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O IMAGINÁRIO POÉTICO EM SYLVIA PLATH: ANÁLISE DE “EDGE” E
“MIRROR”
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Taísa Carvalho1
RESUMO Sylvia Plath poetisa norte-americana do final dos anos 50 e início dos anos 60, cujo suas produções poéticas nos deixam até os dias de hoje extasiados e perplexos. Suas obras estão relacionadas da seguinte forma: The Colossus and Other Poems – 1960; The Bell Jar – 1963 ( publicado antes de seu suicídio); Ariel – 1965 ( único romance); Crossing the water – 1971; Letters Home: Correspondence – 1950 a 1963; The Bed Book – 1976; Jhonny Panic and the Bible of Dreams – 1979; The Collected Poems – 1981; The Journals of Sylvia Plath – 1982; em 1998 Ted Hughes entregou a filha Frieda com quem teve com Sylvia os diários que estavam com ele guardados para serem editados; em 2003 fora lançado o filme “Sylvia, paixão além das palavras”de Cristine Jeff, o qual retrata a relação conturbada do casal, trabalhado por mim em outro momento de pesquisa. Neste artigo irei analisar dois poemas de toda vasta obra poética de Sylvia Plath e esta análise irá conversar entre os aparatos teóricos de literatura e o imaginário poético.
Palavras-chave: Imaginário. Poesia e Sylvia Plath. ABSTRACT Sylvia Plath American poet of the late '50s and early '60s, which his poetic productions leave us until this day entranced and bewildered. His works are related as follows: The Colossus and Other Poems - 1960, The Bell Jar - 1963 (published before his suicide); Ariel - 1965 (only novel); Crossing the water - 1971; Letters Home: Correspondence - 1950 1963, the Bed Book - 1976; Johnny Panic and the Bible of Dreams - 1979, the Collected Poems - 1981, the Journals of Sylvia Plath - 1982; Ted Hughes in 1998 gave his daughter Frieda had with Sylvia with the diaries that were with him saved
1 Mestranda em Letras, na linha de pesquisa Linguagem Literária e Interpretações Sociais: Estudos Comparados, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/ Campus de Cascavel; Especialista em Literaturas Inglesa e Norte-Americana pela União Pan-Americana de Ensino – UNIPAN; pós-graduanda em Língua de Sinais Brasileira e Educação Especial na Faculdade Eficaz em Maringá – PR; Graduada em Letras Port./Ing. pela Universidade Paranaense – UNIPAR/Campus de Cascavel; Docente efetiva da disciplina de Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, na Universidade do Estado do Amazonas – UEA/CESTB; Membro dos Grupos de Pesquisa Confluências da Ficção, História e Memória na Literatura, Poéticas do Imaginário e memória na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/ campus de Cascavel e também Membro do Programa Institucional de Ações Relativas às Pessoas com Necessidades Especiais – PEE na UNIOESTE/ Campus de Toledo. E-mail: [email protected] ou [email protected]
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to be edited, released in 2003 off the movie "Sylvia, passion beyond words" Cristine Jeff, which depicts the troubled relationship of the couple, worked for me at another time search. In this article I will examine two poems from across vast poetry of Sylvia Plath and this review will talk to the theoretical apparatus of literature and poetic imagery.
Keywords: Imaginary, Poetry and Sylvia Plath Introdução
Dou início a esse artigo de forma menos convencional, me utilizando das
palavras gloriosas de Borges (1999): “Ensinei aos meus alunos a amar a literatura,
a ver na literatura uma forma de felicidade”. Por algumas vezes escrevi em outros
textos anteriores a este, que a literatura é uma expressão que reflete a sociedade,
possibilitando a recreação da realidade, do mundo e dos sonhos. Ela coopera para
com os leitores na interpretação e a moldar convicções, ideais e até a própria
vivência. E a complemento com a fala de Candido (1985), que a literatura é, pois
um sistema vivo de obras, agindo umas sobre as outras e sobre leitores, e só vive
na medida em que estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a e deformando-a.
A literatura é expressão, a literatura é feita de palavras e a linguagem é
também um fenômeno estético diz Borges (1999). E isto é de difícil aceitação que a
linguagem é um fato estético. Adorno em seu texto “Os pensadores – XLVIII”
apresenta uma conferência sobre lírica e sociedade e nos explica sobre quanto
menos a lírica fala da sociedade, mais ela rebate as questões sociais, portanto a
poesia esta centrada sim na crítica e qual sociedade quer a crítica para si?
Volto neste momento com Borges (1999) explicando sobre seus momentos
como professor universitário e seus alunos o pediam bibliografias:
a bibliografia não importa afinal, Shakespeare não soube nada de bibliografia shakesperiana. Johnson não pôde prever os livros que seriam escritos por ele. Porque então não estudar os diretamente os textos? Se estes textos lhes agradam, muito bem; se não lhes agradam, abandonem as leituras, já que a ideia de leitura obrigatória é uma ideia absurda: seria o mesmo que falar de felicidade obrigatória. Acredito que a poesia é algo que se sente, se você não tem um sentimento de beleza, se uma história não os leva ao desejo de saber o que aconteceu depois, o autor não escreveu para você. Deixem de lado, pois a literatura é rica o bastante para oferecer-lhes
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algum autor que seja digno de sua atenção, ou digno hoje de sua atenção e que lerão amanhã.
Espero que este texto possa trazer ao leitor além de dados informativos,
momentos agradáveis de aprendizagem e de beleza diante das poesias expostas.
Apresento alguns aparatos teóricos sobre literatura e principalmente sobre poesia,
pois irei trabalhar com a poetisa Sylvia Plath e farei an|lise de dois poemas “Edge”
e “Mirror” de sua vasta obra poética.
Fundamentação teórica
A poesia
Definir poesia nas palavras de Tezza (2003) é uma dessas tarefas que uma
vez colocadas, parecem condenadas a priori ao fracasso não tanto pelo objetivo em
si, mas pelo esmagador acúmulo de história que obrigatoriamente se apresenta o
que exigirá um deslocamento metodológico que dificilmente chegaria a algum fim
ou a um princípio. A ideia de que se possa conceituar a poesia, já insere todo um
processo teórico, concepção de linguagem, perspectivas históricas, pressupostos
estéticos e assim por diante, todas essas exigências podem levar o poeta a se
esvaziar. Não que não se possa dar um significado à poesia enquanto objeto de
cultura, mas enquanto arte o que podemos dizer?
Tezza (2003) apresenta no capítulo II de seu livro uma definição de
Borges2:
Poesia é a expressão do belo por meio de palavras habilmente entretecidas. Essa definição pode ser boa o suficiente para um dicionário ou um manual, mas todos sentimos ser bastante frágil. Existe algo mais importante, algo que pode nos encorajar a seguir a diante e não somente a treinar poesia, mas desfrutá-la e sentir que sabemos tudo a seu respeito. Isso é o que sabemos de poesia. Sabemos tão bem que não podemos defini-la em outras palavras, tal como não podemos definir o gosto do café, a cor vermelha ou amarela nem o significado da raiva, do amor, do ódio, do pôr do sol ou do nosso amor pela pátria. Essas coisas
2 TEZZA, Cristovão. Entre a prosa e a poesia. Bakhtin e o formalismo russo. Rio de janeiro: Rocco, 2003.
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estão tão entranhadas em nós que só podem ser expressadas por aqueles símbolos comuns que partilhamos.
Para que se possa esclarecer um pouco mais observe leitor esse outra definição de
Eliot também descrita por Tezza (2003) no mesmo capítulo citado: “Eu nunca
tentei nenhuma definição de poesia porque não me lembro de nenhuma que ou
não assuma que o leitor já sabe o que ela é, ou que não falsifique deixando de fora
muito mais que inclui”. Para concluir esse pensamento e partir para os aparatos
teóricos sobre Sylvia Plath e análise dos poemas apresento a fala de Joseph
Brodsky, poeta russo, também dita no capítulo II do autor Tezza (2003)
o fato é que a poesia simplesmente acontece de ser mais velha do que a prosa e assim cobriu uma distância maior. A literatura começou com a poesia, com a canção de um nômade que antecede os rabiscos de um colono.
A Poetisa Sylvia Plath
Sylvia Plath nasceu em 27 de Outubro de 1932. Era filha de uma família de
classe média na cidade de Jamaica Plain, em Massachusetts. Sensível e inteligente,
ela era extremamente popular na escola, onde obteve sempre notas excelentes,
chegando a ganhar alguns prêmios literários. Durante o tempo em que
permaneceu na universidade, escreveu cerca de 400 poemas. Porém por detrás
desta aparência de perfeição escondia uma profunda angustia e sofrimento, os
quais foram originários pela morte do pai, quando Plath tinha provavelmente nove
anos de idade.
A primeira obra poética dela fora The Colossus publicado em 1960. Mas são
os poemas escritos após a publicação de seu primeiro livro que a transformaram
em um mito da poesia contemporânea. No percurso de sua vida, Plath tentara
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suicídio por três vezes e descreveria essas experiências em seus poemas e também
em seu romance “A Redoma de vidro” publicado em 1963, e como podemos
observar no trecho do poema “Lady Lazarus” “... Tentei outra vez, a cada dez anos,
eu tramo tudo...”. Ela passou por um momento de recuperação com tratamentos de
eletrochoques e sessões de psicoterapia, o romance autobiográfico descreve seus
momentos vividos neste período “The Bell Jar”. Plath graduou-se com louvor e
conseguiu uma nova bolsa para estudar em Cambridge, na Inglaterra.
Nesse lugar, foi onde conheceu e logo se casou com Ted Hughes, também
poeta. A sua vida sentimental, de início, era toda glamorosa. Entretanto sua vida
profissional estava de mal a pior, pois não conseguia se sentir inspirada para
escrever, mesmo com o apoio de seu marido, o qual fez várias tentativas para ver
se Sylvia se inspirava e com resultado negativo para todas elas. Conforme o tempo
ia se passando Sylvia já não escrevia, trabalhava como professora e cuidava do lar.
O seu casamento fora marcado pelas infidelidades de Ted, o que para Sylvia era
tenebroso controlar.
Enquanto Sylvia estava casada sua identidade profissional ficara
adormecida, anulada diante a situação. Com a separação Sylvia a resgata e volta à
ativa. Ela voltou para Londres e a trabalhar intensamente, cuidando de seus filhos
e produzindo poemas. Seus últimos dez meses de vida foram marcados por uma
intensa atividade poética que gerou seus melhores poemas, uma obra que a alçou
ao patamar dos grandes poetas do século. Em 11 de fevereiro de 1963, Sylvia
cometeu suicídio inalando gás de cozinha, após ter deixado o café da manhã para
seus filhos no quarto e tê-lo lacrado para que o gás não entrasse. Dois anos depois
de sua morte uma coletânea de seus últimos poemas fora publicado, e em 1986 o
livro Collected Poems, foi publicado por Ted Hughes.
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Análise dos poemas “EDGE” e “MIRROR”
Edge
The woman is perfected Her dead Body wears the smile of accomplishment, The illusion of a Greek necessity Flows in the scrolls of her toga, Her bare Feet seem to be saying: We have come so far, it is over. Each dead child coiled, a white serpent, One at each little Pitcher of milk, now empty She has folded Them back into her body as petals Of a rose close when the garden Stiffens and odors bleed From the sweet, deep throats of the night flower. The moon has nothing to be sad about, Staring from her hood of bone. She is used to this sort of thing. Her blacks crackle and drag. ( Sylvia Plath)
Sylvia Plath é considerada uma poetisa confessional, pois, em suas obras
líricas predominam os sentimentos e emoções, refletindo a si mesma. Os poemas
parecem e Edge não fica de fora dessa an|lise, fruto de uma relação entre um “eu” e
outro “eu”, oferecendo aos poemas uma naturalidade própria, mesmo que sombria,
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como se fossem escritos diretamente da mesma voz, sem que a mão, instrumento
de mediação do criador e criatura pudesse não alterar a nada.
Plath fora uma poetisa que conseguira escrever versos repletos de imagens
tão atormentadas quanto belas, que levam ao encantamento. Seu estilo é variável,
não se prende a nenhuma regra prévia. A poetisa se utilizava de vários mitos em
seus poemas e o mito da lua tem de certa forma, um importante significado, pois, a
lua fora adorada como deusa em muitas culturas primitivas. Em “Edge” a lua
assiste a tudo impassível, com uma presença implacável. A lua é o símbolo da
inspiração poética, significando para Plath seu destino enquanto criadora, sua
musa e sua guia. A lua está presente de forma explícita em muitos poemas,
especialmente na fase madura da escritora e sua influência enquanto mito pode ser
sentida mesmo nos poemas em que não é mencionada de forma explícita. Neste
trecho apresento um exemplo sobre o mito da lua no poema: “The moon has
nothing to be sad about, staring from her hood of boné. She is used to this sort of
thing (...)”
A ideia da morte na poesia não representa apenas o fim, a eliminação
definitiva e completa de sua identidade. A morte mítica, muitas vezes, marca o
início de um novo ciclo. Em muitos mitos absorvidos pela poesia de Plath como a
morte do deus é seguida por seu renascimento. É este o sentido da morte em sua
poesia, seu desejo de morte é nada menos que o desejo de transcendência, de
renovação. Para Plath a morte é o fim de um estágio e o início de um período
superior de vivência. Como meu caro leitor pode observar no trecho: “The woman
is perfected. Her dead body wears the smile of complishment, (…)”
A cor branca, assim como outras cores como vermelho, verde e o azul são
usadas em vários poemas de Plath, mas a cor branca em maior vantagem e ela
significa, conforme o site relacionado a significado das cores, é a mais pura de
todas, assim representa a pureza, contribui para a paz e conforto, alivia a sensação
de desespero. Mas o conceito que mais me chamou a atenção fora que o branco em
demasiado, quando não é necessário pode dar a sensação de solidão e frio, porque
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o alvo nos separa das outras pessoas. O branco, cor mais significativa em sua
poesia, é sempre o símbolo da morte, ou renovação, iminente. Em alguns poemas o
branco aparece das seguintes formas: "branco zinco", nas "nuvens", na palidez
cadavérica, na "serpente branca", no "leite", no "açúcar", no "capuz ósseo" da
própria lua. Neste poema encontramos a cor branca das seguintes maneiras: “a
White serpent”, “Milk” e “bone”.
Na obra “O Saturno nos Trópicos – A melancolia europeia chega ao Brasil,
apresenta a história de como a melancolia e a os escritos sobre morte tiveram
início, como na poesia francesa nos séculos XIV e XV aparecem o tema cemitério do
amor. E como esses sentimentos levavam a acreditar que o suicídio era o melhor
remédio como Montaigne endossa: “A morte é um remédio para todos os males,
um porto de inteira segurança”. E a posição de Thomas More sobre uma espécie de
eutan|sia volunt|ria e o suicídio é mencionado por Burton como “situação {s vezes
inevitável, que ele não endossa, mas não condena e cita Eclesiastes (a morte é
melhor do que uma vida amarga) e conclui: “não devemos ser duros e rígidos em
nossa censura”. Nessa época os suicidas eram enterrados nas encruzilhadas.
Imagens melancólicas aparecem nas letras de músicas compostas por
renascentistas franceses e também nesse mesmo momento alusões a morte
surgem em gravuras e pinturas e nas poesias. Voltando-se para si o
autoconhecimento apresenta duas áreas: a natureza humana e depois o
conhecimento de cada pessoa como indivíduo. Nas palavras de Scliar (2003), cada
um pode agora estudar a anatomia de sua própria melancolia, em consequência
disso um gênero literário ganha forte impulso: a autobiografia. Burton adotou
como pseudônimo: Democritus Junior e este diz: “o mundo é melancólico, para
manter-me ocupado e assim livrar-me da melancolia; o veneno gera o seu próprio
antídoto. Trouxe esses trechos do livro por acreditar que sejam de grande valia
para complementar sobre o que fora dito de Sylvia Plath e suas produções, com um
aspecto melancólico. Exemplificação nos trechos a baixo do poema analisado:
“(...) Feet seem to be saying: we have come so far, it is over (...)” e
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“(...) She has folded, Them back into her body as petals, of a rose close when
th garden, stiffens and odors bleend (…) .
Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça (1994) em sua obra
“Poemas” com a organização e tradução dos mesmos deixam a seguinte fala:
Segundo Hughes, esse fora o último poema escrito por ela e essa questão é polêmica. É a declaração e a antevisão explícita da própria morte. Plath se reveste do ideal de auge da perfeição atingindo na morte, como se completasse uma obra. Assim, se justifica a nossa escola para o título em português, além da aproximação sonora. Sua poesia chega a uma situação extrema: o fim da mulher é o fim da linguagem. Plath retorna o tema caro aos românticos ingleses, forçando um diálogo simultâneo com os poemas de morte de Emily Dickinson. Imagens evocam Cleópatra morta com a picada da serpente em seus seios, que são associadas a duas vasilhas de leite vazias. O útero é representado por uma flor e finalmente, alude-se a lua, que assiste à cena poética e se despede num eclipse.
Mirror
I am silver and exact. I have no preconceptions. What ever you see I swallow immediately Just as it is, unmisted by love or dislike. I am not cruel, only truthful--- The eye of a little god, four-cornered. Most of the time I meditate on the opposite wall. It is pink, with speckles. I have looked at it so long I think it is a part of my heart. But it flickers. Faces and darkness separate us over and over.
Now I am a lake. A woman bends over me, Searching my reaches for what she really is. Then she turns to those liars, the candles or the moon. I see her back, and reflect it faithfully. She rewards me with tears and an agitation of hands. I am important to her. She comes and goes. Each morning it is her face that replaces the darkness. In me she has drowned a young girl, and in me an old
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woman Rises toward her day after day, like a terrible fish.
Este poema apresenta ao leitor desde o início quem é o eu lírico, não é um
enigma, falando com a voz de algum misterioso "I" até o final, onde o leitor fica
chocado ao descobrir que ele é um espelho, e não uma pessoa falando. Para se
entender a isso mostro neste momento o título “Mirror” cujo significa “espelho” e
na sua primeira linha, “I am silver and exact”. A primeira estrofe descreve o
espelho, que parece ser como uma daquelas pessoas que não contam mentiras,
nem as “brancas”, é verdadeira e exata, mas não cruel.
Como a primeira estrofe personifica o espelho, mostrando algumas das suas
características humanas, encontra-se alguns indícios da vida do espelho. Na
maioria das vezes, reflete uma parede rosa salpicado, podendo ser uma referencia
a casa de banhos. E também vê um monte de rostos, e muita escuridão. “Most of the
time I meditate on the opposite wall. It is pink, with peckles. I have looked at it so
long I think it is a part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over (…)”.
No entanto, na segunda estrofe o espelho já não é um espelho, mas um lago,
o que também se percebe pelo próprio poema, “Now I am a lake”. E a grande
surpresa, ver um personagem totalmente novo: uma mulher. Na primeira estrofe
apareceram rostos, mas agora o foco é um rosto em particular. Esta mulher não
está muito feliz com seu reflexo no lago, então ela tenta encontrar uma reflexão sob
a luz de uma vela ou a lua. Quando o lago reflete fielmente sua imagem, ela chora e
fica chateada, “A woman bends over me”. Nas duas últimas linhas do poema, é
percebido o por que essa mulher está tão chateada, em seu reflexo aguado, seu
passado está se afogando, e um futuro horrível está subindo para conhecê-la, “In
me she has drowned a young girl, and in me an old woman, Rises toward her day
after day, like a terrible fish”.
Borges (1999) analisando um soneto de Branchs diz:
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este soneto é muito curioso, porque o espelho não é o protagonista, há um protagonista secreto que nos é revelado no final. Primeiro temos o tema tão poético: o espelho que duplica a aparência das coisas (...) Isso sentiu Branchs, sentiu a fantasmidade do espelho. Realmente é terrível que haja espelhos, sempre senti pavor dos espelhos, Acho que Poe também sentiu, tem trabalhos dele que falam sobre o espelho. Nós nos acostumamos com o espelho, mas há algo temível nessa duplicação da realidade. Branchs o apresenta como “hospitaleiro”, humanizando-o, mas nunca pensamos que eles sejam assim, os espelhos recebem tudo em silêncio, vemos o espelho também luminoso e além disso comparado a algo intangível como a lua.
Trouxe essa citação por ter achado interessante dois poemas que fala sobre
o espelho de formas completamente diferentes e que acabam falando sobre a lua
também. Lembrando que a única característica comum a todos os poemas consiste
em serem obras, produtos humanos, como quadros de pintores e cadeiras de
carpinteiros (Paz, 1982).
Rodrigo Garcia Lopes (1994) um dos principais tradutores de Sylvia Plath
no Brasil dedica algumas notas sobre este poema: “imagem recorrente em sua
poesia, na qual tematizava a procura da identidade como mulher e poeta,
revelando a tensão entre verdade e falsidade. Observe-se a divisão em duas
estrofes, um espelhismo, que simboliza os noves meses de gestação. Dois grupos de
nove versos”.
Considerações finais
Após as análises apresentadas reflito sobre a fala de Paz (1982) de que cada
poema é um objeto único, criado por uma “técnica” que morre no mesmo instante
da criação. O poeta se alimenta de estilos, sem eles não haveria poemas. Os estilos
nascem, crescem e morrem, no entanto os poemas permanecem e cada um deles
constitui uma unidade autossuficiente, um exemplar isolado, que não se repetirá
jamais.
Por mais que Sylvia Plath seja considerada uma poetisa confessional, pois,
em suas obras líricas predominam os sentimentos e emoções, refletindo a si
mesma, não pode ser deixado de lado, que a obra lírica, ou seja, o poema tem voz
própria, ele é autossuficiente para que seja entendido como obra literária. O poeta
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ele não se serve das palavras, pelo contrário é seu servo; ao servi-las, devolve-as à
sua plenitude natural, recuperando seu ser.
Nas palavras de Paz (1982), o poema é mediação entre a sociedade e aquele
que a funda, sem Homero, os gregos não seriam nada, o poema nos revela o que
somos e nos convida a ser o que somos.
Paulo Leminski é citado por Borges (2003) dizendo:
que o poema põe em questão a utilidade dos outros textos e da própria linguagem. O poema questiona a verificabilidade e a referencialidade das mensagens que nos chegam cotidianamente. O poema vem lembrar, imperiosamente, que tudo é linguagem e que esta nos engana. Que a linguagem está o tempo todo fingindo-se de transparente, de prática e de unívoca, e nos enreda num comércio que nada tem essencialmente verdadeiro e necessário.
A poesia hoje esta com uma tarefa de desvendar a essência verdadeira e
necessária, pois a mesma se encontra banalizada e desgastada no manuseio
cotidiano, perdendo assim a linguagem seu “valor-ouro” e adquirindo um mero
valor-venal nas palavras de Tezza (2003).
O suicídio de Sylvia Plath e as circunstâncias que a acompanharam foram
explorados ao máximo pela mídia e pela academia, criando-se assim o cânon
plathiano, o que afastou a poeta do grande público de forma lastimável. Embora
hoje, uma releitura de seus trabalhos apresenta a compreensão de uma obra
poética calcada num registro autêntico de toda a sua experiência pessoal. Essa
releitura, imparcial e objetiva esta de certa forma afastando a obra de Sylvia, do
conceito confessional e extremista tanto obscureceu e limitou o entendimento de
sua poesia, basta ver a posição independente da própria Sylvia dentro do
panorama literário contemporâneo.
Referências ADORNO, T. Os Pensadores – XLVIII. São Paulo: Abril, 1975.
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BORGES, Jorge Luiz. Obras completas de Jorge Luiz Borges. Vol. 03. São Paulo: Globo, 1999. LOPES, Rodrigo Garcia Et al. Sylvia Plath: Poemas. São Paulo: Iluminuras, 1994. PAZ, Octavio. O Arco e a lira. Tradução de Olga Savany, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. PLATH, Sylvia. Ariel. Tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lens de Macedo, Campinas, SP: Verus Editora, 2007. _________. Os Diários de Sylvia Plath – 1950 a 1962; editado por Karen V. Kukil; tradução de Celso Nogueira. São Paulo: Globo, 2004. TEZZA, Cristovão. Entre a prosa e a poesia. Bakhtin e o formalismo russo. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
Artigo aceito em julho/2013