o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

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O ARQUIVISTA FRENTE A DOCUMENTAÇÃO ECLESIÁSTICA: A APLICABILIDADE DA GESTÃO ARQUIVÍSTICA NO ACERVO DOCUMENTAL DO SENATUS DO RIO GRANDE DO SUL. Jean Carlo Rosa Durigon 1 Danilo Ribas Barbiero 2 Resumo: Este trabalho desenvolve-se no acervo documental da Legião de Maria - Senatus Nossa Senhora da Conceição de Santa Maria, associação laical ligada à Igreja Católica a qual tem jurisdição sobre todo o território Gaúcho. Esta associação está presente nos cinco continentes, com seu sistema padronizado e nomenclatura advinda da língua latina, nos apresenta um léxico de termos que diferem de nosso cotidiano, instigando a busca por seu significado frente aos acervos eclesiásticos. Nos dias de hoje o problema da gestão documental está presente nas mais variadas instituições produtoras de documentos, por meio deste trabalho almeja-se propor a classificação do conjunto documental, através de medidas que visem a otimização na recuperação das informações, bem como abordar o papel social que exerce o Arquivista frente a memória e a produção documental. A metodologia utilizada é a observação direta, afim de elaborar o diagnóstico institucional, a aplicação dos princípios arquivísticos visando identificar os produtores documentais e os fundos existentes, a elaboração de instrumentos de classificação que reflitam os organismos componentes da instituição bem como sua aplicação. Resultante desta abordagem temos a conscientização dos gestores quanto o papel e a relevância do profissional arquivista na sociedade bem como os campos de atuação deste profissional envolvendo os arquivos eclesiásticos; a organização do acervo, juntamente com a gestão documental e preservação da memória institucional, visando o acesso aos seus usuários. Palavras-chave: Arquivologia. Arquivos Eclesiásticos. Gestão arquivística. 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho visa expor a aplicação da gestão arquivística bem como as propostas de políticas elaboradas para o acervo documental da Legião de Maria-Senatus Nossa Senhora da 1 Acadêmico do Curso de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected]. 2 Professor do Departamento de Documentação da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: [email protected]

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Page 1: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

O ARQUIVISTA FRENTE A DOCUMENTAÇÃO ECLESIÁSTICA: A

APLICABILIDADE DA GESTÃO ARQUIVÍSTICA NO ACERVO DOCUMENTAL DO

SENATUS DO RIO GRANDE DO SUL.

Jean Carlo Rosa Durigon1

Danilo Ribas Barbiero2

Resumo: Este trabalho desenvolve-se no acervo documental da Legião de Maria - Senatus Nossa

Senhora da Conceição de Santa Maria, associação laical ligada à Igreja Católica a qual tem

jurisdição sobre todo o território Gaúcho. Esta associação está presente nos cinco continentes, com

seu sistema padronizado e nomenclatura advinda da língua latina, nos apresenta um léxico de

termos que diferem de nosso cotidiano, instigando a busca por seu significado frente aos acervos

eclesiásticos. Nos dias de hoje o problema da gestão documental está presente nas mais variadas

instituições produtoras de documentos, por meio deste trabalho almeja-se propor a classificação do

conjunto documental, através de medidas que visem a otimização na recuperação das informações,

bem como abordar o papel social que exerce o Arquivista frente a memória e a produção

documental. A metodologia utilizada é a observação direta, afim de elaborar o diagnóstico

institucional, a aplicação dos princípios arquivísticos visando identificar os produtores documentais

e os fundos existentes, a elaboração de instrumentos de classificação que reflitam os organismos

componentes da instituição bem como sua aplicação. Resultante desta abordagem temos a

conscientização dos gestores quanto o papel e a relevância do profissional arquivista na sociedade

bem como os campos de atuação deste profissional envolvendo os arquivos eclesiásticos; a

organização do acervo, juntamente com a gestão documental e preservação da memória

institucional, visando o acesso aos seus usuários.

Palavras-chave: Arquivologia. Arquivos Eclesiásticos. Gestão arquivística.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa expor a aplicação da gestão arquivística bem como as propostas de

políticas elaboradas para o acervo documental da Legião de Maria-Senatus Nossa Senhora da

1 Acadêmico do Curso de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail:

[email protected]. 2 Professor do Departamento de Documentação da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail:

[email protected]

Page 2: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

Conceição, visando a salvaguarda da documentação gerada por esta instituição bem como a

preservação da memória e dos tipos documentais oriundos de suas atividades.

Para isto, se faz necessária uma intervenção arquivística por meio do conhecimento e

catalogação das tipologias, bem como a identificação do fundo documental gerado por esta

instituição. O presente trabalho adotou como metodologia o uso de entrevistas com os gestores da

instituição e as constantes abordagens de conscientização sistemática da importância da gestão

documental visando a médio e longo prazo a preservação documental. Para tanto, se fez necessária

a elaboração de um glossário de termos, pois as tipologias existentes apresentam um léxico

terminológico que difere de nosso cotidiano, conforme exposto no Glossário.

Este trabalho justifica-se pela relevância de aplicar a gestão documental no acervo da

referida instituição, bem como propor políticas arquivísticas á uma instituição que detém sob sua

custódia um riquíssimo conjunto documental de cunho eclesial, área que pode ser melhor explorada

pelos profissionais arquivistas, que após sofrer intervenções arquivísticas possibilitará o resgate de

sua história, possibilitando o acesso à memória latente presente nos documentos.

Como objetivo geral propõe-se a aplicação da gestão documental para a instituição, visando

a identificação e classificação de seu acervo. Além do objetivo geral tem-se como objetivos

específicos: Aplicar a gestão documental no acervo documental do Senatus Nossa Senhora da

Conceição; Identificar as tipologias existentes na instituição e seu local de armazenamento bem

como seu estado de conservação; Conscientizar os gestores da instituição por meio de entrevistas e

resultados práticos da importância da presença de um arquivista frente a documentação.

Para alcançar tais objetivos, necessita-se compor o histórico da instituição, juntamente da

revisão de literatura, trazendo conceitos da Arquivologia, como Documentos, gestão documental e

arquivos eclesiásticos.

2 HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO

O Senatus Nossa Senhora da Conceição surge a parir do aglomerado de Praesidia, porém

não surgiu com esta denominação, para compreensão desta formação se faz necessário dividir sua

história em quatro itens, sendo o primeiro: A história do Movimento Legião de Maria, necessário

devido o contexto em que se insere; O segundo: A história de como este Movimento chegou ao

Brasil; O Terceiro: o fundador e disseminador do Movimento em solo Gaúcho, Padre Francisco

Page 3: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

Mascarenhas; E por último a Criação da Curia Nossa senhora da Conceição, suas transformações

até a atual Categoria/denominação, Senatus.

2.1 Nome e Origem do Movimento

A igreja Católica, eu sua estrutura apresenta uma grande miscelânea de congregações e

movimentos apostólicos com o intuito de propagar sua doutrina. Nesta grande miscelânea de

movimentos, um em particular, sendo um Movimento de Apostolado leigo, denominado Legião de

Maria, está presente pelo mundo inteiro.

A Legião de Maria foi iniciada aos Sete de Setembro de Mil Novecentos e Vinte e Um, por

volta das Vinte Horas, em Myra House, Francis Street, Cidade de Dublin, Irlanda, onde um grupo

de jovens católicos com o desejo de fazer alguma atividade em prol da sociedade encontrava-se

reunido. O idealizador deste movimento foi o Senhor Frank Duff, que após ouvir o relato de uma

visita ao Hospital da cidade se compadece com o esquecimento e abandono de pacientes da ala

cancerígena da instituição. Tentando mudar esta situação de abandono e esquecimento, um grupo de

jovens passa a realizar visitas, em duplas, a estes locais, levando conforto espiritual, propagado pela

religião católica. Este grupo passa a fazer visitas a um hospital dirigido pelas Irmãs da Misericórdia

e adota o nome de “Associação de Nossa Senhora da Misericórdia”, mudando para Legião de Maria

em Novembro de Mil Novecentos e Vinte e Cinco.

2.2 Chegada do movimento ao Brasil3

A história começa na cidade do Rio de Janeiro, João Creff um francês residente nesta

cidade, Católico Leigo, durante uma viagem à Europa no ano de 1950, para visitar a sua família na

França, é abordado por Ives Tual, um jovem (aparentava ser um sacerdote, pela batina que usava)

que convida-o para ir à uma reunião.

Ives Tual pertencia ao Movimento da Legião de Maria, era o Presidente do Senatus de Paris.

Embora hesitante, Creff, confirma presença ao legionário. Na reunião o Creff fica entusiasmado

com tudo o que viu e ouviu, recebe então de presente um livro, o Manual Oficial da Legião de

Maria, e mais alguns folhetos explicativos sobre os trabalhos que eram realizados pelo movimento.

3 Texto adaptado do sitio do Senatus Assumpta do Rio de Janeiro, vide referência.

Page 4: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

Creff sai da França decidido a fundar a Legião de Maria no Brasil, chegando ao Rio de

Janeiro, foi conversar com Pe. Simão Baccelli, Pároco da Igreja Nossa Senhora da Salete, porém,

não houve receptividade. Mesmo com a negação do Pe. Baccelli, Creff não desiste, recorre ao Pe.

José Tonelli, pároco da igreja de Nossa Senhora de Fátima, que concordou imediatamente para a

implantação de um grupo do movimento na paróquia.

O primeiro grupo se formou, que viria a ser, também, o primeiro Praesidium do Brasil,

chamado Refugium Peccatorum (Refúgio dos pecadores), composto por onze membros. O Pe.

Tonelli foi escolhido para ser o Diretor Espiritual. Entretanto a fundação ainda não havia se

completado. Faltava um requisito importante: a aprovação da Autoridade Eclesiástica. O Emmo. Sr.

Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara recusou o ofício encaminhado a ele, alegando que se tratava

de “mais uma fita”.

O grupo não desanimou, continuou a se reunir, mesmo sem a autorização. No dia 13 de

outubro, festa da recordação da aparição de Nossa Senhora em Portugal, o grupo entregou um

segundo ofício ao Bispo Dom Rosalvo da Costa Rego, que prometeu encaminhá-lo. Em 24 de

Outubro de 1951 foi concedida a permissão, mas, com a limitação de trabalhar somente na Paróquia

Nossa Senhora de Fátima.

O Praesidium trabalhou nos meses finais do ano de 1951 e todo o ano de 1952. Após

este período apresentaram um relatório de tudo o que havia sido feito e a resposta do Cardeal

Câmara foi positiva, concedendo não somente a permissão, como também, incentivando a difusão

da Legião de Maria em toda a Arquidiocese do Rio de Janeiro. O Praesidium cresceu e se

desmembrou, formando outras células pela cidade.

Em um ano mais de cinco Praesidia haviam sido fundados e dois anos depois, no ano de

1954, era fundada a primeira Curia do Brasil, que recebeu o nome “Immaculata”. O crescimento da

Legião de Maria seguiu pelo estado do Rio de Janeiro, ultrapassou as fronteiras e se instalou

gradativamente por todo o Brasil (Mello, Maria Eulália).

Hoje o Movimento está presente em todo o Brasil, totalizando dez Senatus e uma Regia

filiados diretamente ao Concilium Legionis Mariae, situado em Dublin, Irlanda, dividindo o

território nacional em grandes Conselhos.

2.3 Padre Francis Apolnaris Mascarenhas4

4 Texto adaptado do livro Construindo o reino de Deus com Maria e em Maria... e Documentos

do Acervo institucional.

Page 5: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

Francis Apolinaris Mascarenhas, Antônio Francisco Apolinário Mascarenhas ou mesmo

Francisco Mascarenhas5, são as várias formas para identificar um só homem. Utilizaremos seu

nome “aportuguesado” Padre Francisco Mascarenhas. De nacionalidade indiana, nasceu em

Chinchinim, província de Goa, então colônia portuguesa aos 23 dias do mês de Julho de 1916.

Viveu na Aldeia de Sarzorá até os doze anos, após foi para a cidade de Belgaum, Índia inglesa,

onde deu seguimento aos seus estudos em uma escola dirigida por padres da Companhia de Jesus,

Jesuítas. Afim de tornar-se sacerdote, ingressou no noviciato da Companhia de Jesus no ano de

1933. Foi ordenado ao grau de Diácono para a Diocese de Trichinopoly. Durante o Seminário um

colega comenta com Francisco sobre um movimento chamado Legião de Maria, o qual está a

serviço do autoridade eclesial e sacerdotal.

Após o período do diaconato, foi ordenado sacerdote aos 21 de Março de 1942, com 25 anos

de idade na cidade de Bombaim. Como Sacerdote, atuou primeiramente na Igreja Nossa Senhora do

Rosário, onde necessitou de ajuda e recorreu então ao movimento que o colega seminarista havia

comentado (Legião de Maria). Aos 02 de Fevereiro de 1943 teve o primeiro contato pessoal com a

Legião de Maria. Após obter as informações e instruções necessárias formou então um Praesidium.

Com o passar do tempo atuou em diversas paróquias de Bombaim e fundou outros grupos (ou

Praesidia). Estes grupos da Legião de Maria, a posteriori vieram a formara o Senatus de Bombaim,

cuja jurisdição abrangia Bombaim e o norte da Índia.

Em 1959 foi nomeado pároco da Paróquia São João Evangelista, durante sua permanência

nesta Paróquia, atuou como Diretor Espiritual do Senatus de Bombaim. Durante viagem à Roma,

Padre Francisco encontra um Bispo brasileiro, que relata o pequeno número de sacerdotes atuantes

em sua Diocese, e em razão disto viera a Roma solicitar mais Padres para atuar na mesma.

Ao Retornar à Bombaim, manifesta a seus superiores o desejo de trabalhar no Brasil.

Conversa com Padre Felipe Sousa que residia no Brasil e salienta seu desejo de vir trabalhar no

Brasil por alguns anos, envia-lhe seu Curriculum Vitae que é apresentado à Dom Luiz Victor

Sartori6, o qual o “recebe de braços abertos e com muito reconhecimento”

7.

Assim, em 26 de junho de 1967, após comemorar 25 anos de sacerdócio, Pe. Francisco parte

para o Brasil, chegando em Santa Maria dia 31 de Agosto do referido ano, sendo recebido pelo

5 Declaração emitida pela Mitra Diocesana de santa Maria. Acervo da instituição.

6 Quarto Bispo Diocesano de Santa Maria, seu Episcopado foi de 1960 a 1970, Participou do Concilio Vaticano II.

7 Trecho extraído da carta de D.L.V. Sartori a Pe. Francisco Mascarenhas, datada de 08/03/1967. Acervo da instituição.

Page 6: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

Bispo diocesano de Santa Maria, Dom Luiz Victor Sartori. Dom Luiz menciona o envolvimento de

Pe. Francisco com o movimento da Legião de Maria na Índia e o trabalho que este realizou.

Menciona os convites enviados pelo Senatus de São Paulo para a diocese de Santa Maria afim de

iniciar a Legião neste território eclesial, os quais foram todos recusados pela Diocese, porém com a

chegada de Pe. Mascarenhas, Dom Luiz decide iniciar a Legião de Maria na cidade.

Pe. Francisco é nomeado coadjutor da paróquia Santa Catarina e responsável pela promoção

da Legião de Maria, fundou aos Sete de Setembro de 1967 o primeiro grupo de Legionários,

recebendo a denominação de Praesidium Nossa Senhora das Graças. Assim iniciava o movimento

da Legião de Maria na cidade.

2.4 Legião de Maria na cidade de Santa Maria e disseminação do movimento no Estado do

Rio Grande do Sul, de Curia à Senatus.

Desde sua chegada ao Rio Grande do Sul, Pe. Francisco trabalhou constantemente para a

promoção do Movimento da Legião de Maria na cidade de Santa Maria e arredores, visitando

diversas paróquias para divulgar o Movimento. Em 1968 já haviam 11 grupos da legião dentro e

fora de Santa Maria. Na véspera da Romaria Estadual de Nossa Senhora Medianeira de 1968

(grande evento religioso do Estado), os Oficiais dos onze núcleos existentes foram convocados para

a instalação da primeira Curia, Curia Nossa Senhora da Conceição (elevada à Comitium no ano de

1973).

Com a expansão e aumento de atividades desenvolvidas pela Legião em Santa Maria, a

necessidade de uma sede se fazia latente. Em função disto, encaminha a Dom José Ivo Lorscheiter8,

Bispo de Santa Maria, a proposta de criação de uma sede e no ano de 1987 inicia-se a construção do

prédio (o nome da nova Sede da Legião foi sugestão de Dom Ivo Lorscheiter, denominada

“Instituto Magnificat”). A inauguração da primeira fase da construção foi feita no dia 25 de Março

de 1990, dia em que se celebra a festa da Anunciação9 e a Solenidade legionária de Acies, festa

central do movimento da Legião de Maria.

Em 1993, Padre Francisco comemorou o Cinquentenário de sua Ordenação Sacerdotal,

destes, vinte e cinco no Brasil, juntamente com esta celebração foi inaugurada a segunda parte das

8 Sexto Bispo de Santa Maria-RS, Conhecido nacional e internacionalmente por seus posicionamentos afrente

da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB durante a Ditadura Civil-Militar brasileira. 9 A festa da Anunciação do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria é comemorada desde o Século V,

no Oriente e a partir do Século VI, no Ocidente, nove meses antes do Natal (25/05).

Page 7: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

edificações do Instituto Magnificat, contendo a Capela dedicada à Nossa Senhora das Graças da

Medalha Milagrosa (imponente construção e marco de um legado de vida e história do Padre

Mascarenhas). Os núcleos, ou Praesidia da Legião de Maria no 1997 eram mais de 800 em todo o

Estado, fundados em sua maioria pelo próprio Pe. Francisco.

Até o ano de sua Morte do Pe. Mascarenhas, residiu e trabalhou no Instituto Magnificat.

Veio a falecer na noite de 31 de Dezembro de 2001, em Santa Maria, aos oitenta e cinco anos de

idade. Após sua morte, por iniciativa dos legionários de Santa Maria, foi organizado um memorial

em sua homenagem, localizado no Instituto Magnificat. Nele constam documentos textuais, um

grande volume de fotografias, sua biblioteca, objetos e paramentos Litúrgicos, dentre outros

pertences pessoais.

No ano de sua morte, a Legião de Maria estava presente em 23 cidades do Estado do Rio

Grande do Sul, sob jurisdição da Regia Nossa Senhora da Conceição, subordinada ao Senatus de

São Paulo, a Regia foi instalada em 1979 (anteriormente fora Curia e após Comitium). Hoje o

movimento está presente em 27 Cidades do Estado. No ano de 2010 os Restos mortais do Padre

Francisco Mascarenhas foram exumados e transladado para a Capela do Instituto Magníficat. O

trabalho do Padre Mascarenhas perpassou as fronteiras do Estado do Rio Grande do Sul, suas obras

circulam até os dias de hoje por todo o Brasil, servindo de base para a propagação do movimento da

Legião de Maria.

Em 2014 a Regia foi elevada à categoria de Senatus, passando a denominação Senatus

Nossa Senhora da Conceição, sendo subordinado diretamente ao Concilium Legionis Mariae,

Conselho máximo da Legião de Maria com Sede em Dublin, Irlanda. Tudo isto só foi possível

graças à atuação do Padre Mascarenhas e seus Legionários fidelíssimos.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Arquivologia nos apresenta alguns conceitos fundamentais para entender seus métodos e

técnicas, e alguns desses conceitos serão abordados neste trabalho. Primeiramente necessitamos do

conceito de Documento que segundo Bellotto é:

Um suporte com uma informação, que poderá ensinar algo a alguém. De forma simples,

podemos dizer que o ‘documento é uma informação, de qualquer tipo, sobre um suporte de

qualquer tipo’, ou, se colocarmos a definição ao contrário, ‘documento é um suporte

modificado por uma informação’ (BELLOTTO, 2002, p.22).

Page 8: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

Paes (2004) também nos dá uma definição de o que para ela é documento “o registro de uma

informação independente da natureza do suporte a que contém.” Assim podemos afirmar que

documento é toda a informação fixada em um suporte, independente do mesmo. Outo conceito que

necessitamos é o Princípio de Respeito aos fundos, que segundo Schellenberg consiste em: “todos

os documentos originários de uma autoridade administrativa, corporação ou família devem ser

agrupados constituindo fundos” (SCHELLENBERG 2006, p. 246), ou seja, a reunião de

documentos oriundos de um mesmo produtor.

Por fundo, Rousseou e Couture nos dão a seguinte definição:

Os documentos de arquivo são formados a partir das atividades desempenhadas por seus

produtores, os conjuntos documentais são reunidos por origem produtora, a qual chamamos

de fundos, estes são conjuntos de documentos independentes de sua forma ou suporte,

produzidos ao longo de uma atividade (ROUSSEAU E COUTURE, 1994, P.284).

Bellotto, ao conceituar Fundo documental, afirma que:

Fundo, é o conjunto de documentos produzidos e/ou acumulados por determinada entidade

pública ou privada, pessoa ou família, no exercício de suas funções e atividades, guardando

entre si relações orgânicas, e que são preservados como prova ou testemunho legal e/ou

cultural, não devendo ser mesclados a documentos de outro conjunto, gerado por outra

instituição, mesmo que este, por quaisquer razões, lhe seja afim. (BELLOTTO 2006, p.

128)

A mesma autora afirma que “o documento de arquivo só tem sentido se relacionado ao meio

que o produziu, seu conjunto deve retratar a infraestrutura e as funções de quem o gerou, refletindo

assim, suas atividades meio e suas atividades fim” (Bellotto, 2006).

A arquivologia nos apresenta instrumentos para classificação, que segundo Paes (2004),

classificação consiste no “processo que na organização de arquivos correntes” podemos incluir

também os arquivos intermediários no âmbito da classificação, pois estes passam por avaliação para

depois serem encaminhados à sua destinação final, seja ela guarda permanente ou eliminação. Já os

arquivos de guarda permanentes, que já for foram submetidos à avaliação seguem um arranjo

documental, que segundo a mesma autora, arranjo é “o processo de ordenação de documentos em

um fundo.

Norteando estes princípios e conceitos, temos órgãos Internacionais como o Conselho

Internacional de Arquivos – CIA que publicou para orientar o fazer dos arquivistas um Código de

Ética, o qual tem por finalidade “fornecer à profissão arquivística regras de conduta de alto nível”,

em seu artigo 2° temos as atribuições do profissional arquivista:

Page 9: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

[...] “Os arquivistas tratam, selecionam e mantêm os arquivos em seu contexto histórico,

jurídico e administrativo, respeitando, portanto, sua proveniência, preservando e tornado

assim manifestas suas interelações originais. No cumprimento de sua missão e de suas

funções, os arquivistas se pautam pelos princípios arquivísticos que regem a criação, a

gestão e a escolha da destinação dos arquivos correntes e intermediários, a seleção e a

aquisição de documento com vistas ao seu arquivamento definitivo, a salvaguardar, a

preservação e a conservação dos arquivos que estão sob a sua guarda, e a classificação, a

análise, a publicação e os meios de tornar os documentos acessíveis. [...] Eles classificam

analisam os documentos escolhidos para serem retidos, de acordo com os princípios

arquivísticos (em particular o princípio de proveniência e o princípio de classificação

original) e as normas reconhecidas universalmente, tudo isso rapidamente quanto possível

[...]

Questões como a imparcialidade e a segurança das informações sob custódia do arquivista

são de fundamental importância, para isto o mesmo CIA nos estabelece em seu Artigo 8° de seu

Código de Ética as seguintes normativas, respaldando o fazer Arquivístico e a profissão do

arquivista.

[...] “Os arquivistas se abstêm de toda atividade prejudicial à sua integridade profissional, à

sua objetividade e à sua imparcialidade. Os arquivistas não tiram de suas atividades

nenhuma vantagem pessoal, financeira ou de qualquer outra ordem que possa resultar em

detrimento das instituições, dos usuários e de seus colegas. [...] Os arquivistas podem

explorar os fundos arquivísticos de sua instituição para fins de pesquisa e de publicações

pessoais, desde que tal trabalho seja conduzido de acordo com as mesmas regras impostas

aos demais usuários. Eles não permitem que suas pesquisas pessoais ou suas publicações

interfiram com as tarefas profissionais ou administrativas para as quais foram contratados.

No que concerne à exploração de seus fundos arquivísticos, os arquivistas não utilizam seu

conhecimento das descobertas feitas por um pesquisador, ainda não publicadas por ele sem

adverti-lo de sua intenção de tirar partido delas. Os arquivistas podem criticar e comentar os

trabalhos afins a suas áreas de pesquisa, aí compreendidos os trabalhos baseados nos fundos

que se acham sob sua guarda. Os arquivistas não permitem a pessoas estranhas à sua

profissão interferirem em suas práticas e obrigações. 10

Além do Conselho Internacional de Arquivos, temos a Legislação arquivística que norteia a

política nacional de arquivos em território brasileiro. Temos o exemplo da Lei 8.159, qual

popularmente conhecida como “Lei de Arquivos” que determina a existência de dois segmentos de

arquivos, os arquivos públicos que são:

“Art. 7° Os conjuntos de documentos produzidos e recebidos, no exercício de suas

atividades, por órgãos públicos de âmbito federal, estadual, do Distrito Federal e municipal

em decorrência de suas funções administrativas, legislativas e judiciárias.

§ 1º - São também públicos os conjuntos de documentos produzidos e recebidos por

instituições de caráter público, por entidades privadas encarregadas da gestão de serviços

públicos no exercício de suas atividades”. (Lei 8.159/1991).

10 Grifo nosso.

Page 10: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

E os arquivos privados, que segundo a Lei 8.159 são:

[...]” Art. 11 - Consideram-se arquivos privados os conjuntos de documentos produzidos ou

recebidos por pessoas físicas ou jurídicas, em decorrência de suas atividades.

Art. 12 - Os arquivos privados podem ser identificados pelo Poder Público como de

interesse público e social, desde que sejam considerados como conjuntos de fontes

relevantes para a história e desenvolvimento científico nacional” [...] (Lei 8.159/1991).

3.1 Gestão documental

A Lei 8.159, em seu Artigo terceiro nos apresenta a gestão documental da seguinte maneira:

Art. 3º - Considera-se gestão de documentos o conjunto de procedimentos e operações

técnicas referentes à sua produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento em fase

corrente e intermediária, visando a sua eliminação ou recolhimento para guarda

permanente.

Com base neste conceito apresentado pela Lei acima, o documento, desde sua produção,

independente de seu gênero, que segundo Paes (2004, p.29) pode ser Escrito ou textual, documentos

manuscritos, datilografados ou impressos; Iconográficos, enquadram-se neste gênero as fotografias,

as gravuras, desenhos. Dentre outros gêneros que a autora apresenta, daremos enfoque a estes dois

(pois a documentação do acervo institucional é formada em suma por documentos de gênero textual

e iconográfico).

A mesma autora, apresenta a natureza do assunto dos documentos, os quais podem ser

ostensivos, cuja divulgação não prejudica a administração; ou sigilosos, cujo conhecimento das

informações neles registrada deve ser restrita, devida sua importância para a instituição.

Quanto o uso da documentação do fundo documental do Senatus Nossa Senhora da

Conceição, atribui-se a classificação conforme caráter sigiloso, atribuindo o grau de Reservado,

“são assuntos que não devem ser do conhecimento do público em geral” (PAES 2004, p.30 e 31)

pois o acesso aos documentos é permitido ao um número limitado de usuários, conforme

regulamento institucional interno.

Levando em consideração a classificação documental, “ a qual se fundamenta na

interpretação dos documentos, levando em conta o conhecimento das atividades dos órgãos

produtores” (PAES 2004, p. 97), o uso e disseminação das informações registradas nos documentos,

deve-se observar o Artigo 8º do Código de Ética do CIA, onde recomenda ao profissional arquivista

os cuidados que deve ter ao pesquisar em instituições que apresentam especificidades ou restrições

Page 11: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

quanto o uso dos documentos oriundos de suas atividades, mesmo que o objetivo sejam pesquisas e

publicações científicas.

[...] Os arquivistas podem explorar os fundos arquivísticos de sua instituição para fins de

pesquisa e de publicações pessoais, desde que tal trabalho seja conduzido de acordo com as

mesmas regras impostas aos demais usuários. Eles não revelam nem utilizam, nos fundos

arquivísticos, onde o acesso é limitado, as informações obtidas em seus trabalhos. Eles não

permitem que suas pesquisas pessoais ou suas publicações interfiram com as tarefas

profissionais ou administrativas para as quais foram contratados. [...]

Após a Classificação documental, o próximo ponto consiste na avaliação, parte crucial da

gestão documental, a qual “consiste em estabelecer o prazo de vida dos documentos, de acordo com

seus valores probatórios e informativos; Por valores, considera-se as possíveis finalidades dos

documentos bem como seu tempo de vigência” (PAES 2004, p. 105).

A avaliação determina o destino dos documentos, seja ele guarda permanente ou eliminação.

“Uma redução na quantidade de documentos torna-se essencial, tanto para a própria instituição

quanto para o pesquisador” (SCHELLENBERG 2006, p.179).

Schellenberg (2006) designa dois valores que os documentos podem possuir, valor

primários, que consiste na valoração atribuída pela própria entidade que originou-o (administrativo,

fiscal, legal e executivo), e valor secundário, que consiste na valoração atribuída por outras

entidades e utilizadores privados (histórico, informativo).

Caso o documento, após seu prazo legal não apresentar valor secundário, seu destino é a

eliminação. Caso possua valor secundário, seu destino é a guarda permanente.

3.2 Arquivos Eclesiásticos

Para definirmos o que são arquivos eclesiásticos necessitamos dos conceitos de arquivo e o

significado da palavra eclesiástico, assim sendo, Arquivo, segundo RICHTER é: “O Conjunto de

documentos que, independente da natureza ou suporte, são reunidos por acumulação ao longo das

atividades de pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas” (RICHTER 2004, p. 119).

Enquanto a palavra eclesiástico, “derivado Latim ecclesiasticus, pertence ou relativo à

igreja11

(CUNHA 2007, p. 283). A complementação destes dois temos podem ser atribuídas da

seguinte forma, arquivos eclesiásticos, conjunto de documentos independente do suporte ou da

natureza pertencentes à igreja.

11 Neste trabalho a palavra “Igreja” refere-se à Igreja Católica Apostólica Romana.

Page 12: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

Como o fundo documental do Senatus Nossa Senhora da Conceição está inserido no

contexto da propagação da doutrina católica, seu acervo documental caracteriza-se com cunho

eclesial (cunho eclesial neste caso abrange não somente os arquivos das Cúrias Metropolitanas,

Mitras diocesanas ou Paróquias, englobam também os registros documentais dos Movimentos e

congregações religiosas, sejam elas contemplativas ou seculares, vide glossário).

Conforme a Lei 8. 159 de Janeiro de 1991, onde faz menção aos arquivos privados, no seu

Artigo 11, podemos classificar os arquivos eclesiásticos de acordo com o referido Artigo, pois não

são de origem pública, outrossim de instituições privadas.

4 METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho, foi necessário recorrer a revisão da literatura arquivística,

elencando os conceitos necessários para expor o que são documentos, fundo documental, arquivos

eclesiásticos e gestão documental.

A metodologia utilizada para este trabalho foi a visita e observação direta no acervo. Optou-

se por iniciar pelo contato com os gestores da instituição por meio de entrevistas, abordando que

documentos são produzidos, quais os possíveis locais de armazenamento da documentação

existentes, que tipologias compõem o acervo documental.

A pós este contato inicial optou-se pela identificação tipológica e elaboração de um

diagnóstico documental, elencando em uma base de dados os documentos que compõem o fundo

Senatus Nossa Senhora da Conceição de Sana Maria, seu estado de conservação e locais de

armazenamento.

Após a conclusão das entrevistas e do diagnóstico, partiu-se para a intervenção prática na

documentação, identificando a presença de cópias e formulários em branco, os quais constatou-se

representar um grande volume.

Com as entrevistas feitas aos gestores, estes apresentaram o organograma institucional, o

qual é formado pela seguinte hierarquia: Concilium Legionis – Conselho máximo do movimento,

com sede em Dublin, Irlanda; Senatus Nossa Senhora da Conceição de Santa Maria – Senatus

significa “senado” e tem jurisdição sobre uma determinada área, geralmente um país (em

decorrência do Brasil apresentar dimensões continentais, existem dez Senatus em seu território), a

Jurisdição deste Senatus é sobre o Estado do Rio Grande do Sul; Seis Comitia - Comitia é o

coletivo de Comitium, que significa “assembleia”; Quinze Curiae – Curiae é o coletivo de Curia,

Page 13: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

que significa “corte” espalhadas pelo Estado e Quatorze Praesidia – Praesidia é o coletivo de

Praesidium, que significa “pequeno grupo ou destacamento”- filiados diretamente ao Senatus.

4.1 Diagnóstico do Acervo

A instituição apresenta um fundo documental, que segundo Bellotto (2006, p. 128) são

“conjunto de documentos cujo crescimento se efetua no exercício das atividades de uma pessoa

física ou jurídica”, e um subfundo, referente ao Instituto Magnificat (Sede da Legião de Maria), sua

administração e competências, assim sendo:

4.1.1 Fundo Documental Senatus Nossa Senhora da Conceição de Santa Maria

Este fundo documental é referente as atividades da direção do Movimento “Legião de

Maria”, possui documentação a partir da década de 1970 com antigas denominações (Curia,

Comitium e Regia) e a partir de 2014 com a atual denominação.

O fundo é composto pelas seguintes tipologias: Atas de Reunião, Atas de Pré-reunião,

Relatórios dos conselhos (Curiae, Comitia), Relatórios dos Praesidia diretamente ligados ao

Senatus, Demonstrativos fiscais, e declarações emitidas pela Mitra Diocesana de Santa Maria

(declarações que afirmativas quanto à vinculação do Movimento Legião de Maria para com a

Diocese de Santa Maria). Anteriormente as denominações utilizadas pela direção do movimento

foram: Curia datando do ano de 1968 até 1972, passando a denominação de Comitium de 1972 à

1979 e após Regia do ano de 1979 à 2014.

Os documentos atribuídos ao período em que fôra Curia e Comitium são escassos, limitados

a Relatórios emitidos ao então Conselho Superior (Senatus Aparecida de São Paulo), quanto a

documentação atribuída à Regia (que apresenta maior volume documental) estão datados a partir de

1979, com os mesmo tipos documentais descritos acima, estes documentos apresentam bom estado

de conservação, apresentando alguns danos no suporte e sujidade.

A documentação institucional estava espalhada em diversos locais, mantendo resquícios de

sua organicidade, porém miscigenada com a documentação pessoal do Pe. Francisco Mascarenhas

(que constitui outro fundo documental, que não será apresentado no presente trabalho). Com o

andamento do trabalho de identificação foi restaurada a organicidade documental, facilitando a

compreensão do conjunto documental. Constatou-se a presença do acervo do Jornal Vexillum,

jornal de circulação interna do movimento vinculado ao Senatus (está classificado junto a classe de

Page 14: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

comunicação). O acervo do jornal está completo e armazenado no subsolo do prédio do Instituto

Magnificat.

O fundo documental apresenta um subfundo referente ao Instituto Magníficat, sede da

Legião de Maria que está vinculado ao Senatus de Santa Maria, sob sua administração.

4.1.2 Subfundo Documental Instituto Magníficat, Sede da Legião de Maria

Este subfundo documental apresenta documentos referentes à administração do Instituto, as

decisões emanadas pela comissão de administração da casa e da diretoria do Senatus, bem como

“objetos e panfletos” ligados a Capela Nossa Senhora das Graças da Medalha Milagrosa, instalada

nas dependências do Instituto. Apresenta regimento interno. Sua história está relacionada com a

Mitra Diocesana de Santa Maria por ser legalmente pertencente à mesma, relaciona-se com o

movimento da Legião de Maria, Coordenado pelo Senatus Nossa Senhora da Conceição de Santa

Maria bem como o Fundo Documental Padre Francisco Mascarenhas, idealizador deste Instituto.

As tipologias atribuídas a este subfundo, elencadas por meio da Identificação documental,

que segundo Rodrigues apud Villaverde, é a “fase do tratamento Arquivístico que consiste na

investigação e sistematização das categorias administrativas e arquivísticas em que se sustenta a

estrutura de um fundo” (2008, p. 7) são: Atas (manuscritas em livro próprio para esta finalidade e

em folhas soltas) de reuniões, Regimento interno, atribuições da Comissão de administração e

deveres dos funcionários, bem como alguns formulários referentes ao serviços de hospedagem.

Também na Sacristia da Capela existem alguns documentos referentes as suas atividades (são

compêndios de orações e celebrações organizados pela comissão de Liturgia do instituto). O estado

de conservação destes documentos é razoável, não identificou-se a presença de pragas nem fungos,

o suporte está preservado mas apresenta sujidades. Quanto à escrita, a leitura é acessível por se

tratarem de documentos recentes. Não apresentam nenhuma classificação lógica e não houve

presença nem intervenção arquivística anteriormente.

5 RESULTADOS

Considerando o diagnóstico institucional, optou-se pela classificação funcional para o

acervo, pois esta forma de classificação apresentada por Schellenberg (2006) demonstra as

“atividades meio e as atividades fim de uma instituição”. Com base nas atividades meio, a

Page 15: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

classificação funcional se adequa a realidade da instituição, facilitando a busca das informações

registradas nos documentos.

Obteve-se como resultado a elaboração do Plano de Classificação Documental, que auxilia a

gestão documental, a qual deve acompanhar o documento desde sua produção até sua destinação

final, seja ela guarda permanente ou eliminação, conforme item 5.1.

5.1 Plano de Classificação Fundo Legião De Maria - Senatus Nossa Senhora da Conceição de

Santa Maria

Fundo: Legião de Maria - Senatus Nossa Senhora da Conceição de Santa Maria

Classe: Organização e Funcionamento

Tipo Documental

- Estatuto social

- Regimento Interno

- Atas de Pré-reunião Senatus (anteriormente Regia)

- Atas de Reunião de conselho (anteriormente Regia)

Classe: Controle Financeiro

Tipo Documental

- Comprovantes de Pagamento - Agua – Luz – Telefone

- Demonstrativo bancário mensal

- Formulário de prestação de contas para viagens

- Formulário de Solicitação de Mercadoria

Classe: controle de Comunicação

Tipo Documental

- Relatório Trimestral dos Comitia filiados

- Relatório Semestral dos Praesidia filiados

- Cartas e E-mail emitidos e recebidos

- Jornal Vexillum (acervo completo)

Classe: Histórico do movimento no RS

Tipo documental

- Fotografias de reuniões dos conselhos e Praesidia filiados ao Senatus

- Histórico dos Conselhos e Praesidia filiados ao Senatus

Classe: Celebrações legionárias e Vigílias

Subclasse: Novena e festa de Nossa Senhora das Graças da Medalha Milagrosa

Tipo Documental

- Convites

- Cronograma de atividades

Subclasse: Solenidade de Acies Tipo Documental

- Lista de presença

- Roteiro para celebração

- Consagração à Nossa Senhora

Page 16: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

Subclasse: Solenidade da coroação de Nossa Senhora

Tipo Documental

- Ramalhete Espiritual

- Lista de presença

Subclasse: Solenidade da coroação do aniversário da Legião de Maria

Subclasse: Mateada com Maria

Subclasse: Vigília Nacional pela juventude

Subclasse: Vigília de Ramos

Subclasse: Vigília de Natal

Tipo Documental

- Cartaz de divulgação

- Cronograma de atividades

- Cronograma de atividades

- Roteiro de direção

- Folha de cantos

- Lista de presença

- Palestra “o crucificado”

Classe: Registro de cursos

Subclasse: Cenáculo Retiro

Grupo: Cenáculo para Adultos

Grupo: Cenáculo para Adolescentes

Tipo Documental (comum aos dois grupos)

- Orientações para os dirigentes (chefe, subchefe, secretaria, tesouraria, ministério

exterior, animação, bem estar)

- Ficha de inscrição

- Programa do Cenáculo

- Quadrantes de Cenáculo

- Recomendações aos Cenantes

- Fotografia Oficial do Cenáculo

Subclasse: Encontro de Jovens Católicos- EJC

Tipo Documental

- Ficha de inscrição

- Programa do Retiro

- Atas de reunião preparatória

- Quadrantes do EJC

Subclasse: Encontro de Jovens Legionários- EJL

Tipo Documental

- Orientações para o EJL

- Quadrantes do EJL

Subclasse: Encontro de Membros Auxiliares- EMA

Tipo Documental

- Ficha de avaliação

Subclasse: Encontro dos Oficiais dos Conselhos- EOC 19998 -2014

Tipo Documental

- Convocação e Formulário de inscrição

- Programa do Retiro

- Folha de assuntos debatidos

Page 17: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

- Relação de inscritos (controle para tesouraria ou Bem Estar)

- Folha de cantos

- Quadrantes de EOC

- Fotografia Oficial do Retiro

- Ata de Avaliação do EOC

- Prestação de contas

Subclasse: Encontro de oficiais de Praesidium - EOP

Subclasse: Encontro de Oficiais de Regia e Comitium - EORC

Subclasse: Retiro de Carnaval - RC

Tipo Documental

- Folha de Assuntos

- Programa do encontro

- Lista de presença

Subclasse: Retiros de Formação Legionária –RFL 1998 - 2015

Tipo Documental

- Orientação (para Coordenação Interna; Subchefe; Bem Estar; Liturgia;

Apresentação da Equipe 1)

- Ficha de inscrição

- Programa do Retiro

- Relação de inscritos (controle para tesouraria)

- Quadrantes de retiro

- Folha de cantos e orações

- Fotografia Oficial do Retiro

- Ficha de Avaliação do RFL

- Relação de compras para o RFL

- Palestras

Subfundo Instituto Magnificat

Série: Organização e Funcionamento

Tipo Documental

- Regimento interno

- Histórico institucional

- Plantas arquitetônicas

- Fotografias referentes à estrutura predial

Série: Controle Financeiro e Patrimonial

Tipo Documental

- comprovantes de pagamento de Imposto Predial e Territorial urbano

- Relação patrimonial dos bens da instituição

- Certificado de Registro e Licenciamento de Veículos

Série: Controle de comunicação e Hospedagem

Tipo Documental

- Cartas recebidas

- Solicitações de locação para hospedagem

- Folders de divulgação e promoção da instituição

Page 18: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

Resultam deste trabalho, a aplicação da gestão documental, que acompanha o documento

desde sua produção até sua destinação final, através desta, identificou-se a otimização dos espaços

de acondicionamento dos documentos institucionais, pois eliminou-se as cópias e formulários em

branco, desnecessários para a administração, o uso e tramitação dos documentos passou a existir

com eficiência, bem como a transferência dos documentos em fase corrente para fase intermediária,

conforme classificação recebida, facilitando a busca e o acesso documental.

Quantos aos gestores, estes constataram o papel do arquivista bem como suas áreas de

atuação, pois com a documentação classificada e ordenada, a busca por informações foi otimizada,

corroborando com a eficácia no que se refere as tomadas de decisões institucionais. Apresentou-se

que o Arquivista pode atuar não somente em instituições públicas ou empresariais, conforme

apresentado cotidianamente, mas também no campo dos arquivos eclesiais, otimizando a produção

documental, mantendo-a acessível.

6 CONCLUSÃO

Após a aplicação da classificação e gestão documental, os gestores da instituição vieram a

reconheceram a importância do profissional arquivista, bem como seus campos de atuação, seja ele

na iniciativa privada, abrangendo não apenas empresas comerciais, mas também instituições de

caráter religiosas (eclesiais), também no serviço público, pois no decorrer do trabalho, o acadêmico

prezou sempre pelo diálogo e difusão da profissão de Arquivista, suas atribuições e locais de

atuação.

A conscientização da relevância da classificação e da organização documental fôra

constatada, pois a busca por informações e o acesso as estas, antes impossibilitado devido a

desordem, fora otimizado com a aplicação da gestão documental, aplicando os procedimentos

necessários para a otimização do espaço, a destinação final da massa documental, seja ela guarda

permanente para os documentos de valor secundário, acondicionados corretamente, ou eliminação

daqueles documentos que já cumpriram suas funções legais e não possuem valor secundário.

Observou-se também que os gestores e usuários, em função do caos documental faziam várias

cópias de documentos ou vários originais (conforme achassem necessário) e arquivavam todos estes

documentos, gerando a duplicata de informação e a redução do espaço disponível para o

acondicionamento dos documentos. Pôde-se identificar os tipos documentais produzidos, conforme

Page 19: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

demonstra o item 5.1, revelando um léxico de tipologias que diferem do cotidiano da academia e de

instituições públicas e privadas onde atua o arquivista.

Ao realizar o procedimento de identificação, foram encaminhados para a eliminação muitas

cópias documentais, mantendo os originais, bem como panfletos, jornais e revistas que estavam

“guardadas” em meio a documentação administrativa, ao fim deste procedimento, constatou-se a

eficácia ao acesso das informações necessárias, a otimização dos espaços de guarda dos documentos

e o fácil acesso documental no decorrer das atividades exercidas pelos usuários institucionais bem

como por seus gestores.

7 REFERÊNCIAS

BRASIL. Arquivo Nacional (Brasil). Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística. Rio de

Janeiro: Arquivo Nacional, 2005. 232 p.

CONCILIUM LEGIONIS MARIAE. Manual oficial da Legião de Maria. Nova edição revisada no

Brasil. São Paulo: Rotermund 2014. 178 p.

CUNHA, Antônio G. Dicionário etimológico da língua portuguesa. – Rio de Janeiro: Lexikon

Editora Digital, 2007.

BELLOTTO, H. L. Arquivos permanentes: tratamento documental. – 4° ed. – Rio de Janeiro:

Editora FGV, 2006. 320 p.

__________________ Arquivística: objetos, princípios e rumos. São Paulo: Associação de

Arquivistas de São Paulo, 2002. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/51319150/BELLOTTO-

Heloisa-Liberalli-Arquivistica-objetos-principios-e-rumos-Sao-Paulo-Associacao-de-Arquivistas-

de-Sao-Paulo-2002>. Acesso em: 29 de out. 2015.

BRASIL. Conselho Nacional de Arquivos- Brasil. Recomendações para a construção de

arquivos. 2000. Disponível em:

http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/Media/publicacoes/recomendaes_para_construo_de_arq

uivos.pdf. Acesso em 30 nov. 2015.

Page 20: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

BRASIL. Lei n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política nacional de arquivos

públicos e privados e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,

Brasília, DF, 28 jan. 1991. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8159.htm>. Acesso em 22 nov. 2015

CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS. Código De Ética Do Arquivista. Disponível

em: <https://arquivistasocial.files.wordpress.com/2012/02/ica-codigo-etica-do-arquivista.pdf>.

Acesso em: 29 nov. 2015

FIRTEL, Hilde. Um pioneiro do apostolado laical. Frank Duff e a Legião de Maria. Tradução

de Francisco Lopes. Rio de Janeiro: Oficinas da Companhia Brasileira de Artes Gráficas. 176 p.

FUNDAÇÃO da Legião de Maria no Brasil: Elaborado por Maria Eulália Mello.

Disponível em < http://www.legiaodemaria.org.br/teste2.html> Acesso em 23 out.2015.

LOUREIRO, Lenira Ehlers. Construindo o reino de Deus com Maria e em Maria. Santa Maria:

Pallotti 2004. 121p.

MASCARENHAS, Padre Francisco. Subsídios para os Legionários. Santa Maria: Editora e

Gráfica Curso Caxias 2015. 110 p.

PAES, Marilena Leite. Arquivo: teoria e prática, 3° ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: FGV,2004.

RICHTER, Eneida Izabel Schirmer. Introdução à Arquivologia, 2 ed. Santa Maria, Ed. Da

UFSM, 2004.

ROUSSEAU, Jean-Yves; COUTURE, Carol. Os fundamentos da disciplina arquivística. Lisboa:

Dom Quixote, 1998

SCHELLENBERG, T. R. Arquivos modernos: princípios e técnicas, 6 ed. Rio de Janeiro,

FGV,2006.

Page 21: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

8 GLOSSÁRIO

Acies: Termo latino, significa “exército em ordem de batalha”, nesta cerimônia se renova a

Consagração do Legionário à Maria Santíssima. MASCARENHAS (2015, 12 ed. P. 21) apud

Manual Oficial da Legião de Maria (2014, P 170-171).

Bombaim: Cidade do Norte da Índia, Diocese de Bombaim, divisão hierárquica católica.

Comitium: O termo Comitium significa “Assembleia”, o Comitium é uma Curia com certos

poderes administrativos sob outras Curiae. Manual Oficial da Legião de Maria (2014 P.159).

Comitia: significa o coletivo de Comitium, que é um conselho diretivo encarregado de

supervisionar as atividades de várias Curiae” MASCARENHAS (2015, 12 ed. P. 21 e 104).

Concilium Legionis Mariae: Conselho máximo da legião de Maria, sua sede fica na Cidade de

Dublin, Irlanda

Congregações religiosas contemplativas: Religiosos que vivem em clausura com o mundo

exterior.

Congregações religiosas Seculares: Religiosos que vivem em meio ao povo, não estão em

clausurados.

Curia: Termo latino, é o conselho diretivo constituído por todos os oficiais dos vários Praesidia

existentes em determinado território MASCARENHAS (2015, 12 ed. P. 21).

Diretor Espiritual: Cargo que o Sacerdote Católico ocupa dentro do movimento da Legião de

Maria, é nomeado pela autoridade Eclesiástica competente, cabe a ele a última palavra em todos os

assuntos de ordem Moral e religiosa Manual Oficial da Legião de Maria (2014 P.150).

Cúria Metropolitana: Conjunto de organismos e entidades eclesiásticas que cooperam com o

bispo na direção da Arquidiocese.

Curiae: Termo latino, significa o coletivo de Curia. MASCARENHAS (2015, 12 ed. P. 104).

Legião de Maria: Associação de Leigos Que propaga a doutrina católica.

Manual Oficial da Legião de Maria: Livro que congrega mundialmente o Sistema Legionário,

rege toda a estrutura do movimento.

Mitra Diocesana: Dignidade ou jurisdição de um bispo.

Movimentos: Espécie de associação de pessoas.

Paróquia: Território sobre o qual se estende a jurisdição espiritual de um pároco. Local onde se

encontra a Igreja matriz.

Page 22: o arquivista frente a documentação eclesiástica: a aplicabilidade da

Praesidia: Termo latino, significa o coletivo de Praesidium MASCARENHAS (2015, 12 ed. P.

104).

Praesidium: Termo de origem latina, Significa Praça, um destacamento de soldados; entre os

Romanos significava geralmente o grupo de soldados encarregados da guarda de uma localidade.

Na legião significa grupo local da legião MASCARENHAS (2015, 12 ed. P. 21) apud Manual

Oficial da Legião de Maria (2014, P 83).

Regia: Termo de origem latino, significa “Conselho que supervisiona as atividades dos Comitia e

curiae, está hierarquicamente abaixo do Senatus, sua jurisdição é regional” MASCARENHAS

(2015, 12 ed. P. 21).

Senatus: Termo latino empregado pelo movimento da Legião de Maria para designar um conselho,

está diretamente ligado ao órgão máximo dentro da hierarquia Legionária. Geralmente sua

jurisdição é nacional (Manual Oficial da Legião de Maria cap.28, p.150).