o demônio branco
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O DEMNIO BRANCO
ROLANDO JNIOR
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Dedico este conto primeiramente a DEUS pela luz recebida e pelodom me dado, a minha esposa Adriana que sempre me apia emcada palavra digitada e a J.R.R. Tolkien, que sem ele, nenhuma dasestrias medievais existentes, seriam to emocionantes.
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O Demnio BrancoRolando Jnior
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Copyright Rolando D. F. Jr. (Rolando Jnior), 2010O Demnio [email protected] http://mestre-book.blogspot.com/
Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo total ou parcial desta obra atravsde quaisquer meios.
Capa:Edio e Reviso
Jnior, Rolando Dornelas Ferro. 1978O Demnio Branco / Rolando JniorBarbacena, MG
294 pginas
1 . Romance 2 . Fico 3 . Guerra 4 . Fantasia 5 . Medieval 6 . Suspense
I . Ttulo II . Srie
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ndice
Lembranas.......................................................7Revelaes.......................................................25
O Demnio Branco ..........................................32
Refgio............................................................53
Barbrie...........................................................79
Renncias..........................................................97Ira......................................................................110
Sobrevivncia .................................................126
Alegrias e tristezas ..........................................136
Preldio............................................................156
Batizado...........................................................175Destino.............................................................192
Treinamento Final ...........................................210
Eles..................................................................226
Sobrevivncia ..................................................242
Uma nova chance .............................................248Cobia........ .....................................................271
Eplogo ...........................................................288
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Segue abaixo uma listagem dos principais nomes citados nesta estria. Como somuitos e incomuns, decidi adicionar este atalho para que leitura flua constantemente.Evite l-los antes da estria, pois nela contm algumas informaes sobre a mesma.
NOME DOS PERSONAGENS
ASKAFILHA ADOTIVA DE PERSAN
KEYSHAMELHOR AMIGA DE ASKA
PERSANPAI DE ASKA
ANERYDEMNIO BRANCO
RENTURFERREIRO DA VILA
EFLIUSNOME DE UM MAR AO NORTEAZUL MARINHO
ARTELOSREI DAS TERRAS DO BOSQUEPOLOMEUIRMO DE ARTELOS E PAI DE NLIZAN
NLIZANFILHA DE POLOMEU E ME DE ASKA
NNOMASCIDADE PORTE MDIO VIZINHA DA VILA DE ASKA
VILA DE TNISVILA ONDE MOROU ASKA NA INFNCIA
SR. TALIBEVELHO ESCLEROSADO, PAI DE AKONYA
AKONIAFILHA DE TALIBE, EMPREGADA REAL
APNCIOLDER DOS REFUGIADOS.
FABIANESGRIMISTA CEGO QUE TRABALHOU NO CASTELO
MADABUSCIDADE PORTURIA DE GRANDE PORTELAR DE FBIAN
ALURDIS E LAMARDISIRMS GMEAS COZINHEIRAS DO SACERDOTE.
CALIUSSACERDOTE DA CATEDRAL DE INX EM NNOMAS
LUDRIELPAI BIOLGICO DE ASKA
ZAMORAELFA ANCI QUE TREINOU A ME DE ASKA ANOS ATRS
NADINEAMAZONA RUIVA DA CIDADE INVISVEL
RAPHIAUM DOS ANJOS DE INX. COMO UM ESPRITO.OLIDRIELANJO DE INX QUE COSTUMA AUXILIAR OUTROS ANJOS.
MITRYCIDADE DE PORTE MDIO, ONDE VIVE O PAI DE ASKA.
ZUNNURYSUCCUBUS QUE CRIOU O ELMO DO DEMNIO BRANCO.
DORLAVAX VASHMUNBARO DAS TARTREAS.
TARTREASREINO LONGINCUO DE ONDE VEIO ANERY E O BARO.
LMIARCIDADE MURADA ONDE ASKA CONHECEU O BARO.
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Captulo 1Lembranas
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Nestas eras de trevas em que nos encontramos, onde os
mortos so incontveis e o cheiro de podrido torna-se
parte de nossas vidas, nossos coraes ardem de tristezasempre que nos deparamos com este cenrio catico. Os
corvos se multiplicaram muito desde que o cu se tornou
vermelho e as nuvens negras. difcil distingui-los no
cu mesmo ao dia. H muito tempo venho os observando
e descobri que esto ficando mais inteligentes epresunosos. Eles no esperam mais suas vtimas
morrerem como antigamente faziam, eles agora at
ajudam o desventurado morte mais rpida. As moscas
tambm cresceram de nmero absurdamente. So tantas,
que em determinadas reas fica invivel caminhar semleno boca. Estes insetos eu acredito, que esto
evoluindo, pois eu nunca vi em toda a minha vida um
bando deles voarem em sinistra sincronia para atacar
doentes e velhos, praticamente tentando devor-los assim
como os corvos. O farto banquete de cadveres em todosos lugares facilitou a proliferao destas moscas sem
alma e sedentas de sangue. Acredito que sua populao
tenha crescido tanto, devido falta de seu mais temido
predador, ao qual sempre desconheci, mas que acredito
ter seu habitat na antiga e lmpida gua. Esta por sua
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vez no tem outra cor seno a do cobre. Acredito que seja
uma mistura do sangue dos mortos com sua carne
decomposta que habita o seu interior. Somente a chuvaainda nos mantm vivos. Os tempos difceis infelizmente
terminaram, agora, s nos resta o fim dos tempos. Nunca
pensei que fosse dizer isso, mas, do jeito como vo as
coisas, no acredito que pelo menos os humanos vivam
por mais um ano. Se este sempre foi o desejo dos deuses,como nenhum profeta ou orculo previu isto? Ser que
ento eles no esperavam por tanto mal? Ou ser que o
grande panteo no seja preo contra ele? Se os deuses
tm como alternativa a fuga, ns, meros mortais, o que
temos de escolha? Onde poderamos esconder nossavelha esperana e morrer com dignidade se que temos
direito a ela? E se pudssemos, mesmo que por um
momento, desfrutar de uma chance de acabar com este
preldio infernal em que estamos vivendo? E se essa
possibilidade existe? Quem ser o abenoado dos deusespara acabar com todo o nosso sofrimento? Minha espada
no mais busca morte e sangue, ela busca somente honra.
Mas onde conseguir novamente nossa honra? Quando o
pesadelo vivo cessar? Quando poderemos nos deitar e
somente ter bons sonhos, sem nos preocupar com os
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corvos, as moscas, o mau cheiro e o mau pressgio?
Acho que no cabe a mim responder todas essas
perguntas, mas sim, procur-las onde quer que estejam.
H trs anos, um pouco antes da Era das Trevas, eu
estava fazendo o meu dcimo quinto aniversrio. Meu
pai ainda no concordava com o presente que eu havia
lhe pedido, mas eu sabia que ele me presentearia comele. Eu o conhecia bem e sempre fomos muito ligados
tambm. Acho que por causa da ausncia de minha
me. Eu no me lembro dela nem um pouco. Meu pai me
disse uma nica vez que ela morreu quando eu tinha trs
anos de idade, mas acredito no ser verdade. No sei porque, s acredito. s vezes sonho que eu a vejo na
floresta, sentada ao p de uma rvore bem antiga. Ela
sempre olha pra mim com um semblante triste, chorando.
Eu no consigo chegar perto dela, s fico parada.
estranho. O meu pai evita falar sobre minha me paramim. Pra deix-lo chateado durante o dia todo, basta
tocar nesse assunto. H um tempo que eu no toco no
assunto, acredito que quando chegar a hora ele vai me
falar. Neste dia eu havia acordado bem cedo, meu pai j
havia sado pra lavoura. Estvamos no meio da
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primavera e fazia um calor considervel. Eu e Keysha
fomos colher algumas frutas porque a me dela iria
preparar uma de suas deliciosas tortas pra comemorar omeu aniversrio. Sabamos que no devemos nos afastar
muito da vila porque poderamos nos perder na floresta,
mas este dia nos afastamos e muito. A cada passo dado,
achvamos frutas melhores. Quando percebemos, j
havamos perdido nossa trilha. Keysha tinha um ano amais que eu e estava tentando se manter calma para
pensar em uma soluo. Eu reparei que ela estava aflita
por dentro, mas no demonstrei saber. Estvamos
literalmente no mato sem cachorro at que Keysha teve a
idia de procurar uma rvore bem alta pra empoleirar-se nela e ver se consegue achar nossa localizao. Ento
andamos um pouco e ela achou a tal rvore. Eu j estava
meio cansada de andar e com fome, ento me sentei num
velho tronco seco que servia muito bem como banco e
peguei uma ma, que por sinal estava muito suculenta.Enquanto saboreava a ma mantive a minha mente
vazia sem querer. No pensava em nada e parecia que
nem escutava mais. Simplesmente entrei num estado de
concentrao to grande que nem percebi. At o
momento que veio um estalo em minha mente, uma coisa
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da qual no havia percebido uma coisa que estava ali, o
tempo todo e eu simplesmente a ignorava. A rvore em
que Keysha subiu era exatamente a rvore dos meussonhos. Eu neste momento deixei minha ma de lado,
que no parecia mais to suculenta e fui em direo da
rvore. Era exatamente como no meu sonho, fiquei
encantada com ela, sua casca velha e rstica com
dezenas de outras plantas vivendo em sua volta. Eu atoquei com certo medo, pois ela era como se fosse um
fantasma em minha frente. Eu andei em volta dela sem
tirar minha mo, mesmo arrepiada dos ps cabea,
continuei. Senti uma fora estranha correndo em mim,
no conseguia ver nada, mas sentia. E era uma fora tointensa que eu no queria deixar de senti-la. Ento
finalmente achei o canto em que sempre via minha me
no sonho. Ela sempre chorando. Ento decidi sentar-me
na mesma posio em que minha me no sonho. Fechei
os olhos e me senti arrepiada, minhas mos formigavame uma leve brisa pairava por toda a floresta. De repente
ouo um barulho no cho meio surdo, e passos se
aproximando de mim. No sentia a necessidade de abrir
meus olhos porque estava confiante de que o que quer
que se aproxime de mim no poderia me fazer mal. Senti
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os passos pararem em minha frente e depois parecia que
algum havia se agachado. Senti um toque em minha
perna que me fez abrir repentinamente os olhos. EraKeysha pensando que eu adormecera.
_Aska, acorde menina. Diz ela com um lindo sorriso
nos lbios.
Keysha era uma garota muito bonita, tinha cabelo bem
negro e liso, uma pele morena que entrava em contrastecom seus olhos. Estes por sua vez eram lindos, quase que
nicos, eram amarelados, como os de um lobo. Mas que
sempre transmitiam confiana. Eu a considerava como
uma irm.
_Eu estava acordada, s que meio que em um transe. -Disse colocando-me em p Esta rvore idntica a
rvore dos meus sonhos. A rvore em que minha me
chora.
_Aska, isso deve ser s uma coincidncia, voc deve j
ter vindo nesta parte da floresta e visto essa rvore._Tenho certeza que no estou errada. Eu senti uma coisa
estranha me chamando a ateno nesta rvore.
_Eu no senti nada, subi nela, vi o caminho e desci. E
nada de mais.
_Voc achou a trilha?
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Keysha riu balanando a cabea num sim.
_E deu at pra ver a vila, essa rvore bem alta.
_Que bom, eu fico mais tranqila. Keysha ser que vocme espera um pouco? Gostaria de rezar pra minha me
ao p desta rvore.
_Claro Aska, claro.Keysha se afasta um pouco pra me
dar um pouco de privacidade. Ento eu me ajoelho para
iniciar a reza e sinto algo machucar meu joelho, algomeio pontiagudo. Vejo que no poderia ser uma pedra,
pois quase me cortou. Desenterrei e descobri que se
tratava de uma flecha. Mas no era uma flecha comum,
ela parecia ser toda de prata, mas era muito leve pra ser
desse material. Parecia ser o peso de uma flecha comum.Ela no tinha nenhum detalhe a mais a no ser que
parecia estar nova.
_Keysha, olha o que eu achei. Levantei o objeto para
mostr-la.
Keysha veio em minha direo e ficou surpresa quandodisse como a achara.
_ linda. Parece que foi feita agora e no parece ter o
peso da prata. Como pode?
Contrai os ombros sem ter a resposta de sua pergunta.
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_V conversar com Rentur, ele faz armas h muito
tempo, deve saber de onde veio essa flecha.
Eu concordei com a cabea e um sorriso, pois pelomenos parte do presente de aniversrio eu j havia
ganhado. Faltava somente o arco que eu pedira para
meu pai como presente. Mesmo ele no concordando,
coitado, sempre fez tudo para me deixar feliz e completa
com ele. Sei que era para suprir a falta que minha mefazia. Ele sempre foi um bom homem e eu sempre
admirei isso nele. Quando chegamos notamos certa
preocupao de alguns em relao ao nosso sumio,
principalmente meu pai, que queria saber de tudo o que
aconteceu, menos da flecha. Eu me despedi de Keysha efui procura de Rentur, o ferreiro da vila. Ele o tipo de
pessoa em que se pode confiar, amvel e com um bom
corao. J ouvi dizer que antes de ser ferreiro ele era
poeta e era casado com uma linda mulher que morreu ao
completar o segundo ano de casamento. Desde esse diaele parou de fazer poemas para fazer armas e
ferramentas. Sua vida particular um mistrio. Sua loja
ficava no lugar de um antigo cmodo de sua casa que foi
adaptado para suportar a fornalha. Rentur era bem
velho, mas muito forte, era bem bronzeado e tinha um
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cabelo branco na altura dos ombros. Esses por sua vez
eram completos com uma barba espessa com duas
pequenas tranas feitas a eras atrs no queixo. Seusolhos eram to azuis quanto o mar de Eflius.
_Bom dia Rentur.
_Oh! Bom dia Aska, como vai o seu pai?
_Bem obrigada.
_Em que posso ser til?_Gostaria que voc me dissesse o que isto.
Eu tirei a flecha de baixo de minha blusa, pois no
queria levantar suspeitas sobre ela. Rentur olhou-a como
se fosse a ltima flecha do mundo.
_Onde a achou?_Em nossa floresta.
_ magnfica. E muito mais leve do que aparenta.
_Trouxe para ver se o senhor a conhece.
_Pelos deuses. Essa flecha... acredito que ela foi forjada
a muitos milnios por ferreiros dominadores da magia.Uma raa j extinta.
_E o que ela tem de mais?
_H muito tempo atrs, quando os drages voavam com
freqncia nos cus, uma criatura gigantesca havia
despertado e trazia terror a todos que ficavam em seu
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caminho. Um rei que j perdeu seu nome nos dias de
hoje, ordenou ao Orculo que lhe dissesse como matar o
gigantesco tit eficientemente antes que invadisse suasterras. O Orculo ento lhe disse que nas costas da
besta, havia uma prece, e que se qualquer coisa a ferisse
naquela regio, a grande fera cairia nos braos da
morte. O rei ento pediu para que o seu ferreiro mgico
criasse algo com esta finalidade. Depois de trs dias semmesmo dormir, eis que o ferreiro apresenta ao seu rei
uma nica flecha mgica. Segundo a lenda, o prprio rei
com seu arco, mirou na criatura do alto de uma das
torres bem no meio da prece que havia nas costas do
animal. Foi um tiro certeiro. A flecha mgica, e somenteela, conseguiu deitar um Tit. O rei, sabendo que a
flecha na verdade no matou o animal e sim o
adormeceu, ordenou a seus soldados que atiassem fogo
a ela. O animal nunca acordou, mesmo ardendo em
chamas. Sua carne queimou at virar uma montanha decinzas. Depois que o fogo extinguiu-se o rei ordenou uma
busca flecha que matara o animal. Mas nada foi
encontrado. Com certeza, ela foi jogada fora no meio das
cinzas do Tit. Seu paradeiro at ento estava um
mistrio
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_Uau! Que estria incrvel. Foi verdade?
_Eu acredito que voc carrega consigo a prova de que a
lenda na verdade, um fato._Quer dizer que esta flecha pode acertar qualquer alvo,
mas como?
_Vamos fazer um teste. Rentur ento entrega a Aska
um arco comum. - Tente acertar esta maa bem aqui.
Rentur faz um x com uma faca na ma._Mas dessa distncia vai ser fcil. Voc j colocou alvos
bem mais difceis pra mim.
Ento Aska surpreendida com um pedao de pano em
seus olhos, tampando toda sua viso.
_Vamos experimentar dessa forma._Rentur, assim j demais.
_Voc se lembra da ma que eu coloquei?
_Sim.
_Concentre-se nela agora, especialmente no x que eu
fiz._Tudo bem. Vamos ver se essa flecha realmente isso
tudo mesmo.
Aska se concentra na ma mirando a um metro de
diferena do alvo sem saber, puxa a corda com a flecha
at o final e solta. A flecha zune e faz seu clere percurso
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exatamente no meio do x que na ma havia sem
mesmo despeda-la.
Rentur ri e bate palmas de alegria._Acertei?
_Na mosca minha cara.Com sorriso no rosto
Aska retira a flecha da ma e a limpa na roupa.
_ inacreditvel.
_Este mundo cheio de surpresas Aska. Tanto boasquanto ruins. A pessoa sbia sabe aceitar um bom
presente quando lhe dado. E no aceitar outro se for de
mau desgnio.
Esta foi a ltima vez que vi o pobre Rentur. Ele era umaboa pessoa. Soube me ensinar a arte do arco desde os
meus sete anos de idade. Eu adorava de verdade suas
aulas. Ele cuidava de mim como sua filha. At hoje no
tive chance de descobrir seu passado secreto. De acordo
como ele me tratava, deve ter perdido de forma trgicasua famlia. Eh Rentur... sinto saudades de suas
gargalhadas entusiasmadas. Ele fazia de tudo uma grande
festa. E hoje essa palavra no mais existe em nosso
mundo. Acho que j me esqueci de como se ri. E aprendi
duramente em como nunca chorar. Principalmente pela
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escassez de gua desses tempos. Em que me tornei? Que
espcie de ser eu sou? Que espcie de mundo este se
tornou? A minha raiva nada mais do que o apelodaqueles que j se foram de forma bruta e covarde. Que
reclamam da lotao do mundo inferior de Atrodeon, o
deus das sombras. Malditos sejam todos aqueles que
contriburam para o inferno na terra dos homens. O que
eu no daria para ver o cu azul novamente, como no diado meu aniversrio de quinze anos...
Eu lembro que assim que sa da loja de Rentur com
aquela magnfica flecha ouvi meu pai me chamando. Ele
sempre foi muito preocupado comigo. Eu sempre gosteidisso nele. Na verdade eu gostava de tudo no meu pai.
Seus ombros largos, sua careca sempre suada de tanto
trabalho, seus braos robustos e pernas torneadas, seus
olhos tenros e azuis como o cu que fazia nesse dia. Ele
poderia ser um bom guerreiro com todo esse fsico, masele sempre foi de paz. Sempre mexendo com a terra.
Sempre me disse que derramamento de sangue causa
derramamento de sangue. Que em uma guerra, nunca
existem vencedores, pois se perde muito dos dois lados.
Por isso ele no queria me dar um arco de aniversrio.
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_Aska minha filha, estou te procurando, o almoo est
pronto.
_Desculpe pai, que eu estava conversando um poucocom Rentur.
_Sei, olha antes de almoarmos queria te dar uma coisa,
feche os olhos. Aska fecha os olhos ansiosa. Pode
abrir!
Nos meus quinze anos de vida nunca havia visto algo tolindo. Meu pai segurava na minha frente um belo arco,
longo e robusto. Suas lminas possuam a forma de asas
e sua empunhadura possua cavidades ideais para os
dedos. Ele era prateado, assim como a flecha que eu
achara aos ps da rvore. Ele era to lindo, grande eao mesmo tempo leve. Sua corda desconheo at hoje de
que feita, mas nunca precisei saber, pois nunca me deu
problema algum. Estava to feliz que nem conseguia
sequer me mover ou dizer algo.
_Feliz aniversrio Aska._Pai, lindo.
Dei um forte abrao nele. Aquele momento significava
muito pra mim. Era como se fosse um comeo de uma
nova vida. Era meu sonho.
_Espero que tenha gostado.
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_Pai, ele maravilhoso. Quem o fez? Rentur?
_No, depois te conto a histria toda. Vamos almoar.
Eu concordei, mas no conseguia desviar o olhar paraoutra coisa seno o arco. Meu pai ficou muito contente
por eu ter gostado do presente, mas eu sabia que alguma
coisa o incomodava, talvez seja pelo fato dele considerar
o arco como uma ameaa para mim.
At hoje ele me acompanha. J faz quase trs anos desde
esse dia. Foi o dia mais feliz de minha vida. Sei que
nestes tempos difceis chorar torna-se um desperdcio de
gua, mas meu pai digno de cada lgrima derramada
neste solo estril. J deve ter umas duas horas que estouno topo deste penhasco apoiando meu brao na espada
que um dia rematar toda minha dor. Sentada, esperando
uma oportunidade para agir. Uma leve brisa me avisa que
notcias ruins esto por vir, como se alguma coisa boa
pudesse acontecer nestes dias. Tanta dor, tantosofrimento e tantas perdas. Para qu? Qual propsito?
Ser que Demnio Branco quer tornar este mundo o reino
de Atrodeon? So tantas as perguntas que nunca sero
respondidas. Porque Inx com todo o seu poder no
impediu que tudo ficasse dessa forma? s vezes penso
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que talvez os deuses nunca vo se importar conosco.
Neste momento outra brisa mais forte e gelada me
arrepia. O dia chega trazendo o sol dourado e atemperatura comea a crescer drasticamente. Vejo
medida que o sol sobe o mar de mortos no cho, as
nuvens de moscas se formando e o grasnar dos corvos
que acordam para mais um dia de banquete. Levanto-
me finalmente depois de passar mais uma noite acordadavigiando minha vida da morte certa. Decido ento descer
at o campo onde esto os mortos, pois so eles que eu
tenho que seguir. E todos os dias eu rezo para que tenha
mais mortos, no pelo amargor que minha vida, muito
pelo contrrio. Enquanto eu os estiver encontrando sinal de que ainda h esperana de vida. Enquanto deso
por um caminho estreito e ngreme observo os
predadores que esto logo frente, mas parece que esto
satisfeitos a tal ponto que chegam a ter preguia de
tentarem me caar. Uma vez nos campos, geralmenteando a uma boa distncia dos corpos. Alm deles no me
oferecerem nada, o cheiro terrvel e os predadores
podem resolver variar de refeio comigo. E pensar que
cada uma dessas pessoas no passa de vtimas do acaso
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como meu pai. Naquele dia que ele me dera o arco, era o
ltimo. Se eu pudesse prever pelo menos...
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Captulo 2Revelaes
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Naquele mesmo dia eu havia ficado muito pouco com ele
porque eu e Keysha resolvemos brincar de tiro ao alvo.
Ela nunca soube realmente porque eu acertava todos osalvos com aquela flecha prata, se bem que eu acho que
ela desconfiava. Hoje eu entendo que aquela tarde foi
separada para nos despedir, mesmo sem saber do futuro,
eu naquele dia desconfiei disso. Como em casa, mais
noite, tomando um caldo delicioso que s meu pai sabiapreparar, sem mais nem menos decidi que a hora da
verdade havia chegado.
_Pai!
Ele a olha enquanto toma um pouco do caldo
diretamente de uma cumbuca._Gostaria que me falasse sobre mame.
_Ns j conversamos sobre isso, Aska.
_Eu quero a verdade pai.
Eu senti um pesar em seu olhar e me preparei para no
perder nenhum detalhe._, eu acho que j est na hora de voc saber a verdade
sobre sua me. H quinze anos eu estava seguindo em
direo a Escola de Hulmeer, uma das mais
conceituadas escolas de formao de guerreiros reais.
Eu tinha o intuito de me tornar um grande guerreiro e
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flecha do peito de sua me para poder enterr-la
dignamente. Porm, veio o inesperado, assim que tirei a
flecha, ela gritou de dor rangendo os dentes. Ela estavaviva e j em trabalho de parto.
_Me ajude jovem, ou perderei minha criana. Disse ela
ofegante.
_O que devo fazer, nunca participei de um parto antes?
_Faa com que a criana nasa a qualquer preo. Desembainhou uma adaga e me entregou.
_Mas vai morrer se fizer isso.
_No temas, sou forte, viverei ainda para dar um nome
criana.
_Faa uma fora pelo menos._No posso, estou morrendo. D chance para quem est
em meu ventre de viver em meu lugar. Faa! disse com
suas ltimas foras.
_Morda isso. Entregando um pequeno galho para
morder._Eu fiz o que ela me pediu, cortei-lhe o ventre de fora a
fora para lhe retirar. Ela foi mais forte do que eu
esperava. Logo em seguida ela te tomou nos braos,
beijou sua testa e disse:
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_Tu se chamars Aska e em nome do rei Artelos, eu te
abeno com a graa divina de que viestes.
Ela olhou para mim com muita preocupao nos olhos eme disse:
_Cuide dela por mim, como um verdadeiro pai, mas no
conte a ela desse ocorrido enquanto ela no estiver
pronta.
_Quem voc? Qual o seu nome?_Eu sou Nlizan, filha de Polomeu, irmo de Artelos, rei
dessas terras. Fui trada...tossindo sangue
_Descanse, voc precisa descansar.
_Entregue meus pertences a ela quando for a hora, ela
far de seu sonho, o destino dela..._Ela agarrou-me pelo brao em seu ltimo suspiro e
morreu com os olhos em voc. Eu a enterrei logo em
seguida ao p daquela rvore junto com aquela flecha
estranha. O buraco foi meio raso, pois no tinha
ferramentas para abrir uma cova. Enrolei voc em umcasaco que sua me estava usando para que no
morresse de frio. Logo em seguida vim andando s
pressas para esta vila para te dar leite. No foi difcil
achar uma ama de leite por aqui, mas tive que contar a
histria para vrias pessoas que nos cercavam naquela
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ocasio, pois acharam muito estranho um desconhecido
com um recm nascido no colo. Alguns acreditaram e
outros no, mas independente disso tive apoio deles,vindo mais tarde, provando a histria ser verdadeira.
_Como ela era pai?
_Voc muito parecida com sua me Aska. Sua beleza,
sua coragem e inteligncia. s vezes penso que o esprito
dela est sempre perto de voc, te ensinando, em sonhostalvez, mesmo que voc no se lembre tudo o que ela
queria te ensinar em vida.
_Eu acho que sempre desconfiei disso pai. Eu sempre
sonhei com ela, perto de uma rvore na floresta. E foi l
que eu achei isso. Tirando a flecha que guardavadebaixo da roupa.
_Pelos deuses, onde encontrou isto? observava
abismado para a flecha
_De acordo com o que voc me contou, acho que foi no
tmulo de minha me._Mas como?
_Hoje, quando sa com Keysha, nos perdemos por um
momento e eu vi a grande rvore que sempre sonho com
ela. No meu sonho, vejo minha me triste, sentada, me
olhando. Eu senti coisas estranhas pai, coisas que nunca
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havia antes experimentado, foras invisveis, calafrios.
Parecia que o vento queria me dizer algo, mas eu no
conseguia ouvir, mas sentia._O que sentia?
_Que alguma coisa muito ruim iria acontecer.
_No seja boba, nada vai nos acontecer. Eu acho que
devamos dormir isso sim.
_Pai, ser que eu poderia algum dia procurar mais sobreminha me. Eu gostaria de ir onde ela morava.
_Claro minha filha, segundo sua me, voc far de meu
sonho, o seu destino. Se isso for verdade, um dia voc se
tornar uma grande guerreira, assim como sua me.
_Obrigado pai. Dando um beijo em seu rosto edesejando-lhe boa noite.
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Captulo 3O Demnio Branco
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Uma fria manh chega, com um ar gelado e um denso
nevoeiro cobrindo toda a vida. Ela aos poucos vai se
renovando da fria noite que passara. O cho estava bemmido e o cheiro de terra molhada era facilmente
reconhecido por Aska assim que acorda. Ela ainda est
muito sonolenta e resolve se revirar na cama um pouco
mais. Persan j acordara e preparava um belo desjejum
com pes, sucos e frutas. Ele se preparava para mais umdia de trabalho rduo na lavoura.
_Persan...
Ao se virar no encontra ningum e se assusta. Procura
com os olhos atentos em toda a cozinha pensando ser
Aska, mas sabia, em seu mago, que era outra presena.Uma forte sensao de aperto no peito tomou conta dele.
Ele se sentiu muito agoniado e suou frio. Sentiu algum
tocar-lhe os ombros e ao se virar se deparou com a
janela da cozinha aberta e do lado de fora vindo uma
forte brisa gelada. O barulho das folhas das rvores quecaam se misturam com algum outro tipo de voz fraca
que vinha de l. Persan no entendia direito, mas
parecia que seu nome fora repetido vrias vezes. Sabia
que aquilo era algum tipo de aviso, mas no conseguia
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adivinhar de quem e pra qu. Ao ouvir Aska se
aproximando respirou fundo e disfarou.
_Estou com tanta fome, hum, quanta coisa gostosa pai?_Hoje eu resolvi caprichar um pouco, acordei mais cedo
e a est o resultado.
_Voc vai pra Capital hoje?
_Aska, Nnomas no a capital de nosso reino.
_Mas l to grande! Eu me perderia por l._ porque voc ainda no conhece, tudo aquilo que
desconhecemos temos medo de encarar nas primeiras
vezes. Quando voc comear a ir mais vezes pra l ver
que s um pouco maior que esta vila. Mas, porque est
perguntando se eu vou pra l hoje?_ que eu queria que voc comprasse pra mim algumas
flechas, para que eu possa treinar um pouco.
Persan ri da sede de Aska em aprender o manejo com o
arco.
_Querida, no seja por isso, acredito que Rentur possafazer algumas flechas pra voc caso no tenha.
_Hum, ento t. No vejo a hora de praticar. Podemos ir
agora?
_Mas j? Voc no comeu nada.
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Aska pega uma ma do tamanho de sua mo e d uma
bela mordida que faz um grande barulho.
_T certo. Vamos l. Rindo da euforia da filha eentregando sua mo dela.
Aquele momento se eternizou em minha memria. O dia,
as conversas, os risos. Eu e meu pai nunca havamos tido
tanto sincronismo, tanta harmonia como neste dia. Eleestava como sempre me escondendo coisas, seu olhar
ainda me transmitia um pouco de melancolia. Os dias
quando passam, parecem que levaram segundos para
terminar, mas vivendo no inferno em que estou, vejo que
o nosso passado tem a durao do tempo que queremosou podemos lembrar-nos dele. J deve haver
aproximadamente uns oito meses que no encontro
sequer um ser humano vivo. E pensar que uma nica
criatura foi capaz de tal atrocidade. O Demnio Branco,
aquele que me transformou no que eu sou hoje, umaguerreira com um passado tenebroso e dramtico que
vive em busca de um futuro de vingana e morte. Maldito
seja Demnio Branco. Eu hei de descobrir mais sobre
voc e usar isso contra tu, peste ftida. Ainda me lembro
do dia em que nos encontramos...
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Aquela manh quando eu e meu pai samos de casa,
tivemos uma viso incomum. Descendo as colinas que
cercavam nosso vilarejo ao oeste, vimos uma enormequantidade de pessoas descendo em direo a nossa vila.
O povo ficou meio que paralisado porque haviam
milhares de pessoas vindo pra nossa vila que mal
suportava seus poucos moradores. Na turba havia s
homens, dentre eles camponeses como ns, guardas dediferentes emblemas, meninos, alguns bem jovens. Todos
eles carregavam algum tipo de arma como pedaos de
pau, ferramentas de fazendeiro e at armas bem mortais.
A maioria deles estava bem ferida e abatida, porm, no
demonstravam isso ao andarem, pois seguiam seu mestrecom afinco. Todos esses homens e crianas seguiam uma
nica figura. Tratava-se de uma mulher montada num
belo cavalo branco. Seu rosto era levemente fino, seu
cabelo de um loiro quase que branco e liso. Dava pra ver
que enquanto cavalgava que seu cabelo chegava at omeio das costas. Apesar da distncia, consegui reparar
em seus olhos e vi que nunca piscavam. Estes por sua vez
eram azuis, mas um azul muito claro, quase cinza claro.
Seu nariz acompanhava o contorno de seu rosto e
tambm era bem fino, sua boca era bem carnuda e
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sempre fechada, sem expresso. Ela era uma linda
mulher, com uma beleza at meio que fora do comum.
Mas para uma mulher to bela sua expresso facial eracomo de algum sem alma. Sem emoo alguma. Sua
roupa ento, era fora do comum, pra comear pelo seu
elmo, que parecia ser a cabea de um demnio, s que
branco. Ela possua tambm uma grande capa branca,
com ombreiras que a deixavam maior do que erarealmente. Sua armadura parecia de couro branco com
desenhos feitos de prata no contorno dos seios e na
definio do abdmen. Este parecia ser ligado a uma
saia de tecido mais solto que chegava at o meio de seus
joelhos. Ela tambm possua um par de botas bem alta,toda branca. Parecia que no havia sequer descido de
seu cavalo, pois parecia impecvel. A tirar pela sua
espada, j em mos, que estava completamente suja de
sangue. No demorou muito pra que ela e seu exrcito
chegasse aos limites de nossa vila, at que acontece oimprevisvel. O meu pai, comea a apertar minha mo e
eu a dele, s que ele comea a apertar cada vez mais
forte e quando olho pra ele, vejo que sua fisionomia
tambm mudara como da moa que chegava perto.
Reparei ento que todos os maridos e filhos estavam
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matando sem piedade suas esposas, filhas e mes. E meu
pai, que tanto amo, pela primeira vez me bate com um
forte murro no rosto fazendo-me cair e deixando-me umpouco tonta. Tento chamar seu nome, mas vejo que ele
no me escuta, ele continua com a mesma fisionomia
plida que aquela mulher. Corro ento para o meu
quarto e tranco a porta. Murros e chutes so dados por
ele tentando arrombar a porta insistentemente. Comeoa chorar, no pela pancada, mas por aquele pesadelo
estar acontecendo. A porta do quarto resistente, mas
meu pai continua a dar socos e pontaps cada vez mais
fortes. Eu comeo a pensar em algo, e logo, porque a
porta no vai parar todos que resolverem arromb-la.Peo ajuda a minha me que nunca cheguei a conhecer.
A porta se racha e comea a despencar aos poucos, pego
meu arco e minha nica flecha e miro em papai. Grito
seu nome e isso s o enfurece cada vez mais, seu olhar de
dio mostra que ele j se fora, por causa de algumacoisa que aquela estranha mulher trouxe consigo. Rezo
para que esse momento seja eterno porque no quero
fazer o que estou prestes a fazer. Penso em seu corao e
fecho os olhos. Desculpo-me no momento em que a porta
se quebra e atiro. Ouo ainda dois passos em minha
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direo e o corpo cai, sem nenhum grito ou grunhido de
dor. Finalmente acho coragem para abrir os olhos e o
vejo pela ltima vez. O momento da despedida foi curtoat que Rentur entra em minha casa e me encara com o
mesmo dio de papai. No havia tempo para pegar a
flecha ou ele me acertaria uma martelada de ferreiro na
cabea. Ento corri em direo da janela que era a
nica alternativa e pulei pra rua caindo no meio delaperto de um cavalo. Para o meu azar o cavalo empina e
me afasto um pouco at que percebo que o cavalo era da
mulher do elmo do Demnio Branco. Seu exrcito logo
atrs pronto para passar por cima de mim. Rentur pula
pela janela e passa bem perto e se junta aos outros. Amulher me encara e eu a encaro. Ela embainha sua
espada ao cavalo e desmonta do animal. Todos os seus
seguidores se ajoelham perante ela. De onde vem tanto
poder? Seria ela filha de um deus maligno? Eu no me
importava, porque de qualquer forma, meu fim chegara.Ela de perto era muito mais aterrorizadora do que se
podia imaginar. Sua armadura no estava to limpa de
perto e suas mos tinham o cheiro de carne podre. Suas
unhas eram curtas e negras de sangue coagulado. Ela
tinha a face da morte e carregava consigo a alma de
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todos os que matou, porque quando ela chegou perto de
mim, todo o meu corpo arrepiou, literalmente, dos ps a
cabea. Ela puxou seu lbio para a esquerda como sinalde um sorriso sarcstico e sem graa. Eu no tinha como
fazer nada naquele instante. Enquanto ela me olhava eu
pensava em alguma forma de acabar com ela, mas s
tinha em mos o arco de minha me sem flechas. Ela
finalmente fez um movimento com o brao to rpido quequando dei por mim s sentia a dor dos meus cabelos
sendo puxados por ela. Ela conseguiu segurar bem perto
do couro cabeludo e doa muito. Mas se sua inteno era
me fazer chorar ou pedir clemncia, ela falhou. Eu no
soltei nenhum grito ou lgrima e nem pedi clemncia,pois de onde ela veio no deve ser conhecida tal palavra.
Ento ela inclinou sua cabea perto do meu pescoo,
apertou mais meu cabelo e chegou at o meu ouvido.
_Garota de coragem. - Sua voz era rouca e sem emoo
_ Matou o prprio pai.Ela respirou com um pouco de dificuldade e continuou:
_Voc tem cheiro de vingana e olhos de assassino. Eu
gosto disso.
_Ento porque no me mata de uma vez se sou um
problema pra voc?Respondi com dio
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Ela me puxou pra mais perto e com muita fora, dessa
vez fazendo com que eu soltasse algumas lgrimas de dor
e sorriu com um pouco mais de emoo._Porque pessoas como voc so raras de se encontrar, e
o mundo, precisar de gente como voc. Com garra.
Deu-me um murro no rosto com a mo esquerda que me
deixou bamba.
_Determinao.Um tapa com as costas da mo que estalou bem alto.
_Coragem.
Comeou a me arrastar pelos cabelos at seu cavalo.
_Ousadia.
Desembainhou sua espada do cavalo fazendo um barulhobem alto de metal deslizando.
_E acima de tudo, fora!
Deferiu em mim um ligeiro golpe de espada contra
minha cabea, enquanto esticava meus cabelos,
cortando-o por inteiro. Eu ca no cho meio sentada emcima do meu arco. Ferida, triste e sem perspectiva
alguma de futuro.
_Parabns garota, voc acaba de se tornar uma
Tartariana como eu, de hoje em diante, esse o dia do
seu nascimento. Ela finalmente sobe em seu cavalo e
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todos se levantam. Ela segue viagem e o exrcito vai
botando fogo em tudo, enquanto caminham atrs dela.
Os homens passam pela garota como se fosse um animalmorto. As chamas comeam a estalar e a ficarem cada
vez mais altas soltando uma fumaa negra que quase
tampava o sol. E eu ali, imvel, desiludida, revoltada,
acabada e recriada. Passavam ali em minha cabea
milhares de sentimentos ao mesmo tempo, deixando-meatordoada at que eu caio e tudo se apaga de repente.
Acordo no meio da floresta perto da vila, defronte
antiga rvore. Minha me estava sentada em uma de
suas razes e me olhava chorando, mas no de tristeza,de alegria. Ela estendeu seus braos para mim e me
abraou.
_Como voc est grande? Vejo que seu pai um homem
de palavra.
_Me? O que aconteceu?_Nada minha filha, mas vai acontecer. E so coisas
muito ruins.
_Uma mulher de branco dizimou minha vila e eu matei
meu pai.
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Lgrimas comeam a rolar por meu rosto. Minha me as
limpa com o polegar e segura levemente meu rosto com
suas mos. To tenras._Minha filha, a morte um processo natural da vida,
no foi sua culpa ter matado seu pai. Aquele no era ele.
_Quem aquela mulher?
Pssaros voam em retirada fazendo um grande escarcu
na floresta._No h muito tempo minha filha, ento me oua. Antes
de fazer o que eu vou te pedir, ache seu pai, e leve
consigo seu corao, ele lhe dar as foras que precisar
e depois, procure por seu av verdadeiro. Ele a ajudar
nesta fase difcil._Mas me?
Uma escurido repentina toma conta de todo o lugar e
eu perco minha me em todos os sentidos. Eu a chamo,
mas no consigo nem sequer escutar mais minha prpria
voz. Um frio denso percorre minha alma e mata minhador, meu sossego se vai e minha esperana perece. O
gosto de terra na boca me faz pensar que talvez j tenha
sido enterrada, confundida entre centenas de mulheres e
crianas. Ser que o inferno se parece com isso? Dor,
frio e dio? Talvez esteja mesmo, destinada a viver no
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inferno. Um forte trovo me assusta e me faz acordar.
Estava ainda no mesmo lugar, deitada, enquanto chovia
forte. Tento levantar-me mesmo sentindo-me fraca.Estivera deitada aqui talvez o dia todo. Lembro-me
agora por que. E isso me d foras para ficar de p
novamente. Pego meu arco e o coloco em minhas costas.
Tento ver a minha volta, mas a noite chuvosa impede que
eu veja atravs das sombras at que um relmpago memostra o que realmente sobrara por um nico segundo.
A verdade que, agora, eu estava sozinha e sem destino.
Caminhando na lama e tropeando em alguns mortos
chego ao que at hoje de manh era minha casa. J no
existia nada l a no ser entulho. Decido mesmo noescuro achar meu antigo quarto. Tinha tanto obstculo
que estava impossvel definir onde era o qu. Decidi
ento achar um abrigo pra noite que parecia no ter
mais fim. Com muito custo, encontrei o que restara da
carroa de papai e fiz uma cabana improvisada com ela.Passei a noite em claro, pensando em tudo o que eu vivi
naquele dia que nunca se apagar de minha mente. Logo
de manh a chuva j cessara e havia deixado um grande
lamaal na vila. Eu levantei para dar uma ltima olhada
em tudo, mas j no havia nada, a no ser escombros e
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gente morta. Amigos, vizinhos, conhecidos, nenhum deles
merecia isso, morrer pelas mos dos que mais amavam.
Lembrei de meu pai e fui procur-lo, desta vez foi bemmais fcil. Ajoelhei ao seu lado e pedi perdo. Seu rosto
estava praticamente negro por causa do fogo, assim
como o resto do seu corpo. Vi tambm a flecha que
atirara nele. Encravada at a metade de seu peito. Tirei-
a com certo cuidado em respeito a ele. Nem mesmo foipreciso limp-la, ela estava como nova. Levantei-me e o
tirei de l. Assim fiz com os que sobraram. Vi Keysha
deitada ao lado de sua me, ambas mortas pelo homem
da casa. Keysha e eu sempre dividamos nossos
problemas, agora, eu me encarrego dos dois lados, serfirme enquanto carrego ela para o pequeno monte de
mortos que fiz e dar-lhe um funeral digno de respeito
pelo menos. Com muito custo reuni todos, banhei todos
com querosene que recolhi de alguns lampies que
ficaram inteiros e ateei fogo a eles. Rapidamente aschamas se espalharam dentre os corpos e uma forte brisa
me desequilibrou um pouco me lembrando que precisava
seguir e deixar as almas partirem. Chorei mais uma vez
ao ver o corpo daqueles que amo, sendo consumidos
rapidamente pelas labaredas. Abaixei a cabea e pedi
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ajuda aos espritos dos grandes sbios que j viveram
entre ns para me ajudarem a seguir em frente rumo ao
meu destino. Vingar a destruio de minha vila e aantecipao da minha juventude que acabara no dia em
que a vi. Viro minhas costas para aqueles que foram
meus amigos, vizinhos e para meu pai, para que eu
consiga sair de l antes que eu me junte a eles. Sigo em
direo da floresta, que de onde devo comear minhajornada. A fogueira diminui de tamanho enquanto me
afasto, mas a dor s aumenta com a distncia.
Ando pela floresta do bosque a procura de frutas e gua.
J me sinto fraca porque h dois dias que eu no como
nada. Acho algumas amoras e mas. Esto maissaborosas e suculentas do que nunca. Levo umas trs em
meus bolsos pra viagem e sigo at o fim da tarde, onde
pego uns gravetos e comeo a fazer uma fogueira.
Consigo me ajeitar ao p de uma rvore e caio no sono.
No dia seguinte acordo e penso estar no meu quartoenquanto tudo no passou de um pesadelo, mas a
verdade logo se revela quando acordo na floresta. Como
uma das mas enquanto sigo caminho em direo a
Nnomas, a cidade vizinha da vila. L eu terei que achar
as respostas das perguntas que me atormentam. Chego
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enfim num precipcio que me d a localizao exata de
Nnomas, pois daqui a vejo inteira. Parece-me ser maior
do que imaginava, talvez tenha crescido desde a ltimavez que vim aqui com papai. E o castelo se destacava de
toda a cidade, imponente, acima de todas as casas. Era
lindo. A cidade era toda cercada por uma redoma de
precipcios onde a deixava bem vista para quem
quisesse ver. Depois de algumas horas de caminhada,chego aos portes da cidade. Existia um murmrio
constante e pessoas andando pra todos os lados. Alguns
com pressa e outros nem um pouco. Havia algumas
poucas pessoas a cavalo a maioria estava a p ou
puxando burros e mulas de carga. Uma grande feira seformava mais a frente e poderia demorar horas para
atravess-la ento decidi escolher outro caminho, mas
teria que voltar um bocado. Talvez passando por esse
beco entre essa taberna e essa casa eu consiga chegar do
outro lado mais rpido. Era bem estreito e escuro, masdava pra passar tranqilamente. Um homem mal vestido
aponta do outro lado e adentra no beco.
_Vem c mocinha, sem fazer barulho. Ele ento puxa
uma adaga oculta na roupa
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Decido voltar pra no criar caso logo no incio e me
deparo com outro, tambm armado com uma adaga j
vindo em minha direo._Calma a garotinha, no tenha medo, cuidaremos bem
de voc.
Eu estava acuada e o pior, s com uma flecha. E eu
tambm no poderia matar ningum numa cidade dessas
com tantos guardas espalhados por a. Pena que notenha nenhum por aqui, mesmo se eu gritar,
provavelmente no escutariam. A gritaria na feira
abafaria meu pedido de socorro. Olho para um lado e
para o outro pensando em como sair dessa enrascada
que me meti. Os dois homens estavam se aproximandodevagar, sem chamar muito a ateno do lado de fora,
mas sem tirar os olhos de mim. Cada um deles estava
num espao de uns cinco a seis metros e eu no meio,
pensando, o que fazer?De repente me veio uma idia,
rodei meu arco das costas para o peito, coloquei minhascostas na parede da casa e forcei meus ps contra a
taberna e subi rapidamente. Os dois como eram bem
maiores do que eu tiveram certa dificuldade para
chegarem at mim, mas quando isso aconteceu eu
praticamente j estava no segundo andar. Estava com
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medo, mas bastou no olhar pra baixo. Os dois homens
no podiam gritar que poderiam chamar a ateno de
algum guarda e desistiram de mim assim que cheguei aotelhado da casa. Isso deixou minhas costas totalmente
arranhadas, mas salvou a minha vida. De cima do
telhado eu consegui traar uma rota at uma igreja,
acredito que l eu terei algum tipo de apoio. Agora o
problema como descer?Aska deu uma boa olhada em volta e reparou que a parte
de cima da taberna no possua telhas alm de possuir
um alapo provavelmente para um sto. Acredito que
se eu der um espao pra trs, posso dar uma corridinha
antes de pular e...Neste momento um pedao do telhado cede e Aska cai
dentro da casa criando uma enorme sujeira e um barulho
infernal. Aska no se machuca, mas fica imunda e
praticamente laranja, tossindo sem parar. O barulho
cessa e Aska se levanta sentindo uma pequena dor decabea. Ela caiu num quarto de tralhas velhas, o lugar
parecia j estar abandonado h muito tempo. Mas, pelo
barulho de fechadura abrindo a porta, Aska notou que a
casa no estava nem um pouco abandonada. A porta se
abre e ela se depara com um senhor de boa idade,
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estatura mediana e bem magro, um de seus olhos parecia
estar fechado ou quase e o outro tinha um cacoete de
ficar tremendo. Seu nariz era enorme e com formato debolota e bem vermelho. Sua boca j no parecia ter mais
dente algum. Seus poucos cabelos eram bem brancos e
atrapalhados, cada um seguia uma direo diferente. Ele
vestia o que parecia ser um pijama todo marrom e estava
com os ps descalos._Pelos deuses! Mas que baguna essa sua ladra sem
servio?- gritava ele -
_Senhor espere...
_Voc vai ter que arrumar essa desordem toda que voc
fez sua excomungada._Senhor eu...
_E olha o que voc fez com o telhado, agora a droga da
luz do dia vai entrar no meu santurio.
_Me desculpe...
_Calada! Neste aposento ningum deve falar seno eu!_Mas...
_Eu vou chamar a guarda agora mesmo pra voc fazer
essa baguna l no calabouo do castelo.
_Calma...
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_E tem mais, eu conheo o carcereiro e vou pedir pra ele
te torturar toda a noite sua intil.
Neste momento Aska percebe a aproximao de outrapessoa, desta vez uma jovem moa bem aparentada com
os cabelos presos em um coque e uma vestimenta de
servial real. Ela tinha um olhar brando e suas feies
eram pequenas. Ela apoiou suas mos aos ombros do
velho homem e sorriu mantendo uma calma contagiante._Senhor Talibe, um homem o procura l embaixo, parece
ser da guarda real.
O velho homem olha para Aska mais uma vez com
inteno de dedur-la e vai para o andar inferior.
Aska fica praticamente em pnico, mas no conseguedizer nada ao velho homem. A simptica moa mantm
sua serenidade e entra no bagunado quarto fechando a
porta.
_No se preocupe minha criana, o Sr. Talibe meu pai,
e ele j no pensa direito h alguns anos._Sinto muito pelo telhado, posso arrumar um jeito de
consert-lo.
_No se preocupe com isso, e nem se preocupe com meu
pai, acredito que ele j at tenha se esquecido deste
ocorrido. E ele no conhece carcereiro algum. Eu me
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senti mais aliviada no momento em que aquela simptica
senhora disse isso.
_Qual o seu nome minha criana?_Eu me chamo Aska, e o seu?
_Eu me chamo Akonya. Me acompanhe Aska, acredito
que deva estar com fome, temos po fresco aqui em casa
e ch de laranja.
_Obrigado pela hospitalidade Akonya.Ela simplesmente sorriu. Comemos juntas o po feito por
ela mesma acompanhado do excelente ch de laranja.
Ns conversamos muito e ela queria saber cada vez mais
de mim. Trocamos uma boa conversa e acabei cedendo
s suas perguntas sobre meu passado sombrio e recente.Contei sobre o Demnio Branco e lhe dei notcias no
muito agradveis. Ela por sua vez, trabalha como
servial no castelo me disse que trabalha l h alguns
anos, mas nunca conseguiu ver pessoalmente o rei ou a
rainha. Ela disse que ele um bom rei, mas muitoautoritrio. A rainha, nunca se ope a ele, diz ela.
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Nunca mais tomei um ch como aquele, pensa enquanto
v o calor subindo do cho. Ao longe Aska repara que
existem algumas colinas e que alm delas, fumaa densa._ O Demnio Branco deve estar uns sete dias de
vantagem de mim. Se eu tivesse pelo menos um cavalo,
j ajudaria. Mas pelo que estou vendo, minha sorte j me
abandonara h tempos. Minha sede s aumenta, mas a
gua to escassa que s beberei um pouco quandoestiver tendo alucinaes. A plancie era extensa frente
e no havia tantos mortos, assim poderia viajar sem me
preocupar com corvos e moscas por um bom tempo. De
tanto ficar calada j me peguei vrias vezes pensando
alto. Espero no estar comeando a ficar como o senhorTalibe. Andei durante horas e ainda no sa destas
plancies, o jeito vai ser acampar por aqui mesmo. O pior
que nem gravetos existem por aqui. S pasto ralo e
quase seco. Alimento-me um pouco e bebo a minha cota
de gua do dia. Quase no sinto seu gosto quando acoloco na boca. A lngua a primeira a dren-la. Acho
que vou dormir um pouco e sair mais cedo, assim o sol
no me castiga tanto. Bem que eu poderia sonhar mais
uma vez com minha me, mas nem sonhar ultimamente
estou tendo tempo. A noite segue-se tranqila e a manh
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comea a chegar. Aska escuta pssaros voando enquanto
ainda est meio acordada. No abre os olhos e por um
momento acha que tudo no passou de um grandepesadelo. At que escuta ao seu lado o grasnar de um
corvo. Num susto, Aska faz uma girada de pernas que a
faz levantar quase que instantaneamente e faz com que a
maioria dos corvos que estavam ao seu lado voem. Ela
finalmente abre os olhos e v sua volta um mar decorvos. Parecia que todos eles pensavam como um nico
ser, pois a sincronia era perfeita. Eles a estavam rodeando
como uma imensa nuvem viva, esperando a hora certa de
dar seu bote. Aska mais que rapidamente empunha sua
espada e mesmo assustada analisa sua situao girando-aao punho e mantendo um ponto de tenso na mo
esquerda que estava mais frente.
_Que azar justo num campo aberto que eu fui adormecer?
E o problema que se eu tentar correr eles iro me
devorar em segundos. Tenho que tentar afugent-los dealguma forma. Mas como? So tantos que nem me
arrisco em adivinhar um nmero. Neste instante a grande
nuvem envolve Aska como um furaco e comeam a
aparecer as primeiras tentativas de ataque da parte deles.
Aska se v num beco sem sada, impossibilitada at
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mesmo de fugir. Assim que os corvos comeam a bic-la,
Aska comea um ataque frentico a corvos aleatrios que
de deparam com sua lmina. Parece mais a um bal desangue de onde no se sabe se o sangue que est em Aska
dela mesma ou de seus inimigos. A nuvem no parece
se cansar como ela. Mesmo sendo tima no manuseio da
espada, Aska no d conta de se defender de todos os
lados e recebe muitas bicadas, apesar da armadura decouro que traja proteg-la um pouco. Ela j sentia o
cansao chegando e sabia que existia uma grande chance
de sua jornada terminar ali. Aska comea a se ferir muito
com as bicadas e se sente cada vez mais derrotada, at
que se lembra por um momento do Demnio Brancoalguns anos atrs, que lhe cortou o cabelo a fora
deixando-a desesperanosa.
Ento, num sbito ataque de raiva Aska adquiri uma
energia guerreira que a faz lutar com um vigor divino e
as bicadas no mais fazem diferena, seu rosto secontorce num semblante um pouco demonaco e ela faz
com que por um instante a enorme nuvem de corvos se
desfaa descontrolada por tantas baixas. Ela ainda enche
seu peito de ar e urra numa fria que no mais parece se
acabar, sedenta de sangue de qualquer tipo, como um
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vampiro que acaba de acordar. Ela faz com que os corvos
se sintam inseguros pela sua fora de destruio. Por um
momento os corvos comeam a ir embora, mas naverdade, comeam fazendo uma curva no ar e retornam
como uma serpente voadora em busca de carne. Aska
ainda em frenesi, roda a espada na mo direita e comea
a correr na direo do impacto dos corvos, soltando mais
um grito que parece vir de outra pessoa. Os corvos noparecem intimidados, assim como Aska e correm um ao
encontro do outro. Quando finalmente se deparam cara a
cara Aska gira sua espada num eixo do infinito to rpido
que muitos dos corvos, no sobrevivem ao encontro, e os
que atravessam o lindo golpe da morte, bicam com todasua fora num perodo de tempo mnino, mas suficiente
para cort-la profundamente. A fila de corvos no parece
acabar, at que os poucos que sobraram, saem em
retirada e sem rumo, como se o lder deles, fosse morto.
Aska, mais uma vez grita para eles, mas de nada adianta.S ela resta ali, entre as centenas de corvos que ela
dizimou sem piedade. Sua pose diante daquele cenrio
catico e apocaltico simplesmente some quando ela
finalmente cai de joelhos, fincando sua espada no cho e
caindo em lgrimas sutilmente. Ela aperta seus olhos para
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que no derramem a valiosa gua, mas essa batalha, ela
perde e se entrega ao sentimento de medo e dor que lhe
invadiu logo no incio do dia.
Akonya me ofereceu hospitalidade e tive que recusar
diante das circunstncias, mas a agradeci bastante. J
ao seu pai, no tive coragem de faz-lo, mas consegui
num relance ver que ele me bisbilhotava por de trs deuma das janelas da casa.
_Cuidado nesta parte da cidade, existem muitos ladres
e assassinos por a. E em hiptese alguma, passe por um
beco.
_Obrigada Akonya, no sei como lhe agradecer. Vocfoi muito gentil em me ajudar.
_No nada menina. Um dia voc vai encontrar algum
que tambm precise de ajuda, faa como eu fiz, ajude
sem pedir nada em troca. S assim vai conseguir a
verdadeira recompensa na vida.Aska sorri e se simpatiza muito com Akonya e ela com
Aska.
_Aska, sobre a histria que me contou de sua me,
procure a biblioteca do castelo, ela aberta ao pblico e
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muito bem guardada tambm. Quem sabe voc no acha
alguma referncia?
_Obrigada pela dica, vou l agora mesmo. Muitoobrigada.
_No tem de qu Aska. Que os deuses a acompanhem.
Eu finalmente segui caminho pelas ruas sempre em
direo do castelo, j que era fcil v-lo de praticamente
toda a cidade. Eu vi muitas coisas que conhecia nestacidade e muito mais ainda de que nem pensava que
existia. A aglomerao de pessoas era intensa. O cheiro
de podre entrava at na minha alma, o calor escaldante,
com suor de pessoas de todos os tipos misturados com
peixes e frutas estragadas espalhadas no cho. Sem falarainda das fezes de cavalos, vacas, bodes e cachorros que
transitavam quase que livremente entre todos. Havia
guardas reais transitando em pequenos grupos, armados
com espadas mdias e pequenas lanas com o braso
real. Estes passavam empurrando a todos o que nosaam de seu caminho e levavam qualquer um que os
olhasse indiferente ou infringisse a menor das leis
possveis, sempre com muita violncia. Enquanto andava
pelas ruas, sempre tateava meu arco e minha flecha. Mas
como no possua nenhuma sacola pelo corpo, os
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ladres nem procuravam reparar em mim. E sem falar
que tambm no parei em nenhuma banca de comrcio.
Andei um pouco mais e cheguei a uma pequena praa naqual no possua comrcio algum e decidi parar para
comer uma ma e descansar um pouco minhas pernas.
Sentei e um dos belos bancos que l havia. O ar era um
pouco melhor ali, e as poucas rvores eram suficientes
para me esconder do sol. Saboreei a ma, e como numfeitio, comecei a chorar, como se toda a minha fora
acabara. Chorei por papai, por Keysha, por mim, pelo
fato de estar sozinha no mundo. Neste dia deixei que a
dor fosse embora pelo choro, mas ela s se transformou
em dio...
Aska respira profundamente e fecha os olhos novamente
aproveitando a paz que retornara ao campo. As feridas
comeam a latejar e doer. O que a dor perante a morte?
Antes algumas cicatrizes de batalha do que virar almoode um bando de corvos. Ela sorri por um instante e logo
em seguida ouve passos lentos na grama. Ela mantm os
olhos fechados e tenta localizar de onde esto vindo.
Logo percebe que a sua esquerda. No parece ser uma
nica pessoa, e sim vrias. Talvez finalmente tenha
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chegado meu fim, pois acredito no durar mais uma
batalha. Estou muito fraca para vencer um grupo de
guerreiros. Mas alguns eu levo comigo para o lar deAtrodeon, se que l tem vaga. Aska levanta e
desencrava sua espada do cho ficando em posio de
ataque. Ela repara que no se tratava de um exrcito, e
sim de um grupo de camponeses bem sujos. Contive-me
para no me assustar com suas aparncias. Apesar dissoeram at que bem nutridos para tempos como estes.
Limpei minha lmina e guardei-a. Um homem que um
dia j foi acima do peso, com cabelo at os ombros e
barba j bem desenvolvida se aproxima com cuidado de
mim e finalmente fala comigo com um olhar de piedade ecompaixo.
_Vimos o que fez com os pssaros e queremos ajud-la...
Fiquei muito desconfiada de todos, mas depois reparei
que no passam de pobres coitados e segui com o
dilogo._Tudo bem, eu aceitaria muito sua ajuda.
_Venha conosco.
O homem fez sinal para que todos voltassem de onde
vieram e me acompanhou. Andamos um pouco pela
plancie at chegar a uma casa queimada sem teto. Pensei
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em como essa quantidade de pessoas poderiam morar
aqui num lugar desses. At que descobri como. Uma das
crianas arreda uma mesa que estava com as pernas pracima e descobre um alapo no qual todos ns descemos.
Abaixo havia uma escada no muito grande que dava a
um poro modificado. O lugar era incrivelmente amplo,
tanto em dimetro, como em altura. Havia nos cantos
panos que serviam de camas e ao redor delas algunspertences pessoais. As paredes e o cho eram de terra o
que os deixava j com uma casca de sujeira anormal. O
lugar era iluminado por pequenos fachos de luz que
vinham da casa e passavam pelo cho e eram refletidos
com espelhos para todos os cantos do grande cmodo.Havia tambm algumas lamparinas em cantos aleatrios.
Provavelmente para a noite.
_A propsito, me chamo Apncio. E esta a nossa casa.
Seja bem vinda. Akonia vai ajud-la com seus
ferimentos. Ela muito boa nisso. Eu a conheo h anos.Pensei comigo que talvez fosse s uma coincidncia do
nome, mas estava errada. Aps trs anos depois por
incrvel que parea eu me deparo com Akonia. A doce
moa que me amparou.
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_Bom dia menina. Disseram-me que lutou bravamente l
no campo. Teve muita coragem em enfrent-los.
_Akonia... Disse enquanto ela limpava minhas feridascom um pano escuro e um pouco de gua de uma tigela.
Ela parecia mais abatida e com menos esperana no
rosto, ela me olhou nos olhos e continuei a falar.
_ ...Voc no deve se lembrar de mim, mas esta no a
primeira vez que voc cuida de mim. Eu a fitei com osolhos j cheios de lgrimas e ela fitou com seus olhos
amorosos novamente.
_Aska? Ela sorriu e me deu um forte abrao e eu
retribu Pensei que nunca mais fosse ver voc minha
criana. Como conseguiu sobreviver a tudo o queaconteceu? S os deuses devem saber o que passou pra se
tornar o que tornou. Uma guerreira forte e destemida.
_, passei por maus bocados, mas sobrevivi. Que bom
que est bem. E vosso pai?
_Papai se foi com o Demnio Branco e depois de algunsdias quando passava por um descampado, vi o cadver
dele em meio a tantos outros espalhados por l. J havia
sido praticamente devorado pelos corvos e moscas. O
reconheci pelo cabelo e suas vestimentas.
_Eu sinto muito.
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_Ele j no estava bem mesmo de sade. Acredito que
nem tenha sentido nada. Mas esqueamos esse assunto.
Descanse um pouco ali.Apontou para um colcho feitode retalhos - onde durmo. Estava preparando um pouco
de ch. J trago pra voc. Fique a e descanse, seno
meus curativos no iro funcionar. Ela se afasta e vai
atravessando os fechos de luz at que some da minha
vista.Estava ansiosa por tomar mais uma vez aquele ch, mas
instantes depois, vim adormecer...
Ali, sozinha, chorando acabei me tornando alvo fcil
para qualquer tipo de pessoa naquela praa. Enquantochorava um pequeno grupo de guardas chegou at mim
me cercando.
_O que houve garota? Algum judiou de voc?
Perguntou um guarda mais velho do que os demais. Eu
enxuguei minhas lgrimas e olhei pra ele. Seu olhar erade pena. Eu balancei a cabea positivamente.
_Pode descrev-lo para ns?
_No iria adiantar.
_Ele a ameaou?
_No ele, ela.
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_ sua me? Irm?
Balancei negativamente
_Como ela era?Insistiu ele_Ela possui uma armadura branca e um elmo de um
demnio branco. Ela anda sob um grande cavalo branco
e comanda um exrcito de homens incontveis.
_Minha criana, tenha certeza de que aqui, ela nunca se
arriscaria a entrar. Somos uma das cidades mais bemarmadas das redondezas.
_De nada adianta.Levantei-meEla de alguma forma
enfeitia os homens e eles se voltam contra suas famlias.
O meu pai tentou me matar assim que a viu.
_Garotinha, quem seu pai?_O nome dele era Persan.
_Era?Pergunta um dos guardas.
_Ele morreu. Eu vivia com ele em Tnis.
_E sua me?
_Morreu assim que nasci.O velho homem estendeu sua mo para Aska e pediu que
o acompanhasse. Ele parecia ser um homem ntegro
ento no tive dvida de suas palavras. Passamos por
algumas ruas at que bonitas, sem feiras ou fedor. At
que entramos num templo enorme. Em seu interior havia
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muitas cadeiras de madeira e era muito alto o teto. Era
uma construo colossal. Ao fundo, havia uma enorme
esttua de um deus com fisionomia humana e imponente.No teto havia grandes pinturas de batalhas santas e
intervenes divinas. Nas laterais o brilho do sol
atravessava os vitrais e iluminava todo o ambiente. Em
todo o local havia tambm candelabros gigantes, com
velas enormes que pareciam ter anos frente ainda. Maso que mais me chamou a ateno foi um sacerdote que
possua uma batina de cor escura, que estava fazendo
exerccio de barras justamente no dedo mindinho da
imponente esttua da divindade. Ele estava bem suado e
bufava sua contagem em particular, mas ouvira um centoe alguma coisa em seus sussurros cansados. Ele era
completamente careca, mas possua uma tatuagem com
smbolos estranhos que comeavam da cabea e
pareciam cobrir vrias partes de seu corpo.
Quando percebeu que nos aproximvamos dele, eleparou o exerccio, agradeceu em reverncia esttua,
provavelmente por emprestar seu dedo a ele e nos
cumprimentou.
_Salve guarda real.Disse com um tom de respeito.
_Salve vossa santidade.Todos o reverenciaram.
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_J era hora de voc chegar Aska. Estava ansioso em
encontr-la. Neste momento, simplesmente gelei. No
tive como revidar. Ele acabara de me ver e j sabia omeu nome. Quem seria esse sacerdote, to jovem e com
uma presena poderosa? No se preocupe minha
pequena, est a salvo por aqui. Eu pedi que eles a
trouxessem. Ele olha para eles e diz reverenciando.
_Obrigado mais uma vez guardas.Eles simplesmente o reverenciaram e partiram sem dizer
nada.
_Voc deve estar cansada, por sorte j preparei seus
aposentos, venha comigo. Eu simplesmente fiz o que ele
pedia, parecia que eu j o conhecia. No sei dizer, masme sentia segura com ele. Esse era um mistrio que no
podia deixar passar. Ele me levou por um comprido
corredor com paredes de pedra que havia logo atrs do
altar, e que possua vrios cmodos. Todos fechados,
menos o que ele me levara. Neste quarto havia umaconfortvel cama, um ba e uma cmoda com espelho.
Alm de alguns acessrios femininos como prendedores,
arcos e pentes. O quarto era bem pequeno, era mais
comprido que largo e possua uma grande janela com
grades bem grossas.
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_Pode descansar aqui Aska. Seja bem vinda e no se
preocupe. As coisas esto acontecendo rapidamente para
voc, mas como tudo na vida tem um tempo, aguarde.Durma um pouco, a porta tem chave, nica, ento no
a perca, est na porta. Tranque-a para ter privacidade se
assim desejar. noite eu fico na primeira porta do incio
do corredor. Se precisar de algo, estarei l. Na ltima
porta do corredor, possui a cozinha. Sempre tem algumpor l, ento, se sentir fome, no se acanhe. No mais s
isso. Amanh conversaremos direito tudo certo?
Eu simplesmente balancei a cabea que sim. Ele sorriu
com a boca fechada e saiu do quarto. Eu logo fechei a
porta e sentei na cama para pensar em tudo o que haviaacontecido e o que estaria por vir.
_Aska... acorde Aska. Ela espera voc... Acordei de
supeto como de um sonho acordado. Havia um silncio
tremendo. Tanto l fora como aqui em baixo. Sentei-me
um pouco, pois meu corpo j doa de tanto ficar deitada.De repente ouo algo bem sutil, como um passo, mas
muito baixo mesmo. Decidi verificar por precauo e fui
em direo a escada que leva ao andar superior.
Surpreendi-me ao chegar l e encontrar Apncio com
mais duas pessoas que no consegui distinguir. Ele
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imediatamente fez sinal de silncio para mim. Chamou-
me ao p do ouvido e disse bem baixinho:
_Parece que tem algum l em cima. Mas est fazendopouco barulho, andando devagar h uns dez minutos j,
por isso acho que sabe que estamos aqui em baixo.
Os passos vagarosamente foram se afastando do assoalho
da casa que estava acima de ns.
_Vou verificar. Disse sussurrando no ouvido deApncio.
_No! demasiadamente arriscado. Devemos ficar e
aguardar.
_No temas meu amigo. Quem quer que esteja l em
cima, temos que verificar, pois esta a nossa nica sada.Tomarei cuidado redobrado.
Ele no concordou muito, mas sabia que no poderia me
segurar por muito tempo l embaixo. Fiz sinal para
ficarem por l mesmo. Subi a escada como um gato, sem
nenhum rudo perceptvel. O mais difcil foi tirar de cimado alapo, a mesa que o camuflava. J estava bem de
noite e a lua iluminava praticamente como uma manh
por surgir. Dei uma boa olhada antes de abrir o alapo e
no parecia que o intruso estava por perto. Ento sa com
cuidado, e fechei novamente a entrada. Andei sorrateira,
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pois havia paredes que estavam quase inteiras, impedindo
minha viso dos outros cmodos. Desembainhei minha
espada com muito cuidado para no fazer sequer umrudo, mas o couro na lmina assovia sempre.
Rapidamente saindo por de trs da parede minha frente
uma rpida lmina em direo ao meu pescoo que
desvio por pouco de sua trajetria com a minha lmina. O
intruso defere outro golpe que me faz recuar e outro quedefendo. A cada rodada de espada que ele dava eu
recuava cada vez mais, e isso foi at que bom, pois
acabamos saindo da casa e ficando no campo. Ele parecia
estar sozinho e j estava cansado antes de me atacar. Ele
permanecia com os olhos quase que fechados para lutar,isso se no estavam.
_Quem voc? Perguntei tentando entender o que se
passava.
Sua fisionomia se tornou uma mistura de dio e medo e
de um berro ele me atacou novamente. Desta vez sualmina estava rpida e mal tive tempo de conter este
golpe. Sua mo esquerda sempre ficava nas costas e a
direita trabalhava como duas. Novamente ele veio, mas
consegui esquivar-me e dei meu primeiro golpe que fora
defendido com uma destreza incrvel. Ele me atacou com
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um golpe quase que triplo. Digo isso, pois s consegui
revidar depois de defender trs ataques dele.
_Me diga com quem luto. Seno voc no ter uma lutade verdade. Disse desafiando. Ele mais uma vez veio
para cima de mim, mas j estava lento e fraco. Defendi
um de seus golpes e com toda a percia que j havia
adquirido nestes trs ltimos anos consigo desarm-lo,
jogando sua espada longe._Trouxe seus amigos com voc? Sabia que no estava
lutando sozinha comigo. Caso perca a luta eles a
defendem no ? Finalmente ele disse alguma coisa,
pena ser algo de qual no fazia a mnima idia. At que
decidi olhar para a casa e vi Apncio e alguns homenscom ele olhando meio que escondidos.
_Eu no sei do que voc est falando.Menti. Ele sorriu.
_Voc acha que eu no os ouo daqui. Dizendo vrias
formas de me imobilizar para retirar respostas de mim?
Pois eu ouo quase que os seus pensamentos minha cara.Disse com uma voz severa e se jogou no cho virando
em cambalhotas at a espada. Ele se levantou
rapidamente a empunhando com certo sorriso sarcstico
no rosto me perguntando se eu estava surpresa, pois esta
seria ltima vez que eu teria este e qualquer outro tipo de
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pensamento. Fiquei realmente esttica frente a tanta
destreza que ele possua.
Desta vez ele corre em minha direo com a espada renteao rosto. Um grito de dor e desespero emitido por ele
enquanto se aproxima. Sei que ele vai deferir um golpe
fatal em mim se eu no o surpreender. O momento
crtico e s terei uma chance. Mas no posso mat-lo
tambm, pois ele acredita que sou outra pessoa. Corro emdireo a ele, gritando tambm, pois posso morrer sem
nem mesmo ver onde ele me acertou. Nossas espadas se
chocam a uma fora que nunca sentira antes. O segundo
golpe foi feito por mim e ele o defendeu como que por
encanto. Sua fria estava no auge e eu no teria a mnimachance lutando com ele na defensiva. Sua espada mais
uma vez seguiu em minha direo com a inteno de me
golpear vrias vezes, eu esquivei com o corpo, mais uma
vez rapidamente. Ele atacou e por pouco no atinge
minha cintura. Ele se preparou para dar o terceiro quecompletaria a seqncia do seu rpido golpe triplo e neste
instante me jogo em cambalhota na direo de seu brao
esquerdo que sempre fica para trs acertando de forma
superficial sua bacia, justamente num ponto onde ele
sentir maior dor. Com este golpe ele se desequilibra e
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cai enquanto eu me levanto rapidamente. Ele geme de
dor, e tenta levantar. Eu golpeio sua espada fortemente
jogando-a para longe de sua mo e aponto minha armapara seu peito.
_Agora me escute seu louco. Eu no sou quem voc acha
que sou. E aqueles que esto vindo, no so capangas.
Meu nome Aska, filha de Nlizan, herdeira de Artelos.
_Artelos? Rei das terras do bosque? Sua fisionomia setornou quase que amigvel.
_Sim.Respondi desconfiada.
_J trabalhei para eles. Mas isso foi h muito tempo.
_Porque me atacou desse jeito?
_Voc tirou sua arma naquelas runas e eu tive medo deque algum tivesse me seguido. Ento quando cheguei
ouvi pessoas sussurrando eu fiquei desconfiado.
_Seguido, como assim? De onde voc vem? E mais uma
vez, quem voc?Perguntei meio sem pacincia.
_Me chamo Fabian, venho de uma cidade porturiachamada Madabus. A mais ou menos dois dias a cidade
foi atacada por uma criatura que eu no saberia
descrever. Achvamos que essa coisa nunca se atreveria a
entrar em Madabus, pois possuamos um exrcito
enorme. Sem falar que em uma cidade porturia existem
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muitos guerreiros de todas as partes. Estvamos eu e meu
irmo no deque, quando ficamos sabendo que o inimigo
estava chegando com um exrcito de incontveishomens. Eu estava escutando a situao da boca do meu
irmo quando ele se levantou e sumiu na confuso. Eu
gritei por ele, mas no tive resposta. Muitas mulheres
gritavam, mas eu fiquei ali parado esperando ele retornar.
Ele nunca havia feito isso. At que percebi que estavaprximo do exrcito desse inimigo. Saquei minha espada
e ouvi uma mulher dizendo:
_Ei, olhe para mim homem. O que h de errado com
voc?Eu sabia que era com ar de sarcasmo, por isso me
mantive imvel. Depois ouvi: _Voc, ele no me serve,mate-o.Algum veio em minha direo e eu no hesitei
em mat-lo. At que ouvi uma risada diablica vindo
dela. Em seguida vieram vrios homens, mas no todos,
como se fosse um jogo que ela havia pensado para poder
se divertir. Eu no tive outra escolha seno lutar comtodos que vinham em minha direo. At que eu percebi
que era questo de tempo at me matarem e fugi, mesmo
sem saber do paradeiro do meu irmo. Tive que fugir.
Alguns vieram atrs de mim, mas acabei despistando-os e
achando um cavalo para seguir adiante. No fim da tarde
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ouvi alguns cavalos atrs de mim e tentei fugir, mas foi
inevitvel, acabaram acertando o cavalo e eu ca. Tive
que ficar e lutar. Assim que acabei com eles, decidi ir ap mesmo e achar um lugar para descansar. E quando
isso finalmente acontece, comeo a ouvir sussurros. E
aqui estamos ns...
_Porque me confundiu com ela? No pareo nem um
pouco com ela.Ele me encarou com os olhos quase fechados e disse:
_Eu sinto muito, estava com medo. Se levantou com
certa dificuldade. Eu possuo uma excelente audio,
consigo escutar sussurros vindos do assoalho de uma
casa a quatro metros de profundidade, mas no consigosequer enxergar minha mo na frente do meu rosto.
Todos ficaram aturdidos com esta revelao. Apncio fez
uma cara de no acreditar muito, porm, isso explica
tudo.
_Como algum com uma deficincia to grande capazde lutar com tamanha habilidade?Finalmente perguntou
Apncio.
Fabian baixou a cabea e sorriu de lado. _A viso nunca
me fez falta, j nasci sem ela. Meu pai era um grande
especialista com esse tipo de arma e desde cedo, me
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ensinou tudo o que sei. Ele me mostrou como ouvir tudo
o que est a minha volta. Como descobrir onde um
inimigo se encontra sem ver? Basta seguir o barulho deseus ps, o som de sua voz e o enroscar de sua roupa.
Sorri de lado para Apncio e fiz sinal com os ombros.
_Ele precisa de cuidados meu amigo, posso contar com
voc? Prontamente Fabian retruca:
_No gostaria de atrapalhar, pelo que percebi por essasbandas a situao est bem escassa.
_Isso no ser problema, desde que no use sua espada
em ns. Diz Apncio rindo para descontrair um pouco.
Fabian retorna com um sorriso meio sem jeito e um
balanar de cabea positivo.Retornamos ao esconderijo. Apncio pediu a Akonia
que cuidasse do ferimento de novo guerreiro. Eu disse a
ela que poderia dormir, como sendo a autora dos cortes,
sabia exatamente onde estavam e como trat-los. Ela
sorriu docemente e se despediu de mim. Fabian estavasentado em minha cama, j que estava vazia, parece que
algum o acomodou por l. No o informei sobre isso,
pois posso me acomodar em praticamente qualquer lugar.
O corte que fiz em sua cintura foi totalmente superficial.
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Era quase que um arranho. Mas pegou um pouco no
osso e isso sim, deve ter dodo um bocado.
Avisei a ele que comearia a limpar e poderia doer umpouco e ele s balanava a cabea. Talvez j estivesse
acostumado a dor ou ento, estava sentindo uma dor pior,
a dor da perda.
_Tambm perdi algum para o Demnio Branco.Disse
enquanto limpava a ferida com uma bebida forte. Seusolhos s vezes se contraam pela ardncia causada na
limpeza.
_Eu no perdi ningum. Sei que meu irmo est vivo.
_Espero que sim, mas se estiver com ela, no sobreviver
nem uma semana._Ento esse Demnio Branco, o que ele quer?
_ ela. Acho que ningum sabe o que ela quer. S sei
que de alguma forma ela enfeitia homens e meninos. E
estes a seguem cegamente.
_Mas para que ela quer homens e crianas?_No sei, s sei que os homens matam suas esposas e os
garotos, matam suas irms para seguirem seu cavalo.
Basta olhar pra ela para ficar sobre seu comando.
_Ento meu irmo est seguindo ela?
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_Provavelmente, at que morra de fome e sede como
todos os outros.
_Ento a minha deficincia me salvou?_Com certeza. O fato de voc no a v-la, o salvou da
escravido. A sua cidade no estava preparada para ela?
No sabiam que ela um dia iria chegar at l?
_A cidade tinha um rei desleixado. O crime dominava.
Por isso meu pai desde cedo me ensinou a lutar, mesmono enxergando nada. Com certeza a realeza j havia
deixado a cidade a merc do ataque dela, mesmo tendo
um enorme exrcito.
_O que de nada adiantaria pra ele j que ela enfeitia
todo homem que a vislumbra. Pronto! Seu ferimento jest cuidado, acredito que dentro de poucos dias j estar
pronto para outra.
Ele riu rapidamente e deitou-se. Agradeceu e desejou-me
boa noite.
Fiz o mesmo e me ajeitei perto da escada, s por garantia.
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Captulo 5Barbrie
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Fiquei atordoada. Nem com sono estou. Estou curiosa
em saber como aquele sacerdote conhece meu nome. Vou
me levantar e dar uma checada por a. Aska se levantavagarosamente e abre a porta. Esta, como era muito
antiga, avisava claramente que algum estava saindo
com um rudo consideravelmente alto.
_Pronto, l se vai o meu elemento surpresa.
Uma luz vinha da ltima porta do corredor. Com certezadeve ser a cozinha. Segundo o sacerdote, sempre tem
algum por l. Vou dar uma checada. Aska passa pelo
corredor de pedras e aos poucos comea a escutar uma
conversa que vinha de l. Ela no conseguiu entender
sobre o que era o assunto e adentrou. Era uma cozinhaampla, com vrias mesas de madeira sem cadeiras,
abarrotadas com massa de po. L dentro havia duas
mulheres de costas para a porta, com certeza amassando
massa. Ambas eram negras, gordas e falavam com um
sotaque engraado e a voz fina._Com licena?Pedi meio sem jeito. As duas assustaram
ao mesmo tempo virando cada uma em uma direo
diferente. Mas deu para perceber que eram irms
gmeas.
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_ filha. As duas disseram como num coro. Faz isso
no que voc mata a gente de susto. Disse uma.
_, no so nem cinco da manh._Me desculpem, eu no queria assust-las.
_Voc anda igual a um gato. Disse uma.
_ verdade.Disse a outra.
_ que eu no queria acordar as outras pessoas que
devem estar dormindo._No tem mais ningum aqui alm da gente e do
sacerdote.Disse uma.
_Mais ningum.Disse a outra.
_Eu no sabia. Qual o nome do sacerdote?
_Ele no te falou?Disse uma._No! que a minha chegada foi to repentina que nem
tive essa curiosidade.
_Se ele no te falou no podemos tambm. Disse a
outra.
_Porque este mistrio? Ri um pouco por causa destemistrio em cima do nome dele.
_Existem coisas que voc ainda no entende minha
criana.Disse uma.
_, mas vai entender.Disse a outra.
_Afinal, o meu nome Aska.
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_ Aska eu me chamo Alurdis.
_E eu me chamo Lamardis. Somos as cozinheiras do
sacerdote._E o que esto fazendo a essa hora na cozinha?Fazendo
essa enorme quantidade de pes se s somos quatro
nesta enorme catedral?
_Estes pes fazemos todos os dias para aqueles que tm
fome. O nosso sacerdote consegue doaes e com odinheiro ele compra material para darmos pes aos
pobres.Diz Alurdis.
_E voc minha criana? Tem fome?Diz Lamardis.
_No. Vim mesmo de curiosidade. Acho que volto mais
pela manh._Faa isso ento. No caf teremos mais pessoas para
botar o papo em dia.
_E sem falar que estar tudo arrumado e limpo.
_, odeio comer em lugares sujos.
_, eu tambm. horrvel._Se bem que... Interrompi a conversa e me despedi,
elas sorriram e continuaram o assunto que parecia no
ter mais fim. Volto para o meu quarto realmente
cansada. Tranco a porta e deito na cama.
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Acordo assustada com Apncio me chamando. Parecia
que j estava tarde, pois os fachos de luz do sol estavam
bem brilhantes. A movimentao de pessoas era grande._Calma Aska, sou eu. Venha fazer o seu desjejum.
Agradeci e fui at uma mesa ao fundo do poro onde
havia algumas pessoas que controlavam a entrega de
comida. O cardpio era farto, com frutas e vinho, porm,
bem limitado. Duas frutas pequenas e um copo de vinho.Salvo as crianas, que recebiam gua ao invs do vinho.
Peguei duas maas, para relembrar das que comia perto
de casa, que com certeza eram bem maiores e mais
suculentas que estas, mas j esto de bom tamanho.
Procuro por Fabian, mas no o encontro. Assim queterm