deste mundo, eles viverão para sempre com
Deus, sem qualquer mudança pela multidão
daqueles anos imagináveis e idades que devem
durar para sempre. É aquele Deus que não tem
começo nem fim, esse é o nosso Deus; quem tem
não apenas a imortalidade em si mesmo, mas a
imortalidade para dar aos outros. Como ele tem
“abundância de espírito” para vivificá-los (Mal
2:15), então ele tem abundância de imortalidade
para continuar. É somente na consideração
disto que um homem pode com sabedoria dizer:
“Então, direi à minha alma: tens em depósito
muitos bens para muitos anos; descansa, come,
bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta
noite te pedirão a tua alma; e o que tens
preparado, para quem será?”(Lucas 12:19, 20):
dizê-lo de qualquer outra posse é a maior
loucura no julgamento do nosso Salvador. “A
mortalidade será absorvida pela imortalidade;”
60
“rios de prazer” serão “para todo o sempre”. A
morte é uma palavra nunca falada ali por
ninguém; nunca ouvida por ninguém naquela
posse da eternidade; é para sempre apagada
como um dos inimigos vencidos por Cristo. A
felicidade depende da presença de Deus, com
quem os crentes estarão para sempre
presentes. A felicidade não pode perecer
enquanto Deus viver; ele é o primeiro e o
último; o primeiro de todos os prazeres, nada
diante dele; o último de todos os prazeres, nada
além dele; um paraíso de delícias em todos os
pontos, sem uma espada flamejante.
O desfrute de Deus será tão fresco e glorioso
depois de muitas eras, como foi a princípio. Deus
é eterno e a eternidade não conhece
mudança; então haverá a possessão mais
completa sem qualquer deterioração no objeto
desfrutado. Não pode haver nada passado, nada
futuro; o tempo não aumenta nem diminui; que
a infinita plenitude da perfeição que floresce
nele agora florescerá eternamente sem
qualquer descoloração dele, pelo menos, por
aquelas idades inumeráveis que correrão para a
eternidade, muito menos qualquer
despojamento dele deles: "Ele é o mesmo em sua
duração sem fim" (Salmos 102: 27). Assim como
Deus é, a eternidade dele será, sem sucessão,
sem divisão; a plenitude da alegria estará
61
sempre presente; sem passado para ser pensado
com pesar por ter ido embora; sem futuro a ser
esperado com desejos atormentadores. Quando
desfrutamos de Deus, desfrutamos dele em sua
eternidade sem qualquer fluxo; uma posse total
de todos juntos, sem a passagem dos prazeres
que podem ser desejados a retornarem, ou a
expectativa de alegrias futuras que possam ser
desejadas.
O tempo é fluido, mas a eternidade é estável; e
depois de muitas eras, as alegrias serão tão
salgadas e satisfatórias como se tivessem sido,
como naquele primeiro momento provado por
nossos apetites famintos. Quando a glória do
Senhor se erguer sobre você, será tão longe se
estabelecida, que depois de milhões de anos
serem expirados, tão numerosos quanto as
areias na praia, o sol, à luz de cujo semblante
você viverá, será tão brilhante como na primeira
aparição; ele estará tão longe de deixar de fluir,
que ele fluirá tão forte, tão cheio, como na
primeira comunicação de si mesmo em glória à
criatura. Deus, portanto, sentado em seu trono
de graça, e agindo de acordo com sua aliança, é
como uma pedra de jaspe, que é de cor verde,
uma cor sempre deleitável (Apocalipse 4:
3); porque Deus é sempre vigoroso e
florescente; um puro ato de vida, novos e
brilhantes raios de vida e luz para a criatura,
62
florescendo com uma fonte perpétua, e
contentando o desejo mais amplo; formando
seu interesse, prazer e satisfação; com uma
variedade infinita, sem qualquer alteração ou
sucessão; ele terá variedade para aumentar os
prazeres e a eternidade para perpetuá-los; este
será o fruto do gozo de um Deus infinito e
eterno: não é uma cisterna, mas uma fonte em
que a água está sempre viva e nunca apodrece.
Se Deus é eterno, aqui está um forte
fundamento de conforto contra todas as aflições
da igreja, e as ameaças dos inimigos da igreja.
A permanência de Deus para sempre é o apelo
que Jeremias faz pelo seu retorno à sua igreja
abandonada: “Tu, SENHOR, reinas
eternamente, o teu trono subsiste de geração
em geração. Por que te esquecerias de nós para
sempre? Por que nos desampararias por tanto
tempo?” (Lamentações 5:19, 20). A igreja é fraca;
as coisas criadas são facilmente cortadas; o que
existe, senão aquele Deus que vive para sempre?
O que, embora Jerusalém tenha perdido seus
baluartes, o templo foi destruído, a terra
desperdiçada; ainda o Deus de Jerusalém se
assenta sobre um trono eterno e, de eternidade
a eternidade, não há diminuição de seu poder. O
profeta insinua nesta queixa, não é agradável à
eternidade de Deus esquecer o seu povo, a quem
63
ele, desde a eternidade, deu boa vontade. Nas
maiores confusões, os olhos da igreja devem ser
fixados na eternidade do trono de Deus, onde ele
se senta como governador do mundo. Nenhuma
criatura pode ter qualquer conforto nesta
perfeição, mas a igreja; outras criaturas
dependem de Deus, mas a igreja está unida a ele.
A primeira descoberta do nome “eu sou”, que
significa a eternidade divina, assim como a
imutabilidade, foi para o conforto dos "Israelitas
oprimidos no Egito" (Êxodo 3:14, 15): foi então
publicado a partir do lugar secreto do Todo-
Poderoso, como o único forte consolo para
ajudá-los, e jamais perderá sua virtude em
qualquer das misérias que venham a suceder
sucessivamente, à igreja.
É um conforto tão durável quanto o Deus cujo
nome é; ele ainda é “eu sou” e o mesmo para a
igreja, como era então para o seu Israel. Dele, o
Israel espiritual tem um direito maior às glórias
do que o Israel carnal poderia ter. Nenhuma
opressão pode ser maior que a deles; o que era
um conforto adequado a esse sofrimento, tem a
mesma adequação a qualquer outra opressão.
Não era um nome temporário, mas um nome
para sempre; seu “memorial para todas as
gerações” (ver. 15), e chega à igreja dos gentios
com quem ele trata como o Deus de Abraão;
64
ratificando esse pacto pelo Messias, que ele fez
com Abraão, o pai dos fiéis.
Os inimigos da igreja não devem ser temidos;
eles podem brotar como a grama, mas logo
depois murcham por seus próprios princípios
internos, ou são cortados pela mão de Deus
(Salmo 92: 7-9). Eles podem ser instrumentos da
ira de Deus, mas “serão dispersos como os
obreiros de Deus”.
Eles podem ameaçar, mas sua respiração pode
desaparecer assim que suas ameaças forem
pronunciadas; pois eles não respiram fundo
num lugar que suas narinas, sobre as quais o
Deus eterno pode colocar sua mão, e afundá-los
com toda a sua raiva. Os profetas e instrutores da
igreja "vivem para sempre" (Zac 1: 5)? Não: os
adversários e perturbadores da igreja viverão
para sempre? Eles desaparecerão como uma
sombra; seu ser depende do eterno Deus dos
fiéis e do eterno juiz dos ímpios. Aquele que
habita a eternidade está acima daqueles que
habitam a mortalidade; e devem, quer digam ou
não, "dizer à corrupção: Tu és meu pai, e ao
verme, Tu és minha mãe e minha irmã ”(Jó
17:14). Quando eles agirão com confiança, como
se fossem deuses vivos, ele não será apaziguado;
mas evidencia-se como um Deus vivo acima
deles. Por que, então, homens mortais devem
65
ser temidos em suas carrancas, quando um
Deus imortal prometeu proteção em sua palavra
e vive para sempre para cumpri-la?
Daí segue outro conforto; já que Deus é eterno,
ele tem tanto poder quanto vontade para ser tão
bom quanto sua palavra. Suas promessas são
estabelecidas em sua eternidade; e sua
perfeição é uma base principal de confiança;
“Confie no Senhor para sempre: pois no Senhor
Jeová há força eterna” (Isaías 26: 4).
Seu nome é dobrado; aquele nome, Jeová, que
sempre foi a força do seu povo; ou rocha das
eternidades: não uma falha, mas uma verdade e
poder eternos; que, como sua força é eterna,
nossa confiança nele deve imitar sua eternidade
em sua perpetuidade; e, portanto, no desânimo
de seu povo, como se Deus tivesse esquecido
suas promessas, e não tivesse feito nenhuma a
eles, ou sua palavra, e estivesse cansado de fazer
o bem, ele os chama para refletir sobre o que
eles tinham ouvido falar de sua eternidade, que
é atendida com imutabilidade, que tem uma
infinidade de poder para realizar sua vontade, e
uma infinitude de entendimento para julgar a
correta ocasião de aplicação do mesmo. Sua
sabedoria, vontade, verdade, sempre foi e será
para a eternidade (Is 40:27, 28). Não lhe falta
mais a vida que o amor, para sempre nos ajudar;
66
já que sua palavra é passada, ele nunca nos
faltará; desde que a sua vida continua, ele nunca
pode estar fora de uma capacidade para nos
aliviar; e, portanto, sempre que o acusamos de
maneira insensata com nossos pensamentos
desconfiados, esquecemos seu amor, que fez a
promessa e sua vida eterna, que pode realizá-
lo. Como sua palavra é o fundo da nossa
confiança, e sua verdade é a garantia de sua
sinceridade, então Sua eternidade é a garantia
de sua capacidade de realizar: "Sua palavra
permanece para sempre" (ver. 8). Um homem
pode ser meu amigo neste dia e estar em outro
mundo amanhã; e embora ele nunca seja tão
sincero em sua palavra, mas a morte arrebenta
sua vida e proíbe a execução.
Mas como Deus não pode morrer, ele não pode
mentir; porque ele é a eternidade de Israel: “A
força de Israel não mente, nem se arrepende”,
perpetuidade, ou eternidade de Israel (1 Sam.
15:29).
A eternidade implica imutabilidade; nós não
poderíamos ter base para nossas esperanças, se
nós o conhecêssemos não sendo mais vívido do
que nós mesmos. O salmista bate nossas mãos
da confiança nos homens, "Não confieis em
príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem
não há salvação. Sai-lhes o espírito, e eles
67
tornam ao pó; nesse mesmo dia, perecem todos
os seus desígnios.” (Salmo 146: 3, 4). E se o Deus
de Jacó fosse como eles, que felicidade
poderíamos ter em ter-lhe como a nossa
ajuda? Como sua soberania em dar preceitos
não teria sido um forte fundamento de
obediência, sem considera-lo como um
legislador eterno, que poderia manter seus
direitos; por isso sua bondade em fazer as
promessas não teria sido um forte fundamento
de confiança, sem considerá-lo como um
prometedor eterno, cujos pensamentos e cuja
vida nunca podem perecer. E isso pode ser uma
das razões pelas quais o Espírito Santo menciona
com tanta frequência a pós-eternidade de Deus
e tão pouco sua ante-eternidade; porque essa é o
alicerce mais forte de nossa fé e esperança, que
respeita principalmente àquilo que é futuro, e
não aquilo que é passado; ainda assim, nem a
garantia de sua pós-eternidade pode ser obtida,
se sua ante-eternidade não for certa. Se ele teve
um começo, ele pode ter um fim; e se ele tivesse
uma mudança em sua natureza, ele poderia ter
em seus conselhos; mas como todas as
resoluções de Deus são como ele é, eterno e
todas as promessas de Deus são os frutos do seu
conselho, portanto eles não podem ser
mudados; se ele devesse mudá-los para melhor,
ele não teria sido eternamente sábio, para saber
68
o que era melhor; e ele não teria sido
eternamente bom ou justo.
Os homens podem quebrar suas promessas
porque elas são feitas sem previsão; mas Deus,
que habita a eternidade, antecipa todas as coisas
que devem ser feitas debaixo do sol, como se
eles estivessem então agindo diante dele; e nada
pode intervir, ou trabalhar uma mudança em
suas resoluções; porque as mínimas
circunstâncias foram eternamente previstas
por ele. Embora possa haver variações e
mudanças à nossa vista, o vento pode se
aproximar e a cada hora acidentes novos
tribulações acontecem; mas o eterno Deus, que
é eternamente fiel à sua palavra, senta-se ao
leme, e os ventos e as ondas obedecem-no. E
embora deva adiar sua promessa por mil anos,
ainda assim ele “não é negligente” (2 Pedro 3: 8,
9); porque ele adia senão um dia para sua
eternidade: e quem não ficaria com conforto um
dia na expectativa de uma vantagem
considerável?
À luz de tudo o que foi dito, vamos ser
profundamente afetados pelos nossos pecados
há muito cometidos. Embora eles tenham
passado conosco, eles são, em relação à
eternidade de Deus, presente com ele; não há
sucessão na eternidade, como há no
69
tempo. Todas as coisas estão diante de Deus de
uma só vez; nossos pecados estão diante dele,
como se cometidos neste momento. Como ele é
o que ele é em relação à duração, então ele sabe
o que sabe em relação de conhecimento.
Como ele não é mais do que ele era, nem deve
ser mais do que ele é, então ele sempre soube o
que ele sabe, e não deixará de saber o que ele
sabe agora. Como ele mesmo, assim como seu
conhecimento, é um ponto indivisível da
eternidade. Ele não sabe nada além do que ele
sabia na eternidade; ele não saberá mais sobre o
futuro do que ele agora sabe. Nossos pecados
estão presentes com ele em sua eternidade, e
devem estar presentes conosco em nossa
consideração de recordação deles, e tristeza por
eles.
Embora muitos anos tenham se passado, muito
tempo se esgotou e nossas iniquidades quase se
apagaram de nossa memória; ainda desde mil
anos são, aos olhos de Deus, e em relação à sua
eternidade, senão como um dia - “Pois mil anos,
aos teus olhos, são como o dia de ontem que se
foi e como a vigília da noite.” (Salmo 90: 4) - estão
diante dele. Pois suponha que um homem fosse
tão velho quanto o mundo, acima de cinco
70
mil e seiscentos anos; os pecados cometidos há
cinco mil anos são, segundo essa regra, senão
como se tivessem sido cometidos há cinco dias
atrás; de modo que sessenta e dois anos são
apenas uma hora e meia; e os pecados
cometidos há quarenta anos desde como se
fossem cometidos, senão a esta hora
presente. Mas se formos mais longe, e
considerá-los, senão como uma vigília da noite,
cerca de três horas (porque a noite, consistindo
de doze horas, foi dividida em relógios fixos),
então mil anos são apenas três horas à vista de
Deus; e então os pecados cometidos há sessenta
anos são como se tivessem sido cometidos
dentro dos cinco minutos. Que nenhum de nós
acenda a luz de iniquidades cometidas há
muitos anos e imagine que esse período de
tempo pode acabar com sua culpa. Não: vamos
considerá-los em relação à eternidade de Deus,
e excitar um remorso interior, como se
tivessem sido apenas o nascimento deste
momento.
Deixemos a consideração da eternidade de Deus
abater nosso orgulho. Este é o desígnio dos
versos que seguem o texto: a eternidade de Deus
sendo é tão suficiente para nos fazer entender
nosso próprio nada, que deveria ser um grande
fim do homem, especialmente quando caído. A
eternidade de Deus deve nos fazer tanto
71
desprezar a nós mesmos, como a excelência de
Deus fez Jó abominar a si mesmo (Jó 42: 5, 6). Sua
excelência deve nos humilhar sob o senso de
nossa vaidade, e sua eternidade sob o sentido da
brevidade de nossa duração. Se o homem
comparar ele mesmo com outras criaturas, ele
pode ser muito sensato de sua grandeza; mas se
ele se comparar com Deus, ele não pode deixar
de ser sensato de sua baixeza.
1º. Em relação à nossa impotência para
compreender esta eternidade de Deus. Quão
pouco sabemos quão pouco podemos saber da
eternidade de Deus!
Não podemos concebê-lo totalmente, muito
menos expressá-lo; nós temos apenas uma
compreensão bruta em todas essas coisas, como
Agur disse de si mesmo em Provérbios 3: 7. O
que é infinito e eterno não pode ser
compreendido por criaturas finitas e
temporárias; se pudesse, não seria infinito e
eterno; porque conhecer uma coisa, é saber a
extensão e a causa disso. É impossível que a
eternidade seja conhecida, porque é sem
limites, sem causas; o entendimento mais
elevado não pode ter uma compreensão
proporcional da mesma. Que desproporção
existe entre uma gota de água e o mar em sua
grandeza e movimento; ainda que por uma gota
72
podemos chegar a um conhecimento da
natureza do mar, que é uma massa de gotas
unidas; mas a duração mais longa dos tempos
não pode nos fazer saber o que é a eternidade,
porque não existe qualquer proporção entre o
tempo e a eternidade. Os anos de Deus são tão
inumeráveis quanto os seus pensamentos
(Salmo 40: 5).
Se nossos entendimentos são muito grosseiros
para compreender a majestade de suas obras
infinitas, eles são muito mais do que
insuficientes para compreender a infinitude de
sua eternidade.
2º. Em relação à vasta desproporção de nossa
duração a esta duração de Deus.
Nós temos mais do que nada do que ser. Nós não
éramos nada de uma eternidade não começada,
e poderíamos ter sido nada para uma eternidade
infinita, Deus não nos chamou para o ser; e se
ele quiser, podemos ser nada por uma palavra
tão curta e aniquiladora, como fomos algo por
uma palavra criadora. Como é da prerrogativa
de Deus ser “Eu sou o que sou”, então é
propriedade de uma criatura ser “Eu sou não
sou o que sou; não sou eu o que sou, mas pela
indulgência de outro. Eu não era nada
antigamente; posso ser nada de novo a menos
73
que ele seja "Eu Sou", e faça-me subsistir no que
eu sou agora. Nada é tanto o título da criatura
quanto o ser é o título de Deus.
Nada é tão sagrado como Deus, porque nada tem
como ser Deus: “Não há santo como o Senhor,
pois não há outro além de ti” (1 Sam 2: 2). A vida
do homem é uma imagem, um sonho, que é
quase nada; e se comparado com Deus, pior que
nada; uma nulidade, bem como uma vaidade,
porque “só com Deus está a fonte da vida”
(Salmos 36: 9). A criatura é apenas uma gota de
vida dele, dependente dele: uma gota de água
não é nada se comparada com a vasta
confluência de águas e inúmeras gotas no
oceano.
Quão monstruoso é o orgulho na criatura, para
aspirar, como se ele fosse o Pai da eternidade, e
tão eterno quanto Deus, e assim a sua própria
eternidade!
O que nós temos é apenas de curta duração em
relação à nossa vida neste mundo. Nossa vida
está em constante mudança e fluxo; nós não
permanecemos o mesmo um dia inteiro; a
juventude rapidamente conquista a infância, e a
idade avança rapidamente nos calcanhares da
juventude; existe uma contagem regressiva
contínua de minutos, como há de areias em um
74
copo. Ele é como um relógio de areia no início de
sua vida, e disso o tempo está acabando, até ele
chegar ao fundo; parte de nossas vidas é cortada
todos os dias, a cada minuto. A vida é apenas um
momento: o que é passado não pode ser
lembrado, o que é futuro não pode ser
assegurado. Se aproveitarmos este momento,
perdemos o passado e atualmente perder isso
pelo próximo que está por vir. A curta duração
dos homens é exposta nas Escrituras por tais
criaturas que logo desaparecem: verme (Jó 25:
6), que pode sobreviver a um inverno; grama,
que murcha pelo sol de verão. A vida é uma
"flor", logo murchando (14: 2); um “vapor”, logo
desaparecendo (Tiago 4:14); uma “fumaça”, logo
desaparecendo (Salmos 102: 3). O homem mais
forte é comparado à poeira; o tecido deve
moldar; a montanha mais alta cai e não dá em
nada.
O tempo dá lugar à eternidade; nós vivemos
agora e morremos amanhã. O dia mais longo da
vida de qualquer homem nunca chegou a vinte
e quatro horas no relato da divina eternidade:
uma vida de tantos séculos, com o acréscimo
“ele morreu”, compõe a maior parte da história
dos patriarcas (Gên 5); e desde que a vida do
homem foi reduzida, se houver no mundo
oitenta anos, ele escassamente vive sessenta
75
deles, e destes, a quarta parte do tempo é pelo
menos consumida durante o sono.
Os anjos, que duraram tanto tempo quanto o céu
e a terra, tremem diante de Deus; os céus se
derretem em sua presença; e nós, que somos
apenas de ontem, nos aproximamos de uma
eternidade divina com almas desamparadas, e
oferecemos os sacrifícios dos nossos lábios com
o orgulho dos demônios, e permanecemos em
nossos termos com ele, sem cair sobre nossos
rostos, com um sentido que somos apenas pó e
cinzas e criaturas do tempo?
Deixe a consideração da eternidade de Deus
tirar o nosso amor e confiança do mundo, e das
coisas do mesmo. A eternidade de Deus censura
a busca do mundo, preferindo um prazer
momentâneo diante de um Deus eterno; como
se fosse um mundo temporal pudesse ser um
suprimento melhor do que um Deus cujos anos
nunca falham. Ai! o que é esta terra os homens
são tão gananciosos, e vai prevalecer, embora
por sangue e suor? O que é toda esta terra, se
tivéssemos toda a posse dela, se comparada com
os vastos céus, a sede dos anjos e espíritos
abençoados? É apenas como um átomo para a
maior montanha, ou como uma gota de orvalho
para o imenso oceano. Quão tolo é preferir um
átomo antes que o mundo! A terra é apenas um
76
ponto para o sol; o sol com todo o seu orbe, mas
uma pequena parte dos céus se comparado com
o tecido inteiro. Se um homem tivesse a posse de
todos aqueles, não poderia haver comparação
entre aqueles que tiveram um começo e terão
um fim, e Deus que está sem eles. E quantos há
que não fazem nada da eternidade divina e
imaginam uma eternidade de nada!
As belezas do mundo são transitórias e perecem.
O mundo inteiro não é outra coisa senão uma
coisa fluida; a moda é uma pompa, “falecendo”
(1 Cor 7:31): embora as glórias dele possam ser
concebidas maiores do que são, ainda assim não
são consistentes, senão transitório; não pode
haver todo um prazer deles, porque eles
crescem e expiram a cada momento, e escapam
entre nossos dedos enquanto os usamos. Não
ouvimos falar de Deus dispersando os maiores
impérios como “joio diante de um
redemoinho”, ou como “Fumaça da chaminé”
(Oséias 13: 3), que, embora pareça uma nuvem
compacta, como se sufocasse o sol, é
rapidamente espalhado em várias partes do ar e
se torna invisível?
Urtigas muitas vezes foram herdeiros de
palácios imponentes, como Deus ameaça Israel
(Oséias 9: 6). Nós não podemos nos prometer
nada sobre a noite do próximo dia. Um reino
77
com a glória de um trono pode ser cortado em
uma manhã (Oséias 10:15). O novo vinho pode
ser retirado da boca quando a safra estiver
madura; o gafanhoto devorador pode arrebatar
tanto as esperanças quanto a colheita (Joel 1:15);
eles são, portanto, coisas que não são, e nada
pode ser um objeto adequado para confiança ou
afeição; “Porventura, fitarás os olhos naquilo
que não é nada? Pois, certamente, a riqueza fará
para si asas, como a águia que voa pelos céus.
”(Provérbios 23: 5). Eles não são propriamente
seres, porque eles não são estáveis. Eles não são,
porque podem não ser o próximo momento para
nós o que eles são: são apenas cisternas, não
nascentes e quebradas cisternas não sãs e
estáveis; nenhuma solidez em sua substância,
nem estabilidade em sua duração. Que tolice é
então, preferir uma felicidade transitória, mera
nulidade, diante de um Deus eterno! Que coisa
sem sentido seria em um homem preferir o
mapa de um reino, que a mão de uma criança
pode rasgar em pedaços, antes do reino que é
eterno e inabalável! Quanto mais indesculpável
é valorizar as coisas, que estão tão longe de
serem eternas, que não são mais como
semelhanças obscuras de uma eternidade.
Fossem as coisas do mundo mais gloriosos do
que são, todavia elas são apenas como um falso
sol em uma nuvem, que fica aquém do
verdadeiro sol nos céus, tanto na glória e
78
duração; e para estimá-los diante de Deus, é
inconcebivelmente mais pobre do que se um
homem valorizasse uma bolha colorida no ar,
antes que uma rocha durável de diamantes. Os
confortos deste mundo são como velas, que
terminarão em um rapé; enquanto a felicidade
que flui de um Deus eterno, é como o sol, que
brilha mais e mais para um dia perfeito.
As coisas do mundo não podem, portanto, ser
aptas para uma alma, que foi feita para ter um
interesse na eternidade de Deus. A alma sendo
de natureza perpétua, foi feita para a fruição de
um bem eterno; e não para aquilo que nunca
pode ser perfeito. A perfeição, essa nobre coisa,
não se levanta de qualquer coisa neste mundo,
nem é um título devido a uma alma enquanto
neste mundo; é então que se diz que eles são
perfeitos quando chegam a toda essa conjunção
com o eterno Deus em outra vida (Heb 7:23). A
alma não pode ser enobrecida por um
conhecimento dessas coisas, ou estabelecida
por uma dependência delas; elas não podem
conferir o que uma natureza racional deve
desejar, ou fornecer o que quer. A alma tem uma
semelhança com Deus em uma pós-eternidade;
por que deveria ser posta de lado pelos agrados
das coisas terrenas, para negligenciar seu
verdadeiro estabelecimento, e ser um servo do
79
corpo, que é apenas a sombra da alma, e foi feito
para segui-la e servi-la?
Mas enquanto ele se ocupa completamente nas
preocupações de um corpo que perece, e
procura satisfação em coisas que se afastam,
torna-se antes, um corpo que a alma desce
abaixo de sua natureza, censura aquele que
imprimiu nele uma imagem de sua própria
eternidade, e perde o conforto da eternidade de
seu Criador. Como é que o mundo inteiro, se as
nossas vidas fossem tão duradouras quanto isso,
seria um prazer eterno para nós, que temos
almas que devem sobreviver a todas as delícias,
que devem fritar nas chamas que devem
disparar todo o quadro de natureza na
conflagração geral do mundo? (2 Ped 3:10)?
Alguém dirá: “Se há tal perigo na relação com as
coisas naturais que o próprio Deus criou para o
homem, em afastar o seu coração do Criador,
por amor a elas, porque então Deus as criou e fez
o homem dependente delas, especialmente
pelo corpo que lhe deu?”
Esta é uma pergunta para muitas respostas, mas
podemos destacar que principalmente havia
necessidade de que o homem fosse feito não
somente espírito, mas também corpo, porque
sabendo Deus que o homem pecaria e toda a sua
80
descendência, necessitando de que um
sacrifício de vida fosse oferecido em seu lagar,
para ser redimido do pecado, e ser reconciliado
a Deus, nosso Senhor encarnou neste mundo, e
ofereceu o seu corpo como sacrifício a Deus,
quando morreu na cruz.
Se o homem fosse apenas espírito, jamais
poderia ser redimido, porque isto importaria a
aniquilação do espírito de Cristo, em vez do seu
corpo que foi oferecido por nós.
Este é provavelmente o ponto mais importante,
mas há outras realidades a serem consideradas,
como por exemplo:
O amor e a fé do homem são sempre colocados
à prova, se serão maior por Deus ou pela
criatura. E importa que Deus seja amado acima
de tudo o mais, inclusive de nossos familiares,
conforme Jesus nos ensinou. Um Deus eterno e
único Criador, somente é digno de nossa
adoração. De modo que, pela nossa forma diária
de nos relacionarmos com as coisas desta vida,
poderemos confirmar para nós mesmos a quem
de fato pertence o nosso coração, se a Deus ou às
suas criaturas?
Outra resposta à pergunta formulada encontra-
se também no fato de que somos exercitados em
81
amor, caridade, misericórdia, serviço ao
próximo, no uso que fazemos dos bens deste
mundo, não sendo avarentos, mas buscando o
interesse de outros. Muito da nossa fé e piedade
é exercitado pela forma como a Providência atua
conosco na concessão das coisas matérias que
necessitamos para a subsistência do nosso
corpo.
Muitos outros fins úteis foram previstos por
Deus ao nos ter criado também com um corpo,
diferentemente, por exemplo, dos anjos.
E o Senhor requer que reconheçamos que até
mesmo a provisão material é feita por Ele para
nós, de modo que nossa dependência sempre é
direta dEle mesmo, que dispôs todas as coisas
para a continuidade da vida da humanidade na
Terra.
Outro aspecto que devemos ter sempre em
consideração que é somente nas virtudes que
estão em Cristo, na vida do espírito que temos
nEle, que há a eternidade, e tudo o mais é
passageiro, de modo que devemos ser sábios em
fazer provisão para o espírito e não para a carne,
porque a carne para nada aproveita para os
propósitos da eternidade, senão somente o
espírito que nos vivifica.
82
Portanto, vamos providenciar um interesse feliz
na eternidade de Deus. O homem é feito para um
estado eterno. A alma tem tal perfeição em sua
natureza, que está apta para a eternidade e não
pode exibir todas as suas operações, senão na
eternidade. Para uma eternidade devemos ir e
viver desde que o próprio Deus vive. Coisas de
curta duração não são proporcionais a uma
alma feita para uma continuidade eterna; de
maneira que é uma eternidade confortável, que
vale todo o nosso cuidado. O homem é uma
criatura previdente e considera não apenas o
presente, mas também o futuro, em suas
provisões para sua família; e ele envergonhará
sua natureza em rejeitar toda a consideração de
uma eternidade futura? Obtenha posse,
portanto, do eterno Deus. “Uma parte desta
vida” é a sorte daqueles que serão eternamente
miseráveis (Salmos 17:14). Mas Deus, é a “porção
eterna”, é o lote daqueles que são projetados
para a felicidade. "Deus é a minha porção para
sempre" (Salmo 73:26). “O tempo é curto.” (1
Coríntios 7:29). O tempo todo para o qual Deus
projetou esse edifício do mundo é de uma
pequena duração; é um palco erguido para que
as criaturas racionais atuem em suas partes por
alguns milhares de anos; a maior parte do tempo
é esgotada; e então o tempo, como cairá no mar
da eternidade, de onde surgiu. Como o tempo é
apenas um lapso de eternidade, assim
83
terminará na eternidade; nossas vantagens
consistem no instante presente; o passado
nunca prometeu um retorno, e não pode ser
recuperado por todos os nossos votos. O que é o
futuro, não podemos nos comprometer a
desfrutar; podemos ser arrebatados antes que
chegue. Cada minuto que passa, torna menor o
restante, até o momento da morte; e como
estamos a cada hora mais longe do nosso
começo, estamos mais perto do nosso fim. A
criança nascida neste dia cresce, para
finalmente morrer. Em todas as eras há “senão
um passo entre nós e a morte”, como Davi disse
de si mesmo (1 Samuel 20: 3). O pequeno horário
que permanece para o diabo até o dia do
julgamento, envenena sua ira; ele ruge, porque
“seu tempo é curto” (Apo 12:12). O pouco tempo
que resta entre este momento e nossa morte,
deve acelerar nossa diligência para herdar a
eternidade infinita e imutável de Deus.
Devemos meditar muitas vezes sobre a
eternidade de Deus. A santidade, o poder e a
eternidade de Deus são os artigos fundamentais
de toda religião, sobre os quais todo o corpo dela
se apoia; a santidade dele para conformidade a
ele, o poder dele e eternidade para o apoio de fé
e esperança.
84
"E os quatro seres viventes, tendo cada um deles,
respectivamente, seis asas, estão cheios de
olhos, ao redor e por dentro; não têm descanso,
nem de dia nem de noite, proclamando: Santo,
Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso,
aquele que era, que é e que há de vir."
(Apocalipse 4: 8). Embora seu poder seja
insinuado, ainda assim os principais são sua
santidade, três vezes expressadas; a eternidade
que se repete, “quem vive para todo o sempre”
(ver 9). Esta deve ser a prática constante na
igreja dos gentios, que este livro respeita
principalmente; a meditação de sua graça
convertida, manifestada a Paulo, arrebatou o
coração do apóstolo; mas não há a consideração
triunfante de sua imortalidade e eternidade,
que são as partes principais da doxologia: "Agora
ao Rei eterno, imortal. invisível, o único Deus
sábio, seja honra e glória para todo o sempre" (1
Timóteo 1: 15, 17). Não poderia ser um grande
transporte para o espírito, considerá-lo glorioso
sem considerá-lo imortal.
A desconfiança de suas perfeições em relação
ao tempo, apresenta à alma uma questão da
maior complacência. A felicidade de nossas
almas depende de seus outros atributos, mas a
perpetuidade dela, da sua eternidade. É um
consolo ver sua imensa sabedoria? Sua bondade
transbordante; sua terna misericórdia; e
85
verdade? Que conforto haveria em qualquer um
desses, se fosse uma sabedoria que poderia ser
desconcertada; uma bondade que poderia ser
amortecida, uma misericórdia que pudesse
expirar; e uma verdade que pode perecer? Sem
a eternidade, o que seriam todas as suas outras
perfeições, senão flores gloriosas, mas
murchando; uma beleza grande, mas
decadente?
Por uma meditação frequente da eternidade de
Deus, devemos nos tornar mais sensíveis à
nossa própria vaidade e à insignificância do
mundo; como nada devemos nós mesmos;
como nada todas as outras coisas apareceriam
em nossos olhos! Com que frieza devemos
desejá-los! Quão fracamente devemos confiar
neles! Não devemos nos julgar dignos de
contemplar uma glória perecível, esperar apoio
de um braço de carne, quando há uma beleza
eterna? Para nos violentar, quando há um braço
eterno para nos proteger?
Asafe, quando considerava Deus “uma porção
para sempre”, não pensava nas glórias da terra,
ou nas belezas dos céus criados, dignas de seu
apetite ou complacência, mas “Deus” (Salmo
73:25, 26). Além disso, um quadro elevado de
coração na consideração da eternidade de Deus,
abateria as fortalezas e os motores de qualquer
86
tentação: uma ligeira tentação não saberia onde
encontrar e agarrar uma alma elevada e se
esconderia em uma meditação dela; e se isso
acontecer, não haverá falta de preservativos
para resistir e conquistá-lo.
Que prazeres transitórios não sufocarão os
pensamentos da eternidade de Deus? Quando
esse trabalho se torna uma alma, é grande
demais para que ele desça, para ouvir um recado
sem mangas do inferno ou do mundo. As
seduções devassas da carne serão adiadas com
indignação. As ofertas do mundo serão ridículas
quando as colocarmos na balança com a
eternidade de Deus, que se apega em nossos
pensamentos, não seremos uma presa tão fácil
para o laço dos caçadores de pássaros. Vamos,
portanto, meditar sobre isso com frequência,
mas não em uma simples especulação, sem
engajar nossas afeições, e fazer com que cada
noção da eternidade divina termine em uma
impressão adequada em nossos corações. Isto
seria muito parecido com os discípulos olhando
para os céus na ascensão de seu Mestre,
enquanto eles se esqueceram da prática de suas
ordens (Atos 1:11).
Se Deus é eterno, quão digno é ele de nossas
melhores afeições e mais fortes desejos de
comunhão com ele! Não deve tudo ser
87
valorizado de acordo com a grandeza de seu ser?
Como, então, devemos amá-lo, que não é apenas
adorável em sua natureza, mas eternamente
amável; tendo desde a eternidade todas as
perfeições centradas em si mesmo, que
aparecem no tempo! Se tudo for amável, quanto
mais ele participa da natureza de Deus, que é o
principal bem; quanto mais infinitamente
amável é Deus, que é superior a todos os outros
bens, e eternamente assim! Não é um Deus de
alguns minutos, meses, anos ou milhões de
anos; não dos resíduos do tempo ou do alto do
tempo, mas da eternidade; acima do tempo,
inconcebivelmente imenso além do tempo.
Amá-lo infinitamente, perpetuamente, é um ato
de homenagem a ele por sua excelência eterna;
podemos dar-lhe um, pois nossas almas são
imortais, embora não possamos ser o outro,
porque são finitas. Visto que ele inclina em si
todas as excelências do céu e da terra para
sempre, ele deve ter um afeto, não apenas do
tempo neste mundo, mas da eternidade no
futuro; e se não lhe devemos amor pelo que
somos por ele, devemos-lhe amor pelo que ele é
em si mesmo; e mais pelo que ele é, do que pelo
que ele é para nós. Ele é mais digno de nossas
afeições porque ele é o Deus eterno, do que
porque ele é nosso Criador; porque ele é mais
excelente em sua natureza, do que em suas
ações transitórias; os raios de sua bondade para
88
conosco, para direcionar nossos pensamentos e
afeições a ele; mas sua própria excelência
eterna deve ser a base e fundamento de nossas
afeições para ele. E verdadeiramente, uma vez
que nada além de Deus é eterno, nada além de
Deus vale o amor; e fazemos apenas um direito
ao nosso amor, para lançar aquilo que sempre
pode nos possuir e ser possuído por nós; sobre
um objeto que não pode enganar nosso afeto, e
colocá-lo fora de nós por uma dissolução. E se a
nossa felicidade consiste em ser como Deus,
devemos imitá-lo em amá-lo como ele se ama, e
enquanto ele ama a si mesmo; Deus não pode
fazer mais para si mesmo do que amar a si
mesmo; ele não pode acrescentar sua essência,
nem diminuir sua essência. O que devemos
fazer menos a um Ser eterno, do que agregar
afeição sobre ele, como o seu próprio para si
mesmo; já que não podemos encontrar nada tão
durável quanto ele, pelo qual devemos amá-lo.
Quando adoramos a Deus, e o Espírito Santo se
move em nós para isto, é que nos tornamos
semelhantes a Ele em espírito, quanto à
santidade, porque é contemplando a beleza da
Sua santidade que ela é refletida em nossos
espíritos. É por atos reflexos que recebemos as
virtudes de Deus, como por exemplo, Ele nos
ama, e retornamos amor a Ele de volta, Ele faz o
Seu rosto brilhar sobre nós, e retornamos
89
alegria e gratidão a Ele. Além disso, na
manifestação da Sua pureza, nossos corações
são também purificados, e nossas consciências
são purgadas de todas as obras mortas.
Somente Deus é digno do nosso melhor serviço.
O Ancião dos Dias deve servir antes de todos os
que são mais jovens que ele; nossa melhor
obediência é devida a ele como um Deus de
excelência não confinada; tudo que é excelente
merece uma veneração adequada à sua
excelência. Como Deus é infinito, ele tem direito
a um serviço ilimitado; como ele é eterno, ele
tem direito a um serviço perpétuo: como o
serviço é uma dívida de justiça na conta da
excelência de sua natureza, assim, um serviço
perpétuo é tanto uma dívida de justiça por causa
da eternidade. Se Deus é infinito e eterno, ele
merece uma honra e um comportamento de
suas criaturas, adequados à ilimitada perfeição
de sua natureza e à duração de seu ser. Quão
digna é a resolução do salmista! “Cantarei ao
Senhor enquanto eu viver; eu louvo ao meu
Deus enquanto tenho algum ser” (Salmos 104:
33). É o uso que ele faz da duração infinita da
glória de Deus. Servir a outras coisas, ou servir a
nós mesmos, é um serviço muito vasto sobre
aquilo que nada serve. Ao nos dedicarmos a
Deus, servimos a ele, isto é, assim como nunca
começou; está para vir, assim como ele nunca
90
deve; por quem todas as coisas são o que são; que
tem tanto conhecimento eterno para lembrar-
se de nosso serviço, quanto bondade eterna.
NOTA: Usamos também na composição deste
livro citações de Sthepen Charnock, que
traduzimos pioneiramente para a língua
portuguesa.