o estado verde - edição 22426 - 13 de janeiro de 2015

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ANO VI - EDIÇÃO N o 372 FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 13 de janeiro de 2015 OPINIÃO O que fizeram com nossas árvores? COLETA SELETIVA Programa implantado no aeroporto requer mudança de hábito Fortaleza já foi uma das cidades mais arborizadas do país. No intervalo de poucos anos vimos o verde desaparecer. Paulatinamente as nossas árvores foram ‘amputadas’, como se algum mal delas se apoderasse. Empresa instalou coletores equipados com painéis publicitários no Pinto Martins, mas usuários ainda não perceberam o benefício ambiental. Sem segregação fica inviável reciclar resíduos. Página 12 Páginas 9 e 10 NAYANA MELO BETH DREHER Expor-se ao sol pode danificar DNA das células CUIDADO Grupo de pesquisadores afirma que é um mito dizer que a luz visível é segura, mesmo usando filtro solar, a pele pode estar desprotegida. Os danos à saúde podem ser irreparáveis. Páginas 5, 6 e 7

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Jornal O Estado (Ceará)

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ANO VI - EDIÇÃO No 372FORTALEZA - CEARÁ - BRASILTerça-feira, 13 de janeiro de 2015

OPINIÃO O que fizeram com nossas árvores?

COLETA SELETIVA Programa implantado no aeroporto requer mudança de hábito

Fortaleza já foi uma das cidades mais arborizadas do país. No intervalo de poucos anos vimos o verde desaparecer. Paulatinamente as nossas árvores foram ‘amputadas’, como se algum mal delas se apoderasse.

Empresa instalou coletores e q u i p a d o s c o m p a i n é i s publicitários no Pinto Martins, mas usuários ainda não perceberam o benefício ambiental. Sem segregação fica inviável reciclar resíduos.

Página 12

Páginas 9 e 10

NAYANA MELO

BETH DREHER

Expor-se ao sol pode danificar DNA das células

CUIDADO

Grupo de pesquisadores afirma que é um mito dizer que a luz visível é segura, mesmo usando filtro solar, a pele pode estar desprotegida. Os danos à saúde

podem ser irreparáveis. Páginas 5, 6 e 7

O “Verde” é uma iniciativa para fomentar o desenvolvimento sustentável do Instituto Venelouis Xavier Pereira com o apoio do jornal O Estado. EDITORA: Tarcília Rego. CONTEÚDO: Equipe “Verde”. DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Rafael F. Gomes. MARKETING: Pedro Paulo Rego. JORNALISTA: Elisangela Alves. TELEFONE: 3033.7500 / 8844.6873Verde

TARCILIA [email protected]

ISABELLA TEIXEIRA O Palácio do Planalto confi rmou a per-

manência de Izabella Teixeira à frente do Ministério do Meio Ambiente (MMA), o anúncio ofi cial aconteceu, dia 7, em Bra-sília. É o segundo mandato da ministra que começou em 2010, ainda no gover-no de Luiz Inácio Lula da Silva.

Izabella nasceu em Brasília, em outu-bro de 1961. Formada em biologia pela UnB (Universidade de Brasília), Izabella tem mestrado em Planejamento Ener-gético e doutorado em Planejamento Ambiental. Ela não tem qualquer fi liação partidária, e felizmente, o MMA é um dos poucos ministérios que se livrou do lote-amento político, tão característico da ad-ministração Dilma.

Funcionária de carreira do Ibama des-de 1984, ela recebeu em 2013 o prêmio “Campeões da Terra”, na categoria Li-derança Política, entregue pelo Progra-ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Considerado como o principal prêmio da ONU para o Meio Ambiente, o prêmio foi dado por medi-das desenvolvidas no Brasil para reduzir o desmatamento da Amazônia.

INSETO NO PRATOEstudo da Organização das Nações

Unidas para Alimentação e Agricultu-ra (FAO) defende a criação e o consumo de insetos como uma maneira de satis-fazer a necessidade de proteína na dieta das pessoas, e com isso reduzir a pro-dução de carne - que é responsável por aproximadamente 20% de toda a emissão global de CO2. Duvido que a onda pegue, com exceção da China, claro, onde os chineses já degustem saborosos churras-quinhos e ensopados de insetos.

PROBLEMA VIROU SOLUÇÃO7,6 milhões de empreendimentos saí-

ram da informalidade. No encerramento do ano de 2007, as microempresas regis-tradas no país eram 1,9 milhão, contra as 9,5 milhões registradas no encerramen-to de 2014, segundo informa o Sebrae Nacional. Empreendedores aderiram ao registro formal do negócio, e passaram a recolher tributos após a criação e im-plantação efetiva do Simples Nacional. Um alívio para os cofres brasileiros, afi nal grande parte dessa arrecadação foi pa-rar no Tesouro Nacional.

Mais um dia em que o mundo foi tomado de uma profunda tristeza... 7 DE JANEIRO DE 2015

Coluna Verde

2 FORTALEZA - CEARÁ - BRASILTerça-feira, 13 de janeiro de 2015

VERDE

13 DE JANEIRO DE 2015Dia do Terapeuta Ocupacional • Hoje comemoramos o profi ssional que trabalha na recuperação de indivíduos com dife-rentes problemas cognitivos, afetivos e psicomotores. Para a terapeuta Mariana Fulfaro, a maior difi culdade que enfrenta no dia a dia da profi ssão é com relação ao desconhecimen-to da atividade. “Como grande parte das pessoas associa a Terapia Ocupacional à ocu-pação despreocupada do tempo, sempre é necessário explicar o que eu faço e o porquê”. Saiba mais em: www.marianaterapeutaocupacional.com.

15 DE JANEIRO DE 2015Dia Mundial do Compositor • Através das notas musicais, acompanhadas ou não de le-tras, muitos aspectos de uma sociedade são revelados em termos históricos, sociológicos, estéticos e fi losófi cos, atra-vés da arte de compor. A música expressa à cultura de um país ou região, e o compositor através de suas obras, revela a cultura.O brasileiro, Heitor Villa-Lobos, foi o maior compositor das Américas. Compôs cerca de 1.000 obras. Foi através dele que a nossa música se fez representar em outros paí-ses, culminando por se universalizar.

20 DE JANEIRO DE 2015Dia do Farmacêutico

• Profi ssional do ramo da saúde, o farmacêutico é responsável pela manipulação, controle e desen-volvimento de medicamentos, como também de cosméticos, vitaminas, produtos de higiene e outros que são utilizados em seres humanos e

animais. Essa data foi escolhida por causa da data de fundação da Associação Brasileira de Farmacêu-

ticos (ABF), em 20/11/1916.

INSCRIÇÕES ABERTASPrêmio Melhoria da Qualidade do Ar 2015• A Federação dos Transportes abriu as inscrições para o Prêmio Melho-ria da Qualidade do Ar 2015, nos estados do Ceará, Piauí e Maranhão. As empresas de transporte de passageiros e de transportes de cargas podem realizar as inscrições pelo site www.cepimar.org.br, até o dia 27 de fevereiro. Na modalidade “Transporte de Passageiros” participam as que possuem frota mínima de 12 ônibus e que estão regularmente cadastradas nos ór-gãos permissionários. Já na modalidade “Transporte de Cargas” participam aquelas com no mínimo cinco caminhões a seus serviços e que estejam com situação cadastral regular nos órgãos competentes. As empresas podem se inscrever usando frotas terceirizadas, desde que os veículos prestem serviço exclusivo a ela e ostentem suas marcas ou símbolos.

AGENDA VERDE

Reforçando o papel de protago-nista na luta contra a fome na região e em outras partes do

mundo, o Brasil ofereceu um aporte adicional de US$ 17 milhões para pro-jetos em parceria com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Os novos recursos elevam para mais de US$ 100 milhões o total do fi nancia-mento brasileiro a projetos conduzidos pela FAO. Projetos recentes, aprovados durante o mês de dezembro, incluem desde programas de alimentação es-colar a políticas de consultoria de agri-cultura familiar ao setor pesqueiro na América Latina e África.

O diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva participou da ce-rimônia de posse do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, em Bra-sília e em seguida reuniu-se com alguns ministros do novo gabinete.

RECURSOSEntre os novos recursos anunciados

pelo Brasil, incluem-se US$ 5 milhões para apoiar um projeto de pesca na Áfri-ca; US$ 4 milhões para um novo projeto regional para a África que promoverá o intercâmbio e o diálogo político rela-cionado à agricultura familiar; US$ 3,5 milhões para expandir a cobertura geo-

gráfi ca do atual projeto de alimentação escolar na América Latina e no Caribe; e US$ 4,3 milhões para um projeto volta-do à promoção da aquicultura de peque-na escala na América Latina. Deve-se ainda adicionar US$ 5 milhões em espé-cie que se somam aos US$ 5 milhões em dinheiro para benefi ciar a aquicultura no continente africano.

A FAO ainda pretende assinar um novo memorando de entendimento

com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que tem sido fundamental para o País em sua transição de importador de alimentos para grande produtor agrícola. O acor-do impulsionará o patrocínio da FAO na Cooperação Sul-Sul.

Atualmente, o Brasil apoia mais de 27 projetos com a FAO, num montante to-tal de quase US$ 100 milhões. Assim, já fi gura entre os 10 maiores contribuintes

da organização, ao lado dos países do G7, da Noruega e da Arábia Saudita.

Forte defensor da Cooperação Sul-Sul, o Brasil tem compartilhado as políticas do Programa Fome Zero, adotada no País em 2003 e que tirou milhões de bra-sileiros da extrema pobreza, com os pa-íses da América Latina, Caribe e África. As recentes contribuições atestam quão diversifi cada tem sido a contribuição do Brasil com a FAO, que abrange vários de seus ministérios e instituições.

PAPA FRANCISCODurante a segunda Conferência Inter-

nacional sobre Nutrição, em novembro último, em Roma, o papa Francisco diri-ge-se aos líderes políticos e pede solida-riedade e ações concretas para melhorar a nutrição mundial. “Quando falta a so-lidariedade num país, todo o mundo se ressente”, advertiu o pontífi ce.

Francisco, também destacou a neces-sidade de proteger o meio ambiente e o planeta. “Os seres humanos podem perdoar, mas a natureza não o faz”, dis-se, acrescentando: “Temos de cuidar da Mãe Natureza, para que ela não respon-da com a destruição”, recordando naque-le momento a Conferência da ONU (COP 20) sobre o clima que aconteceu em de-zembro no Peru e a COP 21 que aconte-cerá em dezembro deste ano na França.

3FORTALEZA - CEARÁ - BRASILTerça-feira, 13 de janeiro de 2015

VERDE

Os novos recursos elevam para mais de US$ 100 milhões o total do fi nanciamento brasileiro aos programas conduzidos pela FAO, e reforça o protagonismo na luta contra a fome

Brasil aporta US$ 17 milhões para projetos em parceria com a FAO

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Entre os recursos anunciados pelo Brasil, incluem-se US$ 5 milhões para apoiar um projeto na África

RICCARDO GANGALE/FAO

4 FORTALEZA - CEARÁ - BRASILTerça-feira, 13 de janeiro de 2015

VERDE

Ficou para a próxima legislatura a vo-tação em plenário do Projeto de Lei da Biodiversidade (PL 7735/14), de

iniciativa do Executivo, que desburocrati-zar regras para pesquisa e exploração do patrimônio genético e tradicional do País. O projeto que tem urgência constitucional e tranca a pauta do Plenário desde agosto do ano passado, tem dividido opiniões em torno de dois pontos principais: o paga-mento de royalties pelo acesso a recursos da biodiversidade e a repartição de benefí-cios fi nanceiros advindos desses recursos.

O PL, que tem urgência constitucional, tranca a pauta do Plenário desde agosto do ano passado, e ainda não tem relator, o que gera indefi nição sobre a votação e pode in-viabilizar a análise de outros projetos de lei no Plenário da Câmara dos Deputados, tem dividido opiniões em torno de dois pontos principais: o pagamento de royal-ties pelo acesso a recursos da biodiversida-de e a repartição de benefícios fi nanceiros advindos desses recursos.

A comissão especial para discutir a nor-ma também não foi criada. Os deputados que tomaram a frente na negociação, Al-ceu Moreira (PMDB-RS) e Luciana Santos (PCdoB-PE), identifi caram outros pontos em que as conversas não avançaram.

DIVERGÊNCIASUma das divergências está ligada ao

órgão que vai fi scalizar a pesquisa reali-zada pelo agronegócio para a produção de sementes e desenvolvimento de novas

raças. A Frente Par-lamentar da

Agropecu-ária quer

o Minis-tério da A g r i -cultura; enquan-

to outros setores s u g e -rem o

Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recur-sos Naturais Renováveis (Ibama).

Outro ponto levantado foi o valor es-tabelecido de royalties a ser cobrado do fabricante de produto originado de pes-quisa com o patrimônio genético brasilei-ro. Cientistas e comunidades tradicionais acharam o percentual baixo: ele varia entre 0,1% a 1% da receita com o produto.

Alceu Moreira destacou a importância da matéria para o País. “O Brasil, nessa questão [da biodiversidade], está atra-sado em comparação com outros paí-ses. Nós precisamos de uma legislação mais moderna. E essa legislação [do PL em análise] vem nesse caminho: buscar essa modernidade”.

Atualmente, o acesso à biodiversidade brasileira é regulado por Medida Pro-visória (2.186-16/01) e cabe ao Conse-lho de Gestão do Patrimônio Genético (Cgen) dar autorização prévia para o início das pesquisas, por meio de pro-cesso que leva tempo e exige grande do-cumentação do pesquisador.

CIENTISTAS A presidente da Sociedade Brasileira

para o Progresso da Ciência (SBPC), He-lena Nader, enviou uma carta à presidente Dilma Rousseff pedindo a retirada da ur-gência. “A tramitação da proposição deve permitir a realização de audiências pú-blicas com a participação da comunidade científi ca e de outros representantes da so-ciedade impactados pelo tema, no sentido de possibilitar uma análise mais cuidadosa do PL e seu consequente aperfeiçoamen-to”, diz o texto enviado ao Planalto em 17 de julho do ano passado.

Não só os cientistas estão de olho no pro-jeto, que também ganhou atenção especial dos deputados ligados ao agronegócio. O texto do governo especifi ca que as novas regras não valerão para as pesquisas liga-das à produção de alimentos e agropecuá-ria, que continuarão regulamentadas pela Medida Provisória 2.186/01, mas a ban-cada ruralista apresentou várias emendas para mudar esse cenário.

Votação do projeto só na próxima

legislatura

BIODIVERSIDADE

JORNALISTA E ESCRITOR

PRESERVAÇÃO CULTURAL Naquilo que diz respeito ao patrimônio cultural,

ressaltam os doutrinadores que a defesa desse patrimônio se relaciona não só com a preserva-ção do meio físico (os monumentos de valor artís-tico, histórico, turístico e paisagístico), como ain-da da memória social e antropológica do homem, ou seja, para usar os termos da Constituição de 1988, das formas de expressão e dos modos de criar, fazer e viver das denominadas “comunida-des tradicionais” (grupos formadores da socieda-de e participantes do processo civilizatório nacio-nal - indígenas, caiçaras, caboclos etc.).

DESENVOLVIMENTO E PRESERVAÇÃO

Especialistas no assunto apontam em abaliza-dos estudos sobre a matéria, que tanto quanto os sistemas biológicos, os grupos humanos sempre foram e continuam sendo afetados pelo proces-so de desenvolvimento da sociedade moderna. E a perda de idiomas e de outras manifestações culturais é considerada tão irrecuperável quanto à extinção de espécies biológicas. Por isso a im-peratividade de serem preservados, ao lado dos sistemas naturais e urbanos, os direitos dessas comunidades tradicionais.

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

O Princípio da Cooperação Internacional em Matéria Ambiental é o último de que tratamos neste espaço.Ninguém ignora hoje em dia que uma das características marcantes da problemá-tica ambiental é a relação de interdependência existente entre os diversos elementos que com-põem o meio ambiente e que, em função dessa peculiaridade, os sistemas ambientais - naturais, sobretudo -, não se enquadram perfeitamente nos limites territoriais fi xados pelas fronteiras ar-tifi ciais criadas pelo homem entre as cidades e os países. A degradação ambiental causada no interior de um Estado pode efetivamente acarre-tar danos ao meio ambiente de países vizinhos e também ao meio ambiente global do planeta. É o que se convencionou chamar de dimensão trans-fronteiriça e global das atividades degradadoras

exercidas no âmbito das jurisdições nacionais.

INDISPENSÁVEIS PRESSUPOSTOSIntegram esse ideal de cooperação internacio-

nal em matéria ambiental, como pressupostos indispensáveis à sua efetivação: a) o dever de informação de um Estado aos outros Estados, nas situações críticas capazes de causar prejuí-zos transfronteiriços; b) o dever de informação e consultas prévias dos Estados a respeito de pro-jetos que possam trazer efeitos prejudiciais aos países vizinhos; c) o dever de assistência e auxílio entre os países nas hipóteses de degradações ambientais importantes e catástrofes ecológicas; d) o dever de impedir a transferência para outros Estados de atividade ou substâncias que cau-sem degradação ambiental grave ou que sejam prejudiciais à saúde humana - é o problema da “exportação de poluição”.

SOBERANIA RESGUARDADA

Cumpre registrar, no entanto, que a ne-cessidade de cooperação internacional para a proteção do meio ambiente não implica, ao contrário do que se poderia su-por, no abandono da soberania dos Esta-dos em relação ao que se passa nos seus respectivos territórios. O princípio nº 2 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, repetindo o prin-cípio nº 21 da Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano de 1972, foi expresso em resguardar a manutenção da soberania dos Estados na exploração de seus recursos, segundo suas próprias polí-ticas ambientais e de desenvolvimento, ao mesmo tempo, porém, em que enfatizou a responsabilidade dos países de velar para que as atividades realizadas dentro de sua jurisdição ou sob seu controle não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou a áreas situadas fora dos limites das jurisdições nacionais.(50) É exatamente a ideia de soberania norteada pela imprescin-dível cooperação internacional.

PRINCÍPIO DO RESPEITO À IDENTIDADE, CULTURA E INTERESSES DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS E GRUPOS FORMADORES DA SOCIEDADE

Esse décimo princípio é o penúltimo entre os principais listados pelos doutrinadores de Direito Am-biental, os quais nos propusemos discorrer neste espaço. Ele decorre de previsão expressa no item 22 da Declaração resultante da Conferência do Rio de Janeiro, ocorrida em 1992, sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; e se arrima também no art. 216 da Constituição Federal. Ao abordarmos questões rela-tivas à proteção do meio ambiente, devemos observar detidamente o fato de que, para o Direito, o meio ambiente é não apenas o meio natural, como também o meio artifi cial (ou urbano) e, ainda, o meio cultural.

5FORTALEZA - CEARÁ - BRASILTerça-feira, 13 de janeiro de 2015

VERDE

Sol, mesmo com filtro solar, pode causar danos irreparáveis

MEIO AMBIENTE E SAÚDE

Férias, sol e praia: o trio perfei-to para garantir aquele ‘relax’, e para completar, junta-se ao pa-

cote, o protetor solar. Será? Nem sem-pre, segundo o pesquisador Maurício Baptista, do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP), a exposição à luz visível, também pode ser prejudicial à pele mesmo com o uso de protetores solares, pois causa danos ao DNA das células. “Criou-se um mito de que a luz visível é segura, o que não é verdade”.

O cientista coordena um grupo de pesquisadores que estudou e realizou experimentos que mostram como a melanina ao ser estimulada pela luz visível [parte da radiação solar que en-xergamos] gera moléculas altamente reativas, que causam danos ao DNA das células. “Esse resultado tem im-pacto importante para a saúde públi-ca, pois demonstra que a estratégia de passar fi ltro solar e expor-se ao sol, por longos períodos, pode causar danos ir-reparáveis na saúde da pele, incluindo o fotoenvelhecimento e possivelmente, a formação de tumores”, alerta.

O casal de turistas, procedentes de Serra Talhada, Pernambuco, que se bronzeava nas areias da Praia de Irace-ma, fi cou surpreso com a informação. Lívia Cordeiro e o marido Luiz Gustavo Bastos estavam “crentes” que o protetor ‘FPS 98 e sua fórmula hipoalergênica e dermatologicamente testada’, “resol-via tudo”. “Eu sei que exposição ao sol, é um perigo sem protetores, por isso, para prevenir o envelhecimento da nos-sa pele e proteger-nos do sol, usamos o creme”, disse Lívia.

O pesquisador da USP esclarece que a irradiação solar tem vários componen-tes: o que enxergamos (luz visível) e o que não enxergamos, que é o UVA. “Os

ELISANGELA ALVES, COM A COLABORAÇÃO DE TARCILIA [email protected]

Grupo de pesquisadores realizou experimentos que mostram como a melanina, ao ser estimulada pela luz visível, pode danificar o DNA das células. Nem o protetor resolve

BETH DREHER

6 FORTALEZA - CEARÁ - BRASILTerça-feira, 13 de janeiro de 2015

VERDE

bons fi ltros solares encontrados hoje no mercado nos protegem contra ra-diação solar ultravioleta (UVA e UVB), mas não contra a radiação visível. É um equívoco considerar que a exposi-ção à luz visível seja segura para a saú-de da pele”, adverte Baptista.

NÃO PODE ABUSARProteger a pele humana da expo-

sição ao sol é uma questão complexa que envolve aspectos ainda pouco cla-ros da interação entre a luz e o tecido de acordo com o cientista. “O ideal parece ser a velha receita de se expor ao sol por pouco tempo sem proteção externa, pois nesse caso obtemos os benefícios do sol, por exemplo, ati-vação da vitamina D, sem sofrermos os riscos que a exposição prolongada oferece, mesmo com utilização dos fi l-tros solares atuais”, destaca Baptista.

Exatamente o que fazia a turista alagoana, Lícia Cabral. Ela estava “pe-gando um bronze” no Aterrinho de Iracema, usava chapéu, óculos escuros e protetor solar, e ainda, vestia uma blusa fi na. Disse que passa protetor, mas “não sente-se totalmente protegi-da”, sabe que mesmo com a “proteção” a pele “sofre” devido à exposição solar. “Não sei qual é o risco, mas sei que não posso abusar, principalmente, após às 10 da manhã, e em Fortaleza, famo-sa por suas pelas praias, mas também, pelo sol escaldante”, disse a turista.

FILTRO SOLAR – PROTEÇÃO PARCIAL

De acordo com o dermatologista, Luiz Malinverno, a população precisa entender o real objetivo do protetor solar: ”evitar os danos causados pe-los raios solares à pele”. Ele considera mais adequado chamar estes produtos de fi ltros solares porque, atualmente, é o que eles fazem. Filtram parcialmente uma parte da luz solar - os raios UVA

e UVB. “A luz visível e os raios infra-vermelhos não são fi ltrados. Portanto, como barreira aos raios solares, eles são muito importantes, mas ainda não fornecem a proteção ideal”, ressalta.

Embora os fi ltros protejam a pele par-cialmente, Malinverno esclarece que os mesmos têm um papel importante no combate ao fotoenvelhecimento e ao câncer de pele, impactando de modo positivo na saúde pública. “Mas, deve-se tomar cuidado, porque sozinhos eles não são sufi cientes. Dependendo da frequên-cia e do tempo de atividade ao ar livre, no trabalho ou no laser, outros níveis de proteção são absolutamente necessários, como roupas, óculos e chapéu”.

E mais uma vez reforça a questão da luz visível e seus riscos, objeto de pes-quisa do Maurício Baptista e equipe, citada no início da matéria. E, o der-matologista Malinverno explica a to-

xicidade da luz visível, especialmente quando associada aos raios ultraviole-ta, em particular o UVA, pode gerar ra-dicais livres que causam danos no DNA das células epiteliais, podendo aumen-tar o risco de câncer.

“Uma vez que, os fi ltros solares atu-ais não fi ltram esta luz, e fi ltram ape-nas parcialmente o UVA, devemos fi car muito atentos ao tempo de exposição à luz solar e buscar proteção física quan-do necessário. É importante lembrar que alguns medicamentos e algumas doenças, deixam as pessoas mais sen-síveis à luz visível, podendo causar ma-nifestações cutâneas diversas”, alerta.

ESTIMATIVA INCAInformações do Instituto Nacional de

Câncer, (Inca), dão conta de que o me-lanoma cutâneo é um tipo de câncer de pele que tem origem nos melanócitos,

(células produtoras de melanina, subs-tância que determina a cor da pele) e tem predominância em adultos brancos. Embora o câncer de pele seja o mais fre-quente no Brasil e corresponda a 25% de todos os tumores malignos registrados no País, o melanoma representa apenas 4% das neoplasias malignas. É conside-rado grave devido à sua alta possibilidade de metástase.

De acordo com o instituto esperam-se 98.420 casos novos de câncer de pele não melanoma nos homens e 83.710 nas mu-lheres no Brasil, em 2014. Esses valores correspondem a um risco estimado de 100,75 casos novos a cada 100 mil ho-mens e 82,24 a cada 100 mil mulheres. Já a Organização Mundial de Saúde (OMS) também não está otimista, o órgão proje-ta que o número de mortes devido a cân-ceres continuará crescendo: 9 milhões de mortes em 2015 e 11,4 milhões em 2030.

7FORTALEZA - CEARÁ - BRASILTerça-feira, 13 de janeiro de 2015

VERDE

SAIBA MAIS•SIGLAS UV (ULTRAVIOLETAS)UV é a sigla para ultravioleta, que é

um tipo de radiação eletromagnética. A radiação é prejudicial ao ser humano, e pode ser dividida em UVA, UVB e UVC, e esses raios, ao entrar em contato com a pele do ser humano, podem causar da-nos e até mesmo , podem ser as respon-sáveis até mesmo por câncer de pele. Es-ses raios são invisíveis, e estão presentes tanto no inverno, como no verão, claro que com maior incidência nos períodos de calor.

SIGNIFICADO DE UVAA radiação UVA é presente durante

todo o ano, e atinge a pele quase que da mesma forma, tanto no inverno como no verão. Os raios UVA penetram profun-damente na pele, e são os principais res-ponsáveis pelo envelhecimento da pele e

aparência. Essa radiação também tem uma participação em alergias, e predis-põe a pele ao surgimento do câncer. Os raios UVA também estão presentes nas câmaras de bronzeamento artifi cial, in-clusive em doses mais altas do que a ra-diação solar.

SIGNIFICADO DE UVBA radiação UVB é parcialmente absor-

vida pela camada atmosférica da terra, e sua parte que chega a Terra é respon-sável por danos à pele. A radiação UVB ocorre mais durante o verão, esse raio penetra superfi cialmente na pele e são os responsáveis pelas queimaduras do sol. Esse tipo de raio é mais invisível, às vezes as pessoas pensam que só porque não fi caram vermelhas não foram preju-dicadas, mas o raio UVB favorece muito o envelhecimento da pele.

UVCJá a radiação UVC, é totalmente ab-

sorvida pelo oxigênio e o ozônio da at-mosfera, e é praticamente inofensiva. Essa radiação é altamente penetrante e danosa à saúde, e os seres humanos teriam sérios problemas se ela atingisse a superfície terrestre. Por esse motivo, é tão importante proteger a camada de ozônio, para evitar que raios cada vez mais fortes e potentes cheguem a Terra.

OS MELANÓCITOSOs melanócitos são células localizadas

na barreira entre a epiderme e a derme, fundamentais para manter a saúde da pele. Eles produzem a melanina, um pig-mento na forma de grânulos responsável pela coloração da pele e pela proteção contra a radiação ultravioleta B (UVB) e evita doenças como o câncer. Na presença

de raios UVA e da luz visível, no entanto, a melanina passa a causar danos às células epiteliais. O mecanismo de fotossensibili-zação e geração de espécies reativas por radiação UVA, com efeitos como fotoen-velhecimento e desenvolvimento de vários tipos de câncer de pele, já era conhecido.

Os pesquisadores avaliaram agora a toxicidade da luz visível em melanócitos humanos e de murinos, a utilização de camundongos como instrumentos de es-tudos biológicos ocorre de modo intenso, principalmente nas áreas de imunologia, oncologia e genética. Tanto com nível ba-sal quanto com super expressão de mela-nina, e demonstraram que a presença de melanina aumenta a fototoxicidade da luz visível. Eles também quantifi caram a formação de oxigênio singlete, que seria um dos mecanismos pelos quais ocorrem danos às células.

OeV: Por estarmos próximos à Li-nha do Equador somos mais vulne-ráveis à luz solar?

MB: No equador, a luz que nos atin-ge tem uma proporção maior de UV e é mais intensa. Para quem vai se expor, com frequência, ao sol e/ou por perío-dos prolongados é fundamental usar o fi ltro solar para se proteger do UV. No entanto, essa proteção não é sufi ciente. Pesquisas realizadas por nós e por ou-tros grupos de pesquisadores mostram que a luz visível (componente que en-xergamos) também pode causar danos biológicos. No artigo publicado, recen-temente no PLOS One, demonstramos que a luz visível causa danos em DNA de melanócitos (lesões pré-mutagênicas fo-ram demonstradas e quantifi cadas), se-melhante aos danos causados pelo UVA.

OeV: Gasta-se muito com filtros solares, eles resolvem?

MB. Eles resolvem sim e são respon-sáveis por uma diminuição substancial na incidência de câncer, pois evitam os efeitos da luz ultravioleta. No entan-to, as pessoas devem estar cientes que usar o fi ltro solar (mesmo se usado de maneira correta) não é sufi ciente para

uma proteção completa, pois a luz visí-vel também causa dano na pele e a luz que incide sobre nós tem em torno de 45% de luz visível.

OeV: O uso contínuo de filtro solar causa danos à saúde?

MB. Os fi ltros são preparações seguras (com muito poucos efeitos colaterais). Poucas pessoas tem resposta de hiper-sensibilidade aos compostos ativos dos fi ltros e a hipersensibilidade é ainda me-nor aos fi ltros inorgânicos (dióxido de titânio e de óxido de zinco). No entan-to, pelo próprio mecanismo de proteção dos fi ltros solares, eles impedem a ab-sorção da luz UVB. A luz UVB também tem efeitos benéfi cos para a pele, por exemplo, ativação da vitamina D. Pelo fato de, atualmente, vivermos em me-

trópoles, nos expomos muito pouco ao sol e vivemos um problema grave de fal-ta de vitamina D, com muitas consequ-ências ruins para nossa saúde.

OeV: Que cuidados devem-se ter ao se expor ao sol?

MB: O cuidado com o sol deve ser sempre o de evitar o excesso. A conse-quência do nosso trabalho é que não adianta passar fi ltro e achar que está to-talmente protegido, pois não está. Em minha opinião, esta informação deveria constar nos rótulos dos fi ltros solares. Por outro lado, para pessoas que não tenham hipersensibilidade ao sol ou pele foto envelhecida tomar um pouco de sol sem proteção (por exemplo, 3 vezes por semana, 30 minutos de corpo inteiro) traz benefícios para a saúde.

Cientista Maurício da Silva Baptista, respondeDIVULGAÇÃO

8 FORTALEZA - CEARÁ - BRASILTerça-feira, 13 de janeiro de 2015

VERDE

No Nordeste o verão acontece todo dia, por isso, o Ceará faz do sol seu maior atrativo para

turistas que chegam do mundo inteiro. Não temos o privilégio de contemplar as quatro estações, ou melhor, mal sabemos quando uma estação acaba e outra inicia. De acordo com o Cen-tro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), do Instituto Na-cional de Pesquisas Espaciais (Inpe) o verão começou, ofi cialmente, dia 21 de dezembro, no Hemisfério Sul, período no qual a exposição de pessoas ao sol, aumenta, muitas procuram o litoral nesta época do ano.

Em Fortaleza as praias estão lotadas nas 4 estações e já faz parte da rotina “pegar um bronze”, mas é,exatamente, nesse ponto que está o perigo. Quem

nunca se excedeu fi cando horas exposto ao sol? Diante de temperaturas quase sempre elevadas, as pessoas usam roup-as mais fi nas e mais curtas. Portanto, não esquecer o uso do fi ltro solar nas áreas expostas. O sol não está presente somente nas praias e piscinas, ele tam-bém está nas ruas.

A prevenção de doenças é uma das premissas perseguida pelo Sistema Úni-co de Saúde (SUS), desde a sua criação. No caso específi co do câncer de pele, os especialistas são unânimes na reco-mendação do uso de roupas adequadas, chapéu e óculos para melhorar os níveis de proteção. Principalmente, o uso cor-reto do fi ltro, com reaplicação a cada 1 ou 2 horas. “Sabe-se que é uma rotina chata, mas, com o passar dos anos, veremos que estas medidas garantem

uma pele mais bonita, saudável e com mínimo risco para o desenvolvimento de câncer de pele”, garante o dermatolo-gista Luiz M alinverno.

BOM EXEMPLO DA BAHIACabe aqui uma refl exão: considerando

a importância do uso contínuo de fi ltros solares por todas as pessoas, desde be-bês seguindo por toda a vida adulta, o bom hábito custa caro. Infelizmente são produtos de custo relativamente alto em nosso meio, difi cultando o acesso a uma parcela expressiva da população. Mas da Bahia, vem um bom exemplo.

Os albinos, por exemplo, enfrentam um maior risco de desenvolver câncer de pele e cegueira, por conta da ex-posição solar direta ou indireta, pois possuem um distúrbio congênito que se

caracteriza pela ausência total ou par-cial da melanina, pigmento responsável pela coloração da pele, pelos e olhos. Mas a população com esta característica agora, pode receber gratuitamente pro-tetor solar fator 60.

Em nota a imprensa, a Prefeitura de Salvador informou, no último dia 6, que disponibilizará o produto para a popula-ção albina durante todo o ano, no quan-titativo mensal de oito protetores para adultos e quatro para crianças. Para ter acesso ao protetor solar distribuído pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) a pessoa com albinismo deve fazer o ca-dastro na sede da secretaria. A inicia-tiva é uma parceria da SMS e o Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo a nota, 840 pacientes estão cadastrados para receber o protetor.

É verão no hemisfério sul: evite excesso de exposição ao sol

9VERDE

FORTALEZA - CEARÁ - BRASILTerça-feira, 13 de janeiro de 2015

COLETA SELETIVA

Empresa instalou coletores equipados com painéis publicitários no Aeroporto Pinto Martins, mas usuários ainda não perceberam o benefício ambiental. Sem segregação fi ca inviável reciclar resíduos

Programa implantado esperapela mudança de hábito

Um olhar atento. Talvez nos falte exatamente isto em relação aos cuidados e ou atenção para com

o meio ambiente. Mas, não basta olhar, é preciso entender a urgência da temá-tica ambiental, portanto, requer ime-diata mudança de hábito da população, especialmente quando refere-se à ques-tão dos resíduos. Existem leis e nor-mas para tratar o assunto, mas de nada adiantarão se cada cidadão, individual-mente, o poder público e o setor privado não assumirem responsabilidades com a produção e o descarte dos mesmos.

Nesse contexto, a Infraero, através de um contrato fi rmado com a empresa paulista, Coletiva, acaba de lançar uma iniciativa que objetiva destinar à reci-clagem, 100% dos resíduos sólidos gera-dos nos terminais de passageiros de 10 dos mais movimentados aeroportos que administra no Brasil. São passageiros de aviões, integrantes de tripulações, trabalhadores em estabelecimentos de comércio e de serviços, funcionários e todos os demais que transitam nos saguões de check-in, halls, terminais de embarque e desembarque, áreas de acesso às aeronaves, além de entradas e saídas dos aeroportos.

PARCERIA INFRAERO E COLETIVAA Coletiva instalou 989 coletores

equipados com painéis publicitários no Aeroporto de Congonhas (SP), no Aero-porto Internacional do Recife, no Aero-porto Internacional de Fortaleza, no Ae-roporto Internacional de Salvador, no Aeroporto Santos Dumont (RJ), no Ae-roporto Pampulha (BH), no Aeroporto Internacional de Cuiabá, no Aeroporto Internacional Eduardo Gomes/Manaus, no Aeroporto Internacional de Curitiba e no Aeroporto Internacional de Porto Alegre. A iniciativa não contempla os

resíduos das aeronaves.Para o CEO da Coletiva, Diego Gomes

Martins, os consumidores buscam cada vez mais se relacionar com empresas responsáveis e comprometidas com um modelo de desenvolvimento susten-tável. “Hoje, os resíduos, que são cada vez mais gerados em nossa sociedade, são um desafi o nacional e a nova legis-lação entra como um enorme benefício ambiental e social. Nesse contexto desa-fi ador, criamos uma ação em que todos ganham, principalmente, a sociedade”, disse. Dados da Infraero mostram que quase 70 milhões de pessoas passaram por esses dez aeroportos entre janeiro

e novembro de 2014. A empresa tam-bém administra outros 60 aeroportos no Brasil.

EDUCAÇÃO AMBIENTALAo que parece, no Aeroporto Interna-

cional Pinto Martins, os coletores com painéis incentivando a segregação dos resíduos, disponibilizados no fi nal de novembro de 2014, parece que ainda estão invisíveis. Segundo os funcioná-rios do quiosque Casa Café, localizado no térreo do aeroporto, poucas pessoas utilizam o serviço, e talvez, por força do hábito, acabam preferindo o “coletor normal”. Eles lamentam, pois sem co-

leta seletiva, a reciclagem fi ca inviável. Realmente, nós constatamos que ali existe uma ‘lixeira’ e logo atrás, um pou-co escondido, tem um coletor seletivo.

Ao observar, por cerca de 30 minutos, as pessoas que transitavam no andar térreo, nossa reportagem pôde verifi car que ninguém depositou resíduo reciclá-vel nos coletores apropriados, ao con-trário, boa parte deixava as latinhas de alumínio e copos plásticos sobre a mesa dos quiosques ou descartava-os na lixei-ra comum, sem demonstrar qualquer preocupação com a segregação e a desti-nação correta do próprio lixo. ”Esse re-trato da falta de educação é lamentável”,

POR ELISÂNGELA [email protected]

NAYANA MELO

10 FORTALEZA - CEARÁ - BRASILTerça-feira, 13 de janeiro de 2015

VERDE

disse a vendedora Brena Késia.No andar superior do aeroporto, en-

contramos o funcionário Valécio Mora-es, da empresa Criart, fi rma terceirizada para atender ao programa. Ele recolhia resíduo e fazia a reposição das sacolas coloridas correspondentes a cada tipo de lixo. Segundo o trabalhador, ele faz a re-posição, apenas, uma vez por dia, um in-dicativo da baixa adesão ao Programa de Coleta Seletiva ali implantado, por parte dos usuários do aeroporto.

Jorge Pereira, fi scal de terminal de pas-sageiros da Infraero, ao ser questionado sobre a importância desse projeto, apon-ta que faltou incluir o descarte de resídu-os eletrônicos: pilhas, baterias, celulares entre outros. Mas, reconhece o valor da iniciativa. Já o turista paraense José Riba-mar Coelho fi cou surpreso ao ser informa-do pela reportagem sobre o Programa de Coleta Seletiva. Não viu nada.

Não bastam coletores coloridos indi-cando onde colocar cada tipo de resíduo, é preciso que em paralelo, seja feito um tra-balho de conscientização, amplo, e envol-vendo todos os atores. Coleta, conscienti-zação, destinação, estão entre os pontos estabelecidos no contrato de 10 anos entre a Infraero e a empresa paulista Coletiva. Segundo o Setor de Comunicação do Pinto Martins, a área de meio ambiente realiza várias ações com as comunidades, aero-portuária e do entorno, com o objetivo de orientar o descarte adequado do lixo. “Es-sas ações envolvem palestras educativas, cartazes e email marketings”, informa.

LOGÍSTICA REVERSAO contrato com a Coletiva, válido até

o ano de 2024, contribui para a adequa-ção da Infraero à Lei Federal 12.305/10 que criou a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que propõe a prática de hábitos de consumo sustentável e con-tém instrumentos variados para propiciar e incentivar à reciclagem e à reutilização dos resíduos sólidos (reciclagem e rea-proveitamento), bem como a destinação ambientalmente adequada dos dejetos. Um dos instrumentos mais importantes da PNRS é o conceito de Responsabilida-de Compartilhada pelo Ciclo de Vida dos Produtos.

Ao lado da responsabilidade comparti-lhada há o Acordo Setorial, um contrato fi rmado entre o poder público e fabri-cantes, importadores, distribuidores, co-merciantes, e setor de serviços, tendo em vista a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do pro-duto; e a Logística Reversa, um conjunto

de ações destinado a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento ou outra destinação fi nal adequada, como a doação dos resíduos às associações de catadores em atendimento ao Decre-to 7.404/2010, que regulamenta a Lei 12.305, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras providências.

Para a adequação da Infraero às exigên-cias da Logística Reversa, os resíduos sóli-dos recicláveis produzidos nos 10 aeropor-tos serão destinados, sob o gerenciamento da Coletiva, às cooperativas de catadores, promovendo a geração de emprego e ren-da nestas comunidades. Diariamente, as cooperativas informam o volume de resí-duos recebidos, tornando possível mensu-rar o impacto da iniciativa.

RETORNODe acordo com Martins, “com um pa-

trocinador que viabiliza a parte fi nancei-ra, por meio do patrocínio/publicidade, o projeto promove o retorno dos resíduos à cadeia, como matéria-prima, evitando a exploração de recursos naturais. O pro-cesso, também benefi cia catadores, atra-vés da geração de renda. Mas, com tudo isso, nossos coletores passam a ser o que chamamos de Mídia Sustentável, pois atingimos resultados nos três pilares da sustentabilidade: econômico, social e Am-biental”, fi naliza Martins.

As 2,5 toneladas de resíduos sólidos co-letados diariamente (ou 75 toneladas por mês) nos dez aeroportos incluídos no con-trato com a Coletiva são encaminhadas para 16 cooperativas de catadores como doação. Em Fortaleza, o projeto benefi -cia três associações: Associação Ecológica dos Coletores de Materiais Recicláveis da Serrinha e Adjacências (Acores); Associa-ção dos Recicladores Amigos da Natureza (Aran) e Associação Cearense dos Traba-lhadores e Trabalhadoras em Resíduos Recicláveis (Reciclando).

SOBRE A COLETIVA A Coletiva – Ideias para o futuro foi

criada com o objetivo de desenvolver e aplicar projetos alinhados a estratégias de sustentabilidade em grandes corporações. A proposta da empresa é ampliar o valor das marcas, aproximá-las dos consumido-res e permitir que ambos façam parte do mesmo universo, criando oportunidades para que as marcas se relacionem diaria-mente com seus clientes. 76 coletores estão instalados no Aeroporto Pinto Martins

NAYANA MELO

FORTALEZA - CEARÁ - BRASILTerça-feira, 13 de janeiro de 2015

VERDE

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POR TARCILIA [email protected]

FLORESTAS PLANTADAS

Dirigentes consideram uma grande vitória para o negócio fl orestal, e a elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento será o próximo passo. O setor planeja investir R$ 53 bilhões até 2020

Política para o setor,finalmente, sai do papel

Política sai do papel. Decreto n0. 8.375 que defi ne a Política Agrícola para Florestas Plantadas , assinado

pela presidente Dilma Rousseff Nacional, foi publicado, no Diário Ofi cial da União, dia 12 de dezembro. De acordo com o tex-to, consideram-se fl orestas plantadas, as fl orestas compostas predominantemente por árvores que resultam de semeadu-ra ou plantio, cultivadas com enfoque econômico e fi ns comerciais.

O artigo 6° estabelece que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) coordenará o planejamento, a implementação e a avaliação da Política Agrícola para Florestas Plantadas e pro-moverá a sua integração às demais políti-cas e setores da economia. Caberá à pasta, conduzida pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), elaborar o Plano Nacional de Desenvolvimento de Florestas Plantadas (PNDF), com um horizonte de dez anos.

Para o presidente da Câmara Setorial de Florestas Plantadas, o empresário Luiz Calvo Ramires Júnior, o decreto coloca o setor no lugar certo. “Agora é hora de entender como vai funcionar a governança, mas, sem dúvida

nenhuma, o negócio fl orestal termina o ano com uma grande vitória”, ressaltou Ramires.

Para o diretor do Painel Florestal, Robson Trevisan, evento nacional que será lançado, ofi cialmente, dia 10 de fevereiro, em Parque de Exposições de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul ,este é um motivo a mais para come-morar. “Acompanhei de perto o esforço de Fernando Castanheira, que na Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, sempre buscou o diálogo para alcançar a melhor proposta para o setor”.

Castanheira é engenheiro fl orestal e ge-rente de projeto da SAE, foi um dos res-ponsáveis pela articulação e elaboração da PNDF. “A expectativa agora é com a criação de uma diretoria de Florestas Plantadas den-tro da estrutura do Mapa, para abrigar as de-mandas do setor e conduzir o planejamento previsto no decreto”.

POLÊMICA Plantar árvores pode ser uma coisa muito

boa, mas também pode ser muito ruim. Depende do objetivo, da escala, do lugar de instalação e dos benefícios ou prejuízos que isso traz às comunidades locais. No caso das fl orestas plantadas, sempre estiveram nas discussões de ambientalistas, principal-mente por seus possíveis efeitos sobre os re-

cursos hídricos, como resultado da percepção genérica de um consumo exagerado de água.

O professor aposentado do Departamento de Ciências Florestais, ESALQ, da Univer-sidade de São Paulo (USP), no artigo de sua autoria, “Impacto Ambiental das Florestas Plantadas” (www.cpamn.embrapa.br), afi r-ma que tais discussões estão longe de ter-minar e que atingiram uma dimensão nova e muito signifi cativa. “Em primeiro lugar, devido ao total de área plantada, que atinge aproximadamente 50 milhões de hectares nas regiões tropicais do mundo, com uma taxa de novos plantios de cerca de 3 milhões de hectares por ano”. Em muitos países, as plantações são instaladas, eliminando pre-viamente a fl oresta existente.

O autor afi rma que existe uma percep-ção de que as fl orestas plantadas em larga escala para o abastecimento industrial e, na linha de discussão de fl orestas energé-ticas, “não devem fazer parte deste concei-to de manejo fl orestal sustentável, com o argumento de que é, na realidade, cultura de árvores, caracterizada pela homogenei-dade e pelo objetivo primário de produção de biomassa, semelhante ao sistema con-vencional de produção agrícola”.

No entanto “este argumento, além de não contribuir em nada para o equacio-namento da dimensão ambiental, já que a agricultura causa impactos hidrológicos signifi cativos, tampouco encontra respal-do no conhecimento contemporâneo dos sistemas biológicos”.

Os impactos sobre a biodiversidade local também dependem do bioma e da condição prévia da região onde a fl oresta será plan-tada. Se plantadas em áreas de fl orestas na-tivas, as plantações acarretam redução da biodiversidade. Implantada, por outro lado, numa região de savana, ou mesmo numa região que anteriormente era coberta com mata atlântica, mas que foi desmatada, a fl o-resta exótica acarreta aumento da biodivers-idade da fl ora e fauna locais.

Por fi m, é importante destacar que implan-

tar (este é o termo usado pelos especialistas) fl orestas em áreas onde a fl oresta nativa já foi derrubada, em áreas de pastagens ou em áreas degradadas, pode gerar melhoria do regime hídrico, do solo, da biodiversidade, enfi m, do meio ambiente como um todo.

IBÁPara a Indústria Brasileira de Árvores

(Ibá), associação responsável pela repre-sentação institucional da cadeia produtiva de árvores plantadas, do campo à indústria, junto a seus principais públicos de interesse, “é no potencial das árvores plantadas que se baseiam os projetos de investimento das empresas associadas, em andamentos e pre-vistos, que visam ao aumento dos plantios, ampliação de fábricas e novas unidades, es-timados em R$ 53 bilhões até 2020” . A Ibá representa 62 empresas e oito entidades es-taduais de produtos originários do cultivo de árvores plantadas.

Conforme 4º do Decreto no. 8.375 de 11/12/2014, são objetivos da PNDF:

-Aumentar a produção e a produtividade das fl orestas plantadas;-Promover a utilização do potencial produtivo de bens e serviços econômicos

das fl orestas plantadas;-Contribuir para a diminuição da pressão sobre as fl orestas nativas;-Melhorar a renda e a qualidade de vida no meio rural, notadamente em peque-

nas e médias propriedades rurais; e-Estimular a integração entre produtores rurais e agroindústrias que utilizem ma-

deira como matéria-prima.

POLÍTICA AGRÍCOLA PARA FLORESTAS PLANTADAS PNDF

FOTO: VERÔ NICA FREIRE/EMBRAPA

FORTALEZA - CEARÁ - BRASILTerça-feira, 13 de janeiro de 2015

VERDE

POR MARIA EMILIA SCHETTINI*

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A cidade de Fortaleza já foi uma das mais arborizadas do país. Clima agradável, ruas sombre-

adas e uma temperatura sempre em torno de 27°C.

No intervalo de poucos anos vimos o verde da cidade desaparecer. Os terre-nos, antes arborizados, deram lugar a condomínios e as árvores das ruas so-freram, além da eliminação para se ade-quar à estética dos condomínios, outra forma de destruição: foram paulatina-mente amputadas, como se algum mal delas se apoderasse.

Quem, ou o que causou isso? Qualquer pessoa que transite pela cidade já teve a oportunidade de desvendar o mistério: as podas drásticas feitas com o intuito de resguardar a rede elétrica do contato com os galhos e folhas das árvores. Podas necessárias, mas que poderiam ser rea-lizadas de forma a preservar o máximo possível da árvore, feitas de acordo com um manual técnico específi co. Não é o que se vê. Na imensa maioria dos casos, quase nada se deixa, fi cando expostos “esqueletos” que não permitirão que a árvore exerça sua maior função, respon-sável por sua sobrevivência e pela pure-za do ar que respiramos: a fotossíntese. Sem folhas, não há fotossíntese. Com os galhos partidos, fi cam expostas a doen-ças e enfraquecem. Ao fi m e ao cabo, a morte. O que ganhamos? Uma cidade feia e quente.

A Prefeitura de Fortaleza tem um pla-no de arborização que pretende plantar, até 2016, 35.000 árvores nas calçadas e canteiros da cidade, com uma meta de 80 árvores por dia.

Digamos que a meta seja cumprida, que as árvores sobrevivam à falta de manutenção e cuidados. De que adian-ta todo esse investimento, se quando finalmente elas estiverem no seu es-plendor terão o mesmo triste fim de suas antepassadas?

Existem três tipos de fi ação: a conven-cional (aérea), que é maioria em nossa cidade, tem os fi os distribuídos nos pos-tes em alturas distintas, de acordo com a tensão, desencapados, que necessitam de intensa manutenção por serem expostos aos elementos e causam muitos acidentes.

A fi ação compacta (aérea), onde vemos três cabos cobertos separados entre si por uma peça em forma de triângulo, requerem menor manutenção e ocu-pam menos espaço, permitindo maior desenvolvimento das árvores. A fi ação subterrânea é a mais efi ciente: reduz as falhas na distribuição, acidentes e cus-tos com manutenção, preserva as árvo-res. As duas primeiras têm custo apro-ximado, a última tem custo elevado por precisar de obras civis.

Além da fi ação elétrica, existem os cabos das operadoras de telefonia e TV, muitos deles fora de operação e esquecidos, dei-xados para trás como teias de aranha es-palhadas pelas ruas da cidade; ninguém é responsável por sua retirada. Não sofrem interferência se houver contato com as árvores, mas são considerados nas podas.

Dentro das alternativas disponíveis, nossa fi ação aérea convencional é menos efi ciente, mais perigosa, mais prejudicial à arborização urbana e ao meio ambien-te. Diante dessa realidade é imprescin-dível que as árvores sejam tratadas de forma responsável e digna, pois são seres vivos e necessários à boa qualidade de vida da população. Muitas já estavam lá antes da chegada dos fi os.

Fortaleza é uma cidade quente, precisa das árvores para amenizar o clima, per-mitindo que as pessoas usufruam o meio urbano. Por que não promover a coexis-tência harmônica entre fi os e árvores, en-quanto não são adotadas soluções mais efi cientes? Árvores levam décadas para atingirem a maturidade e exercerem ple-namente suas funções ecológicas. Quan-do isso acontece, chega a motosserra.

*Arquiteta e Urbanista, membro

OPINIÃO

O que fizeram com nossas árvores?