novela de - megapro.com.br · marmita ― tu fala criticando o cara, como se fossemos um santo....
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Mano a Mano Capítulo 01 Pág: 1
MANO A MANO
Novela de
Rômulo Guilherme
Criada e escrita por:
Rômulo Guilherme
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Mano a Mano Capítulo 01 Pág: 2
CENA 01. ITÁLIA. MUSEU CAPITÓLINO. INT. DIA
Abrimos a cena com a imagem detalhada da estátua de Rômulo e Remo
amamentados pela loba. Turistas tiram várias fotos. Momento.
Legenda: ITÁLIA – CAPITÓLIO
Fusão para:
CENA 02. RIO DE JANEIRO. EXT. MADRUGADA
Planos gerais. Céu escuro, nuvens pesadas, ameaçadoras cobrem a cidade,
dando um tom sombrio e misterioso. Corta para:
CENA 03. MANSÃO VARELLA. FRENTE. EXT. MADRUGADA
Uma mulher, usando uma capa preta com capuz, que esconde seu rosto,
aproxima-se da entrada da mansão. Deixa um cesta, bate na campainha e
foge apressada. Corta para:
CENA 04. MOSTEIRO SÃO BENTO. EXT. MADRUGADA
Porta lateral. A mesma mulher da cena anterior aproxima-se da porta e
deixa uma cesta, fugindo em seguida. Corta para:
As cenas 05 e 06 dividem a tela. Sobre as imagens:
VOZ — Dois irmãos, duas vidas! Iguais fisicamente,
mas separados em realidades. Viveram em
mundos opostos, paralelos um ao outro, até que os
destinos os colocarão frente a frente, mano a
mano!
CENA 05. MANSÃO VARELLA. SALA. INT. MADRUGADA
Joaquim abre a porta. Vê que dentro da cesta tem um menino, recém-
nascido.
Legenda: RÔMULO
Francisca aparece ao seu lado e se surpreende vendo Rômulo na cesta.
Sorri, fica comovida com a situação. Pega o pequeno no colo e olha pra
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Mano a Mano Capítulo 01 Pág: 3
Joaquim, que sorri de volta. Francisca entra segurando Rômulo. Joaquim
pega a cesta e faz o mesmo, fechando a porta.
Corta para:
CENA 06. MOSTEIRO. EXT. MADRUGADA
Bastião sai, olhando pros lados, procurando quem bateu, até que vê a cesta
com o outro gêmeo. Fica surpreso. Olha novamente procurando quem o
deixou ali, mas não vê ninguém.
Legenda: REMO
Bastião abaixa-se e mexe com Remo. Resolve entrar, levando a cesta junto.
Corta para:
CENA 07. RUA DESERTA. EXT. MADRUDA
A mulher misteriosa que abandonou nossos gêmeos caminha no meio da
rua. Através de efeito, ela transforma-se em uma loba. A loba que na lenda
amamentou os irmãos, sumindo na escuridão da madrugada. Fusão para:
CENA 08. RIO DE JANEIRO. GERAIS. EXT. DIA
Imagens belíssimas da cidade, desde o pôr do sol, passando pela praia, pelo
centro da cidade e outros do Rio.
Legenda: Anos depois...
Corta para:
CENA 09. CLUBE. QUADRA DE TÊNIS. EXT. DIA
Rômulo e Mauro jogam uma partida de tênis tensa entre os dois. Tempo.
Mauro dá uma última sacada. Rômulo não consegue pegar. Mauro vence e
comemora.
MAURO ― Venci!
RÔMULO ― Parabéns!
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Eles caminham em direção a mesa onde estão suas mochilas. Bebem água e
se secam enquanto conversam.
MAURO — Melhorou muito, Rômulo. Mas precisa melhor
ainda mais se um dia quiser me vencer.
RÔMULO — Você e sua eterna competição comigo.
MAURO ― Se você gosta de perder, eu não gosto. Aliás,
essa palavra nem faz parte do meu vocabulário.
RÔMULO ― Será que você nunca vai conseguir parar de me
ver como seu rival, seu oponente, e sim como seu
irmão?
Rômulo e Mauro se encaram. Instantes. Mauro pega sua mochila.
MAURO ― Vou pra piscina.
Mauro segue caminhando em direção a área da piscina.
RÔMULO ― Não se esquece do almoço dos nossos pais.
MAURO ― Dos meus pais!
RÔMULO ― (rindo) Esse aí nunca vai crescer.
Corta para:
CENA 10. CLUBE. PISCINA. EXT. DIA
Mauro caminha em direção a uma mesa. Passa por uma bela mulher
tomando sol na espreguiçadeira e não resiste lançando um olhar devorador
pra cima dela. Mauro chega a mesa, debaixo de um guarda-sol e deixa sua
mochila. Tira sua roupa, ficando apenas de sunga. Seu celular toca. Ele
pega e atender.
MAURO ― (cel.) Oi, Leilane.
Corta para:
CENA 11. QUARTO LEILANE E MAURO. INT. DIA
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Leilane, já lindamente vestida, no celular com Mauro. Intercalar com
cena anterior.
LEILANE ― (cel.) Já está vindo? Daqui a pouco os
convidados vão chegar.
MAURO ― (cel.) Só vou dar um mergulho e já estou indo.
LEILANE ― (cel.) Luísa saiu cedo, ainda não voltou e nem
atende o celular.
MAURO ― (cel.) Deve estar praticando aqueles esportes
radicais que tanto gosta.
LEILANE ― (cel.) E que me deixa com o coração na mão e
com vários fios brancos.
Corta para:
CENA 12. PEDRA BONITA. EXT. DIA
Lucas e Luísa estão se preparando pra saltar de asa delta. Vão voar juntos
na mesma asa. Quando está tudo verificado, preparam-se.
LUCAS ― Pronta?
LUÍSA ― Prontíssima!
Lucas inicia uma breve contagem regressiva e os dois correm pra saltar.
Voam sobre a cidade, planando sobre prédios, casas, pessoas, como dois
passarinhos. Imagens incríveis.
Corta para:
CENA 13. CLUBE. PISCINA. EXT. DIA
Mauro no celular com Leilane.
MAURO ― (cel.) Até parece que não conhece a filha que
tem. Não se preocupe que a Luísa está bem. Vou
desligar, daqui a pouco estou aí.
LEILANE ― (cel.) Não demora. Beijos.
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Leilane desliga. Mauro guarda seu celular e dá um belo mergulho na
piscina, exibindo-se pra mulher gata da cena 10, que não resiste e lhe dá
um sorriso de canto de boca.
Corta para:
CENA 14. QUARTO LEILANE E MAURO. INT. DIA
Leilane na frente do espelho, dando um último retoque. Através de efeito,
sua imagem refletiva começa a conversar com ela.
REFLEXO ― Você está linda. Um deslumbre!
LEILANE ― Você também, um escândalo de luxo e beleza.
As duas falam juntas.
REFLEXO ― Arrasamos!
LEILANE ― Beijinho no ombro pras recalcadas!
Corta para:
CENA 15. CLUBE. VESTIÁRIO. INT. DIA
Rômulo está tomando uma ducha. Corta para Rômulo em frente ao
espelho, enrolado na toalha. Passa a mão no vidro embaçado, até que a
imagem fica nítida. Fica se olhando. Momento. Corta para:
CENA 16. BARRACO REMO E MARMITA. INT. DIA
Remo, em frente ao pequeno e trincado espelho. Marmita vem do quarto e
estranha. Senta-se à mesa e toma seu café com pão e manteiga.
MARMITA ― Que foi cara?
REMO ― Será que tem alguém igual a mim nesse
mundo?
MARMITA ― Tomará que não. Já basta um cara feio que
nem tu.
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REMO ― Tenho a sensação de que tem uma pessoal
igual a mim em algum lugar por aí.
MARMITA ― Que papo doido é esse?
REMO ― Nada. Deixa pra lá...
Remo senta-se com Marmita e toma seu café.
MARMITA ― Já ficou sabendo que o Cacau está de volta
aqui na Macaquinha.
REMO ― Claro. Às notícias aqui espalham igual rastilho
de pólvora. Só quero ver o que ele vai aprontar
dessa vez.
Corta para:
CENA 17. FAVELA. CASA CACAU. LAJE. EXT. DIA
Cacau conversa com Frajola, seu amigo e comparsa.
FRAJOLA ― Tu acha seguro continuar aqui, Cacau? Os
policias estão na sua cola.
CACAU ― Relaxa. Tô focado em outra coisa.
FRAJOLA ― Fala aí.
CACAU ― Tô com um plano quente aí, que se der certo
mesmo vamos entrar numa grana feia.
FRAJOLA ― Estourar caixa eletrônico?
CACAU ― Melhor. Ir direto a fonte. Roubar um banco.
FRAJOLA ― (surpreso) Tá falando sério?
CACAU ― E sou cara de brincar em serviço. E já sei até
qual banco: banco Império.
Corta para:
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CENA 18. BARRACO REMO E MARMITA. INT. DIA
Remo e Marmita seguem conversando.
MARMITA ― Tu fala criticando o cara, como se fossemos
um santo.
REMO ― Um dia quero sair dessa vida, Marmita. Quero
ter uma vida descente e honesta pra me orgulhar.
MARMITA ― Para de sonhar, que sonhar não enche barriga
de ninguém. A nossa realidade é essa e ponto!
Marmita levanta.
MARMITA ― Engole logo esse pão aí e vamos pra atividade.
To sentindo que hoje vamos faturar!
Corta para:
CENA 19. FLAT MAURO. RECEPÇÃO. INT. DIA
Mauro entra acompanhado da gata do clube. Olha pro rapaz da recepção,
que já entende tudo. O recepcionista faz com a mão um gesto de “boca
calada”. Mauro, satisfeito, segue com a gata pro elevador. Corta para:
CENA 20. FLAT MAURO. INT. DIA
Mauro entra, já agarrando, beijando a gata.
MAURO ― Você é muito gata e gostosa.
A gata pega na mão esquerda de Mauro, evidenciando seu anel.
GATA ― E você casado!
MAURO ― Se isso é um problema pra você...
Mauro tira seu anel e deixa em cima da mesa.
MAURO ― Resolvido o problema. Agora vem rápido,
gata. Não tenho muito tempo.
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Mauro puxa a gata pra cama e eles se envolvem cada vez mais.
Corta para:
CENA 21. PRAIA. EXT. DIA
Lucas e Luísa acabaram de pousar. Estão recolhendo e ajeitando tudo.
LUCAS ― Foi incrível!
LUÍSA ― Como sempre é. A cada vez que eu pulo de asa
delta é como se eu renovasse minha energia, me
sentisse mais leve.
LUCAS ― Nunca vi mulher mais corajosa que você.
(brinca) Parece que ao invés de beber leite quando
pequena, tomava era adrenalina.
LUÍSA ― (rindo) Não tem sensação mais incrível do que
essa, de sentir-se como um pássaro, livre, solto,
sem nenhum problema e preocupação.
LUCAS ― Falando nisso, temos que ir. Daqui a pouco é o
almoço dos seus avós.
LUÍSA ― Você vai, né?
LUCAS ― Nem fui convidado.
LUÍSA ― Se esse é o problema, resolvo agora te
convidando.
Os dois seguem caminhando pela praia.
Corta para:
CENA 22. MANSÃO VENÂNCIO. EXT. DIA
Corta para:
CENA 23. QUARTO RAFAEL. INT. DIA
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Rafael e Felícia na cama, seminus, acordam lentamente, sonolentos, cheios
de preguiça.
RAFAEL ― Que horas são?
FELÍCIA ― Pra que saber que horas são. Hoje é sábado, dia
de ficar na cama até tarde.
RAFAEL ― Mas precisamos levantar. Já dever tarde.
Felícia enrosca-se em Rafael, toda sedutora e envolvente.
FELÍCIA ― Vamos aproveitar mais. Tá tão bom nos dois
juntinhos aqui.
RAFAEL ― Você não cansa não? Estava quase
amanhecendo como fomos dormir, depois de...
(sexo) você sabe bem.
FELÍCIA ― É você quem me deixa assim, cheia de
vontade. E falando em vontade...
Felícia vai passando a mão pelo corpo de Rafael, que não agüenta de
vontade, parte pra cima de Felícia e vão pra debaixo do lençol.
Corta para:
CENA 24. MANSÃO VENÂNCIO. SALA. INT. DIA
Belarmino está no sofá, lendo o jornal. Maurício, vestido de Elvis, entra
conversando com Douglas. Passaram a noite fora.
BELARMINO ― (recriminando) Pai e filho na esbórnia,
chegando uma hora dessas em casa. Esse mundo
está perdido mesmo.
MAURÍCIO ― Bom dia pro senhor também, pai.
DOUGLAS ― Estávamos trabalhando, vô.
BELARMINO ― E chamam isso de trabalho? O pai vestido
pateticamente como Elvis Presley e o filho.../
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DOUGLAS ― (corta) Um DJ que anima festas, eventos,
boates, até asilo se me chamarem. Um dia eu serei
reconhecido por meu trabalho e até, quem sabe,
criando fama internacional.
MAURÍCIO ― Se Deus quiser, filho.
DOUGLAS ― O senhor um dia vai ter um neto famoso, vô.
BELARMINO ― Não to falando? Dois deslumbrados.
MAURÍCIO ― (explode) O senhor só puxa saco e defende o
Venâncio porque ele sustenta seu vício pela
jogatina. Mas ao contrário do seu filho preferido,
que tem um passado duvido, eu e meu filho
trabalhamos honestamente, fazendo o que
gostamos: eu representando meu ídolo Elvis e o
Douglas sendo um DJ.
Venâncio aparece no alto da escada.
VENÂNCIO ― Ouviu meu nome nessa discussão ridícula?
MAURÍCIO ― (irônico) Seu filho preferido chegou, pai.
VENÂNCIO ― Que discussão é essa logo cedo?
DOUGLAS ― É que o vô que não aceita meu trabalho e do
meu pai.
BELARMINO ― Só falo o que eu acho e ponto. E dou um
conselho: arrume um emprego descente se
quiserem ter algo concreto na vida.
DOUGLAS ― Vou pro meu quarto. Pra mim já deu.
Douglas vai pro quarto. Venâncio aproxima-se mais de Maurício.
VENÂNCIO ― (ameaçador) Cuidado com o que você fala.
Lembre-se que você e seu filho moram na minha
casa e são sustentados por mim.
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MAURÍCIO ― Não vai demorar muito e eu saio dessa casa
com o Douglas.
VENÂNCIO ― É um favor que você vai fazer.
Maurício sobe pro seu quarto.
Corta para:
CENA 25. QUARTO MAURÍCIO. INT. DIA
Maurício, irritado, conversando com Douglas.
MAURÍCIO ― O Venâncio e o meu pai conseguem me tirar
do sério.
DOUGLAS ― Calma, pai.
MAURÍCIO ― Sempre me colocando pra baixo, me
humilhando.
DOUGLAS ― (intrigado) O que você quis dizer quando
acusou o Venâncio de ter um passado duvido?
MAURÍCIO ― (desconversa) Deixa pra lá, Douglas. Falei no
calor da emoção.
Douglas estranha, mas aceita.
Corta para:
CENA 26. MANSÃO VENÂNCIO. SALA. INT. DIA
Venâncio e Belarmino conversam.
BELARMINO ― Tá indo naquele lugar?
VENÂNCIO ― Não demoro.
BELARMINO ― Preciso de mais dinheiro.
VENÂNCIO ― O senhor vai me levar à falência assim, pai.
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BELARMINO ― O dinheiro que você me dá, nem faz cócegas
no dinheiro que tu ganha naquela gravadora.
VENÂNCIO ― E que o senhor perde tudo nesses bingos
clandestinos que freqüentam.
BELARMINO ― Eu sei o que você fez pra chegar onde chegou,
Venâncio. Tenho você em minhas mãos.
Venâncio, intimidado, preenche um cheque e entrega pra Belarmino.
VENÂNCIO ― Tá bom assim?
BELARMINO ― (satisfeito) Poderia ser mais, mas está bom.
VENÂNCIO ― Vocês todos não passam de um bando de
sangue sugas.
Venâncio saí furioso, batendo a porta. Belarmino dá um beijinho no
cheque, feliz.
Corta para:
CENA 27. QUARTO RAFAEL. INT. DIA
Rafael e Felícia acabam de se amarem. Rafael exausto.
RAFAEL ― Você me mata assim.
FELÍCIA ― Só se for de muito amor!
RAFAEL ― Vou tomar uma ducha.
Rafael dá um pulo da cama e vai pra suíte.
Corta rápido para:
CENA 28. SUÍTE RAFAEL. INT. DIA
Rafael no box, tomando uma ducha. Felícia, vestido uma blusa dele, está se
olhando no espelho, vaidosa.
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FELÍCIA ― Temos que marcar logo a data do nosso
casamento, Rafael.
Rafael reage.
FELÍCIA ― Já me vejo entrando na igreja da Candelária,
usando um vestido lindo, com uma calda enorme,
e você no altar, como um príncipe, me esperando.
Rafael desliga o chuveiro. Felícia lhe entrega a toalha.
RAFAEL ― Você vai até estranhar o que vou dizer, mas
nunca quis me casar.
FELÍCIA ― (estranha) Como é?
Corta rápido para:
CENA 29. QUARTO RAFAEL. INT. DIA
Rafael e Felícia vêem da suíte.
FELÍCIA ― (nervosa) Que conversa é essa, Rafael. Tá
querendo dizer que não vai se casar comigo? Que
está me enrolando?
RAFAEL ― Calma. Deixa que eu explique.
FELÍCIA ― É bom mesmo.
RAFAEL ― Nunca me vi casando, criando uma família,
tendo filhos. Sempre me vi solto no mundo,
viajando por aí, sem rumo, destino.
Felícia abraça Rafael, dengosa.
FELÍCIA ― Aí você me conheceu, se apaixonou e mudou
de idéia, não é isso?
Rafael não responde, apenas sorri.
FELÍCIA ― Seremos tão felizes juntos quando casarmos,
Rafael. Mais do que já somos. Mas vou
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adiantando, só quero um filho. além de dar muito
trabalho, gravidez acaba com o corpo da mulher.
Corta para:
CENA 30. FAVELA MACAQUINHA. EXT. DIA
Movimentação dos moradores, dos comerciantes. Crianças brincando na
rua, vizinhas conversando e fofocando. Música animada dá o tom do lugar.
Corta para:
CENA 31. QUARTO BEBEL. INT. DIA
Bebel liga o som, num volume bem alto. Começa a tocar uma música bem
dançante e animada da Beyoncé. Bebel vai até a parede, onde tem um
pôster grande da cantora e olhando pro pôster fala:
BEBEL ― Diva! Um dia vou ser igual a você: linda, rica e
poderosa!
Corta para:
CENA 32. QUARTO TADEU. INT. DIA
Tadeu dorme. A música alta que vem do quarto de Bebel invade o quarto
de Tadeu, que acordar de rompante, incomodando com a música alta. Pega
seu celular e dá um pulo da cama quando vê as horas. Corta para:
CENA 33. QUARTO BEBEL. INT. DIA
Bebel dança animada a coreografia da música, que continua tocando alta.
Seu celular está gravando tudo.
BEBEL ― (pro celular) Coreografia nova, galera.
Bebel dança animada pra câmera do seu celular. Tadeu aparece na porta.
TADEU ― Abaixa isso aí, Bebel.
BEBEL ― Me deixa, Tadeu. Estou mostrando pros meus
seguidores a nova coreografia que criei.
Bebel continua com sua coreografia. Tadeu deixa de lado e saí.
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Corta para:
CENA 34. MERCADINHO ARMANDO. INT. DIA
Armando acaba de entregar uma sacola com um produto pra sua cliente,
que paga e saí. Tadeu entra, apressado, já pegando sua caixa de isopor e
indo até o freezer pegar os sacolés que vende.
TADEU ― Bênção, vô.
ARMANDO ― Deus te abençoe, meu neto. Que barulheira
toda é essa lá em cima?
TADEU ― É a Bebel escutando música e dançando
também.
ARMANDO — Vai ficar surda desse jeito.
TADEU ― Dessa vez nem posso reclamar, pois foi essa
música alta que ela está escutando que me
acordou. Perdi a hora.
ARMANDO ― Tô vendo. Até achei que não fosse sair pra
vender seus sacolés.
TADEU ― Final de semana a praia bomba e uma hora
dessas já deve estar cheio. Preciso ganhar dinheiro
vô, quitar logo minha moto.
ARMANDO ― Tenho tanto orgulho de você, Tadeu. Desde
molequinho sempre foi trabalhador, me ajudando
aqui na venda, sem medo de pegar no pesado.
TADEU ― Você quem me ensinou ser assim, seu
Armando. O homem que eu sou devo ao senhor,
que não deixou que eu seguisse pelo caminho da
bandidagem, do crime, como alguns amigos de
infância resolverem seguir.
Armando abraça orgulho o neto.
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TADEU ― Agora deixa eu ir, que já estou mais do que
atrasado. E a concorrência é forte.
Tadeu caminha saindo da loja.
ARMANDO ― Hoje é aniversário da sua mãe.
TADEU ― Pra mim minha mãe está morta, vô.
Tadeu saí e tromba com Figura.
FIGURA ― Já fiz a entrega que o senhor mandou.
ARMANDO ― Demorou, né? Aposto que ficou por aí
fofocando, se inteirando da vida alheia.
FIGURA ― Que isso, seu Armando. Nem faço isso.
ARMANDO ― Sei... Vai lá em cima e pede pra Bebel abaixar
esse som. Depois volta, que tem uma outra
entrega pra você fazer.
FIGURA ― Não é muito longe não, né? Tô com uma unha
encravada que está doendo pra caramba.
ARMANDO ― Para de reclamar e vai fazer o que eu te
mandei.
Corta para:
CENA 35. QUARTO BEBEL. INT. DIA
Música continua alta. Bebel está parada em frente ao espelho, ajeitando seu
cabelo. Figura aparece na porta e fica lhe admirando. Bebel percebe.
BEBEL ― Vai ficar parado igual um dois de pau me
observando.
FIGURA ― Seu avô pediu pra você abaixar a música.
Bebel, contrariada, abaixa o volume da música.
BEBEL ― Tá bom. Abaixei já. Satisfeito?
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Figura fica admirando mais Bebel.
BEBEL ― Que foi?
FIGURA ― Quando vou ter chance com tu, Bebel?
BEBEL ― Só se for em outra vida, Figura. Isso se você
for rico e bonito, o que eu acho bem difícil. Agora
saí, me deixa.
Figura, chateado, saí. Bebel continua diante do espelho.
Corta para:
CENA 36. PRAIA. EXT. DIA
Praia cheia. Tadeu, carregando seu isopor, vende sacolé
TADEU ― Olha o sacolé... O melhor sacolé da praia
acabou de chegar...
Um casal aproxima-se dele e compram.
Corta para:
CENA 37. MANSÃO VARELLA. SALA/PISCINA. INT. EXT. DIA
Ambiente enfeitado. Mesa do almoço já arrumada tanta na sala, quanto na
piscina. É aniversário de casamento de Joaquim e Francisco. Garçons
circulam, Vânia coordena. Leilane passa pela sala. Dá um beijo em Otávio,
que num canto da sala jogando xadrez.
LEILANE ― Larga isso, Otávio.
OTÁVIO ― Calma, mãe. Estou quase vencendo a mim
mesmo.
Leilane estranha.
LEILANE ― Tem vezes que não te entendo, meu filho.
Quero dizer, a maioria das vezes.
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Leilane caminha pra piscina, onde encontra com Vânia, que acaba de dar
uma ordem pra um dos garçons.
LEILANE ― Não sei como você tem paciência pra lidar com
organização de festa. É muita chatice.
VÂNIA ― Além da dona Francisca ter me pedido pra
ajudá-la na organização desse almoço, eu também
gosta. Tenho vontade de abrir uma empresa de
organização de festas e eventos.
LEILANE ― Eu acho tudo um saco. É muito detalhe pra
preocupar. Gosto mesmo é de aproveitar a festa,
sem me preocupar com nada.
Vânia acha graça.
VÂNIA ― E nossos maridos, já deram notícias?
LEILANE ― O Mauro já está a caminho. Agora o Rômulo
eu já não sei. Liga pra ele.
VÂNIA ― Não fico em cima do meu marido como você,
Leilane. Controlando vinte e quatro horas por dia,
até no sono se conseguisse.
LEILANE ― Vigio mesmo. Tenho que tomar conta do que é
meu. Tem muita galinha doida pra ciscar no meu
terreiro.
VÂNIA ― Eu confio no Rômulo. Sei que ele seria incapaz
de me trair.
LEILANE ― Não confia tanto em homem não, Vânia. Por
isso que eu fico em cima. Aí se eu souber que
tem alguma de olho no meu marido. Eu mato e
faço uma galinha depois, igual a que eu comia nos
tempos em que era pobre.
Corta para:
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Mano a Mano Capítulo 01 Pág: 20
CENA 38. MANSÃO VARELLA. JARDIM. EXT. DIA
Num canto isolado, perto do canteiro de flores, Francisca está distante,
reflexiva, um pouco triste. Joaquim aproxima-se.
JOAQUIM ― Estava te procurando.
FRANCISCA ― Algum problema?
JOAQUIM ― Queria saber como está o andamento de tudo.
FRANCISCA ― A Vânia está me ajudando.
JOAQUIM ― Encontrei com ela, que além de me dizer onde
você estava, me disse que está tudo pronto. Só
falta os convidados chegarem.
Joaquim percebe Francisca triste.
JOAQUIM ― Que carinha triste é essa, Francisca?
FRANCISCA ― Tô aqui pensando na vida.
JOAQUIM ― Hoje é dia do aniversário do nosso casamento.
Mais um ano juntos, de união, cumplicidade e
acima de tudo felicidade.
FRANCISCA ― Acha que fomos e somos felizes, Joaquim?
JOAQUIM ― E não? Olha tudo o que temos, que
conquistamos ao longo desses anos. Uma bela
casa, família, filhos...
FRANCISCA ― Mas não falo de bens materiais. Falo de
sentimentos.
JOAQUIM ― Não estou entendendo aonde você quer chegar.
FRANCISCA ― Deixa pra lá.
JOAQUIM ― Então melhora essa cara, que hoje é dia de
alegria e não de tristeza.
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Joaquim pega na mão de Francisca.
JOAQUIM ― Vamos? Hoje o dia é nosso!
Francisca solta um leve sorriso, pega na mão de Joaquim e levanta. Os dois
seguem em direção a casa.
Corta para:
CENA 39. RUA CARIOCA. EXT. DIA
Rômulo, no seu carro, acaba de parar no sinal. Está distraído, pensativo. Do
outro lado da rua, uma turista está tirando uma foto da sua amiga, que usa
uma correntinha de ouro no pescoço. Marmita e Remo aproxima-se delas.
Agindo rápido, Marmita pega a máquina fotográfica, enquanto Remo puxa
a correntinha. Fogem apressados, em meios aos carros parado no sinal.
Dois guarda municipais vão atrás. Remo corre na frente e Marmita logo
atrás. Rômulo está de cabeça baixa, mexendo no seu celular. Em slow,
Remo passa na frente do carro de Rômulo, que olhando pro seu celular, não
vê seu gêmeo passando. Congela. Desse momento, corta para:
FIM DO CAPÍTULO