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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
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NOVOS RUMOS DO PLANEJAMENTO REGIONAL: a (re)significância do conceito território.
NEW REGIONAL PLANNING DIRECTIONS: (re) significance of the territory
concept.
Gevson da Silva Andrade1 Maria Rita Ivo de Melo Machado2
Francisco das Chagas Dantas3
RESUMO
A implementação de planos e programas de desenvolvimento regional pelo Governo Federal vem sendo anunciados como planos de desenvolvimentos territoriais. O Estado anuncia que essa mudança possibilita o empoderamento, a partir da maior participação dos atores envolvidos. Tentando elucidar este contexto a pesquisa, que propiciou a elaboração deste artigo, tem como objetivo perceber se o Território da Cidadania do Agreste Central de Pernambuco vem contanto com a participação da sociedade e se de fato vem contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico regional. A partir desse objetivo questionamentos foram levantados, tais como: O programa território da cidadania vem contando com a efetiva participação da sociedade? Quais são os grupos sociais mais atuantes no programa Território da Cidadania? Palavras-chave: Território da cidadania; Desenvolvimento Regional; Agreste Central de Pernambuco. ABSTRACT
The federal government implementation plans and regional development programs has been announced as a territorial development plans. The goverment announced that this change enables the empowerment from the greater participation of the actors involved. Trying to elucidate this, the research context that led to the writing of this article, aims to realize the Citizenship Territory of northern Agreste, in Pernambuco, is provided with the participation of society and in fact has contributed to the regional socio-economic development. From this objective questions were raised, such as: The territory of the citizenship program has been relying on the effective participation of society? What are the most active social groups in the Territory Citizenship program? Key Words: Citizenship Territory; Regional Development; Agreste Central of Pernambuco
1 Docente do Curso de Licenciatura em Geografia e Líder do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento
do Território, Região e Espaço (GPDeTER) da Universidade de Pernambuco e Coordenador do Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial. Bolsista do CNPq - EXP-B. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do Curso Pós-Graduação de Extensão Rural e Desenvolvimento Local (POSMEX) e
Assessora Territorial de Gestão Social do Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial do Agreste Central de Pernambuco. Bolsista do CNPq - EXP-B. E-mail de contato: [email protected] 3 Técnico do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento do Território, Região e Espaço (GPDeTER) da
Universidade de Pernambuco. Assessor Territorial de Inclusão Produtiva do Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial do Agreste Central de Pernambuco. Bolsista do CNPq - EXP-B.
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INTRODUÇÃO
O planejamento regional vem ganhando força por parte do Governo Federal
desde o início da década de 2000, quando foram instituídos o Plano Nacional de
Desenvolvimento Regional (PNDR) e os Programas de Desenvolvimento
Sustentável de Territórios Rurais (PDTRS). O planejamento nacional passou a focar
na perspectiva da região para pensar no desenvolvimento econômico nacional. A
medida visou e visa diminuir as disparidades regionais e intra-regionais e
potencializar os elementos existentes nas regiões, buscando aproximação ao
território (PNDR).
A implementação desses planos e programas de desenvolvimento regional
pelo Governo Federal no Nordeste tem sido ancorado em territórios específicos e
baseadas na atração de novos equipamentos produtivos, principalmente em
pequenas e médias empresas, interdependentes e interativas. Junto aos arranjos
produtivos impulsionados pelos conglomerados produtivos implementados nos
principais pontos de desenvolvimento, sendo estes em sua maioria, nas Regiões
Metropolitanas ou em suas bordas. No entanto, não se limitam à territórios
caracterizados por produção flexível, alta tecnologia e forte capacidade de inovação.
As Regiões periféricas também são valorizadas pela Secretaria de Políticas
Públicas de Desenvolvimento Regional (SDR) e ganham estímulos e aportes
financeiros por parte do Governo Federal. É o caso das indústrias de confecções
que se localizam no Agreste Central e dos pequenos produtores agrícolas.
Neste sentido a grande novidade se dá pelo fato do planejamento regional
mudar de foco4, pois, deixa de lado o modelo de investir em grandes plantas
produtivas, financiadas com o dinheiro publico, e passa a incentivar o planejamento
regional com um novo rotulo que são os Territórios de Identidade Rural e Cidadania.
4
Essa mudança de foco é percebida, principalmente, pelo fato de haver uma mudança nos aspecto da lógica de intervenção estatal, pois a politica de crescimento econômico do Brasil tinha por premissa as diretrizes recomendadas pela CEPAL. Deste modo, se primava pela industrialização como saída principal para a mudança da condição de subdesenvolvimento (periferia), pois para esse organismo, em sua área de concentração, a América Latina e Caribe o crescimento econômico seria a “tabua de salvação” para a saída da condição de subordinação. Nesse sentido, essa saída se dava pela mudança da base dos elementos que compunha a balança comercial das exportações. É então, a partir dessa lógica, que durante muito tempo os governos anteriores a gestão do Ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscavam, dando condições ao ex-Ministro Delfin Neto, alcunhar o célebre pensamento de que era necessário o bolo crescer e depois dividi-lo.
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Esses Territórios se caracterizam por ser uma política de desenvolvimento
capitaneada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. A finalidade é propiciar
uma nova forma de desenvolvimento socioeconômico e promover relações
horizontais entre Estado e Sociedade produtiva. Esta última é
identificada/representada pelos trabalhadores.
Há um foco especial direcionado para o desenvolvimento da Agricultura
Familiar. A busca por este novo modelo de planejamento regional visa garantir a
inserção cada vez maior de um grande número de cidadãos no direcionamento dos
investimentos estatais em infraestruturas e crescimento socioeconômico.
Diante do contexto de valorização do desenvolvimento regional, por meio de
ações de valorização e atuação dos atores do território, essa pesquisa teve como
objetivo perceber se o Território da Cidadania do Agreste Central de Pernambuco
vem contanto com a participação da sociedade e se de fato vem contribuindo para o
desenvolvimento socioeconômico regional.
A partir desse objetivo questionamentos foram levantados, tais como: O
programa território da cidadania vem contando com a efetiva participação da
sociedade? Quais são os grupos sociais mais atuantes no programa Território da
Cidadania? O Programa Território da Cidadania vem propiciando relações
horizontais entre Estado e sociedade? As ações do Estado estão propiciando o
desenvolvimento socioeconômico do Território da Cidadania no Agreste Central de
Pernambuco? Qual o conceito de território que o Governo Federal utiliza para
viabilizar essa articulação região-território?
AFINAL, O QUE É TERRITÓRIO PARA O GOVERNO FEDERAL? A categoria de análise território está em evidência na geografia e em outras
ciências como a antropologia e a sociologia, o conceito de território é bastante antigo
e foi fundamental para a formação da ciência geográfica, principalmente pelo fato do
território ser também um sinônimo para as delimitações de um espaço determinado
do Estado/país.
A palavra território epistemologicamente é próximo de terra-territorium quanto
de terreo-territor (terror, aterrorizar) (COSTA, 2004), ou seja, tem relação direta com
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a ideia de dominação de uma área através do terror, do medo. As análises
geográficas mais recentes sobre essa categoria de análise avançaram afirmando
que, o território “é fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir
de relações de poder” (SOUZA, 2006. p. 78).
Dentro do domínio territorial do Estado, este tem um papel importante no que
se diz respeito ao planejamento socioeconômico, realizando ações que podem
impactar de forma positiva e/ou negativa na organização sócioterritorial. O Estado,
enquanto organização, acaba por canalizar, bloquear e domesticar:
[...] as forças sociais. [...] pois exprime de uma só vez o jogo das organizações no espaço e no tempo. Elas “canalizam” quer dizer que obrigam a tomada de linhas de função determinada, quer se trate do espaço concreto, geográfico, quer do espaço abstrato, social; “bloqueiam” significa que agem sobre as disjunções, para isolar e dominar; “controla”, ou seja, têm tudo ou procuram ter tudo sob o olhar, criam um espaço de visibilidade no qual o poder vê, sem ser visto. (RAFFESTIN, 1993. p. 39).
Desta forma, o Estado exercendo o seu papel de organização consegue, por
meio de ações e políticas públicas, produzir e nortear, de acordo com os seus
interesses, os territórios. Na geografia o território é uma categoria de análise, mas o
Estado vem se apropriando de parte do discurso acadêmico, que também já foi
apropriado pelos movimentos sociais, porém modificando a sua forma de análise,
abordagem e conceito. Para o Estado brasileiro, por meio da Secretaria de
Desenvolvimento Territorial (SDT), o território é:
Um espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo, compreendendo cidades e campos, caracterizados por critérios multidimensionais, tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as instituições, e uma população com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade e coesão social, cultural e territorial” (SDT/MDA, 2004)
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Esta visão do Estado sobre o que é território está mais próxima da categoria
de análise geográfica denominada de região. Neste sentido, concordamos com
Costa (2010) quando ele afirma que é necessário entender os processos de
formação/aplicação do conceito/noção de Território e Região, ou seja, é necessário
que se entenda muito mais do que o conceito definido. Sendo assim, é essencial
que se consiga vislumbrar a diferença entre territorialização e regionalização, desta
forma:
Essa distinção fica evidente quando verificamos os usos predominantes dos termos “territorialização” e “regionalização”: enquanto o primeiro tende a ser dirigido sempre mais para o campo das práticas e dos sujeitos sociais em sua esfera concreta de produção do espaço, o segundo tem muitos mais trânsito no sentido epistemológico, enquanto princípio de “recorte analítico” do espaço através de determinados critérios proposto pelo investigador – ou, no caso do planejamento estatal, pelo planejador. (COSTA, 2010, p. 169-170)
Em outras palavras, o campo da ação dos indivíduos na reprodução social do
espaço, vem tornando esses recortes com suas características que tende a ser
“pseudos” homogêneas, como sendo um território, mas que partindo de um olhar
crítico da academia, resultará nas ideias propostas no conceito de região,
principalmente quando se olha pelo viés do planejamento regional pelo Estado.
Mesmo que denominando esses recortes espaciais, de uma forma
socialmente aceitas pelos movimentos sociais, do campo e da cidade, pode-se
vislumbrar na Geografia o caráter do planejamento regional, logo, o conceito a ser
valorizado é o de Região ao invés do conceito de Território.
Para este artigo não vamos debater qual o conceito de território está sendo
abordado pelo SDT, mas sim tentar perceber se os chamados de Territórios rurais
do Agreste Central de Pernambuco estão contando com a participação da sociedade
e se o Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais (PDSTR)
estão contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico regional.
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AS AÇÕES DO ESTADO NO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO NOS TERRITÓRIOS RURAIS NO AGRESTE CENTRAL DE PERNAMBUCO
O Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Agreste Central
de Pernambuco indica que a localização do Território5 de Identidade Rural do
Agreste Central, está na mesorregião do Agreste Pernambucano. Este está situado
na parte central da mesorregião do Agreste pernambucano, com uma área de
8.359,71Km2, correspondendo a 82,6% da Região de Desenvolvimento (RD) do
Agreste Central na qual está inserida e 8,5% do território estadual, que é de
98.311,61 km².
O Território do Agreste Central é constituído no cadastro do Ministério do
Desenvolvimento Agrário por 11 (onze) municípios que são: Agrestina, Belo Jardim,
Bezerros, Brejo da Madre de Deus, Caruaru, Jataúba, Riacho das Almas, Santa
Cruz do Capibaribe, São Caetano, São Joaquim do Monte, Tacaimbó e Taquaritinga
do Norte. Limita-se ao Norte com a Região de Desenvolvimento (RD) do Agreste
Setentrional e o Estado da Paraíba, ao Sul com o Território do Agreste Meridional e
a RD Mata Sul, a Leste com a RD da Zona da Mata e a Oeste com a RD do Sertão
do Moxotó.
5 É importante destacar que as linhas de contorno do território do Agreste Central de Pernambuco
não coincide com as linhas de delimitação da RD (Região de Desenvolvimento) do Agreste Central, as RD´s são as unidades de planejamento utilizadas pelo Governo do Estado de Pernambuco, esses fatos estão sendo investigados no sentido de identificar se existe algum ponto de tensão na hora das ações almejadas pelo território, pois em boa parte das ações do Governos Federal é necessário que haja contrapartida financeira do Estado de Pernambuco, essa temática que hora se apresenta como um ponto de questionamento para a equipe do NEDET´s e que será desvelado em artigo(s) futuros.
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Mapa de localização dos Territórios Rurais do estado de Pernambuco
Fonte: Elaborado pela Agencia CONDEPE/FIDEM – julho, 2014.
Distribuição dos Municípios no Território do Agreste Central
Fonte: http://sit.mda.gov.br/images/mapas/tr/tr_003_agreste_central_pe_agost. 2014.jpg.
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O território rural do Agreste Central, assim como os demais territórios rurais
do país é capitaneado pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), ligada
ao MDA. Este programa tem como objetivo o fortalecimento das unidades territoriais
tendo como apoio o diálogo e a comunicação entre colegiados da sociedade civil e
do Estado. Para a instituição oficial do Território Rural, houve, a princípio, uma
comissão informal, visando o amadurecimento para se constituir um tipo de
organização adequada às necessidades do Território Rural em questão. O papel
principal desta comissão informal é nortear a estruturação dos fóruns e conselhos
territoriais, além de estruturar as primeiras estratégias e propostas de ações
integradas para a construção do desenvolvimento territorial sustentável.
Após os colegiados oficializados as ações integradas devem vir
acompanhadas de propostas de políticas públicas de desenvolvimento, criando
diálogos entre organizações sociais e Instituições que possibilitem a promoção do
desenvolvimento territorial.
Esta estrutura tenta desenvolver um modelo de desenvolvimento rural voltado
para o contexto contemporâneo. No caso específico do Território do Agreste Central,
o espaço rural e agrário encontram-se ameaçados pelo crescimento da indústria de
roupas, tecidos e comércio de máquinas e utilidades para o ramo têxtil regional. A
concentração de capital e das terras, o controle das políticas locais, muitas vezes
com uso da força – o que é relatado historicamente no contexto rural pernambucano
– inibem a diversificação produtiva, incidem na má qualidade de vida da população e
provocam desemprego e êxodo rural.
Visando diminuir as disparidades regionais e intra-regionais e possibilitar o
desenvolvimento dos espaços rurais, agrários e agrícolas, o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) cria o Programa Nacional de Desenvolvimento
Rural Sustentável dos Territórios Rurais (PRONAT), que foi voltado especificamente
para os agricultores familiares em sua diversidade. Segundo as Instruções
Preliminares para o Assessoramento aos Colegiados Territoriais (20015):
[...] as novas institucionalidades foram firmadas, mesmo que ainda carecessem de reconhecimento jurídico. Boa parte da estratégia territorial veio a se efetivar com a constituição de um novo programa,
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que tomou como base o pronat e ganhou força a partir de um mandato institucional, intersetorial e interfederativo mais sólido do desenvolvimento rural: o Programa Territorial da Cidadania (PTC), que abrange hoje 120 territórios. (Preliminares para o Assessoramento aos Colegiados Territoriais, 2015, p. 3).
Assim:
O Programa Territórios da Cidadania (PTC), instituído em 2008, tem por objetivo promover a superação da pobreza e das desigualdades sociais no meio rural, inclusive as de gênero, raça e etnia, por meio de estratégia de desenvolvimento territorial sustentável. Promove a integração de Políticas Públicas, a articulação interfederativa e a ampliação dos mecanismos de participação social por meio da ampliação da oferta dos programas básicos da cidadania e direitos, apoio a atividades produtivas e da interface jurídica. (Preliminares
para o Assessoramento aos Colegiados Territoriais, 2015, p. 4).
Seguindo as ideias colocadas o Estado tenta viabilizar uma maior articulação
entre os setores da sociedade civil e o Estado, visando o desenvolvimento
socioeconômico no território do Agreste Central de Pernambuco.
OS TERRITÓRIOS DA CIDADANIA E A ATUAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL
O Governo Federal lançou, em 2008, o Programa Territórios da Cidadania,
esse programa pode ser entendido de forma bastante objetiva já na pagina inicial em
seu sítio na internet, apresentando a seguinte descrição:
O Territórios da Cidadania tem como objetivos promover o desenvolvimento econômico e universalizar programas básicos de cidadania por meio de uma estratégia de desenvolvimento territorial sustentável. A participação social e a integração de ações entre Governo Federal, estados e municípios são fundamentais para a
construção dessa estratégia. (BRASIL, 2008, In:
http://www.territoriosdacidadania.gov.br/dotlrn/clubs/territriosrurais/one-community )
O programa dos territórios da cidadania, como pode ser observado no
fragmento anterior tem por finalidade a promoção do desenvolvimento econômico,
de fato, a palavra desenvolvimento pode ser utilizada, pelo fato da orientação de
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esquerda que os últimos governos federais vem apresentando. Esse fato aponta
para uma maior valorização do patrimônio social do país, no qual a busca incansável
pela inserção cada vez maior de cidadãos nas faixas de população que estão em
condições de consumir.
Assim, conforme citado anteriormente, o momento atual visa descaracterizar
a metáfora do crescimento do bolo e sua divisão. Assim, há uma busca constante na
promoção social, no entanto, a estratégia é ir além da simples (re) distribuição de
renda pelos programas de transferência que se dá principalmente pelo Bolsa
Família.
Dessa maneira, o fortalecimento dos movimentos sociais e da sociedade civil
organizada ganha um novo impulso, assim esses atores são chamados a participar
de uma politica de implementação de novos formatos de organização produtiva, seja
na forma de cooperativas (no meio rural e urbano) ou das associações rurais. Assim
o Estado passou a ter nesses atores um parceiro muito importante, e assim podendo
instrumentalizar as ações desses grupos para além da simples assistência de
extensão rural (ATER), mas também com possiblidade de instrumentalizar a
produção com a doação de maquinários e/ou demais equipamentos para alavancar
o crescimento econômico, inserindo novos pequenos e médios
produtores/consumidores no cenário econômico.
Um grande desafio é filtrar e conduzir a presença dos representantes do
Estado, pois a:
[...] falta de confiança dos agricultores na própria capacidade; dependência dos membros da Comissão com relação ao prefeito; sentimento do prefeito de que a comissão é um adversário ao seu próprio poder; ingerência político-partidária na vida das Comissões; falta de preparo dos próprios técnicos; baixa participação da sociedade civil local nas Comissões; baixa informação de seus membros; participação exclusivamente dos homens, com exclusão das mulheres e dos jovens. (ABRAMOVAY, 2000, p. 9)
Ou seja, as frustrações e enganações sofridas pelas camadas sociais menos
privilegiadas, mesmo que agora organizada e valorizada pelos elaboradores do
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macro política de planejamento/desenvolvimento do país, acabam se apoiando no
sentimento de não cumprimento de promessas anteriores.
Outro grande desafio, que tem ligação direta com o papel desempenhado
pelas lideranças políticas, é o olhar individualizado das instituições que compõem os
colegiados territoriais, pois a influência da cultura ocidental/capitalista acaba
impulsionando um comportamento individualista, no entanto, mesmo que a passos
ainda muito lentos, a cultura dos consórcios municipais que estão se formando, e
esses organismos estão contribuindo positivamente para um pensar coletivo, ou
seja, um pensar coletivo, que visa a melhoria do conjunto regional, que estão
reunidos sob a égide do planejamento territorial.
Logo, reforçar essa política de desenvolvimento território, requer um
constante aperfeiçoamento do diálogo entre os entes que compõem os colegiados
territoriais, seja os representantes do Estado ou os representantes da sociedade
civil. Dessa maneira cabe aqui ressaltar a necessidade e relevância do papel de
construção de uma identidade territorial e isso só será alcançado, com a
potencialização das ações territoriais, numa perspectiva que considere a valorização
do capital social6 no sentido de valorizar a identidade dos indivíduos com o seu
espaço vivido numa consciência regional, desta maneira, resta apenas concordar
que:
[...] consciência regional, sentimento de pertencimento, mentalidades regionais são alguns dos elementos que estes autores chamam a atenção para revalorizar esta dimensão regional como um espaço vivido (PELLEGRINO, 1983; POCHE,1983;RICQ,1983). Nesse sentido, a região existe como um quadro de referencia na consciência das sociedades, o espaço ganhe uma espessura, ou seja, ele é uma teia de significações de experiências, isto é, a região define um código social comum que tem uma base territorial (BASSAND e GUINDANI,1983) (GOMES, 2006, p.67).
6 “O capital social, ensina Coleman (1990:302) não é uma entidade singular, mas uma variedade de
diferentes entidades que possuem duas características em comum: consistem em algum aspecto de uma estrutura social e facilitam algumas ações dos indivíduos que estão no interior desta estrutura”. O capital social, neste sentido, é produtivo, já que ele torna possível que se alcancem objetivos que não seriam atingidos na sua ausência. (ABRAMOVAY, 2000, p. 4).
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Consolidado esse pertencimento e essa identidade regional, facilmente pode-
se avançar para a consolidação do território enquanto unidade de planejamento,
cujo atores colegiados terão posturas uníssonas, até porque:
Um território representa uma trama de relações com raízes históricas, configurações políticas e identidades que desempenham um papel ainda pouco conhecido no próprio desenvolvimento econômico7. A economia tem prestado bastante atenção aos aspectos temporais (ciclos econômicos) e setoriais (complexos agroindustriais, por exemplo) do desenvolvimento, mas é recente o interesse por sua dimensão territorial ou espacial (VON MEYER, 1998 apud ABRAMOVAY, 2000).
Considerando os aspectos do ultimo excerto, o território enquanto unidade
regional guarda em si rugosidades que permitem de certa maneira criar a identidade
necessária para um avanço significativo das politicas sociais e econômicas, o que
em futuro próximo será refletido não apenas no crescimento econômico, mas
sobretudo na potencialização do desenvolvimento social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de investigação das ações territoriais é desafio bastante
instigador, tendo em vista que os Territórios, tanto da Cidadania, como os de
Identidade Rural, podem e devem ser vinculados a analise espacial8, que
essencialmente se realiza através de uma investigação de cunho dialético.
Para não encerrar as discussões, é necessário que a reflexão continue, e
sendo assim o pensamento de Arendt (1985) é um elemento que irá contribuir nesse
descortinar do entendimento das tensões internas dos colegiados territoriais, quando
a mesma autora traz a baile a seguinte elucubração:
7 Grifos no original.
8 Lembrando que para Milton Santos o espaço é um hibrido composto por sistemas de objetos e
ações, por fixos e fluxos, e dessa maneira, a realização da análise espacial deve ser realizada observando os elementos antagônicos presentes na dialética espacial, para um aprofundamento desse antagonismo é primordial a leitura da obra A Natureza do Espaço, do autor supracitado.
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Por trás da confusão aparente e a cuja luz todas as distinções seriam, na melhor das hipóteses, de pequena importância, a convicção de que a questão política mais crucial é, e sempre foi, a questão de: Quem governa Quem? Poder, força, autoridade, violência – nada mais são do que palavras a indicar os meios pelos quais o homem governa o homem; são elas consideradas sinônimos por terem a mesma função. É apenas depois que se cessa de reduzir as questões públicas ao problema da dominação, que as informações originais na esfera dos problemas humanos deverão aparecer, ou antes reaparecer, em sua genuína diversidade”. (ARENDT, 1985. p.23-24)
Considerando o trecho anterior como uma provocação, instigação ou norte
para a continuidade do pensar o Território (“enquanto campo das práticas e dos
sujeitos sociais”) e a Região (como sendo um princípio de “recorte analítico” do
espaço)9. Assim prosseguir-se-á a busca do entendimento dessa “nova” estratégia
de planejamento (territorial ou regional?) do Estado brasileiro.
REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Ricardo. O capital social dos territórios: repensando o desenvolvimento rural. Economia Aplicada, n. 2, v. IV, p. 379-397, abril/junho, 2000. ABRAMOVAY, Ricardo e VEIGA, José Eli (1999) – “Novas instituições para o desenvolvimento rural: o caso do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) – in GUEDES, Vicente G. F. e SILVEIRA, Miguel Ângelo – A agricultura familiar como base do desenvolvimento rural sustentável – EMBRAPA/CNPMA – Jaguariúna – SP.
ARENDT, Hannah. Da violência. Brasília: Ed. UnB, 1985. 67p. COSTA, Rogério Haesbaert da. Região-Global: dilemas da região e da regionalização na Geografia contemporânea. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. 208p.
________________________. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2004.
9 Categorias de analises que foi anteriormente citada de origem da obra de Costa (2010).
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COLEMAN, James. Foundations of Social Theory. Cambride, Massachusetz Harvard Univerty Press, 1990). GOMES, Paulo Cesar da Costa. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO, iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Costa; e CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs). Geografia: Conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006, p. 49-76. Secretaria do Desenvolvimento Agrário. Instruções Preliminares para o Assessoramento aos Colegiados Territoriais, 2015. Programa Estadual de Apoio ao pequeno Produtor Rural, 2010. RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993. 269p. Secretaria de Desenvolvimento Territorial / Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2004. SOUZA, Marcelo José Lopes de, O Território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In: CASTRO, iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Costa; e CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs). Geografia: Conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006, p. 77-116. Acesso em: maio de 2015 <http://www.territoriosdacidadania.gov.br/dotlrn/clubs/territriosrurais/one-community>