o imortal - o consolador · leonardo marmo moreira ..... 8 marcelo henrique pereira.... 10...

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O IMORTAL JORNAL DE DIVULGAÇÃO ESPÍRITA Diretor Responsável: Hugo Gonçalves Ano 53 Nº 633 Novembro de 2006 R$ 1,50 “A vida é imortal, não existe a morte; não adianta morrer, nem descansar, porque ninguém descansa nem morre.” Marília Barbosa “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir continuamente, tal é a lei.” Allan Kardec De acordo com as conclusões de Ernesto Bozzano expostas em seu livro “A Crise da Morte”, eis os 12 detalhes fundamentais a respeito do que ocorre no fenômeno da desencarnação, a cujo res- peito se acham de acordo os Espíritos: • Os Espíritos se encontram novamente, na vida espiritual, com a forma humana. • Todos eles, após a morte, ignoram du- rante algum tempo que estão mortos. • Eles passam, no curso da crise pré- agônica, ou pouco depois, pela prova da reminiscência dos acontecimentos da existência ora encerrada. • Todos eles são acolhidos no mundo es- piritual pelos Espíritos das pessoas de suas famílias ou de seus amigos mortos. • Quase todos passam, após a morte, por uma fase mais ou menos longa de “sono reparador”. • Todos se acham num meio espiritual radioso e maravilhoso (no caso de mor- tos moralmente normais) e num meio te- nebroso e opressivo (no caso de mortos moralmente depravados). • Todos reconhecem que o meio espiritu- al é um novo mundo objetivo, real, aná- O que ocorre com os que desencarnam logo ao meio terrestre espiritualizado. • Eles aprendem que isso se deve ao fato de que, no mundo espiritual, o pensamen- to constitui uma força criadora, por meio da qual o Espírito existente no “plano as- tral” pode reproduzir em torno de si o meio de suas recordações. • Todos ficam sabendo que a transmis- são do pensamento é a forma da lingua- gem espiritual, embora certos Espíritos recém-chegados se iludam e julguem conversar por meio da palavra. • Eles verificam que, graças à faculdade da visão espiritual, se acham em estado de perceber os objetos de um lado e ou- tro, pelo seu interior e através deles. • Todos eles aprendem que podem trans- ferir-se temporariamente de um lugar para outro, ainda que muito distante, por efeito apenas de um ato da vontade, po- dendo também passear no meio espiri- tual ou voejar a alguma distância do solo. • Os Espíritos dos mortos gravitam fa- talmente e automaticamente para a esfe- ra espiritual que lhes convém, por virtu- de da “lei de afinidade”. (Obra citada, pp. 164 a 166.) O Dia de Finados na visão espírita A origem do dia de Finados nos leva ao ano de 998, há mais de 1.000 anos, quando o abade da Ordem dos Beneditinos em Cluny, França, ins- tituiu em todos os mosteiros da Or- dem naquele país a comemoração dos mortos, a 2 de novembro, culto que a Santa Sé aplaudiu e oficiali- zou para todo o Ocidente. Será que os “mortos” ficam sen- sibilizados ao nos lembrarmos deles? O Espiritismo afirma-nos que sim. Eles ficam contentes e sen- sibilizados com a lembrança dos seus nomes. Se são felizes, essa lembrança aumenta sua felicida- de; se são infelizes, isso constitui para eles um alívio. No dia consagrado aos mor- tos, eles atendem ao apelo do pen- samento dos que buscam orar so- bre seus despojos, como em qual- quer outra ocasião. Nessa data, os cemitérios ficam repletos de Es- Finados Juquinha Cornélio Pires Noite alta..... Por fora de um telheiro, O pequeno Juquinha morre ao vento... Enjeitado e sozinho... Está sedento, Nas aflições do instante derradeiro. Lembra os dias de humilde jornaleiro, Pensa vender notícias ao relento, Geme e delira, olhando o firmamento. Nisso, aparece um jovem no terreiro... Vem de manso e convida: – “Vem, Juquinha!...” O pobre larga o corpo a que se aninha... – “Quem é você?” – pergunta, ri-se e chora!... – “Sou Jesus!...” – diz o moço, ao dar-lhe o braço... E os dois sobem na luz do imenso espaço, Numa estrada de lírios cor de aurora!... (Extraído do livro “Poetas Redivivos”, psicografado por Francisco Cândido Xavier.) José Brasil Festa no cemitério! Hoje é dia de Finados! Levam flores, levam velas, castiçais e jarros lindos, delicados. Muitos, de preto vestidos, outros, de branco também, arrumam as flores, acendem as velas, rezam terço... padre-nosso, ave-maria... dizem: Amém. Quantas sombras tristes vagam em torno das lousas frias, sem notar a beleza da luz das velas, nem sentir o poder dos terços padre-nossos... ave-marias... Hoje é dia de festa no cemitério! hoje é dia de Finados! E que adiantam as flores, velas, jarros, castiçais na festa do cemitério neste dia de Finados? Pra que cantos funerários, se os que partiram – partiram – não estão aí plantados, não necessitam de flores, velas... cantos funerários? (Extraído do livro “Velório – Reflexões Espíritas”, de autores diversos.) Causas do temor da morte No livro “Temas da Vida e da Morte”, psicografado por Divaldo P. Franco, Manoel Philomeno de Miranda explica que o temor da mor- te resulta de vários fatores inerentes à natureza humana e à sua existên- cia corporal. Entre eles destacam-se: a) o ins- tinto de conservação da vida, que lhe constitui força preventiva contra a intemperança, a precipitação e o sui- cídio, que são, no entanto, desconsiderados nos momentos de superlativo desgosto, revolta ou de- sespero; b) a predominância da na- tureza animal, que nos Espíritos in- feriores comanda as suas aspirações, tendências e necessidades; c) o tem- porário olvido da vida espiritual de onde procede; d) o conteúdo religi- oso das doutrinas ortodoxas, que ofe- recem uma visão distorcida e preju- dicial do que sucede após a ruptura dos laços materiais; e) o receio de aniquilamento da vida, por falta de informações corretas a respeito do futuro da alma e daquilo que lhe está destinado. Programado o corpo para servir de instrumento para o progresso do Espírito, através de cujo cometimen- to desenvolve todas as aptidões e valores que nele jazem latentes, o píritos, mais do que em outros dias, porque evidentemente há em tais ocasiões um número maior de pes- soas que os chamam. É um erro, contudo, pensar que é a multidão de curiosos que os atrai ao campo san- to; cada um ali comparece por cau- sa de seus amigos e não pela reu- nião dos indiferentes que, muitas vezes, visitam os cemitérios como maneira de passar o tempo. O túmulo de Kardec, no cemitério Père-Lachaise de Paris (foto), é um dos que atraem turistas de todo o mundo, espíritas e não-espíritas. Não é, porém, indispensável comparecer ao cemitério para ho- menagear o ente querido que par- tiu. A visita ao túmulo é um modo de manifestar que se pensa no Es- pírito ausente – serve de imagem, mas é a prece que santifica o ato de lembrar, pouco importando o lugar, se ela é ditada pelo coração. Este jornal, como já procedeu no ano passado, dedica esta pági- na aos nossos “mortos” queridos, oferecendo ao leitor os textos ao lado que buscam esclarecer como o Espiritismo vê o fenômeno da morte e o descreve. A Revue Spirite há 140 anos .. 15 Aiglon Fasolo ....................... 10 Clássicos do Espiritismo ........ 5 Crônicas de Além-Mar ......... 12 De coração para coração ........ 4 Divaldo responde ................... 5 Editorial .................................. 2 Édo Mariani .......................... 13 Emmanuel .............................. 2 Espiritismo para as crianças .. 6 Estudando as obras de André Luiz ....................... 14 Grandes Vultos do Espiritismo ........................ 7 Jane Martins Vilela .............. 14 Joanna de Ângelis .................. 2 José Passini ............................ 3 José Viana Gonçalves .......... 12 Leonardo Marmo Moreira ..... 8 Marcelo Henrique Pereira .... 10 Palestras, seminários e outros eventos ...................... 11 Um minuto com Chico Xavier ........................ 13 Ainda nesta edição instinto de conservação é-lhe um ins- trumento de alto valor, para que seja preservada a vida, até as últimas re- sistências. Por isso, o Espírito se imanta ao corpo e receia perdê-lo, em razão do atavismo ancestral que lhe bloqueia o discernimento a res- peito daquilo cujos dados de avalia- ção não logram impressionar-lhe os sentidos. O predomínio da natureza animal desenvolve-lhe o egoísmo e exacerba-lhe a paixão violenta, acen- tuando a sensualidade que se expan- de engendrando programas de novos gozos, que terminam por exaurir-lhe as energias mantenedoras dos equi- pamentos de sustentação orgânica. Assim é que um leve aceno de prolongamento da vida física ao mo- ribundo fá-lo sorrir e aspirar pela sua ocorrência, em injustificável apego aos despojos que lhe não permitem mais largos logros, embora lhe con- cedam a permanência física. A reen- carnação promove o transitório es- quecimento do passado, que é pro- videncial, mas esse esquecimento constitui também motivo de receio da morte, em razão da falta de ele- mentos que estruturem a confiança na sobrevivência, com o retorno ao mundo espiritual. (Obra citada, pp. 67 e 68.)

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O IMORTALJORNAL DE DIVULGAÇÃO ESPÍRITA

Diretor Responsável: Hugo Gonçalves Ano 53 Nº 633 Novembro de 2006 R$ 1,50

“A vida é imortal,não existe a morte;não adianta morrer,

nem descansar,porque

ninguém descansanem morre.”

Marília Barbosa

“Nascer,morrer,renascerainda e

progredircontinuamente,

tal é a lei.”Allan Kardec

De acordo com as conclusões deErnesto Bozzano expostas em seu livro“A Crise da Morte”, eis os 12 detalhesfundamentais a respeito do que ocorre nofenômeno da desencarnação, a cujo res-peito se acham de acordo os Espíritos:• Os Espíritos se encontram novamente,na vida espiritual, com a forma humana.• Todos eles, após a morte, ignoram du-rante algum tempo que estão mortos.• Eles passam, no curso da crise pré-agônica, ou pouco depois, pela prova dareminiscência dos acontecimentos daexistência ora encerrada.• Todos eles são acolhidos no mundo es-piritual pelos Espíritos das pessoas desuas famílias ou de seus amigos mortos.• Quase todos passam, após a morte, poruma fase mais ou menos longa de “sonoreparador”.• Todos se acham num meio espiritualradioso e maravilhoso (no caso de mor-tos moralmente normais) e num meio te-nebroso e opressivo (no caso de mortosmoralmente depravados).• Todos reconhecem que o meio espiritu-al é um novo mundo objetivo, real, aná-

O que ocorre com os que desencarnamlogo ao meio terrestre espiritualizado.• Eles aprendem que isso se deve ao fatode que, no mundo espiritual, o pensamen-to constitui uma força criadora, por meioda qual o Espírito existente no “plano as-tral” pode reproduzir em torno de si omeio de suas recordações.• Todos ficam sabendo que a transmis-são do pensamento é a forma da lingua-gem espiritual, embora certos Espíritosrecém-chegados se iludam e julguemconversar por meio da palavra.• Eles verificam que, graças à faculdadeda visão espiritual, se acham em estadode perceber os objetos de um lado e ou-tro, pelo seu interior e através deles.• Todos eles aprendem que podem trans-ferir-se temporariamente de um lugarpara outro, ainda que muito distante, porefeito apenas de um ato da vontade, po-dendo também passear no meio espiri-tual ou voejar a alguma distância do solo.• Os Espíritos dos mortos gravitam fa-talmente e automaticamente para a esfe-ra espiritual que lhes convém, por virtu-de da “lei de afinidade”. (Obra citada,pp. 164 a 166.)

O Dia de Finados na visão espíritaA origem do dia de Finados nos

leva ao ano de 998, há mais de 1.000anos, quando o abade da Ordem dosBeneditinos em Cluny, França, ins-tituiu em todos os mosteiros da Or-dem naquele país a comemoraçãodos mortos, a 2 de novembro, cultoque a Santa Sé aplaudiu e oficiali-zou para todo o Ocidente.

Será que os “mortos” ficam sen-sibilizados ao nos lembrarmos deles?

O Espiritismo afirma-nos quesim. Eles ficam contentes e sen-sibilizados com a lembrança dosseus nomes. Se são felizes, essalembrança aumenta sua felicida-de; se são infelizes, isso constituipara eles um alívio.

No dia consagrado aos mor-tos, eles atendem ao apelo do pen-samento dos que buscam orar so-bre seus despojos, como em qual-quer outra ocasião. Nessa data, oscemitérios ficam repletos de Es-

Finados JuquinhaCornélio Pires

Noite alta..... Por fora de um telheiro,O pequeno Juquinha

morre ao vento...Enjeitado e sozinho... Está sedento,Nas aflições do instante derradeiro.

Lembra os dias de humilde jornaleiro,Pensa vender notícias ao relento,

Geme e delira, olhando o firmamento.Nisso, aparece

um jovem no terreiro...

Vem de manso e convida:– “Vem, Juquinha!...”O pobre larga o corpo

a que se aninha...– “Quem é você?” – pergunta,

ri-se e chora!...

– “Sou Jesus!...” – diz o moço,ao dar-lhe o braço...

E os dois sobem na luzdo imenso espaço,

Numa estrada de lírioscor de aurora!...

(Extraído do livro “PoetasRedivivos”, psicografado porFrancisco Cândido Xavier.)

José Brasil

Festa no cemitério!Hoje é dia de Finados!

Levam flores, levam velas, castiçaise jarros lindos, delicados.Muitos, de preto vestidos,outros, de branco também,

arrumam as flores,acendem as velas, rezam terço...

padre-nosso, ave-maria...dizem: Amém.

Quantas sombras tristes vagamem torno das lousas frias,

sem notar a beleza da luz das velas,nem sentir o poder dos terços

padre-nossos...ave-marias...

Hoje é dia de festa no cemitério!hoje é dia de Finados!

E que adiantam as flores,velas, jarros, castiçaisna festa do cemitérioneste dia de Finados?

Pra que cantos funerários,se os que partiram

– partiram –não estão aí plantados,

não necessitam de flores,velas... cantos funerários?

(Extraído do livro “Velório –Reflexões Espíritas”, de autores

diversos.)

Causas do temor da morteNo livro “Temas da Vida e da

Morte”, psicografado por Divaldo P.Franco, Manoel Philomeno deMiranda explica que o temor da mor-te resulta de vários fatores inerentesà natureza humana e à sua existên-cia corporal.

Entre eles destacam-se: a) o ins-tinto de conservação da vida, que lheconstitui força preventiva contra aintemperança, a precipitação e o sui-cídio, que são, no entanto,desconsiderados nos momentos desuperlativo desgosto, revolta ou de-sespero; b) a predominância da na-tureza animal, que nos Espíritos in-feriores comanda as suas aspirações,tendências e necessidades; c) o tem-porário olvido da vida espiritual deonde procede; d) o conteúdo religi-oso das doutrinas ortodoxas, que ofe-recem uma visão distorcida e preju-dicial do que sucede após a rupturados laços materiais; e) o receio deaniquilamento da vida, por falta deinformações corretas a respeito dofuturo da alma e daquilo que lhe estádestinado.

Programado o corpo para servirde instrumento para o progresso doEspírito, através de cujo cometimen-to desenvolve todas as aptidões evalores que nele jazem latentes, o

píritos, mais do que em outros dias,porque evidentemente há em taisocasiões um número maior de pes-soas que os chamam. É um erro,contudo, pensar que é a multidão decuriosos que os atrai ao campo san-to; cada um ali comparece por cau-

sa de seus amigos e não pela reu-nião dos indiferentes que, muitasvezes, visitam os cemitérios comomaneira de passar o tempo. Otúmulo de Kardec, no cemitérioPère-Lachaise de Paris (foto), éum dos que atraem turistas de todoo mundo, espíritas e não-espíritas.

Não é, porém, indispensávelcomparecer ao cemitério para ho-menagear o ente querido que par-tiu. A visita ao túmulo é um modode manifestar que se pensa no Es-pírito ausente – serve de imagem,mas é a prece que santifica o atode lembrar, pouco importando olugar, se ela é ditada pelo coração.

Este jornal, como já procedeuno ano passado, dedica esta pági-na aos nossos “mortos” queridos,oferecendo ao leitor os textos aolado que buscam esclarecer comoo Espiritismo vê o fenômeno damorte e o descreve.

A Revue Spirite há 140 anos .. 15Aiglon Fasolo ....................... 10Clássicos do Espiritismo ........ 5Crônicas de Além-Mar ......... 12De coração para coração ........ 4Divaldo responde ................... 5Editorial .................................. 2Édo Mariani .......................... 13Emmanuel .............................. 2Espiritismo para as crianças .. 6Estudando as obrasde André Luiz ....................... 14Grandes Vultosdo Espiritismo ........................ 7Jane Martins Vilela .............. 14Joanna de Ângelis .................. 2José Passini ............................ 3José Viana Gonçalves .......... 12Leonardo Marmo Moreira ..... 8Marcelo Henrique Pereira .... 10Palestras, seminários eoutros eventos ...................... 11Um minuto comChico Xavier ........................ 13

Aindanesta edição

instinto de conservação é-lhe um ins-trumento de alto valor, para que sejapreservada a vida, até as últimas re-sistências. Por isso, o Espírito seimanta ao corpo e receia perdê-lo,em razão do atavismo ancestral quelhe bloqueia o discernimento a res-peito daquilo cujos dados de avalia-ção não logram impressionar-lhe ossentidos. O predomínio da naturezaanimal desenvolve-lhe o egoísmo eexacerba-lhe a paixão violenta, acen-tuando a sensualidade que se expan-de engendrando programas de novosgozos, que terminam por exaurir-lheas energias mantenedoras dos equi-pamentos de sustentação orgânica.

Assim é que um leve aceno deprolongamento da vida física ao mo-ribundo fá-lo sorrir e aspirar pela suaocorrência, em injustificável apegoaos despojos que lhe não permitemmais largos logros, embora lhe con-cedam a permanência física. A reen-carnação promove o transitório es-quecimento do passado, que é pro-videncial, mas esse esquecimentoconstitui também motivo de receioda morte, em razão da falta de ele-mentos que estruturem a confiançana sobrevivência, com o retorno aomundo espiritual. (Obra citada, pp.67 e 68.)

O IMORTALPÁGINA 2 NOVEMBRO/2006

EditorialEMMANUEL

Em estudo redigido por ocasiãoda edição especial da LAKE come-morativa do centenário de “O Livrodos Espíritos”, J. Herculano Piressintetizou em 4 pontos o chamadométodo kardequiano, que nos pos-sibilitou a codificação da DoutrinaEspírita, uma obra que o tempo cadavez mais confirma e reafirma, semnela produzir um único arranhão:

1º. Escolha de colaboradoresmediúnicos insuspeitos, do ponto devista moral, da pureza das faculda-des e da assistência espiritual.

Allan Kardec submetia as res-postas anteriormente obtidas aocrivo de outros Espíritos, por meiode médiuns diferentes. Assim é queele trabalhou com as srtas. Carolinee Julie Baudin, Japhet, Aline, So-lichon e Ermance Dufaux, as sras.Schmidt e Forbes e o sr. Crozet,dentre muitos outros.

2º. Análise rigorosa das co-municações, do ponto de vistalógico, bem como do seu confron-to com as verdades científicasdemonstradas, pondo-se de ladotudo aquilo que não possa serlogicamente justificado.

Kardec diz em “O Livro dosMédiuns” que “não existe uma co-municação má que possa resistir auma crítica rigorosa” (cap. 24, item266). E, na mesma obra, consigna aconhecida orientação de Erasto:Mais vale repelir dez verdades doque admitir uma única mentira, uma

O Espírito, na Terra, transita emtrês fases, durante o seu estágio deevolução. Embora na formabípede, assume postura animal,humana e espiritual.

Quando há predominância dosinstintos, que o atavismo da evolu-ção mantém, o gozo, na sensação,ainda o jugula ao período animal.

Jesus é o bem e o amor do prin-cípio.

Todas as noções generosas daHumanidade nasceram de sua divi-na influenciação. Com justiça, as-severou aos discípulos, nesta pas-sagem do Evangelho de João, queseu espírito sublime representa aárvore da vida e seus seguidores sin-ceros as frondes promissoras, acres-centando que, fora do tronco, osgalhos se secariam, caminhandopara o fogo da purificação.

Sem o Cristo, sem a essência desua grandeza, todas as obras huma-nas estão destinadas a perecer.

A ciência será frágil e pobresem os valores da consciência, asescolas religiosas estarão condena-das, tão logo se afastem da verda-de e do bem.

Infinita é a misericórdia de Je-sus nos movimentos da vida pla-netária. No centro de toda expres-são nobre da existência pulsa seucoração amoroso, repleto da seiva

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O método de Kardec e a ação dos espíritasúnica teoria falsa (cap. 20, item 230).

3º. Controle dos Espíritoscomunicantes, em face da coe-rência de suas comunicações e doteor de sua linguagem.

4º. Consenso universal, ouseja, concordância entre as vá-rias comunicações dadas pormédiuns diferentes, ao mesmotempo e em diversos lugares, so-bre o mesmo assunto.

A “Revista Espírita”, que Kar-dec redigiu e publicou de janeiro de1858 a março de 1869, foi funda-mental para isso. O Livro dos Espí-ritos surgiu inicialmente com 501questões, em 18/4/1857. Na segun-da edição, ocorrida em março de1860, já eram 1.019 questões. Gra-ças à “Revista”, Kardec constituiu-se num centro que recebia mensa-gens e comunicações de todos oscantos, inclusive do Brasil.

Com efeito, ele escreveria em1864, no item II da Introdução ao“Evangelho segundo o Espiri-tismo”: “A única garantia séria doensinamento dos Espíritos está naconcordância que existe entre asrevelações feitas espontaneamen-te, por intermédio de um grandenúmero de médiuns, estranhos unsaos outros, e em diversos lugares”.

Trazemos à lembrança estas pa-lavras de Herculano Pires para dizeraos nossos leitores quão importanteseria para o movimento espírita bra-sileiro a observância do método

kardequiano em nossas atividades.O princípio de verificação da

universalidade do ensino, por exem-plo, deveria nortear os passos detodos nós que usamos a tribuna ouescrevemos para os jornais. Se issofosse seguido, toda teoria nova eassim todos os modismos ficariamesperando o momento certo paraserem tratados ou descartados.

O assunto advento do mundo deregeneração se enquadra nesse caso.Se os nossos confrades que o têmtratado em artigos e palestras tives-sem maior cuidado com o que fa-lam e escrevem, evitar-se-ia a per-da de tempo, que é uma caracterís-tica das polêmicas desnecessárias.

Podemos dizer que o mesmocuidado se deveria ter com os livrosde determinados médiuns que dis-seminam em nosso meio informa-ções estranhas e duvidosas que po-deriam ser evitadas caso o métodokardequiano fosse levado realmentea sério pelos espiritistas do Brasil.

É como diz um conceituado ora-dor, que todos nós prezamos muito:“Está-se dando uma ênfase exage-rada às obras mediúnicas, esquecen-do-se as basilares!”. Nessa advertên-cia ele quis referir-se às obras deKardec, Denis, Delanne, Bozzano,Imbassahy, Cairbar Schutel, Emma-nuel, André Luiz e tantos outros deigual valor, que muitos espiritistasnem sequer conhecem e, portanto,não leram nem estudaram.

Um minuto com Joanna de ÂngelisQuando as emoções o elevam

na busca das realidades da vida,apresenta-se em experiências dociclo humano, preparando-o parao passo seguinte.

Por fim, quando se doa e ele-va, ampliando os esforços em fa-vor do próximo, transfere-se parao degrau que o alçará ao estágio

As varas da videira

do perdão e da bondade.Os homens são varas verdes da

árvore gloriosa. Quando traemseus deveres, secam-se porque seafastam da seiva, rolam ao chãodos desenganos, para que se puri-fiquem no fogo dos sofrimentosreparadores, a fim de serem nova-mente tomados por Jesus, à contade sua misericórdia, para a reno-vação. É razoável, portanto,positivemos nossa fidelidade aoDivino Mestre, refletindo no ele-vado número de vezes em que nosressecamos, no passado, apesar doimenso amor que nos sustenta emtoda a vida.

“Eu sou a videira, vós asvaras.” – Jesus. (João, 15:5.)

No Natal, presenteie um amigo comuma assinatura de “O Imortal” e

ajude a divulgar o Espiritismoares ou integrantes do Grupo Espí-rita de que faça parte.

A Assinatura múltipla é a formaideal para os Grupos e Centros Espí-ritas interessados na melhor divulga-ção do Espiritismo, dado o carátermultiplicador desse investimento.

Não é preciso efetuar o paga-mento agora. Você receberá pelocorreio o boleto bancário correspon-dente, que poderá ser quitado emqualquer agência bancária.

Lembre que, segundo Emmanu-el, a maior caridade que podemosfazer à Doutrina Espírita é a sua di-vulgação. Ajude-nos, pois, a divul-gá-la, colaborando com os jornais,os programas de rádio e TV e os li-vros espíritas.

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JOANNA DE ÂNGELIS, men-tora espiritual de Divaldo P. Franco,é autora, entre outros livros, de Mo-mentos de Esperança (Livraria Es-pírita Alvorada Editora, 1988), doqual foi extraído o texto acima.

EMMANUEL, que foi o men-tor espiritual de Francisco Cândi-do Xavier e coordenador da obramediúnica do saudoso médiummineiro, é autor, entre outros li-vros, de “Caminho, Verdade eVida” (FEB, 1948), de onde foiextraído o texto acima.

espiritual libertador.No primeiro passo goza, sente,

aturde-se.No segundo, percebe, conquis-

ta, ilumina-se.No terceiro, eleva-se, vive, san-

tifica-se.*

Não te detenhas na faixa vibra-tória da evolução, na qual estagias.

Se vives bem, procura fazê-locom dignificação, a fim de quepossas bem viver, sobrepondo-teaos limites da conjuntura materi-al, que é o passo primeiro para atua plena realização como Espíri-to imortal.

O IMORTALNOVEMBRO/2006 PÁGINA 3

Fidelidade Doutrinária

Há pessoas que estão sem-pre a buscar atalhos, soluçõesprontas, para agirem sem o es-forço da análise, do exame cui-dadoso, conforme recomenda oApóstolo Paulo: “Examinaitudo; retende o bem.” (I Ts, 5:21). Essas pessoas, por certo,ainda não entenderam a inspi-rada assertiva do Codificador,ao grafar na folha-de-rosto doprimeiro livro eminentementereligioso da Doutrina, O Evan-gelho segundo o Espiritismo:“Fé inabalável só o é a que podeencarar frente a frente a razão,em todas as épocas da Humani-dade.” O esforço para a cons-trução dessa fé inabalável é pe-noso para aqueles que desejamreceber tudo pronto. Os que as-sim se posicionam têm muitasdúvidas no terreno da fidelida-de doutrinária. Seria do seuagrado o estabelecimento de umíndex para orientar o que deve-riam ler, de um manual de pro-cedimentos para as atividadesdesenvolvidas nos centros espí-ritas e, também, de uma cartilhade orientação para o seu próprioprocedimento em sociedade.

Em relação à fidelidade dou-trinária, há posições as mais vari-adas assumidas pelas pessoas. Háaquelas que desejariam houvesseuma lista de obras “condenadas”,o que lhes facilitaria a escolhapara a leitura de informações se-guras, sem terem que “esquentar

JOSÉ [email protected]

De Juiz de Fora

a cabeça”. No outro extremo, ou-tras há que reagem negativamentea qualquer tipo de avaliação ou dejuízo formulado sobre uma publi-cação, tachando tal ato como esta-belecimento de um índex.

Nesse contexto, deve ser lem-brado que uma das característi-cas marcantes do Espiritismo éexatamente a liberdade que con-fere aos seus profitentes. Liber-dade aprendida com Jesus, quenunca constrangeu ninguém a fa-zer ou deixar de fazer algo, sim-plesmente porque lhe fora orde-nado. O Mestre sempre buscavalevar o ouvinte a entender os seusensinamentos, raciocinando so-bre eles, o que obtinha atravésdos diálogos que estabelecia.

Muitas passagens discutíveisdo Novo Testamento, muitas pa-lavras e frases atribuídas a Jesus,lá estão porque o Alto o permitiu.Apesar de muitos cortes, acrésci-mos e adaptações, o essencial foiconservado intacto. O que se tor-nou objeto de discussão serve paraaprendermos a raciocinar em ter-mos de fé e exercitarmos o bom-senso. Se Jesus tivesse vindo paratrazer-nos fórmulas acabadas desalvação – tão a gosto dos sim-plistas – não teria sido carpintei-ro, mas sim canteiro, pois traba-lhando com pedras teria oportu-nidade de deixar seus ensinamen-tos insculpidos em lajes, comoverdadeiras “receitas” de salva-ção, a serem seguidas ipsis verbispelos séculos afora. Esse desejodo Mestre, de conduzir seus dis-cípulos ao estudo e à reflexão, ficamuito claro quando recomenda:“E conhecereis a verdade, e a ver-dade vos libertará.” (Jo, 8: 32).

“A mediunidade tem sidoveículo para a divulgação demuitas novidades que deveri-

am ter merecido acuradoexame”

Dentro dessa perspectiva,como encontrar o ponto de equi-líbrio entre os que querem umíndex e um manual de procedi-mentos, e aqueles que advogamliberdade ampla, total e irrestri-ta? Avaliar se uma obra ou uma

prática está em consonância comos princípios doutrinários é tare-fa para quem conhece realmentea Doutrina. Daí, a necessidade doestudo, da reflexão, da análiseserena e desapaixonada, a fim deque se chegue à conclusão do queestá de acordo e do que está emconfronto com as verdades queo Espiritismo esposa.

A preservação da fidelidadedoutrinária no que diz respeito àspráticas desenvolvidas numa en-tidade espírita é mais fácil, poisninguém usaria velas, bebidas, fu-maça, roupas especiais, imagens,rituais, etc. Entretanto, quando setrata do uso da palavra, seja oral-mente, seja por escrito, a tarefade verificação se torna mais difí-cil. Mais difícil porque esbarra,quase sempre, no personalismocamuflado numa capa de inova-ção, renovação, atualização, etc.

A mediunidade tem sido veí-culo para a divulgação de mui-tas “novidades” que deveriam termerecido acurado exame antesde se terem transformado em fo-lhetos e, principalmente, em li-vros. Infelizmente, o encanta-mento provocado pelo fenôme-no ainda oblitera a visão de mui-tos, conduzindo-os a entendi-mentos equivocados.

Se houvesse mais estudo daCodificação, por certo o númerode obras antidoutrinárias existen-tes, tanto pela ação de médiunsquanto de leitores seria bem me-nor, para não dizermos nulo. Te-mos o exemplo maior em Kar-dec, que se conservou sereno ejudicioso, embora a imensa emo-ção que deve ter sentido ao com-

provar a imortalidade da alma, ao“descobrir” o Mundo Espiritual,e ao verificar o relacionamentoefetivo entre encarnados e desen-carnados. É oportuno seja lem-brada a sempre atual advertênciade Erasto, que Kardec inseriu emO Livro dos Médiuns: “Melhor érepelir dez verdades do que ad-mitir uma única falsidade, umasó teoria errônea.” (item 230).

A necessidade do uso do bom-senso no campo da mediunidadeé evidenciada desde os temposapostólicos, conforme se aprendecom o Apóstolo Paulo – segura-mente a maior autoridade em as-suntos mediúnicos no Cristianis-mo nascente – que recomenda: “Efalem dois ou três profetas, e osoutros julguem.” (I Co, 14: 29).O mesmo cuidado é recomenda-do por João: “Amados, não creiaisa todo o espírito, mas provai seos espíritos são de Deus; porquejá muitos falsos profetas se têmlevantado no mundo”. (I Jo, 4: 1).

“Os adversários do Espiritis-mo de há muito desistiram decombatê-lo através de ataques

exteriores”

Essas recomendações continu-am atualíssimas, diante do momen-to que vivemos, pois atravessamosum período que nos requer muitaatenção relativamente à fidelidadedoutrinária, principalmente no cam-po mediúnico voltado à produçãode livros. Note-se que o vocábuloprodução é intencionalmente usa-do aqui para substituir publicação,pela verdadeira avalancha de obrasmediúnicas que invadem as prate-leiras das livrarias.

Há uma ânsia desenfreada de sepublicar tudo o que médiuns invi-gilantes produzem, sequiosos deverem seus nomes em capas de li-vros. Há editoras que descobriram

um verdadeiro filão de ouro nomeio espírita. Muitos dos que ad-quirem livros pensando estaremajudando instituições de amparoa necessitados não são informa-dos do que resta no final, depoisde deduzidas as despesas e os gan-hos das editoras... Se há grandeprofissionalismo editorial, feliz-mente, o profissionalismo medi-único, no que se refere à literatu-ra espírita ficou restrito a conhe-cida família, que não mais se podedizer espírita, mas sim praticantede mediunidade apenas.

Os adversários do Espiritis-mo de há muito desistiram decombatê-lo através de ataquesexteriores. Agora, eles se imis-cuem no nosso meio, onde qua-se que imperceptivelmente, va-lendo-se da invigilância demuitos, buscam lançar o des-crédito através de mensagensfantasiosas, quando não ridícu-las. Por isso, no quadro atual,mais que nunca, os médiuns de-vem pôr em prática o “Vigiai eorai, para que não entreis emtentação (...)”. (Mt, 26: 41).

Diante do exposto, fica cla-ro que não se pode nem estabe-lecer um manual de procedi-mentos, nem elaborar um índex,objetivando a preservação da fi-delidade doutrinária. Mas, en-tão, como proceder diante des-sa quantidade imensa de obrasinovadoras e de posicionamen-tos inusitados, cujas “revela-ções” e “modernizações” vãodesde o simplesmente discutívelao claramente antidoutrinário?

Em atitudes discretas, equi-libradas, ao amparo da oraçãosincera, cada espírita conscien-te deve constituir-se emguardião fiel dos princípiosdoutrinários, o que conseguiráatravés do estudo, da reflexão,do uso do bom-senso.

Nesta obra Kardec definiu o que é féinabalável

Kardec foi um exemplo de serenidade ebom-senso

O IMORTALPÁGINA 4 NOVEMBRO/2006

Focalizado em dois artigos pu-blicados neste jornal em suas edi-ções de maio e outubro deste ano,o tema mundo de regeneração sus-citou inúmeros comentários no mêspassado.

Queremos, no entanto, deixarbem claro que jamais dissemos quea transição da Terra de planeta deprovas e expiação para mundo deregeneração não se iniciou. Ao con-trário, essa transição vem já de lon-go tempo e talvez seja anterior aoadvento do Consolador prometido.Provavelmente as idéias dosiluministas, que marcaram o século18, já fizessem parte desse processo.

O que temos dito e repetimos éque a conclusão da transição, o cha-mado final de ciclo, ainda se en-contra distante do nosso tempo, oque é uma pena. Estabelecer umadata, como o ano de 2057, queconsta de um artigo veiculado pelainternet, é que constitui um equí-voco. Ninguém sabe quando essedia ocorrerá, nem Jesus, nem osanjos, somente Deus.

Atribuir previsões nesse senti-do a Chico Xavier ou a Emmanuelnão passa de crendice, sobretudoquando se sabe que:

I. os bons Espíritos “fazem queas coisas futuras sejam pressenti-das, quando esse pressentimentoconvenha; nunca, porém, determi-nam datas”. “A previsão de qual-quer acontecimento para uma épo-ca determinada é indício de misti-

ficação.” (O Livro dos Médiuns,item 267, 8o parágrafo, p. 334.)

II. o próprio Emmanuel afir-mou taxativamente, no seu livro“Emmanuel”: “Os seres da minhaesfera não conhecem o futuro, nempodem interferir nas coisas que lhepertencem”. (Emmanuel, cap.XXXIII, FEB, 7a edição, pág. 166.)

Um segundo equívoco propala-do pelos defensores da idéia emexame é achar que a transformaçãode um planeta se faz pela expulsãodos maus. Claro que existe expul-são, mas de um número diminuto,como Emmanuel refere ao tratardos exilados de Capela.

Segundo Emmanuel escreveuem seu livro “A Caminho da Luz”,há muitos milênios um dos orbesde Capela – uma grande estrela si-tuada na Constelação do Cocheiro– atingira a culminância de um dosseus ciclos evolutivos. Alguns mi-lhões de Espíritos rebeldes ali exis-tiam, no caminho da evolução ge-ral, dificultando o progresso, e fo-ram localizados na Terra, reencar-nando aqui como descendentes dos“primatas” (obra citada, pp. 34 a37). Observe o leitor este dado:milhões de Espíritos rebeldes, o queé um número ínfimo comparadocom os bilhões de almas que vivemem um planeta como o nosso.

Pois é exatamente isso que Kar-dec ensina, como podemos ler naRevista Espírita de 1866, pp. 302 a305:

• Chegada a um de seus períodosde transformação, a Terra vai ele-var-se na hierarquia dos mundos.• A Terra não será transformada porum cataclismo, que aniquilará su-bitamente uma geração.• Um dos caracteres distintivos danova geração será a fé inata, fé raci-ocinada, que esclarece e fortifica, eune a todos num sentimento comumde amor a Deus e ao próximo.• A geração atual desaparecerá gra-dualmente, e a nova a sucederá,sem que nada seja mudado na or-dem natural das coisas, com umaúnica diferença: uma parte dos Es-píritos que aí se encarnavam nãomais nela se encarnarão.• Essa exclusão atingirá apenas osEspíritos fundamentalmente rebel-des, aqueles que o orgulho e o ego-ísmo, mais que a ignorância, tornamsurdos à voz do bem e da razão.

Um terceiro e derradeiro equí-voco diz respeito ao desconheci-mento do que seja um mundo deregeneração, o qual, como o nomediz, não se destina a expiação, sen-do em verdade um local de transi-ção, de descanso, onde os Espíri-tos que ainda têm o que expiar sepreparam para novos embates,como mostra o texto seguinte, cons-tante de “O Evangelho segundo oEspiritismo”, cap. III, item 17:

“Os mundos regeneradores ser-vem de transição entre os mundosde expiação e os mundos felizes. Aalma penitente encontra neles a cal-

ma e o repouso e acaba por depu-rar-se. Sem dúvida, em tais mundoso homem ainda se acha sujeito àsleis que regem a matéria; a Huma-nidade experimenta as vossas sen-sações e desejos, mas liberta daspaixões desordenadas de que soisescravos, isenta do orgulho que im-põe silêncio ao coração, da invejaque a tortura, do ódio que a sufoca.Em todas as frontes, vê-se escrita apalavra amor; perfeita equidadepreside às relações sociais, todos re-conhecem Deus e tentam caminharpara Ele, cumprindo-lhe as leis.”

Grifados no texto acima estão osvocábulos “liberta”, “isenta”, “escri-ta” e “equidade”. Pedimos ao leitorque releia o texto e veja se para atin-gir tal estado de coisas bastam-nosapenas 51 anos, que é o que separa

De coração para coraçãoASTOLFO OLEGÁRIO DE OLIVEIRA FILHO - [email protected]

De Londrina

O mundo de regeneração e suas características

O Espiritismo respondeRenata quer saber se é verdade

que nos casos de adoção não deve-mos ocultar a verdade da criança.

Algum tempo atrás, entrevis-tada pela Gazeta do Povo, deCuritiba, a psicóloga e professo-ra Lídia Natalia DobrianskyjWeber, da Universidade Federaldo Paraná, asseverou: “A primei-ra regra ética de uma família queadotou alguém é a verdade, ouseja, o filho adotivo deve saberdesde o começo que foi adotado”.“Não deve existir – disse ela – ummomento especial para contar,mas o assunto deve ser colocadona família e para a criança demaneira aberta, até mesmo antesde sua linguagem verbal formal.”

A proposta da psicólogacuritibana coincide com o ensina-mento transmitido por Emmanuelhá cerca de 32 anos. Na mensagemintitulada “Filhos Adotivos”, queintegra o cap. 5 do livro Astronau-tas do Além, publicado pelo

GEEM – Grupo Espírita Emma-nuel, o conhecido instrutor espiri-tual diz que existem vínculos dopretérito muito fortes entre o casalque adota e o filho adotado. A ado-ção dessa ou daquela criança nãoé, portanto, obra do acaso, e é porisso que a verdade deve desde cedoser revelada.

Recomenda Emmanuel: “... setens na Terra filhos por adoção,habitua-te a dialogar com eles, tãocedo quanto possível, para que sedesenvolvam no plano físico sobo conhecimento da verdade. Au-xilia-os a reconhecer, desde cedo,que são agora teus filhos do cora-ção, buscando reajustamentoafetivo no lar, a fim de que nãosejam traumatizados na idadeadulta por revelações à base daviolência, em que freqüentemen-te se lhes acordam no ser as laba-redas da afeição possessiva de ou-tras épocas, em forma de ciúme erevolta, inveja e desesperação”.

Os vocábulos adiante relaciona-dos são por vezes pronunciados demaneira incorreta. Veja qual é apronúncia correta, indicada à fren-te de cada um deles:• Subsídio (sub-cí-dio)• Subsistência (sub-cis-tên-cia)• Opção (op-ção, e não o-pi-ção)• Psicologia (psi-co-lo-gi-a, e não

Pílulas gramaticaispi-ci-co-lo-gi-a)• Advogado (ad-vo-ga-do, e nãoade-vo-ga-do)• Antioquia (An-ti-o-quí-a, e nãoAn-ti-ó-quia)• Avaro (a-vá-ro, e não ávaro)• Rubrica (ru-brí-ca, e não rú-bri-ca)• Getsêmani (Guet-ssê-ma-ni)• Paracleto (pa-ra-clé-to)

• Paráclito (pa-rá-cli-to)• Tóxico (tók-si-co, e não tó-chi-co)• Mister (mis-tér, e não mís-ter)• Autópsia (au-tóp-cia)• Necropsia (ne-crop-cí-a, e não ne-cróp-cia)• Qüinqüênio (kuin-kuê-nio)• Rapsódia (rap-ssó-dia)

2057 e o ano corrente.Por fim, relembremos os crimes

e os desmandos praticados peloshabitantes da Terra nos últimos 100anos – a revolução comunista comseus milhões de mortos, as guerrasmundiais de 1914 e 1939, a guerrado Vietnã, a guerra da Coréia, asguerras do Iraque, os conflitos en-tre católicos e protestantes na Irlan-da, as confusões entre árabes e ju-deus na Palestina, as ações terro-ristas dos últimos anos – e veremosque os habitantes deste planeta, enão apenas uma minoria, têm ain-da muito o que expiar, a reparar, aconsertar, e é exatamente isso queperturba e atrasa a transição, impos-sibilitando a fixação de uma data,tal como Jesus deixou bem claro noconhecido sermão profético.

O IMORTALNOVEMBRO/2006 PÁGINA 5

Clássicos do Espiritismo

A Alma é Imortal (Parte 10)ANGÉLICA REIS

[email protected] Londrina

Continuamos a apresentar otexto condensado da obra A Almaé Imortal, de Gabriel Delanne,traduzida por Guillon Ribeiro epublicada pela Editora da FEB. Aspáginas citadas referem-se à 6a edi-ção.

*130. Em outra comunicação

relatada pela Revista Espírita, aSrta. Indermulhe, surda e muda denascença, consegue exprimir comclareza seus pensamentos. Por cer-tas particularidades característicasque estabelecem a sua identidade,um irmão a reconheceu. Pode-se,portanto, evocar o Espírito de umcretino ou o de um alienado e con-vencer-se experimentalmente deque o princípio pensante, o seuEspírito, não é louco. É o corpo quese acha enfermo e não obedece porisso às volições da alma, dondedolorosa e horrível situação queconstitui uma das mais temíveisprovas. (Pág. 147)

131. Alexandre Aksakof tam-bém relata em sua obra acima cita-da numerosos casos de encarnadosmanifestando-se a amigos ou a es-tranhos pelos processos espiríticos.Eis alguns desses casos menciona-dos neste livro por Delanne: I) Oconhecido escritor russo WsevolodSolowiof conta que freqüentemen-te sua mão era presa de uma influ-ência estranha à sua vontade e, en-tão, escrevia com extrema rapideze clareza, mas da direita para a es-querda, de sorte a não se poder lero escrito senão colocando-o diantede um espelho ou por transparên-cia. II) Um dia, sua mão escreveuo nome Vera, uma prima que o avi-sou de que teriam um encontro nodia seguinte, no Jardim de Verão.À família, a jovem disse ter visita-do seu primo em sonho e anuncia-do o encontro que teriam, o queefetivamente se deu. III) A Srta.

Sofia Swoboda, julgando estar napresença de sua professora, a Sra.W..., transmitiu-lhe, sem saber, umamensagem, no momento em que aprofessora tomara do lápis para ten-tar um contato com seu defuntomarido. No dia seguinte, Sofia re-conheceu não só a sua caligrafiacomo o assunto que ficou registra-do na mensagem psicografada pelaprofessora. (Págs. 147 a 149)

132. Exemplos de Espíritos depessoas vivas manifestando-se pelaincorporação são referidos pela co-nhecida escritora Hardinge Brittene pelo Sr. Damiani. (Pág. 151)

As fotos e as materializaçõesatestam que a alma tem

sempre uma forma fluídica

133. Conta a Sra. Britten que,numa sessão realizada em casa doSr. Cuttler, em 1853, um médiumfeminino pôs-se a falar em alemão,embora ignorasse completamenteesse idioma. A individualidade quepor ela se manifestava dizia-se mãeda Srta. Brant, jovem alemã que seachava presente. Passado algumtempo, um amigo da família, vindoda Alemanha, trouxe a notícia de quea Sra. Brant, após prolongado sonoletárgico decorrente de séria enfer-midade, declarara, ao despertar, terestado com a filha num aposentoespaçoso, na América. (Pág. 151)

134. O Sr. Damiani diz, a seu tur-no, que nas sessões da baronesaCerrapica, em Nápoles, receberam-semuitas vezes comunicações provindasde pessoas vivas, como se deu com oDr. Nehrer, que vivia na Hungria e secomunicou com ele por intermédio dabaronesa. (Págs. 151 e 152)

135. O capítulo é encerrado como relato de vários casos dematerializações de duplos de pes-soas vivas, fenômeno esse que apre-senta, segundo Delanne, o mais altoponto de objetividade da açãoextracorpórea do homem, visto quese traduz por efeitos intelectuais,físicos e plásticos. (Pág. 152)

136. Eis alguns dos casos rela-tados por Delanne: I) Nas experi-ências realizadas em presença doprof. Mapes, este pôde comprovaro desdobramento do braço e dasmangas do médium. II) Diz o Sr.Cox que, enquanto uma correnteelétrica permanecia jungida ao mé-dium, uma forma humana comple-ta foi vista por todos: era a formada Sra. Fay, integral, com sua ca-beleira, seu porte, seu vestido deseda azul, seus braços nus até aocotovelo, adornados com bracele-tes de finas pérolas. III) Nas expe-riências feitas com Eusápia Pala-dino foi possível comprovar-sematerialmente o seu desdobramen-to. (Págs. 152 a 154)

137. A par das narrativas dossonâmbulos e dos videntes, as co-municações dos Espíritos, confir-madas pelas fotografias e pelasmaterializações de vivos e de de-sencarnados, atestam que a almatem sempre uma forma fluídica.(Pág. 155)

Sob a influência domagnetismo, o perispírito seexterioriza mais ou menos

138. O Sr. de Rochas chegou aestabelecer a objetividade da luzódica, que o barão de Reichenbachatribuía a todos os corpos cujasmoléculas guardam uma orientaçãodeterminada. As experiências fei-tas até então indicavam que oseflúvios poderiam ser devidos uni-camente às vibrações constitucio-nais dos corpos, transmitindo-se aoéter ambiente. (Pág. 156)

139. O corpo humano - segun-do de Rochas - também emiteeflúvios de coloração variável, con-forme os pacientes. (Pág. 156)

140. Após reportar algumas ex-periências descritas pelo Sr. de Ro-chas, Delanne admite, por hipótese,que a característica essencial dosmovimentos vibratórios é a interfe-rência, isto é, a produção, por efeitoda combinação das ondas, de faixas

Do livro Palavras de Luz, de Divaldo P. Franco e Espíritos Di-versos.

Divaldo responde– Que dizer das aulas de evan-

gelização em que predomina oconhecimento do Evangelho semconteúdo espírita?

Divaldo P. Franco: Que é umtrabalho muito respeitável, masnão é um trabalho espírita. Paraque o seja, é indispensável que seencontrem presentes os postuladosessenciais conforme estão exara-dos em O Livro dos Espíritos deAllan Kardec. Não podemos en-tender por que a criança e o jovemsão capazes de compreender oEvangelho e não o Espiritismo,quando têm idéia clara de eletrô-nica, de cibernética, e de outrasciências muito mais complexas doque a Ciência Espírita, que é defácil assimilação. Os irmãos dasigrejas reformadas e do Catolicis-mo, nas suas várias denominações,lecionam também o Evangelho,

que é muito bom na sua parte mo-ral, mas que não equaciona a pro-blemática da existência humana,que somente pode ser entendida àluz da reencarnação. Não equaci-ona a realidade da comunicabili-dade dos Espíritos, que somenteatravés da mediunidade encontraparâmetros de lógica e sustenta-ção. Não elucida a problemáticada pluralidade dos mundos habi-tados, hoje reconhecida por boaparte dos astrônomos e dosastrofísicos de toda a Terra. E nãoresolve o problema do comporta-mento humano, porque libera ouescraviza a consciência através dosdogmas, dos formalismos e dassuas atitudes místicas. É indispen-sável colocar a Doutrina Espíritano Evangelho, para que a razãosubstitua a aceitação, e a lógicapreencha o vazio do mitológico.

de movimentos, em que as vibraçõessão máximas, e faixas de repouso, nasquais o movimento vibratório é nulo,ou mínimo. (Pág. 158)

141. A força nervosa, em vez dese espalhar pelo ar e dissipar-se,distribui-se em camadas concêntri-cas ao corpo. É preciso, pois, queuma força a retenha, porquanto,desde que normalmente ela se es-coa pela extremidade dos dedos, domesmo modo que a eletricidadepelas pontas, forçosamente se per-deria no meio ambiente, se nãoexistisse um envoltório fluídicopara retê-la. (Pág. 159)

142. No estado normal, a forçanervosa circula no corpo, peloscondutos naturais, os nervos, e che-ga à periferia pelas mil ramificaçõesnervosas que se estendem por bai-xo da pele. Sob a influência domagnetismo, o perispírito seexterioriza mais ou menos, isto é,irradia em volta de todo o seu cor-

po e a força nervosa se espalha noenvoltório fluídico e aí se propagaem movimentos ondulatórios.(Págs. 159 e 160)

143. Vimos que os fantasmasde vivos falam, o que implica aexistência neles, além dos órgãosda palavra, de certa quantidade deforça viva, cuja presença é tambématestada por deslocamentos de ob-jetos materiais, como o abrir e fe-char uma porta, agitação de cam-painhas, etc. (Pág. 161)

144. É necessário, portanto,que eles tirem essa força de qual-quer parte. Em tais casos, tiram-na provavelmente de seus corposmateriais, visto que, segundo en-sina Kardec, a alma, quando sedesprende, seja durante o sono,seja nos casos de bicorporeidade,permanece ligada sempre ao seuenvoltório terreno por um laçofluídico. (Pág. 161) (Continua nopróximo número.)

O IMORTALPÁGINA 6 NOVEMBRO/2006

A BÊNÇÃO DA FÉCarlos e Luisa sentiam-se ex-

tremamente desalentados e sofre-dores. Seu filho único, Otávio, ga-roto de seis anos de idade, falece-ra repentinamente vitimado poruma doença incurável.

Inconformados, Carlos e Luisabuscavam explicação para sua dor.Porque fora acontecer logo comeles? Otávio era um menino bom,obediente, carinhoso, um verdadei-ro anjo caído do céu. Por que Deuso retirara dos seus braços, os paisque o amavam tanto?

Assim, revoltados, procu-ravam consolo em todos oslugares e de todas as formas,sem encontrar lenitivo ou res-posta para seus sofrimentos.

Certo dia, eles entraramnuma Casa Espírita, apesar denão acreditarem em nada. Ou-viram o comentário evangé-lico e depois tomaram passe.De alguma maneira, sentiram-semais aliviados.

Terminada a reunião, o dirigen-te foi conversar com eles. Assim,contaram-lhe sobre a morte do ga-roto. Luisa, profundamente revol-tada, terminou seu relato dizendo:

- Desde então, e lá se vão seismeses, não tivemos mais paz oualegria de viver.

Sereno, o responsável pela reu-nião fitou-os penalizado, e perguntou:

- Não acreditam na imortalida-de da alma?

Surpreso, o casal trocou umolhar, enquanto Luisa exclamava:

- Nunca pensamos nisso!Com sorriso terno, o espírita

ponderou:- Pois é bom que comecem a

pensar nessa possibilidade. O Es-pírito é imortal e sobrevive à mor-te do corpo físico. Seu querido fi-lho Otávio está mais vivo do quenunca!

Com o coração batendo rápidoe os olhos a brilharem de esperan-ça, Luisa indagou:

- O senhor tem certeza disso?- Absoluta. Certamente preci-

sa da ajuda de vocês. Suas lágri-mas não devem estar fazendo bema ele. Provavelmente estará sofren-do muito.

- O que fazer, então, para ajudá-lo? - perguntou a mãe, preocupada.

- Orem por ele. Procurem lem-

brar-se das coisas alegres, dos mo-mentos felizes que tiveram e, quemsabe, um dia poderão se reencontrar?

O bondoso velhinho deu-lhesalgumas explicações necessáriassobre a Doutrina Espírita e, antesque se retirassem, entregou-lhes al-guns livros cuja leitura poderia for-necer-lhes noções mais claras eprecisas.

Carlos e Luisa deixaram o Cen-tro Espírita com nova esperança.

A partir daquele dia, Luisa pas-sou a fazer preces pelo filhinhodesencarnado, pedindo sempre aJesus que, se possível, lhe permi-tisse vê-lo novamente.

Certo dia adormeceu em pran-tos. Fazia exatamente um ano queseu filho retornara ao mundo espi-ritual.

Luisa viu-se num lindo jardim,todo florido, e onde muitas crian-ças brincavam despreocupadas.

Sentou-se num banco paraobservá-las quando viu alguémcaminhando ao seu encontro: eraOtávio.

Cheia de alegria abraçou-o, fe-liz. Ele estava do mesmo jeito; nãomudara nada.

Após as primeiras efusões, Otá-vio falou-lhe com carinho:

- Mamãe, estou muito bem.Não chore mais porque eu tambémfico triste. Suas preces têm me aju-dado muito.

- Ah! Meu filho, que felicida-de! Pena que estou sonhando!

- Não, mamãe, estamos nosencontrando de verdade.

Colhendo uma rosa do jardim,ele ofereceu-a à mãezinha, despe-dindo-se:

- Para você, mamãe, com todoo meu amor. Dê um beijo no pa-pai.

- Não vá, meu filho! - suplicou,aflita.

- Preciso ir agora. Não se preo-cupe, mamãe. Eu voltarei para osseus braços. Ajude outras criançasnecessitadas. Até breve!

Despertando, Luisa não conte-ve as lágrimas de emoção. Estive-

Diante da perda de um entequerido, especialmente de umacriança, a tristeza toma conta denosso coração e até pensamos queDeus não é justo, porque leva umacriança, que tem a vida inteirapela frente, e deixa um idoso, quejá viveu bastante e se sente can-sado.

No entanto, Deus sabe o quefaz. Certamente, se uma criançadesencarna em tenra idade é por-que assim era necessário, e, pro-vavelmente, já teria cumprido seutempo aqui na Terra, enquantoque uma pessoa mais velha tal-vez ainda não tenha cumprido suatarefa.

De qualquer forma, a mortenão existe. A vida continua, por-que o que morre é o corpo. O Es-pírito, ser imortal, continua maisvivo do que nunca.

Ele retorna à Espiritualidade,que é sua verdadeira vida. Ali, terácondições de rever os familiarese amigos que já partiram, e de fa-zer novas amizades.

Tudo dependerá da condiçãoevolutiva do Espírito. Se ele cum-priu suas obrigações, se exercitoua bondade e o amor, irá para uma

região mais feliz. Se, ao contrá-rio, fez o mal, foi egoísta, orgu-lhoso e não cumpriu seus deve-res, irá para local compatível comseu modo de pensar, de agir e desentir.

O mundo espiritual superioré semelhante ao mundo materi-al, só que muito mais aprimora-do. Após a desencarnação, mui-tos se admiram de encontrar ci-dades, uma sociedade organiza-da, casas, escolas, hospitais, pra-ças, jardins e muito mais.

O Espírito continua apren-dendo e progredindo sem parar.Será muito mais feliz do que aquina Terra porque lá não existe vi-olência, pobreza, doenças. Exis-te paz e harmonia, porque todosse preocupam em melhorar cadavez mais, conscientes da sua con-dição de ser imortal.

Assim, não lamentemos onosso ente querido que já partiu.Ao contrário. Oremos por ele,lembrando os momentos felizesque passamos juntos, dizendo-lhe:

— Você cumpriu sua tarefa.Que Deus o abençoe! Seja muitofeliz em sua nova vida!

A VIDA CONTINUA

ra com Otávio. Pena que fora ape-nas um sonho.

Qual não foi seu espanto, po-rém, quando, olhando para amesinha de cabeceira, viu uma belarosa. A mesma que seu filho lhedera, ainda com gotas de orvalhonas pétalas, como se tivesse sidocolhida a pouco.

Tomando a flor entre os dedos,enternecida, levou-a aos lábios,enquanto o pensamento elevava-senuma prece de agradecimento aoCriador pela dádiva que lhe con-cedera.

Entendera a mensagem. Agorajá não poderia duvidar da imorta-lidade da alma e seu coração en-cheu-se de conforto e de paz.

Algum tempo depois, nas tare-fas a que se vinculou no auxílio afamílias carentes de uma favela dacidade, recebeu uma criança que amãe falecido ao dar a luz e cujopai não era conhecido.

Cheia de compaixão, Luisatoma nos braços o recém-nascidoe, ao aconchegá-lo ao peito, umaonda de amor a envolve. Resolvelevá-lo para casa e adotá-lo comofilho do coração.

Sem saber recebe, com essegesto generoso, seu querido filhoOtávio que, graças à misericórdiadivina, retorna aos seus braçosamorosos.

TIA CÉLIA

O IMORTALNOVEMBRO/2006 PÁGINA 7

Grandes Vultos do EspiritismoMARINEI FERREIRA REZENDE - [email protected]

De Londrina

los na autoridade da tradição e a ra-zão geral da Humanidade, em vez doindividualismo do julgamento priva-do. Em suas crenças políticas era umliberal que advogava a separação doEstado da Igreja, a liberdade de cons-ciência, educação e imprensa.

Depois da revolução de julho, em1830, Lamennais, junto com HenriLacordaire (Os expoentes da Codifi-cação XVIII ) e Charles de Monta-lembert, além de um grupo entusiás-tico de escritores do CatolicismoRomano Liberal, fundou o jornal“L`Avenir”. Nesse jornal diário, de-fendia Lamennais os princípios de-mocráticos, a separação da Igreja doEstado, criando embaraços para sitanto com a hierarquia eclesiásticafrancesa quanto com o governo dorei Luís Felipe. O Papa Gregório XVIdesautorizou as opiniões de Lamen-nais na Encíclica Mirari, em agostode 1831. A partir de então, Lamen-nais passa a atacar o Papado e as mo-narquias européias, escrevendo o fa-moso poema “Palavras de um cren-te”, condenado na Encíclica papalSingulari vos, em julho de 1834. Oresultado foi a expulsão de Lamen-nais da Igreja. Incansável, ele se de-votou à causa do povo, colocando suacaneta a serviço do republicanismoe do socialismo. Escreveu trabalhoscomo “O Livro do Povo” (1838), “Osafazeres de Roma” e “Esboço de umaFilosofia”. Democracia, liberdade,educação com liberdade de consci-ência foram temas muito freqüentesnos escritos de Lamennais, de acor-do com Rousseau. Eis o liberalismocatólico moderno difícil de ser acei-to pelas instâncias oficiais dos tem-pos de Lamennais. Chegou a ser con-denado à prisão, mas em 1848 foieleito para a Assembléia Nacional,aposentando-se em 1851.

Por ocasião de sua morte, emParis, em 27 de fevereiro de 1854,não desejando se reconciliar com aIgreja, foi sepultado em uma cova deindigente. No Mundo Espiritual, não

Lamennais

Hughes Felicité Robert de La-mennais (19 de junho de 1782 – 27de fevereiro de 1854) foi um filó-sofo e escritor político francês.Nascido em uma família burguesa,em Saint-Malo, na França, foi bri-lhante escritor, tornando-se umafigura influente e controversa nahistória da Igreja francesa. Com seuirmão Jean, concebeu a idéia dereviver o Catolicismo Romanocomo uma chave para a regenera-ção social. Chegaram a esboçar umprograma de reforma em sua obra:Reflexão do Estado da Igreja, noano de 1808. Cinco anos mais tar-de, no auge do conflito entreNapoleão e o Papado, os irmãosproduziram uma defesa do Ultra-montanismo (Doutrina e políticados católicos franceses que busca-vam inspiração na Cúria Romana,defendendo a autoridade absolutado Papa em matéria de fé e disci-plina). Esse livro valeu a Lamen-nais um conflito com o Imperador,ocasionando sua fuga para a Ingla-terra, no ano de 1815. Ele teve umavida de paradoxos, ainda que sem-pre vertido para algo superior. Jo-vem ainda, abandonou o extremis-mo laico da revolução francesa, emtroca de um catolicismo liberal,para se fazer sacerdote, havendosido ordenado em 1816. Apesar doseu liberalismo democrático, com-bateu os galicanos. Sustentava ogalicanismo a doutrina segundo aqual a igreja da França, por decla-ração de 1682, punha limitações àautoridade papal. Um ano depois,aos 34 anos de idade, Lamennaisretorna a Paris e é ordenado padre.

Escritor fluente, político e filó-sofo, ele se esforçava para combi-nar a política liberal com o Catoli-cismo Romano, depois da Revolu-ção Francesa. Lamennais publicouem 1817 “Ensaios sobre a indife-rença em matéria de religião con-siderada em suas relações com aordem política e civil”, além deuma tradução da “Imitação de Je-sus Cristo”. O ensaio lhe valeufama imediata. Nele, Lamennais ar-gumentava a respeito da necessida-de da religião, baseando seus ape-

permaneceu ocioso, eis que em “OLivro dos Espíritos”, na pergunta denúmero 1.009, se encontra uma men-sagem de sua lavra, ilustrando a res-posta. Nela revela os traços da suafé, concitando as criaturas a aproxi-mar-se do bom pastor e do Pai Cria-dor, combatendo com vigor a crençanas penas eternas. Na mensagem queassina em “O Evangelho segundo oEspiritismo”, cap. XI, item 15, elese revela o ser compassivo, que con-clama as criaturas a obedecer à vozdo coração, oferecendo, se for neces-sário, a própria pela vida de um mal-feitor.

A questão 1.009 do Livro dosEspíritos é respondida por vários es-píritos, que dissertam sobre atemporariedade das penas futuras.Vamos estudar a resposta dada aKardec por Lamennais. Na questãocitada pergunta Kardec: “Assim, aspenas impostas jamais o são por todaa eternidade?”

R.: “Aplicai-vos, por todos osmeios ao vosso alcance, em comba-ter, em aniquilar a idéia da eternida-de das penas, idéia blasfematória dajustiça e da bondade de Deus, gérmenfecundo da incredulidade, do materi-alismo e da indiferença que invadi-ram as massas humanas, desde queas inteligências começaram a desen-volver-se. O Espírito, prestes a escla-recer-se, ou mesmo apenas desbasta-do, logo lhe apreendeu a monstruosainjustiça. Sua razão a repele e, então,raro é que não englobe no mesmo re-púdio a pena que o revolta e o Deus aquem a atribuís. Daí os males semconta que hão desabado sobre vós eaos quais vimos trazer remédio. Tan-to mais fácil será a tarefa que vosapontamos, quanto é certo que todasas autoridades em quem se apóiam osdefensores de tal crença evitaram to-das pronunciar-se formalmente a res-peito. Nem os concílios nem os Paisda Igreja resolveram essa grave ques-tão. Muito embora, segundo osEvangelistas e tomadas ao pé da letra

as palavras emblemáticas do Cristo,ele tenha ameaçado os culpados comum fogo que se não extingue, com umfogo eterno, absolutamente nada seencontra nas suas palavras capaz deprovar que o haja condenado eterna-mente. Pobres ovelhas desgarradas,aprendei a ver aproximar-se de vós obom Pastor, que, longe de vos banirpara todo o sempre de sua presença,vem pessoalmente ao vosso encontro,para vos reconduzir ao aprisco. Filhospródigos, deixai o vosso voluntárioexílio; encaminhai vossos passos paraa morada paterna. O Pai vos estendeos braços e está sempre pronto a fes-tejar o vosso regresso ao seio da fa-mília.” (LAMENNAIS)

Numa sessão realizada na Socie-dade Espírita de Paris em 19 de ju-lho de 1861, o Espírito de Lamen-nais deu espontaneamente a disser-tação seguinte sobre o aforismo deBuffon: O estilo é o homem, por in-termédio do Sr. A. Didier, médium.Buffon, achando-se atacado, repli-cou, alguns dias depois, por intermé-dio do Sr. de Ambel . Depois, suces-sivamente, o visconde Delaunay(Sra. Delphine de Girardin)

; Bernar-

din de Saint-Pierre e outros manti-veram a discussão. E esta polêmica,tão curiosa quanto instrutiva, que re-produzimos em sua íntegra, não foinem provocada nem premeditada,pois cada Espírito veio espontanea-mente tomar parte nela; Lamennaisabriu a discussão, os outros o segui-ram. Disse então Lamennais, por in-termédio do Sr. A. Didier:

“Há um fenômeno bem estranhono homem, é o que se chamaria o fe-nômeno dos contrastes; antes detudo, falamos das naturezas de elite;eis o fato: Encontrais no mundo Es-píritos cujas obras poderosas contras-tam estranhamente com a vida pri-vada e os hábitos de seus autores. OSr. de Buffon disse: O estilo é o ho-mem; infelizmente, esse grande se-nhor do estilo e da elegância viu de-masiado todos os autores por si mes-

mo. E o que poderia se aplicar aele está longe de ser aplicável a to-dos os outros escritores. Tomamosaqui a palavra estilo no sentidomais amplo e em sua mais largaacepção. O estilo, a nosso ver, seráa maneira grande, a forma maispura pela qual o homem exprime asua idéia. Todo gênio humano está,pois, aqui diante de nós, e, com umgolpe de vista, contemplamos to-das as obras da inteligência huma-na: poesia na arte, na literatura ena ciência. Longe de dizer, comoBuffon: O estilo é o homem, dire-mos, talvez de maneira menos con-cisa, menos formulada, que o ho-mem, pela sua natureza inconstan-te, difusa, contrariada e revoltada,freqüentemente, escreve contraria-mente à sua natureza primeira, àssuas primitivas aspirações, e eu di-ria mesmo mais, às suas crenças. Amiúdo, lendo as obras de mais deum grande gênio de um século oude um outro, nós nos dizemos: Quepureza! Que sensibilidade! Quecrença profunda no progresso! Quegrandeza! Depois se aprende que oautor, longe de ser o autor moral desuas obras, delas não é senão o au-tor material, imbuído de preconcei-tos e de idéias preconcebidas. Há aíum grande fenômeno, não somentehumano, mas espírita. Muito fre-qüentemente, pois, o homem não sereflete em suas obras; diremos tam-bém quantos poetas gastos, embru-tecidos; quantos artistas desiludidossentem, de repente, uma centelha di-vina iluminar, por vezes, a sua inte-ligência! Ah! É que aqui o homemescuta outra coisa do que a si mes-mo; ele escuta o que o profeta Isaíaschamava o pequeno sopro, e que nóschamamos os Espíritos. Sim, sen-tem neles essa voz sagrada, mas es-quecem Deus e sua luz, e a atribu-em a si mesmos; recebem a graçana arte como outros a recebem nafé, e ela toca, algumas vezes, aque-les que pretendem negá-la.”

LEONARDO MARMOMOREIRA

[email protected] São Carlos, SP

Os Erros Metodológicos de Roustaing

O benfeitor espiritual Erastoafirma em “O Livro dos Médiuns”que “É preferível rejeitar dez ver-dades a aceitar uma única mentira”.Tal assertiva denota prudência ecritério para a avaliação de qualquerconteúdo, mais notadamente os quesão de origem mediúnica.

A discussão em torno dos pon-tos controvertidos da obra deRoustaing nos remete não só à ava-liação da diferença de conteúdodoutrinário em relação à obra deKardec mas igualmente à análiseda metodologia empregada para aobtenção das mensagens mediúni-cas que os dois autores utilizaramna compilação dos seus respecti-vos textos, pois, obviamente, osdois tópicos supracitados estão in-trinsecamente relacionados.

A partir da leitura do prefáciode “Os Quatro Evangelhos” (foto)é possível constatar os seguintespontos:

1) Roustaing superestimou acredibilidade dos textos bíblicos.

À semelhança de católicos eprotestantes, Roustaing consideroua Bíblia “a palavra de Deus” e ten-tou explicar absolutamente tudo,sem se dar conta de que muito doque está escrito pode não ter acon-tecido exatamente da maneiracomo está narrado nos textos bí-blicos. Roustaing consciente ou in-conscientemente elaborou uma es-pécie de Reforma, semelhante àReforma protestante. Assim, a par-tir da superestimação da Bíblia, asua fusão desta com os seus limi-tados conhecimentos espíritas se-ria uma temeridade.

Reparem que, ao contrário da

codificação kardequiana que nascecomo ciência, a proposta roustain-guista já nasce como religião, poisse trata de uma nova interpretaçãoda Bíblia a partir da velha tese da in-falibilidade dos seus textos. Tantoisso é verdade que a própria estrutu-ração da obra “Os Quatro Evange-lhos” é baseada nessa submissão aostextos bíblicos. Se a obra em ques-tão foi realmente orientada pelosquatro evangelistas, assistidos pelosapóstolos, que foram as principais emais preparadas testemunhas ocula-res dos fatos evangélicos, por que osapóstolos não contaram o que de fatoaconteceu diretamente, ao invés dese basearem literalmente no que so-breviveu de registro na Bíblia e que,obviamente, sofreu com quase doismilênios de interpolações, adultera-ções, traduções grosseiras e outrosproblemas?!

Kardec, ao contrário, parte daanálise do fenômeno mediúnico emum estudo criterioso sem nenhumaidéia preconcebida e, em princípio,não utilizando de maneira nenhumaa Bíblia como referencial. Aplican-do o método experimental, atravésde análise qualitativo-quantitativa,por meio de vários médiuns previa-mente selecionados, busca a chama-da “universalidade do ensino dosEspíritos”, submetendo todos osautores espirituais ao mais críticointerrogatório e aplicando a maisrigorosa lógica na avaliação do con-teúdo das mensagens.

Portanto, a codificação nascecomo ciência, para gerar um corpofilosófico como conseqüência da ver-dade irrefutável da imortalidade daalma e da comunicabilidade dos Es-píritos. E, finalmente, a filosofia es-pírita repercute nas inevitáveis con-seqüências morais, que constituem oaspecto religioso do Espiritismo.Kardec jamais superestimou os tex-tos evangélicos, o que é explícito tanto

em “O Evangelho segundo o Espiri-tismo” como em “A Gênese”. É poressa necessidade de nascimento comociência e, subseqüentemente, comofilosofia antes de se aprofundar o seuaspecto religioso, nesse maravilhosotríplice aspecto, que o primeiro e prin-cipal livro espírita é a obra “O Livrodos Espíritos” e o segundo livro pu-blicado, considerado por Kardeccomo a continuação do primeiro, é “OLivro dos Médiuns”. De fato, ao apli-car os princípios espíritas na elucida-ção dos pontos principais do Evan-gelho, toda a estrutura doutrinária jáestava extremamente sólida, indepen-dentemente das inumeráveis contro-vérsias geradas pelas diferentes inter-pretações bíblicas. Portanto, o Espi-ritismo não é uma reforma, como areforma Luterana, porque não nascecomo uma releitura da Bíblia, mascomo ciência através do estudo damediunidade.

2) Roustaing “decidiu” que eranecessária uma nova revelação.

A partir da excessiva valorizaçãodos textos evangélicos, Roustaingdiz “...senti a impotência da razãohumana para penetrar as trevas daletra e, desde então, a necessidade deuma revelação nova, de uma revela-ção da revelação”. Note que, a partirde uma premissa equivocada, o pró-prio Roustaing decidiu que era ne-cessária uma nova revelação, porque,segundo ele mesmo explica no pre-fácio de sua obra, a codificação ex-plicava muito bem os aspectos mo-rais e doutrinários da Bíblia, mas, emsua opinião, não explicava a figurade Jesus. Ora, decidir sobre a neces-sidade de uma nova revelação nãoera tarefa para ele, e nem para ne-nhum de nós, mas sim trabalho daProvidência Divina. Roustaing po-deria elaborar o seu trabalho mas daía defini-lo, aprioristicamente, comoa “revelação da revelação” foi um

exagero. De fato, essa expressão “re-velação da revelação” é repetidaexaustivamente tanto no prefáciocomo na introdução e é quase sem-pre acompanhada pela expressão “re-velação nova”, em um esforço evi-dente para situar a obra realmentecomo uma revelação divina. Comefeito, na folha de rosto de “Os Qua-tro Evangelhos” Roustaing definesua obra como sendo “Revelação daRevelação” ou “Espiritismo Cris-tão”, o que poderia sugerir que “hávários tipos de espiritismo” ou, atémesmo, que a Codificação não seriauma obra cristã. Se Roustaing pre-tendia que sua obra fosse considera-da espírita, tendo mesmo enviadouma cópia para a análise de Kardec,conforme registrado na Revista Es-pírita, essa definição poderia ser con-siderada uma invigilância do advo-gado de Bordeaux.

A título de ilustração vale lem-brar que da primeira revelação, per-sonificada em Moisés, até a segun-da, personificada em Jesus, foramaproximadamente 2 milênios e deJesus até a codificação mais 18 sé-culos. Desta forma, seria muito es-tranho uma suposta quarta revela-ção começar a ser elaborada conco-mitantemente com a terceira reve-lação, já que a codificação do Espi-ritismo só seria concluída em 1868com a publicação de “A Gênese”,bem depois, portanto, do trabalhode Roustaing, que iniciou a confec-ção de sua obra em 1861 parapublicá-la em 1866. Na mensagemintitulada “Meu Sucessor”, em“Obras Póstumas” Kardec indagasobre o continuador da obra, emfunção de já se apresentar com asaúde comprometida, e os Espíritosrespondem que não era o momentode que o sucessor aparecesse, poisera necessário que a Codificação fi-casse acentuadamente centralizadanas mãos dele, Kardec, para que a

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obra básica tivessealta homogeneidade.Segundo o professorJ. Herculano Pires, osucessor em questãose trata de LéonDenis, que ainda eramuito moço nessaépoca. Portanto, ne-nhuma menção aRoustaing ou a qual-quer outro trabalhoconcomitante àcodificação, o que ébastante sugestivopara uma obra que se intitula a “re-velação da revelação”.

3) A Igreja Católica nas análisesdas obras de Roustaing e Kardec.

No terceiro tomo da obra “OsQuatro Evangelhos” (p.65) os au-tores ensinam que o futuro espiri-tual da humanidade estará focaliza-do na Igreja Católica e no Papa. Elesafirmam o seguinte: “O chefe daIgreja católica, nessa época em queeste qualificativo terá a sua verda-deira significação, pois que ela es-tará em via de tornar-se universal,como sendo a Igreja do Cristo, ochefe da Igreja católica, dizemos,será um dos principais pilares doedifício. Quando o virdes, cheio dehumildade, cingido de uma corda etrazendo na mão o cajado do via-jante...”. Esse comentário estranhís-simo, para dizer o mínimo, entraclaramente em choque com a opi-nião dos Espíritos que orientavamAllan Kardec.

Para citar apenas uma única fon-te, basta ler as mensagensregistradas em “Obras Póstumas”intituladas “Futuro do Espiritismo”e “A Igreja”. Na primeira o autorespiritual assevera “...cabe-nos re-tificar os erros da história e apurara religião do Cristo, transformada,nas mãos dos padres, em comércio

e em vil tráfico. Insti-tuirá (o Espiritismo) averdadeira religião, areligião natural, a queparte do coração e vaidiretamente a Deus,sem dependência dasobras da sotaina oudos degraus do altar”.

Na segunda men-sagem citada é comen-tado que “Chegou ahora em que a Igrejadeve prestar contas dodepósito que lhe foi

confiado; do modo como praticou osensinos do Cristo, do uso que fez dasua autoridade, da incredulidade, en-fim, a que arrastou os homens”. Emais à frente o autor é ainda mais in-cisivo quanto ao futuro da Igreja es-tabelecendo que “Deus a julgou e re-conheceu-a imprópria, de hoje em di-ante, para a missão do progresso, queincumbe a toda autoridade espiritu-al”. Ainda sobre a Igreja Católica e ofuturo da humanidade o Espírito d´ Eafirma que a Igreja “acha-se nesta al-ternativa: ou se transforma e suicida-se, ou fica estacionária e sucumbeesmagada pelo carro do progresso”.Como se não bastasse, o autor aindaé mais peremptório asseverando que“a doutrina espírita é chamada a ferirde morte o papado...” e conclui seuartigo com a seguinte frase “A Igrejaatira-se, por si mesma, ao precipício”.

Essa gigantesca incoerência faz-nos questionar o motivo que levariao mundo espiritual superior a enviarà Crosta uma terceira e uma quartarevelações se o futuro espiritual daTerra seria guiado pela representan-te do seu passado, que é a Igreja, coma sua trajetória dominadora,ritualística, inquisidora e obscuran-tista. Para que Espiritismo como ter-ceira revelação se a Doutrina Espíri-ta discrepa profundamente da IgrejaCatólica em inumeráveis pontos?

Por outro lado, as perguntasmais simples e objetivas que surgemsão as seguintes: Espíritos de mes-ma intenção e evolução (suposta-mente evolvidos intelecto e moral-mente) poderiam ensinar conceitostão discordantes um do outro?! ERoustaing não teria avaliado criti-camente o conteúdo da mensageme suspeitado dessa informação?!

4) Ao contrário de Kardec, Rous-taing utiliza uma única médium.

Roustaing se isolou com a mé-dium Émilie Collignon, evitando ointercâmbio com trabalhadores maisexperientes que poderiam elaborarcríticas aos textos e indagações maisexigentes e contundentes aos Espí-ritos orientadores da obra. Roustaingafirma “Mero instrumento, cumprium dever executando tal ordem, en-tregando à publicidade esta obra...”.Roustaing se mostra muito submis-so e passivo em relação aos Espíri-tos que orientam a obra, o que podeser facilmente constatado em váriaspassagens do prefácio da sua obra.Aparentemente, Roustaing não eli-minou nenhum texto, o que explica-ria a grande extensão de sua obra demais de 2.000 páginas em um prazorelativamente curto para um traba-lho efetuado com uma única mé-dium. Essa atitude é bem diferenteda postura altamente crítica doCodificador. Vale lembrar que mé-diuns psicógrafos de conhecidacredibilidade como Chico Xavier,Divaldo Franco e Raul Teixeira afir-mam que “queimaram malas de men-sagens” no início de suas tarefas, poiseram apenas exercícios mediúnicos,sem qualidade suficiente para publi-car. O próprio Allan Kardec, regis-tra mensagens que ele considerounão condizentes com as assinaturas,mostrando que até mesmo ele esta-va sujeito às chamadas mistificações.O ponto-chave é que ele identificou

essas mensagens como oriundas deEspíritos mistificadores e ainda asaproveitou como recurso didático.

5) Roustaing não avaliou apotencialidade mediúnica e o con-teúdo moral de Mme. Collignon.

Roustaing assevera no prefáciode sua obra: “O trabalho ia ser feitopor dois entes que, oito dias atrás,não se conheciam”. Está evidenteque Roustaing não avaliou o nívelmoral de Émilie Collignon e nemsua capacidade mediúnica, pois nãoa conhecia e em um intervalo de 8dias começou a obra sem um maiorplanejamento ou avaliação da via-bilidade e dos perigos da empreita-da. O critério da avaliação moral domédium é fundamental pois pelasintonia o médium convive predo-minantemente com os Espíritos quecorrespondem à sua elevação espi-ritual. Emmanuel, em sua obra “Ro-teiro”, é categórico, estabelecendoque “não existe bom médium semhomem bom”. Todo dirigente dereuniões mediúnicas conhece mini-mamente a complexidade do fenô-meno mediúnico e os riscos que pro-cedimento semelhante à atitude deRoustaing pode acarretar.

6) Roustaing evocou somenteApóstolos e o Precursor João Ba-tista.

A assertiva conhecida no meioespírita de que “o telefone toca delá para cá” não foi respeitada porRoustaing. Vale consultar a contun-dente desaprovação do procedimen-to de evocação nominal direta,enunciada pelo benfeitor Emmanu-el na Questão 369 da obra “OConsolador”. Realmente, há riscosóbvios de Espíritos embusteirosusarem nomes de grandes Espíritospara se fazerem mais respeitáveis eaceitos. Por outro lado, quanto maisevoluído é o Espírito, maior núme-

Fac-símile de “Os QuatroEvangelhos”, de Roustaing

ro de grandes responsabilidades eletem no mundo espiritual, que aca-bam limitando sua capacidade deatender pessoalmente a todas asevocações, principalmente aquelasoriundas de pessoas pouco morali-zadas e responsáveis.

7) São João Evangelista seria co-autor tanto da obra de Kardeccomo da obra de Roustaing?!

São João Evangelista é co-autorda codificação, sendo citado atémesmo nos Prolegômenos de “OLivro dos Espíritos”. Entretanto,supostamente, ele também seria co-autor da obra “Os Quatro Evange-lhos” tanto pela sua condição deEvangelista como também pela suacondição de Apóstolo, tendo sido,inclusive, um dos mais participati-vos e próximos a Jesus em todo oEvangelho. Assim sendo, como éque as obras em questão teriam pon-tos tão divergentes como, por exem-plo, a questão da reencarnação, quepara a Codificação é necessidade epara “Os Quatro Evangelhos” é cas-tigo e o problema da metempsicose,rejeitada peremptoriamente pelaCodificação e admitida pela obra deRoustaing? Essa questão da identi-dade dos autores merece ser anali-sada com cuidado pois as obras emquestão não tratam de opiniões pes-soais de Espíritos mas de Leis Uni-versais e, ademais, sendo os auto-res, em princípio, da mais elevadaevolução, eles não poderiam diver-gir tão intensamente em pontos ca-pitais dos ensinos. São JoãoEvangelista não poderia ensinaralgo em um lugar e outra coisa emoutro, a não ser que em um desseslugares não fosse ele, mas alguémque se fizesse passar por ele, utili-zando seu nome, algo bem comumem mediunidade, quando os cuida-dos fundamentais para a prática se-gura de tal intercâmbio não são con-

siderados. Admitindo-se tal possi-bilidade, a credibilidade das infor-mações contidas na obra em ques-tão estaria comprometida.

Em suma, Roustaing demons-trou desconhecer as problemáticasda mediunidade, o que é facilmen-te explicável haja vista a pressa queele demonstrou no estudo préviodas obras de Allan Kardec. O pró-prio Roustaing afirma no prefáciode “Os Quatro Evangelhos” que leu“O Livro dos Espíritos”, “O Livrodos Médiuns” e um número enor-me de obras sobre questõescorrelatas ao Espiritismo a partir dejaneiro de 1861, o mesmo ano queele começou a elaboração de “OsQuatro Evangelhos”. Antes disso,ele nem sabia que é possível a co-municação com os Espíritos. Cer-tamente, essas leituras foram super-ficiais, tendo-se em vista a profun-didade do conteúdo das mesmas eo número de obras lidas em um in-tervalo de tempo reduzidíssimo.Ademais, ler é uma coisa, ao passoque estudar e assimilar é outra com-pletamente diferente, principal-mente em se tratando de um assun-to com tamanhas nuanças e proble-mas como é a mediunidade.

Desta forma, entende-se porque Allan Kardec considerou aobra “Os Quatro Evangelhos” ape-nas como opinião pessoal dos seusautores espirituais não podendo serconsiderada como parte integran-te da Doutrina Espírita, conformeexarado na Revista Espírita. Afi-nal, a priori, “é preferível rejeitardez verdades a aceitar uma únicamentira”. “Na dúvida, abstém-te”,nos ensina “O Evangelho segun-do Espiritismo” e a obra de Rous-taing apresenta várias dúvidas, in-coerências e especulações semcomprovações científicas que nãoestão em coerência com o pensa-mento kardequiano.

O IMORTALPÁGINA 10 NOVEMBRO/2006

Sobre a evolução das religiões, ou como Kardec chegou ao Espiritismo(10ª Parte)

AIGLON [email protected]

De Londrina

Plotino e o Neoplatonismo -Durante o segundo e terceiro sécu-los, enquanto os pais (padres) doCristianismo se esforçavam para pôra casa em ordem, entre gnósticos,ortodoxos, e seitas paralelas, comoos maniqueístas, continuavam atu-ando os remanescentes filósofos daescola grega, e havia muitos pontosem que esses esforços se tocavam.

Esses filósofos foram chamadosde Neoplatônicos, por seguirem osensinamentos da escola fundada porPlatão, quinhentos anos antes. Oexpoente máximo dessa escola foiPlotino.

Plotino (205-270) foi discípulode Amônio Sacca e mestre dePorfírio, o qual nos transmitiu o quedele sabemos; seis livros de novecapítulos cada (Enéadas).

Nascido no Egito, participou daexpedição contra os persas, lideradapelo imperador Gordiano, onde pos-sivelmente tomou contato com a Fi-losofia Persa e Indiana. Regressan-do da expedição aos 40 anos, esta-belece-se em Roma e desenvolve alisuas doutrinas junto a um círculo deamigos sem ter propriamente funda-do uma escola; morre em 270.

Nos ensinamentos de Plotino,Deus é absolutamente transcenden-te, superior a todo pensamento, atodo ser. Opõe-se a Fílon deAlexandria, outro Neoplatônico,que identifica Deus com o ser. Afir-ma que este está “para lá do ser”,tendo como melhor nome Uno, cau-sa simples e única de todas as coi-sas (Kardec?). Ao adotar a noçãoaristotélica de Deus, como pensa-mento do pensamento, o Deusplotiniano permanece imóvel; oUno propaga-se sem sair de si mes-mo, num processo comumente de-nominado emanação. A primeiraemanação é o espírito nous ondetoda multiplicidade está contidaindivisivelmente. Do espírito proce-de a segunda emanação, a Alma domundo, sendo esta a ligação entre o

mundo inteligível e o mundo dossentidos. Deus, o Uno, o Espírito ea Alma do mundo constituem omundo inteligível.

Já a matéria é concebida porPlotino negativamente, como priva-ção da realidade e do Bem, pura obs-curidade, o não-ser e o mal que co-meçam onde termina a luz; a maté-ria está no extremo inferior da esca-la onde está o Uno, porém, graças aoêxtase, a alma se pode desprender damatéria, superar os pecados que a fi-zeram individual, e voltar a integraro todo, o Uno, ou como disse Jesus,“voltar ao seio do Pai”.

Na doutrina de Plotino, a tarefada Filosofia é direcionar a atençãodo inferior ao superior, mediante oascetismo e o conhecimento deDeus.

Porfírio, Jâmblico e Procloscontinuaram a obra de Plotino até ofim do quinto século, e durante esseperíodo se lhe incorporaram outroselementos especificamente religio-sos, como uma teoria de anjos, al-gumas práticas rituais ligadas àmagia, e seguindo ao mestre, Platão,uma ciência da reencarnação.

O Neoplatonismo e sua influ-ência - Existem semelhanças entrePlotino e Orígenes, de que falare-mos a seguir: a idéia do ser e da almase parece à da alma e do espírito.

O Neoplatonismo teve sobre oCristianismo nascente mais influên-cia no Oriente que no Ocidente.Serviu consideravelmente aos bis-pos Gregório de Nicéia, Gregório deNicósia e a São João Crisóstomo,para provar demonstrações em suashomilias.

Hoje sabemos que as idéias dePlotino foram transmitidas ao Cris-tianismo posterior, graças à influên-cia de Proclos, ao expor os escritosde Dionísio, o Areopagita, escritosque datam do fim dos anos 400, iní-cio dos anos 500, e atribuídos a pa-lavras transmitidas por um atenienseconvertido que teria sido compa-nheiro de Paulo de Tarso.

Admite-se que o verdadeiro fun-dador do misticismo cristão tenha

sido Dionísio, O Areopagita; suaidéia do êxtase, que une a criaturaao criador, é essencialmente a mes-ma idéia plotiniana da união da almacom o Uno.

Reservemo-nos, todavia, de verno plotinismo um dualismognóstico. O próprio Plotino escre-veu uma tratado contra as seitasgnósticas. Para ele, não existe ummundo do mal, rival do mundo dobem. O mal, para Plotino, nada temde uma substância positiva: “O malnão é senão o apequenamento dasabedoria e uma diminuição pro-gressiva e contínua do bem”. A almaque dizem prisioneira do mal é ape-nas uma alma que se ignora, é, comodiz Plotino, uma luz mergulhada nabruma. O mal não é uma substânciaoriginal, é só o procurado pelo re-flexo do bem que fracamente aindabrilha nele. Nesse sentido, livrar-sedo mal, para Plotino, não é, comopara os gnósticos, destruir um uni-verso para dar nascimento a outro,mas antes encontrar a si mesmo emsua verdade. Não esqueçamos queé a leitura de Plotino que, um dia,arrancará o jovem Agostinho desuas crenças dualistas abeberadas nomaniqueísmo.

Essa filosofia, no entanto, não éabsolutamente nova. Já no Timeu dePlatão está colocada a questão deuma gênese do mundo; por outrolado, a conversão plotiniana lembraa dialética ascendente de Platão. Emambos os métodos de purificação, aidéia do Belo desempenha impor-tante papel. Todavia, a obra dePlotino possui uma tônica de misti-cismo que é nova; sente-se aí, comoaté então não se sentira ainda, o de-sejo e o esforço de uma alma quequer se encontrar e ao mesmo tem-po se perder no Uno universal e ine-fável. Esse arrebatamento da alma,esse êxtase foi que impressionouvários filósofos ao ler as Enéadas,onde Plotino expôs toda a sua dou-trinas, o que explica o fato de mui-tos deles o terem colocado acima detodos os filósofos. (A seguir:Orígenes, um dos causadores dasorigens da heresia católica.)

Ser criança

O quão criança você é, ainda,às vezes? O quanto se permitefazê-lo? Descobre-se, encanta-se,sonha e vive? Por que não? Envol-to em tantas preocupações e res-ponsabilidades, sitiados ante osdeveres do dia-a-dia, angustiadospor atender os compromissosinadiáveis, nem sempre temostempo e chance de sermos crian-ças...

Criança é quem ri de si mes-mo, quando percebe que não sabefazer ou comete pequenos equívo-cos. Cantarola sua canção preferi-da, na rua, no ponto de ônibus, ou,até mesmo, mais reservadamente,no chuveiro, mesmo sabendo quealguém pode ouvir...

Que senta no chão com seu fi-lho, e age como um menino quese deslumbra com um brinquedonovo, sem pressa, parecendo queaquele instante não irá acabar...

Que se apaixona por seus so-nhos, tal qual fez um dia, tendocomo fonte de desejo a professoraou a prima mais velha, que nem sedavam conta que você existia. Por-que, o importante, naqueles tem-pos, era ficar perto dela um pou-co, tal qual fazemos, hoje, em re-lação ao que gostaríamos fosseverdade.

Que se imagina capaz de resol-ver os problemas cotidianos, aque-les que ficam em nossa mente atéa hora de dormir, do mesmo modoque nos víamos como super-he-róis, mocinhos ou bandidos,indestrutíveis e poderosos, nasbrincadeiras e fantasias.

Que, hoje, toma banho de chu-va, por descuido, em razão de teresquecido o guarda-chuva, masnão se zanga, por lembrar que, nainfância, mesmo com a bronca dos

pais, dava um jeitinho de tomarchuva pra se refrescar...

Que procura amigos sincerosentre os circunstantes, e, às vezes,só tem colegas ou conhecidos, por-que se descobre fechado em simesmo, com medo de tudo e detodos, quando, em tempos infan-tis, era tão fácil fazer (e manter)amigos...

Que precisa de proteção, desegurança, mas age timidamente,com medo da reação dos outros,que o esperam e consideram fortee capaz, quando a vontade era ter,de novo, o colo e o ombro de pai emãe para consolá-lo...

Que acorda tarde, perde a hora,e se enfurece ao não poder aten-der o compromisso, mas logo es-quece, pois sabe que haverá outrasmanhãs, e outras chances, tal qualno tempo em que descobria que aderrota no futebol ou a nota baixaseriam recuperadas, logo à frente.

Ou, que sente a presença dosbons amigos espirituais, nas horasde desespero ou necessidade, domesmo modo em que conversavacom seres imateriais, que lhe pa-reciam reais, embora ninguém –além de você – os visse.

Continuamos sendo crianças,em Espírito, porque ainda tão pou-co sabemos das verdadeiras Leis daVida, o que não nos impede, toda-via, de caminhar e experimentar. E,a cada descoberta ou ventura, talqual a criança que se maravilhavacom o desconhecido e o sobrena-tural - porque tudo, naquele tem-po, era superior à sua natureza in-fante –, nos sentimos, hoje, bem esatisfeitos, somente por viver, o quejá nos basta. Deixamos, então, deser pessimistas ou excessivamentecautelosos. A vida, assim, volta ater tons multicores, sons harmoni-osos e traços mágicos.

Deixemos, então, que nossolado criança fale por si mesmo...

MARCELO HENRIQUEPEREIRA

De São José, SC

O IMORTALNOVEMBRO/2006 PÁGINA 11

Palestras, seminários e outros eventosPalestras no Centro

Espírita Allan KardecA programação de palestras a

serem realizadas neste mês emCambé, no Centro Espírita AllanKardec, situado na rua Pará, 292,terá a participação dos seguintespalestrantes:Dia 1o - Carlos Augusto São José,de CuritibaDia 8 - Paulo Henrique MarquesMorais, de LondrinaDia 15 - Hugo Gonçalves, de Cam-béDia 22 - Paulo Costa, de LondrinaDia 29 – Alderico Natal Sposti, deLondrina.

As palestras se iniciarão sem-pre às 20h30.

Ciclo Mensal dePalestras em Londrina

O Ciclo Mensal de Palestrasorganizado pela USEL – União dasSociedades Espíritas de Londrinapara este mês inicia-se no dia 3, noCentro Espírita Nosso Lar, às 20h, com palestra de Osny Galvãosobre o tema “Base para a Educa-ção dos Sentimentos”.

Eis as demais palestras de no-vembro: dia 4, às 20h - CentroEspírita Amor e Caridade. Pales-trante: Maria Cândida. Tema: “Per-dão”; dia 5, às 9h15 – Centro Es-pírita Meimei. Palestrante: Naude-mar Nascimento. Tema: “As Influ-ências Espirituais”; dia 5, às 17h -Núcleo Espírita Hugo Gonçalves.Palestrante: José Antônio Vieira dePaula; dia 6, às 20h - Centro Espí-rita Nosso Lar. Palestrante: PedroWanderley. Tema: “Sim, Sim; Não,Não”; dia 10, às 20h - Centro Es-pírita Aprendizes do Evangelho.Palestrante: Pedro Wanderley.Tema: “Sim, sim; não, não”; dia13, às 20h - Sociedade de Divul-gação Espírita Maria Nazaré. Pa-lestrante: Ilza Maria Lima Braga.Tema: “Mãos limpas”; dia 16, às19h50 - Centro de Estudos Espiri-tuais Vinha de Luz. Palestrante:Edevaldo Leandro Rodrigues.Tema: “O verdadeiro amor”; dia

17, às 20h - Centro Espírita Cami-nho de Damasco. Palestrante: JaneMartins Vilela. Tema: “Humilda-de”; dia 18, às 16h30 - NúcleoEspírita Benedita Fernandes. Pa-lestrante: Paulo Fernando. Tema:“Os Dez Mandamentos nos diasatuais”; dia 19, às 9h30 - CentroEspírita Anita Borela. Palestrante:Alderico Natal Sposti. Tema:“Amor ao próximo: questão de in-teligência”; dia 21, às 20h - Cen-tro Espírita Allan Kardec. Pales-trante: Alceu Augusto de Moraes.Tema: “A Bíblia na visão espíri-ta”; dia 26, às 9h - Comunhão Es-pírita Cristã de Londrina. Pales-trante: Renato Panho. Tema: “Nãojulgar”; dia 27, às 20h - CentroEspírita Bom Samaritano. Pales-trante: Wantuil Santana. Tema:“João Evangelista”.

Assistência espiritualno Hospital do Câncer

Iniciam-se no dia 3 deste mês,sexta-feira, na sala 417 do Hospi-tal do Câncer de Londrina, as ati-vidades do Grupo Esperança, vol-tado para a doutrinação e a assis-tência espiritual aos desencarnadose aos internos daquele estabeleci-mento. Vinculado ao Núcleo deEstudos Espíritas Yvonne A. Perei-ra, da Comunhão Espírita Cristã deLondrina, o Grupo será dirigidoinicialmente por nosso companhei-ro Astolfo Olegário de OliveiraFilho e integrado por trabalhado-res da Comunhão Espírita e doNosso Lar.

Reunião da Inter-RegionalNorte em Jacarezinho

Como foi divulgado, realizou-se no dia 8 de outubro, na Facul-dade de Filosofia de Jacarezinho-PR mais um encontro organizadopela Inter-Regional Norte, que éformada pelas Uniões RegionaisEspíritas da 4a, 5a e 6a Regiões. Oevento teve a participação da con-freira Maria Helena Marcon, atualpresidente da Federação Espíritado Paraná, a quem coube a pales-tra de abertura (foto).

16o Mês Espírita de RolândiaOrganizado pela União das So-

ciedades Espíritas de Rolândia(USER), realiza-se em novembroo 16o Mês Espírita de Rolândia, ,com palestras aos sábados, cominício às 20 horas, observada a se-guinte programação:Dia 4 - Paulo Roberto Costa, deLondrina.Local: Movimento AssistencialEspírita – MÃE - Rua Dep. Wal-demiro Pedroso, 93 – Centro.Dia 11 - Dr. Júpiter Villoz daSilveira, de Londrina.

Eleitos os novosdirigentes da 5a URE

Reuniu-se no dia 29 de outu-bro no Centro Espírita Allan Kar-dec, em Cambé, sob a presidên-cia de José Miguel Silveira, oConselho Regional Espírita daUnião Regional Espírita da 5ªRegião, quando se elegeu o Gru-po Gestor da 5a URE para obiênio 2007/2008, que ficou as-sim constituído: presidente, Cláu-dia Cecília Camacho Rojas; 1o

vice-presidente, Gilson Luiz Ri-beiro; 2o vice-presidente, RosanaVoigt Silveira. Os novos dirigen-tes da entidade foram empossa-dos em seguida. José VirgílioGoes, coordenador do Departa-mento de Apoio às UREs, órgãoda Federação Espírita do Paraná,participou do encontro, ocasiãoem que falou sobre o panoramaatual do movimento espírita emnosso Estado (foto).

USEL escolhe seus novosdirigentes no dia 19

Com o término do mandatodos atuais dirigentes da USEL -União das Sociedades Espíritasde Londrina, realiza-se no dia 19deste mês a eleição que definiráquem dirigirá a entidade pelospróximos dois anos. Até o mo-mento de fechamento desta edi-ção não estavam definidos o lo-cal e o horário da eleição. Comose sabe, compete à USEL a or-ganização e realização da Sema-na Espírita de Londrina, que serealiza anualmente no mês dejulho.

Local: Centro Espírita Emmanu-el - Rua Rubi, 54 – Vila Oliveira.Dia 18 – Rosineide Belo, de Ara-pongas.Local: Casa Espírita União - RuaAlfredo Moreira Filho, 352.Dia 25 – Astolfo Olegário de Oli-veira Filho, de Londrina.Local: Sociedade Espírita Mariade Nazaré - SEMANA - RuaMaria de Nazaré, 200 – J. Pla-nalto.

Círculo de Leitura“Anita Borela de Oliveira”

Em novembro realizam-semais duas reuniões do Círculo deLeitura “Anita Borela de Olivei-ra”. No dia 5, na residência deNeusa e Antônio Carlos Couti-nho, será concluído o estudo dolivro “Calvário de Libertação”,de Victor Hugo, psicografado porDivaldo P. Franco. No dia 19, nacasa de Terezinha Demartino,terá continuidade o estudo da“Revista Espírita de 1869”, deKardec.

No dia 6 do mês passado a fa-mília e os amigos de Hugo Gonçal-ves (foto) prestaram-lhe significati-va homenagem pela passagem doseu 93o aniversário, com magníficojantar realizado nas dependências daLoja Maçônica Regeneração 3a, emLondrina, ao qual comparecerammais de 200 pessoas.

Reuniram-se ali amigos e fami-liares de Cambé, Londrina, Matãoe Ribeirão Preto. O Prefeito deCambé, Sr. Adelino Margonar, esua esposa Neusa também estive-ram presentes. Pedro Garcia, quedirigiu a cerimônia, levou um gru-po vocálico para animação da fes-ta, que vem se repetindo anualmen-te, emocionando a todos que delaparticipam.

Parabéns ao nosso diretor e

Jantar festeja os 93 anosde Hugo Gonçalves

amigo pela data e obrigado pelacontinuidade de sua presença en-tre nós que tanto lhe devemos. (DoCorrespondente em Londrina.)

José Virgílio Goes (centro) tambémprestigiou a eleição de Cláudia

Camacho Rojas, que sucede a JoséMiguel Silveira (à esq.) na presidência

Hugo Gonçalves em plena forma aos 93anos de idade, completados no mês passado

Os participantes da reunião da Inter-Regional Norte realizada no mês passado

em Jacarezinho

O IMORTALPÁGINA 12 NOVEMBRO/2006

ELSA [email protected]

De Londres

� Lisboa velha cidade...� Terra de encanto e beleza...E assim a tuna dos alunos da

Faculdade de Medicina de Lisboa,com seus instrumentos musicais,suas doces vozes em cantos de luz,iniciou a solenidade de aberturadas 1as Jornadas Portuguesas deMedicina e Espiritualidade, nodia 14 de outubro de 2006, em Lis-boa.

Vez ou outra se ouvia: “Oh..que pena! Mas não podemos maisaceitar inscrições, estamoslotados”. Lotação plena no even-to!

Eram 750 pessoas sentadas noteatro da Faculdade de MedicinaDentária da Universidade de Lis-boa. As instalações ultramodernaspossibilitaram que o evento trans-corresse em harmonia, tudo funci-onando perfeitamente. Era umaalegria geral. Os temas encadeadosprendiam-nos no assento, pois nãoqueríamos perder um só minuto detudo o que estava sendo apresen-tado. As horas passavam tão rápi-das e nos intervalos eram reencon-tros de alegrias. Amigos de Áus-tria, Bélgica, Itália, Espanha, Bra-sil, do Reino Unido e mesmo dealguns recantos de nosso Portugalse reencontravam. Naquele sába-do, os abraços eram energias per-mutadas com amor e fraternidade.

Em dado momento passei aobservar as faces das pessoas.Eram sorrisos, rostos simpáticos,felizes... Era a alegria no ar. Sen-tia-se algo especial por todo o re-cinto... mas o quê? Eu mesma es-tava inflada de felicidade, umaenergia brilhante dentro de mim.Depois fui entender o porquê!

De retorno do primeiro inter-valo, resolvi tirar fotografias para

que aqueles momentos ficassemeternos e que pudéssemos rever asfotografias e reviver os instantesmais emocionantes. Algumas fo-tos, pude constatar mais tarde,eram nítidas as presenças dos Es-píritos em círculos de luzes, emvárias partes do teatro.

Após tirar algumas fotos, paradepois usá-las para divulgação,sentei-me e ouvi nitidamente umavoz espiritual dando-me uma ori-entação, que segui imediatamen-te. Não fosse somente isso, tam-bém recebi um abraço espiritual,que me levantou (em espírito) dapoltrona em que estava sentada aolado de amigos e me deixou no arpor alguns segundos, e pude ver oteatro como um todo, repleto daspessoas, nem um assento sequerdesocupado, salvo os assentos dasprimeiras fileiras, em que haviaalgumas cadeiras reservadas paraos palestrantes e organizadores quedesceriam do palco. Vislumbreipor segundos a amplidão do teatroonde não havia paredes e uma pla-téia, superior à que lá estava en-carnada, também se fazia presen-te, uns protegendo o ambiente eoutros Espíritos na condição deaprendizes do conhecimento datratativa da medicina espírita. Foientão que lembrei dos sorrisos detodos, a paz do ambiente, ao ver oplano de proteção que ali se fazia.

Bem, seguindo a orientaçãoespiritual, fomos conversar comuma das coordenadoras, a simpá-tica tarefeira Rosário, do GrupoEspírita Batuíra, anfitrião doevento. Imediatamente ela con-cordou e nos intervalos seguin-tes já se fazia a divulgação do 1o

Congresso Médico-EspíritaBritânico para 2006, no telão doTeatro (www.spiritismuk.org ewww.medspiritcongress.org ).

Seguidamente recebemos outrasorientações espirituais, mas temos

certeza de que outros tiveram, por-que o que se passou ali só pode tersido uma cachoeira de inspiração damesma fonte de luz, dada a sintoniaque temos com a espiritualidade quecuida da AME-Internacional quemora em nosso coração.

Uma amiga muito humilde esilenciosa que estava conoscocomprovava-me o que se passavaem alguns momentos, em nívelespiritual, lá no palco, e eu foto-grafei, e que alegria, porque real-mente, ao lado da incansável ami-ga palestrante e coordenadora degrandes eventos médicos espíritas,Dra. Marlene Nobre, esteve sem-pre ao seu lado uma bola de luz,mesmo quando sentada no meio dopalco, na abertura do evento. Te-nho as fotos para quem desejar ver.

Seguiram-se as apresentaçõesdas palestras dos médicos Dr. Ro-berto Lúcio – vice-presidente daAME-Brasil, Dr. Gilson L Rober-to - presidente da AME-RS, Dr.Décio Iandoli - AME-Santos, Dr.Júlio Peres, Dra. Eliane Oliveira,Dra. Anabela Cardoso, e Dr. Fran-cisco R. da Silva presidente daAME-Portugal e Dra. MarleneNobre - presidente da AME-Bra-sil e AME-Internacional.

Durante a tarde de domingo,percebemos que Dr. Roberto Lú-cio estava psicografando na mesajunto aos demais médicos. Ao seulado, Dr. Décio e Dr. Gilson, queem algumas vezes percebíamosconcentrados, dando apoio ao tra-balho de Dr. Roberto. Mais tarde,Dra. Marlene leu as psicografiasrecebidas emocionando a todos,quando após a bela leitura, assina-da por Isabel, a Rainha das Rosas,e a outra mensagem dirigida a to-dos, assinada por nosso queridoChico Xavier, era como se ele,nosso querido Chico, ali estivessepresente, não somente em espíri-to, mas ao lado de todos nós. To-

dos em profundo silêncio derramá-vamos nossas lágrimas de emoção.Então compreendi por que desdea manhã de sábado tudo estava tãoperfeito, tão bem encaminhado,tantos rostos felizes, contagiadospela psicosfera de amor e paz queexalava da espiritualidade em be-nefício de todos como alimento emedicamento para nosso espírito.

No final do evento, cenas quejamais sairão de nossas mentes.Enquanto Dr. Roberto Lúcio termi-nava a leitura da mensagem recebi-da psicograficamente assinada porHeilil, eram colocadas diante dopalco duas mesas com nada menosdo que mil rosas vermelhas. Todosos 750 congressistas, mais uma cen-tena de trabalhadores, formavamfilas para receberem inicialmentedas mãos de Dra. Marlene Nobreuma rosa e um abraço que ela commuita alegria ofertava para cada um,em nome do Grupo Espírita Batuírae da AME-Internacional.

Em seguida, todos os demais

Crônicas de Além-Mar

Lisboa, Jornadas de Luz!médicos palestrantes com buquêsde rosas nos braços entregavam aopúblico as rosas que a Rainha San-ta de Portugal com certeza houve-ra fluidificado em bênçãos em cadabotão, para que as pessoas fixas-sem em suas memórias as Jorna-das de Luz de que haviam sidoparticipantes.

E assim, podemos dizer quenos países de além-mar move atodos o mesmo sentimento de so-lidariedade e amor, com que nosconvida Dr. Bezerra de Menezes,coordenador espiritual da AME-Brasil e da AME-Internacional, emsuas incursões de luz a todos osirmãos de todas as terras.

O que é o tempo?

Como passou depressa esta semana!Veloz que quase não a vi passar.

Mas quantas vezes a gente se engana:Pensa que o tempo muda de lugar.

O que se julga “sábio” aqui se ufana,Mas sobre o tempo não sabe explicar.

Contudo, eu, iletrado mas com “gana”,Desejo com o tempo conversar.

Não sei se entenderei sua linguagem,Suponho, sem criar qualquer imagem

Dessas comuns que sempre projetamos.

Porém me veio à mente de repente:“Você, José, ainda é um inocente:

O tempo fica. Nós é que passamos!...”

JOSÉ VIANA GONÇALVESDe Campos dos Goytacazes, RJ

ELSA ROSSI, escritora e pa-lestrante espírita brasileira radicadaem Londres, é diretora do Depar-tamento de Unificação para os Pa-íses da Europa, organismo do Con-selho Espírita Internacionale secretária da British Union ofSpiritist Societies (BUSS).

O IMORTALNOVEMBRO/2006 PÁGINA 13

Todos nós, familiares da que-rida Laís, estamos consternadoscom a sua partida tão cedo para omundo espiritual, voltando à pá-tria de origem. Ficamos ao mes-mo tempo emocionados com asdemonstrações de carinho e apre-ço da comunidade amiga de nossaTerra, confortando-nos com pala-vras de afeto e comparecendo emmassa nas despedidas da Laís,numa prova de solidariedade cris-tã e de amizade saudável.

A certeza da imortalidade daalma é a mais consoladora verda-de ensinada e provada por Jesus eagora relembrada pelo Espiritis-mo. Sem essa certeza, por certo,não teríamos como suportar sepa-ração tão dolorosa.

Tão logo lhe seja possível, aLaís estará junto de todos nós con-fortando e ajudando como sempreela soube fazer...

Uma amiga muito querida con-solando-nos em situação tão dolo-rosa nos fez lembrar que num jar-dim florido, com flores de muitascores e tamanhos, se tivéssemosque colher uma, por certo escolhe-

ríamos a mais bela. Ela con-tinuou dizendo; e nós concor-damos: que Laís, por ser amais linda, foi a escolhida apartir antes de nós. Voltoupara o mundo espiritual, adesfrutar das belezas da imor-talidade e da felicidade queaguardam todos os que, comoela, souberam viver no mun-do de tal forma como ensina-nos o provérbio chinês que éo seguinte: que “Quando nas-ceste, ao teu redor, todosriam, só tu choravas. Faze porviver de tal modo que à horade tua morte todos chorem, sótu rias “.

Conta-se que uma família,composta de marido, mulhere dois filhos gêmeos, era fe-liz pelo amor que se dedica-vam uns aos outros, especi-almente dos pais aos filhos,duas verdadeiras jóias de be-leza, inteligência e bondade.Um dia o pai necessitou ausentar-se do lar para negócios e permane-ceu ausente por algum tempo semmeios de comunicação com a fa-mília. Aconteceu que nesses diasas duas crianças foram cometidaspor atroz enfermidade que em pou-

ÉDO MARIANIDe Matão, SP

O retorno da querida Laís

co tempo levou ambas ao desen-carne. A mãe ficou aflita e não sa-bia como relatar ao marido o acon-tecido, pois ele sofria de proble-mas cardíacos e não suportaria umabalo assim tão forte. Como nãohavia meios para comunicar-se

com ele, aguardou a sua che-gada para contar-lhe o desa-gradável acontecimento.Quando o pai chegou, apóscumprimentar a esposa, logoperguntou pelas crianças: “eas crianças onde se encon-tram?” A esposa procurouacalmar-se dizendo, “Saírame logo retornarão. Vá tomarum banho para descansar,pois deves estar muito cansa-do da viagem.”. Terminado obanho o pai voltou a pergun-tar: “e as crianças não chega-ram ainda?” “Vamos tomarum lanche e logo elas estarãoaqui.”, respondeu a mãe. Ter-minado o lanche, ambos ago-ra sentados na sala de estar eleretornou a inquirir sobre ascrianças: “porque tanta demo-ra, onde estão elas?” A mãe,consternada falou: “Logo quevocê ausentou-se de casa, es-teve aqui um senhor e me en-

tregou duas preciosas e lindas jói-as para que eu as comprasse e fi-casse em minha posse. Eu sei quenão as podemos adquirir, mas nãoestou com forças para devolvê-las.Elas são tão lindas! Eu me apaixo-nei por elas!”. “Como assim?”, res-

pondeu o marido. “Você nunca foiassim! Sabes que o que não nospertence deve ser devolvido ao le-gitimo dono, por mais que a quei-ramos para nós.” “É”, disse a es-posa, “realmente eu não queriamas tive que devolvê-las. Já as de-volvi, pois essas duas jóias eramos nossos filhos que por não nospertencer eu os restitui ao legiti-mo dono: Deus.”.

Essa história reflete bem o queaconteceu com a querida Laís. Porser preciosa jóia e não nos perten-cer tivemos que devolvê-la, nãosem pesar, mas não a perdemos.Ela continua agora mais viva doque antes, uma vez que no mundoespiritual a percepção dos espíri-tos, por não estarem vinculados aocorpo de carne, que impede asmanifestações integrais da alma,ela se sentirá livre para mais altosvôos e com mais condições de aju-dar aos que ficaram na retaguarda.

Fica aqui expresso o nossoirrestrito reconhecimento afetuosoa todos que estiveram presente aoseu velório, numa demonstraçãode solidariedade cristã.

A todos os que nos confortaramnaquelas horas de despedida e desaudade, a nossa eterna gratidão.

Laís Mariani Chiozzini, que retornou no mês passado àpátria espiritual

Em nome da família de LaísMariani Chiozzini agradecemosa todos os AMIGOS indistinta-mente que nos dispensaram seusapoios nessa hora de saudade ede dor. Não poderemos nessemomento nomear a todos aque-les ombros amigos que vieramtrazer consolo com o ânimo dedividir nossa tristeza.

Mas igualmente não podemosdeixar de externar, e que isso nãopossa causar discriminação, nos-sos sinceros e especiais agrade-cimentos à Diretoria do HospitalCarlos Fernando Malzoni na pes-soa de Odete Mondini Guimarãese Denise Paulinetti da CamaraMinelli; a Emílio Pagnoca Mo-reno da Funerária Matão; aosamigos Theodoro ClementeMarischen e sua esposa Marta; a

Nota de agradecimento dafamília de Laís Mariani Chiozzini

Carlos Pareira e esposa que repre-sentam nesse momento toda a Co-munidade Espírita Cairbar Schutel;a Caio Fernando Gandini Panegos-si; e a todos os demais que mesmonão citados estarão sempre em nos-sas lembranças.

O velório de Laís ocorreu nasede da Comunidade Espírita Cair-bar Schutel, onde seus familiares eamigos puderam durante todo otempo prestar suas homenagensnum ambiente de muita paz e con-forto espiritual.

Laís e seus familiares são espí-ritas kardecistas e, como uma dasbases fundamentais dessa doutrinaé a crença na imortalidade da alma,isso fez com que todos pudessemusufruir desse conforto espiritualnaquela hora.

Durante a noite apresentou-se

o Coral Espírita Cairbar Schutelcom três músicas em homenagemà Laís, momento em que todos alipresentes foram tomados de gran-de emoção.

Ao raiar do dia do seu sepul-tamento, na manhã da terça-fei-ra, Orson Peter Carrara, sob umpano de fundo musical muitocomovente, prestou sua homena-gem na linguagem espírita ondeexpressou de maneira feliz a pas-sagem de uma vida a outra.

Para encerrar, como se fosseo fim de uma apresentação deballet, foi proferida uma precepelo seu tio Hugo Gonçalves e emseguida foi tocada Prelúdio nº 2(Paz do Meu Amor) onde todosos amigos e em fila foram lançarseu último olhar à bela “prince-sinha” Laís.

Um minuto comChico Xavier

Infelizmente vivemos umaépoca de intensa intolerânciareligiosa, mundialmente falan-do, e não é diferente no Brasil.Chico foi criado na religião ca-tólica, e ainda na primeira in-fância, antes de sua mãezinhapartir para o mundo maior, jáaprendera com ela a importân-cia do respeito pelas outrascrenças.

O caso que vamos narrarnesta coluna foi contado peloProf. Lauro Pastor e publicadoem um jornal de Minas, há mui-to tempo.

Ele e sua esposa visitavamChico, na época ainda de

JOSÉ ANTÔNIO V. DE [email protected]

De Cambé

Pedro Leopoldo e quando ca-minhavam para o Centro Es-pírita Luiz Gonzaga, foramsurpreendidos por uma procis-são, aonde uma multidão evários andores, vinham emsuas direções. O professorconta que tentou apressar omédium amigo, e sua esposaque estava com eles, a fim denão ter que esperar toda aque-la procissão passar. Mas, parasua surpresa, Chico estancou,tirou seu chapéu e sugeriu queo amigo fizesse o mesmo, eChico, humilde e respeitosa-mente esperou todo o contin-gente passar.

Diz, professor Lauro, queaquela foi uma lição inesque-cível sobre respeito a outrascrenças que ele jamais teve.

O IMORTALPÁGINA 14 NOVEMBRO/2006

Bom ânimo

A doce e meiga presença de Je-sus jamais deve se afastar de nos-sas vidas. Sua lembrança deve sera nossa força, pois os momentos detestemunho são chegados. Cada umdeve testemunhar o que acredita noseu cotidiano, mantendo o coraçãomanso, a concórdia e a paz.

A canção do Mestre ainda res-soa em nossos ouvidos:

- Bem-aventurados os mansosporque herdarão a Terra...

- Bem-aventurados os pacifica-dores porque serão chamados fi-lhos de Deus...

O momento é chegado. Bemdiferente do passado quando oscristãos tiveram que dar de suasvidas, seus próprios corpos em sa-crifício, os cristãos do presente

devem dar suas vidas, não nos cor-pos, mas nos sentimentos e na ati-tude por amor a Jesus.

Sabemos que a espiritualidadesuperior vela pela Terra em nomedo Cristo e que a humanidade nãoestá órfã, mas cada um dentro doseu livre-arbítrio vive a realidadeque lhe é própria.

Há violência e agressão por to-dos os continentes, mas há amorcomo nunca.

As crianças estão nascendomais calmas, o que nos dá a espe-rança de que Espíritos mais man-sos estão chegando ao planeta paraexemplificar o amor e a paciência.

Mantenhamos o nosso senti-mento firme em Jesus e o trabalhosincero no bem.

Há, anonimamente, milharesde pessoas agindo resolutamenteno bem, sem desânimo, com o úni-co intento de minimizar as dores

JANE MARTINS [email protected]

De Cambé

O IMORTAL na internetDesde abril de 2004, o jornal O IMORTAL pode ser lido, na

íntegra, pela internet, no site abaixo:

www.editoraleopoldomachado.com.br/imortal/indice.htmPara escrever à Redação do jornal, o interessado deve utili-

zar o e-mail abaixo indicado:

[email protected]

Estudando as obras de André Luiz

No livro “Nosso Lar” Andréapresenta-nos uma interessantelição sobre os tipos de casamen-tos que se processam aqui naTerra, ao narrar sua visita à casade Lísias. Lá, toma conhecimen-to de que em nosso mundo háquatro tipos de relacionamentosentre os cônjuges: por amor, porfraternidade, por dever e por pro-vação. Como os próprios nomesestão dizendo, a força que atraialmas têm origens distintas. Po-dem ser de um amor sublime,construído ao longos dos sécu-los, de reencarnação em reencar-nação; podem ser de um senti-mento mútuo de admiração eamizade, de maneira que um fa-cilite a vida do outro, ou podecair nas leis de Causa e de Efei-to, que tanto gostamos de estu-dar nesta coluna.

nem sempre porque as estimemosem sentido profundo, mas sim por-que o passado a elas nos reúne, afim de que por elas e com elas ve-nhamos a adquirir a experiêncianecessária à assimilação do ver-dadeiro amor e da verdadeira sa-bedoria. É por isso que a maioriados consórcios humanos, por en-quanto, constituem ligações deaprendizado e sacrifício, em que,muitas vezes, as criaturas se que-rem mutuamente e mutuamentesofrem pavorosos conflitos naconvivência uma das outras. Nes-ses embates alinham-se os recur-sos da redenção. Quem for maisclaro e mais exato no cumprimen-to da Lei que ordena seja manti-do o bem de todos, acima de tudo,mais ampla liberdade encontrapara a vida eterna. Quanto maissacrifício com serviço incessantepela felicidade dos corações queo Senhor nos confia, mais eleva-da ascensão à glória do AmorDivino.”

JOSÉ ANTÔNIO V. DE [email protected]

De Cambé

de seus semelhantes.O amor há de triunfar sobre a

Terra e o espírita tem certeza disso.Façamos cada um de nós a nos-

sa parte, buscando o melhor, cami-nhando, semeando sementes deamor onde passarmos, na certezade que essas sementes germinarão.

Com Jesus, o governador espi-ritual da Terra, jamais o desampa-ro virá! Com Kardec, o codifica-dor da doutrina, jamais o desâni-mo, porque o conhecimento ajudana perseverança!

Avante, pois, espíritas com Je-sus no coração e Kardec no racio-cínio, sem temor, sem desfaleci-mentos, enquanto durar a trajetó-ria de cada um sobre a Terra, fa-zendo o que puder de sua parte,para que um dia a alvorada doamor, da paz e da mansidão estejaimplantada para sempre em todosno planeta!

Então, perguntamos: Comopodem duas almas que não este-jam bem entre si, ou que estejamem litígio, ou que não se amamprofundamente, aceitar a propostadivina da reconciliação com suasleis, tendo o livre-arbítrio comoforça que poderia ser oposta?

É no livro “Ação e Reação”, noseu capítulo 14, com o título de“Resgate Interrompido”, do mes-mo autor, que vamos encontrar estaresposta, quando um emissário doplano espiritual, Silas, assim expli-ca:

“Nessa ou naquela idade físi-ca, o homem e a mulher, com a su-pervisão da Lei que nos governa osdestinos, encontram as pessoas e assituações de que necessitam parasuperarem as provas do caminho,provas indispensáveis aoburilamento espiritual de que nãoprescindem para a justa ascensãoàs Esferas Mais Altas. Assim é quesomos atraídos por determinadasalmas e por determinadas questões,

O IMORTALNOVEMBRO/2006 PÁGINA 15

A Revue Spirite há 140 anos

Revista Espírita de 1866 (Parte 11)

Continuamos a apresentar o tex-to condensado da Revista Espíritade 1866. As páginas citadas referem-se à versão publicada pela Edicel.

*175. Eis outros pontos contidos no

artigo de Kardec sobre Maomé oIslamismo: I)Permitindo quatro mulhe-res legítimas, Maomé esqueceu que,para que sua lei se tornasse a da uni-versalidade dos homens, era precisoque o sexo feminino fosse ao menosquatro vezes mais numeroso que omasculino. II) Mau grado as suas im-perfeições, o Islamismo não deixou deser um grande benefício para a épocaem que apareceu e para o país ondesurgiu, porque fundou o culto da uni-dade de Deus sobre as ruínas da idola-tria. A religião cristã tinha muitas suti-lezas metafísicas, por isso é que todasas tentativas para a implantar nessasregiões tinham falhado. III) Compre-endendo os homens de seu tempo,Maomé deu-lhes uma religião apropri-ada às suas necessidades e ao seu cará-ter. IV) Bastante simples, o Islamismoprega a crença num Deus único, quevê nossas ações mais secretas e quepremia ou castiga, numa outra vida, osatos que cometemos. V) O cultoislâmico consiste na prece, repetidacinco vezes por dia, nos jejuns e mor-tificações do mês de ramadân, e emcertas práticas, como as abluções diá-rias, a abstenção do vinho, das bebidasinebriantes e da carne de certos ani-mais. VI) A sexta-feira foi adotadacomo o dia santo da semana e Mecaindicada como o ponto para o qual todomuçulmano deve voltar-se ao orar. VII)A atividade pública nas mesquitas con-siste em preces em comum, sermões,leitura e explicação do Alcorão. VIII)A circuncisão não foi instituída porMaomé, mas por ele conservada, porser prática comum dos árabes desdetempos imemoriais. IX) A proibição dereproduzir pela pintura ou esculturaqualquer ser vivo foi feita visando adestruir a idolatria e impedir que ela serenovasse. X) A peregrinação a Meca,que todo fiel deve realizar ao menosuma vez na vida, é um ato religioso,mas seu objetivo na época era aproxi-mar, por um laço fraternal, as diversastribos inimigas, reunindo-as num mes-mo lugar consagrado. XI) A religiãomuçulmana admite o Antigo Testamen-to por inteiro, até mesmo Jesus, quereconheceu como profeta. SegundoMaomé, Moisés e Jesus foram envia-dos por Deus para ensinar a verdade

aos homens. Como os Dez Mandamen-tos, o Evangelho é a palavra de Deus,mas os cristãos teriam alterado o seusentido. (Págs. 322 a 325.)

Os que sustentam a trindade deDeus são blasfemos; há apenas

um só Deus, disse Maomé

176. No último discurso que pro-nunciou em Meca, pouco antes de suamorte, Maomé aconselhou seus se-guidores a que fossem humanos ejustos, guardando-se de cometer in-justiça, porque um dia todos apare-ceremos diante do Senhor e ele pedi-rá contas de nossas ações. (Pág. 325.)

177. Finalizando o artigo sobre ogrande líder árabe, Kardec reproduzo elogio que o historiógrafo alemãoG. Weil fez, em sua obra Mohammetder Prophet, de Maomé e sua obra,seguido de diversas passagens textu-ais do Alcorão, extraídas da traduçãode Savary. (Págs. 325 a 337.)

178. Das suratas selecionadas porKardec, eis algumas frases marcantesque permitem aquilatar o valor da re-ferida obra: “Deus não exigirá de nóssenão conforme as nossas forças.” “Ja-mais digas: Farei isto amanhã, semacrescentar: se for a vontade de Deus.”“Deus exalta as boas obras, mas punerigorosamente o celerado que tramaperfídias.” “Nada no céu e na terrapode opor-se às vontades doAltíssimo.” “Jesus é filho de Maria,enviado do Altíssimo e seu Verbo.”“Crede em Deus e nos apóstolos; masnão digais que há uma trindade emDeus. Ele é uno.” “Os que sustentama trindade de Deus são blasfemos; háapenas um só Deus.” “Se te acusaremde imposturas, responde-lhes: Tenhopor mim as minhas obras; que as vos-sas falem em vosso favor.” “Fazei pre-ce, dai esmolas; o bem que fizerdesencontrareis junto a Deus, pois ele vêas vossas ações.” “Para ser justifica-do não basta virar o rosto para o Ori-ente e para o Ocidente; é preciso ain-da crer em Deus, no juízo final, nosanjos, no Alcorão, nos profetas. É pre-ciso pelo amor de Deus socorrer o pró-ximo, os órfãos, os pobres, os viajan-tes, os cativos e os que demandam.”“Se vosso devedor tem dificuldade emvos pagar, perdoai-lhe o tempo; ou sequiserdes fazer melhor, perdoai-lhe adívida.” “A vingança deve ser propor-cional à injúria; mas o homem gene-roso que perdoa tem sua recompensaassegurada junto a Deus, que odeia aviolência.” “Deus ama a beneficên-cia.” “Os jardins do Éden serão a ha-bitação dos justos.”(Pág. 326 a 337.)

179. Reportando-se à SociedadeEspírita de Paris, Kardec diz que a úl-

tima sessão do ano, antes das férias, foiuma das mais notáveis porque, pela pri-meira vez, se verificou com o Sr. Morin,médium da Sociedade, um fenômenoespontâneo de sonambulismo mediúni-co. Havendo adormecido sob a influ-ência dos Espíritos, ele falou então comcalor e eloqüência sobre um assunto dealta seriedade. Em outubro, na reaber-tura das sessões, repetiu-se o fenôme-no com dois outros médiuns: a Sra. C...e o Sr. Vavasseur. Kardec refere, na se-qüência, os fatos que se deram naquelaoportunidade e que muito o impressio-naram. (Págs. 337 a 341.)

O poder curativo está todo nofluido depurado a que o médium

serve de condutor

180. Tais fatos, observa Kardec,confirmavam as previsões dos Espíri-tos concernentes às novas formas quenão tardaria a tomar a mediunidade. “Oestado de sonambulismo espontâneo, noqual se desenvolve, ao mesmo tempo,a mediunidade falante e a vidente, é,com efeito, uma faculdade nova”, acres-centa o codificador. Era, porém, umamodalidade de fenômeno que exigia,para desenvolver-se em todo o seu bri-lho, um ambiente favorável, visto queuma corrente fluídica contrária basta-ria para a alterar. (Pág. 342.)

181. Assim, essas espécies de fe-nômenos não se prestam absoluta-mente a exibições públicas, em quea curiosidade é o sentimento domi-nante, quando não o da malevolên-cia. Por isso mesmo, requerem daparte dos assistentes uma excessivaprudência, porquanto nesses momen-tos a alma se liga ao corpo apenaspor um fio frágil. (Pág. 342.)

182. Kardec examina, no mesmoartigo, os fenômenos de êxtase, que,constituindo o mais alto grau deemancipação da alma, exige maioresprecauções do que no estado de so-nambulismo. O codificador adverteque o desprendimento proporciona-do pelo êxtase é um estado fisiológi-co sujeito a erros. Não se deve, pois,crer que as visões e as revelações doêxtase sejam sempre a expressão daverdade. (Págs. 343 a 346.)

183. A Revista volta a tratar dascuras realizadas pelo Sr. Jacob, reti-ficando alguns dados constantes doartigo anteriormente publicado sobreo zuavo curador. O codificador apro-veita o ensejo para explicar que exis-te uma diferença radical entre os mé-diuns curadores e os receitistas. Osprimeiros curam apenas pela açãofluídica, em mais ou menos tempo,às vezes instantaneamente, sem oemprego de qualquer remédio. O po-

der curativo está todo no fluido de-purado a que servem de condutores.A aptidão para curar é inerente ao mé-dium, mas o exercício da faculdadesó se dá com o concurso dos Espíri-tos, de onde se segue que, se os Espí-ritos não querem, o médium é comoum instrumento sem músico e nadaobtém. Ele pode, pois, perder instan-taneamente a sua faculdade, o queexclui a possibilidade de transformá-la em profissão. (Págs. 347 e 348.)

184. Kardec relaciona, a seguir, oscasos em que a ação fluídica é impo-tente para promover a cura. Compre-ende-se, diz o codificador, que a açãofluídica possa dar sensibilidade a umórgão, fazer dissolver e desaparecerum obstáculo ao movimento e à per-cepção, cicatrizar uma ferida, porquenesses casos o fluido torna-se um ver-dadeiro agente terapêutico; mas é evi-dente que não pode remediar a ausên-cia ou a destruição de um órgão, o queseria um verdadeiro milagre. Assim, avista poderá ser restaurada a um cegopor amaurose, oftalmia, belida ou ca-tarata, mas não a quem tivesse os olhosestalados. Existem, pois, doenças fun-damentalmente incuráveis e seria ilu-são crer que a mediunidade curadoravá livrar a Humanidade de todas assuas enfermidades. (Págs. 348 e 349.)

Na obsessão é preciso agirmoralmente sobre o Espírito

obsessor

185. Opera-se com a ação fluídicauma verdadeira reação química, análo-ga à produzida por certos medicamen-tos. Atuando o fluido como agenteterapêutico, sua ação varia conforme aspropriedades que recebe das qualida-des do fluido pessoal do médium. Essaação pode ser enérgica e poderosa emcertos casos e nula em outros. É porisso que os médiuns curadores podemter especialidades: este curará as dores,ou endireitará um membro, mas nãorestituirá a vista a um cego, e recipro-camente. (Pág. 349.)

186. A faculdade é completamen-te diferente na obsessão, e a faculdadede curar não implica a de libertar osobsidiados. O fluido curador age ma-terialmente sobre os órgãos afetados,ao passo que na obsessão é preciso agirmoralmente sobre o Espírito obsessor;necessário ter autoridade sobre ele,para o fazer largar a presa. São duasaptidões distintas que nem sempre seencontram na mesma pessoa. O con-curso do fluido curador torna-se ne-cessário quando, o que é bastante fre-qüente, a obsessão se complica comafecções orgânicas. (Pág. 349.)

187. A mediunidade curadora

não vem suplantar a medicina e osmédicos; vem simplesmente provara estes que há coisas que eles nãosabem e convidá-los a estudá-las,porquanto o elemento espiritual, queignoram, não é uma quimera e, bemconsiderado, pode abrir novos hori-zontes à ciência. (Págs. 349 e 350.)

188. Dependendo a mediunida-de de cura de uma disposição orgâ-nica, muitas pessoas a possuem, aomenos em germe. Se todos os quedesejam possuí-la a pedissem comfervor e perseverança pela prece, ecom um objetivo exclusivamentehumanitário, é provável que desseconcurso sairia mais de um verda-deiro médium curador. Mas, pela na-tureza de seus efeitos, a mediunida-de de cura exige imperiosamente oconcurso de Espíritos depurados,que não poderiam ser substituídospor Espíritos inferiores. (Pág. 351.)

189. Há, pois, para o médium decura a necessidade absoluta de se con-ciliar o concurso dos Espíritos supe-riores, senão, em vez de crescer, suafaculdade declina e desaparece peloafastamento dos bons Espíritos. A pri-meira condição para isto é trabalharem sua própria depuração, a fim denão alterar os fluidos salutares que estáencarregado de transmitir. Essa con-dição não pode ser executada sem omais completo desinteresse materiale moral. O primeiro é mais fácil; osegundo é mais raro. (Pág. 352.)

190. Muitos médiuns têm caídoem razão de se deixarem dominarpelo orgulho e pela vaidade. Os Es-píritos explicaram a Kardec por quetais sentimentos impedem o cresci-mento dessa faculdade e prejudicamo seu exercício. A razão é simples: opoder de curar independe da vonta-de do médium, mas dependem domédium as qualidades que podemtornar esse poder frutuoso e durável.Essas qualidades são, sobretudo, odevotamento, a abnegação e a humil-dade, enquanto que o egoísmo, o or-gulho e a cupidez opõem obstáculosàs mais belas faculdades. (Pág. 353.)

191. O verdadeiro médiumcurador é movido pelo único desejodo bem. É humilde de coração, nãoinveja ninguém e não tem a preten-são de se julgar infalível. À influên-cia material junta a influência mo-ral, auxiliar poderoso, que dobra asua força. Por sua palavra benevo-lente, encoraja, levanta o moral, faznascer a esperança e a confiança emDeus. Assim é o médium curadoramado pelos bons Espíritos, que sóse ligam aos que se mostram dignosde sua proteção. (Págs. 354 e 355.)(Continua no próximo número.)

MARCELO BORELADE OLIVEIRA

[email protected] Londrina

O IMORTALPÁGINA 16 NOVEMBRO/2006

O IMORTALJORNAL DE DIVULGAÇÃO ESPÍRITARUA PARÁ, 292, CAIXA POSTAL 63CEP 86.180-970TELEFONE: (043) 3254-3261 - CAMBÉ - PR

A frase que dá título a estamatéria é de Eliseu Florentino daMota Júnior (foto), professoruniversitário e promotor de jus-tiça aposentado, orador, escritore jornalista espírita radicado emFranca, SP. Muito conhecidopela lucidez de suas palestras eabrangência de seus textos, é au-tor de vários livros, dentre osquais “Pena de Morte e CrimesHediondos”, tema que abordouna entrevista que adiante repro-duzimos, concedida ao progra-ma “Reflexão Espírita” em julhodeste ano, quando de sua parti-cipação da 15a Semana Espíritade Londrina. O programa “Re-flexão Espírita” é apresentadoaos sábados pela TV Tropical deLondrina, emissora pertencenteà Rede CNT de Televisão.

A seguir, a entrevista:

Luis Cláudio: De acordocom o entendimento espírita,como você vê a questão da penade morte?

Eliseu Mota Júnior: Somosradicalmente contrário à pena demorte porque, além de não ser umasolução, ela cria outros problemasao libertar o espírito do corpo. Umespírito, normalmente impuro,quando estiver no espaço, terámuito mais liberdade para provo-car problemas do que quando estáamarrado ao corpo. Existem qua-tro argumentos a favor da pena demorte: primeiro que ela controla-ria a criminalidade, o que não é ver-dade, pois os países que têm penade morte registram crimes hedion-dos do mesmo jeito. O segundo ar-gumento é que ela é mais barataporque manter um preso realmen-te é custoso, cerca de R$ 500 a R$1.000 por mês; é o que se calculacom custo direto. O terceiro argu-

FERNANDA [email protected]

De Londrina

mento é que a pena de morte seriaum remédio social, extirparia dasociedade os elementos indesejá-veis. Todos esses argumentos nãotêm fundamento. O que não podeacontecer, como está acontecendoaqui no Brasil, são os depósitos dehomens e mulheres, sem ninguémfazer nada, ociosos. Qualquer pes-soa honesta, que está aqui fora, ga-nha a vida trabalhando, por que elesnão podem trabalhar também?

Luis Cláudio: Hoje em dia te-mos assistido a essa questão dospresídios, PCC (Primeiro Coman-do da Capital) se organizando. Sãoespíritos extremamente revoltados,não é? que estão aí mandando ma-tar agentes carcerários...

Eliseu Mota Júnior: Estive re-centemente visitando um garoto queestá preso na região da paulista. Oque a gente percebe, e isso é coisamuito séria, esses agentes peniten-ciários são colocados entre a cruz ea espada. O preso lá dentro, do PCC,fala para o agente introduzir na pri-são celulares, drogas e ainda dizemque ele vai ganhar um dinheiro. Seele fizer isso, ele acaba sendo umcorrupto. Se ele se nega, ele e a fa-mília são eliminados. Então, o queestá acontecendo em São Paulo é umverdadeiro êxodo de agentes peni-tenciários, que estão deixando detrabalhar por conta disso. Estamostrabalhando esse problema muitosuperficialmente.

Luis Cláudio: É um assuntomuito atual. Como que, enquan-to doutrina espírita, ou na ques-tão do Direito mesmo, nós pode-ríamos ajudar para que essas coi-sas não acontecessem mais comoestão acontecendo no Brasil?

Eliseu Mota Júnior: Por meiode duas frentes de trabalho, umadelas repressiva para o crime quejá está ocorrendo. Nenhum crimi-noso nasce adulto, ninguém nasce

adulto. Esse criminoso de hoje umdia foi uma criança. Para esses cri-minosos que já estão lá, a saída é aeducação, essa é a proposta de Kar-dec. Eles precisam trabalhar, nãoficarem ociosos, estudar. Isso ain-da, além de ser útil para eles, pro-move a redução de pena. Cada trêsdias de trabalhão, ele tem o cortede um dia. E a outra parte é a cri-ança e o adolescente, com a pre-venção. A prisão não recupera nin-guém. Trabalhei 20 anos no Minis-tério Público. Uma das funções dopromotor criminal é visitar mensal-mente presídios da região onde eletrabalha e eu não vi nenhum casode recuperação de criminoso, pelocontrário, a cadeia funciona comose fosse uma escola, quem não sabeaprende mais ou saem revoltados.

A proposta é usar a cadeia emúltima instância. A cadeia seriacomo um antibiótico, se você usarquando não precisa, quando preci-sar, seu corpo já não vai mais rea-gir a ele, as bactérias ficam resis-tentes. Se você usa a cadeia, que éo último recurso que nós temosaqui, para um menino de 16 ou 17anos, quando ele reincidir o jeitoentão é matar, porque a cadeia nãovai recuperar. O que está aconte-cendo agora em São Paulo está sen-do até pior. Em Araraquara, porexemplo, havia 1.200 presos para300 vagas, agora esses 1.200 sãocolocados num cubículo em que

cabem no máximo 150. A situaçãoem São Paulo está aterrorizante.Quem são esses espíritos? São espí-ritos impuros, Kardec fala, que quan-do eles estão desencarnados, são de-mônios e quando estão encarnados,provocam essas ferocidades.

Luis Cláudio: Existem expe-riências, de trabalhos realizadosdentro das penitenciárias, já desucesso comprovado no Brasil?

Eliseu Mota Júnior: No Bra-

“Os países que têm pena de morte registramcrimes hediondos do mesmo jeito”

Eliseu da Mota Júnior: não à pena demorte

Espiritismo na TV

sil existem alguns casos, muitopoucos. Talvez um caminho sejaa terceirização, porque daí vocêtira a responsabilidade do Estadoe a transfere para uma empresaséria que terá interesse em ter re-sultados. Aqui no Paraná pareceque já existe uma penitenciáriacom algumas experiências com aterceirização. Em Taubaté tam-bém há um trabalho muito bomque um juiz tem realizado com ospresos, mas ainda realmente émuito pouco.

A pena de mortena visão espírita

O Espiritismo se posicionoucontra a aplicação da pena demorte desde os seus primórdios,como podemos ver nas questões760 e seguintes de “O Livro dosEspíritos”, de Allan Kardec, adi-ante reproduzidas:• Desaparecerá algum dia, da le-gislação humana, a pena de mor-te? “Incontestavelmente desapa-recerá e a sua supressão assina-lará um progresso da Humanida-de. Quando os homens estiveremmais esclarecidos, a pena de mor-te será completamente abolida naTerra. Não mais precisarão oshomens de ser julgados peloshomens. Refiro-me a uma épocaainda muito distante de vós.”Nota de Kardec: Sem dúvida, oprogresso social ainda muito dei-xa a desejar. Mas, seria injustopara com a sociedade modernaquem não visse um progresso nasrestrições postas à pena de mor-te, no seio dos povos mais adian-tados, e à natureza dos crimes aque a sua aplicação se acha limi-tada. Se compararmos as garan-tias de que, entre esses mesmospovos, a justiça procura cercar oacusado, a humanidade de que

usa para com ele, mesmo quan-do o reconhece culpado, com oque se praticava em tempos queainda não vão muito longe, nãopoderemos negar o avanço dogênero humano na senda do pro-gresso. (O Livro dos Espíritos,760.)• A lei de conservação dá ao ho-mem o direito de preservar suavida. Não usará ele desse direito,quando elimina da sociedade ummembro perigoso? “Há outrosmeios de ele se preservar do pe-rigo, que não matando. Demais,é preciso abrir e não fechar aocriminoso a porta do arrependi-mento.” (L.E., 761.)• A pena de morte, que pode vir aser banida das sociedades civili-zadas, não terá sido de necessi-dade em épocas menos adianta-das? “Necessidade não é o termo.O homem julga necessária umacoisa, sempre que não descobreoutra melhor. À proporção que seinstrui, vai compreendendomelhormente o que é justo e o queé injusto e repudia os excessoscometidos, nos tempos de igno-rância, em nome da justiça.”(L.E., 762.) (Fernanda Borges)