o amapÁ e realizaÇÃo: editorial - institutoiepe.org.br · cassandra oliveira e sueli pontes...
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Em entrevista para a 2ª Edição do
Informativo do Mosaico da Amazônia
Oriental, a analista ambiental da
Secretaria de Estado do Meio Ambiente
(SEMA), Mariane Nardi, fala sobre os
serviços ambientais nas políticas públicas,
a inclusão da população tradicional e a
relação das áreas protegidas em relação
às mudanças climáticas.1) Qual é o papel das áreas protegidas
em relação às mudanças climáticas?
As áreas protegidas são estratégias
bem sucedidas de contenção de
desmatamento, o principal fator de
emissões de gases de efeito estufa no
Brasil. Então as Unidades de Conservação
são essenciais no combate às mudanças climáticas.
2) O que está sendo feito no Amapá
para inserir o tema das mudanças
climáticas e serviços ambientais nas
políticas públicas?
Todas as políticas de conservação
florestal e manejo contribuem para a mitigação das mudanças climáticas.
Hoje temos o Fórum Amapaense
de Mudanças Climáticas e Serviços
Ambientais (FAMCSA). Foi desenvolvida
uma minuta de lei da política estadual
de mudanças climáticas, conservação e
Este informativo foi produzido no âmbito do Projeto de Educomunicação do Mosaico da Amazônia Oriental, com o objetivo de socializar informações e agilizar a comunicação entre os conselheiros do Mosaico e a sociedade de modo em geral. Traz informações da IX Reunião do Conselho Consultivo do Mosaico de Áreas Protegidas da Amazônia Oriental, realizada nos dias 01 e 02 de junho de 2017, em Macapá-AP.
O Mosaico da Amazônia Oriental é um instrumento de articulação para a gestão territorial de mais de 12,3 milhões de hectares. Representa um espaço de diálogo entre os gestores e moradores
incentivo aos serviços ambientais.
Temos também o Plano Plurianual de
Combate ao Desmatamento do Amapá
alinhado com o Plano de Ação para
Prevenção e Controle do Desmatamento
na Amazônia Legal (PPCDAm), programa
do Governo Federal, entre outras
iniciativas.
3) Como a população tradicional pode
se inserir nas Políticas Públicas que tratam
das Mudanças Climáticas?
As populações tradicionais são grandes
detentoras de conhecimentos da floresta. Esses conhecimentos e formas de
interação tem possibilitado a conservação
florestal. É essencial que esses povos estejam inseridos nessas políticas como
beneficiários e também no debate das salvaguardas socioambientais. O ideal
é que sejam uma soma de esforços,
contemplando a diversidade no sentido
amplo, no grande objetivo de combate as
mudanças climáticas.
O AMAPÁ EAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
-entrevista com mariane nardi-editorial
informativo ii
do interior e entorno das nove áreas protegidas que formam o Mosaico.
As reuniões do seu Conselho Consultivo acontecem duas vezes ao ano e são promovidas pela Secretaria Executiva, composta por membros do Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Amapá, Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) e Associação dos Povos Indígenas Wayana e Aparay (APIWA).
2017out
Redação:Alessandra Lameira
Fotografia:Alessandra Lameira
Luciano CandisaniCassandra Oliveira
Zig Koch
Coordenação Geral do Projeto de Educomunicação:Cassandra Oliveira e Sueli Pontes
Mídia Ninja: Gabriela Marques / Loyanna Santana / Isadora CallinsRevisão:Cassandra OliveiraDécio YokotaVerena Almeida
Acompanhe as atividades do Mosaicono site e nas redes sociais.
www.mosaico.eco.br/mosaicoamazoniaoriental
APOIO:
REALIZAÇÃO:
Design:SereiaAbacaxi.com
O Protocolo de Consulta e
Consentimento Wajãpi foi um dos
temas amplamente debatidos na
IX Reunião do Conselho Consultivo
do Mosaico de Áreas Protegidas da
Amazônia Oriental, que aconteceu no
início de junho de 2017. O Protocolo
de Consulta é um instrumento
legal para que os indígenas sejam
consultados sobre quaisquer
mudanças que possam afetar a Terra
Indígena Wajãpi (TIW) ou seu entorno.
Hiandra Pedroso, do Iepé, ressaltou
que o Estado tem a obrigação de
consultar os povos indígenas, caso
venha a implementar quaisquer
políticas ou empreendimentos que
venham a impactar o território ou o
modo de vida desses povos.
Hiandra ainda destacou que a
Consulta Prévia está garantida
na Convenção 169 sobre Povos
Indígenas e Tribais, da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), que
passou a fazer parte do conjunto das leis
brasileiras em 19 de abril de 2004. “A
consulta deve ser prévia, livre informada,
tendo que ser feita de maneira clara e
acessível e, levando em consideração
como e quando o povo indígena quer ser
consultado.”
O Protocolo de Consulta e
Consentimento Wajãpi é um documento
que consta a forma como os Wajãpi
querem ser consultados. A primeira
aplicação do Protocolo foi realizada
pelo Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (INCRA) e pelo
Instituto Estadual de Florestas do Amapá
(IEF), seguindo as recomendações do
Ministério Público Federal (MPF), a
pedido do Conselho das Aldeias Wajãpi
– Apina.
A primeira reunião da Consulta Prévia
aos Wajãpi ocorreu em maio de
2017. Na ocasião, representantes
dos órgãos governamentais
explicaram aos Wajãpi quais eram
as propostas para ordenamento territorial da
área no entorno da TIW.
O INCRA e IEF apresentaram a proposta
de destinar duas áreas entre o Projeto de
Assentamento Perimetral Norte e a TI Wajãpi,
com potencial para uma gestão diferenciada
por parte da Floresta Estadual do Amapá
(Flota do Amapá), que atenda aos anseios de
uma Faixa de Amizade e regularize a questão
da sobreposição de áreas do assentamento
com a Flota do Amapá
O Mosaico da Amazônia Oriental tem o
papel de acompanhar todas as etapas desse
processo e contribuir para construção de um
espaço de diálogo frutífero entre os órgãos
envolvidos, os assentados e os Wajãpi.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS
A Terra Indígena Wajãpi, ocupa 607.017 hectares, está localizada no Estado do Amapá, entre os municípios de Pedra Branca do Amapari e Laranjal do Jari. Com uma população de cerca de 1.200 pessoas vivendo em 95 aldeias, a TI Wajãpi foi demarcada e homologada em 1996.
Ana Euler e Eleneide Doff Sotta,
pesquisadoras da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
apresentaram o projeto GUIAMAFLOR:
cenários da produção madeireira a partir
do manejo florestal no Amapá. O estudo desenhou quatro diferentes cenários da
dinâmica florestal com a exploração de madeira para os próximos 40 anos. As zonas
potenciais para o manejo florestal no Amapá abrangem 4.533.800 ha.
Segundo as pesquisadoras, a
produção de madeira tende a aumentar
exponencialmente nos próximos 10 anos.
Porém, nesse mesmo período, a madeira das
áreas fundiárias e assentamentos tenderão
ao esgotamento e as florestas de terra firme serão seriamente impactadas.
Elas alertam que o Amapá precisa de
uma política florestal clara, pois a exploração madeireira de forma ilegal prejudica o meio
ambiente e não gera desenvolvimento
territorial nem econômico. O poder público
tem um papel central em dar as regras
para o desenvolvimento do setor florestal, já que quase a totalidade das florestas são públicas. Já setor privado ainda está
pesquisadorasDA EMBRAPA ALERTAM PARA O ESGOTAMENTO DOS RECURSOS MADEIREIROS NO AMAPÁ
muito desorganizado e tem uma visão de
investimento de curto prazo e maximização
de lucros. As comunidades têm grande
potencial para o desenvolvimento do setor
florestal, pois detém o acesso às florestas. Porém, necessitam de investimentos de
médio-longo prazo em treinamento, crédito
e gestão.
Além disso, alguns obstáculos têm
favorecido o aumento da exploração
de madeira ilegal, entre elas: a falta de
transparência e dados oficiais confiáveis; pendências em relação aos documentos
fundiários dos assentados e moradores
de Unidades de Conservação (UCs), que
dificultam ou impedem o licenciamento da atividade florestal; ausência de assistência técnica pública para a elaboração de Planos
de Manejo Comunitários e a inexistência
de crédito para financiar o custeio da elaboração de planos de manejo.
As pesquisadoras disseram que o
futuro da produção madeireira sustentável
depende da capacidade do Estado em
conciliar investimentos nas concessões
florestais e no manejo florestal comunitário. “É necessário mediar a relação entre
empresas e associações comunitárias,
assegurar a participação das comunidades na
divisão da riqueza e minimizar os impactos
sobre a biodiversidade”, ressaltou Ana Euler.
Propor uma agenda florestal, fortalecer a participação das comunidades através dos
Conselhos Estaduais e promover Programa de
Formação e Articulação para o Manejo Florestal
Comunitário também foram apresentados
caminhos para sair desse impasse.
wajapiPROTOCOLO DE CONSULTA E CONSENTIMENTO
É DEBATIDO ENTRE OS CONSELHEIROS DO MOSAICO
A analista ambiental da Secretaria de Estado
do Meio Ambiente (SEMA), Mariane Nardi e
a assessora de articulação regional do Iepé,
Verena Almeida, levaram as questões sobre as
mudanças climáticas e suas consequências aos
Conselheiros do Mosaico da Amazônia Oriental.
Há mais de dez anos as pesquisas científicas têm indicado que as mudanças no clima
global são fato e sua velocidade e intensidade
tem aumentado devido a ação humana. O
desafio para o enfrentamento das causas e suas consequências é mundial, o que torna um
assunto bastante complexo.
O aumento das emissões de gases de efeito,
resultante das atividades humanas, como o
desmatamento e a queima de combustíveis
fósseis (petróleo), prendendo o calor na
atmosfera da Terra. Isso altera o sistema climático
global e o resultado tem sido o aumento dos
extremos climáticos, como fortes inundações,
secas severas e a maior ocorrência de furacões,
além do próprio clima que está esquentando a
cada ano.
CONSEQUÊNCIAS: A mudança climática
fará com que algumas regiões se tornem mais
úmidas e outas mais secas, além do aumento
do calor geral pelo globo terrestre. O nível do
mar subirá à medida que as geleiras derreterem, enquanto algumas regiões estarão mais em risco
de ondas de calor, secas, inundações e desastres
naturais. Essas alterações poderão arruinar
cadeias alimentares e ecossistemas, pondo
espécies inteiras em risco de extinção.
O QUE FAZER? Dialogar com as
pessoas próximas sobre os efeitos das
mudanças do clima e o que pode ser feito
individualmente, cobrar ações dos governos e
dos meios de comunicação mais informações
acerca do tema. Diminuir o desmatamento,
investir no reflorestamento e na conservação de áreas naturais, incentivar o uso de energias
renováveis não convencionais (solar, eólica,
biomassa e Pequenas Centrais Hidrelétricas),
preferir utilizar biocombustíveis (etanol,
biodiesel) a combustíveis fósseis (gasolina,
óleo diesel), investir na redução do consumo
de energia e na eficiência energética, reduzir, reaproveitar e reciclar materiais, investir em
tecnologias de baixo carbono e melhorar o
transporte público com baixa emissão de gases
de efeito estufa são algumas das possibilidades.
O PAPEL DA AMAZÔNIA - O mecanismo
hidrológico da Amazônia desempenha
um papel primordial na manutenção do
clima mundial e regional. A água que as
plantas liberam na atmosfera por meio da
evapotranspiração e que os rios despejam
no oceano influencia o clima do planeta e a circulação das correntes oceânicas. É um
mecanismo de retroalimentação, pois esse
processo também sustenta o clima regional
do qual depende, além da indiscutível
biodiversidade e socioculturalidade dos povos
que vivem na e da floresta.