o consumo de bebidas alcoolicas

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  • 1. O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOLICAS NA POPULAO ESCOLAR JUVENIL MODELO DE INVESTIGAO PARA PROJECTOS LECTIVOS

2. ii 3. iii O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOLICAS NA POPULAO ESCOLAR JUVENIL MODELO DE INVESTIGAO PARA PROJECTOS LECTIVOS Coordenao Fernando Cardoso de Sousa Prefcio Jorge Correia Jesuno 4. iv FICHA TCNICA Ttulo: O consumo de bebidas alcolicas na populao escolar juvenil Autores: Fernando C. Sousa, Ana Maria Abro, Agostinho Morgado, Joseph Conboy, Maria Dolandina Oliveira e Dris Pires Coordenao: Fernando C. Sousa Colaboraes: No texto: Susana Gago, Nuno Guita Na investigao: Celine Lus, Delminda Baltazar e turma do 3 Ano de Psicologia Clnica do INUAF Edio: GAIM Impresso: Grfica Comercial - Loul Capa: Drio Rodrigues Composio e paginao: GAIM Data de Edio: Janeiro 2008 1Edio: 500 exemplares Depsito legal: 269564/08 5. v AGRADECIMENTOS Esta publicao s foi possvel graas ao empenho de um grupo de professores e alunos, que dedicaram muitas horas de lazer compilao, remodelao e normalizao do trabalho que os alunos do 3 ano do curso de Psicologia Clnica do INUAF, durante o 2 semestre do ano lectivo de 2004- 2005, realizaram para as disciplinas de Psicologia Social II e Psicologia Organizacional II. Foram os professores do INUAF, associados do GAIM, Ana Maria Abro, Agostinho Morgado, Joseph Conboy e Maria Dolandina Oliveira. Do lado dos alunos, todos pertencentes turma que realizou a investigao, h a destacar Susana Gago, colaboradora em quase todas as seces; Dris Pires, que redigiu a anlise qualitativa; Joana Dias e Tiago Freire, que apresentaram este trabalho comunidade de Loul; Nuno Guita que colaborou na compilao de textos. A este grupo de inteira justia adicionar os elementos da Rede Social da Cmara Municipal de Loul que mais intensamente colaboraram no trabalho e na investigao: Cline Lus, psicloga, actualmente tcnica da Comisso de Proteco de Crianas e Jovens de Loul; Delminda Baltazar, da Direco Regional de Educao; Elizabete Fortunato, tcnica de servio social do Centro de Sade de Loul; Ftima Martins, chefe da Diviso de Aco Social e Familia, da Cmara Municipal de Loul; e Manuel Possolo Morgado Viegas, Vereador do pelouro da Aco Social, da Cmara Municipal de Loul. Outros professores prestaram a sua colaborao como intervenientes do seminrio de apresentao ou ajuda na investigao. A saber: Domingos Neto, do Centro Regional de Alcoologia do Sul; Orlindo Gouveia Pereira, da Universidade Lusada; Jorge Pires, do Instituto Politcnico de Tomar; Ileana Monteiro, da Universidade do Algarve. 6. vi tambm de inteira justia referir a ajuda prestada pela generalidade dos alunos e professores das escolas onde foram passados os questionrios, assim como os Conselhos Executivos, bem como as demais entidades entrevistadas, quer dentro quer fora das escolas. Por ltimo mas no menos importante, a todas as alunas e alunos que, de uma maneira ou de outra, com mais ou menos empenho e sabedoria, se entregaram na realizao de um trabalho de campo bem complexo, consumidor de tempo e energias, para garantirem que o mximo possvel de sujeitos participassem na investigao nas melhores condies que se conseguiam reunir. Aos nossos alunos, sinceros parabns! 7. vii ORGANIZAO Fernando Cardoso de Sousa Doutor em Psicologia Organizacional; docente das disciplinas de Comportamento Organizacional e Psicologia Organizacional COLABORADORES Agostinho Morgado Doutor em Filosofia; docente das disciplinas de Epistemologia da Cincias Humanas Ana Abro Doutora em Engenharia dos Computadores; docente da disciplina de Psicologia Social. Joseph Conboy Doutor em Psicologia Educacional; docente das disciplinas de Mtodos e Tcnicas de Investigao e Seminrio em Investigao Maria Dolandina Oliveira Doutora em Cincias da Educao; docente das disciplinas de Psicologia da Educao e Mtodos e Tcnicas de Investigao (Curso de Psicologia Clnica, ramo Educao). Celine Lus Psicloga, tcnica da Comisso de Proteco de Crianas e Jovens de Loul Delminda Baltazar Professora do 1 ciclo; funcionria da Direco Regional de Educao do Algarve 8. viii Dris Pires Aluna do 5 ano do curso de Psicologia Clnica do INUAF Susana Gago Aluna do 5 ano do curso de Psicologia Clnica do INUAF Nuno Guita Aluno do 5 ano do curso de Psicologia Clnica do INUAF RESTANTES ALUNOS DA TURMA Aida Filipa Ana Adro Ana Baptista Ana Inverno Ana Reis Ana Sousa Andr Cabrita Andrea Moura Antnio Oliveira Antnio Valentim Bruna Guerreiro Bruno Martins Carla Ramos Carla Santos Carlos Pereira Carlos Proena Carlos Simes Ctia Mendes Eunice Barros Eunice Silva Fabrcia Gonalves Filipa Baptista Gilda Domingos Gilda Horta Hlder Mestre Henriqueta Dias Ins Santana Isabel Moreira Janete Fasca Joana Dias Joo Lopes Lgia Viegas Liliana Peixoto Liliana Reis Lisa Fernandes Lus Rocha Maria Neves Maria Oliveira Maria Palma Maria Paulino Miguel Campos Nlia Banha Patrcia Gonalves Paula Frazo Paulo Giro Pedro Gabriel Sandra Castro Sandra Rosrio Srgio Rosa Sofia Gonalves Sofia Pintassilgo Susana Simes Tnia Santos Teresa Silva 9. ix Claire Santos Cludia Guedelha Daniel Dionsio Mafalda Mestre Magda Silva Manuel Antunes Tiago Freire Ximena Vale 10. x 11. xi RESUMO Este estudo foi realizado no mbito da Rede Social, em parceria com a Cmara Municipal de Loul, a Direco Regional de Educao, o Centro de Sade de Loul, a Segurana Social e o Instituto Dom Afonso III, e teve como finalidade fazer um diagnstico do consumo de bebidas alcolicas na populao escolar do concelho de Loul, do 7 ano at ao 12 ano de escolaridade, tendo sido definidas como proposies 1 possvel realizar uma investigao conclusiva a partir dos dados parcelares recolhidos por estudantes sem experincia de investigao e; 2 Existem nichos da populao susceptveis de serem objecto de aces diferenciadas. Assim, de modo a determinar em que ponto se encontram os jovens no que respeita ao consumo de lcool, sessenta e cinco alunos do 3 ano do curso de Psicologia Clnica do INUAF (no mbito das disciplinas de Psicologia Organizacional e de Psicologia Social), inquiriram no total 3345 alunos de todos os estabelecimentos do concelho e efectuaram 70 entrevistas a alunos e entidades ligadas ao consumo de lcool. Relativamente s proposies desta investigao ficou provado que a investigao no terreno pode ser realizada, de modo abrangente e completo, com alunos universitrios, no mbito curricular normal de disciplinas que se unem para um trabalho coordenado de investigao, no mbito dos PASC Projectos Acadmicos de Servio Comunidade. Relativamente segunda proposio, ficou patente a associao entre o consumo de lcool e a ultrapassagem de fases do crescimento coincidentes com determinados anos escolares, no caso o 9 e o 11, correspondentes s idades de 14-15 anos e 16- 17, respectivamente. Esta incidncia foi tambm superior em determinadas escolas, em relao s restantes. 12. xii Este estudo permitiu-nos redigir um manual que pode ser utilizado como modelo em investigaes futuras, realizar recomendaes concretas sobre os nichos de consumo constatados e obter uma panormica geral acerca do consumo de lcool dos jovens do concelho de Loul, a partir da qual ser possvel realizar investigaes mais especficas e diferenciais. 13. xiii PREFCIO -me particularmente grato associar-me publicao deste estudo, ainda que enquanto simples prefaciador, por me parecer que ele corresponde a mltiplos vectores de exemplaridade. Em primeiro lugar, a ideia de levar a efeito uma pesquisa de campo sobre um tema de inegvel interesse social o consumo de lcool na populao escolar juvenil, atravs duma equipa de estudantes do 3 ano de Psicologia Clnica, por forma a inici-los nas prticas de investigao cientifica sobre uma temtica que lhes eventualmente prxima, em termos etrios. O treino de pesquisa emprica habitual nos cursos de Psicologia mas sero raros os casos em que se estabelece o objectivo ambicioso de, obedecendo a todos os requisitos tcnicos e tericos, proceder ao levantamento sistemtico da populao escolar de todo um concelho, totalizando uma amostra de 3345 alunos. As dificuldades logsticas dum projecto desta envergadura, a todos os ttulos profissional, so bem conhecidas, sendo mrito do Professor Fernando de Sousa, seu principal inspirador e coordenador, ter conseguido interessar e dinamizar a Rede Social da Cmara Municipal de Loul, envolvendo diversas entidades e organismos pblicos que aqui compete igualmente saudar pelo apoio prestado. Tivesse o estudo apenas o pretexto de iniciar os estudantes na recolha de dados atravs de entrevistas e questionrios, j seria imenso, pela oportunidade de os colocar em contacto com realidades e problemas sociais com que iro defrontar-se como futuros profissionais. Sucede, porm, que no ficaram por a. A recolha foi bem sucedida, certamente pelo empenhamento dos jovens investigadores, e a anlise estatstica sobre eles efectuada permite chegar a resultados conclusivos sobre perfis de consumo, bem como das circunstncias indutoras a eles associados. Ser, sem dvida, uma razo de 14. xiv preocupao verificar que 92% dos jovens inquiridos j se embriagaram e que 60% o teria feito com frequncia. O estudo permite, por outro lado, confirmar que sobretudo em fases de transio que os ritos de iniciao actuam com maior incidncia e que no fcil aos jovens adolescentes, sobretudo do sexo masculino, resistirem s presses dos seus grupos e dos seus pares. Estas e muitas outras causas e factores so, alis, claramente desenvolvidos no enquadramento terico que acompanha o estudo, ajudando o leitor a melhor entender o estado da arte e a diversidade de modelos utilizados para lidar com este tipo de problemas. Ainda uma palavra de saudao para o Instituto Superior Dom Afonso III, donde a iniciativa partiu, iniciativa essa que logra responder, em simultneo, aos trs objectivos que devem caracterizar o ensino superior, a saber: ensino, investigao e prestao de servios comunidade. Julgo saber que, embora este seja porventura o projecto mais ambicioso levado a efeito, outros j teriam igualmente sido concludos, a par de outros mais que se perfilam no horizonte. Desejvel seria que iniciativas desta natureza se multiplicassem, permitindo um melhor conhecimento das nossas realidades e dos nossos problemas. atravs da densificao das redes e do grau de auto-reflexidade a que elas do acesso que as comunidades se desenvolvem e reforam. Felicitaes ao Fernando de Sousa pelo exemplo que aqui nos deixa. Jorge Correia Jesuno Professor Catedrtico Jubilado 15. xv NDICE AGRADECIMENTOS v ORGANIZAO vii RESUMO xi PREFCIO xiii LISTA DE TABELAS xviii LISTA DE FIGURAS xix LISTA DE QUADROS xxii INTRODUO 1 CAPITULO I - O LCOOL E O ALCOOLISMO 7 O lcool ao Longo dos Sculos 7 O Alcoolismo: Conceito e Abrangncia 12 Consumo e Dependncia Mecanismos Neurobiolgicos 18 Uma Abordagem Cognitivo-Comportamental 22 A Perspectiva Psicanaltica Sobre o Alcoolismo 25 Factores de Dependncia 30 Tipologias do Alcoolismo 37 Sndrome do Alcoolismo 39 CAPTULO II - OS ADOLESCENTES E O CONSUMO DE LCOOL 43 Conceito de Adolescncia 44 Alcoolismo Juvenil: Indutores Especficos 47 Interaco Grupal 47 Imitao Comportamental 49 Conformismo Adaptativo 49 Liderana e Influncia do Grupo 51 Consequncias do Consumo Excessivo do lcool nos Adolescentes e Jovens 52 16. xvi Efeitos Orgnicos 53 Consequncias Scio-Familiares 58 Alcoolismo: Preveno e Tratamento 63 CAPTULO III - ESTUDOS PRVIOS, OBJECTIVOS E PROPOSIES 69 Legislao Portuguesa Sobre Bebidas Alcolicas 69 Alguns Estudos Anteriores Sobre Alcoolismo Juvenil em Portugal 71 Objectivos e Proposies 79 CAPTULO IV MTODO 83 Sujeitos 83 Enquadramento Histrico-Social 84 Breve Apontamento Histrico 84 Aspectos Fsicos e Demogrficos 85 Alguns Dados Scio-econmicos 86 Tipificao dos Estabelecimentos do Ensino do Concelho 86 Estrutura Organizacional e Funcional 87 rgos de Administrao e Gesto Escolar 89 Escolas do Ensino Bsico e Secundrio do Ensino Pblico 89 Ensino Particular e Cooperativo 90 Caracterizao das Escolas Envolvidas no Estudo 91 Escola Secundria de Loul 91 E.B. 2,3 Engenheiro Duarte Pacheco Loul 92 Escola Laura Ayres, de Quarteira 93 Colgio Internacional de Vilamoura 95 E.B. Integrada Dr. Cavaco Silva, em Boliqueime 95 E.B. 1,2,3 de Salir 97 Colgio de So Loureno 98 Escola Profissional Cndido Guerreiro, em Alte 98 Escola E.B. 2,3 Doutor Antnio de Sousa 17. xvii Agostinho, em Almancil 100 Escola E.B. 2,3 Padre Coelho Cabanita Loul 101 Escola E.B. 2,3 So Pedro do Mar, em Quarteira 102 Escola E.B. 2,3 D. Dinis, em Quarteira 102 Populao Participante no Inqurito 103 Instrumento 107 Procedimento 110 CAPTULO V RESULTADOS 117 Anlise Quantitativa 117 Estudo Descritivo 117 Consumos Absolutos 120 Consumos de Risco 124 Estudo Correlacional 133 Estudo Factorial 137 Anlise de Varincia com os Factores 140 Anlise Qualitativa 144 Anlise de Contedo 146 CAPTULO VI DISCUSSO 155 Limitaes da Investigao 159 Consideraes Metodolgicas 160 Concluses 167 Recomendaes 171 REFERNCIAS 173 18. xviii LISTA DE TABELAS Tabela 1: Valores das mdias, desvio-padro e cotaes mximas e mnimas obtidas em cada Item e no total (N = 3345) 118 Tabela 2. Correlaes entre as variveis dependentes 135 Tabela 3. Saturaes de cada Item em cada factor, e respectiva percentagem de varincia explicada 138 Tabela 4. Factores representados e respectivos itens com maior peso 139 Tabela 5. Mdias obtidas por cada sexo em cada factor e respectiva significncia da diferena 140 Tabela 6. Valores das mdias obtidas pelos sujeitos de cada escola em cada factor 142 Tabela 7. Mdias de cada nvel de escolaridade em cada factor e respectiva significncia 142 Tabela 8. Valores das mdias obtidas pelos sujeitos de cada ano escolar, em cada factor 143 Tabela 9. Valores da varincia explicada (R 2 ) e coeficiente de regresso () da varivel idade sobre cada um dos factores 144 19. xix LISTA DE FIGURAS Figura 1. Modelo cognitivo do uso de substncias 23 Figura 2. A ruptura das faculdades do ego consciente 28 Figura 3. Esquema de estdios para o alcoolismo 31 Figura 4. Frequncias absolutas nos dois sexos 104 Figura 5. Frequncia absoluta dos indivduos por idade 105 Figura 6. Mdias das idades em ambos os sexos 105 Figura 7. Frequncia absoluta da nacionalidade dos inquiridos 106 Figura 8. Frequncia absoluta dos alunos por Escolas 107 Figura 9. Comparao da percentagem de sujeitos que consome com a dos que no consome bebidas alcolicas 120 Figura 10. Comparao da percentagem de sujeitos do sexo masculino que diz consumir bebidas alcolicas, com a dos que diz no consumir, por ano de escolaridade 121 Figura 11. Comparao da percentagem de sujeitos do sexo feminino que diz consumir bebidas alcolicas, com a dos que diz no consumir, por ano de escolaridade 121 20. xx Figura 12. Comparao da percentagem de sujeitos de cada escola do Concelho que diz consumir bebidas alcolicas, com a dos que diz no consumir 122 Figura 13. Frequncia absoluta da periodicidade de consumo 123 Figura 14. Frequncia de consumo de bebidas alcolicas antes dos 15anos 125 Figura 15. Percentagens de consumo de bebidas alcolicas antes dos 15 anos, por ano de escolaridade 126 Figura 16. Percentagens relativas frequncia de embriaguez 127 Figura 17. Percentagens relativas embriaguez, por ano de escolaridade 127 Figura 18. Percentagens relativas embriaguez, por pas ou regio de origem 128 Figura 19. Percentagens relativas ao consumo na companhia da famlia, por ano de escolaridade 129 Figura 20. Percentagens relativas ao consumo na companhia dos amigos, por no de escolaridade 129 Figura 21. Percentagens relativas ao consumo em bares, por ano de escolaridade 130 Figura 22. Percentagens relativas desinibio como motivo para o consumo, por ano de escolaridade 130 21. xxi Figura 23. Percentagens relativas ao consumo dos vrios tipos de bebidas alcolicas 131 Figura 24. Percentagens relativas ao consumo de cerveja, por ano de escolaridade 132 Figura 25. Percentagens relativas ao consumo de vinho, por ano de escolaridade 132 Figura 26. Percentagens relativas ao consumo de misturas, por ano de escolaridade 133 Figura 27. Relao entre variveis dependentes e as variveis independentes 155 22. xxii LISTA DE QUADROS Quadro 1. Distribuio dos questionrios e entrevistas por grupo, turma, escola e entidade externa 112 Quadro 2. Unidades de registo que definiram cada categoria 146 Quadro 3. Comparao das frequncias das unidades de registo obtidas com sujeitos do 2 e do 3 ciclos e entidades vrias, em cada tema inquirido 151 23. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 1 INTRODUO O aumento do alcoolismo juvenil hoje um facto para o qual necessrio olhar de frente, porque ele se est a tornar, tambm em Portugal, uma questo de sade pblica. Com efeito, o fenmeno do alcoolismo entre as camadas mais jovens da populao portuguesa tende a generalizar-se, diramos quase exponencialmente, de ano para ano, iniciando-se cada vez mais precocemente. O Algarve e, mais restritamente, o concelho de Loul, no , infelizmente, excepo a esta regra. Pelo contrrio, h, por parte das entidades responsveis, quer a nvel poltico, quer a nvel de sade pblica, a noo de que tambm na regio algarvia o consumo excessivo de bebidas alcolicas cada vez maior por parte de adolescentes e jovens. Podem ento levantar-se algumas questes. Por exemplo, porque que, apesar das sucessivas campanhas alertando para os perigos da ingesto de bebidas alcolicas na infncia e adolescncia, o consumo se generaliza, duma forma to alarmante? O que que leva muitos adolescentes a procurarem nos efeitos inebriantes das bebidas alcolicas um escape psicolgico, nos seus momentos de lazer? Ser este fenmeno apenas uma questo de moda que passe rapidamente ou, pelo contrrio, pode tornar-se um problema com consequncias irreparveis para as futuras geraes? Que solues encontrar para combater e erradicar este flagelo: eliminar pura e simplesmente a comercializao de qualquer tipo de bebidas alcolicas (remetendo iniludivelmente a sua procura para os circuitos da clandestinidade), ou ento usar o antdoto de campanhas e de programas de educao que alertem para os seus perigos? E este tipo de programas no constituir mais uma forma subtil de hipocrisia duma sociedade de consumo? 24. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 2 Os autores deste trabalho pressupem que qualquer estudo deste gnero no , nem pode ser, um mero exerccio acadmico. Ele deveria ter implicaes e consequncias a nvel de respostas tendentes a debelar o flagelo do alcoolismo juvenil. As questes acima colocadas no deveriam ficar sem respostas polticas e sociais. E ainda que no seja objectivo deste trabalho apresentar as eventuais solues para o problema do alcoolismo juvenil, auguramos desde j que ele possa ser um instrumento de trabalho para aqueles que tm a responsabilidade de encontrar os caminhos para debelar este flagelo social dos tempos actuais. A iniciativa para a elaborao deste estudo partiu da Autarquia de Loul, a qual solicitou a colaborao do INUAF (Instituto Superior Dom Afonso III) para a realizao dum estudo prospectivo do consumo de lcool entre a populao adolescente e juvenil do Concelho de Loul, frequentando as escolas E.B.2,3 e Secundrias. Foram envolvidas as diversas instituies e entidades pblicas que integram a Rede Social de Loul, nomeadamente, o Centro de Sade de Loul, a Guarda Nacional Republicana, a Direco Regional de Educao, a Cmara Municipal de Loul, a Segurana Social. A participao do 3 ano do curso de Psicologia Clnica, neste projecto, surgiu a partir da proposta dos professores das disciplinas de Psicologia Organizacional e Psicologia Social e insere-se no mbito do TASC (Trabalho Acadmico de Servio Comunidade), uma componente de formao que o INUAF assume como uma das suas funes, enquanto instituio de Ensino Superior empenhada em levar prtica o Esprito da Conveno de Bolonha para o ensino superior. O estudo permitiu-nos, por um lado, pr em prtica conhecimentos metodolgicos e, por outro, encetar um estudo mais aprofundado sobre uma problemtica que nos afecta a todos. O estudo , assim, uma primeira tentativa formal para conseguir estreitar a ponte entre o trabalho acadmico e as necessidades da comunidade sendo, para ns, um desafio extraordinrio o conseguir servir estas ltimas sem 25. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 3 ferir as finalidades da primeira. Com efeito e apesar de conhecermos muitos projectos de servio comunidade, levados a efeito por alunos e professores, num regime voluntrio ou formalizado mas sempre extra-curricular, no temos conhecimento da existncia de projectos desta natureza (e desta dimenso), que tentam conciliar ambas as finalidades: trabalho curricular e servio comunidade. Nesta vertente, inmeras dificuldades se deparam, como seja a conciliao das matrias a serem ministradas e a matria que objecto de investigao; a harmonizao dos critrios de avaliao de vrias disciplinas com o trabalho desenvolvido no projecto; o equilbrio entre as vrias disciplinas do semestre, em termos de trabalho solicitado aos alunos, por forma a que a investigao no comprometa as restantes obrigaes lectivas; os timings prprios do calendrio escolar com a programao do projecto, nomeadamente a disponibilidade das escolas investigadas; a conciliao de 70 alunos, distribudos por 15 grupos, de maneira a que todos possam realizar trabalho til e original, sem sobreposies ou desfasamentos, e por forma a contribuir com uma parte integrante do trabalho final. Finalmente, conseguir suprir as carncias de investigao em alunos com pouca experincia neste campo, na execuo de um trabalho que, ao nvel de cada grupo, constitui uma verdadeira monografia de fim de curso e, ao nvel da turma, uma verdadeira tese de nvel superior. E exactamente neste ponto que o relatrio ter, talvez, o seu maior mrito: transformar o trabalho de alunos com capacidades muito diferenciadas e sem qualquer experincia de investigao a este nvel, num relatrio que, para alm de se encontrar dentro das normas internacionais (Manual da APA American Psychological Association), usadas para a elaborao de trabalhos cientficos, sirva igualmente como instrumento de apoio deciso das entidades ligadas problemtica em estudo devendo, assim, ser escrito numa linguagem que sirva ambas as finalidades e ambos os pblicos (acadmico e executivo). Este trabalho tenta assim servir ambas as finalidades, constituindo-se igualmente num referencial de investigao que faculte, a alunos e professores, 26. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 4 um verdadeiro manual de consulta para trabalhos futuros. Esse desiderato, a conseguir-se, s foi possvel atravs da entrega desinteressada de um grupo de professores, secundado por um pequeno grupo de alunos pertencentes turma que realizou o trabalho de campo, que dedicou muitas horas de trabalho transformao da investigao realizada pela turma num trabalho que responde, como j foi dito, s normas internacionais para a elaborao de relatrios desta natureza e, em simultneo, s necessidades da comunidade, em termos de sugestes para apoio deciso. Sobre esta ltima finalidade a elaborao de sugestes pertinentes para a tomada de deciso cremos que o caminho a percorrer ainda muito extenso, to grande ainda o fosso que separa as finalidades acadmicas e as da sociedade real. Com efeito, a maior dificuldade sentida foi conseguir fazer sugestes de melhoria que, sem esta investigao, no poderiam ser obtidas. Isto , ultrapassar os conhecimentos j existentes sobre a matria e produzir algo que permita diferenciar o caso especfico do Concelho de Loul, produzindo elementos desconhecidos at data e que constam dos objectivos e proposies definidos no final desta primeira parte do trabalho. Assim, convm lembrar que os autores e colaboradores no so especialistas do tema, nem pretendem suplantar investigadores com muito melhor preparao terica e prtica, nem ainda possvel, nestas condies, partir para uma especializao que o tema justifica. O trabalho constitui uma primeira tentativa para transformar a realidade lectiva, normalmente demasiado centrada na produo para consumo acadmico, esgotando-se nas classificaes, nos trabalhos destinados ao esquecimento ou, em casos mais raros, a figurarem nas bibliotecas universitrias para consumo interno. , como j foi referido, uma tentativa de fornecer elementos para apoio deciso das entidades ligadas actividade escolar do concelho de Loul. um trabalho feito por alunos e professores, para alunos e professores, na sua parte metodolgica, e para a comunidade, nas suas 27. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 5 concluses e recomendaes. Todo o trabalho de campo (excepto os contactos iniciais com as escolas) foi realizado pelos alunos, tendo cada grupo apresentado o seu relatrio. Posteriormente, alunos e professores voluntrios utilizaram esses relatrios como base para a elaborao da parte relativa reviso de literatura e do Mtodo, tendo os autores mencionados nas restantes partes elaborado o restante. Este relatrio estrutura-se em trs partes. Na primeira procura-se, depois da presente introduo, fazer o enquadramento terico do problema do alcoolismo (1. captulo) e, em especial, do alcoolismo juvenil (2. captulo), para depois evidenciar dados provenientes de estudos anlogos, por forma facilitar o estabelecimento dos objectivos, problema e proposies deste estudo (3 captulo). Na segunda faz-se a descrio do trabalho de campo descrevendo o concelho, as escolas participantes e a populao investigada, bem como todo o procedimento seguido na investigao, quer quantitativa, quer qualitativa. Na terceira parte, a apresentao e discusso dos resultados obtidos, quer os principais quer os acessrios, na vertente quantitativa e na qualitativa; a enumerao das limitaes da investigao; por fim a discusso e as concluses, as propostas para investigao futura e as recomendaes daqui decorrentes. Os autores do trabalho esto convictos de que a colaborao entre a autarquia louletana e a instituio de ensino superior sedeada nesta cidade que, com este projecto, produziu um primeiro fruto concreto, poder prosseguir no futuro, com evidentes vantagens recprocas. 28. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 6 29. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 7 CAPTULO I O LCOOL E O ALCOOLISMO O lcool ao Longo dos Sculos Sabe-se que o lcool uma das mais antigas substncias inebriantes, utilizada muitas vezes com abuso, e que exerce sobre o homem um fascnio de experimentao, levando-o a uma busca de vivncias de xtase sensorial, a uma libertao dele prprio, a uma tentativa de se tornar diferente e atenuar males fsicos e psquicos, ou a uma necessidade de se superar. As razes para esta procura so muito diversificadas, passando por motivos pessoais, pela socializao, pelo desenvolvimento econmico e pela prpria religio. O seu consumo foi apoiado, tolerado ou proibido consoante as pocas e a cultura. Supe-se (Goodwin, 1981, citado por Ferreira-Borges & Filho, 2004) que o primeiro contacto que o homem teve com o lcool tenha ocorrido de uma maneira casual, no perodo Paleoltico, talvez quando comia uvas que estavam espalhadas no campo e j fermentadas pelo calor do sol. Depois, durante a civilizao Mesopotmica, por volta de oito mil anos a.C., apareceu o fabrico da cerveja atravs da fermentao e associado ao desenvolvimento da agricultura. A tambm se descobriram as primeiras referncias clnicas sobre a intoxicao, sobre a cura da ressaca e sobre descries de bebedeiras. Durante as vrias dinastias egpcias o consumo do lcool abrangia todas as classes sociais e j se apelava moderao. Porm, foi na poca romana e grega que o vinho foi ressaltado, chegando a haver deuses para o representar, como Baco e Dionsio. Segundo Herdoto, historiador grego da antiguidade (Chopra, 1994), os governantes do imprio no chegavam a uma 30. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 8 deciso final sobre qualquer assunto importante enquanto no o tivessem discutido, em simpsio, tanto sbrios como brios. A palavra Simpsio, que o dicionrio de portugus define como reunio cientfica para discusso de um determinado tema significa, na sua traduo literal do grego Symposium , beber em conjunto. Na prpria Bblia, desde o Antigo Testamento, h relatos que do conta do uso do vinho, umas vezes como bebida que provoca a embriaguez, outras como elemento essencial de oferta a Deus. Apenas alguns exemplos: No, uma vez salvo do dilvio, planta uma vinha e embriaga-se com o primeiro vinho que fabrica (Gn. 9, 20-21); e o sacerdote Melquisedek, quando conhece o escolhido de Deus, Abrao, oferece ao Senhor po e vinho (Gn 15,18). J no Novo Testamento, o vinho referido como elemento fundamental no casamento de Can, onde Jesus transforma a gua em bom vinho (Jo 2,1- 11); depois, durante a sua ltima ceia, Jesus pega no clice com vinho, abenoa-o e distribui-o aos seus discpulos, em sinal do derramamento do prprio sangue. Este gesto tornou-se, a partir de ento, um dos elementos centrais da celebrao eucarstica dos cristos (Lc 22,17-18). E ainda, a vinha aparece em diversas parbolas que Jesus criou, quer como metfora do reino de Deus (Mt 20,1-16; 21,33-41), quer como modelo da relao entre Jesus e aqueles que nele acreditam (Jo 15,1-8). Sabe-se tambm que, caso o vinho e os seus segredos ainda no fossem conhecidos na China, a vinha possa ter sido a introduzida atravs da rota da seda, cerca de 500 anos d.C., pela mo dos rabes. Estes foram os primeiros a produzir o lcool destilado para o fabrico de perfumes, apesar da proibio de beber. Os europeus aprenderam a tcnica de destilao com os rabes. Na Itlia do sculo XI, encontram-se registos do fabrico de aguardente, aqua vitae. Este produto chamado esprito, em referncia sua origem, ou seja o esprito do vinho. Em Frana, na mesma poca, aparece o processo de 31. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 9 destilao do vinho que permitiu o aparecimento de bebidas de maior graduao alcolica. Da Idade Mdia at ao sculo XVI, o consumo de lcool era comummente associado sade e ao bem-estar, sendo que o termo lcool comeou a ser divulgado, em finais deste sculo, por toda a Europa (Goodwin, 2004). Do outro lado do Atlntico, e antes da descoberta das Amricas, j os povos dessas regies consumiam, nas suas manifestaes religiosas, curativas ou mgicas, um tipo de bebida fermentada, parecida com a actual cerveja. Na Inglaterra, durante o reinado de Isabel I (1533-1603), encontraram- se registos de intoxicao pelo lcool. No reinado seguinte, o vinho estava presente em todas as manifestaes sociais aparecendo, no sculo XVIII, as primeiras tentativas de represso do seu consumo excessivo. Na mesma poca, mas nos Estados Unidos, lanaram-se taxas sobre o lcool para reduzir o seu consumo. Um sculo depois, comeou a desenvolver-se o conceito de embriaguez como doena e no apenas como vcio. Esta abordagem cientfica enfatizou o perigo do consumo de lcool para a sade pblica, salientando-se os seus efeitos no sistema nervoso. A partir da Revoluo Industrial, o consumo aumentou consideravelmente, devido facilidade da produo de lcool, assim como s mudanas sociais inerentes a esta poca. O lcool foi associado a uma forma de evaso, face s dificuldades que as pessoas enfrentavam nessa poca. Os problemas sociais causados pelo seu abuso eram entendidos como uma questo de fraqueza ou imoralidade de certos indivduos. Deste modo, eram inmeras as pessoas afectadas por este problema. Procuraram-se ento novas formas de refrear o consumo de bebidas alcolicas, passando a ser considerado um assunto de interesse pblico e social. Ainda nos Estados Unidos surgiu, ainda em finais do sculo XIX, o Amrica Temperance Movement, uma organizao cujo objectivo era fazer presso para que o consumo de lcool deixasse de ser permitido nas escolas 32. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 10 pblicas. E no incio do sculo XX, o consumo excessivo de lcool foi sendo progressivamente assumido como um crime (Ferreira-Borges & Filho,2004). Durante os anos 20, os alcolicos eram assustadoramente cada vez mais numerosos, e tanto a medicina como a psicanlise nada puderam fazer para suster este aumento, o que levou o congresso americano a decretar em 1920 a to famosa Lei Seca. Porm, tendo em conta os subornos, a extorso, os roubos e a falsificao de documentos, por parte de membros do governo, essa lei acabou por ser abolida em 1933, verificando-se de seguida um enorme crescimento no consumo. neste contexto que, em 1935, a Associao Mdica Americana reconhece que os alcolicos so pacientes vlidos, o que deu origem ao movimento dos Alcolicos Annimos, que se expandiu largamente por quase todo o mundo, aps a II Guerra Mundial. Nos pases europeus do mediterrneo, especialmente a Itlia, a Frana, a Espanha e Portugal, tradicionalmente grandes produtores de vinho, uma quantidade de terrenos estavam afectados, h sculos, viticultura, a qual constitua uma boa oferta de mo-de-obra a milhares de pessoas. Em Portugal, como, de resto, nos pases mediterrnicos em geral, o vinho tornou-se elemento importante da chamada dieta mediterrnica. Neste contexto, compreensvel a clebre frase atribuda a Salazar: O vinho d de comer a um milho de portugueses! E o povo, com a sua proverbial veia irnica, criou o ditado: o fado que induca e o vinho que instri. O tema do vinho e da bebedeira tem sido inspirador de muitos sketches no teatro de revista e na televiso como, por exemplo, aquele que, nos incios dos anos 80, foi protagonizado por Ivone Silva e Camilo de Oliveira: Ai Agostinho, ai Agostinho que rico vinho! Vai uma pinguinha?. E ainda uma cano dos anos 60, interpretada por Max, intitulada A Mula da Cooperativa, simulando o estado de embriaguez. 33. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 11 Claro que, por outro lado, o vinho tem tido um papel importante no desenvolvimento da nossa cultura e das nossas tradies, atingindo sectores econmicos como o turismo, as diverses e a indstria produtora. Em qualquer casa tradicional portuguesa de bom-tom haver sempre bom vinho e a natural hospitalidade portuguesa faz-se frequentemente com o oferecimento de um bom copo de vinho, a acompanhar um naco de presunto, queijo ou azeitonas. Nas festas e em certas comemoraes, comum beber-se um clice de vinho do Porto, como aperitivo e no fim uma taa de vinho espumante. H mesmo quem no dispense um clice de aguardente, a acompanhar o caf. E ainda que nas diverses seja mais usual beber-se cerveja, um facto corrente que, em momentos de tristeza, um amigo convide um outro para ir beber um copo, para desabafar. Do ponto de vista econmico, a nossa multimilenar tradio vitivincola coloca o pas perante certos constrangimentos, quando se pensa em programas de restrio ao consumo de bebidas alcolicas. Apesar de tudo, nas ltimas dcadas, vem-se assistindo a uma certa alterao nos costumes e hbitos dos portugueses, relativamente s bebidas alcolicas. Tem-se acentuado o consumo de cerveja, em detrimento do vinho, por bvia influncia dos costumes nrdicos. Por outro lado, o consumo de bebidas alcolicas brancas e espirituosas tornou- se mais frequente aos fins-de-semana, provavelmente por uma questo de busca de estatuto social, especialmente entre a populao jovem. Uma vez que o consumo de bebidas alcolicas acontece em circunstncias sociais e culturais especficas, comea a ser um problema social e colectivo. Por um lado, fomentado e tornado possvel o uso generalizado com todas as suas consequncias e, por outro lado, so desenvolvidas atitudes contrrias de repdio, incompatveis com o uso considerado excessivo e at mesmo com qualquer uso de lcool. Foi aps a dcada de 70, com o aumento do poder de compra e a liberalizao dos costumes, que progressivamente aumentou a estimulao por 34. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 12 parte das cervejeiras e empresas de comercializao de bebidas destiladas, a produzir e publicitar massivamente o seu produto, fomentando desta forma o consumo compulsivo e a criao de novos hbitos alcolicos. Desde h vrios anos que somos referncias mundiais no consumo de lcool e nas consequncias que da advm, tais como acidentes (de viao e laborais), violncia (familiar e social) e mltiplas patologias da resultantes. O Alcoolismo: Conceito e Abrangncia O lcool etlico ou etanol o componente activo essencial das bebidas alcolicas. A sua frmula qumica C2H5OH. Etimologicamente, a palavra lcool procede do rabe kohol, que faz referncia ao antimnio, uma poeira negra muito fina que as mulheres empregaram durante muitos anos para enegrecer os olhos. Conforme referem Doron & Parot (2001), citados no Dicionrio de Psicologia, O lcool uma molcula natural ou sinttica, etillcool ou etanol, existente em todas as bebidas fermentadas ou destiladas. O lcool uma molcula simultaneamente sedativa e hipntica. obtido pela via sinttica ou pela via de fermentao de produtos vegetais. (). Em doses pequenas, pode ter propriedades estimulantes ainda que muitas vezes seguidas de depresso; em doses altas pode provocar um estado de entorpecimento e o coma. No mesmo Dicionrio pode ler-se ainda A sua utilizao crnica provoca efeitos deletrios que afectam diversos rgos (cirrose heptica, arterites, pancreatites, etc.), entre os quais o sistema nervoso (neuropatias, sndrome mnsica de Korsakoff, encefalopatias, estados demenciais). A sensibilidade ao lcool varia de indivduo para indivduo e isto, em parte, por razes genticas. Esta droga cria estados de dependncia fsica e psicolgica e o desmame pode causar delrios agudos graves (delirium tremens). O seu consumo elevado e 35. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 13 difundido tem um custo social enorme. uma droga cujo consumo encorajado por um poderoso suporte publicitrio e que no objecto de qualquer tipo de legislao sria. O termo alcoolismo foi introduzido em 1849, pelo sueco Magnus Huss, que o definia como sendo um conjunto de manifestaes patolgicas do sistema nervoso, nas suas esferas psquica, sensitiva e motora (Huss, 1849, citado por Schuckit, 1995). Mas neste assunto estamos longe de ter uma unanimidade de opinies. Pelo contrrio, so muitas as definies de alcoolismo, pelo que se torna difcil abarcar todos os cambiantes do significado deste termo. Cada conceito d relevncia a um ou a outro dos comportamentos relacionados com o campo alcolico. Na dcada de 60, Morton Jellineck (citado por Schuckit, 1995) privilegiou a noo de repercusso negativa pessoal e social, escrevendo: alcolico, todo o indivduo cujo consumo de bebidas alcolicas possa prejudicar o prprio, a sociedade ou ambos. Foi esta definio que deu mote a vrios estudos e que est na origem da noo de consumidores com problemas, que considera a perda de controlo sobre a bebida como uma caracterstica patolgica da doena. Para Jellineck, ou se tinha alcoolismo, ou no se tinha, e a nica soluo para os portadores desta doena progressiva e fatal seria a abstinncia alcolica definitiva. Por seu lado, Goodwin define o alcoolismo como sendo uma compulso a beber com consequncias negativas para o prprio ou para os outros, enquanto Fouquet prefere defini-lo simplesmente como a perda da liberdade de se abster de beber lcool (ambos citados por Schuckit, 1995). Edwards & Gross (1976) definiram tambm a sndrome de dependncia do lcool. A antiga percepo de alcoolismo, que era visto como uma patologia global e abrangente que somente merecia uma nica conduta teraputica passou, desde essa altura, a ser tida como uma sndrome multifacetada, polideterminada, comportando um espectro abrangente de propostas teraputicas. esta a viso actual, representada nos manuais de diagnstico, 36. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 14 segundo a qual os consumidores com problemas so agora denominados nocivos e o termo alcolicos foi substitudo pelo de portadores da sndrome de dependncia. Em 1990, a Sociedade Americana de Toxicomania e Alcoologia (Schuckit, 1995) definiu o alcoolismo como uma doena primria, crnica, caracterizada pela perda de controlo sobre a ingesto de lcool, pela preocupao constante com o lcool, e por um consumo persistente de lcool a despeito de surgirem efeitos negativos, por uma distoro da percepo do lcool e por uma negao das alcoolizaes. A OMS (Organizao Mundial de Sade), por seu turno, estabelece a distino entre o alcoolismo como doena e o alcolico como doente. Assim, diz- se que o alcoolismo no constitui uma entidade nosolgica definida, mas sim a totalidade dos problemas motivados pelo lcool, no indivduo, estendendo-se em vrios planos e causando perturbaes orgnicas e psquicas, perturbaes da vida familiar, profissional e social com as suas repercusses econmicas legais e morais. A abordagem cientfica dos problemas causados pelo consumo excessivo de lcool resultou numa consciencializao dos perigos que este causa sade. Ainda assim, estudos recentes revelam que o consumo assumido de substncias com aco psicotrpica tem evoludo de acordo com os percursos civilizacionais, e que, embora numa primeira fase este funcione apenas como substncia estimulante ou inebriante, indutor do estado de euforia, posteriormente provoca dependncia, sendo que a tolerncia ao seu consumo intenso apresenta riscos bio-psico-sociais elevados. Alcoolismo , portanto, uma doena de carcter progressivo, incurvel e quase sempre fatal. O alcoolismo agudo (embriaguez) , muitas vezes, confundido com alcoolismo crnico. No primeiro caso, trata-se da ingesto nica e em grandes quantidades de lcool, num dia ou num curto espao de tempo, podendo ter como consequncias, desde uma leve tontura at ao coma 37. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 15 alcolico. No caso do alcoolismo crnico, existe uma ingesto habitual de bebidas alcolicas, frequentemente repartida ao longo do dia, em vrias doses, que vo mantendo uma alcoolizao permanente no organismo, nunca saindo assim do efeito do lcool. Vrios autores tentam definir um limiar de risco, varivel de indivduo para indivduo, para alm do qual o consumo de bebidas alcolicas seria perigoso, e portanto patolgico. Na prtica, no possvel definir a doena pela quantificao das bebidas ingeridas. O limiar no tem em conta factores individuais de tolerncia e de susceptibilidades somticas e psquicas dos efeitos nocivos do lcool, uma vez que a mesma quantidade de lcool causa alcoolmias, cujos valores dependem, entre outros factores, do volume corporal, dos hbitos alimentares do sujeito e do carcter crnico ou paroxstico. O risco de uma mesma alcoolmia varia tambm em funo do sexo e da idade. Por isso, definir o alcoolismo unicamente em funo de uma dose limiar, significaria transformar o exame num inventrio dos copos bebidos, o que pouco relevante em clnica, tendo utilidade somente em termos de sade pblica. Alis, todas as formas de alcoolizao comportam, em diferentes graus, um discurso de negao do estado, bem como a ocultao da quantidade de lcool ingerida e das suas consequncias negativas. Nos anos 70, surgiu a tendncia de substituir o termo alcoolismo por Sndrome de Dependncia Alcolica, o que permitiu uma definio mais objectiva e precisa, desprovida de qualquer conotao social ou moral, dos fenmenos de dependncia e habituao, bem como de compulso face ao lcool. Esta definio foi, em grande parte, retomada pelas classificaes internacionais, nomeadamente na Classificao Internacional das Doenas da OMS e na Classificao da American Psychiatric Association. A dependncia um hbito patolgico que invade em diversos graus a vida mental e social do paciente. Comporta trs elementos principais: alterao do comportamento face 38. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 16 ao lcool, o desejo excessivo de lcool associado perda de controlo da ingesto e, por fim, sintomas de privao. O sujeito dependente adopta um modo de consumo de lcool que no tolera variaes e muito menos redues. Quanto mais um sujeito fica dependente, menos consegue modificar a frequncia e a quantidade das suas alcoolizaes. compelido a consumir com regularidade bebidas alcolicas, segundo um regime que lhe garante uma alcoolmia elevada, to constante quanto possvel. A partir do momento em que comea a beber, confrontado com a perda do controlo psquico e comportamental. Este fenmeno explica a frequncia das recadas alcolicas, subsequentes ao regresso a quantidades moderadas de lcool. Factores biologicamente hereditrios e predisposio ambiental so mencionados frequentemente como possveis explicaes para o consumo e dependncia do lcool. Numa perspectiva scio-cultural, tm vindo a ser realizados vrios estudos, numa tentativa de compreender o consumo de bebidas alcolicas. Como principais influncias ambientais destacam-se as presses dos amigos, bem como as indues do meio familiar, principalmente por parte do pai, na infncia do indivduo, ao oferecer alguns goles com o intuito de introduzi-lo em hbitos masculinos. Na esfera psicolgica, possvel localizar ainda outro conjunto de factores associados ao uso do lcool. Determinados traos de personalidade aparecem vinculados ao alcolico como, por exemplo, regresso emocional, imaturidade, instabilidade, ansiedade, insegurana e fraqueza de ego. Estes sujeitos so ainda tidos como tmidos e fugidios, com medo de tomar iniciativas e de assumir responsabilidades, onde a fantasia se pode apresentar como uma fonte de satisfao ou como refgio possvel da frustrao das aspiraes intelectuais. Assim sendo, o lcool funcionaria como um mecanismo de fuga do indivduo, devido ao seu sentimento de inadequao, encoberto por ideias de 39. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 17 grandeza, certo perfeccionismo e exibicionismo, apresentados face sua auto- imagem negativa. Estes sujeitos tm tambm dificuldades em assumir responsabilidades no que diz respeito a um relacionamento amoroso, talvez tambm em consequncia de complicaes psquicas como a irritabilidade, agressividade, prejuzo na compreenso e alterao da viso do mundo, o que provoca dificuldades no seu relacionamento familiar, que se vo agravando com o tempo. Os mdicos insistem na tolerncia zero ao consumo do lcool em jovens menores de 16 anos, uma vez que o organismo destes no tem a capacidade de metabolizar o lcool seja qual for o tipo ou a quantidade. Segundo o artigo Gole a Gole, disponvel na pgina web www.apagina.pt, 60% dos jovens com idade entre os 12 e os 16 anos consomem regularmente bebidas alcolicas. Muitos deles fazem-no, aparentemente, com o consentimento dos pais. No entanto, seria tambm interessante falar das consequncias positivas do consumo moderado no adulto. Actualmente, j est documentado, muito embora ainda sujeito a controvrsias por alguns sectores da medicina, que o lcool, tomado na quantidade certa, pode prevenir enfartes, ajudando tambm na reduo de stress. A nvel social um veculo que ajuda a manter a unio das pessoas, seja em bares, em cafs, ou em outros locais promovendo, desta forma, as relaes humanas. Perante estes aspectos positivos, poder-se- perguntar: ento por que razo ocasiona o lcool tanta desgraa? Poder-se-ia fazer a mesma pergunta sobre o fogo! Este ajudou-nos a evoluir desde a pr-histria, fornecendo-nos calor para nos aquecermos e para cozinhar os alimentos, deu-nos iluminao e, actualmente, permite-nos fabricar sistemas de propulso que levam as naves espaciais a outros planetas. No entanto, o fogo tambm utilizado para criar armas de destruio macia e, mesmo no seu uso domstico, quando usado com negligncia, pode tirar vidas e destruir habitaes e bens! 40. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 18 A analogia com o fogo, permite-nos afirmar que o lcool no bom nem mau, em si mesmo. to-somente um produto que, quando ingerido em excesso, produz determinados efeitos nocivos. De resto, o seu uso moderado pode at ter vantagens, como se viu anteriormente. S quando utilizado em demasia acarreta misria e destruio. Ser que o consumo do lcool, e at mesmo o seu abuso por parte dos jovens, se deve ao desejo de serem adultos, de se sentirem adultos perante a ideia do que a sociedade pensa do que deve ser um adulto? Ou bebem por simples acto imitativo? Consumo e Dependncia Mecanismos Neurobiolgicos O consumo de lcool constitui um grave problema de sade pblica em todos os pases, com complicaes que podem atingir a vida pessoal, familiar, escolar e social, devido aos efeitos produzidos sobre o sistema nervoso central humano. Um indivduo que dependa do lcool no o utiliza s para desfrutar do prazer, mas sobretudo para se livrar do sofrimento e das dificuldades em se adaptar ao seu meio ambiente. O alcolatra vai aprendendo com as experincias que a forma mais eficaz e mais rpida para fazer desaparecer esses sentimentos de mal-estar e a ansiedade que os acompanha repetir o consumo. Cria-se, deste modo, um condicionamento. Se determinadas circunstncias exteriores se associam a este reflexo, elas integram-se nele, podendo mesmo suscitar o desejo de consumir. Qualquer hbito torna-se um comportamento adquirido. Uns aprendem a consumir em excesso, outros a no consumir e, por fim, outros a consumir moderadamente. O consumo de lcool faz parte dos comportamentos adquiridos. Eles foram, atravs do processo de imitao, repetidos vrias vezes, at se tornarem num hbito. Com o decorrer do tempo, vrios estmulos 41. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 19 exteriores foram associados a esse comportamento, aos seus efeitos benficos, simplesmente por fazerem parte do mesmo ambiente. Segundo Volkow (2003, citado por Ferreira-Borges & Filho, 2004), existem quatro sistemas principais de maior relevncia para a compreenso da dependncia: o sistema de recompensa, o sistema de motivao, o sistema de aprendizagem/memria e o sistema de controlo. Todas as informaes sensoriais, sejam elas a percepo da cor, do som ou do cheiro, so susceptveis de despertar no nosso crebro a vontade e a necessidade de consumir, considerando que este tem uma capacidade de memria colossal para guardar os dados adquiridos pelas nossas experincias. O prprio escritor francs Marcel Proust (1999), no incio do sculo XX, na sua obra Em Busca do Tempo Perdido, j tinha percebido a importncia do cheiro nas recordaes, descrevendo-o como um factor de evocao ainda mais forte do que o sentido do paladar. Ele prprio comprovou isso, quando molhava as madalenas no ch quente, e o cheiro da resultante o fazia recordar a sua tenra infncia. Quando o cheiro invade as fossas nasais fixa-se no receptor sensorial que o transforma em mensagem electroqumica, sendo essa informao enviada, atravs do nervo olfactivo, at ao bolbo olfactivo, uma regio situada por debaixo dos lobos frontais. O bolbo olfactivo est, por sua vez, interligado ao hipocampo e amgdala, fazendo, estes dois ltimos, parte do sistema lmbico, o qual activa a aprendizagem e a memria. A memria emotiva depende da amgdala, enquanto a memria explcita e o condicionamento do contexto dependem tanto do hipocampo, como tambm do lobo temporal medial, o qual inclui o crtex parahipocampal, o perirrinal e o entorrinal, que permite o reconhecimento no seu todo. Segundo Bouvard (2003), este sistema de memria e aprendizagem tambm abrange a memria implcita das aces e da aprendizagem motora, ligadas aos ncleos da base. Estes ncleos teriam como funo, alm de ajustar 42. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 20 a fora necessria associada a cada movimento, digerir e controlar espcies de pensamentos, sensaes e aces sem a interveno do sistema de controlo cognitivo, que se situa no crtex pr-frontal e no crtex cingulado anterior, ou seja, uma resposta automtica sem passar pela conscincia. A percepo cerebral dos estmulos sensoriais, associada s experincias de consumo, desperta imagens que desencadeiam uma cascata de reaces neuronais, pondo em aco diferentes molculas. Todo o sistema nervoso interage por neurotransmisso rpida e excitatria, com o glutamato, ou por neurotransmisso inibitria, recebendo a influncia moderadora de outros neurotransmissores, entre ao quais a dopamina. A formao dopaminrgica situa-se no mesencfalo, nomeadamente na substncia negra dos ncleos da base, projectando as suas terminaes axoniais nos vrios sistemas j referidos. A libertao da dopamina pode assim modelar a funo destes sistemas de recompensa, de motivao, de aprendizagem/memria e de controlo cognitivo. As circunstncias que envolvem o consumo, como as pessoas, os stios e os cheiros, so gravadas, fazendo parte integrante da situao de consumo. No caso da exposio a uma destas circunstncias, os elos e as recordaes inconscientes so reactivados, desencadeando a vontade de consumir, activando deste modo o sistema de motivao que envolve a amgdala, o giro do cngulo (que serve de mediador comunicao entre o crtex e as estruturas do mesencfalo) e o crtex orbitofrontal. A libertao da dopamina neste sistema no indica nenhum prazer, mas antecipa a sua provvel ocorrncia, que conduz ao desejo, ou no, de consumir lcool. Isto depende da capacidade do sistema de controlo cognitivo que poder impedir a ocorrncia da recompensa, ou seja, o consumir. A consequncia deste desejo tem a ver com o sistema da recompensa que envolve o ncleo accumbens, que faz parte dos ncleos da base, entre outros. O lcool, como tambm outras drogas, activam este sistema de recompensa levando libertao da dopamina neste ncleo. 43. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 21 Em situaes repetitivas de hbitos, em que a recompensa o lcool, a libertao de dopamina no ncleo accumbens trs a cinco vezes maior. Esta hiperactividade anormal dopaminrgica altera profundamente o significado fisiolgico da dopamina, neste sistema de recompensa, cujos efeitos provocam perigo de vida, uma vez que h uma diminuio da capacidade do sistema de controlo cognitivo sobre o sistema de recompensa. Esta hiperactividade favorece a impulsividade do querer, revelando-se de forma compulsiva. esta situao que caracteriza o estado de adio que leva dependncia. O sistema de recompensa, constitudo pelos neurnios dopaminrgicos, no se encontra isolado, mas est em ligao, entre outros, com o sistema de recompensa, o hipotlamo, no qual a hipfise segrega os opiides que produzem a sensao de bem-estar mas que, quando so inibidos, criam o desprazer (Vaas, 2003). Estes opiides tambm regulam o stress e a dor, provocando uma euforia natural, semelhante provocada pelo lcool, entre outras drogas. A prpria amgdala do sistema lmbico contm um nmero enorme de receptores de opiides, implicados em vrias emoes (Jensen, 2002). A amgdala receptiva destes opiides desperta as emoes e o sistema est, por sua vez, conectado com o neurotransmissor GABA, o qual impede a actividade do sistema de recompensa, quando activado. Tambm Noble (2004), na revista francesa Cerveau & Psycho, defende a ideia de que a viso dum objecto ou dum contexto que faz lembrar o lcool, activa o sistema dos peptdeos opiides, que vai inibir os neurnios gabargicos, o que ir permitir que o sistema de recompensa dopaminrgico seja libertado. Isto permite que o indivduo, ao ter uma viso dum objecto ou dum contexto devido a uma vivncia anterior, sinta um prazer antecipado. Porm, se a recompensa, isto , a ingesto do lcool, no administrada, ento a concentrao das encefalinas, produzidas pelo sistema opiide, no incio, diminui, levando frustrao. Os ncleos do mesencfalo, so 44. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 22 activados, e os axnios projectam a noradrenalina em vrios pontos cerebrais, provocando stress e comportamentos superexcitados (Kolb & Whishaw, 2002). Hoje, devido s novas tecnologias, podem-se detectar as diferentes reas e alguns dos diversos neurotransmissores que esto envolvidos na dependncia. O facto de todos ns possuirmos mecanismos moleculares de actividade neurotransmissora e reas cerebrais iguais no significa que esses processos neurobiolgicos, referidos ao longo deste captulo, se efectuem de forma idntica. Pelo contrrio, todos estes processos funcionam de forma diferenciada, de acordo com as nossas divergncias genticas e as nossas diferentes interaces com o ambiente. Uma Abordagem Cognitivo-Comportamental A abordagem cognitivo-comportamental pode, de certo modo, ajudar- nos a compreender melhor o que pode levar algum a repetir o consumo do lcool, depois de o ter experimentado. Esta abordagem, e sobretudo a terapia cognitivo-comportamental, da qual Aaron Beck um dos pioneiros, com os seus trabalhos sobre depresso, estendeu-se rapidamente para outras patologias, nomeadamente a dependncia qumica. Mas, segundo Knapp et al (2004), apenas a partir de 1993, aps a publicao do Cognitive Therapy of Substance Abuse, de Beck e colaboradores, que a utilizao da terapia cognitiva das dependncias qumicas se espalhou. A formulao cognitiva integra a sntese de dados sobre o paciente, permitindo elaborar hipteses sobre as origens das suas crenas disfuncionais e dos seus sintomas principais. Estas crenas disfuncionais, segundo Beck (1997), agem como uma lente que desfocaliza a interpretao da informao. A partir de uma situao de estmulos, vo desencadear-se crenas centrais sobre 45. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 23 a utilizao do lcool e, seguidamente, todo um conjunto de fases em srie, acabando numa espcie de crculo vicioso (vide figura 1) que representa o modelo cognitivo do uso de substncias. Figura 1. Modelo cognitivo do uso de substncias O indivduo interpreta determinada situao a partir de estmulos externos e internos, que podem activar crenas disfuncionais sobre o uso do lcool. As pessoas, os stios e os objectos relacionados com o uso do lcool funcionam como estmulos externos como, por exemplo, os amigos, os bares, a msica, entre outros. Por sua vez, os estmulos internos como, por exemplo, as lembranas e os estados psicolgicos de desconforto, a ansiedade, a irritao, a frustrao, a depresso ou, pelo contrrio, os estados de bem-estar, de euforia, de experincias sexuais e de experincias msticas relacionadas com o consumo do lcool, podem estimular crenas antecipatrias ou crenas de alvio. Segundo Knapp et al (2004), existem trs categorias de crenas, chamadas crenas adictivas, que facilitam o uso do lcool: - As crenas antecipatrias, que levam o indivduo esperana de recompensa, de prazer e de gratificao pela utilizao do lcool. Situao de estmulos Crenas centrais sobre o lcool Pensamentos automticos Fissura Craving Crenas permissiva s Plano de aco Repetio do consumo 46. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 24 - As crenas de alvio, que levam o indivduo expectativa de que o lcool ir atenuar ou eliminar o desconforto psicolgico como a ansiedade, a frustrao ou at mesmo algum sofrimento. - As crenas permissivas ou facilitadoras, que levam o indivduo a considerar o lcool como aceitvel, independentemente das consequncias. Para Beck (citado por Knappet al, 2004), estas crenas adictivas andam volta da procura de prazer, de soluo de problemas e do alvio do desconforto, o que difere de pessoa para pessoa. o caso da crena de que o lcool ser necessrio para manter o equilbrio psicolgico ou emocional, que melhorar o funcionamento social e intelectual, que dar fora e poder, que ter um efeito tranquilizador, que aliviar a monotonia, a ansiedade, a tenso, a depresso e, por fim, que, sem o lcool, a fissura, da qual falaremos mais adiante, ser cada vez mas forte. As crenas de controlo, que podem diminuir o uso e abuso do lcool, esto pouco desenvolvidas. A interpretao de uma determinada situao, mais do que a prpria situao em si, influencia a resposta do indivduo que , muitas vezes, expressa por um pensamento automtico. Estes pensamentos automticos so pouco conscientes e no so questionados, e passam simplesmente pela cabea da pessoa. So pensamentos, ideias ou imagens que coabitam com o curso mais manifesto do pensamento, surgindo automaticamente, de repente, e assumidos pelo indivduo como autnticos. importante que este reconhea os efeitos dos seus pensamentos automticos, relacionados com as suas sensaes fsicas e com a vontade de beber, verificando assim que a sua interpretao errada, para ser capaz de ultrapassar esses pensamentos automticos, que no consciente, ou seja, se, acompanhado pelo raciocnio, o indivduo o deseja verdadeiramente. O desejo muito intenso de consumir o lcool, e as sensaes fisiolgicas que o acompanham, identificadas por Beck como craving, isto , fissura, faz com que o indivduo tenha dificuldade em evitar o consumo. Para um 47. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 25 indivduo, a fissura pode ser considerada como uma reaco corporal que no consegue evitar ou controlar, e que o deixa to nervoso que tem a sensao de enlouquecer. Quando um indivduo no experimenta esta fissura, capaz de reconhecer as consequncias negativas do uso do lcool e, assim, a necessidade de o evitar. Mas com a intensificao do craving, as crenas permissivas so activadas, dando-se o seguinte dilema: ou no h razes suficientes para no consumir, ou h razes que justificam o beber, ainda que as consequncias sejam negativas. A seguir desenvolve-se o plano da aco para executar os passos necessrios concretizao do consumo, incluindo o dinheiro, o local, os amigos, os obstculos a ultrapassar e por a fora. A repetio do consumo, alm de reactivar os mecanismos bioqumicos da dependncia, costuma desencadear sentimentos importantes de culpa, de fracasso, de auto-recriminao, entre outros. Por seu turno, reactiva as crenas aditivas que levam ao aparecimento do pensamento automtico e, por acrscimo, a um crculo vicioso de perpetuao do processo de adio. Note-se que a utilizao do lcool desencadeia uma situao contraditria: por um lado, o desejo de continuar a consumir mas, por outro lado, o sentimento de culpa e de fracasso. Este desconforto psicolgico vai activar mais crenas disfuncionais arrastando o indivduo na continuidade do consumo. Este modelo no explica a origem do desenvolvimento da dependncia qumica, como a do lcool, mas permite compreender o que contribui para a manuteno da sua utilizao tanto num jovem como num adulto. A Perspectiva Psicanaltica Sobre o Alcoolismo No consta que Freud tenha orientado qualquer caso clnico de alcoolismo, nem formulado qualquer teoria explicativa do mesmo. Ser que as 48. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 26 dependncias representavam para Freud um tema no qual ele prprio estaria demasiado implicado? Numa carta dirigida a Fliess, Freud dizia: Cheguei a crer que a masturbao era o nico grande hbito, a dependncia orgnica, e que as outras dependncias, do lcool, da morfina, do tabaco, no representam mais tarde, na vida, seno a substituio e o prolongamento da masturbao (Rousseaux, Faoro-Kreit & Hers, 2002). No entanto, a psicanlise props um modelo global do funcionamento do psiquismo, assim como uma base possvel para dar um sentido explicativo ao alcoolismo, como estratgia de sobrevivncia. A utilidade do lcool, em geral, baseia-se em duas noes distintas: a diminuio do desprazer e o aumento do prazer que se refere alterao da distribuio energtica, operada no aparelho psquico, sobre o efeito do lcool. O princpio do prazer, de Freud escreve Bayle, (2001) governa os processos inconscientes, em que qualquer conduta tem, como origem, um estado de excitao desagradvel e tem, como objectivo, a reduo desta excitao evitando o desprazer ou produzindo o prazer. Muitos psicanalistas estudaram e tentaram descrever os factores psicodinmicos associados ao alcoolismo. A diversidade das teorias psicanalticas sobre o alcoolismo que se seguem, dificultam a explicao de um mecanismo psicodinmico nico. O Psicanalista Gurfinkel (1996), publicou um livro sobre o estudo psicanaltico, envolvendo a teoria da pulso no alcoolismo. A teoria das pulses um dos aspectos mais abstractos da metapsicologia. O termo pulso foi introduzido, nas tradues francesas, como equivalente do alemo trieb (palavra de etimologia germnica que significa pr em movimento). Existem mais de 45 expresses elaboradas por Freud a partir de trieb como, por exemplo, Ttriebkonflikt, ou seja, conflito pulsional. Alm disso, de acordo com Mijolla (2002), Freud d s pulses vrias qualificaes: sexuais, do Ego, de auto-conservao, de agresso, de dominao, na ambivalncia eros/thanatos (amor/morte). E, segundo Gurfinkel (1996), Freud definiu a pulso como um conceito limite entre o anmico e o 49. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 27 somtico, entre o mental e o biolgico. E o objecto da pulso (neste caso no exclusivamente sexual) a coisa, na qual ou por meio da qual, a pulso pode alcanar a sua satisfao. O objecto da pulso no tem um significado puramente existencial, uma vez que pode no se reduzir apenas a uma coisa ou a uma pessoa, mas pode abranger tambm certos contedos fantasmagricos e/ou inconscientes que tornam presente o objecto apenas representado. para o objecto representado o lcool, no caso presente que toda a pulso alcolica converge. A fixao da pulso num objecto como o lcool resulta do facto de o lcool poder ser representado como o meio atravs do qual a pulso procura satisfazer-se. H autores que situam a conduta alcolica no limite entre a neurose e a psicose. Para Rousseaux, Faoro-Kreit & Hers (2002), a neurose seria o resultado de um conflito entre o Ego e o Id. uma caracterstica do conflito intra- psquico em que o Ego reprime o Id. O Id totalmente inconsciente, funcionando segundo o princpio do prazer; desconhece o tempo, as relaes causais, a lgica e a sucesso do bom e do mau. Por sua vez, a psicose seria o resultado de um conflito entre o Ego e o mundo exterior, levando a uma clivagem no seio do Ego, originando um Ego perverso, o qual provoca a dissociao do Ego consciente e de todas as suas funes: o princpio da realidade, a socializao, o raciocnio, a adaptao realidade. Como quer que seja, o lcool provoca um efeito de distoro na percepo da realidade, aliado a uma avaliao errada das prprias capacidades fsicas. H uma diminuio da rapidez dos seus reflexos cerebrais e a coordenao de movimentos corporais fica comprometida, podendo chegar- se ao aniquilamento total do sentido da pessoa. Na figura 2, representa-se graficamente essa dissociao do Ego: a ruptura das faculdades do Ego consciente. 50. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 28 Figura 2. A ruptura das faculdades do ego consciente As primeiras experincias com o lcool tm um efeito eufrico e calmante que so determinantes na evoluo do alcoolismo, revelando a embriaguez. O indivduo que se torna dependente do lcool, durante a abstinncia, levado ao desprazer pelo desejo da manifestao do Ego perverso. O efeito do lcool, num jovem, pode evitar este desprazer. Uma outra teoria de alguns especialistas psicanalticos, nomeadamente Abraham e Ferenczi (citados por Ads & Lejoyeux, 1997), enfatizam a componente homossexual. O desejo homossexual recalcado e reprimido transforma-se em agressividade e desconfiana, que pode atingir o delrio. O lcool permite a realizao de impulsos recalcados. A homossexualidade pode exprimir-se tambm na procura de camaradagem entre pessoas do mesmo sexo, envolvendo o consumo de lcool nos bares. Jean Clavreul (que foi discpulo de Jacques Lacan), num seu artigo publicado em 1959, intitulado La Psychanalis (citado por Rousseaux, Faoro-Kreit & Hers, 2002) afirma que, durante o estado de embriaguez, o indivduo encontra-se como que imbudo por um sentimento de omnipotncia, herico e invulnervel, um modo de acesso omnipotncia narcsica que, segundo Bayle (2001) representa, na verdade, a manifestao do Ego ideal, que o herdeiro do Dissociao do Ego Origina um Ego Ego consciente 51. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 29 narcisismo primrio - uma formao intra-psquica de uma certa forma megalomanaca, baseada no sentimento de poder concretizar tudo. Na abstinncia, o alcolico manifesta o ideal do Ego que corresponde ao que o indivduo deve ser para responder s exigncias do Super-Ego, com a identificao aos pais e aos ideais colectivos que resulta da interiorizao de uma relao de amor entre os pais e a criana. O Ego ideal e o ideal do Ego no esto propriamente em conflito, simplesmente, ora funciona um, ora funciona outro. Este movimento de bscula, ou um ou outro, leva um Ego fraco a pensar: bbado sou tudo e o mundo no nada; sbrio no sou nada, nem mesmo uma partcula! O alcoolismo permite a expresso do Ego ideal nos jovens. Para Freud, escreve ainda Bayle (2001), a fase oral a primeira fase do desenvolvimento psico-sexual do indivduo, abrangendo aproximadamente o primeiro ano de vida, na qual a boca o primeiro rgo de conhecimento. O prazer oral obtido pelo contacto e pela passagem dos elementos para o estmago. Uma fixao psquica nesta fase poderia originar uma tendncia para o alcoolismo, procurando atravs da bebida uma gratificao das necessidades orais no satisfeitas na infncia, ou ento um retorno psicolgico a uma etapa onde no havia problemas que tem que enfrentar na actualidade. Para os jovens, confrontados com o mundo dos adultos e procura da sua autonomia, o refgio no lcool permitiria uma regresso a um estado de desenvolvimento mais seguro. O autor DAndrea (2001) afirma que o alcoolismo alivia fortes sentimentos de solido originados pela carncia afectiva nos primeiros meses de vida. E Leopold Szondi (citado por Rousseaux, Faoro-Kreit & Hers, 2002), considera o alcoolismo como uma tendncia para o retorno relao dual entre a me e a criana. Tal como a criana procura o contacto com a me, o alcolico procura o contacto permanente com a bebida. As dependncias do lcool so doenas de contacto. O carcter compulsivo do alcoolismo aparece na incapacidade de pr fim a esta procura de unidade dual. 52. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 30 Jacques Lacan utiliza o conceito de complexo para designar uma forma fixa de representao inconsciente. Entre os vrios complexos desenvolvidos por Lacan, o complexo de desmame interessante para explicar o caso do alcoolismo, uma vez que fixa o psiquismo em relao a tudo o que envolve alimentao. Este autor fala da famlia como uma instituio com um sentido duplo, ou seja, instituda e instituinte. Ela no s criada como tambm transmitida pela cultura. A famlia humana transmite a cultura, a represso dos instintos, a aquisio da lngua, estabelecendo uma continuidade psquica entre as geraes. A importncia atribuda famlia e, sobretudo, s figuras parentais, no desenvolvimento dos indivduos, alude aos fundamentos da psicanlise. A gnese psicolgica do indivduo, tal como apresentada por Freud desde 1903 (Rousseaux, Faoro-Kreit & Hers, 2002), baseia-se nas relaes precoces da criana, tanto com a me como com o pai. O interesse pelas figuras parentais como determinantes do futuro dos indivduos contribuiu para o aparecimento das terapias familiares. Estas utilizam as prprias estruturas da famlia para resolver os conflitos que esto na origem da perturbao psquica. Factores de Dependncia O alcoolismo um comportamento que pode tornar-se patolgico, com determinismo multifactorial e multidisciplinar. O abuso de lcool e, posteriormente, a dependncia, implica a existncia de factores de risco ou de vulnerabilidade que, actuando em conjunto, podem ser responsveis pelo aparecimento deste comportamento. Van Dijk (citado por Ads & Lejoyeux, 1997) props, em 1979, um esquema, representado na figura 3, que mostra as vrias formas como o indivduo se relaciona com o lcool, sendo que esta 53. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 31 relao est sujeita a regras, que variam de um pas para outro, conforme o sexo, a idade, a religio, a classe e o estatuto social, as normas e os valores culturais dos indivduos. Figura 3. Esquema de estdios para o alcoolismo Segundo este esquema, a partir do primeiro contacto, apenas uma minoria de indivduos rompe com o lcool logo neste estdio, o que pode acontecer por factores biolgicos, religiosos e culturais. A maioria, porm, passa ao estdio experimental, em que o sujeito passa a conhecer os diferentes tipos de bebidas, a sua capacidade de resistncia ao lcool, bem como a sua preferncia por alguns modos de alcoolizao. A partir daqui, a maioria dos consumidores alcolicos passa ao estdio de alcoolizao integrada, que se caracteriza como sendo um comportamento alcolico definitivo, adoptado Contacto Estdio Experimental Consumo Integrado Stop Stop Consumo Excessivo Dependncia Stop Estabilizao Stop Progresso Estabilizao 54. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 32 consoante regras sociais e culturais da sociedade em que o indivduo est inserido e factores pessoais de preferncia, gosto, tolerncia e meios financeiros. Certos indivduos mantm padres estveis de hbitos de alcoolizao, mas h uma minoria que aumenta o seu consumo at atingir o estdio de alcoolizao excessivo, no qual so consumidas, habitualmente, quantidades excessivas de lcool. Isto pode avaliar-se ao nvel da sade fsica ou mental, do bem-estar, da qualidade das relaes conjugais, familiares e sociais, da situao profissional e financeira, bem como atravs das relaes com a ordem e a lei. Os que no se deixarem abalar com dfices nestas reas vo progredir at ao ltimo estdio, o da dependncia, que se caracteriza por uma dupla habituao fisiolgica e psicolgica ao lcool. Ainda segundo Van Dijk, neste mesmo estdio de desenvolvimento, o comportamento alcolico no irreversvel, uma vez que o sujeito pode, em vrios momentos, alterar o seu consumo e adapt-lo aos usos sociais do seu meio cultural. No entanto, a ausncia de tratamento pode implicar um consumo descontrolado, que pode manter-se e at mesmo evoluir para complicaes gravssimas de vria ndole. Todavia, segundo esta teoria, a chegada ao estdio da dependncia, tem origem em factores geradores e em factores perpetuadores da dependncia. Os factores geradores do uso patolgico derivam dos efeitos psicofarmacolgicos do etanol, da personalidade do consumidor, dos valores sociais, dos significados sociolgicos do alcoolismo e das influncias do meio exercidas sobre o consumidor. Os factores perpetuadores da dependncia so sociais, farmacolgicos, psicolgicos e orgnicos. Segundo teorias actuais (Ads & Lejoeux, 1997), pode-se afirmar que a dependncia do lcool tem origem tanto em factores genticos, quanto em factores ambientais. Isto porque os factores genticos, ainda que determinantes, no assumem esta responsabilidade sozinhos, pois o indivduo no se torna 55. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 33 alcolico (mesmo com predisposio gentica), se no estiver permanentemente exposto ao lcool. Ainda segundo o mesmo estudo, os factores genticos interagem sempre com o meio, de acordo com os seguintes pressupostos: Para os filhos de alcolicos, por exemplo, o risco da doena trs ou quatro vezes maior. Os pais alcolicos tm quatro ou cinco vezes mais hipteses de ter filhos alcolicos do que os pais no alcolicos. O facto de os gmeos monozigticos se revelarem mais concordantes entre si em relao ao alcoolismo do que os dizigticos, refora a ideia de uma etiologia da doena mais gentica do que ambiental. maior a frequncia de alcoolismo na idade adulta nas crianas adoptadas com pais biolgicos alcolicos, do que naquelas das quais s os pais adoptivos eram alcolicos. incontestvel o aumento do risco de comportamento alcolico nos filhos (rapazes) de alcolicos resistentes aos efeitos do lcool. Considerados estes factores, de salientar que os comportamentos alcolicos, at chegarem ao estdio da dependncia, so um processo e no um vcio que chega de forma instantnea, no qual o tratamento outro processo ainda mais demorado. Entre as vrias causas da dependncia, sempre seguindo os autores acima referidos, podemos evidenciar quatro, como sendo as mais importantes: 1. Acessibilidade evidente que, para o consumo de uma determinada substncia, fundamental a possibilidade de um acesso fcil. A extenso dos comportamentos de consumo depende da sua legalidade e da disponibilidade imediata daquilo que se consome. Os interesses econmicos que se alimentam destes comportamentos promovem no s a sua produo como a sua promoo; 2. Factores de personalidade Em determinados tipos de personalidade predominam caractersticas de impulsividade ou de compulsividade. Estas podem, com maior facilidade, desenvolver 56. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 34 comportamentos repetitivos, orientados para a procura do prazer ou para o alvio de estados emocionais desagradveis; 3. Factores situacionais Situaes de crise pessoal e social, geradoras de sofrimento psicolgico e de vivncias de vazio existencial, criam as condies ideais para indivduos mais vulnerveis procurarem, atravs de determinados consumos, o alvio das suas frustraes e inseguranas e o preenchimento do vazio existencial; 4. Caracterstica dos consumos Para que se generalize um consumo, tem de se obedecer a determinadas caractersticas: a) ser legal, de forma que a sua utilizao no acarrete a marginalizao do consumidor; b) no ser demasiado dispendioso, o que permitir uma maior difuso e impedir que o consumidor resvale para comportamentos ilegais; c) finalmente, que as consequncias negativas do consumo no se faam sentir a curto e mdio prazo, de forma que deixem passar uma imagem clara: a inocuidade do seu consumo moderado. A perda de controlo para deixar de beber , pois, um trao caracterstico das pessoas com dependncia alcolica. A perda de controlo tem sido descrita como a dificuldade para controlar a quantidade de consumo de lcool, uma vez que se tenha comeado a beber, ou como a incapacidade para decidir continuar a beber ou no, numa determinada situao. O alcoolismo, como forma de toxicodependncia, foi definido pela Organizao Mundial da Sade (OMS), em 1955, da seguinte forma: So alcolicos aqueles bebedores excessivos, cuja dependncia do lcool tenha alcanado tal gosto, que d lugar a transtornos psquicos, a complicaes somticas e/ou a conflitos nas suas relaes interpessoais e nas funes sociais. O uso continuado do lcool gera tolerncia ao mesmo, ou seja, um estado de adaptao da pessoa, caracterizado pela diminuio dos afectos com a mesma quantidade de lcool e pela necessidade de uma maior quantidade de bebida para provocar a mesma intensidade de afecto. Quando a pessoa se 57. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 35 encontra sujeita falta de administrao de lcool, produz-se a dependncia fsica, caracterizada pela apario de uma srie de transtornos e alteraes fsicas que se manifestam atravs de tremores, sudorese, fadiga, insnias e nuseas. Estes sintomas podem observar-se isolados; contudo, o mais frequente que surjam associados. As caractersticas deste estado de dependncia esto relacionadas com a quantidade de lcool ingerido e com o tempo decorrido desde a privao do mesmo, bem como com outros factores individuais. Quando a dependncia muito intensa (depois de entre 5 e 15 anos de consumo excessivo), a sintomatologia pode ser muito grave, com a apario de tremores, crises convulsivas frequentes, temperatura elevada, sudorese excessiva, taquicardia, linguagem incoerente e estados alucinatrios e delirantes com perda de gua e potssio. A dependncia psquica aparece quando existe um sentimento de satisfao e um impulso psquico que exige o consumo regular e contnuo do lcool. O estado de dependncia um estado progressivo. A princpio, os sintomas aparecem de forma isolada e, progressivamente, vo aparecendo mais indcios que esto patentes crescente necessidade do lcool na pessoa. A dependncia de substncias, nomeadamente de lcool, tem vindo a afirmar-se de tal forma que encontrou lugar na ltima verso de classificao norte- americana de perturbaes mentais (DSM-IV-TR, 2000). Podemos afirmar que um indivduo dependente de substncias, quando satisfizer trs ou mais dos seguintes critrios, durante, pelo menos, doze meses: 1) Quando a tolerncia substncia se possa definir por qualquer um dos seguintes aspectos: a) necessidade de quantidades crescentes da substncia para atingir a intoxicao ou o efeito desejado; b) diminuio acentuada do efeito com a utilizao continuada da mesma quantidade da substncia. 58. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 36 2) Quando a abstinncia da substncia provoca um dos seguintes efeitos: a) sndrome de abstinncia caracterstica da substncia; b) consumo da mesma substncia (ou outra relacionada) para aliviar ou evitar os sintomas de abstinncia. 3) Quando a substncia frequentemente consumida em quantidades superiores ou por um perodo mais longo do que se pretendia. 4) Quando existe desejo persistente da substncia e que os esforos para diminuir ou controlar a utilizao da mesma sejam ineficazes. 5) Quando dispendida grande quantidade de tempo em actividades necessrias obteno e utilizao da substncia e recuperao dos seus efeitos. 6) Quando a participao em importantes actividades sociais, ocupacionais e recreativas abandonada ou progressivamente diminuda. 7) Quando a utilizao da substncia continuada, apesar da insistncia de um problema persistente ou recorrente, fsico ou psicolgico, provavelmente causado ou exacerbado pela utilizao da substncia. Por outro lado, o grau de dependncia entendido como um contnuo, mas com diferentes graus de gravidade: a) Leve: quando os sintomas so poucos ou nenhuns, para alm dos requeridos para estabelecer o diagnstico, mas provocam uma leve deteriorao da actividade laboral ou das actividades sociais habituais; b) Moderado: sempre que os sintomas e a deteriorao por eles provocada se situam entre o leve e o grave; c) Grave: se houver outros sintomas, para alm dos referidos que servem para estabelecer um diagnstico, que interferem consideravelmente na vida laboral e/ou nas actividades sociais habituais; d) Em remisso parcial: quando h consumo moderado da substncia e alguns sintomas de dependncia durante os seis meses anteriores; e) Em remisso completa: sempre que no se verificar o consumo da substncia, ou, se o houver, no for acompanhado de nenhum sintoma de dependncia durante os seis meses anteriores. 59. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 37 Tipologias do Alcoolismo Os comportamentos alcolicos constituem um grupo diverso, cujo nico trao comum o consumo abusivo de lcool. Este consumo nocivo para a sade fsica, mental e para a integrao social. Foram propostas diferentes classificaes, com o intuito de definir subgrupos homogneos. Distinguem-se assim embriaguez crnica de intermitente, e tambm primria de secundria. As ltimas diferenciam-se quando existe uma perturbao mental associada a comportamento alcolico anterior perturbao. Existem ainda outras classificaes que assentam na combinao de mltiplos factores, como a idade, o sexo, antecedentes familiares de alcoolismo, o incio do comportamento alcolico, e factores neuropsicolgicos e psicopatolgicos. Os estados de embriaguez crnica e intermitente andam associados e registam-se na maior parte dos doentes em estado de intoxicao agudas. Nos homens, a embriaguez crnica mais frequente e, muitas vezes, precedida de um perodo a que podemos chamar de treino: bebe-se de livre vontade, muitas vezes em grupo ou no caf. Estes perodos de treino no geram sentimentos de culpa e so raras as vezes que levam embriaguez. Os comportamentos alcolicos crnicos, resultantes de uma perturbao psiquitrica, envolvem o consumo solitrio e so mais frequentes em mulheres sendo, muitas vezes, provocadas por depresses. Na embriaguez intermitente, os indivduos bebem esporadicamente, mas em tal abundncia que chegam, no raro, ao coma. Estes perodos alternam com outros perodos de abstinncia auto-induzidos e de durao varivel. Os indivduos so assim bruscamente assaltados por uma necessidade de beber intensa e impulsiva, lanando-se sobre a bebida mais acessvel. 60. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 38 Nestes casos, as crises so marcadas por automatismos ambulatrios, com alteraes do comportamento, deambulaes sem rumo, comportamento sexual anormal, aces delituosas ou criminais e at suicdio. Estes comportamentos dipsomanacos a classificao de Magnan (citado por Ads & Lejoyeux, 1997) so muito raros. Porm, j no to raro que as embriaguezes agudas acabem em dependncia alcolica crnica. Estas embriaguezes podem representar um modo de utilizao toxicomanaca do lcool, cada vez mais frequente entre os adolescentes. O lcool transforma-se assim numa verdadeira droga, como complemento de outras substncias txicas. O alcoolismo primrio abrange as formas de comportamento alcolico que representam uma perturbao instalada num indivduo. Ao contrrio, o alcoolismo secundrio implica a coexistncia do comportamento alcolico com perturbaes psiquitricas. Tais perturbaes so anteriores ao incio do consumo abusivo de lcool, independentes do alcoolismo e presentes durante os perodos de abstinncia. Uma outra classificao apresentada por Cloninger (citado por Ads & Lejoyeux, 1997), cujos pressupostos so de ordem biolgico-comportamental, postulando a existncia de trs dimenses da personalidade. So elas a procura da novidade, o evitar o perigo e a dependncia da recompensa, cujas variaes num indivduo determinariam a forma de alcoolismo. O mesmo Cloninger classifica o alcoolismo em dois tipos: a) O tipo I caracteriza-se por ter um incio tardio (depois dos 20 anos) e uma evoluo lenta; os factores de risco podem ser genticos, ou seja, pode existir abuso de lcool num dos pais, mas no existe dependncia alcolica na famlia; implica perturbaes do meio e na infncia, tais como carncias afectivas, separao precoce e desorganizao familiar. b) O tipo II diz respeito ao sexo masculino, quase em exclusividade, e definido por um incio precoce (antes dos 20 anos), andando associado a comportamentos anti-sociais, cujos factores de risco so claramente de ordem 61. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 39 gentica, em que existe dependncia alcolica do pai, e de ordem neuropsicolgica. Voltando ao alcoolismo primrio, este corresponde, na maior parte dos casos, ao tipo II, referido por Cloninger. O comportamento de incio precoce, tem uma forte carga gentica e biolgica e os factores que favorecem o aparecimento da dependncia so a impulsividade, as alteraes do comportamento social e a procura de emoes fortes. Por outro lado, o alcoolismo secundrio tem um incio tardio e uma evoluo lenta representando, na maioria dos casos, comportamentos de auto-medicao pelo lcool, tendo como causas a ansiedade, fobias, depresso e outras perturbaes graves da personalidade. Sndrome do Alcoolismo O consumo de bebidas alcolicas pode provocar estados de intoxicao aguda, com agitao psicomotora, estado de desinibio, risco de acidentes, comportamentos agressivos e traumatismos. Implica tambm modificaes nos reflexos psicopatolgicos, com graves alteraes da personalidade e da afectividade, estando associado a outros sintomas de risco, incluindo delrios e propenso para o suicdio. H ainda um enorme risco de evoluo para a poltoxicomania, ou seja, a passagem para outras drogas (Ferreira-Borges & Filho, 2004). A nvel neurolgico, os efeitos do lcool podem resumir-se reduo da actividade cerebral. Os neurnios do sistema nervoso central so destrudos pelo lcool, podendo prejudicar a memria de curto prazo. Nos estudantes, uma dose excessiva de lcool, ou uma quase habituao ao mesmo, perturba a capacidade de memorizar factos recentes, diminui a capacidade de 62. OO CCoonnssuummoo ddee BBeebbiiddaass AAllccoolliiccaass nnaa PPooppuullaaoo EEssccoollaarr JJuuvveenniill 40 aprendizagem e pode mesmo levar perda de capacidades cognitivas. O crebro leva mais de uma semana para recuperar os efeitos do lcool, por isso o alcolatra, nos dias seguintes embriaguez, poder ter dificuldade a compreender conceitos, o que leva a uma reduo do rendimento escolar, acadmico ou profissional. Nos demais rgos, os efeitos no so menos nocivos sempre de acordo com o estudo de Ferreira-Borges & Filho (2004), a nvel do sistema gastrointestinal, sendo um agente irritante, pode contribuir para lceras e gastrites hemorrgicas. As hemorragias agudas do aparelho gastr