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DIRETORIA EXECUTIVA ! TRIÊNIO 2014 " 2017

Presidência – Marialva Carlos Barbosa (UFRJ)Vice-Presidência – Ana Silvia Lopes Davi Médola (UNESP)

Diretoria Financeira – Fernando Ferreira de Almeida (METODISTA)Diretoria Administrativa – Sonia Maria Ribeiro Jaconi (METODISTA)

Diretoria Cientí!ca – Iluska Maria da Silva Coutinho (UFJF)Diretoria Cultural – Adriana Cristina Omena dos Santos (UFU)

Diretoria de Projetos – Tassiara Baldissera Camatti (PUCRS)Diretoria de Documentação – Ana Paula Goulart Ribeiro (UFRJ)

Diretoria Editorial – Felipe Pena de Oliveira (UFF)Diretoria de Relações Internacionais – Giovandro Marcus Ferreira (UFBA)

Diretoria Regional Norte – Allan Soljenítsin Barreto Rodrigues (UFAM)Diretoria Regional Nordeste – Aline Maria Grego Lins (UNICAP)Diretoria Regional Sudeste – Nair Prata Moreira Martins (UFOP)

Diretoria Regional Sul – Marcio Ronaldo Santos Fernandes (UNICENTRO)Diretoria Regional Centro-Oeste – Daniela Cristiane Ota (UFMS)

Conselho FiscalElza Aparecida de Oliveira Filha (UP)Luiz Alberto Beserra de Farias (USP)

Osvando José de Morais (UNESP)Raquel Paiva (UFRJ)

Sandra Lucia Amaral de Assis Reimão (USP)

Conselho Curador – quadriênio 2013-2017Presidente – José Marques Melo

Vice-presidente – Manuel Carlos ChaparroSecretária – Cicilia Peruzzo

Conselheiro – Adolpho Carlos Françoso QueirozConselheira – Anamaria Fadul

Conselheiro – Antonio Carlos HohlfeldtConselheiro – Gaudêncio Torquato

Conselheira – Margarida KunschConselheira – Maria Immacolata Vassallo de Lopes

Conselheira – Sonia Virginia Moreira   

Secretaria Executiva IntercomGerente Administrativo – Maria do Carmo Silva Barbosa

Web Designer – Genio de Paulo Alves NascimentoAssistente de Comunicação e Marketing – Jovina Gomes Fonseca

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Maria Cristina GobbiJosé Marques de MeloOsvando J. de Morais

(Organizadores)

Aleta Tereza Dreves(Organizadora Assistente)

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Direção EditorialFelipe Pena de Oliveira

PresidênciaMuniz Sodré (UFRJ)

Conselho Editorial – Intercom

Alex Primo (UFRGS)Alexandre Barbalho (UFCE)

Ana Sílvia Davi Lopes Médola (UNESP)Christa Berger (UNISINOS)

Cicília M. Krohling Peruzzo (UMESP)Erick Felinto (UERJ)

Etienne Samain (UNICAMP)Giovandro Ferreira (UFBA)

José Manuel Rebelo (ISCTE, Portugal)Jeronimo C. S. Braga (PUC-RS)José Marques de Melo (UMESP)

Juremir Machado da Silva (PUCRS)Luciano Arcella (Universidade d’Aquila, Itália)

Luiz C. Martino (UnB)Marcio Guerra (UFJF)

Margarida M. Krohling Kunsch (USP)Maria Teresa Quiroz (Universidade de Lima/Felafacs)

Marialva Barbosa (UFF)Mohammed Elhajii (UFRJ)

Muniz Sodré (UFRJ)Nélia R. Del Bianco (UnB)Norval Baitelo (PUC-SP)

Olgária Chain Féres Matos (UNIFESP)Osvando J. de Morais (UNESP)

Paulo B. C. Schettino (UFRN/ASL)Pedro Russi Duarte (UnB)

Sandra Reimão (USP)Sérgio Augusto Soares Mattos (UFRB)

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Maria Cristina GobbiJosé Marques de MeloOsvando J. de Morais

(Organizadores)

Aleta Tereza Dreves(Organizadora Assistente)

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Geração 35 anos Intercom: Novos artí! ces das Ciências da Comunicação

Copyright © 2014 dos autores dos textos, cedidos para esta edição à Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM

EditorOsvando J. de Morais

Projeto Grá! co e DiagramaçãoMariana Real e Marina Real

CapaMariana Real e Marina Real

RevisãoCarlos Eduardo Parreira

Todos os direitos desta edição reservados à:Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOMRua Joaquim Antunes, 705 – PinheirosCEP: 05415 – 012 – São Paulo – SP – Brasil – Tel: (11) 2574 – 8477 / 3596 – 4747 / 3384 – 0303 / 3596 – 9494http://www.intercom.org.br – E-mail: [email protected]

Ficha Catalográfica

Geração 35 anos Intercom : Novos artífices das Ciências da

Comunicação / Organizadores, Maria Cristina Gobbi, José Marques de Melo, Osvando J. de Morais. – São Paulo : INTERCOM, 2014.

180 p. ; 21 cm ISBN 978-85-8208-072-6

1. Comunicação. 2. História. 3. Intercom. 4. Cultura.

5. Comunidade. I. Gobbi, Maria Cristina. II. Melo, José Marques de. III. Morais, Osvando J. de. IV. Título.

CDD-300

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Sumário

Prefácio 9José Marques de Melo

Apresentação 13Maria Cristina GobbiAleta Dreves

Aleta Tereza DrevesA Intercom e a minha história! 27

Andréa ArianiA Intercom e Eu 39

Ariane Carla Pereira FernandesCruzamentos 45

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Denio Santos AzevedoGeração de Memórias: o Eu-Intercom 55

Luciana Almeida das ChagasResgatar a memória, tecer uma história 73

Mario Abel Bressan JuniorHistórias, Caminhos e três Décadas e Meiade Pesquisa: Pro!ssão, Intercom e Telenovela 93

Matheus Pereira Mattos FelizolaMemorial descritivo do professorMatheus Pereira Mattos Felizola 113

Pablo Cezar Laignier de SouzaEm busca do ponto perdido 129

Rachel Severo Alves NeubergerSou jornalista de sangue! 145

!iane de Nazaré Monteiro NevesO ir e vir de uma velha-nova amiga 167

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Prefácio 9

Prefácio

Geração Intercom

José Marques de Melo1

Gestor do Projeto Geração INTERCOM

Fundada em 1977, a INTERCOM inicia as comemorações do seu 35º aniversário, promovendo atividades que potencia-lizam sua signi!cação social. Também concretiza iniciativas destinadas a emular os sócios das novas gerações, incentivan-do seu bom desempenho acadêmico.

Um desses projetos focaliza a Geração INTERCOM, cons-tituída pelos sócios cujas histórias de vida começaram no mes-mo ano da criação da nossa sociedade cientí!ca.

1. Diretor-titular da Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação. Professor Emérito da Universidade de São Paulo. Presidente de honra da Intercom. Ide-alizador e coordenador do Projeto Geração Intercom.

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Geração 35 anos Intercom10

O inventário preliminar dos sócios que nasceram no mes-mo ano da nossa fundação revela dados singulares. Levanta-mento feito pela nossa Secretaria identi!cou 39 sócios nasci-dos em 1977. O per!l desse contingente mostra que as mulhe-res (22) estão ligeiramente à frente dos homens (17).

Sua distribuição geográ!ca compreende todas as regiões do país, com incidência residual no centro-oeste (l), a liderança do sudeste (12) e o relativo equilíbrio entre o sul (10) e o nor-deste (9), evidenciando-se o avanço do norte (7).

Considerando as cidades onde residem ou trabalham, São Paulo concentra o maior contingente (8), acompanhada a distância por Belém (3). Estão no mesmo patamar: Aracaju, Maceió, Rio de Janeiro, Manaus, Blumenau, Guarapuava, São Borja (2 em cada cidade) e Rio Branco, Vilhena, Teresina, Na-tal, Recife, Jaboatão, Salvador, Florianópolis, Tubarão, Curiti-ba, Santo André, São Bernardo do Campo, Barra do Garças (1 em cada cidade).

Geração INTERCOM, está assim constituída:

NORTE – Aleta Breves (Acre), Carolina Venturini, Tatiane Ferreira e 1iane Neves (Pará), Edilene Oliveira e Jonária da Silva (Amazonas), Lilian Coelho (Roraima).

NORDESTE – Denio Azevedo e Mario Abel Junior (Ser-gipe), Fernanda Leite e José Guibson Dantas (Alagoas), Lia

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Prefácio 11

Luz (Rio Grande do Norte), Luciana Chagas (Piauí), Mari-na Gomes e 1iago Soares (Pernambuco), Rachel Neuberger (Bahia).

CENTRO-OESTE – Leandro Gomes (Mato Grosso).

SUDESTE – Andrea Ariane, Basilio Takyi, Claudia Rebe-chi, Flavio Queiroz, Kleber Carrilho, Marcia Regina da Silva, Marcos Correa, Sergio Pinheiro da Silva, Jackson Alencar e Silvia Dantas (São Paulo), Luciano de Melo Dias e Pablo Souza (Rio de Janeiro).

SUL – Ariane Fernandes, Catia Reis, Everly Pegoraro (Pa-raná), Deivi Oliari, Isabelle Brito, Luciane Dias, Marcelo San-tigno Neto, Mario Abel Junior (Santa Catarina), Elisa Terra, Fabio Corniani (Rio Grande do Sul).

São Paulo, 28 de maio de 2012

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Apresentação 13

ApresentaçãoGeração INTERCOM: novos artífices das Ciências da Comunicação

Maria Cristina Gobbi1

Aleta Dreves2

1. Pós-doutora pelo Prolam-USP (Universidade de São Paulo – Brasil), doutora em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Vice--coordenadora e professora do Programa de Pós-Graduação Televisão Digital da Unesp de Bauru. Professora do Programa de Pós-Graduação da mesma instituição. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Pensamento Comunicacio-nal Latino-Americano e Comunicação Digital e Interfaces Culturais na Amé-rica, do CNPq. Diretora administrativa da Socicom e representante da Rede Folkcom. E-mail: [email protected]; [email protected]

2. Possui graduação em Comunicação Social pela Faculdade de Pato Branco - FA-DEP (2004). É especialista em Informática em Educação, pela Universidade Fe-deral de Lavras (2008). Atualmente é Professora Auxiliar de Ensino do Curso Comunicação Social da Universidade Federal do Acre UFAC e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital da Universidade Estadual Pau-lista Júlio de Mesquita Filho Campus Bauru - SP. E-mail: [email protected].

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Breve resgate sobre a Intercom

Fundada em 1977, a Intercom (Sociedade Brasileira de Es-tudos Interdisciplinares da Comunicação) constitui-se como principal representante da área da Comunicação no Brasil. Sua estrutura, funcionamento e, principalmente, as atividades que realiza – como a promoção de congressos e a publicação de livros e de periódicos, por exemplo – são responsáveis pela circulação de boa parte do conhecimento produzido e acumu-lado por pesquisadores desse campo. Não por acaso, os indica-dores que a entidade oferece dão conta de espelhar signi!cati-vo per!l de desenvolvimento da área no país.

A história dessa associação cientí!ca acompanha a pró-pria história do Brasil contemporâneo. Idealizada por pes-quisadores de São Paulo, a Intercom nasceu num momento em que a ditadura militar começava a apresentar sinais de declínio e a comunidade cientí!ca – não só da Comunicação, mas também de outras áreas – percebia, nas sociedades civis um espaço propício para oxigenar ideias e dinamizar o co-nhecimento que, muitas vezes, não circulava entre os pares. Tratava-se, portanto, de um tempo de resistência e de luta. A começar pelo fato de que a Comunicação não era área legi-timada sequer dentro do espaço universitário. Embora exis-tissem na época outras duas entidades em funcionamento. A Abepec (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em

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Apresentação 15

Comunicação) e a UCBC (União Cristã Brasileira de Comu-nicação Social).

Muitos relatos que foram feitos posteriormente pelos sócios fundadores da Intercom demonstram que, além dos problemas de legitimação da área, os pesquisadores também enfrentavam obstáculos gerados pela própria situação política do país. Ape-sar de aparentar ser um cenário mais brando, se comparado aos momentos extremamente conturbados que caracterizaram os primeiros anos do regime militar, as organizações formadas por civis não eram bem vistas. Na verdade, eram considera-das “perigosas”. Por isso mesmo, os primeiros encontros dos associados, bem como as reuniões de estudos coletivos – que aconteciam periodicamente –, ocorriam em diferentes lugares, geralmente fora dos muros das universidades.

A constituição o!cial da Intercom se deu no dia 12 de de-zembro de 1977, durante uma reunião realizada na Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, localizada na Avenida Paulista, principal centro !nanceiro da capital do Estado de São Paulo. Foi ali, numa sala de aula, que um pequeno grupo concretizou o projeto que começara a ser desenhado algum tempo antes, mais precisamente em julho daquele ano, duran-te a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizado na Pontifícia Universidade Ca-tólica de São Paulo (PUC-SP), por incentivo do cardeal Paulo

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Evaristo Arns. Mesmo em meio a uma conjuntura “pouco fa-vorável às sociedades civis, arregimentadoras de parcelas ex-pressivas da inteligência nacional” (Marques de Melo, 2003, p. 239), os fundadores da nova associação buscavam promover o avanço dos estudos em Comunicação, de!nindo estratégias que contemplavam, já de início, a difusão da crítica coleti-va, sistematizada em trabalhos de pesquisa desenvolvidos em todo o país.

Dois aspectos revelam a precoce tendência da entidade para a organização dos estudos da área: a realização de even-tos regulares, desde o primeiro ano de existência, e a rápida ampliação de seu quadro social. Em novembro de 1978 foi re-alizado, em Santos (SP), o I Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, posteriormente transformado em Congres-so Brasileiro de Pesquisadores da Comunicação (a partir de 1989) e, !nalmente, em Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (a partir de 1995).

É válido dizer que um grande desa!o da Intercom foi or-ganizar seus congressos anuais de modo a levá-los para dife-rentes regiões do país. Nas primeiras duas décadas, o even-to nacional só havia sido realizado nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste, sendo 14 deles apenas no Estado de São Paulo; nes-se período, outros dois ocorreram no Sudeste (um em Minas Gerais e outro no Rio de Janeiro), três no Sul (um em cada

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Apresentação 17

estado: Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná) e mais um no Nordeste, em Sergipe. Somente com os congressos de 2000 e de 2001, no Amazonas e no Mato Grosso do Sul, respecti-vamente, é que todas as regiões foram contempladas; mesmo assim, o Centro-Oeste aparece novamente na lista em 2006 e a região Norte, em 2013.

Não obstante as regiões mais privilegiadas correspondam aos espaços “onde estão concentrados os maiores contingentes dos produtores do conhecimento comunicacional”, a Intercom assumiu – mediante o crescimento dos cursos de Comunica-ção em todo o país – “o compromisso de promover congressos nos espaços mais distanciados, com a intenção de estimular o desenvolvimento da pesquisa cientí!ca” (Marques de Melo, 2003, p. 182). E isso começou a partir de 1988, com os SIPEC’s (Simpósios de Pesquisa em Comunicação), realizados nas cinco macrorregiões brasileiras. Em 2006, eles passaram a re-ceber o mesmo nome do evento nacional, com o acréscimo da região promotora (por exemplo, Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte). Seu objetivo, descrito no site o!cial da entidade3, “é instaurar um fértil diálogo plural entre sujeitos diferenciados, no sentido de fomentar as diversidades regionais para fortalecer a identidade nacional, numa conjun-tura marcada pela globalização”.

3. Disponível em www.intercom.org.br, acesso em ago de 2014.

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De volta aos congressos nacionais, vale destacar que eles têm acolhido, nos últimos anos, contingente superior a 3 mil congressistas, sendo que, em 2002, esse número chegou a 5 mil e, em 2009, ultrapassou a margem de 4.800. Não sem aca-so, o evento é reconhecido por ter se legitimado como “fórum apropriado para diagnosticar os avanços e recuos do ensino, bem como para mapear as tendências da pesquisa” (Marques de Melo, 2008, p. 7), destinando espaços para pesquisadores plenos, em formação e iniciantes. Aliás, um aspecto bastante positivo, reforçado por seus sócios mais antigos, é que a Inter-com se caracteriza como uma “sociedade cientí!ca que cha-ma os estudantes para discutirem os temas da comunicação” (FADUL, 2005, on-line). Além das reuniões voltadas aos pes-quisadores já titulados e aos alunos de mestrado e doutorado, os congressos – regionais e/ou nacionais – também oferecem atividades para granduandos, como o!cinas e mesas especiais, além da Expocom (Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação) e do Intercom Júnior, nos quais os alunos de cursos de graduação podem expor seus trabalhos experimen-tais e suas pesquisas de iniciação cientí!ca4.

4. A Expocom, em sua 17ª edição (2010), foi realizada desde o 17º Congres-so Brasileiro de Pesquisadores da Comunicação, que ocorreu em 1994, na Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep); ao longo dos anos, passou por várias con!gurações e padronizações, até chegar ao regulamento atual. O Intercom Júnior, por sua vez, começou a ser promovido no 28º Congresso

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Apresentação 19

Os convidados das conferências de abertura são escolhas cuidadosas da Intercom, uma vez que como pode ser obser-vado no quadro acima, esses são notadamente especialistas, reconhecidos nacional e internacionalmente pela comunidade cientí!ca, nas temáticas abordadas. Mas do que privilegiar a região ou os centros hegemônicos de estudos em comunica-ção, a escolha do conferencista central busca apresentar para os participantes do evento o “estado da arte” com referência ao tema central escolhido para o debate, naquele ano. Também é importante destacar que foi a partir de 2001 que uma nova sis-temática da escolha do tema do congresso, através de consulta prévia aos sócios da entidade, foi inaugurada.

O número de participantes dos eventos da Intercom já ul-trapassou a cifra dos 50 mil, tendo uma média acima de 3 mil participantes ano, isso sem contar os não inscritos, que aca-bam circulando durante todo o evento. Esse número oferece a dimensão aproximada da representatividade da entidade em termos de interessados em comunicação, alunos da pós--graduação e da graduação, pro!ssionais, especialistas, profes-sores, pesquisadores e estudiosos da área. É possível a!rmar que essa multiplicidade de público tem sido uma das marcas mais fortes da Intercom, sendo ela a única entidade cientí!ca

Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 2005.

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a contemplar os diversos estágios (graduação, pós-graduação, especialização, mestrado, doutorado e estudantes em todas es-sas modalidades) do desenvolvimento dos estudos na área.

Desde sua fundação a entidade manteve a periodicidade de seu congresso anual, a diversidade no que tange ao tema cen-tral tratado e tem ampliado signi!cativamente a quantidade de eventos paralelos realizados durante o seu Congresso Na-cional. Essas outras atividades, por si, permitem o dimensio-namento de uma nova investigação, quem sabe a ser realizada por essa equipe.

Geração INTERCOM

Foi no ano de 2012 que a Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação) comemorou 35 anos de existência. Junto com essa maturidade acadêmica muitos desa!os ainda precisam ser transpostos.

Para comemorar a efeméride o professor José Marques de Melo, Presidente de Honra da entidade, sugeriu um levanta-mento sobre os sócios que também completariam 35 anos de vida. A sistematização inicial !cou sob a responsabilidade do Genio Nascimento, Maria do Carmo e depois foi integrada por Cristiane Parnaiba, todos integrantes da equipe Intercom. Foram identi!cados 39 sócios nascidos em 1977, nas cinco re-giões do país. Nascia assim o Projeto Geração Intercom.

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Apresentação 21

A ideia inicial foi contatar esses pesquisadores e saber sobre a carreira intelectual, quais universidades estavam e desa!á--los para ponderarem sobre as atividades da Intercom nos seus 35 anos de existência e a participação de cada um na entidade, uma vez que todos são sócios.

Iniciada a primeira etapa, a seguinte era a de reunir a Ge-ração Intercom de forma presencial, para que todos pudes-sem trocar ideias e consolidar a formação do grupo. Assim, o primeiro encontro ocorreu entre os dias 12 e 13 de dezembro de 2012, durante o SINACOM (VII Simpósio Nacional de Ci-ências da Comunicação), realizado e patrocinado pela Inter-com, em São Paulo. O evento teve como tema central “Gera-ção Intercom: novos artí!ces das Ciências da Comunicação” e contou com o apoio da Socicom (Federação Brasileira das Associações Cientí!cas e Acadêmicas de Comunicação) e do PPGCom-Unesp (Programa de Pós-Graduação em Comuni-cação da UNESP).

Ficou acertado durante a atividade que a Geração INTER-COM desenvolveria um per!l bio-biliográ!co e que partici-pariam do Congresso Nacional da entidade, que ocorreria em 2013, em Manaus, onde o mote central trataria dos 50 anos das Ciências da Comunicação no Brasil.

Deste modo, no ano seguinte, durante o Congresso da In-tercom 2013, a Geração INTERCOM se reuniu para debater

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Geração 35 anos Intercom22

o Pensamento Comunicacional Brasileiro: meio século de pesquisa e re2exão (1963-2013). A atividade, coordenada pe-los professores Maria Cristina Gobbi (Unesp) e José Marques de Melo (Umesp), foi realizada no dia 07 de setembro e teve mesas de trabalho que abordaram as temáticas: Pensamento Comunicacional Brasileiro: resgate histórico; Múltiplos olha-res, muitas vozes: as trans-formações comunicacionais; Gente igual, gente diferenciada e Espaços midiáticos na Comunica-ção: formatos e produções.

Participaram do evento os pesquisadores da Geração IN-TERCOM: Ariane Pereira (Unicentro), Denio dos Santos Azevedo (UFS), Fabio Corniani (Unipampa), Janine Marques Passini Lucht (ESPM-RS), Jonária França da Silva (UFAM), Luciano de Melo Dias (UFRJ), Marcia Regina Carvalho da Silva (Paulus), Matheus Pereira Mattos Felizola (UFS), 1iane de Nazaré Monteiro Neves (UFPA). Dentre as contribuições destacamos !guras emblemáticas do campo da Comunicação, como Francisco Gracioso, Lorival Fontes, Paulo Emilio Sales, Paulo Leminski; Ladell de Moura, Josepeh Luyten, Luiz Bel-trão, além de temáticas ligadas ao jornalismo, publicidade e propaganda, marketing, rádio, revista, comunicação popular, literatura de cordel etc. Os integrantes da Geração Intercom estão sistematizando as contribuições, que em breve deverá ser disponibilizada.

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Apresentação 23

A atividade integrou as comemorações de meio século de reconhecimento da Comunicação como área do saber acadê-mico. Essa trajetória tem como marco referencial a fundação do primeiro núcleo de estudos sistemáticos dos fenômenos de produção e difusão simbólica no país, o Icinform (Instituto de Ciências da Informação), criado por Luiz Beltrão, na Universi-dade Católica de Pernambuco, no ano de 1963. Emulados pelo Icinform, ou nele inspirados, vão se criando outros centros de pesquisa em comunicação nas universidades brasileiras que desenvolvem atividades de ensino na área. É ainda nesse contexto que os primitivos cursos de jornalismo, publicidade e cinema vão dar lugar às faculdades de comunicação, onde se organizam programas integrados de graduação, pesquisa e pós-graduação. Transcorridos 50 anos, torna-se indispensável fazer um balanço crítico das conquistas e das carências para lograr saltos qualitativos, aplainando o caminho para as novas gerações. Ao mesmo tempo é necessário fortalecer e revitalizar os ícones que servem de estímulo aos jovens pesquisadores.

Após esse breve relato, o material apresentado nesse volu-me traz o resultado do primeiro desa!o da Geração INTER-COM. Está disponível no livro o per!l de dez integrantes do grupo, que participaram das atividades propostas.

Para !nalizar, é necessário reforçar que o espaço está criado e a Intercom tem estimulado a participação dos jovens pesqui-

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sadores nessas atividades. Como disse o professor Marques de Melo ao propor a criação do grupo “Trata-se de um desa!o que pressupõe trabalho em equipe” e o apoio da Intercom tem sido fundamental em todo o processo para o fortalecimento e a consolidação da Geração INTERCOM.

Referências

FADUL A.. Intercom busca ampliar o debate sobre a área da Co-municação. Presidente da instituição fala sobre as di!culdades e conquistas da área. Entrevista. 25 dez. 2005. Disponível em: <www.unesp.br/int_noticia_2imgs.php?artigo=234>. Acesso 22 jul 2007.

MARQUES DE MELO, J. História do pensamento comunicacional: cenários e personagens. São Paulo: Paulus, 2003.

MARQUES DE MELO, J. Prólogo. In: RAMOS, M. C.; DEL BIAN-CO, N. R. Estado e Comunicação. Brasília: Casa das Musas; São Paulo: Intercom, 2008.

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Aleta Tereza Dreves

Possui graduação em Comunicação Social pela Faculdade de Pato Branco – FADEP (2004). É especialista em Informática em Educação, pela Universidade Federal de Lavras (2008). Atualmente é Profess ora Auxiliar de Ensino do Curso Comunicação Social da Universidade Federal do Acre UFAC e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Campus Bauru – SP. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em diagramação de jornais, fotografia e tecnologias digitais, atuando principalmente nos seguintes temas: comunicação, cultura, fotografia, tecnologias digitais e juventude. Pesquisadora dos seguintes grupos de pesquisa CNPq:

r�Grupo de Estudos e Pesquisas da Cultura Corporal e Comunicação na Amazônia – UFAC (líder);

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r�Ordenamentos políticos, desenvolvimento e comunicação na Amazônia – UFAC (pesquisador);

r�Pensamento Comunicacional Latino-Americano – UNESP (estudante).

Atuando nas seguintes linhas:

r�Comunicação Digital e Interfaces Culturais na América Latina;

r�Comunicação, juventude e mídia;

r�Gestão da Informação e Comunicação para Televisão Digital;

r�Políticas públicas de desenvolvimento e estratégias políticas de comunicação;

r�Redes sociais de comunicação e efeitos midiáticos.

Sócia da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom desde 2006.

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A Intercom e a minha história!

Um dia nublado, temperatura em torno de 20 graus, uma cidade grande, uma cultura diferente e apenas uma certeza, um endereço escrito em um pedaço de papel. Foi assim que cheguei na capita gaúcha, Porto Alegre – RS. Sem conhecer quase ninguém, sem nenhum amigo para ir ao Congresso, recém formada, distribuindo currículo por todos os lugares, sem muito dinheiro e com muita vontade de participar do In-tercom, 2004.

Desde que conheci a produção cientí!ca, ainda na minha graduação, me apaixonei. Sorte que sempre tive grandes in-centivadores. Em provocações na faculdade, aceitei o desa!o de escrever coletivamente, sob a coordenação da professora

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Debora Lopez, um artigo sobre webjornalismo comparado. Construímos em 10 mãos o nosso primeiro artigo, que, para a sorte da marinheira de primeira viagem foi publicado no 4º Congresso Red Com, na cidade de Córdoba, na Argentina em 2002. Foi maravilhoso, conhecemos a Argentina, tentamos fa-lar em espanhol e ainda por cima estávamos falando de comu-nicação. Por outro lado, foi chato também, tudo e todos falan-do em espanhol, não que eu não compreendesse, mas já estava enjoada, bom às vezes eu não compreendia muito. Sentia falta de alguma coisa, por mais bonito que seja o povo argentino, faltava o calor brasileiro e a vontade de falar em português sem ninguém olhar estranho.

Diante da excelente experiência em Córdoba e dos rumores de todos os meus professores eu criara uma enorme expecta-tiva para minha participação no XXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, em Porto Alegre – RS. Quando estive na graduação só pude participar de um congresso que não fora na minha cidade, este de Córdoba, ainda sim porque amigos me ajudaram, nunca tive condições !nanceiras para estar viajando em Congressos, mas vontade de ir sempre so-brava. Então, eu havia jurado para mim mesma, que antes de me formar participaria ao menos em um Congresso da Inter-com. Bom não foi muito como eu planejei, mas digamos que foi um mês depois de estar formada.

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Voltando ao começo, lá estava eu, na capital Gaúcha, sem eira nem beira, como se diz lá em Pato Branco – PR, apenas com minha pequena mochila de roupas, um papel com o en-dereço de uma irmã de uma amiga, perdida na rodoviária, esperando achar um ônibus que estivesse em rumo da Cida-de Baixa. En!m, cheguei na famosa Cidade Baixa, a irmã da minha amiga, a qual chamo de “Nure”, estava me esperando, descarreguei as tralhas, tomei um banho, fomos conversar. Ela me ensinou alguns pontos turísticos de POA, como e onde eu deveria pegar o ônibus para ir ao Congresso, tomamos um chimarrão, então sair andar. Sempre gosto de andar pelas cida-des que não conheço para tentar me localizar. Nure morava na cidade baixa perto do campus central da UFRGS. Não resisti e comecei passear pelo campus da UFRGS.

No outro dia acordei cedo e me preparei para ir ao Inter-com 2004. Primeiro encontro que participei neste congresso foi I Colóquio Transfronteiras Sul, as apresentações foram em um hotel que não consigo lembrar o nome. No outro dia me dirigi ao Congresso na PUC. A programação era vasta não sa-beria o que escolher dentre tantas oportunidades, discussões e artigos interessantes. Foram 3 dias intensos em Porto Alegre – RS, não consegui conhecer muito da cidade nesta oportu-nidade, estava mais interessada no congresso, mas consegui manter um grande amor, a Comunicação.

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Como tudo que é bom dura pouco, o congresso terminou, o dinheiro também, hora de retornar. Ainda predestinada a continuar a minha caminhada, saí de Porto Alegre – RS, rumo a Florianópolis – SC, em busca de trabalho e com a mala cheia de currículos. Quando adentrei ao ônibus para me sentar, eis que ao meu lado um moço com uma blusa do Intercom. Me sentei e puxei conversa, perguntei se ele estava no congresso, ele me respondeu a!rmativamente. Conversamos um pouco sobre o congresso, internet, fotogra!a, eis que pergunto de onde ele era. Ele respondeu com um sorriso sou do “Acre”, e eu pasma exclamei, nossa muito longe. Alexandre Viana era o nome do moço, a viagem era longa e nossa prosa também. Ficamos amigos, tínhamos muito em comum na área da co-municação e na área de internet. Perguntei se a Universidade que ele estudava era particular e ele respondeu eu era a Federal do Acre, perguntei novamente se ele sabia de concurso para professor e ele me respondeu, conversa com a Coordenadora Juliana Lofêgo. Chegamos ao nosso destino !nal a linda ilha da magia chamada Florianópolis-SC, nos despedimos troca-mos email e telefone e seguimos nossos caminhos.

Passei alguns dias na ilha da magia, distribui vários currí-culos, mas não obtive êxito momentaneamente, retornei à mi-nha cidade a famosa Pato Branco – PR. Atualmente estava tra-balhando com freelas, como diagramadora e fotógrafa. Resolvi

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arriscar em um projeto de empreendedorismo. Eu e um colega da faculdade montamos um site de fotogra!a chamado www.boanoiteseca.com.br. Trabalhávamos como fotógrafos de ba-res, boates, festas, baladas em geral. Algum tempo se passou e acabei fazendo outra sociedade, montando um jornal online da região do sudoeste do paraná aliado as fotogra!as, chama-do o Alvo, www.oalvo.com.br.

Os sites eram bons, a empresa crescia, mas algo me inquie-tava, na verdade eu gostava de estudar e estar na lida da pro-!ssão no dia a dia, me deixava muito distante e com pouco tempo para estudar. Foi quando apareceu a oportunidade de prestar um concurso para professora substituta da Universi-dade Federal do Acre, a vaga era para as disciplinas de Pla-nejamento Grá!co e Fotogra!a. Dia 22 de março de 2005, eu embarcava em um ônibus da União Cascavel, de Pato Branco – PR a Rio Branco – AC. Não tinha dimensão do tamanho da viagem e nem conceitos ou pré-conceitos sobre o Acre, na ver-dade havia olhado algumas fotos na internet e achei tudo mui-to bonito. Três longos dias dentro do “busão”, ou seja percorri 3478 km, passando estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia até aportar no Acre. No dia 26 de março de 2005 eu chegava em Rio Branco as 6 horas da manhã.

No dia 28 de março de 2005, eu prestei o concurso para pro-fessora substituta no curso de comunicação da UFAC. Passei e

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assumi em 13 de abril de 2005. E em dezembro de 2005, !quei em segundo lugar no concurso público para professor efetivo do curso de comunicação da UFAC. Em 2006, no mesmo mês em que me !liei a Intercom e coincidentemente fui chamada a assumir o cargo de Professora Auxiliar de Ensino do Curso de Comunicação da UFAC, tomando posse em junho do mesmo ano. Em setembro participei do Intercom Nacional em Bra-sília, com a apresentação de dois trabalhos, um no Altercom em parceria com o professor Wagner da Costa Silva, que pos-teriormente foi publicado na revista Inovocom (2006) e outro no Endocom, em conjunto com a professora Glaise Palma.

Em 2009, tivemos a sorte de ter uma etapa regional do In-tercom perto da nossa casa, na cidade de Porto Velho – RO, incentivei os alunos e rumamos em direção a Porto Velho, este Intercom Norte, foi especial, na verdade fui para levar os meus alunos, não havia mandando trabalho para o Congresso, ape-nas queria apresentar aos meus alunos o que era um congresso e almejava que eles vivenciassem tudo o que eu não pude vi-venciar em minha graduação. Eu jamais imaginaria a grande tarefa que iria assumir neste Intercom. Conheci duas pessoas importantes na minha vida, duas pessoas que me inspiram no dia a dia e me fazem acreditar que ser docente e trabalhar com comunicação realmente vale a pena, são duas Marias ... Maria Cristina Gobbi e Maria Ataide Malcher.

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Depois de muita conversa sobre o Norte, sobre a importân-cia da Comunicação em nossa Região e a importância de nos conhecermos e demonstrarmos o que estamos pesquisando. Ao !nal do Congresso, na celebre entrega do prêmio Expo-com, eis que a convite da Professora Maria Ataide Malcher, eu assumo o compromisso de levar a regional norte para Rio Branco – Acre, em 2010. Não sei se estava muito em um mo-mento de lucidez porém incentivada pelos meus alunos aca-bei aceitando. Exatamente 365 dias, era o prazo que eu tinha para nos preparamos. Ainda em 2009, participei do Intercom Nacional em Curitiba, consegui que mais alunos me acompa-nhassem. Foi um excelente congresso com muitas oportuni-dades. Muitas monogra!as dos alunos nasceram ali, diante de várias apresentações que eles assistiram, a!nal de contas eram mais de 4000 pessoas falando sobre a comunicação.

De volta a minha amada Rio Branco – AC, o desa!o havia começado, nunca tinha preparado um evento do porte da In-tercom Regional Norte. As parcerias foram fundamentais, o envolvimento dos alunos, da reitoria e outros setores da Uni-versidade, nos deram forças para seguirmos em frente. Mui-tas conversas, nos reuníamos quinzenalmente para discutir sobre o congresso. Muitas di!culdades em meio ao caminho, mas com a ajuda de todos conseguimos superar. Nos dias do congresso eu nem acreditava que de fato estava acontecendo

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o Intercom Norte no Acre, (2010), deu tudo certo o congresso foi aconchegante os alunos tanto da UFAC, como os do Pará, Amazonas, Rondônia, Amapá, estavam todos radiantes e con-tentes com o congresso, posso assegurar que para os alunos da UFAC, este Intercom foi um marco, para que ninguém mais perdesse nenhum outro Intercom.

Ainda em 2010, participei do Intercom Nacional em Caxias do Sul, sempre acompanhada dos meus alunos. Di!cilmente consigo levar mais do que 20 alunos. O problema de se morar em um estado tão afastado é o descolamento. A Universidade Federal do Acre, não paga passagens aos alunos de avião, so-mente de ônibus, o que di!culta muito quando os congressos são no Sul. Se utilizarmos o transporte aéreo nossa rota obri-gatória para qualquer viagem é Brasília, o que ocasiona mais tempo parados em aeroportos do que voos propriamente ditos.

Em 2011, tive o prazer de ajudar na organização do Regio-nal Norte em Boa Vista – RR, trabalhando em conjunto com a coordenadora do evento Claudia Soria Bardal e a diretora da regional Norte Maria Ataide Malcher. Também participei do Nacional em Recife – PE. Em 2012, participei do Intercom Nacional em Fortaleza – CE, onde tive o prazer de ganhar o certi!cado e fazer parte da Geração Intercom. Tenho a mesma idade que a Intercom, quando nasci a maioria dos pesquisado-res que me inspiram e me ensinam a comunicação, já estavam

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trilhando este caminho e iniciando uma Sociedade que é a re-ferência brasileira em comunicação para o mundo. A minha história pro!ssional está diretamente ligada a esta entidade a qual tenho orgulho em fazer parte.

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Andréa Ariani Pós-graduada em jornalismo esportivo pela FAAP. Possui graduação pela Universidade Metodista de São Paulo (2001). Atua no jornalismo digital e impresso e tem experiência com assessoria de imprensa, redação, coordenação, administração e eventos.

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A Intercom e Eu

Minha primeira experiência com o Intercom foi no !nal de 2001. Meu trabalho de conclusão da graduação foi, naquele ano, um dos melhores da banca de Comunicação da Universi-dade Metodista de São Paulo, e foi indicado pela coordenação do curto de Rádio e TV, mas por problemas de calendário aca-bou não entrando na seletiva. Foi assim que conheci o Inter-com e soube de sua importância.

Eu fui trabalhar com cinema, depois com administração, !quei afastada da área por um bom tempo, mas sempre acom-panhando as novidades e os congressos nacionais da Intercom pela Internet. Ficou na minha cabeça a possibilidade de ter um trabalho de pesquisa entre os selecionados. Foi então fazendo

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pós-graduação na FAAP em jornalismo esportivo. Naquele início de 2011 já tínhamos que de!nir qual seria o tema do trabalho de conclusão de curso. Decidi por ele para aproveitar a preparação para os próximos eventos esportivos que integra-ram o calendário do Brasil de 2013 em diante.

Meu tema de escolha foi falar sobre mulheres no jornalis-mo esportivo. Achei que só focar no trabalho jornalístico se-ria su!ciente, mas infelizmente, dentro e fora do jornalismo, o campo de trabalho envolve a questão de gêneros, masculino x feminino, um desa!o a mais às pro!ssionais. Por orientação do professor Tiago de Paula Oliveira segui por esse caminho e a sugestão dele antes da apresentação do trabalho e que ins-crevêssemos um artigo para o congresso nacional do Intercom daquele ano. Para a minha surpresa, o artigo foi aceito e al-guns meses antes da apresentação do trabalho !nal na banca da faculdade, fui com um colega de classe também seleciona-do, os nossos únicos trabalhos da FAAP de SP, apresentar a ideia em um dos painéis do Congresso realizado em Recife. Exatos dez anos depois daquela primeira oportunidade eu es-tava em frente a uma plateia de estudantes e pesquisadores que como eu amam e discutem comunicação e se reúnem para os temas pertinentes a nossa pro!ssão. O tema central era sobre o conhecimento empírico. Eu fui uma prova, através do meu trabalho desse tipo de pesquisa, que deve ultrapassar o acadê-

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mico e ir atrás da vivência, da experiência. E foi fazendo entre-vistas com pro!ssionais da área que pude mergulhar de cabeça na função jornalística de colocar o pé na rua e ir pessoalmente conhecer bons personagens e boas histórias.

Essa participação no congresso foi fundamental para que desse segmento ao meu trabalho de conclusão da pós e aju-dou muito o debate para que eu formulasse as considerações !nais da monogra!a. Todo esse conjunto de esforços !zeram que eu novamente fosse a maior nota da banca da primeira turma de jornalismo esportivo da FAAP e, além dos professo-res e da oportunidade, só tenho a agradecer ao Intercom pela experiência. O meu trabalho continuará em mestrado e quem sabe num possível Doutorado e novamente com o Intercom ao meu lado.

Obrigada Intercom! É um prazer comemorarmos juntos 35 anos de vida!

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Ariane Carla Pereira

Fernandes

Possui doutorado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2014), mestrado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (2005) e graduação em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Londrina (1999). Atualmente é professora concursada do Departamento de Comunicação Social (Decs) da Unicentro – Universidade Estadual do Centro-Oeste (com nomeação em março de 2008) – ministrando, principalmente, as disciplinas de Telejornalismo (História da TV, Fundamentos, Telejornal Laboratório e Tópicos Especiais em Jornalismo Eletrônico), Análise do Discurso e Projetos Experimentais. Antes de ingressar na carreira acadêmica, exerceu a profissão de jornalista por seis anos. Entre 1999 e 2005 atuou como pauteira/produtora, editora-apresentadora e repórter na Televisão Cultura de Maringá (PR), afiliada Rede Globo. Em suas pesquisas

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busca evidenciar como os meios de comunicação, em especial o jornalismo, apontam aos sujeitos modos de ler, ser e estar no mundo, produzindo, assim, subjetividades.

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Cruzamentos

O ano é 2006. A cidade, Toledo, localizada no oeste para-naense. No mês de agosto, numa noite gelada, entro em uma sala de aula, pela primeira vez, na condição de professora. Meu objetivo, então, era despertar naqueles jovens a mesma von-tade de ser jornalista e de explorar as características únicas do veículo televisão. Nada novo. A!nal, anos antes, a minha professora de telejornalismo assim o fez.

O ano é 1999. A cidade, Londrina, no interior paranaense. Eu e mais quinze colegas recebemos o diploma das mãos do paraninfo da turma, a professora de Telejornalismo da Uni-versidade Estadual de Londrina, Neusa Maria Amaral. “Neu-sinha”, durante dois anos, nos fez perder o sono... Tantos eram

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os telejornais ou as grandes-reportagens a fechar que respirá-vamos telejornalismo. A prática televisiva durante a faculdade, nem de longe, lembrava a estimulada nas outras disciplinas. Resultado: dos dezesseis jornalistas formados naquele ano, logo no dia da formatura, 26 de fevereiro, quatro já contavam aos colegas suas experiências enquanto pauteiros e repórteres free-lancers de emissoras de TV de Tocantins, do interior de São Paulo e do Paraná. Eu era uma delas.

O ano é 2008. Estamos de volta a Toledo, Paraná. Dessa vez, sou eu a entregar os diplomas, na condição de paraninfo da turma de Jornalismo da Fasul (Faculdade Sul Brasil), a primei-ra intituição em que atuei como professora. Em minha fala, não pude, claro, deixar de lembrar de Neusa Maria Amaral. A professora tirana, carrasca na faculdade, mas que nos mos-trou – a mim e meus colegas de turma – muitos caminhos em telejornalismo. Assim, sabia que fui motivo de dor de cabeça em vários momentos para aqueles formandos durante os úl-timos anos, mas acreditava que eles lembrariam com carinho das aulas de telejornalismo – assim como quando resolveram, homenagear a professora da disciplina entre tantas outras da faculdade – quando, em alguns anos, parassem para analisar as trajetórias pro!ssional e acadêmica. Como, assim, agora o faço.

Voltamos a 1999. Agora, estamos em Maringá, também no interior paranaense. O mês é abril. Adentro a redação da

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RPC-TV Cultura, a!liada Rede Globo, desta vez como jorna-lista contratada. “Desta vez” porque, antes, durante dois me-ses, janeiro e fevereiro, cobri férias dos pauteiros da emissora. Trabalho realizado sempre de olho nos anos anteriores, nas atividades das disciplinas de Telejornalismo. Trabalho bem avaliado e que rendia, nesse momento, meu primeiro registro em carteira como jornalista pro!ssional.

A ano é 2001. A cidade é Curitiba, capital do Paraná. Dois anos depois de deixar a faculdade, é a prática pro!ssional, tão desejada enquanto estava nos bancos escolares, que me faz voltar a estudar. Ingresso num curso de especialização em Agronegócios para Jornalistas. A!nal, as muitas pautas para o Globo Rural – e várias aulas, antes de apurar cada um dos assuntos sugeridos pelo telejornal, sobre lavouras e criações de um dos editores dos programa, sempre atencioso, o Benê – percebi a necessidade de pesquisar, também como maneira de manter-me atualizada no mercado de trabalho.

O ano é 1997. A cidade, Londrina. O Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina sedia o Intercom. Ao cruzar pelos corredores da faculdade, que há três anos frequentava, com pesquisadores da Comunicação, ao ouvir professor Marques de Melo, Imacolatta, passei a questio-nar: por que a pesquisa não é estimulada? Em quatro anos de faculdade de Jornalismo, eu e meus colegas de turma, nunca

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ouvimos falar em iniciação cientí!ca, por exemplo. E talvez por isso, apenas dois anos depois de concluir a faculdade !z um curso de especialização e somente porque o mercado, in-diretamente, exigiu; talvez por isso, somente dez anos depois de iniciar o curso de jornalismo e seis como jornalista percebi como a pesquisa completava a prática e procurei um mestra-do; talvez por isso, fui estudar linguagem, discurso – a!nal, enquanto aluna de jornalismo não fui apresentada a pesquisa; a!nal, nenhuma universidade pública em todo o Paraná (e eu precisa conciliar trabalho e estudo) oferecia mestrado em Co-municação.

De volta a 2006. Em maio, deixo a redação da TV Cultura. Depois de, numa avaliação interna, obter a melhor pontuação entre todos os pauteiros do interior. Depois de passar, por al-guns meses, pela reportagem e !car anos a frente da segunda edição do telejornal local enquanto editora e apresentadora. Depois de anos sem !nal de semana, Natal, Páscoa ou Ano Novo não via mais os plantões com os mesmos olhos român-ticos de 1999. Deixava uma redação de TV, mas não o telejor-nalismo...

Continuamos em 2006. Continuamos no Paraná, nas cida-des de Maringá e Curitiba. Na primeira, concluo o mestrado em Letras, onde me enveredo pelas trilhas da análise do dis-curso sem deixar de lado o jornalismo – mais especi!camente

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o livro-reportagem – que tomo como objeto de pesquisa, pela Universidade Estadual de Maringá. Já em Curitiba, alguns alu-nos da minha primeira turma como professora de telejorna-lismo recebem, ainda na condição de acadêmicos, o Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense, uma promoção do Sindicato dos Jornalistas Pro!ssionais do Paraná: primeiro lu-gar na categoria Reportagem para Televisão; segundo e tercei-ro lugares na categoria Projeto em Telejornalismo; e segunda colocação na categoria Telejornal-Laboratório.

O ano é 2008. A cidade, Guarapuava, no centro-oeste pa-ranaense. Sou professora concursada, aprovada em concurso público em 2007 e nomeda no ano seguinte, do Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual do Centro--Oeste, Unicentro. Aqui, sigo ministrando disciplinas de te-lejornalimo, oportunizando aos alunos a prática do jornalis-mo de TV e orientando acadêmicos na produção de Projetos Experimentais, na realização de Trabalhos de Conclusão de Curso e de Iniciação Cientí!ca. Pesquisa em Comunicação da qual me aproximo aos poucos, a partir daqui. O primeiro passo, certamente, foi dado poucos dias depois da nomeação, quando fui convidada a integrar a comissão organizadora do Intercom Sul 2008, realizado em Guarapuava, pela Unicentro. Meu segundo Intercom. O primeiro como jornalista, profes-sora, pesquisadora; uma década depois do primeiro Intercom

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do qual participei, ainda como estudante. O primeiro de uma série, entre encontros regionais e nacionais, onde vi minha participação crescer ano a ano. A!nal, apresentei trabalhos de pesquisa e acompanhei a discussão de tantos outros no GP (Grupo de Pesquisa) de Telejornalismo; vi meus alunos/orientandos apresentando os resultados de trabalhos na Inter-com Júnior e também na Expocom (aliás, ganhamos prêmios nos regionais e conquistamos, com o telejornal-laboratório Terceiro Planalto, o primeiro prêmio nacional da Unicentro, em 2009); participei, ainda, de bancas da Expocom; ministrei o!cinas; lancei meu primeiro livro – Rota 66 em revista: as resistências no discurso do livro-reportagem, resultado das pesquisas empreendidas para minha dissertação – e algumas coletâneas das quais sou co-organizadora e autora de capítu-los, duas com o selo Editora Intercom – Fatos do passado na mídia do presente: rastros históricos e restos memoráveis e Jornalismo re2exivo: visões teórico-metodológicas de autores do sul-brasileiro. Participei ainda, como sócia da entidade, de três encontros Globo-Intercom, em 2008, 2009 e 2010. Resta falar que co-organizei o Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação 2009, coordenado, até aquele ano, pela profes-sora Maria Cristina Gobbi. E sobre o Prêmio não é só...

O ano é 2009. A cidade é Curitiba. Numa noite inacredi-tavelmente quente do mês de setembro é realizada, durante o

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Intercom daquele ano, a cerimônia de entrega de um dos mais importantes prêmios da área da Comunicação do Brasil, o Luiz Beltrão. Estava no palco, compondo a mesa como co-or-ganizadora, mas não deixei de demonstrar orgulho em fazer parte do nominado Grupo de Guarapuava (designação dada pelo professor José Marques de Melo, quando de sua indica-ção), ganhador, naquele ano, da categoria Grupo Inovador.

O ano é 2014. Estamos em Foz do Iguaçu. A terra das Ca-taratas, destino do mundo, é também o ponto-de-encontro de acadêmicos, pro!ssionais, professores e pesquisadores da Co-municação para o maior Intercom da história, numa realiza-ção do Grupo de Guarapuava.

O ano é 2012. Não o primeiro, nem o último de uma tra-jetória em construção. Caminhos que, desde 2008, se cruzam com parte da história recente da Intercom. Porém, a primeira dessas intersecções se deu há muito mais tempo, exatamen-te 35 anos. A!nal, em 1977, era criada a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, que viria ser a maior entidade da área no Brasil, e nascia Ariane Pereira, futura jornalista, professora.

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Currículo Latteshttp://lattes.cnpq.br/6557192972315284

Denio Santos Azevedo

Doutor em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe – PPGS/UFS, fez Doutorado Sanduíche no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra em Portugal CES/UC, Mestre em Sociologia pelo NPPCS/UFS e Graduado em História pela UFS. É Professor Assistente do Núcleo de Turismo da Universidade Federal de Sergipe – NTU/UFS. Tem experiência na área de Turismo Cultural, História Cultural, Sociologia, Patrimônio e Hospitalidade. É Coordenador do Projeto de Pesquisa Imaginários do Brasil: turismo, história e comunicação social – NTU/UFS e pesquisador do Grupo de Estudos História Popular do Nordeste – UFS/CNPq. É coordenador do projeto de Extensão Conheça-SE: educação patrimonial e atividade turística (UFS/NTU).

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Geração de Memórias:

o Eu-Intercom

“A memória é uma ilha de edição”(Wally Salomão)

Aqui farei uma breve viagem pelos lugares da memória. Para tal poderia utilizar os mais variados meios de locomoção e, por exemplo, colocar o meu trem nas linhas dos diferentes autores e correntes teóricas que me acompanharam no decorrer da mi-nha formação intelectual. Pensei em remar com uma pequena canoa sobre as ondas do rádio ou até seguir com uma belíssima escuna e navegar pelo mar de informação da internet.

Re2etindo sobre as possibilidades, preferi seguir com as mi-nhas próprias pernas pelas estradas da vida, tendo como mapa à memória e como motor a felicidade, a emoção e a satisfação geradas por esta inesquecível homenagem feita pela coorde-nação da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da

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Comunicação, a partir do projeto Geração Intercom, em come-moração aos trinta e cinco anos da Intercom. Nestes escritos de viagem o objetivo central é relatar um pouco da minha história acadêmica apresentando a interação desta com as diversas ativi-dades realizadas pela Intercom.

As minhas viagens já iniciam antes mesmo da chegada ao destino. Procuro ler muito sobre as cidades e países que serão visitados, os seus atrativos turísticos, as questões sociais, po-líticas, econômicas e culturais que auxiliam no entendimen-to do cotidiano das pessoas que irei encontrar. Pesquiso em guias turísticos, blogs de viajantes, sites de promoção turística do destino, consumo fotogra!as, vídeos e dicas fundamentais para um bom aproveitamento da minha estada no tempo esta-belecido. E com a memória não foi diferente.

A memória dialoga com o presente, é seletiva, pode ser in-ventiva, não é apenas individual, é dinâmica e possibilita (re)viver acontecimentos passados, portanto a memória é uma construção. “A memória é o meio de transporte mental que permite a qualquer homem viajar no tempo cotidianamente” (SCHACTER, 1999, p. 35)1. Lembrar que o esquecimento pode ser um ato pensado e deixado no tempo de forma proposital. Por isso “cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva, [...] este ponto de vista muda conforme o

1. SCHACTER, Daniel L. Em busca de la memoria. Barcelona: Grupo Zeta, 1999.

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lugar que ali eu ocupo, e [...] este lugar mesmo muda segundo as relações que mantenho com outros meios.” (HALBWACHS, 1990, p. 51)2.

A lembrança é sempre fruto de um processo coletivo inse-rido em um determinado contexto. Neste sentido, a memória é ativa, pois não se confunde com as marcas de um passado no presente, é permanentemente reconstruída e vivi!cada en-quanto é resigni!cada. Ela compreende atitudes, práticas, cog-nições e sentimentos que prolongam as experiências passadas no presente, como uma memória-hábito, formando uma teia simbólica que garante a continuidade dos grupos, dos seus va-lores e cultura. (JEDLOWSKI, 20003; PÁEZ; TECHIO; MAR-QUES; BERISTAIN, 20074).

Portanto, iniciaremos agora a nossa viagem, ciente de que as lembranças são construções sociais para um determinado !m. Somente escrevendo este pequeno ensaio percebi que a

2. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.

3. JEDLOWSKI, Paolo. La sociologia y la memória colectiva. In A. R. Rivero, G. Bellelli. & D. Bakhurst (Eds). Memoria Colectiva e Identidad Nacional. Madrid: Biblioteca Nova, 2000. p.123-133.

4. PAÉZ, Dario; TECHIO, Elza Maria; MARQUES, José; BERISTAIN, Carlos Marin. Memoria Colectiva y Social. Em. F. MORALES; E. GAVIRA; M. MOYA; I. QUADRADO (Coord), Psicologia Social. Madrid. McGrawHill, 2007. p.693-716.

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Comunicação Social entrou no meu cotidiano de pesquisas sem comprar passagem. Talvez tenha pulado a catraca sem que os seguranças percebessem ou era amiga dos responsáveis pelo acesso e deu um “jeitinho” para me acompanhar neste trajeto. Sou alguém que venho de um país chamado licencia-tura em História que !ca em um planeta denominado Univer-sidade Federal de Sergipe. Lá, logo percebi que as ferramentas da comunicação poderiam ser chamadas de fontes históricas e os ambientes, usos, consumos, produtos, as origens e institui-ções da comunicação social se tornariam objetos de estudos e pesquisas.

No meu primeiro deslocamento houve um contato inicial com uns seres interessantes, os jornais. Muitos deles nascidos entre os séculos XIX e a primeira metade do XX e todos resi-diam no mesmo lugar, o Arquivo Público do Estado de Sergi-pe – APES. Lá, a nossa amizade foi intensa e percebi que mui-tos necessitavam de cuidados especiais, tais como: limpeza, manutenção, organização arquivística e amigos/leitores ávidos pelo conhecimento existente nestes seres. O que era para ser uma breve estada durou dois anos.

Querendo conhecer novos destinos, percorri um arqui-pélago de escolas, algumas de ensino fundamental outras de ensino médio, utilizando sistemas de aceleração ou telecursos utilizei estas mídias como recursos didáticos nos “processos

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de ensinagem” (ANASTASIOU; ALVES, 2009)5. TV, vídeo--cassete, revistas e jornais passaram a ser elementos obrigató-rios na minha bagagem.

A busca pelo desconhecido, a concretização de objetivos, o contato com práticas culturais distintas e a necessidade do conhecimento me levaram em 2005 a residir em outro país no mesmo planeta, o mestrado em Sociologia. Apaixonado pelo turismo cultural, neste país visitei o Gabinete de Leitura de Maruim, uma instituição criada em 1877, na província de Sergipe D’El Rey, em uma região marcada pela produção de açúcar e presença de estrangeiros, que não se resumia a uma biblioteca. Lá aconteciam debates literários e cientí!cos, dis-cursos eram proferidos e por vezes publicados, graças a sua prensa grá!ca, produziam-se periódicos, tinham estatutos próprios, sócios contribuintes e remidos, organizavam saraus, colóquios, jogos de azar, festas, jantares, dentre outros.

Nos discursos dos seus oradores o!ciais e nos textos publi-cados percebe-se a crítica ao sistema político vigente na crise do Império brasileiro, os ideais liberais de civilização, progres-so, abolição da escravatura e um anseio pela República. Graças ao descaso das gestões públicas municipais, esta instituição

5. ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. (orgs.). Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para estratégias de trabalho em aula. Joinville: UNIVALLI 2009.

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fantástica fechou as suas portas e agora ela só vive na lembran-ça e nos registros dos seus variados visitantes.

Devido a minha nova morada fui convidado a reencontrar uma região com a maior diversidade cultural do universo, um lugar chamado ensino superior, sendo que agora com novos óculos, os de professor. A primeira experiência foi com os do-centes da Pedagogia e em seguida passei então a ser um guia no bacharelado em Turismo de instituições privadas no estado de Sergipe. Como a Sociologia é uma disciplina comum a vá-rios cursos e a História está presente em tantos outros, conhe-ci a Administração, Educação Física, Fisioterapia, Psicologia, História, Direito, Serviço Social até chegar a um lugar cativan-te e que me apaixonei literalmente, o bacharelado em Comu-nicação Social, com habilitações em Jornalismo e Publicidade e Propaganda.

Quando observei no meu diário de bordo percebi ano-tações sobre a Escola de Frankfurt e os estudos da indústria cultural. Pessoas que lá conheci como 1eodor Adorno, Max Horkheimer, Hebert Marcuse, Erich Fromm e Walter Benja-min me deram informações importantes para entender a mo-dernidade, o consumo e os usos dos meios de comunicação de massa. Os registros que !z de um mundo globalizado, com novas sociabilidades e tecnologias da informação e da comu-nicação a partir de diálogos com David Harvey, Pierre Lévy,

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Manuel Castells, Néstor Garcia Canclini preencheram partes signi!cativas neste livro. Além de auxiliar na percepção do co-tidiano em conjunto com os meus companheiros de viagem no Estado da graduação em Comunicação Social, nas pesqui-sas, na elaboração dos projetos experimentais, dos produtos e nas orientações dos Trabalhos de Conclusão de Curso.

Após todo impacto causado com uma mudança, a adapta-ção a nova residência e ao idioma, o entendimento das regras sociais estabelecidas neste novo país, recebi o título de cidadão Mestre em Sociologia e por isso optei por continuar onde esta-va. Em 2009 mudei para uma casa maior e fui morar no Dou-torado em Sociologia. Era um condomínio novo, estava sendo inaugurado naquele ano e possuía uma vizinhança fantástica. A princípio, o projeto arquitetônico desta nova morada esta-va baseado nas pesquisas que vinha desenvolvendo nos refe-ridos lugares por onde passei e foi intitulado “A (re)invenção do Nordeste: representações da região a partir da promoção dos destinos turísticos”. A planta baixa já apresentava a neces-sidade de diálogo entre os principais ambientes da moradia, a Sociologia, o Turismo e a Comunicação Social.

O objetivo principal deste projeto era analisar como os ato-res sociais que planejam e comercializam os destinos turísticos criam novas representações para a região Nordeste do Brasil, a partir das narrativas e imagens utilizadas enquanto estraté-

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gias publicitárias veiculadas nas mais diferentes mídias, des-tacando os seus atrativos naturais e culturais, como forma de criar símbolos, que diferenciem as cidades e passem a atrair turistas para vencer a “concorrência inter-cidades” (FORTU-NA, 1997)6. Este Nordeste não é o da seca, fome, miséria e migração (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 20017; 20078; ANTU-NES, 20029; GOMES, 199810). O Nordeste da promoção turís-tica gera um encantamento, vende sonhos, é paradisíaco, pre-serva a sua paisagem natural e construída, é receptivo, alegre, com qualidade de vida, sem problemas sociais, valoriza a sua memória e a sua história, en!m uma nova roupagem para a “região da seca”.

6. FORTUNA, Carlos. Destradicionalização da imagem da cidade: o caso da Évora. In: Fortuna, C. (org.) Cidade, Cultura e Globalização. Oeiras: Ed. Celta, 1997.

7. ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz.. A invenção do nordeste e ou-tras artes. 2ª Ed. Recife: FJN/ Ed. Massangana; São Paulo: Cortez, 2001.

8. ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. Preconceito contra a origem ge-ográ"ca de lugar: as fronteiras da discórdia. São Paulo: Cortez, 2007.

9. ANTUNES, Nara M. de M. caras no Espelho: identidade nordestina através da literatura. In: Cultura e Identidade: perspectivas interdisciplinares. Rio de janeiro: DP&A editora, 2002.

10. GOMES, Alfredo Macedo. Imaginário social das secas. Suas implicações para a mudança social. Recife: Masangana, 1998.

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No decorrer deste período, mais precisamente em 2010, aceitei o convite do Prof. Dr. Rogério Proença Leite da Rede Brasil-Portugal de Estudos Urbanos (Programa CPLP do MCT/CNPq e CAPES-FCT) e fui fazer um Doutorado Sandu-íche no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coim-bra em Portugal. Acumulei algumas milhas no cartão de cré-dito, participei de um concurso e ganhei uma longa viagem para o serviço público federal. O destino escolhido foi o Nú-cleo de Turismo da Universidade Federal de Sergipe. Neste, já sou conhecido como “nativo” e diálogo com os visitantes sobre “Aspectos Históricos de Sergipe”, “Comunicação Social no Tu-rismo” e “Tópicos Especiais em Turismo, Cultura e Sociedade”. Aqui montei um projeto de pesquisa denominado “Imaginá-rios do Brasil: Turismo, História e Comunicação Social” cujo objetivo é fazer uma análise sociológica da dimensão turística do imaginário Brasil e das formas como este destino turístico é representado pela divulgação turística nas mais variadas mí-dias. Pretende-se re2etir sobre as narrativas, discursos tecidos ou constituídos nas imagens e a partir das imagens, e sua rela-ção com o processo de construção destes imaginários.

Viagens ao Intercom

Diversos dados fornecidos pelas instituições que pensam e organizam a atividade turística demonstram que há um cons-

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tante crescimento no número de turistas nas últimas décadas. Os motivos para tal são os mais variados: maior expectativa de vida das populações, globalização, encurtamento das dis-tâncias, melhorias no setor e maior acesso aos transportes, fé-rias remuneradas e redução nos custos dos pacotes turísticos. Destaca-se ainda os avanços no setor da informação e comu-nicação, ampliação das vias de acesso, aperfeiçoamento nos meios de hospedagem, a busca pela qualidade nos setores de alimentos e bebidas, as mudanças signi!cativas no cotidiano e na mentalidade das populações, dentre outros.

Por mais que exista um contexto que explique o aumento do número de viagens, o desejo e/ou a necessidade de deslo-camento é uma motivação pessoal ou do grupo que só quem pode explicar é aquele que se desloca. Existem lugares que almejamos retornar todos os anos e acabamos criando uma relação de proximidade com estes. Mesmo com uma gama de possibilidades e variados destinos turísticos, as viagens com a família, desde a infância, sempre foram contempladas na mesma cidade, justi!cada pela presença da praia, do campo, dos familiares, do frio ou qualquer outro atrativo. Isto é algo que vem acontecendo comigo desde 2008, no mês de setembro sempre visito a mesma nação, uma “nação sem Estado” (CAS-TELLS, 201011), transfronteiriça, desterritorializada, dinâmica,

11. CASTELLS, Manuel. O poder da identidade: a era da informação: economia, sociedade e cultura. v. 2. 7ª reimp. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2010.

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complexa, hospitaleira, alegre e comunicativa, a nação Inter-com. Sua pedra fundamental foi lançada em 12 de dezembro de 1977, faltando apenas seis dias para este lembrante que (re)memora os fatos aqui escritos completar cinco meses de vida.

Nessas viagens participei de lançamentos de livros, encon-tros regionais, do Lusocom, Simpósios, Colóquios, Seminá-rios organizados ou em parceria com a Intercom, mas desta-carei aqui a minha participação nos Congressos Nacionais. Retornando a 2008, os atores sociais que formavam a nação, os “intercomnectados”, representantes da diretoria, comissão organizadora do evento, sócios, estudantes e demais interes-sados decidiram se encontrar em Natal, um lugar repleto de atrativos naturais e culturais para debater as relações entre a “mídia, a ecologia e a sociedade”.

Eu, um turista atento ao que se passava ao meu redor, apenas um observador, passeava pelos corredores e salas da Universi-dade Federal do Rio Grande do Norte e me deparava com o I Colóquio Bi-Nacional de Ciências da Comunicação Brasil-Por-tugal e com um grupo que estudava folkcomunicação. Honesta-mente, nunca tinha ouvido falar sobre o tema, mas era bastante atraído pelas pesquisas sobre o patrimônio cultural imaterial e estava interessado em perceber esta relação com a comunicação. Assim como os postais, souvenires e as castanhas, os livros pre-encheram a bagagem. Agora fazia parte das lembranças daquela nação pessoas como José Marques de Melo, Osvaldo Trigueiro,

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Sergio Gadini e Karina Woitowiz. Acreditava que ali estaria o meu visto para as próximas viagens.

Em 2009, em plena semana das cívicas comemorações pela independência do Brasil, os intercomnectados já estavam tro-cando experiências sobre Comunicação, Educação e Cultura na era Digital na cidade de Curitiba. Não me sentia mais um “estrangeiro”, já que fui adotado por pessoas que vinham de uma localidade chamada “Comunicação, Turismo e Hospita-lidade” e não viajei só estava com a jornalista Polyana Bitten-court e com a discente do curso de Jornalismo Aline Aragão, esta que era apresentada ao Intercom Júnior.

Neste terreno fértil plantei o debate sobre a (re)invenção do Nordeste brasileiro a partir da promoção turística das cidades desta região e colhi um conjunto signi!cativo de informações com os agricultores do referido grupo de pesquisa, Rafael José dos Santos, Ada Dencker, Susana Gastal, Elizabeth Wada, Lui-za Luíndia, Ronaldo Neves, Daniel Campos e tantos outros. O texto era praticamente uma primeira impressão do que co-meçava a desenvolver no Doutorado em Sociologia, mas por ter sido publicado nos Anais do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação pude concorrer a um concurso nacional de artigos cientí!cos, organizado pela Universidade Estácio de Sá, !cando com o primeiro lugar na categoria Co-municação e Artes. Estava carimbado o meu passaporte e a parceria com a nação Intercom.

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“Comunicação, Cultura e Juventude” foi o tema escolhido para o “nosso” encontro em Caxias do Sul no ano seguinte. Para o Intercom Júnior levamos o “caranguejo de Sergipe” e com os amigos do GP o debate foi em torno do Turismo Cria-tivo que pouco se discutia no Brasil e aparecia como uma das soluções para o desenvolvimento de cidades na Europa, Ocea-nia e nos Estados Unidos. Além da parte acadêmica, o contato com as práticas culturais dos gaúchos, as danças, a gastrono-mia, o espetáculo de recepção aos congressistas com Renato Borguetti, o Borguetinho, no teatro da Universidade de Caxias do Sul e o desfecho do evento com os estudantes gaúchos soli-citando aos músicos que se apresentava naquele instante para cantar o hino o!cial do estado foi arrepiante.

Bolo de Rolo, frevo, Maracatu, caranguejo e um belo corte-jo pelo Recife Antigo foram as marcas culturais deixadas pela organização do XXXIV Congresso Nacional da Intercom, vis-se. Sem medo da pesquisa empírica e construindo imaginários com Michel Ma3esoli mais uma vez contribuímos com estu-dos em dois GP’s e no Intercom Júnior. O grupo de Folkcom conheceu um líder de opinião chamado Mestre Sabau e o ima-ginário do destino turístico Sergipe esteve no DT de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e no GP de Comunicação, Turismo e Hospitalidade.

Demonstrando a atualidade dos temas e a interdisciplina-ridade marcante da área de Comunicação Social, em um con-

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texto de Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas no Brasil, em 2012, os “Esportes na Idade Mídia: diversão, informação e educação” se tornou o tema central em mais um encontro nacional. Em Fortaleza, iniciei a minha participação no GP de Folkcomunicação da seguinte forma: “estou órfão e escolhi este grupo para ser adotado”. Com o !m do GP que participa-va, arrumei as malas, fechei a casa e mudei para a residência do familiar mais próximo e que tinha maior a!nidade. Como já vinha participando dos debates no referido grupo em outros eventos nacionais, regionais e internacionais me senti em casa e nesta espero !car por muito tempo e construir conhecimen-to em conjunto com Marcelo Pires, Cristina Schmidt, Betânia Maciel, Maria Érica de Oliveira, Yuji Gushiken e tantos outros que procuram entender, aperfeiçoar e utilizar os ensinamentos de Luiz Beltrão.

Por !m, não poderia encerrar esta literatura de viagem sem antes ressaltar a alegria e satisfação de fazer parte de um pro-jeto ousado, empolgante e desa!ador que talvez só possa ser comparado às grandes navegações dos séculos XV e XVI, a Geração Intercom. Para Bauman (2007, p. 370)12 o termo ge-ração “é uma expressão ‘performativa’ (que cria uma entidade

12. BAUMAN, Z. “Between us, the generations”. In: On generations. On co-existence between generations. Barcelona: Fundació Viure i Conviure, 2007. p. 365-376.

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para nomeá-la) – uma chamada ou convocação para uma ba-talha nas !leiras do imaginário, ou mais precisamente postu-lado, da comunidade”.

Um mentor intelectual chamado José Marques de Melo de-cide homenagear de maneira diferenciada os 35 anos da In-tercom com a formação de um grupo de jovens pesquisado-res, membros desta nação, que por coincidência nasceram no mesmo ano de 1977. A ideia foi acatada e a equipe represen-tada por Cristina Gobbi, Fabio Corniani, Juliana Betti e Cris-tiane Parnaiba de forma muito atenciosa preparou o convite, elaborou ferramentas de comunicação e prestou uma belíssi-ma homenagem em meio às atividades do XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. A produção colabora-tiva, o olhar crítico e re2exivo sobre o ensino da Comunicação Social e o aperfeiçoamento das práticas da sociedade Intercom são alguns dos desa!os lançados para esta geração. Este escri-to é apenas uma resposta inicial dada ao chamamento para a batalha, ou seja, para vencermos a guerra do imaginário cons-truído a partir desta comunidade teremos um longo caminho pela frente.

Em suma, espero que tenham gostado da viagem. Já estou com a mochila arrumada para o próximo deslocamento, que não é apenas físico, mas principalmente de mentalidade. Os encontros, debates, as leituras e os escritos servem para apontar caminhos

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que possam tornar as nossas teorias, práticas de transformação social. O encontro com o “outro”, o respeito à diversidade cultural de cada lugar que passamos, a percepção do presente multicultu-ral, multifacetado, policromático e poliglota, nos auxilia a perce-ber as funções da comunicação social para um mundo mais justo.

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LucianaAlmeida das

Chagas

Currículo Latteshttp://lattes.cnpq.br/5568225868103999

Jornalista graduada pelo Centro Universitário Carioca – UniCarioca e Mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Em 2009 concluiu o Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UFF com dissertação sobre a revista Caros Amigos. Foi Coordenadora de Produção do programa Salto para o Futuro, da TV Escola, e do programa Cineview da Rede Telecine. Desenvolveu atividades profissionais também no Canal Futura, da Fundação Roberto Marinho, na International Sports Broadcasting – ISB e nas produtoras TV Zero, Midmix, Drei Marc e Lumen. Lecionou em cursos de curta duração de Técnicas de Jornalismo, Produção para TV, Assessoria de Imprensa e Produção de Vídeo Publicitário para TV. Foi Professora Substituta dos Cursos de Comunicação Social da Universidade Estadual do Piauí

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– UESPI e da Universidade Federal do Piauí – UFPI. Atualmente é jornalista do Instituto Dom Barreto – IDB, em Teresina – PI, responsável pelo periódico A Folha e pelo Setor de Comunicação e Mídia.

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Resgatar a memória,

tecer uma história

Nasci em 25 de junho de 1977, quase seis meses antes de a Intercom ser fundada, em 12 de dezembro deste mesmo ano. Desde então, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipli-nares da Comunicação preocupa-se com o compartilhamento de pesquisas e informações de forma interdisciplinar na área da Comunicação Social. A iniciativa para a criação do Inter-com veio do professor Dr. José Marques de Melo, que já trazia consigo há 35 anos muitas histórias para contar. Melo, naquela época, já havia colaborado também com a fundação da Escola de Artes e Comunicação (ECA), da Universidade de São Pau-lo (USP), da qual foi docente, tendo sido contudo demitido durante a Ditadura Militar. Nosso fundador, em 1977, já tinha

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em sua bagagem muitas experiências como docente, pesquisa-dor e jornalista, além das memórias de uma vida de 34 anos, o que o ajudou a construir a Intercom.

Como chegamos neste mundo sem um objetivo, diferente-mente de uma instituição, logo me vi nos bastidores de uma televisão, a antiga TV Educativa. Quando nasci, meus pais tra-balhavam na TV Educativa, no Rio de Janeiro. Meu pai na área técnica e minha mãe na produção. Como eram muito “caxias”, resolveram mudar de bairro com o meu nascimento, para !-car mais perto de mim e nunca longe do trabalho. Moramos durante alguns anos na Rua dos Inválidos, que !ca nos fundos da emissora pública carioca. Eu entrava e saia da TVE no colo de uma babá para que minha mãe me amamentasse – entre papeis, telefonemas e !tas umatics e beta cam -, já que ela não gozou sua licença maternidade por escolha própria.

Foi neste universo que fui crescendo, comendo arroz e fei-jão, frequentando a escola e fazendo, devagar, minhas escolhas. Era comum visitar a TVE e conhecer todos os pro!ssionais, equipamentos e também a rotina daquele lugar. Gostava de as-sistir a gravação do Daniel Azulay, do Tio Maneco, achava in-crível ver que o Saci do Sítio do Pica-Pau Amarelo tinha perna! E assim seguia minha trajetória infanto-juvenil desvendando também os segredos e as mágicas da televisão. Com o tempo, curtia acompanhar a produção do programa I love you, dos te-

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lejornais e do Sem Censura! E assim os meios de comunicação começaram a fazer parte da minha vida.

Mas são muitas as memórias que constroem as nossas lem-branças: histórias que ouvimos, história que vivemos, fotogra-!as e vídeos que assistimos e que muitas vezes nos remetem a fatos que não estão registrados na nossa memória. Portanto, ao fazer esse resgate, hoje, me sinto de fato uma repórter como sugere Fernando Resende ao indagar:

Quem é este contador de histórias alheias? Quem é este que, ao lançar seu olhar ao outro, dá primazia à informação? Quem é este indivíduo que, ao relatar fatos, se interpõe entre duas culturas, ou então, en-tre vários lugares, senão o narrador repórter?1

E assim, mexendo e remexendo no meu baú de memó-rias, esquecimentos, emoções e frustrações, resgato a minha trajetória a !m de fazer parte do seleto grupo de sócios que nasceram no mesmo ano em que a Intercom, instituição que completa seus 35 anos contribuindo incomensuravelmente com a história da Comunicação e a pesquisa no campo comu-nicacional. Foram inúmeros encontros, simpósios, congressos

1. RESENDE, Fernando. Textuações: !cção e fato no Novo Jornalismo de Tom Wolfe. São Paulo. AnnaBlume / FAPESP, 2002. p. 48

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regionais, nacionais e internacionais promovidos por esta So-ciedade, além das publicações que trazem seu nome nas !chas catalográ!cas e dos muitos pesquisadores que foram revelados durante estes anos. Portanto, é uma instituição, hoje, funda-mental para estudantes, pesquisadores, professores e pro!ssio-nais da área de Comunicação.

É provável que alguns dos nascidos em 2012 tornem-se pro-!ssionais de Comunicação, assim como nós da Geração Inter-com, que naquele distante ano de 1977 não tínhamos ideia da pro!ssão que seguiríamos e de que chegávamos ao mundo no mesmo ano que a renomada Sociedade. Os nascidos este ano, terão 35 anos em 2047 quando a Intercom completará seus 70 anos de fundação. Estes recém-nascidos ainda não tem ideia do que é o mundo e muito menos do signi!cado da Intercom. E assim são as gerações...

A Intercom é uma jovem instituição ciente da sua maturi-dade acadêmica, graças aos pesquisadores que ao longo da sua história foram somando suas experiências e pesquisas e con-tribuindo com o crescimento da Sociedade Brasileira de Estu-dos Interdisciplinares – que espera a cada ano mais estudiosos para fazer parte da sua família. Nós, que fazemos parte da Ge-ração Intercom, chegamos ao mundo da Comunicação Social, com a Intercom “funcionando a todo o vapor”. Mas os inte-lectuais que construíram essa instituição como José de Mar-ques Melo, Marialva Barbosa, Antonio Hohlfeldt, Margarida

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Kunsch, AnaMaria Fadul, Cicília Peruzzo, Maria Immacolata Vassallo de Lopes, Manuel Carlos Chaparro, Gaudêncio Tor-quato, entre muitos outros, começaram do “zero” para criar uma Sociedade preocupada com os estudos da Comunicação. E com muito trabalho árduo, permanecem entre novos pes-quisadores na manutenção desta instituição, que tem hoje as portas abertas para qualquer pessoa que quiser pesquisar e es-tudar com o objetivo de trazer contribuições para os estudos interdisciplinares da Comunicação.

Bom, ainda sinto-me começando minha trajetória. A pri-meira vez que frequentei um Congresso da Intercom foi no ano de 2005, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na época, eu estava cursando minha graduação em Comuni-cação Social (Habilitação em Jornalismo) no Centro Univer-sitário Carioca. E ao perceber a oportunidade de conhecer de perto o evento que tinha como tema “Ensino e Pesquisa em Comunicação” – que estava sediado na minha cidade -, não pensei duas vezes! Lá fui, eu! Sozinha, entrei na UERJ e co-mecei a percorrer suas longas rampas e corredores e assim fui conhecendo os caminhos da pesquisa na minha área de for-mação e as indagações e preocupações que os trabalhos con-tinham. Assisti palestras, mesas e timidamente senti o desejo de fazer parte daquele universo de pesquisa. Voltei encantada para a UniCarioca onde compartilhei com alguns professores e colegas a minha experiência, ainda que tão breve.

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Quando comecei o curso de graduação, já atuava na área de televisão. Aos 18 anos, comecei a trabalhar na TV Educa-tiva, aquela onde praticamente nasci. Inicialmente, fui Secre-tária de Produção no Canal TV Escola, criado no Governo do Fernando Henrique Cardoso. O canal foi inaugurado com o objetivo de subsidiar especialmente as escolas públicas e ser uma ferramenta útil ao trabalho dos professores – seja para complementar sua própria formação ou fornecer recursos para suas atividades pedagógicas. Eu era uma secretária mes-mo. Eram cerca de sete equipes de produção, cada uma de-las composta por diretor, produtor e assistente, além de uma coordenação geral e pesquisadores de imagem. Todo o apoio necessário para que a gente !zesse de fato televisão era da TV Educativa: equipe técnica (estúdio, unidade móvel e edição), cenogra!a, sonoplastia, produção de arte... E eu !cava no meio desse “fogo cruzado”. Não preciso dizer o quanto aprendi com a prática, né?! Também passei pela Programação do Canal e posteriormente fui trabalhar como Assistente de Produção no Salto para o Futuro, um programa de educação a distância para professores de todo o país que abordava, em séries temá-ticas, assuntos relevantes para a educação brasileira. Logo fui promovida, passei para produtora e em seguida atuei como Coordenadora de produção. Fiz um pouco de tudo, produção de base, redação, reportagem e entrevista em gravações exter-nas, acompanhei edições, realizei viagens nas quais conheci a

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realidade do interior deste país e aprendi noções avançadas de iluminação, áudio e enquadramento com os “meninos da téc-nica” – como re!ro-me a eles carinhosamente. É o pessoal que “pega no pesado”, que aprendeu na prática e com a vida suas habilidades, colocando a mão “na massa”, fazendo um trabalho fundamental para que a engrenagem de uma televisão funcio-ne e chegue às nossas residências. Eles, assim como eu, fazem parte daquela escola chamada atualmente de TV Brasil. Hoje, a história por lá é outra... Não faço mais parte dela! São outras personagens, outras memórias a serem reveladas. Mas carrego o meu aprendizado e minhas memórias pessoais e pro!ssio-nais, que formam parte de mim.

Portanto, meu caminho foi um pouco diferente: cheguei na sala de aula do curso de Comunicação Social com uma base prática televisiva e aí tive consciência da importância da teoria – que era a minha lacuna. Fui uma aluna aplicada, dedicada a todas as disciplinas, pois cada aula, cada professor, revelava--me um conteúdo novo, algo que eu ainda não sabia. É claro que, por vezes, indagava um ou outro professor confrontando minha experiência prática na televisão. E foi assim que des-cobri o meu desejo de ministrar aulas, de lecionar sobre um pouco do que eu sabia, aliando experiência e formação acadê-mica. Tive grandes mestres na UniCarioca, alguns moram no meu coração e farão para sempre parte das minhas memórias, pois são responsáveis também pelo que sou, pela jornalista

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formada e pela pesquisadora e professora que tornei-me, as-sim como todos com quem aprendi na TV Educativa.

No ano de 2006, o Intercom aconteceu em Brasília e teve como tema “Estado e Comunicação”. Eu já estava mais madu-ra, tinha concluído minha graduação no mês de junho daquele ano. Produzi um trabalho para apresentar no Congresso. Era um fragmento da minha monogra!a, que expus no Intercom Junior. Apenas um ano depois de debutar na Intercom, com-partilhei pela primeira vez parte de uma pesquisa intitulada Os Caminhos do Fazer Jornalístico, desenvolvendo uma análi-se sobre a revista Caros Amigos. Entre pesquisadores juniores como eu, aprendi um pouco mais, enriqueci minhas memó-rias de pesquisadora e também colaborei com a história da In-tercom, assim como sugere Maurice Halbwachs ao destacar o processo de reconstrução das nossas memórias.

É necessário que esta reconstrução se opere a par-tir a partir de dados ou de noções comuns que se encontram tanto no nosso espírito como no dos outros, porque elas passam incessantemente desses para aquele e reciprocamente, o que só é possível se !zeram e continuam a fazer parte de uma mesma Sociedade...2

2. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, Editora dos Tribunais, 1990. p. 34

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...que no nosso caso, é a Intercom. A partir da iniciativa do Professor Dr. José Marques de

Melo, novamente com sua criatividade e visão do que repre-senta esta Instituição, foi criado o Geração Intercom. Este re-cém-nascido grupo surge com o desa!o de agregar sócios que nasceram no mesmo ano que a Intercom e também de fazer com que nossas pesquisas, todas no campo da comunicação, interajam entre si, enriquecendo ainda mais nossas histórias e a da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação.

Mas em 2004, minha trajetória pro!ssional também ganha-va novos rumos. Ao receber um convite para ser Coordenado-ra de Pós-produção do Canal Telecine, deixei a TV Educativa depois de nove anos trabalhando como pro!ssional de Comu-nicação, pois minha história com aquela instituição começou ainda em 1977. Saí feliz, mas também saudosa, pois foi lá que dei meus primeiros passos no mundo da comunicação e do jornalismo. Novos desa!os e novas conquistas aconteceram na Globosat. Foram muitos planejamentos, cronogramas e um novo ritmo para colocar no ar – também diariamente – a revis-ta eletrônica Cineview, apresentada por Renata Boldrini e José Wilker. A equipe, além dos apresentadores, era composta por editores, produtores, redatores, repórteres, editor-chefe, uma correspondente (EUA), diretora, equipe de produção (coor-

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denadoras, produtores e assistentes) e estagiários. Eu também era supervisora da equipe de estagiários do Cineview. Partici-pava da seleção junto com o Setor de Recursos Humanos e os recebia na equipe – na qual faziam rodízio a !m de passarem por todas as possibilidades de atuação e aprendizado, unindo aquela prática da redação jornalística televisiva à teoria que eles estavam conhecendo na Universidade. E assim a práxis aliava-se a teoria. Era o amálgama da Comunicação Social que me fazia transitar por esses dois campos. Seguia compondo minhas re2exões e amadurecendo pro!ssionalmente.

Ainda em 2006, com o desejo de tornar-me docente e conti-nuar minhas pesquisas na área de comunicação, pois havia re-tornado de Brasília mais empolgada com o campo acadêmico. Então, participei da seleção para o Mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF), com o projeto Caros Amigos: new journalism e o resgate da cidadania, no qual pretendia analisar a in2uência do jornalismo literário na revista Caros Amigos e seu papel contra-hegemônico no âmbito do fazer jornalístico.

Passei! Foram dois anos de intensas pesquisas que resul-taram na dissertação A revista Caros Amigos e seu modo de narrar histórias. A partir do conceito de campo jornalístico de Bourdieu, criei o sub-conceito de transbordamento do cam-po jornalístico para tentar compreender não só o jornalismo praticado pela revista, mas também que empresa é a Editora

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Caros Amigos, ressaltando especialmente o seu modo de pro-dução, o per!l dos seus jornalistas e a estrutura narrativa das suas reportagens. Esta pesquisa evidencia que o modo de fazer jornalismo da revista não segue, necessariamente, o autoriza-do pelo campo jornalístico – de Bourdieu -, promovendo as-sim uma espécie de transbordamento. Realizei também nesta dissertação uma análise das reportagens, meu foco principal, através do conceito de “narratologia” (Luiz Gonzaga MOT-TA). Percebi e problematizei a in2uência do new journalism nas reportagens da Caros Amigos. Tive como professores no curso de Mestrado Marialva Barbosa, Dênis de Moraes, Ana Enne e Ronaldo Helal, e como orientador o professor Fernan-do Resende.

Durante o mestrado compartilhei minha pesquisa, então em andamento, no IX Seminário Internacional da Comunica-ção: simulacros e (dis)simulações na sociedade hiper-espeta-cular, que aconteceu em Porto Alegre, na PUC-RS. No artigo Jornalismo: entre a feira livre e a banca de jornal problematizei o jornalismo como produto de consumo a partir do conceito de Indústria Cultural. Neste Seminário tive a oportunidade de ver, especialmente, o que os pesquisadores em comunicação do Sul do país tinham como objeto. Ainda no !nal do primei-ro ano, passei a dedicar-me a pesquisa e elaboração da disser-tação. Uma experiência relevante durante a realização deste

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trabalho foi frequentar um curso ministrado pelos jornalistas da revista Caros Amigos, intitulado “Anticurso de Jornalismo”, que aconteceu no interior da redação da revista, em São Paulo, em 2007. A partir desta pesquisa etnográ!ca por mim realiza-da, das minhas leituras e das aulas e eventos acadêmicos dos quais participei, !nalmente, me via como uma pesquisadora da área de Comunicação Social. Com muito orgulho e alegria, defendi minha dissertação no dia 11 de dezembro de 2009. Era o momento de me concentrar nos meus objetivos, pois eu que-ria continuar pesquisando, mas também compartilhando meu saber e experiência com alunos de um curso de graduação.

Neste momento, eu já estava residindo na cidade de Teresi-na (PI). Assim que cheguei na capital piauiense, em setembro de 2009, já conquistei uma vaga no mercado de trabalho. Fui contratada pelo Instituto Dom Barreto, escola privada que !-gura há seis anos entre as dez melhores do país, segundo o ENEM. Lá, aonde ainda trabalho atualmente, sou responsável pelo jornal A Folha, pelas publicações do site e redes sociais, pela comunicação interna e pela produção de eventos. Depois que cheguei, inauguramos o Setor de Comunicação e Eventos do qual sou coordenadora.

Um ano depois, em setembro de 2010, estava eu participan-do do Seminário Comunicação, Cultura e Cidadania que ocor-reu na Universidade Federal do Ceará (UFC), quando recebi a

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notícia de que havia sido aprovada na seleção para professora substituta da Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Retor-nei de Fortaleza muito feliz, pois estava compartilhando minha pesquisa num evento acadêmico e um dos meus objetivos como pro!ssional tomava corpo. Resolvidas as questões burocráticas para a contratação, comecei a ministrar aulas para duas turmas de Relações Públicas e Jornalismo da UESPI. Nesta Universida-de permaneci por dois anos, foram quatro semestres, oito tur-mas, seis disciplinas e um sonho realizado. Tornei-me docente.

Ainda em 2010, apresentei o trabalho intitulado Imprensa alternativa: entre a memória e a história no Congresso Inter-nacional de História e Patrimônio Cultural que aconteceu na UFPI e também participei do I Encontro de História da Mídia do Nordeste, promovido pela Rede Alcar, que ocorreu na Uni-versidade Federal do Rio Grande do Norte, no qual entre alu-nos, professores e pesquisadores do nordeste brasileiro apre-sentei o trabalho, fruto da minha dissertação, A revista Caros Amigos e o jornalismo em questão.

No !nal do ano de 2010, ao pensar nas minhas recentes con-quistas, senti necessidade de relembrar as experiências vividas durante aquele ano e assim como sugere Marialva Barbosa3, re-lembrar o passado a cada instante como quem registra o presente.

3. BARBOSA, Marialva Carlos. Percursos do olhar: comunicação, narrativa e me-mória. Niterói /RJ: EDUFF, 2004. p. 40

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Seis meses depois da minha contratação na UESPI, outro concurso para professor substituto surgia, na Universidade Federal do Piauí. E de mais uma seleção participei. Fiquei em primeiro lugar, conquistava a vaga de professora no melhor curso de graduação em Comunicação Social do Piauí. Na UFPI, fui contratada como 40 horas. Minhas aulas tiveram início ainda no primeiro semestre de 2011, no qual ministrei as disciplinas de Sociologia e Comunicação, Telejornalismo e Laboratório de Telejornalismo. Logo me integrei ao corpo de professores, alunos e técnicos da Universidade. Junto com os alunos das disciplinas de TV, realizamos documentários, tele-jornais e outros programas televisivos.

Em junho deste ano, 2012, foi a fez da UFPI receber o even-to da Rede Alcar: II Encontro Nordesde de História da Mídia. A professora Ana Regina Rego !cou responsável pela Coor-denação Geral. E eu, convidada por esta professora, além de presidir a Comissão de Recepção, coordenei o Grupo Temá-tico História da Mídia Impressa. Foi muito prazeroso propor-cionar para os nossos alunos a participação efetiva e integral num evento acadêmico. Muitos estudantes atuaram como mo-nitores, outros apresentaram trabalhos nos GTs. E assim foi possível observar olhos brilhantes de alunos recém-chegados na Universidade que ainda não tinham tido a oportunidade de participar de um Encontro, Seminário ou Congresso. Lem-

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brei-me da minha primeira Intercom em 2005. Sete anos se passaram e as lembranças retornaram. Para Halbwachs,

não existem lembranças que reaparecem sem que, de alguma maneira, seja possível relacioná-las com um grupo, porque o evento que reproduzem foi percebido por nós enquanto estávamos sós, não em aparência, mas realmente sós, cuja imagem não se desloca no pensamento de nenhum grupo de ho-mens, e que nós recordaremos deslocando-nos para um ponto de vista que não pode ser senão nosso? 4

E sim construído por nós, a partir de experiências vividas no passado e também no presente. Portanto, ao perceber meus alunos naquele evento, rememorei-me a uma experiência vi-vida por mim há alguns anos. E assim, sigo como docente e pesquisadora que, além de ministrar aulas e pesquisar, com-partilha e ensina, ou melhor, tenta, repassar a plenitude des-te universo comunicacional do qual os campos pro!ssional, cientí!co, acadêmico e epistêmico fazem parte.

Também faço parte do Grupo de Pesquisa de História So-cial da Cultura: Imprensa e literatura da UFPI. E a partir das leituras e discussões desenvolvidas nestas reuniões, elaborei

4. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, Editora dos Tribunais, 1990 p. 37

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um ensaio problematizando o pro!ssional das redações que muitas vezes deixa de lado a dimensão social da pro!ssão. Este texto recebeu o título Jornalista: que intelectual é esse? e foi apresentado no VI Simpósio Nacional de História Cultural: Escritas da História: ver – sentir – narrar, ocorrido também na UFPI, em junho deste ano.

E nesse aniversário de 35 anos do Intercom, volto com for-ça total, a vida traz novas estórias para a gente contar! Logo depois que inscrevi o trabalho Caros Amigos: um contraponto à objetividade do lide no XXXV Congresso de Ciências da Co-municação, recebi um email do pesquisador Fábio Corniani e da professora Maria Cristina Gobbi contando sobre o projeto Geração Intercom. Também havia me inscrito para ser avalia-dora do EXPOCOM e assim foi o meu retorno ao Intercom, depois de seis anos afastada deste evento, mas não da área da Comunicação.

Portanto, este ano, avaliei vídeos e roteiros para o Expocom Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Mais uma vez, pude comprovar a garra dos alunos dos cursos de Comunicação desse Brasil e também participar um pouco dos bastidores deste evento. No mais, apresentei meu trabalho no Grupo de Jornalismo Impres-so no qual eu e os outros pesquisadores interagimos e debate-mos sobre nossas pesquisas enriquecendo ainda mais o olhar de cada pesquisador. Por !m, entre as palestras, exposições e

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lançamentos de livros, reunimos pela primeira vez o grupo do Geração Intercom. A primeira reunião ainda aconteceu de for-ma tímida, mas serviu para a gente se conhecer e entender o objetivo do grupo. O Professor Doutor José Marques de Melo pretende com este grupo traçar um mapa destes sócios e tam-bém trazê-los para mais perto dos bastidores da Sociedade. Nos foi pedido que pensássemos ações para o grupo e para as pesquisas na nossa área.

Ao !ndar este texto, encontro-me mergulhada nas memó-rias, re2etindo sobre a minha história acadêmica e pro!ssio-nal, mas também desejosa de um futuro ainda mais promis-sor para minha carreira pro!ssional e de pesquisadora, assim como para o Geração Intercom e para a própria Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares. Como sugere o pro-fessor Melo, o Intercom deve ser espaço de atualização cons-tante, pois o mundo se reinventa a cada dia, a cada inovação e nós precisamos trilhar conjuntamente com o que acontece, portanto devemos nos atualizar sem deixar de lado as expe-riências vividas que servem para problematizar e discutir as novas ideias e acontecimentos.

Cremilda Medina a!rma que

dotado da capacidade de produzir sentidos, ao nar-rar o mundo, a inteligência humana organiza o caos em um cosmos. O que se diz da realidade constitui

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uma outra realidade, a simbólica.Sem essa produ-ção cultural – a narrativa – o humano ser não se expressa, não se a!rma perante a desorganização e as inviabilidades da vida. Mais do que talento de al-guns, poder narrar é uma necessidade vital.5

E assim sigo construindo as narrativas do cotidiano de professora e pesquisadora, mas também deste humano ser. A partir das múltiplas facetas vividas por mim, que me sinto to-talmente inserida no campo comunicacional. A Intercom tem sido parceira nos eventos dos quais participei e nas publica-ções acadêmicas – que acompanho assiduamente.

Nós, da área de Comunicação temos o privilégio de a!rmar que é nossa, parafraseando Medina, a arte de tecer o presen-te. Não somente o nosso presente, mas da sociedade na qual estamos inseridos, seja acadêmica, universitária ou qualquer outra...

5. MEDINA, Cremilda. A arte de tecer o presente: narrativa e cotidiano. São Pau-lo: Summus, 2003. p. 47-48

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Currículo Latteshttp://lattes.cnpq.br/4052172392136313

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Doutorando em Comunicação Social – PUCRS – FAMECOS. Mestre em Ciências da Linguagem, especialista em Comunicação nas Organizações, possui graduação em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pela Universidade do Sul de Santa Catarina (2001). Coordenador dos Cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda e professor titular da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. Coordenador da Especialização em Gestão de Mídias Sociais e Marketing Digital. Tem experiência na área de Comunicação e Marketing. Professor das disciplinas: Semiótica, Teorias da Comunicação, Comunicação e Significação, Marketing de Relacionamento, Marketing, Metodologia científica, Monografia I e II. Orientador de TCCs e Monografias. Principais temáticas orientadas e trabalhadas: publicidade,

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semiótica, semiologia, teoria da narrativa, comportamento do consumidor, gestão da propaganda, gestão de marca, análises de processos culturais em comunicação, linguagens, teorias da comunicação, comunicação promocional, marketing de relacionamento, comunicação organizacional, redes sociais e mídia digital.

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Histórias, Caminhos e três Décadas e Meia de Pesquisa: Profissão,Intercom e Telenovela

Há muito tempo, ou exatamente há 35 anos, eu vinha ao mundo. Neste mesmo ano nascia também Tieta do Agreste, 19º romance de Jorge Amado. Pelé fazia sua última partida como jogador pro!ssional; a emenda constitucional que fun-dava o divórcio foi instituída; veio à tona a primeira repercus-são nacional sobre a busca da identidade de um assassino na teledramaturgia: o Brasil parou para ver quem matou Salomão Ayala, personagem da telenovela O Astro, sucesso de Janete Clair. Paralelamente, nascia em São Paulo, a Intercom – Socie-dade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação.

Contar, ler e ouvir histórias sempre fez parte do meu uni-verso. A vida é uma constante narrativa na qual vivenciamos

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acontecimentos, tramas, sub-tramas, buscando sempre con-quistar o que desejamos, enfrentando personagens que em alguns momentos surgem com a função de destruir ou mo-di!car o caminho traçado pelo protagonista. Assim, como em toda história de !cção, há pessoas, coisas ou ações que se transformam em adjuvantes, que por sua vez abrem espaço para que o sujeito central da história chegue ao !nal da ma-neira que sempre quis.

As facilidades ao percorrer certos caminhos pessoais e pro-!ssionais !cam ausentes em alguns momentos da vida, mas persistência e perseverança são ferramentas que auxiliam na busca do objetivo. Como narrador de minhas próprias ex-periências como pro!ssional, pesquisador e membro desta geração, apresento neste ensaio a minha relação com o meio acadêmico, com a Intercom e com meu objeto de pesquisa, a telenovela, desde o meu nascimento, no ano de 1977, período em que se abriram as discussões sobre as pesquisas na área da comunicação, com o surgimento da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação.

Desde cedo, a televisão e a teledramaturgia me encanta-vam. Lembranças de estar sentado no sofá, acompanhando as narrativas, não me faltam. Assisti cenas de humor, suspense e drama. Vi a viúva Porcina encantar o Brasil e o professor As-tromar assustar as pessoas em noites de lua cheia, ao som de

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Mistérios da Meia Noite, em Roque Santeiro. Dei risadas com as aventuras de Naná, Ariclenes e Sassá Mutema em Camba-lacho, Tititi e Salvador da Pátria, respectivamente. Em que Rei Sou Eu? pude ver a sátira de um governo desigual, cuja cor-rupção e ganância lembravam o Brasil. Assisti à luta de um amor proibido entre mãe e !lho, clássico de uma tragédia gre-ga, em Mandala. Presenciei o que pode ser feito em nome da ambição e do poder em o O Dono do Mundo e em Meu Bem Meu Mal. Tornei-me detetive ao tentar descobrir o assassino de Odete Roitman em Vale Tudo, da gêmea Taís Grimaldi em Paraíso Tropical, de Lineu Vasconcelos em Celebridade, de Saulo Gouveia em Passione e ao “caçar” o assassino que em série eliminava uma por uma das personagens, seguindo uma cronologia chinesa em A Próxima Vítima. Decepcionei-me ao descobrir que foi Sandrinha quem explodiu o Shopping em Torre de Babel, e que Bia Falcão na verdade não havia sido assassinada em Belíssima.

A !cção seriada tornou-se uma companhia. Com o tempo, ao exercer a função de professor universitário, não pude mais acompanhar com frequência muitas destas e outras histórias. Mas uma boa trama se acompanha mesmo quando se assiste a poucos capítulos.

Observar a construção das personagens, a produção tex-tual dos autores, fazia parte do meu cotidiano. Foi por este

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caminho que se direcionaram as minhas pesquisas na área da comunicação. Ao ingressar no mestrado, havia a certeza de que este seria o objeto de pesquisa que acompanharia as dis-cussões teóricas.

Em 1977, quando nasci junto com a Intercom, já se com-pletavam 26 anos que a primeira telenovela havia sido exibida no Brasil: Sua vida me pertence, de Walter Foster, exibida pela TV Tupi, de São Paulo, em 1951. Como não havia o videoteipe naquela época, a telenovela era transmitida ao vivo, mas não era diária, e sim exibida duas ou três vezes por semana. Isto era um desa!o para a época, pois, além da produção, havia a necessidade de segurar e “agendar” com o público o mesmo horário e os mesmos dias de exibição. Foi necessário, também, mudar a forma de atuação, visto que os primeiros atores na TV haviam sido pro!ssionais de rádio que emprestavam suas vozes às novelas irradiadas.

A TV Tupi foi a principal emissora da época a produzir as telenovelas. Os textos seguiam o estilo melodramático e exis-tiam algumas adaptações de romances consagrados, como os de Machado de Assis e de José de Alencar. Dois dos princi-pais autores desta época são J. Silvestre e José Castellar, au-tores consagrados das radionovelas que seguiram as mesmas características do melodrama no rádio, só que na forma de narrativa televisiva.

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A concepção da narrativa das telenovelas e a sua estrutura em capítulos diários tem muita semelhança com os folhetins, surgidos na França em 1836. Por isso, esta produção contem-porânea, a telenovela, é considerada por muitos estudiosos como herdeira daquela, o folhetim. (MEYER, 1996)1.

A minha formação em Publicidade e Propaganda foi mo-tivada por estar relacionada ao contexto televisivo e se apro-ximar da !cção audiovisual, entre outras funções. Vocação descoberta enquanto ainda assistia telenovelas. A docência me trouxe a possibilidade de buscar e encontrar na pesquisa cientí!ca a leitura deste objeto, que gerou em mim re2exões críticas e o desejo de realizar investigações sobre as repercus-sões nacionais e internacionais deste produto audiovisual, que é o mais vendido do país.

O aparecimento da Intercom em minha vida pro!ssional é recente, mas já originou bons repertórios para ser contados. A experimentação cientí!ca é que engrandece a nós, pesqui-sadores e professores. Expor resultados de nossas leituras e discussões acadêmicas em forma de artigos e exposição oral evidencia nossos esforços em buscar cada vez mais a quali!ca-ção na pro!ssão.

Assim como exponho parte da minha história neste ensaio, apresento a partir de agora um pouco da trajetória do gênero

1. MEYER, Marlyse. Folhetim, uma história. São Paulo: Cia das Letras, 1996.

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telenovela. Tanto a minha, quanto a da Intercom e a da tele-dramaturgia, são histórias que se cruzam. Datas e anos que fazem parte de um caminho percorrido até aqui, 2012, perío-do em que a Intercom e eu comemoramos os nossos 35 anos.

A telenovela surgiu, observou Ortiz (1991), como uma es-pécie de folhetim eletrônico, herdando traços da estrutura li-terária do século XIX, como a seriação em capítulos diários e o fechamento dos capítulos em suspense.

É necessário pensar no crescimento e na popularização dos folhetins, para então re2etir sobre a força de uma telenovela. Ortiz (1991, p. 11)2 destaca que “o advento do folhetim se dá dentro de um contexto de transformação radical da sociedade francesa. Um crítico de meados do século a ele se referia desta forma: ‘o folhetim nada mais é do que um teatro móvel que vai buscar os espectadores em vez de esperá-los’”. Nesse sentido, a proximidade do folhetim com a narrativa televisiva é perceptí-vel. A telenovela “busca” a audiência, que por sua vez, se reúne em um ambiente para assistir à telenovela.

O termo “teatro móvel” complementa a origem do folhetim apresentado por Martin-Barbero (2004). Para este autor, o gêne-ro tem origem no teatro popular recém-chegado na França e na

2. ORTIZ, Renato. Evolução histórica da novela. In: ORTIZ, Renato; BORELLI, Silvia Helena Simões; RAMOS, José Mário Ortiz. Telenovela: história e pro-dução. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.

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Inglaterra. O folhetim nasceu da proximidade das narrativas tea-trais e, mais tarde, ocorreu a convergência para o texto televisivo.

Entretanto, por ser narrativa, é importante observar o folhe-tim e sua relação com a literatura e formas de leitura. Leitura “fatiada” para um “novo” leitor. Martin-Barbero destaca que a literatura inaugurava com o folhetim uma nova relação do lei-tor com a escrita. Nasceram os episódios em série, que “possi-bilitaram ao leitor popular fazer sua própria viagem do conto à novela, familiarizando-se com o novo tipo de personagem e adentrando-se na nova trama”. (MARTIN-BARBERO, 2004, p. 32)3. Nestas condições, e também pela longa duração da narra-tiva no folhetim, segundo o autor, é que este gênero conseguiu “confundir-se com a vida”, criando identi!cações e a interação do leitor. Encontram-se registros dessa interação em cartas aos periódicos, por meio das quais os leitores manifestavam co-mentários e sugestões para o desenvolvimento das tramas.

A associação e a combinação dos gêneros folhetim e ra-dionovela de certa forma proporcionaram o sucesso da tele-dramaturgia, dando origem a um gênero híbrido, formado a partir da junção de dois estilos narrativos.

3. MARTIN-BARBERO, Jesús. Viagens da telenovela: dos muitos modos de via-jar em, por, desde e com a telenovela. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. (Org.). Telenovela: internacionalização e interculturalidade. São Paulo: Loyola, 2004.

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Aos poucos, os recursos utilizados na contagem das histó-rias foram se moldando. Outras dezenas de produções surgi-ram e cresceram no gosto popular. Outras emissoras, além da Tupi e Paulista, aderiram a este tipo de produção, como é o caso da Record, Cultura e Excelsior. A evolução com o passar dos anos foi notável. Entre 1960 e 1965 houve um aumento de 333% dos aparelhos televisivos utilizados no Brasil. (RAMOS; BORELLI, 1991)4.

Foi com a TV Excelsior que surgiu a primeira telenovela diária, 2-5499 ocupado, com Tarcísio Meira e Glória Menezes, de autoria do argentino Alberto Migré, com estreia em julho de 1963. Ramos e Borelli (1991) lembram que, inicialmen-te, eram exibidos três capítulos por semana, mas que após a fase de experimentação, a referida telenovela foi exibida dia-riamente, de segunda a sexta-feira. Um marco na história da teledramaturgia.

Os mesmos autores ainda observam que o sucesso da te-lenovela diária deve-se ao fato de ela ter surgido na proposta de uma narrativa capaz de ampliar o público das emissoras, estabelecendo, desta forma, uma continuidade dos fatos e acontecimentos da história, criando um compromisso com o

4. RAMOS, José Mário Ortiz; BORELLI, Silvia Helena Simões. A telenovela diá-ria. In: ORTIZ, Renato; BORELLI, Silvia Helena Simões; RAMOS, José Mário Ortiz. Telenovela: história e produção. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.

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telespectador. No início houve certo estranhamento, mas, aos poucos, este foi deixado de lado.

O sucesso das telenovelas diárias é rápido, embora no início o público tenha tido ainda algumas di!culdades para se acostumar à sua sequência diária. Como a!r-ma Edson Leite em relação à audiência de 2-5499 ocu-pado: “abaixo do razoável. Ninguém aceitou nem en-tendeu. Era mais uma tentativa. Melhor que desenho animado. Porém, a partir de sessenta dias, a coisa co-meçou a se cristalizar”5. Aos poucos o público se habi-tuava a !xar os horários, organizados e administrados pelas grandes redes. (RAMOS; BORELLI, 1991, p.61).

A telenovela diária trilhava então seu caminho de conso-lidação. Aos poucos o novo formato do gênero foi conquis-tando maior público. Ramos e Borelli (1991) destacam que muitas famílias se colocavam em frente do televisor, do avô ao neto, para assistir os episódios do folhetim eletrônico. O público majoritário deste tipo de programação, até então fe-minino, começa a se transformar em 1970, com a estreia de Ir-mãos coragem, de Janete Clair. Houve o afastamento do gênero concebido só para mulheres e então foi despertado no público masculino o interesse por este tipo de programação.

5. Depoimento In: História da telenovela, citado por Ramos e Borelli (1991).

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Há neste caminho o que Morin (1997) chama de sistema de “projeções-identi!cações”. Para o autor, “as nossas neces-sidades, aspirações, desejos, obsessões, receios, projetam-se, não só no vácuo em sonhos e imaginação, mas também sobre todas as coisas e todos os seres”. (MORIN, 1997, p. 105)6.

As telenovelas, no !nal da década de 1960, apresentaram na narrativa televisiva a consolidação de uma produção tipi-camente brasileira. As produções não foram mais caracteriza-das como dramalhões. A este respeito, Martin-Barbero e Rey (2001) pontuam dois modelos que dominaram o mercado lati-no-americano da teledramaturgia e que mediaram a narrativa televisiva: o tradicional e o moderno.

O modelo moderno rompeu com o melodramático, in-corporou o realismo, possibilitou a entrada do cotidiano nas narrativas. “Os personagens se libertam, em alguma medida, do peso do destino e, afastando-se dos grandes símbolos, se aproximam das rotinas cotidianas [...], da diversidade, das falas e dos costumes.” (MARTIN-BARBERO; REY, 2001, p. 121)7. Ou seja, o retrato da cotidianização aproximou seres re-ais dos seres criados, mostrou o jeito de ser dos que estão “se

6. MORIN, Edgar. O cinema ou o homem imaginário: ensaio de antropologia. Lisboa: Relógio d’Água, 1997.

7. MARTÍN BARBERO, Jesús; REY, Germán. Os exercícios do ver: hegemonia audiovisual e "cção televisiva. São Paulo: SENAC, 2001.

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visualizando” na telenovela, suas semelhanças, fragilidades e identi!cações.

Diferentemente do melodrama, que fez referências às pro-duções mexicanas e venezuelanas, constituindo-se em um gê-nero sério, predominando o mote trágico, envolvendo paixões e sentimentos essenciais que neutralizavam a alusão de lugar e tempo, o foco principal da telenovela brasileira tornou-se o amor, o ódio, a intriga. Surgiram elementos mais exagerados dando movimentação à narrativa. No melodrama houve a es-sência !el do maniqueísmo, personagens chamadas de “puro signo”, por Martin-Barbero e Rey (2001, p. 121), facilmente reconhecidos e identi!cáveis. O bem e o mal são reconhecidos pela expressão, pela caracterização.

Na Globo, Janete Clair escreveu, entre 1968 e 1969, Passo dos Ventos e Rosa Rebelde, marcando o início de um novo perí-odo em relação à construção dos enredos nas telenovelas. Foi a partir de 1970 que a telenovela deixou de lado os dramalhões sustentados pelos países vizinhos.

Nos anos de 1970 a 1980 as telenovelas, de acordo com Hamburger (2005), passaram a ocupar a posição de um dos programas mais populares e lucrativos da televisão brasileira. Em 2005, uma novela de sucesso exibida pela Rede Globo che-gava a atrair quarenta milhões de brasileiros.

Cada vez mais surgem discussões acerca do tema telenove-la. É um produto que mexe com o imaginário social, determina

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moda, padrões sociais, informa e “vende” culturas. Conforme exprime Wolton (1996)8, é o produto mais forte e in2uente da televisão brasileira. Cativa o imaginário popular com compe-tência industrial. De acordo com Mazziotti (1996)9, a teleno-vela é um produto da indústria cultural, porque é composta por três fatores que a identi!cam como produto cultural in-dustrializado: sua produção industrial, a textualidade, e a ex-pectativa de audiência. Neste sentido, é indústria porque há todo um modo de se fazer, de como contar uma narrativa. A textualidade corresponde às suas formalidades, características e limites. Já o público/audiência sempre espera um novo título, uma nova história. A telenovela gera expectativa por parte do público, sendo isto primordial para a produção de uma narra-tiva televisiva. Sem a audiência, não há história.

As histórias são contadas, conforme observa Pallottini (1998), por meio de imagens, com uma trama central e algu-mas subtramas constituídas por diálogos e ação. Para a autora, uma característica da telenovela brasileira e um dos seus ele-mentos essenciais é a presença obrigatória de uma trama prin-cipal e muitas subtramas. “As subtramas são histórias parale-

8. WOLTON, Dominique. Elogio do grande público: uma teoria crítica da te-levisão. São Paulo: Ática, 1996.

9. MAZZIOTTI, Nora. La industria de la telenovela: la producción de "cción em América Latina. Buenos Aires: Piados, 1996.

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las, de vários tipos e coloridos, que ocorrem ao lado da trama principal, ligando-se de alguma forma a ela.” (PALLOTTINI, 1998, p. 74)10.

Para Straubhaar (2004)11, a telenovela é um dos produtos culturais mais vistos e in2uentes em toda a América Latina, presente por meses e meses na vida cotidiana de milhões de pessoas, dos mais diversos segmentos sociais, in2uenciando--as e embalando seus sonhos em busca da felicidade. Ela re-presenta, assim, o que diz Martin-Barbero (2001): que o país se relata e se deixa ver nas telenovelas.

O segredo do sucesso das telenovelas é a sua completa in-teligibilidade, conforme observado por Simões; Costa; Kehl (1986, p. 320)12. Para eles “a novela fala a linguagem da trans-parência: para todo mundo se sentir por dentro”. Segundo Wolton (1996), existe não apenas uma identi!cação com as personagens, mas também interesse pelos desdobramentos dos romances, pelos temas abordados e pela necessidade que o

10. PALLOTTINI, Renata. Dramaturgia de televisão. São Paulo: Moderna, 1998.

11. STRAUBHAAR, Joseph. As múltiplas proximidades das telenovelas e das au-diências. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. (Org.). Telenovela: inter-nacionalização e interculturalidade. São Paulo: Loyola, 2004.

12. SIMÕES, Inimá Ferreira; COSTA, Alcir Henrique da; KEHL, Maria Rita. Um país no ar: história da TV brasileira em três canais. São Paulo: Brasiliense, 1986.

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público tem em conhecer culturas e padrões sociais diferentes. Hamburger (2005)13 complementa essa ideia a!rmando que os telespectadores acreditam que aprendem enquanto assistem telenovelas, porque há novas informações e debates polêmicos sobre temas e tabus sociais.

Embora apresente muitos aspectos a serem discutidos, dentre eles sexo, tabus, violência, temas sociais, família, en-tre outros; a telenovela veio para criar um gênero inesgotável de discussões acadêmicas e pro!ssionais. Desde o seu nasci-mento, vários processos de mudanças aconteceram. O público também não é o mesmo das décadas de 1960 e 1970. Pode-se dizer que o telespectador se moldou à telenovela, como tam-bém a telenovela se moldou ao telespectador, em uma ligação contínua que parece não ter !m.

Independente do horário, certos enfoques ou temas são ne-cessários para o enredo da narrativa televisiva. Mazziotti (2010)14, ao investigar a relação de algumas telenovelas latino-americanas, acabou observando que entre elas haviam alguns plots (enredos) em comum, movimentando as ações dramáticas da história:

13. HAMBURGER, Esther. O Brasil antenado: a sociedade da novela. 2005.

14. MAZZIOTTI, Nora. La fuerza de la emoción. La telenovela: negocio, audien-cias, historias. Miradas: revista del audiovisual. La Habana, Cuba. Disponível em: <http://www.eictv.co.cu/miradas/index.php?option=com_content&task=view&id=291&Itemid=48>. Acesso em: 05 fev. 2010.

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1 – Plot de amor: um casal apaixonado que é sepa-rado por qualquer motivo, encontra-se outra vez e tudo acaba bem; 2 – Plot cinderela: a metamorfose de uma personagem de acordo com os modelos so-ciais; 3 – Plot triângulo: o caso do triângulo amoro-so; 4 – Plot de retorno: o !lho pródigo que retorna a seus pais; 5 – Plot vingança: a reparação de uma injustiça pelas próprias mãos; 6 – Plot sacrifício: o herói ou a heroína se sacri!cam por alguém. (MA-ZZIOTTI, 2010, tradução minha).

O que se percebe, ao observar estes plots, é que muitas tra-mas principais e subtramas são sustentadas por ações dramá-ticas. Algumas em maior escala, outras somente em pontos especí!cos de identi!cação, mas que vão proporcionando ao telespectador um conhecimento necessário da história e apro-ximando-o das personagens.

Diante destas exposições acerca da teledramaturgia perce-bo a grandiosidade do gênero para a sociedade brasileira. Pes-quisas nascem e são expostas para o conhecimento da acade-mia cientí!ca. São narrativas que estão dia a dia alimentando imaginários, identi!cando públicos, propondo discussões em distintos locais. Histórias que enriquecem e enriqueceram a minha vida pessoal, e agora também a pro!ssional.

Finalizo este ensaio pontuando algumas frases, alguns acontecimentos e agradecimentos envolvendo alguns títulos

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que deram nomes a algumas telenovelas. Desejo continuar investigando a !cção seriada, tenho novos sonhos para moti-var esta busca, novas conquistas são desejadas. A!nal, estava Escrito nas Estrelas que eu poderia buscar tudo o que sempre desejei. Que eu pudesse Viver a Vida com maestria, que meu coração seria um eterno Coração de Estudante. Que mesmo não sendo o Dono do Mundo nem O Salvador da Pátria, eu pudesse ter Um Sonho a Mais, e estar neste momento continu-ando meu caminho pro!ssional.

Obrigado Deus pela vida, Senhora do Destino meu, guiada pelo Criador desde os meus primeiros segundos de vida. Ao nascer, fazendo Caras e Bocas, houve em mim muita deter-minação, para que eu pudesse ser o que sou e Renascer para o mundo.

Muitas pessoas me apresentaram a Felicidade, me mostra-ram que para viver bem Vale Tudo, até mesmo enfrentar Co-bras e lagartos, pisar o Pé na Jaca, quebrar uma ou outra Ci-randa de Pedra, e que mesmo cometendo os Sete Pecados, sou digno de ler e desvendar O Mapa da Mina para descobrir que o maior tesouro é partilhar vitórias, fazendo de minha história um livro com as Páginas da Vida que quero construir, visando sempre um Final Feliz que possa ser lido e relido com exem-plos de determinação, buscando uma atitude em que eu possa ser Livre para Voar e nos Passos dos Ventos eu possa sempre

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fazer a escolha certa: ser feliz e realizar os meus sonhos. Esta muitas vezes não é tarefa de todos, mas certamente, para mim, é A Favorita.

Escolher entre ser Brega e Chique em algumas ocasiões é necessário. Na docência, ensinar é uma Roda de Fogo, uma Hi-pertensão, mas vale a pena! É preciso ter sempre Esperança, por que todos têm o Direito de Nascer e o Direito de Amar. Ser Fera Ferida por alguns espinhos em alguns momentos aconte-ce, o que não se pode deixar de pensar é nos Laços de Família que se cria em cada etapa da vida. A Geração Intercom é mais um laço !rmado, entrelaçado por pessoas de várias partes do Brasil.

Valeu vida, valeu pelo dia em que recebi a notícia de que havia um Bebê a Bordo, tornando realidade o mais importante Sonho Meu: o de ser pai. Que primeiramente Um Anjo Caiu do Céu, e que depois de quatro anos, “caiu” O Outro. Família esta que Por Amor está presente, compartilhando conquistas, enfrentando di!culdades, ajudando a construir uma Belíssima história, que neste ensaio ousei contar para vocês!

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Matheus Pereira Mattos

Felizola

Publicitário, Doutor em Ciências Sociais – UFRN, Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) no Mestrado em Comunicação da UFS, Professor Adjunto II do curso de publicidade e propaganda da UFS – Universidade Federal de Sergipe e líder do grupo de pesquisa em Marketing.

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Memorial descritivo do professor Matheus Pereira Mattos Felizola

Posso traçar minha trajetória pro!ssional, a partir do ini-cio da minha graduação, pois foi em 1996 que eu adentrei na UNIT- Universidade Tiradentes no curso de Publicidade e Propaganda. Seria fundamental observar, que durante o pe-ríodo do meu curso, entre 1996 e 2000, tivemos mudanças sensíveis em relação a história política, econômica e social da cidade, onde seria possível fazer uma associação com a evolu-ção das agências de publicidade da cidade de Aracaju e mesmo da percepção da publicidade enquanto ciência e não apenas enquanto negócio em Sergipe.

Considerando que o primeiro curso de Comunicação So-cial, com habilitação em publicidade e propaganda, surgiu

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no estado apenas em 1995, eu enquanto participante desse movimento, fui da quarta turma da instituição, é importante ainda ressaltar, que até esse momento não havia pesquisa em comunicação, especi!camente dirigida ao setor publicitário, no máximo o que tínhamos em Sergipe era apenas algumas pesquisas relacionadas com institutos que mediam a audiên-cia de determinados veículos, ou mesmo pesquisas de opinião pública. A partir de então se inicia uma busca pelo conheci-mento aplicado na área e pela construção de uma identidade local, no que tange às contribuições para o campo comunica-cional. Há de se ressaltar que o interesse pelo setor publicitário apresentou um crescimento exponencial nesse primeiro mo-mento. Em relação a instituição UNIT, ela necessitava obvia-mente formar suas primeiras turmas, e muitas vezes os alunos que adentram a instituição nesse período, foram cobaias de propostas pedagógicas oriundas de outras realidades, aqueles que queriam trabalhar com projetos de pesquisa, como foi o meu caso, não tinham oportunidade de buscar bolsas de Ini-ciação Cientí!ca ou mesmo participar de grupos de pesquisa, então eu posso dizer que meus quatro anos e meio de faculda-de, apenas trouxeram conhecimentos práticos, mas tive muito pouco de teoria nesse período, portanto minha aproximação com o INTERCOM nesse primeiro instante foi bastante tími-da, eu apenas participava como ouvinte, mas sem apresentar

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nenhum trabalho cientí!co. Entretanto, eu posso dizer que tive bons professores nesse período, mas que provavelmente não tiveram tempo su!ciente para desenvolver um bom traba-lho, pois os professores passavam muito pouco tempo na ins-tituição. Foram tempos sinistros, onde os professores Mestres e Doutores eram demitidos logo após as avaliações de curso.

Enquanto experiência de mercado, tive diversos estágios não acadêmicos, coincidindo com Felizola (2010, p699) “sur-gimento de novos nichos e a crescente necessidade de pro!s-sionais cada vez mais quali!cados e aptos para atender aos anseios de uma classe empresarial, cada vez mais preocupada com a sua lucratividade”. Nesse período em questão, o proprio surgimento do curso de Publicidade na UNITE modi!cou so-bremaneira a área em Sergipe, a universidade ainda contribui alimentando os futuros pro!ssionais com conhecimento, ex-periências e técnicas publicitárias trazidas do mercado para a universidade, com o objetivo de aproximar ainda mais a teoria da prática. Embora como eu já a!rmei, a área cientí!ca foi co-locada em segundo ou terceiro plano.

No !nal de 2000, eu terminei a graduação em Comunica-ção Social com habilitação em Publicidade e Propaganda na Universidade Tiradentes tendo como trabalho !nal a mono-gra!a “Marketing na Internet para pequenas e médias empre-sas’ tendo tido como orientadora a professora Letícia Passos

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A4ni. Podemos considerar esse trabalho como inovador, pois versava sobre um tema pouco conhecido até então.

A partir de 2001, eu reiniciei minha vida pro!ssional e du-rante 3 anos trabalhei de forma avassaladora, em diversas em-presas de comunicação, trabalhei em TV´s, Revistas, Jornais, Agências, Consultorias de Marketing e outras empresas, o In-tercom continuava sendo um dos eventos mais importantes do ano na minha opinião, eu sempre tentava pelo menos compare-cer ao evento nordestino. Nesse período, eu tomei uma decisão crucial e fundamental em minha trajetória pro!ssional, movido pelo apoio dos meus familiares, tomei a decisão de investir na carreira acadêmica, foi quando em 2003 comecei a lecionar no SENAC, no curso de Radialismo e Televisão, nesse mesmo ano reiniciei minha primeira especialização Lato Sensu, mais pre-cisamente em Organização, Recursos Humanos e Planejamen-to, na mesma Universidade Tiradentes. Tendo como tema !nal de trabalho “Endomarketing: uma preciosa ferramenta para as empresas modernas”, sendo orientado pela professora Maria Balbina de Menezes Carvalho. Esse trabalha re2etiva um pou-co da minha percepção de mercado, pois já começava a trilhar uma carreira de consultor de marketing, embora tenha inter-rompido essa carreira em diversos momentos de minha vida.

Logo em seguida no início de 2004, iniciei um curso de Aperfeiçoamento em Programa de Desenvolvimento de Edu-

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cadores Pro!s. No SENAC – Serviço Nacional do Comércio. Com o título: A formação de professores no contexto da educa-ção ambiental, esse foi meu primeiro curso de aperfeiçoamen-to pedagógico e foi fundamental para meu desenvolvimento na área acadêmica. Junto ao inicio do ano de 2004, eu também começava uma nova especialização Lato Sensu em Marketing agora pela Universidade Federal de Sergipe- UFS, tendo o marketing cultural como tema !nal de curso, desenvolvendo um planejamento para a própria Universidade Federal, com a orientação da Professora Jenny Dantas Barbosa. Esse traba-lhou fez uma ponte entre a minha trajetória pro!ssional e o SEBRAE, sendo que em 2009 após um processo longo de sele-ção eu iniciei o meu trabalho como consultor do Sistema “S”, nesse mesmo ano eu fui para o Intercom Nacional em Santos, embora não tenha nesse momento apresentado trabalho.

Ainda em 2005, eu ingressei em uma nova pós gradua-ção Lato Sensu agora em Gerenciamento de Recursos Hídri-cos pela Universidade Federal da Bahia, UFBA, Brasil, tendo como título !nal do trabalho “Ensino a distância como apoio à capacitação de recursos hídricos”, orientado pela professora Yvonilde Dantas Medeiros. Nessa pós eu aprofundei meus co-nhecimentos na área ambiental, que sempre foi minha paixão, embora nos últimos tempos eu esteja bastante afastado desse estudo.

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Em 2004, eu adentrei em um projeto fundamental para minha formação como cidadão, o Instituto Àrvore, tendo sido diretor de comunicação entre 2005 e 2008, realizando o Projeto União Pelas Águas, que foi submetido ao edital do Programa Petrobras Ambiental. Infelizmente, o projeto não foi aprovado para !nanciamento, no entanto a ocasião gerou impactos positivos no trabalho em equipe e na percepção da importância de realização de diagnósticos durante a elabora-ção de projetos. O período de 2005- 2008 em minha vida, foi marcado pelos debates sobre as Políticas Públicas de Juventu-de, e principalmente da participação dos mesmos como atores socioambientais, melhorando a realidade local, e global como um todo. Neste contexto, os voluntários do Instituto Árvore atuaram no desenvolvimento de palestras e debates por todo Brasil. As articulações e mobilizações em nível nacional com outros jovens e organizações geraram demandas, e como con-sequência a realização do I Congresso Brasileiro de Empreen-dimentos Sociais Sustentáveis, evento realizado na cidade de Pirambú (SE), no período de 17 a 23 de julho de 2005. Esta ação contou com a participação de 90 (noventa) jovens ad-vindos de todo Brasil. No mesmo ano iniciou-se uma fase de preparação para projetos futuros, com o desenvolvimento de pesquisas em parceria com Instituições de Ensino Superior lotadas neste Estado, uma delas foi denominada Ecoturismo

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na Floresta Nacional do Ibura como potencial fomento de Sociedades Sustentáveis, que resultou na conclusão de que a implantação do ecoturismo de base comunitária pode elevar o nível de relacionamento das dimensões da sustentabilidade ao ponto de transformar as comunidades do entorno do Ibura em sociedades sustentáveis. O envolvimento com a temática levou a organização a realizar o I Fórum Nordestino de Ecotu-rismo, que teve como tema Ecoturismo e o Combate à Deser-ti!cação e Mitigação dos Efeitos da Seca, esta e outras ativida-des socioculturais aconteceram na cidade de Aracaju, Estado de Sergipe, no período de 2005 até 2008, ano que eu acabei saindo da instituição. Eu acredito que o período de atuação na ONG, foi fundamental para meu aprofundamento na área ambiental, o que resultou em um trabalho !nal de mestrado e tese de doutorado na área, sendo que todos os trabalhos foram divididos e apresentados em diversos INTERCOM´s.

Ao !nal de 2005, eu !nalmente adentrei em um mestrado, tendo entre 2005 e 2007, feito o curso em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe, UFS, sendo que meu trabalho !nal foi “ Projetos de educação am-biental nas escolas municipais em Aracaju, com a professora Laura Jane Gomes como orientadora. Nesse mesmo ano de 2005, eu voltei para a UNIT- Universidade Tiradentes para atuar como professor, !cando nessa instituição entre 2005 e

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2009, nesse período eu incentivei bastante meus alunos para participarem dos eventos ligados a INTERCOM, tanto que nesse período que !quei na Instituição, tivemos 12 trabalhos aprovados no Intercom Junior. Acho que esse foi talvez o meu mais importante legado na UNIT, pois até então, pouco se sa-bia sobre o INTERCOM principalmente na área de Publici-dade e Propaganda. Além disso, eu ainda organizei juntos aos meus alunos, caravanas para participar tanto do INTERCOM NORDESTE em cidades como Teresina, Salvador, Campina Grande, Maceió e outras. Acho que essa percepção cientí!ca com a formação de grupos de pesquisa na UNIT (Comporta-mento do consumidor) foi um ponto fundamental de minha carreira acadêmica.

Nesse período de 2005 até 2007, eu pude participar ainda da rede de educação ambiental de Sergipe, onde fui coorde-nador, sendo que A rede de educação ambiental de Sergipe, é uma rede que busca incentivar a educação ambiental no esta-do de Sergipe, essa rede está ligada a REBEA, sendo uma soma de intenções entre seus vários elos (organizações e pessoas) e parceiros, a !m de consolidar ações que permitam estabelecer uma nova consciência com o meio ambiente. Portando, ajudar a formar uma clara compreensão da importância da interde-pendência entre os aspectos econômicos, sociais, ecológicos e políticos, proporcionar novas formas de conduta dos indiví-

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duos fazendo-os adquirir novos valores no que diz respeito ao meio ambiente. Possibilitando assim, a troca de conhecimento que possibilite um alavancamento da EA no território sergi-pano com o uso de redes e de tecnologias de informação são objetivos de máxima relevância no trato com a natureza e a vida, a que a REASE se propõe. Em 2009, eu adentrei no LICA – Laboratório Interdisciplinar de Comunicação Ambiental, tendo !cado até 2011 no projeto, participando principalmen-te de duas linhas: Práticas midiáticas e produções discursivas sobre meio ambiente e desenvolvimento regional sustentável com o Objetivo: Do ponto de vista das teorias do jornalismo, interessam particularmente os problemas de noticiabilidade dos temas ambientais e de agendamento da mídia em relação às controvérsias sobre os riscos ambientais, a distribuição e uso dos recursos naturais (incluindo o gerenciamento da sua escassez), o impacto social do ambiente construído (sobre-tudo grandes obras de infra-estrutura) e o próprio conceito de desenvolvimento sustentável. E atuando também na linha ligada a Marketing verde, consumo consciente e educomuni-cação ambiental, com o objetivo, de desenvolver um trabalho na área de Publicidade, Propaganda e Marketing, interessam a importância das ações de marketing na construção social do debate ambiental; a discussão da in2uência da publicidade nos padrões de consumo no mundo moderno, com ênfase aos seus

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impactos nos dilemas ambientais contemporâneos; e investi-gações sobre como o posicionamento estratégico das organi-zações está associado a uma aproximação com o conceito de sustentabilidade e suas reapropriações..Nesse período ainda, !z minha quarta pós graduação Formação de professores para a educação ambiental. Tendo como tema !nal “ As Práticas de Educomunicação para o Desenvolvimento: A formação de professores no semi-árido Sergipano” orientada pela mesma Laura Jane Gomes, que havia sido minha orientadora no mes-trado.

Nesse período eu decidi que tentaria novos desa!os pro-!ssionais e em maio de 2007, eu fui morar em Maceió para coordenador os cursos de Publicidade e Propaganda na FITS – Faculdades Integradas Tiradentes, passei apenas 7 meses na cidade, mas nesse período !z boas amizades na área acadêmi-ca. Voltei para Aracaju e em dois meses eu adentrava a UFS como professor Substituto do curso de Jornalismo, lecionando nesse primeiro momento a disciplina Comunicação Organiza-cional. Acho que minha trajetória mais ligada ao INTERCOM começou nesse momento, pois foi o meu melhor momento acadêmico, com publicação de trabalhos importantes princi-palmente na área de meio ambiente e educomunicação, sendo que em 2008 eu fundei um grupo de pesquisa na UFS, intitu-lado grupo de pesquisa em Marketing que conta em 2012, com

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mais de 60 trabalhos publicados pelos docentes e discentes en-volvidos no curso. Em maio de 2009 eu prestei concurso para professor Assistente da UFS – Universidade Federal de Sergipe e logrei êxito, sendo convocado no mesmo mês para assumir a vaga como professor do Curso de Publicidade e Propagan-da, sendo que eu fui o primeiro professor do curso na área de marketing.È importante ressaltava, que ainda fui primeiro lugar no concurso para professor efetivo da UFS Universida-de Federal de Sergipe na matéria de Ensino: Planejamento em Publicidade e Propaganda (houve desistência dessa vaga devi-do a aprovação em outro concurso na mesma universidade). Ainda em 2009, eu iniciei meu Doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, Brasil, tendo !nalizado em março de 2012 com o trabalho “A Trajetória dos Movimentos Socioambientais em Sergipe- Per-sonagens, Instituições e Estratégias de Comunicação”, tendo como orientador o professor Fernando Bastos Costa.

Em 2010, eu juntamente com outra professora do meu de-partamento, lancei um projeto de extensão intitulado “O meio ambiente no cotidiano: educação ambiental na Rádio- UFS”, onde este projeto contextualiza-se no entrecruzamento de demandas acadêmicas que se con!guram hoje como desa!os importantes a serem enfrentados pelo curso de Comunicação Social da UFS. O primeiro deles, diz respeito à necessidade de

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projetos de comunicação que envolvam os alunos no território extra-classe, dando-lhes a oportunidade de práticas extensivas que contribuam com seus processos de formação pro!ssional. A partir desse ponto, nos deparamos com um segundo desa-!o, que é o de envolver esses mesmos alunos em atividades na Rádio UFS, contribuindo para que esta se con!gure em um espaço de ação e aprendizado dos estudantes do curso. Além disso, o projeto vem ocupar um espaço necessário ao envol-ver os alunos em atividades de produção radiofônica voltadas para uma temática relevante em se tratando de conteúdo edu-cativo: ambientalismo. A!nal, vivemos hoje um momento de grande ebulição em torno de perspectivas sociais que colocam a questão ambiental como central em relação a qualquer mo-delo de desenvolvimento.

Sendo que ainda em 2010, eu adentrei no projeto de Coleta seletiva de Lixo, que acabou resultando em um projeto maior chamado “UFS AMBIENTAL” a partir da iniciativa de Im-plantar no Campus Prof. José Aloísio de Campos, da Univer-sidade Federal de Sergipe, um programa de Coleta Seletiva de resíduos sólidos, adequando-a a Política Nacional de Resíduos Sólidos (CONAMA, 1998) e colocando em prática o Decreto nº 5.940, de 25 de outubro de 2006.

Em Abril de 2012, eu assumi a Che!a do Departamento de Comunicação da UFS, atuando atualmente como coorde-

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nador de quatro cursos superiores (Radialismo, Audiovisual, Jornalismo e Publicidade).

Nesse período de 2009 até 2012, eu participei de INTERCOM´s em diversas regiões, conheci professores de diversas instituições, apresentei trabalhos em mais de 8 con-gressos e tive a oportunidade de ser avaliador do prêmio EX-POCOM em diversas ocasiões. Posso dizer de forma categóri-ca, que minha vida acadêmica está atrelada de!nitivamente ao INTERCOM, sendo que sou sócio desde 2008 e posso me con-siderar, sem falsa modéstia em um grande incentivador para que os jovens possam participar desse evento. Sempre lembro a eles, que durante toda a minha graduação, eu senti falta de professores que incentivassem a pesquisa, portanto eu tive um comportamento completamente diferente quando tive a opor-tunidade de estar do “outro” lado. Hoje eu posso dizer que criei uma legião de estudantes que conheceram o INTERCOM.

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Pablo Cezar Laignier de

Souza

Doutor em Comunicação pelo PPGCOM/UFRJ (2013), Mestre em Comunicação e Cultura (2002) e graduado em Comunicação Social (Jornalismo – 1999) pela mesma instituição. Professor dos Cursos de Comunicação Social e Cinema da Universidade Estácio de Sá (UNESA), com experiência docente em disciplinas como: Comunicação Comunitária, Teorias da Comunicação, Comunicação e Política, além de orientar trabalhos monográficos de conclusão de Curso (TCC). Possui também experiência docente nos seguintes cursos de Pós-Graduação (Lato Sensu) desta instituição: Telejornalismo (disciplina Metodologia da Pesquisa) e Jornalismo Cultural (disciplina Estética e Arte). Professor Adjunto do Curso de Graduação em Jornalismo do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), onde leciona a disciplina Ética e Legislação Jornalística.

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Pesquisador, desde 2007, do Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária (LECC/ UFRJ). É um dos organizadores e autor de dois capítulos do livro “Introdução à História da Comunicação” (E-papers, 2009).

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Em busca do ponto perdido

Seria difícil saber por onde começar... Então, comecemos pelo início. Mas início de quê, exatamente? Da vida? Ou da vida acadêmica? Sim, acredito que neste texto seja importante destacar a vida acadêmica. Ainda assim, eu não poderia deixar de falar sobre minhas aspirações e inspirações iniciais na vida, pois elas se misturam ao que faço hoje tanto na sala de aula quanto em minhas pesquisas.

Sempre gostei de arte de um modo geral, não perdendo a oportunidade de me fantasiar de qualquer personagem !ctício quando pequeno. Bastava que houvesse algo disponível, como um chapéu ou outro adereço, que eu o colocava e já me sen-tia outra pessoa. Aí, não me lembro bem em que idade, mas

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certamente na infância, eu fui mordido pelo bicho da música, e me imaginava tocando guitarra em um estádio, para muitas pessoas. Gostava do rock inglês e brasileiro dos anos 1980 e cantava inteira a quilométrica letra de “Faroeste Caboclo”, da banda Legião Urbana, com cerca de dez anos de idade.

Só não me lembro bem de algo que minha mãe me disse já na vida adulta, nos últimos anos: que eu explicava as coisas muito direitinho, já quando criança, como um professor. Era algo que eu fazia sem planejar; apenas fazia. E era, sem dúvi-da, muito curioso. Queria saber de tudo! Até hoje sou assim, muito curioso... E adoro explicar as coisas muito direitinho, esperando que outras pessoas possam compreender melhor sobre determinados assuntos.

Tive (ou tenho, não sei bem qual o tempo verbal mais ade-quado...) uma trajetória errática na vida. Dos dez aos vinte e sete anos meus esforços sempre foram na direção dos meus trabalhos artísticos: nove peças de teatro como ator, várias participações pequenas em televisão e uma em cinema, dife-rentes shows com grupos musicais ou como artista solo, um CD independente que chegou a ter contrato de distribuição e resenhas em diferentes jornais e revistas importantes. Até os vinte e sete anos, eu respirava arte. Isto, porém, não me im-pediu de, simultaneamente, ingressar em uma faculdade de Jornalismo aos 17 anos, adquirir o meu diploma e ingressar

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no Mestrado em Comunicação e Cultura aos vinte e dois anos de idade. Com vinte e quatro anos, eu era Mestre em Comuni-cação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Talvez pelo fato de considerar o jornalismo uma espécie de plano B para as di!culdades futuras da vida como artis-ta, talvez por outros motivos que eu não sei explicar, sempre gostei, durante a graduação, das matérias teóricas ou ligadas à pesquisa. Nunca me engajei em Iniciação Cientí!ca durante a graduação, mas me lembro de fazer com a!nco os trabalhos de cunho teórico. Gostava das aulas mais re2exivas e de conhecer os principais autores e pensamentos ligados ao campo teórico da Comunicação Social.

Uma das coisas que mais me marcou na minha graduação foi um trabalho que tive de realizar em grupo logo no primei-ro semestre, em uma disciplina chamada “Técnicas Básicas em Comunicação”. Depois de muitas redações e trabalhos práticos simples e de longas exposições teóricas, o professor Francisco Dória passou seminários em grupo e tivemos que estudar au-tores importantes do século XX que se dedicaram a pensar a Comunicação Social. Meu grupo estudou Marshall McLuhan e tivemos que ler um dos livros em Inglês, pois não havia có-pia disponível em Língua Portuguesa à época. Para mim, foi fascinante descobrir que “o meio é a mensagem”, “os meios são

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extensões do homem” e tantas outras coisas que hoje, cerca de 17 anos depois, ensino aos alunos de graduação.

Deste modo, mesmo não tendo ainda muita certeza sobre meu futuro, eu me comprometia com trabalhos deste tipo e costumava obter ótimas notas, o que nem sempre ocorria com as matérias práticas relacionadas mais diretamente à ativida-de jornalística. Decidi que faria uma monogra!a nota 10 no meio da faculdade, por volta do quarto período, e o assunto era música. Estava fortemente in2uenciado por um livro que li chamado “O som e o sentido: uma outra história das músicas”, do professor e compositor José Miguel Wisnik. Assim, come-cei a reunir material para minha monogra!a, que teria como objetivo continuar algumas proposições do livro de Wisnik, só que agora (em 1999) aplicadas ao momento contemporâneo da música. Era um trabalho que discutia, em uma clara inter-face com a !loso!a e a sociologia, a relação do homem com a música na contemporaneidade, o que signi!cava levar em consideração a música produzida pela indústria fonográ!ca, ou seja, a música midiatizada.

Tentei o Mestrado logo em seguida à minha defesa de mo-nogra!a (meses depois) e tive a maior surpresa quando fui aprovado na primeira colocação da minha linha de pesquisa. Passei por uma fase de muitas mudanças em minha vida na-quele momento e não sei se concluí o Mestrado como deveria,

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com a excelência com que sempre tratei meus trabalhos acadê-micos principais. A pesquisa era uma continuação da mono-gra!a, mas minha imaturidade e minhas outras aspirações me levaram a uma encruzilhada.

Dos 24 aos 27 anos, morei em São Paulo e vivi exclusiva-mente de arte (música e teatro, tendo sido um dos fundadores da Cooperativa de Música do Estado de São Paulo). As di!cul-dades !nanceiras eram enormes e meu primeiro casamento (com uma atriz e cantora com quem trabalhei) não ia nada bem naquele momento. Quando voltei a morar no Rio de Ja-neiro, em 2004, recém-separado e com poucas oportunidades de trabalho, comecei a levar cada vez mais a sério a possibili-dade de lecionar em uma faculdade, uma ideia que me agrada-va desde que eu lecionei algumas aulas na graduação na ECO, por conta de meu Mestrado.

Esta é uma história interessante: uma colega de Mestrado estava organizando uns seminários junto a graduação e deve-ria colocar para ministrá-los os mestrandos e doutorandos da ECO. O tema era pesquisa na graduação, monogra!a para ser mais especí!co, e o objetivo era estimular os alunos a conclu-írem com excelência suas monogra!as, tirando dúvidas com os pesquisadores que já haviam concluído aquela etapa em di-ferentes instituições de ensino superior. No meu caso, eu ha-via concluído a graduação na ECO no ano anterior. Assim, na

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turma para quem eu ministrei aquela aula, havia colegas meus que chegaram a fazer disciplinas comigo e ainda não haviam concluído o curso. Eu era muito jovem, sem experiência como professor, e não cumpria ainda certos trâmites acadêmicos que considero hoje fundamentais. Era muito informal aos 22 anos e fui vestido com uma calça jeans, uma camiseta do tipo t-shirt lisa de cor branca e um boné virado para trás. Levava na mão não uma mochila, mas apenas minha monogra!a, uma folha com algumas anotações e um som portátil para mostrar alguns exemplos para os alunos. Achei que não fossem me levar a sé-rio, pois quando entrei me sala de aula, a turma, que estava lota-da, começou a comentar em voz alta coisas do tipo: “caramba, é você!”, como se não acreditassem que o ex-colega de turma seria o professor naquela manhã. O resultado !nal foi que eles gos-taram muito da aula, pudemos esclarecer muitas dúvidas sobre monogra!a e eu, além de falar sobre o meu projeto, consegui situar a explicação de um modo que servisse para qualquer tipo de assunto e não somente para quem fosse, por exemplo, estu-dar música. Muitos alunos vieram falar comigo depois da aula e fui bastante elogiado pela colega que organizava os seminários, tendo sido convidado novamente para o mesmo tipo de expo-sição no ano seguinte. Estas aulas ocorreram em 2000 e 2001.

Voltando ao Rio de Janeiro de 2004, enquanto me virava para conseguir alguns trocados ainda trabalhando com músi-

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ca e teatro, produzindo shows e eventos de outras bandas etc, deixava meu curriculum em diferentes universidades particu-lares e comentava com alguns colegas do meu Mestrado (algo que nunca fui muito bom em fazer...) mais velhos e que já esta-vam lecionando o quanto eu gostaria de (e precisava) lecionar.

Nove meses depois (quase como uma gestação...), conse-gui a oportunidade de lecionar para uma turma no Campus Madureira da UNESA. A disciplina era “Teoria da Comuni-cação”. É claro que não foi moleza: entrei em sala de aula às pressas, ainda sem contrato de trabalho (que eu assinei pos-teriormente), para substituir uma professora que não estava conseguindo chegar para aquela aula no horário pois vinha de outro município (onde também lecionava). Já havia sido chamado para uma entrevista com o coordenador do curso na semana anterior, mas só me foi con!rmado por telefone que eu ministraria aquela primeira aula no dia anterior. Peguei o telefone da professora que estava deixando a turma e conversei com ela a respeito do conteúdo: !quei sabendo que o assunto daquela aula seria a Teoria Matemática da Comunicação, ou Teoria da Informação, assunto sobre o qual sempre fui bastan-te interessado. A turma estava a duas semanas de sua primeira avaliação, que deveria incluir o conteúdo ministrado pela pro-fessora anterior. Os alunos estavam insatisfeitos com a situa-ção e foi um teste de fogo aquele primeiro semestre. Contudo,

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no último dia de aula, recebi um presente (uma caneta bonita) de uma aluna com um bilhete que me comoveu: algo como “o que faz de um professor um grande professor não é somente o quanto ele sabe, mas a forma com que ele cuida de seus alunos, o carinho e paciência que ele dedica a eles”. No bilhete ela con-cluía dizendo que eu era um excelente professor e que era uma honra ter sido aluna de minha primeira turma etc. O detalhe é que esta aluna era mais velha do que a maior parte da turma e também era professora (do ensino fundamental). Aquilo me-xeu muito comigo, pois eu já estava gostando bastante de le-cionar e me senti reconhecido pelo esforço em garantir o meu melhor mesmo em uma situação de exceção.

As turmas se multiplicaram e me vi, em janeiro de 2007, após ter completado dois anos nesta nova vida, querendo alçar novos voos. Lembro-me que já não me bastava apenas prepa-rar e ministrar aulas e eu começara a querer voltar a pesquisar, agora com mais maturidade e objetivos mais claros. Propus a um amigo meu que também era professor (e formado em História) que escrevêssemos junto com alguns colegas um li-vro sobre História da Comunicação, com linguagem acessível e conteúdo sintético, uma espécie de introdução para os alu-nos de graduação a um assunto tão complexo e que demanda-va a leitura de muitos capítulos de livros diferentes. Nós dois organizamos e cada um de nós escreveu dois capítulos do li-

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vro. Chamamos outros professores (um total de seis autores, contando conosco) e nós concluímos o projeto em um ano, sem ter a menor ideia de como faríamos para publicar, mas sabendo que havia uma demanda por um projeto como este. Levamos mais um ano para conseguir uma editora e, em agos-to de 2009, lançamos no Rio de Janeiro o livro “Introdução à História da Comunicação” (E-papers). Um mês depois, no Congresso Nacional da Intercom, em Curitiba, lançamos o!-cialmente o livro. Fiquei muito comovido também quando o autor Ferrareto, citado no capítulo sobre o rádio, comprou um livro no Publicom daquele ano e nos pediu um autógrafo. O livro é muito simples, mas é constantemente citado e vem ser-vindo, nestes últimos três anos, para o que se propôs: facilitar o início do aprendizado a respeito dos aspectos históricos fun-damentais do campo da comunicação midiática para alunos de graduação e pessoas que não sejam exatamente especialis-tas no assunto.

Com relação à Intercom, tive meu primeiro contato com os congressos da instituição em 2008, quando iniciei minha trajetória rumo a congressos na área de Comunicação. Vis-lumbrava, naquele momento, a possibilidade de ingressar em um curso de Doutorado na área, depois de já ter concluído o Mestrado há cerca de seis anos e lecionar há três anos e meio. No ano de 2008 fui a meus quatro primeiro congressos e,

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dentre eles, dois foram realizados pela Intercom. O segundo Congresso ao qual fui e o primeiro em que precisei viajar para apresentar um trabalho foi o Intercom Sul, na Unicentro, em Guarapuava, em maio de 2008. Ainda não estava habituado aos prazos destes congressos e, quando terminei meu traba-lho, o prazo de submissão do Intercom Sudeste daquele ano já havia se esgotado. Mas ainda existia a possibilidade de eu inscrevê-lo no Intercom Sul, uma viagem não muito longa e a menos custosa dentre os congressos regionais que restaram. Foi uma experiência inesquecível para mim, pois foi a primei-ra vez que apresentei um trabalho relacionado ao que viria a ser o tema do meu projeto de Doutorado: o gênero musical funk carioca em suas interfaces com a mídia. Gostei muito da organização daquele congresso e me vi, alguns meses de-pois, rumando para o Intercom nacional de 2008, em Natal. Lá, apresentei outro trabalho sobre funk que gerou um debate interessante no grupo de pesquisa e apresentei também um trabalho de iniciação cientí!ca que realizei no campus Petró-polis II da UNESA, junto com um de meus alunos na época (hoje um Mestrando). O aluno não teve condições de pagar a passagem para aquele congresso e eu representei sozinho o nosso trabalho com muito orgulho, percebendo também, neste congresso, o alto nível de alguns trabalhos de Iniciação Cientí!ca de todo o brasil (Intercom Jr.), o que me provocou a

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querer obter melhores resultados nas pesquisas futuras junto a meus orientandos.

Tornei-me sócio da Intercom e, desde então, fui a todos os congressos nacionais seguintes (2009, 2010, 2011 e 2012) e a mais dois congressos regionais (Intercom Sudeste em 2009 e 2011). Ao todo, desde 2008, participei de cinco congressos na-cionais e três regionais da Intercom, a cada ano ampliando e diversi!cando minhas participações. Em 2009, fui júri do Ex-pocom no congresso regional e apresentei dois trabalhos (um sozinho e outro em co-autoria) no mesmo congresso. Ainda em 2009, apresentei também dois trabalhos (um sozinho e ou-tro em co-autoria) no congresso nacional, além de participar do Publicom lançando o livro citado anteriormente de História da Comunicação. Em 2010, apresentei dois trabalhos no Inter-com nacional. Em 2011, ministrei meus primeiros mini-cursos nos congressos regional e nacional, além de apresentar traba-lho no congresso nacional e participar do lançamento de um e-book (livro virtual) comemorativo junto ao grupo de Rádio e Mídia Sonora, que comemorava vinte anos neste congresso. Em 2012, participei do júri do Expocom em duas categorias no congresso nacional, além de ministrar mini-curso em par-ceria com um colega Doutorando da ECO/UFRJ e apresentar trabalho no recém-fundado grupo de Comunicação, Música e Entretenimento. Isto somado a outras orientações de trabalhos

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de Iniciação Cientí!ca na UNESA e mesmo na ECO (lecionei Estágio-docência durante o Doutorado e estimulei uma aluna a enviar trabalho para o congresso Intercom Sudeste de 2012). Tenho que admitir que gosto muito destes congressos promo-vidos pela Intercom, onde posso reencontrar colegas e amigos que fui fazendo ao longo dos anos no campo da Comunica-ção. Desde reencontrar antigos professores de graduação até conhecer autores, pesquisadores e professores de outras partes do país: o congresso nacional da Intercom, para mim, é sempre um misto de trabalho com festa.

Como faço aniversário no dia 07 de setembro, acontece fre-quentemente de estar reunido com amigos cantando os para-béns para mim durante o próprio congresso, nos encontros noturnos após as atividades do dia. Foi assim em 2008, 2009 e 2012, por exemplo.

Tenho que confessar que, no que se refere aos meus interes-ses e projetos atuais, a bagagem que obtive nos últimos anos ampliou bastante meu escopo e enfoque. Além da música e da arte, fui travando contato cada vez mais próximo com a co-municação comunitária a partir de 2006, quando pedi a um de meus coordenadores na UNESA para lecionar esta disciplina em uma oportunidade que surgiu. Passei a integrar o LECC (Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária), da ECO/UFRJ, em 2007. De lá para cá, já escrevi matérias para

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jornais comunitários como O Cidadão, da Maré, além de ter participado de várias iniciativas coletivas em favelas. Tive o prazer de lecionar em projetos do LECC, da CUFA (Central Única de Favelas) e do SOLTEC, em locais como a Cidade de Deus e o Morro do Alemão. Há um jornal comunitário na Cidade de Deus, intitulado A notícia por quem vive, do qual participei das o!cinas iniciais que levaram à produção de sua primeira edição, em 2010.

Devido a uma atividade intensa como professor universi-tário em cursos de graduação e pós-graduação lato sensu em Comunicação Social desde 2004, e como pesquisador desde 2007, tenho hoje imenso interesse nos aspectos pedagógicos e epistemológicos do Campo. Pretendo no futuro desenvol-ver algo neste sentido, algum projeto que discuta questões pe-dagógicas e especi!cidades epistemológicas da Comunicação Social. Desde 2009 venho publicando artigos em periódicos especializados da área, relativos ao tema da minha pesquisa de Doutorado, além de outros temas a!ns.

Meu maior projeto atualmente é concluir meu Doutorado em Comunicação. Pretendo defender minha tese em fevereiro de 2013 e estou, portanto, escrevendo os capítulos que faltam neste momento. Em seguida, tenho como principal anseio ini-ciar a busca pela oportunidade de prestar concurso para uma universidade pública, pois me parece que este tipo de insti-

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tuição está mais próxima do per!l que possuo de professor--pesquisador. Gosto de lecionar, pesquisar, escrever, orientar.

Desde que fui convidado para integrar a Geração Intercom, me vi com a responsabilidade de pensar em como aproveitar este espaço para efetivamente trocar com meus colegas de ou-tras partes do país experiências e reuni-los em projetos que possam levar o nosso campo de estudos a um reconhecimento ainda maior perante outras áreas do saber. Me parece que a Comunicação Social avançou muito nos últimos anos, mas há muito por se fazer em termos da solidi!cação deste campo do saber. Espero que tenhamos outras reuniões com regularidade, pois !quei entusiasmado com a possibilidade de integrar um grupo heterogêneo espalhado pelo país inteiro, cujos projetos podem impactar de modo relevante a nossa área de saber.

Não contei uma coisa importante quando falei de minha monogra!a, anteriormente: a nota !nal foi 9,5. Acho que ain-da estou em busca da conquista daquele meio ponto, sempre tentando ser o mais perfeccionista possível em meus projetos atuais...

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Currículo Latteshttp://lattes.cnpq.br/8607780172996679

Rachel Severo Alves

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Meste em Comunicação e Cultura pela Universidade de Marília (2005), Especialista em Comunicação Visual em Mídias Interativas pela Universidade Norte do Paraná (2004) e Graduada em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Londrina (1999). Atualmente é docente da UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, onde leciono Radiojornalismo, Jornalismo Online e Produção de Texto. Autora do livro &quot;O rádio na era da convergência das mídias&quot; (EDUFRB, 2012).

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Sou jornalista de sangue!

Minha história com o jornalismo teve início antes mesmo do meu nascimento, em 26 de fevereiro de 1977. Minha mãe, Leange Severo Alves, (in memorian) e meu pai, Ubiratan de Oliveira Alves, mais conhecido pelos microfones das rádios gaúchas como Bira Alves, são jornalistas. Minha mãe estudou Letras e Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na primeira turma do curso de comunicação. Na-quela época, ela trabalhava como colunista social de serviço no jornal A Razão. Meu pai, ao !nal da década de 1950, estu-dou dois anos de comunicação na escola de comunicação do Exército em Deodoro, no estado do Rio de Janeiro, quando atuava como sargento de comunicação, e depois estudou mais

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dois anos de estágio probatório de comunicação na UFSM, quando recebeu, em 1969, o título de jornalista e radialista pro!ssional, antes mesmo da regulamentação dos cursos de jornalismo no Rio Grande do Sul. Lá, ele foi fundador da Rá-dio Universidade e foi um dos primeiros redatores, editores e apresentadores da TV Educativa da universidade.

Eu entrei nesta história tempos depois, quando o destino havia levado os dois para trabalhar na Universidade Estadu-al de Londrina (UEL), na década de 1970. Lá, em princípio, minha mãe trabalhou na Folha de Londrina, como a primeira jornalista formada do periódico e lecionavam jornalismo para as primeiras turmas de comunicação da universidade. Em 1976, minha mãe, em plena atividade acadêmica e descobriu a gravidez e manteve as aulas até pouco antes do meu nascimen-to. Assim, costumo dizer que estudo jornalismo desde antes de nascer. Até mesmo minha querida madrinha, Rosa Abelin, é jornalista e professora da UEL.

Na minha casa, sempre foi muito comum ouvirmos rádio, lermos os jornais e as revistas jornalísticas, além de assistir te-lejornais de forma crítica e coletiva. Nada passava despercebi-do pelos olhares de meus pais, que sempre buscaram exercer a pro!ssão de forma ética e comprometida com o social.

Com este compromisso cidadão, fomos todos, meus pais, eu e meus irmãos mais velhos, Alex e Erik, para o Ceará, em pleno período de ditadura militar, na década de 1980, para de-

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senvolver um trabalho pelo Projeto Rondon, já que a univer-sidade mantinha um campus avançado em Limoeiro do Nor-te, onde eu fui alfabetizada e passei por grandes experiências na Escola Normal Rural da cidade. Naquele período de dois anos, vivemos experiências inesquecíveis com os estudantes que passavam o mês na cidade trabalhando e, principalmente, com a comunidade. Lá, eu era chamada de branquela do Ron-don e exercia a função de palhacinha nas atividades sociais. Com apenas sete anos, lembro de observar a atuação dos meus pais e sentir muito orgulho do trabalho e do caráter deles.

Apesar das atividades jornalísticas que também exerciam ao produzirem o jornal do projeto com o auxílio dos estudantes de comunicação, lembro mesmo é da relação muito animada e comprometida que eles tinham com os alunos e, de!nitiva-mente, muito especial que tinham com os queridos funcioná-rios e com a comunidade como um todo. Minha mãe sempre lembrava com muita emoção de um dia que foi chamada pela direção de uma escola para discutir o que fazer com um rapaz que estava roubando a merenda escolar. Vista como autorida-de de educação na cidade, minha mãe foi à reunião curiosa para ver qual seria a atitude das pessoas em relação àquele ci-dadão que andava causando problemas. Surpresa, pois achava que haveria uma intervenção policial, a comunidade decidiu dar-lhe emprego, já que ele estava roubando porque estava com fome e sem dinheiro para comprar comida. Minha mãe

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contava este fato com um misto de vergonha por ter pensado que a solução seria mais drástica e extremamente emociona-da pela compaixão, compreensão e humanidade demonstrada por aquelas pessoas. Era um exemplo para ela e sempre foi um exemplo para todos nós da família.

Naquela época, eu ainda não imaginava que estes valores seriam levados para sempre no meu íntimo e que são estes “pequenos” exemplos que nos dão a dimensão do nosso valor enquanto ser humano. E, na minha visão, para ser jornalis-ta, estes valores deveriam permear o coração de todos os que exercem esta ilustre pro!ssão.

Eu teria milhares de lembranças para compartilhar sobre este momento importante da minha vida, mas vamos seguir adiante, para outro momento decisivo na minha escolha futu-ra pela pro!ssão de jornalista e também de professora.

De volta a Londrina, minha terra natal, meus pais continu-aram ministrando aulas na UEL e eu seguia acompanhando o trabalho deles na universidade. Muitas vezes !quei desenhan-do, brincando e sendo “pararicada” pelos professores e funcio-nários do Centro de Educação, Comunicação e Artes (CECA) enquanto meus pais estavam em sala de aula.

Meu sonho, desde então, era estudar naquela universida-de bonita, com suas altas e esplendorosas perobas. Mas como quase todos os jovens, eu não sabia exatamente o que iria es-tudar: as opções eram muitas e muito atraentes. O que mais

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me chamava a atenção era o curso de psicologia, mas, como se pode notar, segui os passos dos meus pais.

Como cheguei a de!nir este caminho? Um momento muito difícil na minha vida me levou a entender a amplitude e a qua-lidade que o jornalismo pode ter caso exercido de forma séria e comprometida.

Aos 17 anos, quando estava me preparando para o vestibu-lar na UEL, meus pais se aposentaram e fomos embora para Santa Maria, no Rio Grande do Sul, cidade natal de meus pais e de meus irmãos. Fomos eu, meus pais e meu irmão mais ve-lho, pois o Erik já estava casado.

Com apenas um mês na cidade, houve um assalto na mi-nha casa, muito provavelmente armado pela pessoa contrata-da para cuidar da limpeza. Eram 13 horas, meus pais haviam almoçado e saído para a reunião de pauta no jornal A Razão, onde foram trabalhar como editores. Por causa de um episó-dio anterior, minha mãe pediu à moça que não abrisse a porta para ninguém, mas ela, minutos depois da saída deles, desobe-deceu a orientação. Assim, três homens armados entraram na casa, nos amarraram e nos mantiveram sob a mira de revólve-res. Foi, de!nitivamente, um dos momentos mais angustiantes da minha vida, pois as ameaças foram constantes e eu nada tinha a fazer a não ser esperar para ver como eles dariam !m àquele pesadelo. Tive muito medo de morrer, de que meu des-tino estive nas mãos de outras pessoas. O trauma permanece,

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quieto, confesso, mas vem à tona toda vez que me deparo com situações complicadas.

Depois daquele dia, mudamos de casa e não !quei mais so-zinha. Ao !m das aulas, eu seguia para a redação, onde perma-necia até o fechamento do jornal. Foi ali, naqueles momentos de observação do trabalho jornalístico dos meus pais e dos de-mais jornalistas e diagramadores que eu tive certeza da impor-tância daquela pro!ssão e de como eu poderia ser, também, uma boa jornalista. Lembro da minha mãe muito feliz com a sua atividade, apesar de tensa pela responsabilidade da che-!a. Convivi com jornalistas experientes e com muitos jovens jornalistas, que estavam dando início à carreira. Ali, rodeada de amigos, decidi uma das coisas mais importantes das nossas vidas: que caminho pro!ssional seguir.

Os estudos e o Intercom

De volta a Londrina, passei no concorrido vestibular para comunicação social / jornalismo na UEL e fui !rme em meus estudos, sendo aluna de professores que sempre foram ami-gos dos meus pais e, alguns, até então, eu chamava carinho-samente de “tios”. Que privilégio ter este encantamento de re-descobrir os ambientes e as pessoas, aprender novos ângulos de uma vivência que agora já não era somente pessoal, mas pro!ssional.

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Já no primeiro ano de universidade, participei como mo-nitora do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, do Intercom, que aconteceu em Londrina, em 1996. Quanto privilégio dar início aos estudos e já ser presenteada com um congresso de tamanha magnitude e reconhecimento. Lembro de !car impressionada com a quantidade de pesquisadores e de personagens que estavam nas capas dos livros dos meus pais. Posso garantir, sem sombra de dúvida, que este congres-so me ajudou a ter ainda mais segurança das minhas escolhas.

Durante o curso, eu tive a oportunidade, entre outras coisas, de desenvolver um projeto de extensão na Rádio Universidade FM, organizado pela Profa. Francisca Sousa Mota e Pinheiro. Por cerca de um ano, !zemos uma série de programas radiofô-nicos laboratoriais que iam ao ar pela rádio e nos davam mui-ta satisfação. Em uma dessas atividades, !camos a noite toda entrevistando as pessoas que trabalham na madrugada. Uma experiência incrível e emocionante. Bons tempos aqueles!

Desta relação com o rádio surgiu o interesse em realizar meu trabalho de conclusão de curso com este veículo. Assim, eu e minha colega Ana Paula Nascimento, que trabalha há anos no jornal Folha de Londrina, o mesmo onde minha mãe trabalhou na década de 1970, fomos para Londres, realizar um estudo sobre o programa brasileiro “O mundo hoje”, da BBC de Londres. Nem dá para mensurar a satisfação de ter escolhi-

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do este caminho. O resultado foi um trabalho de mais de 400 páginas, que !caram marcadas na memória da minha querida orientadora Profa. Flávia Lúcia Bazan Bespalhok, que hoje tra-balha na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Felizmente, o meu comprometimento social me permitiu, entre outras coisas, participar pouco antes da minha forma-tura em jornalismo, do Projeto Universidade Solidária (UNI-SOL) e também desenvolver projetos sociais com comunida-des de Londrina, a exemplo dos jornais colaborativos “Jornal do Povo” e “Fala, Zona Sul”, desenvolvidos, respectivamente, em parceria com a UEL e com o apoio de uma Lei municipal de incentivo !scal.

A carreira e a pós-graduação

Minha primeira experiência pro!ssional de fato aconte-ceu em Lima, no Peru. Depois da minha experiência de três meses na Inglaterra, eu estava a pleno vapor para as vivências internacionais. Assim, participei de uma seleção para recém--formados oferecida pela Aiesec, maior entidade estudantil do mundo, e fui selecionada para um intercâmbio pro!ssional. Felizmente, meu destino me levou àquele país pelo qual tenho imenso respeito.

Lá, trabalhei em uma ONG de educação chamada Tarea e desenvolvia outros projetos com os peruanos e também com

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outros intercambistas pela Aiesec, na Universidad del Paci!co (UP), umas das mais conceituadas do país. Dei início, neste momento, a uma atuação em assessoria de comunicação e de imprensa que me foi útil por toda a minha carreira.

De volta ao Brasil, trabalhei para agências de publicidade, !z jornais de empresas, en!m, segui pela trilha da assessoria, inclusive em uma faculdade, o que me parecia bastante pro-missor, e foi.

Certa de que tinha que seguir com os estudos, !z uma espe-cialização em Comunicação em Mídias Interativas na Univer-sidade Norte do Paraná (UNOPAR), onde, nesta época, minha mãe atuava como coordenadora do curso de jornalismo. Lá, ela permaneceu por 15 anos até sua morte, em setembro de 2011. Sendo iniciada nos estudos da cibercultura, com forte in2uência dos conceitos trabalhados por Pierre Lévy e André Lemos, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), resolvi propor um projeto de mestrado na Universidade de Marília (UNIMAR) sobre uma comunidade virtual de jornalistas, que estava surgindo: o Comunique-se. Minha orientadora foi a minha eterna professora Linda Bulik, que me viu crescer, foi minha professora na universidade e me orientou na pós-gra-duação. Não sinto nada além de honra!

Naquele momento, dei início às aulas de graduação, tendo sido professora da Faculdade do Norte Pioneiro (FANORPI)

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em Santo Antônio da Platina. Recordo com muito respeito da-quele momento, pois foi decisivo no meu carinho pela carreira docente. E é com muito orgulho que reconheço meus alunos nas mais diversas atividades jornalísticas no Paraná.

A carreira em São Paulo

Resolvi dividir a carreira em duas partes em função da mu-dança radical que acontece na minha vida quando fui morar em Indaiatuba, cerca de 90 km da capital, em São Paulo. O motivo: meu futuro casamento.

Em 2002, fui realizar um trabalho como free-lancer em Portugal e resolvi !car um pouco mais na Europa para visi-tar amigos que eu havia feito em Londres e também no Peru. Assim, fui direto para a Alemanha, onde um amigo brasilei-ro morava com colegas de trabalho. Naquela oportunidade, tive o prazer de conhecer um dos colegas: meu futuro marido, Jordon Fernando Neuberger, gaúcho de Três de Maio, data de nascimento da minha mãe. Meus irmãos sempre brincavam que se era para arrumar um marido gaúcho, eu deveria ir para o Rio Grande do Sul e não para a Alemanha.

En!m, com um início de namoro na cidade de Salzburg, na Áustria, o futuro só poderia ser promissor. Deixei tudo em Londrina e fui morar em uma cidade paulista que só me traz boas lembranças, me deu muitos e muitos amigos e me opor-

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tunizou grandes experiências pro!ssionais, que foram essen-ciais para chegar onde estou hoje!

Em Indaiatuba, !quei um ano sem trabalhar porque ainda estava cursando o mestrado em Marília e as viagens e estudos me tomavam muito tempo. Terminado este período, comecei a trabalhar como repórter na Rádio Jornal AM da cidade. Mi-nha mãe brincava que o Sr. Geiss, dono da emissora, foi muito corajoso ao me empregar porque eu não sabia muito da prá-tica jornalística, mas me saí bem. Logo em seguida também fui convidada para criar um jornal chamado Destaque e !z as atividades concomitantemente, com o apoio dos meus che-fes. Como o jornal funcionava com o mesmo grupo da revista Imediata, acabei trabalhando para a revista também. Jornalis-ta sabe bem como é esta rotina de vários trabalhos ao mesmo tempo.

Naquela mesma época, eu ministrei aulas de inglês em uma faculdade em Sumaré em um curso de administração. Não era muito o meu foco, mas aquilo me colocava no circuito univer-sitário e acabei dando aulas de comunicação depois na Facul-dade Anhanguera em Indaiatuba mesmo, também no curso de administração.

Chamada para trabalhar na televisão local, lá fui, deixan-do para trás muitas boas lembranças no rádio e no jornal. Só mantive mesmo o vínculo com a revista, que me tomava me-

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nos tempo, apesar de ser a editora. A Nova TV Sol abriu um mundo de possibilidades para mim: lá fui repórter, depois as-sumi a edição geral e acabei sendo também a apresentadora do telejornal. Quanta coisa boa vivemos naqueles dias ao lado de bons e jovens pro!ssionais.

Por este tempo, fui convidada a criar a parte de comunica-ção do futuro Instituto Deco20, do então jogador de futebol Deco, que jogava, naquele momento, no Barcelona, na Espa-nha. Fizemos um trabalho intenso para gerar aquele instituto com sede em Indaiatuba, cidade onde Deco viveu com os pais até ir morar em Portugal e jogar pela seleção daquele país.

Criei, em Indaiatuba, uma pequena empresa com duas ami-gas, Fernanda Rabello de Oliveira e Silma Carneiro Pompeu, professora da Faculdade de Tecnologia de Indaiatuba (FA-TEC-ID) do Centro Paula Souza, para a qual também realizei vários serviços de comunicação de grande sucesso na cidade.

Reconhecida pelo trabalho que vinha desenvolvendo, fui convidada pelo então presidente da Câmara Municipal de In-daiatuba, Luiz Carlos Chiaparini, para assumir a direção de comunicação da casa legislativa. Lá permaneci até o momento de partir rumo à Bahia!

Em relação ao Intercom, neste período participei do en-contro em Salvador, no ano de 2002, e Belo Horizonte, em 2003. Naquele momento, eu ainda não havia de!nido em que

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área focaria meus estudos, mas acabei participando, principal-mente, das atividades ligadas à área de cibercultura e novas tecnologias, já que meus estudos de pós-graduação, especiali-zação e mestrado englobavam estes temas, tendo como resul-tado os seguintes estudos, respectivamente, “O ciberespaço e as mudanças nas relações sociais sob a ótica de Pierre Lévy” e dissertação “Comunidade virtual: a experiência do portal Comunique-se”.

A docência na Universidade

Como eu já disse anteriormente, após realizada a pós-gra-duação, tive a oportunidade de lecionar em faculdades parti-culares, tanto na área de comunicação quanto de administra-ção. Em uma dada ocasião, cheguei a ministrar uma disciplina de assessoria de comunicação na pós-graduação da UNOPAR, em 2008.

Mas minha história na docência como principal atividade ocorreu de forma inusitada. Em 2008, logo após o anúncio da crise econômica nos principais países do mundo, com desta-que para Estados Unidos e Europa, meu marido sugeriu que eu estudasse para prestar concurso público, já que as incerte-zas do momento eram muito grandes. Dei início à jornada de estudos, juntamente com outras atividades pro!ssionais, mas não havia pensado na academia, até que recebi um telefonema

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da minha mãe, informando sobre um concurso na Universi-dade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) na área de Ra-diojornalismo. De toda maneira, chegamos à conclusão de que seria inadequado naquele momento em função da distância. Mas quando Jordon chegou em casa, vislumbrou o concurso como uma grande oportunidade. E assim os planos tiveram início.

Eu já tinha tido experiência pro!ssional em rádio, havia fei-to pesquisa na BBC de Londres para o meu TCC e adorava o veículo, então era uma questão de empenho para tentar a vaga. Assim, em março de 2009 eu parti para a Bahia, com destino à cidade de Cachoeira, no Recôncavo, a !m de prestar as provas escrita, didática e passar pela entrevista. Com muita satisfa-ção, fui selecionada em primeiro lugar no concurso e acabei assumindo o posto de docente, como assistente, em agosto de 2009.

O primeiro ano na Bahia foi marcado por adaptações ao mundo acadêmico, à nova moradia, aos novos amigos e pela distância do marido e da família, mas superamos as di!culda-des com muita força de vontade, já que o trabalho que passei a desenvolver me possibilita muitas oportunidades.

Quando cheguei não fui só recebida, mas acolhida pelo en-tão coordenador do curso de comunicação, Robério Marcelo Ribeiro, que muito me apoiou e apoia minhas empreitadas no

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mundo acadêmico e a quem devo eternos agradecimentos. Logo de início, passei a ser membro do colegiado em função da minha área de concurso e ali continuo com muito orgulho, ao lado de colegas e amigos, como é o caso de Sérgio Mat-tos, cuja amizade me é muito cara não só por ser um grande pro!ssional, autor de muitos e muitos livros, mas pelo caráter correto, empreendedor e incentivador que ele possui.

Menos de um ano depois de iniciada as atividades, fui con-vidada pelo então diretor do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), Xavier Vatin, e pelo vice-diretor, André Ita-parica, a assumir a gestão de extensão do centro. A surpresa e a honra foram proporcionais e, então, dei início a mais uma atividade na universidade, a qual desenvolvo até os dias atu-ais, na gestão da diretora Georgina Gonçalves e vice-diretor, Wilson Penteado, que me oportunizaram dar continuidade ao trabalho que já vinha desenvolvendo anteriormente.

Neste cargo, além de coordenar as responsabilidades bu-rocráticas da extensão no CAHL, sou responsável por even-tos, avaliações ad hoc de projetos internos e governamentais, componho a comissão editorial da revista de extensão da uni-versidade e faço parte de comissões diversas. Certamente, é bastante trabalho, mas também uma grande oportunidade de aprender, de realmente conhecer as pessoas da universidade e da comunidade.

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No campo do ensino, lecionei Produção de Textos no pri-meiro semestre no campus de Santo Antônio, já que a univer-sidade é multi-campi, além de ter ministrado Temas Especiais em Radiojornalismo e dividido a disciplina de Jornalismo On-line com um colega. Devido ao interesse no tema das novas tecnologias, ministro, desde então, a disciplina de Jornalismo Online de forma intercalada com Radiojornalismo.

No que diz respeito à extensão, desenvolvo alguns proje-tos, entre eles: Reverso Online, de webjornalismo laboratorial (www.ufrb.edu.br/reverso); Ciberdidade – por uma cultura da participação no turismo em Cachoeira e São Félix (www.ufrb.edu.br/turismo); Portal do Rádio da Intercom, cuja responsa-bilidade é da coordenadora do Grupo de Pesquisa de Rádio da Intercom, Nair Prata, mas eu participo disponibilizando uma monitora para atualizar os dados diariamente; e Assessoria de Comunicação do CAHL, cujo foco é manter o site do meu centro atualizado diariamente e possibilitar a prática da asses-soria a estudantes de jornalismo. Além disso, sou responsável por vários eventos que acontecem periodicamente, tais como: fórum estadual de rádio (bienal); seminários acadêmicos de jornalismo (semestral ou anual, na medida da necessidade), cujo objetivo é apresentar publicamente os trabalhos de con-clusão do curso; curso de edição de áudio, cujo objetivo é pos-sibilitar que os alunos aprendam a editar suas matérias, o que é

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oferecido com o apoio dos técnicos de som; e ainda há muitos eventos que precisam ser desenvolvidos de forma a suprir ne-cessidades do momento, como é o caso do Seminário Temáti-co de Comunicação, que reuniu todos os professores do curso de forma a explicitar as atividades de cada um, entre outros.

No que diz respeito à pesquisa, faço parte de três grupos de pesquisa: Grupo de Estudos da Mídia (Linha de Radiojornalis-mo), onde desenvolvo uma pesquisa sobre o rádio no Recônca-vo da Bahia e por onde desenvolvo o projeto de pesquisa “O Rá-dio em Cachoeira: trajetória histórica de uma rádio poste”, com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí!co e Tecnológico (CNPq) do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientí!ca – Ensino Médio (PIBIC-EM); Grupo de Es-tudos e Práticas Laboratoriais em Plataformas e So5wares Livres e Multimeios (LinkLivre) desenvolvo dois projetos de pesquisa: “Jornalismo na era da convergência das mídias: perspectivas da informação digital” e “Cibercultura como cultura contemporâ-nea da humanidade digital”; e, além disso, faço parte do Grupo de Pesquisa sobre Economia Política da Comunicação, mas não desenvolvo um projeto especí!co neste grupo.

Dos estudos sobre rádio, escrevi o livro “O rádio na era da convergência das mídias”, publicado pela Editora da UFRB, em 2012, disponível gratuitamente no link (http://www.ufrb.edu.br/editora/index.php/titulos-publicados). Vale citar que

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esta foi a segunda publicação da EDUFRB, tendo sido selecio-nada por edital e com conselho editorial. Um dos lançamentos do livro ocorreu no Publicom, durante o XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, em Fortaleza. Logo depois, em outubro, o livro participou da Bienal do Livro de Frankfurt, depois de ter sido selecionado pela Associação Bra-sileira de Editoras Universitárias. (ABEU). Nem é preciso ex-ternar a satisfação que tenho com esta conquista!

Sobre o Intercom, em 2011, eu participei do XII Congresso de Ciências da Comunicação na região sul, em Londrina, mi-nha cidade natal, tendo apresentado o trabalho “Radiojornal Laboratório como Ferramenta de Valorização da Cultura por meio da Memória Oral: a Experiência do Programa Vozes do Recôncavo na Formação Cidadã de Estudantes de Jornalismo”. Aqui, vale sob a minha perspectiva, trazer à tona novamente a in2uência dos meus pais, já que esta edição do evento aconte-ceu na UNOPAR e minha mãe foi uma das organizadoras do encontro.

Apesar de ser sócia da Intercom há dois anos, somente em 2012 passei a integrar o Grupo de Pesquisa (GP) de Rádio, quando apresentei o trabalho “Rádio-Poste no Recôncavo da Bahia: o Papel Comunitário do Serviço em Linha Modulada”, resultado de parte das minhas pesquisas. Este ano, também, fomos homenageados pela Intercom como a “Geração 35”, ou

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seja, nascemos no mesmo ano, há 35 anos. Como não !zemos nada ainda para merecer esta honra, tenho certeza que muito trabalho ainda virá pela frente e sinto muito orgulho de poder fazer parte disto!

Apesar de dar !m a este texto, esta história continua sendo escrita a cada dia, contando sempre com o apoio de muitos amigos e com a lembrança reconfortante de pessoas que não estão mais aqui, mas que continuam exercendo uma grande e poderosa in2uência na minha vida.

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Currículo Latteshttp://lattes.cnpq.br/2685700768655045

Thiane de Nazaré

Monteiro Neves

Bolsista DTI-2 no INCT Biodiversidade e Uso da Terra do Museu Paraense Emílio Goeldi. Mestre em Ciências da Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará (PPGCOM-UFPA), com pesquisa sobre as estratégias de comunicação da ciência articuladas pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) nas mídias sociais. Ao ao longo da pesquisa participei como colaboradora do LabCom Móvel – Estudos e Práticas de Comunicação Pública da Ciência na Amazônia do MPEG, inclusive publicando artigo em parceria com a equipe. Especialista em Gestão de Processos Comunicacionais pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP/2002) e graduada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pela Universidade de Amazônia (UNAMA/2001). Como profissional de comunicação

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tenho dedicado minha trajetória ao planejamento de comunicação (institucional e publicitário), em perfis institucionais bastante distintos, como agências de comunicação e/ou de publicidade, multinacionais e instituições públicas. Como pesquisadora de comunicação integrei o projetos de pesquisa e de extensão, bem como grupos de estudo e de pesquisa na Faculdade de Comunicação (FACOM) e no Instituto de Educação Matemática e Científica (IEMCI)da Universidade Federal do Pará (UFPA), além de ter adquirido experiência docente em cursos de graduação e cursos técnicos. Há um ano faço parte do núcleo gestor da Associação de Afro-desenvolvimento Coletivo Casa Preta, sediado em Belém.

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O ir e vir de uma

velha-nova amiga

Fico pensando quanto trabalho as estrelas que iluminaram os criadores da Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipli-nares da Comunicação – Intercom, tiveram ao desenharem a quantidade de encontros e reencontros que aconteceriam dali em diante dentro e fora da entidade. Encontros e reencontros pessoais e intelectuais que certamente não foram ocasionais. Eu sou mais velha do que a Intercom, sete meses, mas se eu tivesse sido um pouco mais teimosa, certamente não teríamos nos encontrado. Eu tentei resistir ao curso de Comunicação Social, mas como o curso que eu almejava não existia em Be-lém na década de 1990 (Artes Cênicas), optei por Comunica-ção, por acreditar que também teria liberdade de viajar, mes-mo que em pensamento, pelo mundo.

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Graduei em uma universidade particular de Belém, a Uni-versidade da Amazônia – UNAMA, uma instituição com nenhuma experiência de pesquisa em comunicação naquela época. Integrei a segunda turma de publicidade, outro desa-!o à minha ansiedade e ao meu aprendizado. Ainda existiam poucos mestres e, ouso dizer, nenhum doutor em Comunica-ção aqui no Norte, então estudar publicidade, uma área essen-cialmente funcionalista, naquele contexto, acabou sendo uma formação bastante instrumental. Por sorte, sempre existem as exceções e pela disciplina de Teorias da Comunicação fui !s-gada completa e de!nitivamente para a Comunicação.

Em 1998 conheci a Intercom e estive no meu primeiro Congresso, lá no Recife. Esse primeiro encontro e contato aconteceram porque, a convite de colegas de jornalismo da Universidade Federal do Pará – UFPA, aceitei fazer parte da diretoria regional Norte da Executiva Nacional dos Estudan-tes de Comunicação Social – ENECOS, e em setembro daque-le ano, fui à minha primeira reunião nas duas entidades. Eu era uma iniciante naquele meio. Na UNAMA não tínhamos contato com muitos nomes da Comunicação nacional, sequer com movimento estudantil, nem éramos estimulados a pu-blicar ou frequentar Congressos, aquela era minha primeira imersão no universo cientí!co da Comunicação. Ali comecei a exercitar a primeira troca de lentes e compreender que existia

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muito mais do que sabíamos. Lembro que os nomes mais mar-cantes para mim foram dos professores José Marques de Melo e Maria Immacolata Vassalo Lopes, pois já havia lido textos de ambos. Há uns clichês que são impossíveis de não serem usados, por serem tão bem aplicados na vida. Ir ao Congresso da Intercom reforçou a certeza de que a vida acadêmica seria a minha opção.

Apesar de ter sido seduzida pelo Congresso da Intercom e ter voltado muito entusiasmada, nunca mais estive em outro Congresso durante a graduação. Fui a outros eventos estudan-tis regionais e nacionais. Em 2000, às vésperas de me formar, estive no 5º Congresso de Produção Cientí!ca da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, onde consegui apresentar o trabalho “A comunicação publicitária e as mudanças culturais populares”. Esse segundo contato com o universo cientí!co da Comunicação foi provocador e me impulsionou a tentar a sele-ção de mestrado daquela universidade, mesmo sem ter defen-dido o trabalho de conclusão de curso. Não deu certo. Eu não tinha o preparo teórico exigido, mesmo me dedicando às leitu-ras da seleção. Fui reprovada na entrevista, pelo meu referen-cial bibliográ!co em pessoa: professor José Marques de Melo.

A pesquisa do meu trabalho de conclusão de curso foi sobre as histórias em quadrinhos e publicidade, com o título “HQ’s: o que a publicidade tem a ver com isso?”, o trabalho, que era

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um projeto experimental, sugeriu a realização da 1ª Bienal de História em Quadrinhos da Amazônia, a pesquisa conta a his-tória dos quadrinhos no mundo, na América Latina, no Brasil e em Belém e suas interfaces com a publicidade. Em 2000, o Congresso da Intercom aconteceu em Manaus, mas naquele tempo, para um estudante viajar entre estados nortistas era quase inviável, as passagens aéreas eram muito caras. E como o Congresso aconteceu no mesmo período de entrega do TCC, a prioridade era concluir a graduação.

Concluída a graduação, participei da seleção para o curso de especialização em Gestão de Processos Comunicacionais, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP, onde fui aprovada como aluna pelos pro-fessores Maria Lourdes Motter e Ismar Soares.

Muitos encontros e reencontros aconteceram desde então. Meu projeto inicial dava continuidade aos meus estudos so-bre história de quadrinhos. Escolhi uma recém-criada editora de quadrinhos, a Tronics, que tinha acabado de lançar o gibi da Luana, um projeto que objetivava resgatar a autoestima de crianças negras brasileiras. Mas a empresa faliu no segundo semestre de 2001, mesmo período em que a ECA sofreu um incêndio que eliminou parte do prédio e da memória da Esco-la, incluindo todo o acervo documental do Núcleo de Pesqui-sas em Telenovela – NPTN. Diante dos ocorridos, a professora

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Maria Immacolata Vassalo Lopes, então minha orientadora, sugeriu e ofereceu que meu projeto tratasse do NPTN, que na-quele momento, ao completar 10 anos de existência, precisava recomeçar.

Diante do desa!o de estudar sobre uma instituição que ti-nha acabado de perder seu acervo físico, restando apenas, e ainda bem, seu capital intelectual, meu estudo dependia das pessoas e de uma dissertação defendida naquele mesmo ano. Esse trabalho, de autoria da professora Maria Ataide Malcher – hoje professora da UFPA e coordenadora do PPGCOM/UFPA, foi meu livro de cabeceira para a imersão na história do NPTN. Ao longo do tempo que morei em São Paulo, e como aluna da ECA, também não consegui ir aos Congressos da In-tercom de Mato Grosso do Sul (2001) e de Salvador (2002).

Em São Paulo, além da experiência acadêmica, tive a opor-tunidade de me aproximar de referências da publicidade bra-sileira, entre elas Júlio Ribeiro, responsável pela valorização da pesquisa e do planejamento publicitário no Brasil, minhas áre-as de atuação na publicidade. Integrei a equipe de pesquisa da Agência Talent por cinco meses como estagiária-voluntária, além de alguns trabalhos como freelancer em empresas de pes-quisa e na extinta agência Salles D’Arcy.

Outra experiência extremamente salutar foi lecionar no curso técnico-pro!ssionalizante de Estilismo e Coordena-

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ção de Moda do SENAC-SP, onde ministrei as disciplinas de História da Moda I e II e Gestão de Marcas. O trabalho foi feito com estudantes do ensino médio de escolas públicas de bairros localizados nas periferias da cidade, nesse período, convivi com jovens, a maioria meninas, dos bairros do Ca-pão Redondo e da Lapa. Todas as experiências vividas em São Paulo foram determinantes para as decisões que eu tomaria para o futuro.

Quando concluí a especialização, voltei a Belém e imergi no mercado publicitário local. Paralelamente lecionei eu duas instituições de ensino superior particulares. Segui com essa vida dupla por alguns anos, até que em 2007, depois de uma rápida atuação como professora substituta na UFPA, cedi ao mercado e parei de lecionar. A decisão foi tomada, também, pelo incômodo de não me sentir mais à vontade de lecionar sem o stricto sensu. Mas em Belém não tínhamos ainda um programa de Comunicação.

Ainda em 2007 houve o VI Congresso Brasileiro de Ciên-cias da Comunicação da Região Norte – Intercom Norte, na UFPA, em Belém. Aquele ano foi um divisor de águas para nossa região. Reunir tantos alunos e professores de Comuni-cação para um congresso regional da Intercom trouxe colabo-rações não mensuradas ou previstas anteriormente. Daquele momento em diante, nunca mais fomos os mesmos. Passamos

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a nos enxergar melhor e ver as várias Amazônias que somos, integrados em nossas diferenças e diversidades, conectados e de olhos e ouvidos abertos às oportunidades de encontros e reencontros que surgiriam a partir dali. As barreiras geográ-!cas não deixaram de existir, nem os choques culturais, mas aprendemos a dar saltos muito altos e desde então, a Comuni-cação vem se legitimando e consolidando por aqui.

Já são cinco anos sem lecionar. Mesmo sendo uma pausa inquieta e nada tranquila, tenho considerado-a como neces-sária, favorável e tem me ajudado a perceber a importância de atuar como pesquisadora e docente. Quando eu voltar à sala de aula, estarei mais amazônida e amazônica, e certamente em melhores condições de colaborar com a formação de tan-ta gente que procura por essa área, tanto como opção para o mercado de trabalho, como pelo interesse à pesquisa. Eu acre-dito de fato que a docência é um presente e uma oportunidade de aprendizado que nos permite a experimentação constante e releitura frequente de paradigmas nos quais acreditamos ou discordamos, como forma de rever nossa percepção e compre-ensão a respeito de nossa própria área. A docência nos permite a revisitação em nós mesmos.

E como eu sempre soube que sentiria a hora certa de me dedicar à Academia, em fevereiro de 2010 decidi que estava na hora de enfrentar o mestrado. Como ainda não havia o curso

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em nenhuma universidade pública de Belém, decidi que iria embora novamente, para uma nova empreitada acadêmica. Mas tive que desarrumar a mala, pois soube pelo twitter que !nalmente o primeiro programa de mestrado em comunica-ção da UFPA, o segundo da região Norte, havia sido aprovado pela CAPES. E então ir embora de Belém para estudar sobre a Amazônia em outro lugar, não fazia mais sentido. Nesse mo-mento eu já havia abdicado do mercado publicitário, estava em uma ONG ambientalista de estudos sobre a Ilha do Marajó e em um escritório de Design, cujo foco é a sustentabilidade, tentando encontrar um espaço de participação do debate para a Comunicação.

Fiz a inscrição para a primeira seleção, mas o anteprojeto não foi aprovado. Resolvi ser ouvinte e em meio às aulas, !z um pedido de socorro à coordenadora do programa, professo-ra Maria Ataide Malcher, cujo socorro chegou como o de um cavalo selado que passa à nossa porta raríssimas vezes, oito anos depois de sua dissertação ter sido o meu socorro. Em ou-tubro de 2010, reiniciei meu processo de regresso à Academia. Um caloroso e conturbado reencontro.

Em 2011 fui ao Congresso Nacional da Intercom, em Re-cife novamente, após treze anos de uma espera nada paciente. Sem apresentar nenhum trabalho, estive no Congresso com a missão de também divulgar a Conferencia de Mídia Cidadã

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que aconteceu na UFPA no mesmo ano. Nessa oportunidade, mais uma vez foi possível ver a região Norte bem de pertinho, mesmo fora de casa. Encontrei e reencontrei novos e velhos amigos, professores, mestres e pesquisadores de referências pelo trabalho em prol da consolidação da área. Infelizmente não pude ir ao Intercom Norte, mas acompanhei cada passo quase que em tempo real. Compreendi como é difícil realizar um Intercom regional. O trabalho é árduo, cansativo e muito difícil, mesmo assim é impossível não notar os benefícios de se manter os eventos como forma de atrair novos estudantes e de fortalecer os participantes experientes.

Pela primeira vez estive na premiação do EXPOCOM e !-quei extremamente emocionada de ver a região Norte tão bem representada pelos estudantes. Foi uma experiência vibran-te! Difícil não ser bairrista em momentos assim. Foi especial assistir também alguns passinhos de dança do professor José Marques de Melo no palco da premiação. Juventude e matu-ridade trocando a mesma energia, se reenergizando juntos e mutuamente. Que delícia voltar a esta casa! Que felicidade con!rmar que meu coração estava certo quando sinalizou que era chegada a hora dessa dedicação.

A Intercom me abriu os braços com muita generosidade e, ali, meu anteprojeto para a seleção de mestrado !cou mais nítido e eu mais con!ante. Foi lá no Recife que sonhei que, em

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2012, eu voltaria como mestranda e apresentando meu pri-meiro artigo em um Congresso da Intercom, já com meu obje-to de pesquisa: divulgação cientí!ca. Por causa desse sonho foi que, ainda no aeroporto do Recife, precisei abrir a mala para tirar alguns livros, da dezena comprada, evitando o sobrepeso da bagagem. Sou louca por livros, mas certamente nunca uma compra tinha sido tão intensa!

Na volta, os esforços em Belém foram para organizar a VII Conferência Nacional de Mídia Cidadã e II Conferência Sul-Americana de Mídia Cidadã, na qual foi possível nova-mente reencontrar os novos e os velhos amigos vistos em setembro.

E aquilo que já era bom, !cou impronunciável. 2012. O me-lhor ano do resto de minha vida. Piegas mesmo, como uma carta de amor: fui aprovada na seleção do PPGCOM da UFPA, em Comunicação, Cultura e Amazônia. Quanta coisa foi pos-sível desde outubro de 2010! O programa de pós-graduação da UFPA tem sido transformador, tanto para as pessoas quanto à área. É uma dezena de novos pesquisadores sendo formados e alguns certamente serão grandes referências em poucos anos. Há muito trabalho a fazer, as coordenadoras parecem incan-sáveis diante das metas ousadas que buscam cumprir e das conquistas que almejam para a região, para isso, as luzes dos corredores tem estado acesas quase que ininterruptamente.

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A coordenação do PPG-COM/UFPA tem nos opor-tunizado uma trajetória de muitas possibilidades. Como mestranda, participei de meu segundo Intercom Norte, apresentando meu primeiro artigo em uma etapa regio-nal do Congresso da entida-de. Foi um novo reencontro com a pluralidade da região. Fui ao XXI Encontro da As-sociação Nacional dos Pro-gramas de Pós-Graduação em Comunicação – COM-PÓS e à reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, pela primeira vez e como expositora.

No Intercom Nacional, em Fortaleza, vi Belém ser desta-que no Congresso com uma premiação histórica. E ao receber esse prêmio, Belém não “falava” apenas por si, estava pela re-gião Norte e por todo o esforço conjunto que se tem feito para participarmos e contribuirmos com a área. Nossa pluralidade, diversidade, etnias, identidades, tudo reunido em uma única placa. Reencontrei pessoas importantes na minha formação

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de graduação, e redescobri sua generosidade. E a mesma ge-nerosidade teórica dos autores que li e leio, no ano de 2012 viraram sorrisos e olhares de “bem-vinda”.

Ainda lamento que a participação em Belém seja maciça-mente representada pela UFPA. Penso que as demais universi-dades e faculdades precisavam viver essa experiência. Pode ser uma utopia, mas eu acredito que é possível realizá-la. UNA-MA, FEAPA, FAP, Ipiranga, ESAMAZ ... são todas instituições de ensino superior, particulares, de Belém, e que poderiam somar seus trabalhos aos da UFPA para tornar a região Norte ainda mais representativa, como já fazem os colegas de outros estados nortistas.

Um resgate é necessário. Em 2005 fui bolsista no Museu Pa-raense Emílio Goeldi – MPEG, na Assessoria de Comunicação Social – ACS, no projeto “Ciência e Sociedade: Comunica-ção e Educação para a Preservação Ambiental e Cultural na Amazônia Oriental Brasileira”, com o subprojeto “O Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi como ca-nal de comunicação entre ciência e sociedade”. Foi no Mu-seu, por meio da Comunicação, que eu conheci a divulgação cientí!ca. Hoje, pelo caminho da minha proposta de pesquisa, penso que é pela divulgação cientí!ca que venho entendendo a complexidade da ciência. Foi pelo diálogo ciência-comuni-cação, vivenciado inicialmente no MPEG, que pude perceber

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o quanto a sociedade precisa ser envolvida pela produção cientí!ca realizada na Amazônia e foi também pela comple-xidade daquela instituição que compreendi a complexidade da região amazônica. Consequentemente, todo esse cenário favoreceu para eu mesma me entendesse enquanto ser ama-zônico. Enquanto mestranda, estou retornando ao Museu, ao “LabCom Móvel – Estudos e Práticas de Comunicação Pública da Ciência na Amazônia”. Não como bolsista direta, mas como uma apaixonada e uma pretensa colaboradora.

Aqui em 2012, hoje, agora, sou Geração Intercom e há um signi!cado muito grande nisso, para mim. Eu, que tanto fui e vim à Academia. Uma velha amiga rejuvenescida pelos novos olhares, novos exercícios e pelas novas oportunidades. Tive a oportunidade de ser caloura em uma banca de EXPOCOM, apresentei meu primeiro artigo no Congresso Brasileiro de Ci-ências da Comunicação e, novamente reencontrei o professor José Marques de Melo, onze anos depois.

E que venham os próximos 35 anos!

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