o impacto da música pop na lingua, cultura e sexo

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Música Como você distingue o bom do ruim nessa área? Temos muitos interesses diferentes na nossa vida, alguns os quais a gente julgamos bons por absolutos e alguns bons meramente como um meio (útil). Estamos cercados de coisas úteis. Mas coisas boas, algumas sem um uso particular, aquelas que a gente só quer estar na presença dela, são raras, temos que tentar encontrá-las temos que lutar para obtê-las. No caso da música é difícil formular que exista música boa na sua essência que não seja entendida somente como útil. Afinal, qual o uso da música? Muitas pessoas deparam com essa pergunta. Gerentes de hotéis, por exemplo, que colocam a música de fundo no café da manhã, possuem uma resposta clara: o uso dela é o mesmo que a tiras de carne pra cachorro, os deixa calmos sem reclamar da comida ruim que está sendo servida. Existem diversos usos da música hoje, restaurantes, hotéis, aeroportos, locais onde as pessoas estão presas e que a música deixa as pessoas distraídas, sedadas, calmas evitando conflitos, reclamações. Preencher o vácuo que existe hoje nas nossas vidas, no mundo moderno. Mas é esse o verdadeiro uso da música? Claro que esse não é o único uso. Nós temos cada nossas próprias músicas, no ipod, PC, CDs, canal de rádio que escuto com o fone de ouvido que escutamos quando temos um momento a sós. Esse é o tipo de coisa que entretém a gente. A palavra entretenimento é interessante. Não encontramos na língua inglesa antes do século 20. Entretanto agora é algo que todos esperamos perseguir, e ter necessidade. Envolve se divertir, se distrair das coisas do cotidiano, envolve relaxar, ter um tempo do estresse do trabalho/estudo. No passado nunca se pensou de música dessa maneira. Não era parte de diversão, relaxamento, talvez um relaxamento mas sem essa pausa da vida cotidiana. Era parte da vida cotidiana. Era algo que se curtia mas que existia a possibilidade de se envolver, participar, fazer a sua própria contribuição. Daí surgia a questão: qual tipo de música você deveria se envolver e qual você não deveria? Se você olhar para a história da sociedade, você reconhece que a música teve um papel muito

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Apresentação das Ideias de roger Scrutton

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Page 1: O impacto da música pop na lingua, cultura e sexo

Música

Como você distingue o bom do ruim nessa área?

Temos muitos interesses diferentes na nossa vida, alguns os quais a gente julgamos bons por absolutos e alguns bons meramente como um meio (útil). Estamos cercados de coisas úteis. Mas coisas boas, algumas sem um uso particular, aquelas que a gente só quer estar na presença dela, são raras, temos que tentar encontrá-las temos que lutar para obtê-las. No caso da música é difícil formular que exista música boa na sua essência que não seja entendida somente como útil.

Afinal, qual o uso da música?

Muitas pessoas deparam com essa pergunta. Gerentes de hotéis, por exemplo, que colocam a música de fundo no café da manhã, possuem uma resposta clara: o uso dela é o mesmo que a tiras de carne pra cachorro, os deixa calmos sem reclamar da comida ruim que está sendo servida. Existem diversos usos da música hoje, restaurantes, hotéis, aeroportos, locais onde as pessoas estão presas e que a música deixa as pessoas distraídas, sedadas, calmas evitando conflitos, reclamações. Preencher o vácuo que existe hoje nas nossas vidas, no mundo moderno. Mas é esse o verdadeiro uso da música? Claro que esse não é o único uso. Nós temos cada nossas próprias músicas, no ipod, PC, CDs, canal de rádio que escuto com o fone de ouvido que escutamos quando temos um momento a sós. Esse é o tipo de coisa que entretém a gente. A palavra entretenimento é interessante. Não encontramos na língua inglesa antes do século 20. Entretanto agora é algo que todos esperamos perseguir, e ter necessidade. Envolve se divertir, se distrair das coisas do cotidiano, envolve relaxar, ter um tempo do estresse do trabalho/estudo.

No passado nunca se pensou de música dessa maneira. Não era parte de diversão, relaxamento, talvez um relaxamento mas sem essa pausa da vida cotidiana. Era parte da vida cotidiana. Era algo que se curtia mas que existia a possibilidade de se envolver, participar, fazer a sua própria contribuição. Daí surgia a questão: qual tipo de música você deveria se envolver e qual você não deveria? Se você olhar para a história da sociedade, você reconhece que a música teve um papel muito importante e em diversos ramos da sociedade: na Igreja, obviamente, na tradição cristã, pois o culto involve não somente o canto mas a aplicação em coros, até em orquestras, fazendo inteligível os trabalhos sacros. Tiveram grande papel em concertos onde você senta e escuta música. Nesse processo você está sem se mexer, em silencio, absorvendo algo que não é parte de você e que você o recebe de fora, com mensagens que você ache bem difícil de entender, mas compreende que são sérias. Nesse contexto a crítica (sua opinião) entra como parte da ação, você não ficaria sentado por 2 horas escutando algo que você ache besteira. Só quando se pensa em música como mera distração ou entretenimento que a critica pode não importar. O senso crítico nos faz não só distinguir o ruim do que é bom mas, o inspirador e o sentimental, o brega e assim por diante. No antigo testamento temos o Genesis que conta a história da criação do mundo, não é exatamente uma discrição científica de como o mundo foi criado, mas uma alegoria de como devemos entender o começo do mundo. Deus realiza várias partes da criação, ao longo de 6 dias e depois tira o último dia como descanso ( o que os Judeus comemoram como Sabbath). Nesse dia, Deus olha o mundo criado e diz que é bom, e a palavra em hebraico não quer dizer somente bom

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mas também belo. Isso é algo bom que foi criado, mas consolador, inspirador para ser contemplado. Isso é algo que nós também experimentamos de vez em quando (num menor grau) quando realizamos algo e refletimos sobre e dizemos que “sim” foi algo bom de fazer. E é algo bom de contemplar. Muitas boas experiências são boas para se contemplar: um por do sol, uma bela paisagem (serra Rio Petrópolis), uma bela pintura ou escutar uma bela obra de música ou mesmo olhar nos olhos de um outro ser humano que é uma experiência bem conhecida. Nós, diferentemente dos demais animais, não olhamos para os olhos de outra pessoa, mas olhamos pro interior da pessoa. Ninguém sabe descrever verdadeiramente a diferença desses dois. Seu cachorro olha pro seu olho porque sabe que vai indicar qual sua próxima ação. Sua namorada, mãe, irmão, olha pro seu olho porque ele/ela estão procurando o que você realmente é. Aquilo que você raramente revela, a não ser em momentos de encontro bem íntimos. Olhas para os olhos de outra pessoa nos convém para busca de um sentido do que são. O que você é para mim? Por que você é importante? Por que você é algo de valor, insubstituível? De um mesmo modo, quando estamos escutando uma obra de música, temos a impressão de estar escutando a alma de alguém, que foi transcrita em música e que demanda que sentemos por um momento, explorando-a mas também que nos satisfaz com ela. Agora, o que eu posso chamar de atitude sabática, similar a que Deus teve quando criou o mundo, atitude quando nós damos uma distancia (um passo para um olhar de fora) das nossas vidas e vê o sentido dela. Música é parte disso.

Agora vem ao caso a música popular (pop), que pra ela tem um objetivo diferente da música clássica, de tudo que acabou de ser dito. Tem muito a ver com dança. O que é algo importante a ser levado em consideração a dança é ritmo.

Escutar (10 segundos Max): Death to Sun, de uma banda de heavy metal chamada Atheist. Se um público mais velho estiver escutando, diria que é bastante sinistra. A lestra, que não foi escutada, confirma essa sensação de sinistro: “Second to sun, second to Sun, like Jupiter we are the ones. All athems report to the Sun, we are the ones”-fica repetindo isso, seu significado é que a vida está caindo aos pedaços, tudo que somos são átomos, tudo que temos que adorar é o sol. Dá pra perceber que a pessoa que está tocando bateria é um músico de verdade, não dá pra fazer esse tipo de técnica, só batendo a baqueta na bateria. Existe muita técnica. E ao mesmo tempo existe muita agressão, que faz com que o grupo que cante. A música é gritada no ultimo fôlego, porque só assim se pode escutar. E pode-se fazer essa pergunta do porque é assim? Não dá pra dançar com essa música, o que aconteceria é o headbang, roda de porrada, não se dança com o outro se dança em um outro, como luta de Box.

Escutar (Max 15 segundos): carretel Escocês. Expressa claramente ritmo e harmonia, a ideia de dançar com a música. A dança desse tipo de música envolve uma coregrafia, formação, 16 pessoas que trocam de parceiros o tempo todo. Não possui qualquer significância erótica, mesmo que você entre na dança com uma parceira, acaba com a avó dela. Isso é uma grande disciplina para os jovens em geral, quando eles são forçados a aceitar que todos podemos participar da dança, que é uma atividade genuína e social, e que ela está desligada de ambições eróticas.

Por tás de tudo isso está como cada um começa a ter um senso crítico. Existe o pensamento que a dança é necessária para os mais jovens, porque é parte não somente de crescer e

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entender seu corpo mais se relacionar com outros, o que se supera o medo que seja somente algo físico. Numa dança adequada você pode dançar com outro sem constrangimento. E isso é algo que a musica pop pôs em risco. Uma das razoes é que ritmo não é a mesma coisa que uma batida mecânica. Isso é um ponto forte no heavy metal,o exemplo escutado 18 batidas e meia ou 21 num compasso,lutando contra si mesma dando uma má impressão da vida que você não pode fugir da prisão que foi feita para nós. Mas não é ritmo também.

Agora um exemplo de ritmo. Esse foi criado pela voz humana, sem apoio de alguma máquina (instrumento). Escutar: heartbreak Hotel-elvis Presley. Isso é o oposto de um som mecânico. A voz humana é usada pra criar o ritmo, passando por vários ritmos quebrados antes da base entrar e equalizar tudo. Isso é um exemplo de um ritmo que é tirado da vida de um ser humano. Não precisa ser uma voz. Escutar: Eric Clapton- lay down saly. O ritmo é criado musicalmente e melodicamente antes que o “apoio” entre. O ritmo já está ligado a vida humana. Esse ritmo está nos levando a uma direção mecânica, que é meramente repetitiva? Ou está expressando uma outra vida, que é interressante por si só no qual podemos ganhar algo?

Muitas músicas pop modernas se baseiam inteiramente por um background sintético, ou uma máquina que dita o ritmo que dispensam a ideia que nós podemos criar o ritmo através dos nossos próprios movimentos. Podemos falar sobre melodia também. Na música clássica era o que de mais importante havia nela, que tinha uma forma e ordem nela mesma que representava a alma do ser humano. Na música pop moderna a melodia simplesmente desapareceu (e.g. peça de heavy metal tudo que restava pra voz era gritar). No lugar disso (melodia) temos uma solução encontrada pelos artistas que é cantar numa nota só (pór isso é tão fácil cantar a maioria das músicas pop). Escutar: Poker Face-lady gaga. Fundo sintético. Como você começa a julgar isso e o porque. Se você percebe, o fundo de ritmo eletrônico (feito por uma máquina) faz com que nosso corpo mexa fisicamente de acordo com o ritmo. Algo em nós quer se mexer de acordo com o ritmo. Daí temos que ter cuidado com que tipo de ritmo queremos mexer de acordo. Existe uma diferença entre práticas viciosas em outras que temos o exercício de escolha (onde escolhemos livremente o que queremos fazer, que expressam nossa liberdade) e que temos vontade de participar e as coisas que superam nossa vontade, quase arrastados a fazer uma atividade que não queremos de verdade mas acabamos fazendo. Sabe-se que, vícios se formam dessa maneira. E vicio não é só uma condição média, é também uma condição espiritual, algo que nos é “avisado” por uma tradição moral, que nos avisa contra situações que não somos soberanos/donos de nós mesmos, onde não estamos no controle, mas estamos como que vitimas de algo que nem entendemos nem resistimos. Muitas músicas pop são feitas de modo a produzir essa resposta viciosa, como se você precisasse num segundo plano. Como a música no hotel, que é colocada em resposta a essa necessidade viciosa, se não tiver, as pessoas ficam sem a sua “injeção” de seja lá o que for. Acho que muitos podem concordar em que, quando o vicio entra ele não tira somente a sua liberdade, mas aboli a sua capacidade de se relacionar e verdade e profundamente com os outros. Sabemos disso não somente de vicio de álcool, drogas como também algo que é mais ameaçador hoje em dia que é o vicio em pornografia e ai por diante. Estes diminuem a capacidade das pessoas de se relacionar diretamente e devidamente com outros até que a pessoa encontre alguém que irá salvá-la disso tudo. Existe algo de patético na situação em que muitos jovens se encontram hoje, em se tratando na escolha de um amor. O jovem passa por

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um período que ele tem que passar, de 15 até 20/22 (seja o que for) onde o vicio está a todo redor, e que ele pode cair em algum desses hábitos ou ele pode resistir. Resistindo, ele abre a liberdade, não só pra ele mas para outros, para formação de relacionamentos que são gratificantes. Isto pode ser observado refletido na música, por isso os exemplos que foram ditos. Por isso na música pop você precisa dançar e se mexer como todo o resto. E mesmo nesse mundo a gente mundo a gente pode fazer julgamentos, eliminar o que é pedante, brega, mecânico e no caso do death metal até sinistro. Podemos dizer que existem valores morais, bons e ruins nessas, virtudes e vícios, expressadas na música e que podemos julgar que devemos escutar e imitar e o que não devemos. E isso muita gente é relutante a fazer. Por que? Porque a gente não acha difícil fazer julgamentos em certas áreas, numa decisão judicial como se foi a melhor coisa ou não roubar a bicicleta do vizinho por ser melhor que a sua, mostrando que você consegue fazer julgamentos. Mas quando se trata de coisas como gosto ou música ou arte ou arquitetura as pessoas hoje em dia estão relutantes em fazer algum tipo de julgamento. Primeiro por não achar que importa tanto. Segundo elas não sabem como fazer algum julgamento nessa área. Terceiro, se elas acabam por fazer algum julgamento elas acreditam que estão ofendendo alguém, que é ofensivo escutar de alguém como eu que o seu gosto em música é uma merda. Mas é claro que não é ofensivo se dito da maneira correta e aberta a um diálogo onde a pessoa pode discordar e explicar o porquê gosta disso e que o que eu gosto na verdade é ruim. Quando um debate é aberto, mostra que você já está refletindo e se perguntando: o que está peça está fazendo comigo? Existe uma forma melhor de responder a música? Existe uma forma melhor de aproveitar o que a música tem para oferecer? Enfim, essas perguntas importam e temos que resistir o pensamento que é ofensivo julgar. Não é. E no fundo, é muito mais ofensivo dizer que no final todo mundo deve fazer o que quer porque não importa. É uma forma de diminuir a importância da humanidade pra você. As pessoas são importantes e uma forma de se conectar verdadeiramente com elas é dividir seus interesses e gostos. Você quer fazer a pessoa entender o porque você acha que aquilo que você gosta é relevante. De uma forma temos que quebrar esse pensamento que é ofensivo julgar o gosto das outras pessoas. Quando percebemos que não é ofensivo mas na verdade um elogio, então chegaremos ao ponto que cresceremos muito mais com tudo isso.