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O Homem, Meio Ambiente, Antropia, Entropia Silva Revista Diálogos – N.° 14 – ago./ set. 2015 251 O HOMEM, MEIO AMBIENTE, ANTROPIA E ENTROPIA: Passado e Presente de uma relação tensa d.o.i. 10.13115/2236-1499.2015v1n14p251 Josualdo Menezes da Silva – UPE/Garanhuns 1 Resumo As ideias aqui inscritas não constam de uma tradição no quadro do debate da historiografia, nem da coirmã, a geografia. Essa é a razão que define a escrita deste texto. Nele procuramos contribuir com a discussão em torno da questão do “Homem, sua sobrevivência e a sustentabilidade ambiental”. Nossa inquietação é fruto de discussões vivenciadas sobre a questão do meio ambiente no programa de mestrado do PRODEMA, na UFS 2012/2013 em Aracajú Sergipe. Partimos, portanto, de um prognóstico já universal: o nervoso quadro pelo qual emerge a crise” do meio ambiente. Instante que a vida em sentido geral, no planeta, se torna mais vulnerável. Acelerado pela antropia, esta por um lado, acionou por outro de muito cedo o gatilho da entropia. A crise do meio ambiente pode gerar muitas dúvidas e polêmicas em torno das causas e do tema. Mais, as lições mostram-se bastante pedagógicas. Nos anos de 1980, em decorrência disso, a expressão “sustentabilidade” se torna usual numa referência especial as questões ecológicas. As ações antrópicas, agindo como aceleradores, tocaram nas cordas do relógio do tempo da “entropia”. Semelhante ao movimento do relógio, o “tique taque” entrópico não cessou. Por esse motivo, estudiosos do mundo inteiro se posicionam em prontidão. As ações do homem sobre os ambientes terrestres e suas riquezas 1 Prof. Ms. Do curso de Geografia da UPE/Campus Garanhuns.

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O Homem, Meio Ambiente, Antropia, Entropia ‐ Silva 

Revista Diálogos – N.° 14 – ago./ set. 2015  251

                                                           

O HOMEM, MEIO AMBIENTE, ANTROPIA E ENTROPIA: Passado e Presente de uma relação tensa

d.o.i. 10.13115/2236-1499.2015v1n14p251

Josualdo Menezes da Silva – UPE/Garanhuns1

Resumo

As ideias aqui inscritas não constam de uma tradição no quadro do debate da historiografia, nem da coirmã, a geografia. Essa é a razão que define a escrita deste texto. Nele procuramos contribuir com a discussão em torno da questão do “Homem, sua sobrevivência e a sustentabilidade ambiental”. Nossa inquietação é fruto de discussões vivenciadas sobre a questão do meio ambiente no programa de mestrado do PRODEMA, na UFS 2012/2013 em Aracajú Sergipe. Partimos, portanto, de um prognóstico já universal: o nervoso quadro pelo qual emerge a “crise” do meio ambiente. Instante que a vida em sentido geral, no planeta, se torna mais vulnerável. Acelerado pela antropia, esta por um lado, acionou por outro de muito cedo o gatilho da entropia. A crise do meio ambiente pode gerar muitas dúvidas e polêmicas em torno das causas e do tema. Mais, as lições mostram-se bastante pedagógicas. Nos anos de 1980, em decorrência disso, a expressão “sustentabilidade” se torna usual numa referência especial as questões ecológicas. As ações antrópicas, agindo como aceleradores, tocaram nas cordas do relógio do tempo da “entropia”. Semelhante ao movimento do relógio, o “tique taque” entrópico não cessou. Por esse motivo, estudiosos do mundo inteiro se posicionam em prontidão. As ações do homem sobre os ambientes terrestres e suas riquezas

 

1 Prof. Ms. Do curso de Geografia da UPE/Campus Garanhuns. 

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aparecem como pedra angular do problema ambiental do planeta. A entropia, página da física, relativa às leis da termodinâmica conjuga silenciosamente os limites do “sistema terra” as possibilidades em horizonte mediano a sobrevida de todas as formas de biotas. Este estudo comunga com a ideia de que a “[...] energia de um sistema é constante e a entropia (desordem) é crescente”. A terra como sistema, o homem e suas ações aceleram essa “desordem”, a entropia. A vida social de toda história humana se revela nervosa, tensionada. Todos os registros e memórias de que dispõe as ciências humanas e sociais sustentada pela investigação histórico-arqueológica e antropológica dão conta de que o existir humano é um tecido confeccionado a base de ranhuras profundas. São frutos de conflitos sociopolíticos, ideológicos e cultural de curta, média e longa duração. Seus efeitos nos ecossistemas são mais visíveis hoje que no passado. As repercussões de alguns dos fatos, colhidos pela ciência, transpassam as épocas chegando aos atuais tempos de virtualidade cibernética. Por outro lado, sem se desvincular da situação descrita, toda essa tensão implica profundamente na vida do homem, na sua relação direta com os meios ambientes expondo um “cabo de guerra entre ambos”. No centro dessa tormenta encontramos a vida da civilização no seu limite. Palavras-chave: Homem, energia, meio-ambiente, antropia, entropia

MAN, ENVIRONMENT, AND ANTROPIA ENTROPIA:

Past and Present of a strained relationship

Abstract The ideas listed here are not in a tradition within the debate of historiography, or the coirmã, geography. That is the reason that defines the writing of this text. We seek to contribute to the

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discussion around the issue of "Man, survival and environmental sustainability." Our concern is the result of experienced discussions on the issue of the environment in the master's program PRODEMA in UFS 2012/2013 in Aracaju Sergipe. We start therefore an already universal prognosis: the nervous framework through which emerges the "crisis" of the environment. Moment that life in a general sense, the planet becomes more vulnerable. Anthropy accelerated by this on the one hand, triggered by another early trigger entropy. The environmental crisis can generate many doubts and controversies surrounding the causes and theme. More, the lessons of them are quite educational. In the 1980s, as a result, the term "sustainability" becomes a usual special mention ecological issues. Human actions, acting as accelerators, touched the strings of the time clock of "entropy". Similar to the watch movement, the "tick tock" entropic not ceased. For this reason, scholars from around the world position themselves in readiness. Human activities on land environments and their wealth appear as a cornerstone of environmental problem the planet. Entropy, physical page on the laws of thermodynamics silently combines the limits of "earth system" the possibilities on the horizon median survival of all forms of biota. This study communes with the idea that "[...] energy of a system is constant and the entropy (disorder) is increasing." The earth as a system, the man and his actions accelerate this "disorder," the entropy. The social life of all human history reveals nervous, stressed. All records and memories that have the human and social sciences supported by historical and archaeological and anthropological research realize that the human being is a made fabric base deep grooves. They are the result of socio-political conflicts, ideological and cultural short, medium and long term. Their effects on ecosystems are more visible today than in the past. The repercussions of some of the facts, collected by the science, pierce the coming times to current times of cyber virtuality. On the other hand,

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without untying the described situation, all this tension deeply involves the life of man in its direct relationship with the environments exposing a "tug of war between them." At the center of the storm we found the life of civilization at its limit. Keywords: man, energy, environment, human interference, entropy

1. Prolegômenos

"A partir dos anos 80 ficou claro para muitos teólogos -nem todos, claro - que não só os povos gritam, as águas gritam, as florestas, os animais, a Terra grita, porque são todos oprimidos. Solos são devastados, os ares são poluídos. O planeta é agredido de todas as formas" (Leonardo Boff). 

Ainda hoje, toda história humana cobra de si que se esclareça suas origens. Não trataremos dessa “questão última, de onde viemos, para onde vamos”. Guiaremos-nos por uma questão que grita no mundo todo: que rumo nós queremos para nossas vidas e dos nos filhos mais para diante? Esta discussão tão remanescente e atual encontra-se o fenômeno que atormenta a humanidade nesses tempos de globalização, o “Homem, sua sobrevivência e a sustentabilidade ambiental”.

Todos os meios midiáticos de informações se encarregaram de convencer a população mundial de um cataclismo nos últimos anos pós 1992, com a realização da “Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)”, gerando uma expectativa nervosa na população mundial quanto ao destino comum da sociedade contemporânea, hiperindustrializada e os “substratos primários da natureza” para uso e fins comerciais. No espaço ajustado para

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este artigo, a proposta é discutir o que pode ser pensado sobre a sustentabilidade ecológica do planeta e a manutenção da vida em um futuro próximo descortinado pela antropia.

Estudiosos e acadêmicos, deles, ouvimos que a base de qualquer estudo principia por se fazer uma opção quanto à escolha do caminho ou abordagem para um determinado tema. Poderíamos iniciar pela via psicológica, ou seja, indagando quando é possível “atestar” o surgimento da inteligência operativa dirigida, não instintiva no homem? Como e quando fez uso racional dos objetos do mundo para a sua sobrevivência individual e coletiva? Esse caminho conduziria por seu lado, a discussão do meio ambiente e as técnicas, mais também cognitiva, e histórica. Seria a via da complexidade, envolveria o conceito de técnica e o de espaço, o que conduziria a discussão noutra direção e seu caráter perderia o endereço quanto ao objetivo do presente artigo.

Abordar-se-ia a partir da via religiosa, ou teológica. Esta sugere uma antropozooreligiosidade, isto é, o “ser do homem e a transcendentalidade”; sua íntima relação com o sagrado e a natureza dita exterior. Isso implica uma discussão com carga semântica/metafísica ante as dimensões materiais e pragmáticas emergentes. É o caso ainda vivo do bramanismo ou hinduísmo na atualidade. Lá atrás, o homem a caminho da humanização se depara frente ao inexplicável, procura fora do real, explicações à sua finitude e tudo que se vincule a essa condição; como entender, por exemplo, que à noite tornar-se treva, não permitindo a visão noturna e o dia cheio de luz; iluminado, revela um mundo rico de percepções, de formas ao alcance da sua apropriação? Esse homem ante o temor da chama do fogo que o queima, evita certas plantas que o matam, como explicar isso? A todas essas indagações, juntam-se a extemporaneidade ligada às relações sociais e de poder, vinculadas à sobrevivência cotidiana. Tudo isso acabaria em teologismo, afastando-se do propósito da nossa reflexão central. Outro caminho, o da afirmação científica.

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Ela parte do princípio de que existem duas histórias a serem consideradas: a) a que diz respeito à história da natureza (o mundo físico que nos rodeia e do qual somos parte), ou seja, seu contexto “geológico, orográfico, químico e hídrico”, base para o estudo do aparecimento do homem e sua relação com o mundo e seus objetos naturais b) a que diz respeito à história do surgimento, a aparição daquele indivíduo. Sua evolução, aprimoramento intelectual, cultural, moral e político. Esta história, segundo seus defensores, tem por base o “trabalho” no seu sentido ontológico.

Sabe-se, contudo, que ambas as histórias (da natureza e do homem) não se dissociam. São proposituras teóricas selecionadas, entre uma multiplicidade de tantas outras como início de discussão do passado e do presente humano. Sua tensa relação com a natureza, fruto da antropia sobre as formas “in natura” do meio ambiente, o coloca no limite antagonizado, e revelado pela “antropia e a entropia” e o seu palco, o sistema terra. A conquista dos variados ambientes pelo homem possibilitou-lhe adaptações às condições mais extremas do planeta. Essa relação não lhe confere o poder total e absoluto sobre os recursos da natureza. Não obstante, convém um sobrevoo histórico sobre o diálogo entre as duas histórias registradas mais atrás para compreender o que está sendo proposto.

No olhar do ocidente racionalista que deve usar do chicote para domar a natureza, as conquistas e os resultados alcançados pela energia e o vigor físico, bem pode ter gerado os primeiros líderes de comunidade numa sucessão histórica, impondo e se impondo através desse poder. A pesquisa científica resgata esse evento e chega a influenciar o imaginário mundial imortalizando-o através do cinema.

Lembremos a célebre passagem do filme, “2001 uma Odisséia no Espaço” de Stanley Kubrik. Um “ser” de aspecto simiesco lança ao ar, um enorme fêmur, utilizado para

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amedrontar o oponente, sem que tivesse a intenção, abateu o inimigo. A sequência do fato levou-o da hominização à conquista espacial. A biologia, a química, a genética tem se revolucionado incessantemente, abalando crenças e descontruindo mundos. A ciência e a tecnologia - ou tecnociência - perderam sua autonomia, submetendo-se à “Razão de Estado”, a serviço das transnacionais, acomodadas ao discurso da mídia convencendo universalmente a todos sobre os benefícios dos resultados técnicos e científicos que as futuras gerações herdarão acabam por controlarem “corações e mentes” de um mundo cada vez mais urbano e sem coração. No universo do fenômeno urbano, inquietante, o gatilho neomalthusiano aciona o sinal vermelho de perigo iminente de falência da civilização desde o neolítico:

“Em algum momento, daqui a um ou dois anos, uma mulher vai dar à luz na favela de Ajegunle, em Lagos, na Nigéria; um rapaz fugirá da sua aldeia no oeste de Java para as luzes brilhantes de Jacarta ou um fazendeiro partirá coma a família empobrecida para um dos inumeráveis pueblos jovenes de Lima. O fato exato não importa e passará totalmente despercebido. Ainda assim, representará um divisor de águas na história humana, comparável ao Neolítico ou às revoluções industriais. Pela primeira vez, a população urbana da Terra será mais numerosa do que a rural. Na verdade, dada a imprecisão dos recenceamentos no Terceiro Mundo, essa transição sem igual pode ja ter ocorrido” (DAVIS, 2006, p. 14).

Nesse longo parágrafo, Davis (2006) inícia o capítulo 1, “O Climatério Urbano”, do seu livro “Planeta Favela”. Em nome de uma discursividade chamada “sustentabilidade” que abriga idéias ou conceitos como “conservacionistas”, “preservacionistas”, “uso e manejos sustentáveis” da natureza, “smart grid” de energia para mega cidades. Todo um vocabulário

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cocneitual engendrado em nível planetário na ordem da globalização é de fato o caminho que devemos continuar a cursar? Outro mundo não será possível! A questão é: que mundo desejamos para nossos filhos e o seu amanhã? Ou será possível fazer “upgrade” da natureza ou teremos o mundo de “Blade Runner: O Caçador de Andróides”, com “robôs orgânicos” concorrendo com humanos? Em verdade, o cotidiano não é um processo ficcional de uma novela ou filme onde podemos passar a tesoura e cortar cenas do roteiro, se não nos agrada.

Tudo o que está sendo pensado e aplicado pela combinação, ciência/tecnologia (tecnociência), pelas transnacionais, trás o seu lado perverso, a exlusão social. Sem mensurá-la, a ficção de Blade Runner, mesmo que o foco do filme não se volte para o tema, à exclusão social, nele é revelada. Voltemos pois a Davis (2006) para sermos mais reais:

A terra urbanizou-se ainda mais depressa do que previra o Clube de Roma em seu relatório de 1972, Limits of Growth [Limites do Crescimento], sabidamente malthusiano. Em 1950, havia 86 cidades no mundo com mais de 1 milhão de habitantes; hoje são mais de 400, e em 2015 serão pelo menos 5502. [...] hoje o crescimento é de 1 milhão de bebês e migrantes por semana (DAVIS, 2006, p. 14).

Portanto, a idéia de “limite para o crescimento”, encetado conscientemente ou não pelos homens do “fraque e da cartola”, a despeito de seus interesses, de 1980 para os dias atuais, a população urbana ultrapassou os 3,2 bilhões de pessoas, “[...] Enquanto isso, o campo, no mundo todo, chegou a sua população máxima e começará a encolher a partir de 2020 [...]” (DAVIS, 2006, p. 14). Limite, eis o termo que se interpõe no paradoxo das planilhas do desenvolvimento sustentável. Para além do limite, o aquém não cabe nesse discurso. O discurso do modo capitalista

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de produção, para a utilização da natureza, assume os cotornos de corrida de “Formula 1”. A sustentabilidade do sistema terra carrega em si, o princípio da entropia. As necessidades humanas “crescem” geometricamente ao que o próprio planeta terra pode oferecer. Desse modo, o homem força a porta da entropia ao exigir mais e mais do meio ambiente colocando em frente à freente, antropia e entropia. 2. Antrópico e Entrópico

A semelhança fonética entre antropia e entropia parece

trocadilho. A sonoridade entre elas carrega a dessemelhança e uma inversão de proporcionalidade empírica. A forma solitária com que essas palavras emergem dentro da relação homem/meio ambiente/mundo, é antípoda.

Esse fato/evento, só é percebido através da apreciação da ação humana dirigida à natureza. Os fatos concernentes dessa ação, o homem e a sociedade, atônitos, sentem os efeitos na pele. Ainda não tem a clareza disso, os dados são esfumados, mais aposta em termos de futuro. Os sentidos existentes aproximam, tocando dialeticamente, antropia e entropia como contrários se opõem progressivamente. Através da história humana, as duas palavras revelam-se tensionada no interior do grave fenômeno que damos o nome de desequilíbrio do meio ambiente. Aprofundado hoje, mais que ontem, o tema do “desequilíbrio ambiental” toma vulto e espaço na mídia mundial. Não deixa de ser recorrência em estudos acadêmico e científicos, aqui no Brasil e alhures, pela expressiva força que a antropia exerce sobre os ambientes deixando transparecer fortemente o cadáver de muitos sistemas ecológicos e suas listas intermináveis de desaparecimentos de formas vivas de variadas espécies de comunidades bióticas.

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A antropia, pelas implicações da ação humana na natureza e seu corolário de consequências sociais, reflete a “desordem” de uma “ordem” da natureza, acentuando sua ampla visibilidade aos olhos das sociedades e do mundo. Os desastres ambientais em escala planetária por um lado, as questões entrópicas por outro, esta última acaba por não aparecer na justa proporção. Os esquemas teóricos explicativos, foca o quadro das relações homem/natureza, tanto no passado, quanto hoje, no domínio do conjunto físico-químico e biológico do “sistema terra” diante da atual sociedade pós-industrial e da informação, obscurecendo-o. A antropia e a entropia correspondem-se no nível de suas contraditórias implicações. O fator antrópico se revela à medida da intervenção do homem sobre os ambientes e suas variadas biotas pondo-os em franco desequilíbrio.

Entretanto, essa interveniência implica em seu contraponto, a entropia, pelo outro lado. Esta se manifesta ascendendo à luz vermelha para o colapso na forma de viver do homem e do planeta. O que nos apresenta em fim a antropia na longa duração dos tempos humanos, desde que a ciência vem se ocupado dos problemas ambientais nos últimos cinquenta anos? Do outro lado, o que nos fala o estudo da entropia?

O termo de origem grega, Antropia, transliterado, do termo “anthropos”, igual a ser humano, antropia é entendida como ação ou ações do homem que produz modificação consciente ou não no ambiente natural. O conjunto das ações antrópicas sobre determinado lugar, ou espaço, consigna ao homem a responsabilidade por antropismo, postura antinatural. Os sistemas existem e encontram respectivamente seu próprio limite, como o exemplo do bioma caatinga.

A exploração racional/irracional desse bioma o coloca em xeque. Partindo disso, estudiosos de variadas cepas afirmam que a terra é um sistema. Acrescentaria que esse sistema abriga intrassistemas. O sistema amazônico, por exemplo, contêm outros microssistemas e neles incluso comunidades humanas. Como tal,

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o planeta corre sério risco, que falaremos mais adiante sobre esse risco.

A antropia e entropia confluem-se na direção de confronto e autoexclusão; o homem subtraindo “bens ou matéria” da natureza (excepcionalmente energia) promove concomitante a essa ação impactante, o desequilíbrio ambiental na proporção inversa da capacidade da terra – a entropia trabalha então, realizando seu papel – exaurindo tudo que há de orgânico e inorgânico do planeta. Posto tudo isto, o homem em sua relação com o meio ambiente, ao longo da linha do tempo de sua existência, de maneira breve, agrediu em épocas históricas diferentes o complexo/natureza. Desencadeia a partir do fato antrópico, a entropia no planeta agravando os problemas ambientais gerais na natureza e nos espaços urbanos em construção em escala planetária. As ideias aqui sumariadas pretendem colocar essa contribuição no âmago da discussão histórica e geográfica desse quadro processual que interfere na vida de modo geral, e nas formas comunais de saberes em particular, concorrendo com isso para a morte de experiências equilibrada de convivência com o meio ambiente.

3. Entropia: elementos pontuais

Decorrentes dos apontamentos anteriores, localizemos o termo entropia e sua significação. Do grego εντροπία

Originalmente, "entropia" (troca interior) surgiu como uma palavra cunhada do grego de em (en - em, sobre, perto de...) e sqopg (tropêe - mudança, o voltar-se, alternativa, troca, evolução...). O termo foi primeiramente usado em 1850, pelo físico alemão Rudolf Julius Emmanuel Clausius (1822-1888). (SPROVIERO, 2001).

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A discussão sobre esse tema ainda está longe de ser do domínio comum das pessoas. Significa segundo Sproviero (2001), em entrevista à Revista de Graduação de Engenharia Química que o assunto foi e continua secundarizado:

Com o problema da entropia ocorre um fenômeno curioso: apesar de ter a máxima importância, afetando diretamente - a curto, médio e longo prazo - a própria sobrevivência humana no planeta, tem sido bem pouco divulgado e assim praticamente ignorado pela opinião pública. (SPROVIERO, 2001)

A ocultação do tema, provavelmente seja por confrontar uma tradição científica que se arrasta do século XVIII aos dias atuais.

Para a visão mecanicista do mundo, tipicamente moderna, na linha que une Descartes, Galileu, Bacon, Newton, Locke e Adam Smith (este na economia e Locke na concepção social), a idéia de progresso é tão conatural que nem pensamos em discuti-la. Ora, nosso tema incide precisamente neste ponto: "a lei da entropia mina a idéia da história como progresso” (SPROVIERO, 2001).

Tão difundida, a ideia de progresso, vulgarizada a partir da primeira Revolução Industrial contamina a ciência ao que o positivismo é seu aliado aplainando o senso comum. Este assimilando a ideia de horizontalidade na abundância, ostentação, exagero, desperdício etc., é plantada a “[...] idéia de que a ciência e a tecnologia criam um mundo mais ordenado” (SPROVIERO, 2001). Numa tradução provisória, a ciência concebida desse modo, tudo pode. Na esteira dos acontecimentos humanos e de sua criação técnica e científica, a sociedade industrial e pós-

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industrial atende a ideia de “progresso” e do “consumismo” dirigindo-se ao meio ambiente como se a natureza fosse um grande Shopping Center.

O avanço sobre os bens naturais (matéria), com a fome insana, da irracionalidade da “racionalidade econômica”, a atual sociedade é um testemunho de tudo que ocorre aos ecossistemas no planeta. A ponta de tudo isso, tentando refletir sobre todo o quadro, coloque-se na balança as leis da termodinâmica, ou a entropia. Sproviero (2001), nos fala disso:

[...] vamos partir de uma renomada autoridade, o físico Enrico Fermi, um dos pais da bomba atômica. Em seu Thermodynamics, ele define a primeira lei da termodinâmica: A primeira lei da termodinâmica é essencialmente a afirmação do princípio de conservação da energia para sistemas termodinâmicos. Como tal, pode ser expressa do seguinte modo: 'A variação de energia num sistema durante qualquer transformação é igual à quantidade de energia que o sistema troca com o ambiente'. Esta primeira lei não coloca limitações sobre as possibilidades de transformação de energia de uma forma para outra. Ora, essa possibilidade ilimitada de transformação é à base de toda a civilização do progresso (SPROVIERO, 2001).

Colocado como a grande chave para o nosso modelo de sociedade, o progresso carrega consigo a ideologia do consumismo. O modelo de vida atual se recusa a aceitar na integralidade as leis da termodinâmica. A sociedade fechou os olhos à premissa da segunda lei que Sproviero (2001) assinala; A segunda lei da termodinâmica impõe severas limitações: "É impossível uma transformação cujo resultado final seja transformar em trabalho todo o calor extraído de uma fonte" (postulado de Kelvin) (SPROVIERO, 2001). Em torno do assunto

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entropia este pesquisador da USP Dr. Mario Bruno Sproviero nos dá a dimensão sobre o tema em linguagem simples:

O curioso é que historicamente o próprio primeiro princípio tenha causado tanta oposição e resistência para ser aceito, porque havia o ideal de construir uma máquina que pudesse efetuar trabalho sem consumir energia (motu perpetuo da primeira espécie). Em linguagem leiga, o segundo princípio indica que, com o tempo, dispomos sempre menos de energias utilizáveis. Ou, resumindo: "a energia total do universo é constante e a entropia (a desordem) total está em contínuo aumento” (SPROVIERO, 2001).

Isto significa que, Estamos, então, num universo que se degrada energeticamente, e esta realidade deveria levar a um dispêndio minimal das energias disponíveis, ainda mais no sistema de nossa pobre Terra, cujos materiais utilizáveis são muito limitados. Portanto, a produtividade não deveria ser medida pela maior quantidade de bens econômicos produzida num determinado período de tempo, mas sim pela maior quantidade produzida com o menor dispêndio energético possível. E, do mesmo modo, criar a ordem que deixe menos desordem (em outros âmbitos) (SPROVIERO, 2001).

A luz das ideias de Sproviero seguida de toda a exposição

feita, vejamos exemplos para demonstrar o risco que a civilização enfrenta. Segundo consta, em manuais de ensino de física, o engenheiro francês Nicolas Carnot quis saber por que certos fenômenos não ocorrem, mesmo observando que estes não contrariam a Primeira Lei da termodinâmica. Esta lei afirma em seu enunciado, a conservação da energia para os sistemas termodinâmicos. Diz que toda energia que entra na forma de calor é igual à energia interna do sistema mais o que é gasto na forma de trabalho. Vejamos um exemplo sugerido:

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“[...] o movimento das pás da hélice de um navio esquenta a água do oceano enquanto o navio se movimenta. Por que esfriar a água do oceano não faz com que o navio se mova também, transformando a energia térmica da água em movimento? Isso não fere o princípio de conservação de energia, então porque não ocorre?” (https://br.answers.yahoo.com/ acesso em 22/09/2014).

Dentro desse processo descrito, ocorre um fenômeno intrínseco. A dissipação de energia que não é aproveitável, afirmação de pura linguagem. É uma quantidade considerável alta se pensarmos o sistema terra. Mais segundo alguns teóricos, é oscilante nos “meios naturais”. Essa perda se convencionou, a partir de Carnot, por entropia. Como o planeta Terra por representação é um sistema, nele encontram-se inúmeros outros sistemas que ecologicamente formando sinergias, cambiam Inter/sistemicamente, fazendo hora o aumento de energias, ou hora tornando constante. Podemos admitir as longas durações das glaciações, outrora ocorridas antes da presente. Momentos de aquecimento, nosso planeta também viveu.

Na linha desse raciocínio, advém uma certificação de que são necessárias as condições ideais. De outra maneira,

“[...] nas situações que não ocorrem naturalmente, a entropia sempre decresce. E alguns teóricos ainda estudam, mas muitos apontam que o fim do Universo será esse, o caminho para a perda de toda energia útil, a morte termodinâmica do Universo.” (https://br.answers.yahoo.com/ acesso em 22/09/2014).

Na justa precaução, contida no argumento, a de se supor que aplicando mais e mais trabalho (linguagem física) ao sistema terra, mesmo com essa desconfiança teórica, é possível que a

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entropia do planeta que habitamos, definhe e tenhamos antecipadamente aquilo que os físicos preveem para aquilo que denominamos universo. A “morte termodinâmica” da terra, significa a falência geral de todas as formas de biotas, ou seja, a extinção geral de vida pela qual concebemos e conhecemos. Mesmo sabendo que o homem, único dos organismos vivos a executar atos do pensamento e da fala articulada, esses motivos o faz diferenciar-se dos demais. Ainda assim, por isso mesmo, criou um modus vivendi, necessitando mais e mais de energia, como já ficou demonstrado. Essa energia se apresenta de forma sistêmica em estado ecologicamente natural. Diante desse fato, podemos considerar que o homem, organismo pensante, sempre necessitou e se dirigiu à natureza para arrancar-lhe energia para viver.

O homem em sua trajetória sobre o orbe terrestre, suas marcas deixadas denunciam a sua ação sobre a natureza. A primatologia, a anatomia, a antropometria demonstram seu perfil vegetariano. No entanto, esse fato no início de sua história, cinge-se primordialmente a uma agressão incisiva, direta e fria sobre a natureza e os ambientes circundantes. Portador de uma incompletude corporal se comporta como consumidor de energia fria. Afirmamos esse conceito tomando abrigo na ideia de “predação rapace” (Engels, 1896). Ela vincula-se, aos animais mamíferos na sua relação com as forças cegas do que chamamos de natureza.

Essa dieta consistia na obtenção de nutrientes a partir de vegetais ao alcance das ferramentas corpóreas – dentes e mãos –, assim ingerindo a princípio carboidratos para sua alimentação. A sustentabilidade ambiental suportou o quanto pode essa fase homínida. Esse período correspondente aos pré-humanos cobre um lapso de tempo de aproximadamente 1,5 milhões de anos AP

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(2). Mas, a evolução não parou. Esses indivíduos se deparam em competição frontal com outros animais. Isto os empurrou para as margens das savanas. Viram-se, assim, obrigados a locomover-se de forma bípede, com visão binocular fugir a seus predadores enquanto buscavam energia para manterem-se vivos. Com a mãos livres foram explorando mais esse novo ambiente; premidos pela nova circunstância a ingerir proteína animal, caça pequenos roedores para mitigar a fome, diminuindo a presença de ervas frutos, tubérculos, antes dominante no seu regime alimentar. Essa mudança, esse passo, a ingestão de proteína animal leva esses indivíduos ao consumo de energia quente. Desde o século XIX, já conhecidos por estudos que observam que a proteína animal misturando-se ao carboidrato, provocou mudanças no longo prazo nas populações animais implicando em alterações bioquímicas no sangue até dos primeiros hominídeos.

Essa "depredação rapace", efetuada pelos animais, desempenha um grande papel na mutação das espécies, porque a adaptação aos alimentos que são obrigados a ingerir para sua sobrevivência vai modificando a composição química de seu sangue, transformando conseqüentemente toda sua constituição física. (Engels, 1896)

Esse passo leva o homem a mudar seu cardápio tornando-

o também um caçador. Assim, assume paulatinamente uma nova condição, a de caçador/coletor. As ferramentas toscas de pedra, osso primeiramente, lhe conferem agora um poder sobre outros animais. Esse processo coloca nossos antepassados, frente a frente com a nova energia. Esse fato o moverá para busca de

 

(2) AP (Antes do Presente). Sigla criada por convenção e adotada para longas datações tomando o carbono 14, quando foi anunciado em 1950.   

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aquecimento, além daquele fornecido pela gordura animal. O fogo será seu segundo passo decisivo. Além da caverna como aliada, o fogo lhe deu maior poder jamais visto. Isso amplia o consumo de energia quente.

Inúmeras foram às técnicas para “dominar” essa força da natureza. Ao fazê-lo, o homem ampliará seu poder. Um giro de 180 graus fará dele o maior dos predadores daí por diante. A saga do homem na sua relação com o meio ambiente mudou qualitativamente e quantitativamente. Ele passa a dominar essa força da natureza. Os outros 180 graus esperaram por um longo processo até a chegada do Holoceno, mais ou menos dez mil anos AP, para ocorrer a mais profunda mudança na relação do homem com a natureza.

Com a Revolução Neolítica, o homem verticalizará a sua busca por mais energia quente. Essa etapa se dá quando ele mergulha no domínio da metalurgia emergindo daí as ferramentas produzidas a partir do metal, fato que alterará a produção de alimentos com conseqüências no aumento da população. Isso desencadeia uma sucessão de necessidades novas e novos implementos técnicos foram criados, além de técnicas de manejo primário da terra. Exemplo disso às primeiras civilizações nilóticas e mesopotâmicas; numa combinação de criação técnica na utilização das terras e com inventos como o arado, o homem cria um novo mundo, o mundo urbano. Disso resultou um novo conceito de vida e com ele um novo modus operandi. A inversão das relações do homem com a natureza será determinada a partir desse momento pelas necessidades urbanas. 4. Mundo urbano: energia para realizar a vida humana, biológica e os ecossistemas  As primeiras sociedades da antiguidade oriental mantinham desde os tempos imemoriais o fogo sempre presente. Preservá-lo em lareiras para os cultos aos seus antepassados, era

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tradição. As candeias eram mantidas acesas com o azeite, em seguida com o “leite negro” o petróleo bruto. Esse registro da conta de que foram os gregos a utilizarem pela primeira vez para iluminação.

A realização da vida social em núcleos urbanos, cada vez maiores, dá origem a sociedades mais complexas exigindo a busca de mais energia quente. A madeira é o principal elemento, existindo lei para a utilização da mesma. Uma legislação dava conta do quanto se podia usar e de que parte do bosque ou da floresta, pois a madeira era mercadoria privada. Os pobres e trabalhadores rurais (camponeses), entre os séculos XVIII e XIX tinham seu acesso à madeira regulamentado e sua utilização tinha um custo muito alto. Por outro lado, a vida dos contingentes pobres, da Inglaterra e França do século XVIII, em registros de memória ambiental dá conta de que o carvalho quase foi à extinção:

E as roupas? Aqui também a situação era de precariedade. Bonita era apenas a roupa “de festa”, muitas vezes transmitidas como herança de geração em geração. No dia a dia, o que se via eram roupas grosseiras, quase sempre tecidas em casa e tingidas de negro, com o uso do carvalho – hábito responsável pelo estrago de muitos bosques. (MICELI, 1987)

O nível de utilização da madeira se intensifica e não deixa de ser registro alarmante na história. A época das grandes navegações seu uso para a construção das caravelas causou enormes devastações em inúmeras regiões da Europa. Mas, a energia quente, virá a ser no futuro próximo, cada vez mais, perseguida para dá conta das novas necessidades impostas pela sociedade. Vejamos:

Os ciclos históricos nos mostram [...] as crises de energia não são apanágio de nossos dias. Na Europa, na busca de energia (pensemos em necessidades domésticas, de calefação etc.) o

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"ciclo da madeira" começou a entrar em crise no século X e agravou-se de modo total no século XV ‘(após mais de um milênio de exploração...)’, principalmente na Inglaterra, compelindo ao ciclo do carvão (o ciclo mais sujo da História), que durou quase quatro séculos [...] Sempre em períodos cada vez menores, temos o nosso ciclo, que dura cerca de cem anos, centrado no petróleo: seu esgotamento previsível é para algo em torno do primeiro quartel deste século (SPROVIERO, 2001).

Com as grandes navegações, o Pau-Brasil com fins econômicos foi quase a extinção. No período da colonização o seu uso para tingir panos foi intenso. Mais, a busca por energia quente não cessa pelo que vimos mais atrás. O carvão entrou em cena marcando a história como disse Sproviero como “o ciclo mais sujo da história”. Com os núcleos urbanos cada vez maiores, e novas necessidades geradas, a economia de consumo pressiona por mais produtos, mais mercadorias. Mais para isso é preciso mais energia. Para produzi-las, “A produção decorre da aplicação do trabalho humano aos recursos naturais disponíveis e o tipo fundamental de produção é o da energia” (GUGLIELMO, 1991).

O que dizer sobre o petróleo? Os oceanos, a atmosfera, os rios e as florestas estão sendo consumidos e poluídos, devastados também por desastres humanos épicos como as guerras. O desafio está posto. Qual seja: “[...] A vida humana, e como conseqüência, a cultura não podem existir sem que os homens se apropriem da energia disponível no meio ambiente. Isso é válido tanto para uma sociedade de caçadores/coletores quanto para a sociedade industrial moderna [...]” (GUGLIELMO, 1991). Com a ideologia do progresso, o consumo cada dia mais estimulado, o uso do automóvel em escala incontrolável e mais, as novas tecnologias baseadas na automação necessitando de mais energia quente, o níquel, por exemplo, para as baterias

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alcalinas e outras matérias primas para os componentes computacionais. A antropia e a entropia parecem definir a tendência do destino comum da humanidade e do planeta. Teremos tempo de lançarmos mãos de alguma alternativa a tudo isso? Não há, até o presente, uma solução pragmática para ultrapassar a “barreira” da entropia como “lei-limite”. A discussão envolve a bioeconomia e seu confronto com a termodinâmica clássica.

A aplicação, utilizando-se os postulados clássicos da termodinâmica, mostrou-se frustrante, tanto para os sistemas ecológicos, como para o econômico. Foi revelado nesse sentido, que “matéria e energia útil”, o resultado empírico foi de perda absoluta. A relação conflituosa entre entropia e a neguentropia encontra-se longe de ser resolvida, pois tal situação demanda revisar toda termodinâmica clássica (LEEF, 2006).

O conflito em seu impasse tem um marcador. A aplicação das leis da termodinâmica submetidas à lógica da “mão invisível” do mercado e seu paradigma, a bioeconomia. Nesse quadro se impõe a ele:

A bioeconomia é uma teoria heurística que vincula a economia ás leis da termodinâmica. Seu maior desafio é o de integrar o funcionamento da entropia como lei-limite aos processos neguentrópicos geradores de ordem, vida, criatividade e produtividade da natureza (LEEF, 2006, p. 181).

A racionalidade do mercado, se é que exista, dará conta de uma sustentabilidade da vida biológica no planeta e toda a diversidade de ecossistemas? A capacidade regenerativa da natureza acompanhará a dinamicidade populacional e a lógica do consumo? Essas e outras questões, diante da tensa relação antropia e entropia, ficarão no aguardo de se encontrar respostas alternativas a situação por que passa o planeta terra e todo seu sistema natural. A crise que o homem vive hoje, e em certo

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sentido não se deu conta, é ecológica em uma escala e magnitude planetária.

Não haverá uma resposta à crise ecológica a não ser em escala planetária e com a condição de que se opere uma autêntica revolução política, social e cultural reorientando os objetivos da produção de bens materiais e imateriais. Essa revolução deverá concernir, portanto, não só às relações de forças visíveis em grande escala mas também aos domínios moleculares de sensibilidade, de inteligência e de desejo (GUATTARI, 1990, p. 9).

Estaria à reorientação de bens materiais e imateriais, dispostos ao diálogo na medida da irracionalidade do mercado orientado pela “lógica” do lucro e a irracionalidade das ambiências institucionais das sociedades contemporâneas nesse início de milênio? A vigência da ordem, da vida humana no planeta, e as outras formas de vida biológica e seus ecossistemas na sua Trilogia: Homem, Ambiente, Antropia e Entropia, tem um presente que é urgente para as futuras gerações.

5. Palavras Finais

Na órbita da temática o “Homem, sua sobrevivência e a sustentabilidade ambiental”, posta ante as questões antropia e entropia, penso que será natural aparecer aqueles que dirão sobre as ideias aqui desenvolvidas que se trata de profetismo, ou falso discurso, pois, não passa de alarmismo. Se os dinossauros existiram e desapareceram, e a lição é evidente, uma coisa é certa, não foi por serem exclusivamente predadores inconscientes ou conscientes. Evidente, não está em questão esse aspecto no nosso tema. Se algo semelhante ocorrer ao homem e sua civilização, é certo indagarmos se tem alguma coisa errada com a racionalidade humana utilizada frente aos fatos expostos pela ciência e divulgado pela mídia planetária? Chegamos enfim a uma

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situação. O que está em jogo é a vida em toda sua extensão. Toda ela oprimida, pois o que vemos e assistimos? Vemos e assistimos os solos devastados, o ar do mundo inteiro poluído, os mares transformados em lixeiras pelas descargas dos grandes transatlânticos, o alimento contaminado, em fim, todo o planeta agredido para atender a tal racionalidade do mercado. A natureza suportará tanto abuso! O limite dela, toda humanidade já está experimentando. A entropia acionada sem o menor respeito ético ao limite do sistema terra, esta sob uma opressão permanente pelo modelo de desenvolvimento, todas as formas de vida sobre e abaixo da terra e sobre e abaixo das águas a cada dia correm o risco de extinção que chegará provavelmente até nós. Se não cuidarmos de mudar os rumos, todo o passado e o presente do homem e sua relação com o meio ambiente continuará tensa, tendo de um lado, a antropia sega, orientada pelo lucro a exaurir o planeta e a entropia na sua marcha por outro pondo termos as diversas biotas, pois o retrato atual é de um homem atormentado, um meio ambiente estressado pela saturação e esgotamento promovido pela tensão oriunda da antropia que se lança insanamente sobre os ecossistemas que suportará tanta perda de energia pela entropia manejada pelo homem. Haveremos de revolucionar nossos hábitos culturais, político, econômico e social em escala planetária, mais se agirmos mobilizando “corações e mentes” noutras palavras, os “[...] domínios moleculares de sensibilidade, de inteligência e de desejo” (GUATTARI, 1990, p. 21).

Referências

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