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O Cubismo de Picasso e Braque certamente um dos mais legtimos desdobramentos da arte de Czanne, porem esta no sua nica fonte e a influncia da Arte Primitiva igualmente importante para suas definies formais.Queria voltar a enfatizar um momento crucial que se apresentou diante de Picasso e Braque e que tambm se colocou mais ou menos nos mesmos termos diante de Morandi.A evoluo da obra de Czanne levava necessariamente a uma radicalizao de dois aspectos fundamentais na obra do provenal, mas que na obra de Czanne permanecem magistralmente equilibrados, a saber, a evidenciao da linguagem plstica, da desocultao do meio plstico como constitutivo do processo de apreenso da realidade, e por outro lado do sentimento e da percepo de um espao em profundidade corporalmente determinado.Ao levar qualquer um destes aspectos s suas ltimas consequncias, necessariamente rompe-se o equilbrio entre eles, duramente mantido por Czanne em suas obras. Picasso e Braque, ao enfatizarem os aspectos lingusticos em sua obras cubistas mais bem sucedidas, acabaram por fazer sucumbir a espacialidade em profundidade cezanniana. Essa perda no passou despercebida, e em uma atitude de sistemtica alternncia de polaridades, Picasso acusa o golpe ao trabalhar toda uma srie de telas, concomitantes s telas cubistas, onde busca esquematizar uma srie de figuras cujos volumes pictricos so verdadeiros corpos esculturais, desenvolvendo os blocos esquemticos em uma espacialidade profunda.A introduo da lgica estrutural dos elementos apreendidos na Arte Primitiva, introduzem um diferencial entre o modo de apreenso da realidade concebido por Czanne e a variao na abordagem realizada pelos cubistas, divergncias essas que tero consequncias diretas na obra de Morandi.No retrato de Fernande Olivie, ento sua companheira, cujo ttulo La Femme aux Poires a referncia imediata Czanne e seus retratos de Madamme Czanne. A ideia de uma representao com nfase nos princpios estruturais rege a organizao das formas.Picasso havia utilizado um sistema parecido para separar em grandes volumes as diferentes partes do corpo na representao das figuras de sua fase negra, mas estas figuras tinham um critrio de diviso mais esquemtico do que analtico. Picasso nessa pintura articulou o volume a partir de uma anlise minuciosa e do escrutnio dos elementos constitutivos do rosto e da cabea da modelo. Na pintura da cabea de Fernande, uma aguda observao visual, se soma um rigoroso processo de filtragem intelectual, que visa isolar os elementos formais bsicos que viro a constituir a face representada. H uma crescente sensao escultrica que este facetamento produz, algo at ento no alcanado nas pinturas cubistas desse primeiro perodo. No por acaso, logo em seguida, Picasso esculpe uma cabea em bronze muito similar morfologicamente.Na obra de Picasso alternam-se produes paralelas, durante o perodo das pinturas negras, entre Les Demoiselles DAvignon e a fase cubista analtica, a produo oscilava entre pinturas que tratavam a figura humana com nfase em sua volumetria escultrica e outra parte da produo mais superficial e planar. A questo da alternncia entre pinturas mais enfaticamente planares e outras mais volumtricas com nfase na construo espacial, esse dilema entre a tendncia a privilegiar a linguagem plstica ou a espacialidade, est no centro do problema das diferenas entre os cubistas e Morandi na retomada de Czanne. Esta mesma oscilao entre uma preocupao com a volumetria e outra com a planaridade tambm ocorreu no perodo cubista, nos anos imediatamente posteriores pintura de La Femme aux Poires, Picasso pinta uma srie de retratos que vo se tornando cada vez mais superficiais e que vo culminar no Retrato de Kahnweiler. Na tela de 1910, Garota com Bandolim, tambm conhecido como Retrato de Fanny Tellier, pintura inacabada de Picasso, podemos perceber, auxiliados pelo estado intermedirio em que a pintura se encontra, todo o processo de construo da pintura. A figura representada mais facilmente reconhecvel do que na maioria das obras do mesmo perodo. No me parece despropositado inferirmos a partir da uma preocupao do artista em, ao menos em seu estgio inicial, tomar como ponto de partida a observao direta de seu modelo, apoiar-se na sua existncia material, e ter um algum grau de comprometimento e dependncia com sua aparncia fsica.A racionalizao da figura, nesse estgio, no integral, ainda depende do modelo externo e da percepo. Na verdade, a independncia absoluta de um referencial externo jamais chegar ao seu limite, uma vez que, se os artistas viessem a praticla ao seu extremo, isso inexoravelmente os levaria a uma abstrao plena, a qual, nem Picasso, nem Braque praticaram. Percepo, memria e racionalizao entram em uma dinmica de dominncias alternativas como regentes do processo de construo da imagem plstica, ora prevalecendo, uma ora outra, revelando aspectos diversos do objeto representado, trazendo a para a tela a complexidade da realidade visual e suas diversas instncias constitutivas.Se estou correto na minha especulao sobre o processo pictrico de Picasso, se este parte de uma volumetria de princpio sensvel em direo uma planaridade fundada em um processo de anlise intelectual, este pode ser um importante ponto de partida para compararmos o mtodo de Picasso com o processo de pintura de Morandi e assim estabelecermos suas diferenas, tanto nas suas relaes mtuas, como nas apropriaes individuais do legado de Czanne.O dilema ao qual haviam chegado Braque e Picasso entre iluso de profundidade e representao chegou a um limite. A fragmentao da superfcie plstica j havia levado a um ponto em que o reconhecimento do objeto s era possvel atravs de chaves ou pistas muito esquemticas, que auxiliados pelas sugestes do ttulos das telas induziam ao espectador reconhecer os objetos de representao. Se nas telas do Cubismo Analtico ainda havia alguma dependncia da percepo imediata e da observao direta do motivo, ainda que mediada por uma apreenso bastante intelectualizada e racionalizada, o dilema entre iluso espacial e representao forou uma escolha de um dos termos em detrimento do outro. A opo foi pela representao dos objetos, mas uma representao, que para ser coerente, s era possvel se fosse destituda de seus atributos espacializantes, um tipo de representao imagtica, muito esquemtica e geral, que nada tem em comum com o processo de percepo e observao da realidade exterior, e cujo vnculo, entre a imagem representada e o objeto exterior, construdo exclusivamente por ligaes simblicas, pertencentes a uma estrutura e ordem diversa das ligaes simblicas promovidas pela representao da perspectiva tradicional, Este foi o dilema e a etapa fundamental que levou passagem do Cubismo Analtico para o Cubismo Sinttico:Da mesma maneira que a divulgao e o suporte dado a Morandi pelas revistas, promovendo sua carreira e o retirando do ostracismo bolonhs, Morandi foi igualmente til s revistas. Colocando-o como exemplo paradigmtico do modo de vida digno e ordeiro, respeitoso das tradies e dos valores da terra, atento importncia das coisas simples e capaz de apontar a beleza do campo para aqueles que no as enxergavam pelo alarido das cidades, Morandi era o exemplo vivo da possibilidade do ideal do homem strapaesano.