o dilema da desigualdade da distribuição da riqueza no continente africano

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1 O DILEMA DA DESIGUALDADE DE DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA NO CONTINENTE AFRICANO. 05/05/14 Jonísio C. Salomão 1 [email protected] “A pobreza maciça e a desigualdade obscura são flagelos tão grandes nos nossos tempos, tempos em que o mundo se gaba de progressos tão extraordinários da ciência e da tecnologia, indústria e na acumulação da riqueza, que têm de ser colocados ao lado da escravatura e do apartheid como males sociais”. (Nelson Mandela) Tomamos a liberdade para iniciarmos esta abordagem com a célebre frase de Mandela, para nos referirmos sobre as questões relacionadas com a distribuição da riqueza ou renda no Mundo e concretamente no continente Africano. As preocupações em torno do assunto, começaram desde cedo a constituir motivos de preocupação para as económicas desenvolvidas e em desenvolvimento sobretudo para as organizações internacionais como as Nações Unidas devido ao estado de carência e pobreza das pessoas ou população. Vários estudos foram efectuados no sentido de tentar encontrar as soluções para mitigar as questões relacionadas com a desigualdade de distribuição da riqueza, eclodindo desta forma autores como Ludwig Von Mises ainda em suas primeiras obras, há quase 100 anos, tendo surgido o italiano Corrado Gini que efectuou estudos mais acutilantes sobre a matéria. Embora esforços têm sido empreendidos no sentido de reduzir o fosso existentes entre ricos e pobre, a economia mundial regista que apenas uma minoria da população detém grande parte da riqueza. 1 Mestre em Administração de Empresas; Consultor Empresarial e Técnico Oficial de Contas.

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Economy & Finance


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O presente artigo visa efectuar uma analise sobre os principais indicadores relacionados com a distribuição da riqueza no continente Africano. São apresentadas as taxas de previsões de Crescimento da Economia Africana segundo o Banco Mundial e consequentemente é feita uma reflexão em torno da pobreza a distribuição da renda.

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Page 1: O dilema da desigualdade da distribuição da riqueza no continente africano

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O DILEMA DA DESIGUALDADE DE DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA NO CONTINENTE AFRICANO.

05/05/14 Jonísio C. Salomão1

[email protected]

“A pobreza maciça e a desigualdade obscura são flagelos tão grandes

nos nossos tempos, tempos em que o mundo se gaba de progressos tão

extraordinários da ciência e da tecnologia, indústria e na acumulação da

riqueza, que têm de ser colocados ao lado da escravatura e do apartheid

como males sociais”. (Nelson Mandela)

Tomamos a liberdade para iniciarmos esta abordagem com a célebre

frase de Mandela, para nos referirmos sobre as questões relacionadas com a

distribuição da riqueza ou renda no Mundo e concretamente no continente

Africano. As preocupações em torno do assunto, começaram desde cedo a

constituir motivos de preocupação para as económicas desenvolvidas e em

desenvolvimento sobretudo para as organizações internacionais como as

Nações Unidas devido ao estado de carência e pobreza das pessoas ou

população.

Vários estudos foram efectuados no sentido de tentar encontrar as

soluções para mitigar as questões relacionadas com a desigualdade de

distribuição da riqueza, eclodindo desta forma autores como Ludwig Von

Mises ainda em suas primeiras obras, há quase 100 anos, tendo surgido o

italiano Corrado Gini que efectuou estudos mais acutilantes sobre a matéria.

Embora esforços têm sido empreendidos no sentido de reduzir o fosso

existentes entre ricos e pobre, a economia mundial regista que apenas uma

minoria da população detém grande parte da riqueza.

                                                                                                               1  Mestre em Administração de Empresas; Consultor Empresarial e Técnico Oficial de Contas.

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De acordo do relatório Credit Suisse, wealth report (2013), mesmo com

o crescimento da riqueza mundial, estudos apontam, os 10% mais ricos

detêm actualmente 86% da riqueza mundial. Destes 0,7% tem posse de 41%

da riqueza mundial2.

Em África o cenário não diverge verificado no panorama internacional,

embora a economia Africana apresente taxas de crescimentos significativos.

As previsões do Banco Mundial apontam para uma taxa de crescimento do

PIB de 5,2% (2014) comparativamente com os 4,7% (2013), importa referir

que a pobreza mantêm –se quase inalterável.

O Banco Mundial (2013) no seu relatório “Africa’s Pulse3” realça este

aspecto, embora o continente foi polo atrativo do investimento directo

estrangeiro e do turismo, a pobreza e a desigualdade se mantêm

“inadmissivelmente elevadas e o ritmo da sua redução demasiado lento”,

pois quase um em cada dois africanos vive actualmente em pobreza extrema,

embora haja um optimismo da redução entre 16% e 30% até 2030, o referido

relatório sugere que 2030, a maioria dos pobres do mundo serão habitantes

de África.

COEFICIENTE DE GINI4

De acordo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

(PNUD), 2013 o coeficiente de Gini no continente africano aponta uma média

cifrada entre 0,5 a 0,8 o que não é benéfico, pois demonstra que a

desigualdade no continente ainda é elevado, pois quanto mais a escala

estiver próxima de 1 maior é a desigualdade na distribuição da renda e

                                                                                                               2 Relatório Credit Suisse, wealth report, 2013. Disponível em: http://images.smh.com.au/file/2013/10/09/4815797/cs_global_wealth_report_2013_WEB_low%2520pdf.pdf?rand=1381288140715. 3 Cf. Relatório Banco Mundial, Africa’s Pulse, disponível em: http://www.worldbank.org/en/region/afr/publication/more-household-spending-plus-increased-investments-in-natural-resources-and-infrastructure-mean-higher-growth-for-africa. 4  É comumente utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de renda mas pode ser usada para qualquer distribuição, desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini, em 1912.

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quanto mais próximo estiver de 0 maior é a igualdade na distribuição da

renda.

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)

Existe uma correlação entre a distribuição da riqueza e a sua

implicação na melhoria da qualidade de vida das populações. Pois se o

coeficiente de gini no continente africano apresenta indicadores elevados o

índice de desenvolvimento humano é consideravelmente baixo.

O facto da economia africana muita das vezes possuir um rendimento

médio per capita alto, não significa que, o mesmo traduza a realidade de tal

indicador, pois o seu calculo inclui os rendimentos das pessoas mais ricas ou

com maiores rendimentos e também pelo facto de incorporarem –se

rendimentos provenientes da venda sobretudo das commodities, que de

forma genérica podem aumentar o Produto Nacional Bruto (PNB), sem elevar

e contabilizar o bem – estar geral. Quando dividido pela população total, tal

indicador consideravelmente se apresenta com um rendimento médio e

elevado, no entanto dividi – lo aritmeticamente pelo número de seus

habitantes dá uma ideia muito imperfeita do padrão de vida de sua

população.

Tal como Schumpeter referenciou (1908), ''Ninguém dá importância ao

pão pela quantidade de pão que existe num país ou no mundo, mas todos

medem sua utilidade de acordo com a quantidade disponível para si, e isso,

por sua vez, depende da quantidade total5”.

Para uma real e eficaz determinação seria eficaz contabilizar o

rendimento médio por habitante do particular para o geral, pois de acordo

Adam Smith “ a riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes”.                                                                                                                5  Cf. SCHUMPETER, Joseph E. O conceito do valor social. Jornal de Economia, volume 23, disponível em: http://socserv.mcmaster.ca/econ/ugcm/3ll3/schumpeter/socialval.html .

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De acordo o Relatório do PNUD (2013), com excepção de algumas

economias africanas que apresentam um desenvolvimento humano médio

(0,7 a 0,5), grande parte da economia africana apresenta um

desenvolvimento humano médio em torno dos 0,475.

OS PRINCIPAIS CAUSAS DA MÁ DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA

O continente africano, apesar de ser um potencial fornecedor de

commodities e material prima para o continente Americano, Europeu e

Asiático, continua a deparar –se com inúmeras situações de índole diversa

que têm corroborado para a má distribuição da riqueza, de entre as quais

destacaremos as seguintes:

• Os problemas relacionados com os conflitos armados e tribais;

• A corrupção

• O nepotismo;

• O subdesenvolvimento

• A fraca transparência no uso e fundos públicos;

Diniz e Arraes (2010)6 apontam que os diversos estudos empíricos

efectuados apontam as principais causas da má distribuição da riqueza:

• A influência do mercado de trabalho, através de algumas de suas

características como discriminação e segmentação;

• A influência do comércio externo actuando indiretamente sobre o

mercado de trabalho, concernente a remuneração da mão-de-obra

qualificada relativa a mão-de-obra não- qualificada;

                                                                                                               

6 DINIZ, Marcelo Bentes; ARRAES, Ronaldo de Albuquerque. Desenvolvimento econoómico e desigualdade de renda. Disponível em: http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/ETENE/Anais/docs/mesa3_texto1

 

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• O efeito da educação, especialmente quanto a sua distribuição

desigual a diferentes níveis de renda e divisão espacial;

• A existência de imperfeições no mercado de factores e sua

remuneração, particularmente o mercado de crédito (para

financiamento do capital), que traz em si problemas de incentivo e

moral hazard.

No entanto os principais problemas relacionadas com o fraco

desenvolvimento com que se deparam as económicas africanas podem

conhecer alterações a médio e longo prazo, desde que realmente haja

força e vontade própria de internamente ultrapassarem -se os

principais obstáculos que inibem o desenvolvimento pleno das

economias Africanas.

A África não necessita de apoio em bens de consumo final para

ultrapassarem as questões relacionadas com a pobreza, precisamos de

meios de trabalhos e know how capazes de nos tornar autossuficientes

e desta forma melhoramos as questões relacionadas com a criação de

emprego justo, e sobretudo a distribuição da riqueza no continente

berço.