o lazer da crianÇa sob dois olhares · pesquisas sobre o tema, ... perguntar o que gera nestas...

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O LAZER DA CRIANÇA SOB DOIS OLHARES: Da História e do Direito

Autora: Mônica de Souza Coelho1

Cláudia Madruga Cunha2

Resumo

O presente artigo visa apresentar os resultados obtidos com o Projeto “O lazer da criança sob dois olhares: da História e do Direito”, desenvolvido no Programa de Desenvolvimento Educacional, turma de 2012, aplicado em uma turma de 6.º ano, partindo da problemática constatada no ano escolar em questão – turmas consideradas barulhentas, agitadas, de alunos com dificuldades de aprendizagem e socialização. Sendo o “lazer” direito fundamental da criança, a proposta foi a de relacionar conteúdos da disciplina de História com o lazer, visando à socialização, à interação do aluno de sexto ano, melhorando o processo de ensino e aprendizagem. A implementação deste Projeto foi feita no Colégio Estadual Prof. Guido Arzua, na cidade de Curitiba, PR. Para o desenvolvimento do Projeto foram realizadas pesquisas sobre o tema, rodas de conversa, levantamento de diagnóstico sobre a rotina de lazer, entrevistas com pais/avós, oficinas contemplando o resgate de brincadeiras e jogos, confecção de brinquedos com material reciclado, gincana interativa contemplando as várias modalidades de lazer e a sua ligação com a História. Para finalizar, os materiais foram expostos na escola para conhecimento do trabalho realizado.

Palavras-chave: Criança. Lazer. Interação. História.

1 Professora Graduada em História pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Jacarezinho, PR; graduada em Geografia pelas Faculdades Integradas de Ourinhos, SP. Lato-senso em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho, PR. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – 2012/2013 – SEED/PR. 2 Professora Doutora Cláudia Madruga Cunha, Universidade Federal do Paraná, UFPR.

Abstract

This article presents the results obtained with the Project “Leisure child under two looks: the History and the Law”, developed at the Educational Development Program, class 2012, applied to a class of 6th year, leaving the problems found in school year, classes are considered noisy, bustling, with learning and socialization. Being the “leisure” fundamental right of the child, among other proposal was to relate course content of history with leisure, aiming to socialization, student interaction in six year pro the teaching and learning process. This project was implemented in the State College Professor. Guido Arzua in the city of Curitiba. Surveys were conducted on the topic, conversation circles, diagnostic survey on routine leisure, interviews with parents / grandparents, workshops contemplating the rescue of play and games, making toys from recycled materials, interactive scavenger hunt contemplating the various forms of leisure and its connection to history and to finalize the materials were displayed in the school for knowledge work.

Keywords: Child. Leisure. Interaction. History.

As mudanças tecnológicas, culturais e sociais exigem uma formação

diferenciada para a criança deste século, que vá além da justaposição de conteúdos.

Problematizando o ensino de História e na busca de encontrar caminhos para

trabalhar com alunos considerados indisciplinados, desinteressados e com déficit de

aprendizagem, se construiu um projeto no qual se pesquisou, se desenvolveu e

experimentou um trabalho de intervenção pedagógica, tendo por tema o “lazer”.

Analisando a fase ou processo de conhecimento pelo qual passa a criança

que está no sexto ano, tornou-se necessário alertar para este tema sob dois

aspectos: o lazer da criança sob o olhar História e o lazer sob o olhar Direito. Da

História, por despontar como contingência para muitas reflexões, entre elas, a

maneira de como nos relacionamos com a criança e de que forma são consideradas

suas necessidades essenciais; do Direito, pela valorização do “lazer” enquanto

direito fundamental da criança previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, o

qual representa um importante avanço na garantia destas, mas que ainda carece de

legitimação por parte da sociedade tendo em vista a falta de esclarecimento

principalmente no sentido de se conhecer suas diretrizes e princípios, além de as

políticas públicas estabelecidas não atenderem de fato as necessidades condizentes

com tal direito.

Apoiada nestas duas perspectivas se busca intervir principalmente neste

cenário de passagem, de mudança nos aspectos estruturais e psicossociais da

aprendizagem pelos quais passa o aluno/a de sexto-ano, relacionando conteúdos da

disciplina de História com atividades de lazer. A ideia deste trabalho visa à

motivação, socialização e interação no ambiente escolar.

Retomando ao que foi exposto, esta intervenção buscou, na questão do lazer,

um meio para agir sobre o desconforto profissional de trabalhar com alunos do sexto

ano. Alunos que pela faixa etária e fase de desenvolvimento físico e emocional

costumam ter um perfil - apontado por seus professores – como sendo de

barulhentos, agitados e difíceis de trabalhar.

O comportamento do aluno/a de sexto ano fica estigmatizado na escola, como

um grupo difícil de trabalhar. Entretanto, olhando a questão mais de perto é de se

perguntar o que gera nestas crianças tais comportamentos? Por que, de um

momento para outro, esse comportamento infantil se altera? Não estaria a forma

organizacional da escola interferindo neste comportamento inquieto?

Deslocando-nos para o lugar da criança o que se percebe é que esta se

encontra em nova fase escolar, algumas vezes em uma nova escola. Este espaço

de sala de aula ou de escola nova, com outra dinâmica, ainda se apresenta

construído em cima de uma tradição disciplinar onde se acrescem e se fragmentam

os conteúdos, sem muitas vezes fazer sentido para quem está inserido neste

espaço. Afetivamente ou do ponto de vista da relação entre professor e aluno/a vai

se impondo uma distância, resultado da rotatividade de profissional em função da

troca de conteúdo, alterando assim a rotina de aprendizagem deste aluno. Nesta

rotina e formato educacional, constata-se que o lúdico não está tão presente.

A diversificação dos conteúdos, o entra e sai de professores na sua sala de

aula, o acréscimo da distância afetiva entre o aluno e o professor vai estabelecendo

ou gerando no aluno o “ganho” da autonomia e, por conseguinte, o aumento da

carga de responsabilidades e de afazeres escolares. O processo de transição física

se instala, trazendo-lhe novos horizontes psíquicos. Neste período, estes alunos vão

deixando a infância lúdica, mas enquanto crianças que ainda são, se aproximam de

um outro modo do mundo adulto.

Com tantas mudanças e tarefas nessa fase escolar, reduz-se o “lazer” e o

tempo de brincar fica limitado à TV, à internet, e a energia que deveria ser gasta

com brincadeiras saudáveis fica acumulada.

Entretanto, quer se defender aqui junto à perspectiva de alguns autores como

Marcellino, Del Priore, Ariès, que o lazer é uma peça fundamental para o exercício

da infância. Logo, ao reconhecer que o comportamento inquieto da criança no

ambiente escolar reduz seu desempenho, surge o questionamento a respeito de que

se tal ação - vinda do coletivo de pequeninos - não se deve então a pouca presença

do lazer e do lúdico no ambiente escolar.

As leituras dos autores citados tornaram mais claras o caminho da

intervenção, mostraram a necessidade de se fazer uma ação dirigida que tivesse por

ponto de partida o “lazer”, objetivando promover na escola um espaço de

socialização, integração, interação e criatividade.

Segundo Marcellino (2002), é fundamental que o caráter lúdico do lazer seja

vivenciado pela criança, como uma atividade prazerosa, que proporcione a felicidade

e a satisfação. Este mesmo autor observou que:

O lazer não pode mais ser encarado como atividade de sobremesa ou moda passageira. Merece tratamento sério sobre suas possibilidades e riscos. Nesse sentido, proponho considerá-lo não como simples fator de amenização ou alegria para a vida, mas como questão mesmo de sobrevivência humana, ou melhor, de sobrevivência do humano no homem. (Marcellino, 1995, p. 17)

Como mostra este autor, o lazer é de fundamental importância para o ser

humano, possibilita o relacionamento social, a criatividade e o desenvolvimento

cultural. Incluir o lazer na História está de alguma forma contemplado nas Diretrizes

Curriculares da Educação Básica da disciplina de História (DCE) para os anos finais

do Ensino Fundamental, valendo destacar que:

a depender das políticas públicas em vigor, a escola que se quer deve estar voltada para atender o sujeito, fruto de tempos históricos e das relações sociais em que está inserido, objetivando construir uma sociedade justa, onde as oportunidades sejam iguais para todos. (Paraná, 2008, p. 14)

Como se vê acima, os conteúdos estruturantes contidos nas Diretrizes

Curriculares de História, tais como: Relações de Trabalho, Relações de Poder e

Relações de Cultura podem ser articulados com os conteúdos básicos e específicos.

Nessa brecha é possível se usar a criatividade e construir conhecimentos que,

vindos do passado, decorrentes da ação do homem, possibilitam a compreensão do

presente. No caso de se estar trabalhando com crianças, buscar o que já foi feito

para dar novo sentido ao presente, implica em encontrar novas estratégias de ação

para que em sala de aula a prática pedagógica ocorra de forma mais dinâmica.

Nesta perspectiva, este trabalho de intervenção didático pedagógica, buscou

destacar e reconhecer o lazer como duplo processo educativo. Primeiro pelo fato de

estimular a aprendizagem e segundo, por oportunizar o desenvolvimento pessoal e

social da criança. Conforme o proposto nestas diretrizes “é preciso perceber como

os estudantes compreendem: a experiência humana, os sujeitos e suas relações

com o outro no tempo; a cultura local e a cultura comum” (Paraná, 2008, p. 89).

A história da criança

O historiador Philippe Ariès (2006), que estuda as concepções de criança e

de família, da Idade Média aos dias atuais, destaca que no passado a criança não

era vista como um ser em particular como hoje, assim, por muito tempo foi vista

como um adulto em miniatura. Mostra esse estudioso que “o sentimento de infância

não significava o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da

particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança

do adulto, mesmo jovem” (Ariès, 2006, p. 99).

É interessante refletir que na Idade Média as crianças morriam em grande

número pelas precárias condições de higiene e saúde, e as que sobreviviam

confundiam-se rapidamente com os adultos. Nos primeiros anos de vida a “criança

era paparicada”, mas tratava-se de um sentimento superficial; além de que as

pessoas se divertiam com elas como se os pequenos fossem animais de estimação.

Quanto às brincadeiras e jogos, vale ressaltar que, não havia uma separação

como nos dias de hoje, ou seja, os mesmos jogos e brincadeiras eram comuns a

crianças e adultos. Segundo Ariès (2006), “dentre os brinquedos habituais dos

pequenos estavam o cavalo de pau, pião, jogo de malha, mímicas, e jogos de salão

que consistiam em adivinhar as profissões e histórias”.

Já resgatando o ocorrido entre os séculos XVI e XVII, pode-se dizer que há

uma mudança no conceito de família na sociedade. Na expectativa de Ariès (2006)

esta alteração se deu em virtude da Revolução Industrial, pois a partir daí a infância

torna-se o centro do interesse educativo dos adultos. Entretanto, o autor faz a

ressalva de que as crianças, nesta fase da história, são separadas dos adultos e

mantidas à distância nas escolas. Segundo o autor, nestas instituições a infância

deixou de ser livre e passou a ter um regime disciplinar bem rigoroso, resultando no

enclausuramento total do internato e nas ordens religiosas, que se dedicaram ao

ensino de crianças e jovens.

Entre os séculos XVIII e XIX os mestres tenderam a submeter o aluno a um

controle cada vez mais restrito. Chegou-se a aumentar os efetivos outrora

excepcionais dos internos, o que fez com que a instituição ideal do século XIX fosse

o internato, e mesmo um liceu, um pequeno seminário, um colégio do Ancien

Régime, de caráter moderno, já anunciavam - naqueles tempos – nossos

estabelecimentos secundários contemporâneos (Ariès, 2006, p. 127).

A família começa então a se organizar em torno da criança. Os pais se

interessam pelos estudos de seus filhos e os acompanham com intensidade, e

diferentemente do passado medieval, a afeição entre pais e filhos passa a ter um

novo sentido. As crianças ganham roupas específicas que as distinguem dos

adultos, significando uma mudança de atitude dos adultos em relação às crianças.

O brincar como atividade de lazer

Retomando a questão do resgate do lazer na escola atual, especialmente a

do lazer no ensino de História para alunos de sexto ano, se diz com Moyles (2002)

que o brincar é uma das atividades mais presentes na infância. Assegura este autor

que a brincadeira é o momento em que são construídas as capacidades e as

potencialidades da criança. Já Marcellino (2002) vai dizer que brincar é uma

atividade de lazer da criança, porém, no dia a dia da criança este ato está reduzido,

como constata ao afirmar que:

Seria muito bom que o período da infância continuasse a ser o domínio do lúdico, do brinquedo, da brincadeira, enfim de criança de uma cultura. Mas o que ocorre é que, até mesmo para a criança, as atividades lúdicas vêm sendo, cada vez mais precocemente, subtraídas do cotidiano. (Marcellino, 2002, p. 36)

Tal como foi colocado anteriormente numa breve historia da infância, na qual

se visualiza o aumento da disciplina na educação dos infantis e o abandono gradual

do lúdico, pode-se observar que as considerações deste autor alertam para vários

fatores a diminuição do brincar e do lúdico na infância. Entre estes se aponta na

escola de hoje as questões socioeconômicas, onde há crianças em situação de

pobreza e de carência afetiva e que demanda de atividades escolares diferenciadas.

Destaca-se ainda a necessidade de oportunizar a elas, desde cedo, o contato com

lúdico uma vez que as mesmas têm uma série de obrigações em casa, enquanto

outras – em situações diferenciadas - tem seu tempo reduzido pelos compromissos

com atividades extra-classe.

Marcellino (2002) enfoca ainda a importância do brincar enquanto lazer, por

contribuir com o processo de socialização e em especial por ser uma atividade

gostosa, prazerosa, que proporciona a felicidade.

Através do prazer, o brincar possibilita à criança a vivência da sua faixa etária e ainda contribui de modo significativo, para sua formação como ser realmente humano, participante da sociedade em que vive, e não apenas como mero indivíduo requerido pelos padrões de “produtividade social”. (Marcellino, 2002, p. 38).

Ainda, para o autor é fundamental que o caráter lúdico do lazer seja

vivenciado pela criança, de forma a despertar a criatividade, a participação cultural e

o desenvolvimento pessoal.

A importância do lazer como atividade educativa

Voltando ao cenário onde esta intervenção pedagógica se desenvolveu, pode-

se dizer que resgatar o lazer na escola implica ou apresenta um leque de

possibilidades. Dentre essas o teatro, cinema, passeios, o brincar, leitura, esporte,

capazes de estimular a construção do saber, da autonomia e da criatividade.

Elegeu-se como ponte entre a História, o lazer e o direito, ao construir brincadeiras

que motivassem o aluno de forma intencional, com o uso de informações que se

transformam em aprendizagem.

Marcellino (2002) considera o lazer um veículo capaz de conduzir à criança à

aprendizagem, ao desenvolvimento social e cultural.

Além do divertimento e do crescimento pessoal, o autor destaca ainda

oportunidades importantes proporcionadas pelo lúdico para uma melhor

aprendizagem:

Se o conteúdo das atividades de lazer pode ser altamente “educativo”, também a forma como são desenvolvidas abre possibilidades “pedagógicas” muito grandes, uma vez que o componente lúdico, do jogo, do brinquedo, do faz-de-conta, que permeia o lazer é uma espécie de denúncia da “realidade” deixando clara a contradição entre obrigação e prazer. (Marcellino, 2001, p. 14)

Ressalta também a importância do lazer como atividade educativa, entretanto,

muitas brincadeiras e jogos tradicionais estão desaparecendo por conta dos

brinquedos industrializados, da televisão, e ainda pela facilidade de acesso aos

jogos da internet. Cabe destacar que a criança precisa ter tempo e espaço para o

lazer, para o exercício de direitos, de possibilidades de reunião entre as crianças e

de brincadeiras coletivas, como forma de desenvolvimento e aprendizado da vida

em sociedade (Marcellino, 2002).

A criança e seus direitos fundamentais

Resgatar o lazer nas aulas de História no Ensino Fundamental para turmas

de sexto ano viabiliza um destaque à Constituição Brasileira de 1988, que, em seu

capítulo VII, Art. 227, assegura à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade,

o direito à vida, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,

à dignidade, ao respeito, como sendo dever da família, da sociedade e do Estado

(Brasil, 1988).

Também possibilita dar destaque ao Estatuto da Criança e Adolescente uma

vez que a Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990, denominada, dispõe:

Art. 4.º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do

poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos

referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao

lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e

à convivência familiar e comunitária. (Brasil, 1990)

Neste sentido, esta intervenção tematiza e valoriza o “Estatuto da Criança e

do Adolescente” enquanto lei que reforça os direitos conquistados pelas crianças e

adolescentes, as quais necessitam de um tratamento diferenciado no conjunto de

direitos, já que em decorrência de sua “imaturidade física e mental, precisam de

proteção e cuidados especiais” (Preâmbulo da Declaração dos direitos da Criança,

1959).

O trabalho que se faz na escola muitas vezes não permite perceber que o

lazer é direito social da criança. Logo, incluí-lo torna-se importante uma vez que

pode ser “concebido como componente funcional imprescindível ao equilíbrio social,

garantindo condições adequadas ao trabalho e contribuindo para a formação moral

dos indivíduos” (Marcarenhas, 2004, p. 19).

Dando destaque à relação criança e lazer, Marcellino (2002) dirá que no

cotidiano da sociedade brasileira presencia-se, vinculada à criança, a discriminação,

a exploração, a violência, a crueldade e a opressão, e que a questão do direito da

criança ao lazer, ao brinquedo, à festa, à alegria, não tem se efetivado enquanto

ação política.

Marcellino (2002) chama a atenção para a Declaração dos Direitos da

Criança, aprovada pelas Nações Unidas em 20 de novembro de 1959. O documento

destaca que: “A criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras os quais

deverão estar dirigidos para educação; a sociedade e as autoridades públicas se

esforçarão para promover o exercício deste direito”. Chama a atenção também para

a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que enuncia em seu princípio 7.º que

“a criança deve ter plena oportunidade para brincar e para se dedicar a atividades

recreativas”; e para o Art. 4.º da “Carta do Lazer” (1976), redigida durante o

Seminário Mundial do Lazer, em Bruxelas:

A família, a escola e todos os educadores têm papel determinante a desempenhar quando da iniciação da criança numa atividade lúdica e ativa de lazer, no qual a freqüente contradição entre o ensino e a realidade necessita ser eliminada. (Carta do Lazer apud Marcellino, 2002, p. 39)

É preciso lembrar sempre que o “lazer” é direito fundamental da criança e que

é dever de todos assegurar esse direito. Logo, este resgate propõe a reflexão, bem

como instiga associar o lazer à ideia de conscientização. Para Mascarenhas (2004,

p. 104), as atividades de lazer têm um papel importante na vida do sujeito, pois

possibilitam a sua inclusão na realidade de um grupo, transformando cada integrante

em “sujeito coletivo que cria e recria sua própria prática”.

Resgatando o lúdico na escola

Após valorizar com os autores a importância do lúdico na vida da criança, e

na tentativa de intervir no cenário escolar relata-se que construiu um material

didático objetivando implementar algumas ações em conformidade com as Diretrizes

Curriculares de História nas quais se articulou conteúdos curriculares com a

construção de conhecimentos, possibilitando compreender o presente através do

passado. E, além disso, pela afinidade do tema “Lazer” com as disciplinas de Arte e

Educação Física, as atividades ocorreram de forma interdisciplinar.

Na expectativa de se inserir na disciplina de História a relação entre o saber e

a infância se organizou os seguintes passos: inicialmente foi preparado todo material

a ser utilizado em sala (texto impresso, matérias, jornais, figuras). Em seguida, por

intermédio do professor PDE, os alunos tomaram conhecimento sobre a

implementação do Projeto e a importância da participação de todos para que os

objetivos fossem atingidos.

A partir de então, foram selecionados textos das leituras realizadas pelo

professor de autores como Ariès, Del Priore, Marcellino e colocados à disposição

dos alunos para a leitura e compreensão. Além disso, se realizou pesquisas na

internet sobre o tema Lazer, origem, tipos e importância. Depois foi organizada uma

roda de conversa para discussão, socialização e interação.

Fazendo o resgate histórico, foi proposta uma atividade individual na qual os

alunos – tendo em mãos um questionário de pesquisa – se colocariam no papel de

entrevistadores, tendo de entrevistar um membro da família com mais idade para

conhecer como eram os brinquedos, brincadeiras e o lazer na época em que eles

eram crianças. O resultado das pesquisas foi compartilhado com a classe.

Em seguida foram selecionados alguns brinquedos e brincadeiras para uma

pesquisa sobre a sua origem histórica. Feita a pesquisa sobre a origem das

brincadeiras, realizou-se uma oficina contemplando o resgate dessas brincadeiras,

sendo que nesse momento ocorreu a interação, a socialização e o respeito. Ainda

houve mais um momento de interação dos alunos com a família, que juntos

confeccionaram um brinquedo com materiais que iriam para o lixo.

Depois foi realizada uma gincana interativa contendo dez provas, entre elas:

confeccionar um cartaz sobre o lazer, apresentar um brinquedo e sua história,

dramatizar uma história infantil, cantar uma música infantil, contar um momento de

lazer inesquecível. Para finalizar os trabalhos, foram organizados cartazes,

fotografias e brinquedos, desenvolvidos no decorrer da implementação do Projeto e

expostos na escola para que todos pudessem conhecê-los.

Além disso, no curso de Formação Continuada para professores que

acontece na Semana Pedagógica, foi possível compartilhar com os professores e

funcionários do Colégio Estadual Prof. Guido Arzua o projeto e a implementação das

ações realizadas junto aos alunos. Nessa ocasião foi desenvolvida com os

presentes uma gincana interativa contemplando as mesmas provas realizadas com

o grupo de alunos do projeto, visando a interação e socialização entre direção,

professores e funcionários. O resultado foi muito satisfatório, motivo pelo qual foi

sugerido que essa ação fosse estendida a todas as turmas do Colégio dos períodos

matutino e vespertino, a qual também foi realizada com êxito.

Coletivizando com colegas esta intervenção

Em momento próprio possibilitou discutir com os colegas a relevância do

Projeto e a prática pedagógica em sala de aula. As reflexões e opiniões

apresentadas pelos cursistas participantes permitiram enriquecer e validar o

trabalho3. Esta formação foi desenvolvida em três etapas: a primeira objetivou-se

discutir a relevância do Projeto de Intervenção Pedagógica na escola, a segunda a

viabilidade da Produção Didático-Pedagógica, bem como as questões teórico-

metodológicas abordadas e a terceira etapa foi discutida a aplicabilidade das ações

propostas.

Os colegas participantes debateram, opinaram, compartilharam de

experiências e interagiram de forma colaborativa para que as trocas de informações,

sugestões, propiciassem a efetivação e o enriquecimento do tema problematizado.

Dentre as abordagens apresentadas, vale ressaltar que para trabalhar com o

alunado de sexto ano – em que se considera que grande parte dos alunos apresenta

um comportamento inadequado, que compromete o processo ensino e

aprendizagem – é preciso a participação de todos: pais, professores, direção e

equipe pedagógica; e ofertar metodologias diferenciadas de forma que venha

contribuir para o sucesso desse aluno.

Assim, o lazer considerado direito fundamental da criança deve ser explorado

de maneira que auxilie o processo ensino-aprendizagem e também que se promova,

no ambiente escolar, uma convivência harmoniosa entre aluno-aluno, aluno-

professor.

Considerações finais

Após a implementação do Projeto e análise de seus resultados, ficou claro

que é fundamental utilizar metodologias diferenciadas nas aulas de História, assim

como é importante e interessante o lúdico aliar-se ao conteúdo, de forma que

promova em sala de aula a socialização, a interação e a integração em benefício do

processo ensino e aprendizagem.

Também, pode-se afirmar que o Projeto foi implementado com sucesso, o que

foi verificado pela participação e desempenho dos alunos participantes ao

demonstrarem interesse por atividades de pesquisa e pelas atividades propostas já

3 Grupo de Trabalho em Rede (GTR), atividade prevista no Plano Curricular Integrado de Formação Continuada do PDE, ambiente virtual de aprendizagem.

mencionadas. Assim, a aplicação das ideias sugeridas pelo Projeto oportunizou aos

alunos do sexto ano D momentos de descontração, fazendo-os perceber que

aprender também pode ser algo muito prazeroso.

Por fim, vale ressaltar que este Projeto levou também a refletir que o “lazer” é

direito fundamental da criança e que é dever de todos assegurar esse direito,

inclusive do Estado, que tem a função de suprir a carência de políticas públicas na

área social bem como atender as demandas de atividades recreativas e de lazer,

especialmente as necessidades da população em situação de vulnerabilidade social

e econômica.

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