o estÁgio na formaÇÃo docente: da teoria a prática, ação-reflexão

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  • O ESTGIO NA FORMAO DOCENTE: da teoria a prtica, ao-reflexo

    Berenice Lurdes Borssoi1 Universidade Estadual do Oeste do Paran UNIOESTE

    [email protected]

    RESUMO: A formao do professor vem sendo um assunto amplamente discutido nas instituies escolares, visto que a formao do educador um fator essencial para o ensino e a aprendizagem dos alunos. Certamente com a existncia de profissionais qualificados, competentes, compromissados e valorizados, quem ganhar ser a sociedade, tendo cidados criativos e crticos. Para isso, os cursos de formao precisam oferecer, alm de conhecimentos cientficos, atividades prticas sob forma de estgio, como tambm o prprio estgio supervisionado que articule teoria e prtica. Portanto, este estudo terico tem por objetivo refletir sobre a questo do estgio e a relao teoria e prtica na formao do professor. Procurou-se descrever a importncia do estgio para a formao docente, como meio de conhecer a realidade escolar, a partir de uma viso dialtica como forma de superar a fragmentao entre teoria e prtica, visando formao da identidade profissional atravs da reflexo, do dilogo e da interveno. Estudou-se bibliografias que possibilitassem acesso a esse conhecimento, restringindo-se aos conhecimentos vivenciados no mbito do processo de formao oferecido pelo Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do Paran UNIOESTE, campus de Francisco Beltro. Para tanto, o estgio constitui-se um momento de ensino-aprendizagem, pesquisa e investigao, quando direcionados a esse fim.

    Palavras-chave: Estgio, formao docente, teoria-prtica.

    1 Professora do Centro de Cincias Humanas, UNIOESTE, Campos de Francisco Beltro, Curso de

    Pedagogia. Membro do Grupo de Pesquisa Educao e Sociedade GEDUS - UNIOESTE. E-mail: [email protected].

  • O pensamento reflexivo e a capacidade investigativa no se desenvolvem espontaneamente, eles precisam ser instigados, cultivados e requerem condies favorveis para o seu surgimento. Irade Marques de Freitas e Raimunda Abou Gebran (2006, p. 36).

    Introduo No sentido de compreender o estgio como via fundamental na formao do

    professor, essencial considerar que o mesmo possibilita a relao teoria-prtica, conhecimentos do campo de trabalho, conhecimentos pedaggicos, administrativos, como tambm conhecimentos da organizao do ambiente escolar, entre outros fatores. Dessa forma, o objetivo central do estgio a aproximao da realidade escolar, para que o aluno possa perceber os desafios que a carreira lhe oferecer, refletindo sobre a profisso que exercer, integrando - o saber fazer obtendo (in)formaes e trocas de experincias.

    O presente artigo, portanto, tem como objetivo de estudo abordar a importncia do estgio, seja o estgio supervisionado ou estgio sob forma de atividades prticas, e a importncia da relao teoria e prtica na formao do professor. Contudo, restringiu-se aos conhecimentos vivenciados no mbito do processo de formao oferecido pelo Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do Paran UNIOESTE, campus de Francisco Beltro.

    O Curso de Pedagogia da UNIOESTE traz em sua grade curricular, desde o primeiro ano, disciplinas que contam com atividades prticas, a fim de superar a to problemtica dicotomia entre teoria e prtica, tema de altas discusses, debates e pesquisas, sendo um dos grandes desafios de muitos cursos de graduao, de um modo geral. Essas atividades tm por objetivo proporcionar aos alunos a realizao de estgios durante todo o percurso acadmico, a fim de aproxim-los do contexto escolar e assim, trabalhar com disciplinas tcnicas e pedaggicas.

    Nesse sentido, percebe-se que os acadmicos ficam angustiados, mais com os estgios supervisionados, do que com as atividades prticas desenvolvidas durante curso. Ou seja, reportando-se ao comportamento dos alunos na realizao do estgio supervisionado, nota-se uma preocupao, alm da reflexo sobre a importncia do

  • mesmo na formao docente. V-se que muitos acadmicos desenvolvem as atividades do estgio supervisionado com uma facilidade extrema, sem precipitaes. J, outros encaram-no como algo de outro mundo, desconhecido.

    Para tanto, precisa-se levar em conta a diversidade dos alunos, a maioria dos acadmicos egressos do ensino mdio e atuando em outras reas. No entanto, os professores/orientadores deparam-se com situaes que exigem encaminhamentos especiais a fim de que no se frustrem, ou seja, o desenvolvimento do estgio precisa ser orientado por procedimentos definidos que visem ao melhor aproveitamento dos momentos destinados a disciplina (KENSKI, 1991, p.39). Diante disso, fao alguns questionamentos: Ser que nossos alunos sabem o que querem profissionalmente? Ser que eles tm conhecimento do curso? Ser que eles analisam as disciplinas/ grade curricular antes de nele ingressar? Sabem da importncia do estgio, ou melhor, qual o papel do estgio para a sua formao? Caso fizessem esses questionamentos saberiam que o curso oferta disciplinas prticas, que devero ser desenvolvidas durante a graduao e os estgios sero realizados no campo de trabalho, como acontece com vrios cursos de graduao. Ao produzir este artigo, no pretende-se responder a todas essas indagaes, mas fazer com que os leitores reflitam sobre a importncia do estgio na formao do professor, sabendo realmente qual seu papel. KULCSAR considera os estgios supervisionados uma parte importante da relao trabalho-escola, teoria-prtica, e eles podem representar, em certa medida, o elo de articulao orgnica com a prpria realidade (KULCSAR, 1991, p. 63). Considera-se que, alm do estgio supervisionado, as atividades prticas tambm contribuem muito no aprendizado dos alunos/acadmicos e em sua formao, pois atravs de uma observao orientada consegue-se obter vrias informaes do trabalho escolar. Porm, o estgio no deve (deveria) ser constitudo de forma burocrtica, com preenchimentos de fichas e valorizao de atividades que envolvem observao, participao e regncia, desprovidas de uma meta investigativa (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p. 26). (grifo meu)

    Breves reflexes sobre estgio Este artigo fundamenta-se no referencial terico que busca compreender o

    estgio como uma das aes responsveis pela articulao entre a teoria e a prtica,

  • enquanto relao fundamental na prtica docente. Entretanto, para compreender melhor o tema aborda-se abaixo algumas reflexes sobre o estgio.

    De acordo com Barreiro e Gebran o estgio [...] pode se construir no lcus de reflexo e formao da identidade ao propiciar embates no decorrer das aes vivenciadas pelos alunos, desenvolvidas numa perspectiva reflexiva e crtica, desde que efetivado com essa finalidade (2006, p. 20). Entende-se que no decorrer do estgio importante refletir sobre as vivncias e esse esprito reflexivo e crtico so proporcionados pelo professor/orientador. J o Parecer nmero 21, de 2001, do Conselho Nacional de Educao, define o estgio,

    Como um tempo de aprendizagem que, atravs de um perodo de permanncia, algum se demora em algum lugar ou ofcio para aprender a prtica do mesmo e depois poder exercer uma profisso ou ofcio. Assim o estgio supe uma relao pedaggica entre algum que j um profissional reconhecido em um ambiente institucional de trabalho e um aluno estagirio [...] o momento de efetivar um processo de ensino/aprendizagem que, tornar-se- concreto e autnomo quando da profissionalizao deste estagirio.

    Observa-se como o estgio fundamental, tornando-se [...] um momento de efetivar um processo de ensino-aprendizagem [...] (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAO, PARECER N. 21, 2001), basta indagar e refletir os conhecimentos nele providos pelo ambiente educativo. Nessa perspectiva, Fvero (2001) prope a construo de um conhecimento dialtico, em que a teoria e prtica sejam consideradas como um ncleo articulador no processo de formao a partir do trabalho desenvolvido com esses dois eixos de forma integrada, indissocivel e complementar. Acredita-se que o estgio precisa caminhar nesse rumo, ou seja, numa viso dialtica, onde professores/orientadores e alunos/acadmicos possam argumentar, discutir, refletir e dialogar as prticas vivenciadas na escola. Pensar na formao docente pensar na reflexo da prtica e numa formao continuada, onde se realizam saberes diversificados, seja saberes tericos ou prticos, que se transformam e confrontam-se com as experincias dos profissionais. Portanto, atravs desses confrontos que acontece a troca de experincias e onde o professor reflete sua prtica pedaggica. Segundo Barreiro e Gebran (2006, p. 22) a aquisio e a construo de uma postura reflexiva pressupe um exerccio constante entre a utilizao dos

  • conhecimentos de natureza terica e prtica na ao e a elaborao de novos saberes, a partir da ao docente. Para tanto, a ao-reflexo na formao docente auxilia a compreenso entre teoria e prtica, pois tendo reflexo na prtica haver a busca de conhecimentos tericos, os quais contribuiro para a prtica. Barreiro e Gebran abordam ainda,

    A articulao da relao teoria e prtica um processo definidor da qualidade da formao inicial e continuada do professor, como sujeito autnomo na construo de sua profissionalizao docente, porque lhe permite uma permanente investigao e a busca de respostas aos fenmenos e s contradies vivenciadas (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p. 22).

    Pimenta e Gonalves (apud PIMENTA; LIMA, 2004, p. 45) consideram que a finalidade do estgio propiciar ao aluno uma aproximao realidade na qual atuar [...] as autoras defendem uma nova postura, uma redefinio do estgio, que deve caminhar para a reflexo, a partir da realidade. A partir destas reflexes, pode-se perceber que os autores tm uma viso ampla sobre a importncia do estgio, sendo que o mesmo proporciona o elo entre teoria e prtica e a aproximao da realidade, tendo um papel fundamental para a formao docente. Frente a esse embate, pode-se dizer que o estgio um momento de aprendizado que se pode efetivar.

    O estgio: prtica pedaggica e os cursos de formao Pimenta e Lima (2004) abordam que o estgio a parte prtica dos cursos de formao de profissionais e que muitos cursos, na sua grade curricular, do nfase a um aglomerado de disciplinas isoladas entre si, sem articular a teoria e a prtica, como saberes que se complementam. E mais, para as disciplinas tericas h uma carga horria maior que para as prticas, tornando assim o estgio burocrtico - estgio distncia. Portanto, de acordo com Pimenta e Lima o estgio tem de ser terico-prtico, ou seja, que a teoria indissocivel da prtica (2004, p. 34). Porm, para concebermos essa idia, precisa-se entender o conceito de prtica e de teoria a partir do conceito de prxis, que aponta para o desenvolvimento do estgio como uma atitude investigativa, que envolve a reflexo e a interveno na vida da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 34).

  • Antes de seguir, faz-se necessrio questionar ento: Como os professores aprendem a ensinar? Ou, como aprenderam a ensinar? Pela imitao de modelos? Pela utilizao de tcnicas? Pela observao? Apenas com a realizao dos estgios? Claro que no!!! So vrios questionamentos que leva a obter-se alternativas e dvidas em relao ao estgio, argumentando qual seu papel e sua importncia nos cursos de formao.

    Diante dessas problemticas, Pimenta e Lima descrevem duas perspectivas pelas quais o estgio pode ser desenvolvido pela prtica como imitao de modelos e como instrumentalizao tcnica, quando no refletidos.

    Segundo as autoras o exerccio de qualquer profisso prtico, no sentido de ao. Nesse sentido, a profisso professor no diferente, e o modo de aprender a fazer algo, seja nessa profisso ou outra, parte da observao, da imitao, reproduo daquilo que visto e observado. No entanto, os alunos/acadmicos e professores/orientadores, a partir da observao, devem elaborar sua prpria prtica, adequando, acrescentando e criando novas idias, aps uma anlise crtica e reflexiva do modo de agir do professor. Quando aborda-se ser crtico supe-se compreender que a sociedade e as pessoas vivem em uma sociedade capitalista. Nesse vis necessitam conhecimentos histricos e culturais, para assim serem crticos, conscientes do contexto e da realidade social, e no ser crtico no sentindo de baderna. No entanto, a prtica como imitao de modelo leva os acadmicos a limitaes, no considerando as demandas e a realidade do contexto escolar. Nesse sentido,

    O estgio, nessa perspectiva, reduz-se a observar os professores em aula e imitar esses modelos, sem proceder a uma anlise crtica fundamental teoricamente e legitimada na realidade social em que o ensino se processa. Assim, a observao se limita sala de aula, sem anlise do contexto escolar, e espera-se do estagirio a elaborao e execuo de aulas-modelo (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 36).

    Para Pimenta e Lima (2004) o exerccio de qualquer profisso tcnico tambm, pois precisa utilizar tcnicas para sua execuo; nesse caso, tambm a profisso professor desenvolve habilidades especficas para realizar tal atividade. Todavia, a prtica pela prtica e o emprego de tcnicas sem a devida reflexo podem reforar a iluso de que h uma prtica sem teoria ou de uma teoria desvinculada da prtica (2004, p. 37). Aqui vale salientar o que muitos acadmicos, sem saber ou refletir sobre o que dizem contradizem-se quando falam na minha prtica a teoria outra.

  • Na relao dialgica, a troca de opinies e experincias contribui para a elaborao de novos conhecimentos. A teoria, com efeito, surge a partir da prtica, elaborada em funo da prtica, e sua verdade verificada pela prpria prtica (PICONEZ, 1991, p. 29).

    Conclui-se que o professor precisa saber desenvolver habilidades que condizem com a prtica, conforme as diversas situaes em que ocorre ensino, ou seja, traar objetivos do que se pretende alcanar com determinada tcnica, articulando teoria, prtica e habilidades desenvolvidas. O professor precisa ter conhecimento cientifico, conhecimento prtico e conhecimento tcnico.

    Repensar nas perspectivas citadas por Pimenta e Lima (prtica como imitao de modelos e como instrumentalizao tcnica) repensar na formao do professor onde os cursos necessitam oferecer conhecimentos prticos e tericos. Portanto, qualquer

    profissional, como tambm o professor, aprende sim, pela observao, imitao e reproduo daquilo que observado, atravs do estgio. Porm, preciso reflexo analtica sobre aquilo que se faz e conhecimento terico-prtico.

    Pimenta e Lima (2004) afirmam que a profisso professor uma prtica social. Como tantas outras, uma forma de se intervir na realidade social, no caso, por meio da educao que ocorre no s, mas essencialmente, nas instituies de ensino. Isso porque a atividade docente ao mesmo tempo prtica e ao.

    Nesse processo, de fundamental importncia o professor ter conscincia de sua prtica e ao pedaggica, pois elas determinam as atividades desenvolvidas no interior da escola. Sendo assim,

    O papel das teorias iluminar e oferecer instrumentos e esquemas para anlise e investigao que permitem questionar as prticas institucionalizadas e as aes dos sujeitos e, ao mesmo tempo, colocar elas prprias em questionamento, uma vez que as teorias so explicveis sempre provisrias da realidade (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 43).

    Diante do que foi exposto, percebe-se no ser suficiente apenas uma fundamentao terica bem alicerada na formao do professor, mas faz-se necessrio a prtica alicerada com a fundamentao terica. imprescindvel, na formao do professor uma busca constante, no apenas do saber, mas tambm do fazer, estando cada vez mais presente a ao - reflexo no dia-a-dia do professor, para que ele no se acomode e avalie sua prtica em busca de um melhor saber e de um melhor fazer.

  • Segundo Pimenta e Lima (2004), compete aos cursos de formao possibilitar aos futuros professores a compreenso da complexidade das prticas e aes praticadas pelos profissionais, como alternativa no preparo para a insero profissional. Isso pode ser conquistado se o estgio for articulado a todas as disciplinas, a fim de formar professores crticos e analticos. Nesse sentido, no possvel que o professor tenha uma prtica investigativa se sua formao no priorizou a investigao a partir da anlise, da reflexo, da crtica e de novas maneiras de se educar (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p. 25).

    Dessa forma, busca-se, com o estgio, a superao da separao entre teoria e prtica, e ao mesmo tempo, transformar o estgio em pesquisa e investigao terico-

    prtica. Assim, o estgio oferecer ao acadmico a aproximao da realidade e iniciativas para pesquisa.

    Na realizao dos estgios professores/orientadores, atuam e diante do exposto acima, caber a esse profissional questionar seu aluno sobre as prticas vivenciadas no ambiente escolar, ou seja, preciso que os professores orientadores de estgios procedam no coletivo, junto a seus pares e alunos, a essa apropriao da realidade, para analis-la e question-la criticamente, luz de teorias (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 45).

    Para haver a interao entre professor/orientador x aluno/acadmico e uma formao docente de qualidade, faz-se necessrio formar professores que no saibam apenas falar, mas principalmente ouvir. O papel da formao, entretanto, vai alm do ensino, pois envolve capacidades de abrir e criar espaos de escuta e reflexo, a fim de que os acadmicos apreendam a lidar com as dificuldades e mudanas pelas quais o aluno, a escola e a sociedade passam.

    Conclui-se que o estgio [...] atividade terica de conhecimento, fundamentao, dilogo e interveno na realidade [...], ou seja, no contexto da sala de aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade que a prxis se d (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 45). O estgio tambm poder ter outras estratgias positivas para a formao do futuro professor, segundo autores. Atravs dele pode-se realizar pesquisas relacionadas ao ambiente escolar, as quais possibilitam a ampliao e anlise dos contextos onde os alunos realizam os estgios. Outro aspecto que ele permite desenvolver no aluno postura e habilidade de pesquisador, elaborando projetos que permitam compreender e problematizar as situaes vivenciadas e observadas.

  • O estgio traz momentos de investigao, e quando bem orientados, gera um processo dialtico das prticas educativas, compreendendo que o aluno, a escola, seus profissionais e a comunidade vivem num ambiente histrico, cultural e social que sofre transformaes com tempo. Assim, se os cursos de formao conceberem o estgio dentro de uma postura reflexiva e dialtica, possibilitaro a formao de profissional reflexivo e crtico que valoriza os saberes da prtica docente, por meio da reflexo e anlise do saber terico e prtico.

    Portanto, o papel da teoria oferecer aos professores perspectivas de anlise para compreender os contextos histricos, sociais, culturais, organizacionais e de si mesmos como profissionais, nos quais se d sua atividade docente, para neles intervir, transformando-os. Da, fundamental o permanente exerccio da crtica s condies materiais nas quais o ensino ocorre (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 49).

    De acordo com Pimenta e Lima (2004), o estgio, por meio da pesquisa e investigao abre possibilidades para o futuro professor compreender as situaes vivenciadas e observadas nas escolas e seus respectivos sistemas de ensino, formando assim professores crticos-reflexivos e pesquisadores. (grifo meu)

    Nessa perspectiva, os cursos de formao, por meio do estgio, devem valorizar as atividades que desenvolvem capacidades e habilidades de dilogo, reflexo, pesquisa, investigao e anlises crticas dos contextos educativos.

    O estgio, ento, deixa de ser considerado apenas um dos componentes e mesmo um apndice do currculo e passa a integrar o corpo de conhecimentos do curso de formao de professores. Poder permear todas as suas disciplinas, alm de seu espao especfico de anlise e sntese ao final do curso. Cabe-lhe desenvolver atividades que possibilitem o conhecimento, a anlise, a reflexo do trabalho docente, das aes docentes, nas instituies, a fim de compreend-las em sua historicidade, identificar seus resultados, os impasses que apresenta, as dificuldades. Dessa anlise crtica, luz dos saberes disciplinares, possvel apontar as transformaes necessrias no trabalho docente, nas instituies (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 54).

    Nessa perspectiva, o estgio assim realizado permite que se traga a contribuio de pesquisas e o desenvolvimento das habilidades de pesquisa (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 55). Por isso, de suma importncia desenvolver nos futuros profissionais habilidades para o conhecimento e anlise das escolas, bem como a comunidade onde se insere.

    Vale salientar que o estgio supervisionado e estgio sob forma de atividades prticas desenvolvidas no curso de Pedagogia da UNIOESTE, envolvem todas as disciplinas do curso, articulando teoria e prtica, conforme a proposta poltico

  • pedaggica, possibilitando assim a relao dos saberes tericos e saberes prticos durante todo o percurso da formao, garantindo, inclusive, que os alunos aprimorem sua escolha de ser professor a partir do contato com as realidades de sua profisso (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 56).

    Deduz-se que os cursos de formao tm como desafio proceder ao intercmbio, durante o processo formativo, entre o que se teoriza e o que se pratica em ambas (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 56). E ainda, propiciar conhecimentos necessrios para que o docente considere os contextos sociais, histricos e culturais do ambiente que atuar.

    Algumas consideraes Pensar no papel do estgio nos cursos de formao de professores uma tarefa

    difcil, porm deixa-se claro que um bom professor no se faz apenas com teorias, mas principalmente com a prtica, e mais ainda, pela ao-reflexo, dilogo e interveno, em busca constante de um saber terico e saber prtico. Como tambm, o saber docente no s formado pela prtica, mas nutrido pelas teorias.

    Conclui-se, assim, que o estgio, nos cursos de formao de professores, destaca-se como via fundamental ao possibilitar que os professores compreendam a complexidade das prticas institucionais e das aes a praticadas por seus profissionais como alternativa no preparo para a insero profissional (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p. 22, apud PIMENTA: LIMA, 2004, p.43). Assim, de suma importncia tambm, os professores considerarem e compreenderem os contextos histricos, sociais e culturais de determinada sociedade.

    essencial que a educao seja vista como fator de desenvolvimento e (trans)formao humana. Para tanto, um ponto crucial que os cursos de formao orientem seus professores para que eles convivam com seus alunos, observando seus comportamentos, conversando, questionado e indagando suas experincias, a fim de auxiliar, orientar para o desenvolvimento e aprendizagem nos momentos de estgio, formando um professor comprometido e consciente de sua prtica em sala de aula.

    Alm disso, os cursos de formao e os professores devem considerar que o estgio um momento de ensino-aprendizagem do fazer pedaggico, possibilitando habilidades de pesquisa e investigao do ambiente escolar e conhecimentos relacionados teoria, tendo como fio norteador a ao-reflexo. Faz-se necessrio

  • tambm, o comprometimento por parte dos alunos para que desenvolvam os estgios com essa finalidade.

    Referncias Bibliogrficas

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