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O livro – reportagem como extensão da literatura e da história
Rosselane Giordani (FAG)
Resumo: Jornalismo e literatura um diálogo possível? A resposta para essa questão lança mão
do desafio que é percorrer um caminho que parece inevitável: traçar paralelos, identificar
semelhanças, aproximações e distanciamentos entre estes dois gêneros discursivos. A proposta
é investigar a convergência entre jornalismo e literatura, suas confluências, bem como os
efeitos discursivos produzidos na memória coletiva acerca das histórias narradas no livro-
reportagem/biografia jornalística - Getúlio. Do Governo Provisório à ditadura do Estado Novo
(1930-1945), do jornalista Lira Neto. O caminho metodológico será percorrido a partir das
noções acerca do Novo Jornalismo e seus elementos essenciais que se manifestam na biografia
jornalística, aqui também entendida com um livro-reportagem. Para contemplar as inquietações
que se avolumaram, é necessário trabalhar na busca bibliográfica em três grandes campos:
literatura, jornalismo e história. O objetivo deste estudo foi traçar alguns paralelos entre as
técnicas que permeiam o fazer histórico e também o do jornalismo, que em alguma medida
também produz por meio do seu discurso uma narrativa histórica. A biografia em análise traz
elementos que podem ser vistos como indícios na confluência dos fazeres discursivos e ao
mesmo tempo traz a tona uma narrativa permeada por estratégias próximas a narrativa literária.
Palavras chave: jornalismo literário; livro-reportagem; literatura; memória; história
Abstract: Journalism and literature a possible dialogue? The answer to this question lays claim
to the challenge that will be to walk a path that seems inevitable: to draw parallels, to identify
similarities, approximations and distances between these two discursive genres. The proposal
is to investigate the convergence between journalism and literature, its confluences, as well as
the discursive effects produced in the collective memory about the stories narrated in the book
/ journalistic biography - Getúlio. From the Provisional Government to the dictatorship of the
New State (1930-1945), by the journalist Lira Neto. The methodological path will be traced
from the notions about the New Journalism and its essential elements that are manifested in the
journalistic biography, here also understood as article-book. In order to contemplate the
anxieties that have arisen, it is necessary to work on the bibliographical search in three great
fields: literature, journalism and history. The purpose of this study was to describe some
parallels between the techniques that permeate the historical and the journalism making and
also that of journalism, which to some extent also produces through its discourse a historical
make. The biography in analysis brings elements that can be seen as clues in the confluence of
the discursive actions and at the same time brings to the fore a narrative permeated by strategies
close to the literary narrative.
Keywords: literary journalism; book-report; literature; memory; history.
Introdução
O diálogo entre história, literatura e jornalismo entendidos neste estudo como campos1 de
saber discursivos entrelaça não somente modos e formas de compreensão do mundo em uma
dinâmica de transversalidade de saberes, mas conecta especialmente um esforço teórico para
compreender os limites e as fronteiras de seus territórios. Desse modo, para investigar as
convergências possíveis entre eles e perceber contornos que levam a confluência de suas
narrativas, é necessário anteriormente problematizarmos a partir de que noção de história
estaremos ancorando nossas discussões, a partir de que noção de literatura e jornalismo
referenciaremos a trama dessa análise.
Compreende-se, então, que história, literatura e jornalismo ancoram-se em um elemento
comum: a narrativa, compreendida como uma das bases de legitimação enquanto saberes,
formas de conhecimento e apreensão do mundo. Narrativa aqui entendida como uma produção
cultural, como “uma resposta diante do caos”, um modo de dar sentido à relação social,
conforme Medina.
Uma definição simples de narrativa é aquela que a compreende como uma
das respostas humanas diante do caos. Dotado da capacidade de produzir
sentidos, ao narrar o mundo, o sapiens organiza o caos em um cosmos. (...)
Sem essa produção cultural – narrativa – o humano ser não se expressa, não
se afirma perante a desorganização e as inviabilidades da vida. Mais do que
talento de alguns, narrar é uma necessidade vital (MEDINA, 2006, p.67).
As narrativas são, então, construções discursivas sobre a realidade humana. O mundo passa
a existir na medida em que as pessoas falam, descrevem, relatam e discutem sobre ele, na
medida em que organizam representações mentais sobre ele, conforme Motta (2007). A partir
dessa perspectiva é possível afirmar que a narrativa é produto daquele que narra e que está
atribuindo sentido ao caos por meio de sua organização em forma de discurso. Deste modo, a
narrativa enquanto discurso está submetida às inferências do narrador, do seu contexto sócio-
histórico. Ou seja, a narrativa traduz um olhar sob o tempo, uma trama enredada que forma o
“tecido da história”. Perspectiva essa adotada por Paul Veyne (2008) que defende que a história
1 O conceito de campo que é utilizado nesse texto advém, estruturalmente, da definição de Pierre Bourdieu (1983,
p. 122) de campo científico, entendendo-o como o lugar, o espaço de jogo de uma disputa pela autoridade
científica, definida como uma capacidade técnica e poder social; ou pela competência científica, compreendida
enquanto capacidade de falar e de agir legitimamente.
passaria pela armação de uma intriga. “Os fatos não existem isoladamente, no sentido de que
o tecido da história é o que chamaremos uma intriga, uma mistura muito humana e muito pouco
“científica” de causas materiais de fins e de acasos; numa palavra, uma fatia de vida, que o
historiador recorta a seu bel-prazer (Ibidem, p.48).
Ao pensar a história em tais termos, Veyne aponta a responsabilidade do historiador como
sendo aquele que tece a intriga na escolha daquilo que deve figurar como parte do enredo, e
isto contra todas e quaisquer pretensões “positivistas” de que toda a história já esteja contada
nas fontes. De acordo com o autor, a história é uma narrativa de eventos, constatação que, para
ele, define todas as outras produções do fazer histórico. Partindo dessa noção, ele não hesita
em estabelecer relação próxima entre o texto na história e também a produção textual na
literatura. Veyne vai dizer também que como o romance, a história seleciona, simplifica,
organiza, faz com que um século caiba numa página (VEYNE, 1982, p. 11-12). Seu argumento
está apoiado na constatação de que a investigação na história, portanto o trabalho do
historiador, não se dá de forma integral, com a apuração profunda no local dos acontecimentos,
mas “sempre incompleta, por documentos ou testemunhos, ou seja, por indícios, os mesmos
que revelam escolhas, olhares, narrativas. Do mesmo modo, o exercício narrativo do jornalismo
ao produzir seu discurso também seleciona, organiza e recorta fatos/acontecimentos fazendo
com que histórias ‘caibam’ em páginas de jornais. Essas narrativas da vida cotidiana no viés
do jornalismo, também se tornam registros históricos que vão compor a percepção de realidade
de uma determinada época.
História e literatura: fronteiras invisíveis
Partir do princípio de que a história também se constitui e se organiza como uma narrativa
nos leva a observar que nela há a presença de um narrador, que media aquilo que viu ou ouviu
falar e por sua vez irá contar a terceiros, produzir representações. Essa voz narrativa organiza
o acontecimento, apresenta os personagens, conferindo-lhe uma lógica que se desdobrará em
um ‘efeito de real’ ou de representação daquilo que aconteceu. Nesse movimento de mediação
a história transita nos limites de uma ficção controlada. “Porque a história aspira a ter, em sua
relação de representância com o real, um nível de verdade possível. Se não mais aquela verdade
inquestionável, única e duradoura, um regime de verdade que se apoie num desejável e íntimo
nível de aproximação com o real (PESAVENTO, 1999, p.820).
O diálogo entre a literatura e a história está posto num processo que dilui fronteiras, ao passo
que o texto histórico comporta a ficção tendo em vista sua acepção de escolha, recorte e
ordenamento de modo a dar sentido. Estas atividades estão intrinsicamente ligadas à
capacidade de imaginação que se move para a recriação e construção de um passado, de modo
a representá-lo. Nesse processo de ‘ficção controlada’, como bem denomina Pesavento (1999),
o discurso histórico recria a partir dos vestígios do passado, conferindo-lhe o status de
acontecido. Esse esforço de ‘produzir um discurso de verdade’ que é exterior ao já acontecido
tomamos como a produção de um ‘efeito de real’. Ao analisar obras históricas como de
Capistrano de Abreu e do romancista José de Alencar ela vai dizer que o primeiro comporta
aquilo que ela denomina de ‘ficção controlada’, ao mesmo tempo que a obra Iracema de
Alencar, de ficção literária, aproximou-se do real ao cercar-se de estratégias documentais de
veracidade, e assim diluindo as fronteiras entre a história e literatura.
O historiador Carlo Ginzburg (1989) vai afirmar que o ofício do historiador é constituído
pela busca incessante de provas, indícios e sinais, enfim, das pistas, por mais microscópicas
que estas sejam. Por outro lado Sevcenko (1999) diz que a literatura é um produto do desejo,
seu compromisso maior é mais com a fantasia do que com a realidade. Observando-se a partir
dessa lógica de distanciamento entre história e literatura Rocha (2011) rejeita a insinuação de
que o historiador seja ficcionista constrangido, já que tal insinuação representaria, na
perspectiva do autor, uma precipitação semelhante à crença positivista na relação fiel dos fatos,
o que seria a mesma ingenuidade, ainda que em direção oposta. Para Rocha, a diferença entre
história e literatura está na forma como cada área desnuda suas ficcionalidades. “O pacto
ficcional proposto pelo romancista, e aceito pelo leitor, tem como base a aceitação da
verossimilhança interna à obra, em lugar da imposição de uma coerência externa a ela,
teoricamente submissa ao que se pôde reconstruir de um momento histórico determinado”
(ROCHA, 2011, p. 13). A partir desses intercâmbios possíveis entre os territórios da literatura
e da história partimos então para a encruzilhada onde estes se encontram também com o
Jornalismo.
Jornalismo e história: diálogos possíveis
O discurso jornalístico constitui-se numa colagem de vozes e sentidos que contornam os
fenômenos e relações do cotidiano, e configuram uma compreensão das situações tematizadas.
Não é uma compreensão qualquer mas uma forma singular de produção do conhecimento
humano, e isso implica sempre num recorte temático que redesenha o mundo social, a partir de
um determinado enfoque e abordagem desses eventos. O jornalismo transporta uma concepção
do mundo, uma compreensão dos fenômenos e relações pautados pelos media. Nessa
perspectiva, os acontecimentos não possuem significações unívocas “em si”: são as narrativas
sobre eles, tanto as formuladas pelos sujeitos históricos quanto as elaboradas pelos
historiadores e jornalistas, que dão origem às múltiplas interpretações a respeito dos eventos.
A matéria do jornalismo seria então a própria vida, como substância plausível e
demonstrável, parte do cotidiano e das microhistórias das sociedades humanas, seguindo nessa
perspectiva volta-se o olhar para universos particulares, ou melhor, para a ‘história vista de
baixo’ como defende Peter Burke (1992) na perspectiva da Nova História. Esse movimento
não valoriza a história total, mas a história dos pequenos acontecimentos, localidades, aspectos
inicialmente tratados como periféricos, como a história da leitura, história da feminilidade,
história do corpo, a história interessada em toda atividade humana. Se encararmos isso como
um novo objeto para a ciência da história e, por sua vez, o estabelecimento de outras narrativas,
encontramos também no jornalismo exemplares de textos que não deixam de estabelecer
conexões com um discurso histórico, mas que toma como objeto de sua narrativa histórias do
ponto de vista dos personagens, dos atores sociais.
No Brasil, por exemplo, o texto exemplar disso e que inaugurou uma tradição de
microrelatos é a obra “Alma encantadora das ruas”, de João do Rio, pseudônimo do jornalista
Paulo Barreto. Ele opta por mostrar o lado pequeno das transformações que a cidade do Rio de
Janeiro vivenciou com o advento de uma reforma urbana, fruto da República recém-instalada
no país. João do Rio faz um mosaico de cenas em terreiros de candomblé, cortiços, zonas de
prostituição, mesas de espiritismo. Esse jornalista-escritor expoente nos anos de 1920 colocou
em evidência o encontro entre jornalismo, história e literatura. Sua obra compõe o mais
importante registro do contexto das transformações do início do século XX no Brasil.
Burke defende, por exemplo, que uma boa contribuição que a literatura pode dar para a
história são narrativas que valorizam vários pontos de vista. É o que faz o jornalista americano
John Hersey, no livro “Hiroshima”, que relata a partir do ponto de vista de seis personagens
diferentes a tragédia da bomba atômica que arrasou a cidade e matou milhares de pessoas.
Hiroshima é uma espécie de Cidadão Kane do jornalismo. Como o filme de Orson Welles, esse
texto lidera todas as listas de "melhor reportagem" já escrita. A reportagem que se tornou livro
é um dos mais importantes relatos históricos sobre a tragédia que destruiu a cidade, e a vida de
milhares de pessoas no pós-guerra no Oriente. Esse é outro exemplo onde se cruzam
jornalismo, história e porque não dizer literatura, quando o jornalista se apropria da linguagem
literária e constrói uma narrativa que podemos nominar de literatura de fatos, de
acontecimentos reais, construída a partir da metodologia de apuração e investigação jornalística
para reportar a história do acontecido.
O encontro com a literatura
Na tentativa de compreender os limites fronteiriços, assim como os hibridismos discursivos
inerentes à literatura e jornalismo observa-se que a linha que contorna esses espaços nem
sempre foi tão definida. Em alguns momentos, jornalismo e literatura deixam de ser gêneros –
ou campos – estanques para ocupar um espaço que seria do outro, produzindo uma mescla de
gêneros. No caso específico da relação entre o discurso jornalístico e o discurso literário, é o
que Resende (2002) chama de encontro das águas, ou seja, uma construção textual capaz de
unir a ficção e a fantasia da literatura, com a objetividade informativa e a factualidade do
jornalismo.
Rapidamente retomamos aqui, sem a pretensão de esgotar o assunto, aspectos históricos que
compõem esse ‘encontro das águas’. A reflexão sobre as aproximações entre jornalismo e
literatura começa no início da era moderna, a partir do século XVI. Tanto o jornalismo quanto
a literatura moderna surgiram como parte do discurso da modernidade e da multiplicidade. A
ascensão da burguesia e a valorização do indivíduo na era moderna levaram à necessidade de
representação desse grupo múltiplo e crescente de leitores. A aproximação entre literatura e
imprensa fortaleceu-se devido, principalmente, aos avanços tecnológicos ocorridos em meados
do século XIX e dos episódios político culturais deles decorrentes. A segunda Revolução
Industrial na Europa representou uma grande evolução, a qual propiciou o lançamento do jornal
diário, da publicidade e, em seguida, da venda do periódico por assinaturas. Com o objetivo de
popularizar a literatura romances-folhetins começaram a ser publicados em jornais nesse
período. Escritores sobreviviam do jornalismo enquanto desenvolviam suas obras. Os livros,
originalmente muito caros, tiveram seus preços barateados, à medida que a revolução industrial
aperfeiçoava as máquinas e as tiragens aumentavam. O folhetim torna-se gênero referencial
para as mais diferentes camadas da população, sobretudo devido ao desenvolvimento de novas
técnicas narrativas e emprego de novos temas por parte dos autores.
No século XIX, literatura e jornalismo vão ser indissociáveis. Os maiores escritores da
literatura universal passaram pela imprensa, não só como jornalistas, mas como cronistas,
escritores de folhetins e romancistas. Este período que vai de 1830 ao final do século pode ser
qualificado como de Jornalismo Literário e se caracterizou pela presença maciça de escritores
nos jornais, que melhoraram a qualidade do texto, produzindo um tipo de informação mais sutil
sobre a sociedade.
A popularização da literatura e do jornalismo alastrou-se rapidamente pelo continente
europeu. A febre do jornalismo literário não tardou a chegar no Brasil. A literatura e a imprensa
no Brasil confundem-se até os primeiros anos do século XX. Muitos jornais abrem espaço para
a arte literária, produzindo seus folhetins, publicando suplementos literários e, assim,
transformando os veículos jornalísticos em indústria periodizadora da literatura da época.
Muitos escritores trabalharam como jornalistas: Machado de Assis foi aprendiz de tipógrafo e
revisor de jornal; Manoel Antonio de Almeida escreveu no Correio Mercantil até 1850;
Gonçalves Dias escreveu para a Revista Popular; Joaquim Manoel de Macedo, na Revista
Popular; Olavo Bilac e Medeiros de Albuquerque, na Gazeta de Notícias e O País, em 1906 e
1907. Ciro Marcondes Filho (2000) considera esse período, compreendido entre 1789 e a
metade do século XIX, “primeiro jornalismo”, época de ebulição de um jornalismo
denominado político-literário.
Após a Segunda Guerra Mundial, a postura dos intelectuais e escritores muda. Os escritores
passam a discutir os problemas do país e tentar, via uma ficção participante, acelerar a
revolução, garantia de uma vida melhor para todos. É o realismo social que irá impulsionar
sobremaneira o jornalismo literário e contribuir para o livro-reportagem moderno. A literatura
brasileira dos anos 1960/70 foi marcada pelos romances-reportagem e por textos
memorialistas, com o mesmo objetivo de registrar a história imediata ou imediatamente
anterior. Nesse período o jornalismo brasileiro foi influenciado pelo New Jornalism dos
jornalistas norte-americanos, que quebraram as técnicas da pirâmide invertida2 e introduziram
um outro tipo de texto noticioso nos jornais e revistas do país. O New Jornalism quebrou a
barreira entre o texto jornalístico e o literário. Tom Wolfe, Gay Talese, Truman Capote,
2 Segundo a técnica jornalística para se produzir um texto de uma notícia é preciso estruturá-la no modelo da
Pirâmide Invertida, que inicia com o lead(primeiro parágrafo) e responde a seis perguntas básicas: que, quem,
quando, como, onde e porque, o famoso lead (3Q+COP). Com essa estrutura não se narra a história de modo
cronológico dos acontecimentos. Isso não significa narrar o acontecido de trás para frente, e sim começar a contar
a história indo direto a que conseqüências algo levou, primando pelo princípio jornalístico da objetividade.
Norman Mailer, John Hersey são alguns dos principais jornalistas do período. Entre as
principais características desse estilo estão: a descrição, a busca pela subjetividade dos
personagens, a exploração de recursos de pontuação, construção cena a cena, uso de diálogos,
narração em 3ª pessoa e registro de gestos e hábitos, além de uso de metáforas, figuras de
retórica e o uso da exposição.
Esse movimento nascido nos anos 60 nos EUA influenciou gerações de jornalistas e
reverberou inclusive no Brasil com produções que mesclam as técnicas literárias e se colocam
como narrativas que esboçam, em certa medida, um olhar histórico sobre pessoas e
acontecimentos. Nessa perspectiva surgiram os livros reportagens3 e as biografias jornalísticas,
como gêneros híbridos que materializam uma ‘outra’ narrativa histórica sobre determinados
fatos e vida de pessoas públicas. Importante aqui destacar que compreendemos a biografia
como um subgênero do livro-reportagem, por compreender que não somente histórias
biográficas podem ser objetos de narrativas em livros-reportagens.
A biografia jornalística em foco
Como corpus desse estudo foi selecionado o 2º volume da trilogia lançada pelo
jornalista Lira Neto - Getúlio: do governo provisório à ditadura do Estado Novo (1930 – 1945).
Conforme Lira Neto (2012) a trilogia está divida por períodos para atender a uma questão de
ordem estritamente didática e de contingência editorial. O primeiro volume abrange desde o
nascimento e seus antecedentes familiares até a sua chegada ao poder em 1930. O segundo
livro, objeto deste estudo, aborda os quinze anos subsequentes até 1945, cobrindo o primeiro
período da Era Vargas, com destaque para a ditadura do Estado Novo. O terceiro e último
volume consiste no “exílio” de Getúlio em São Borja, após sua derrubada pelos militares e a
volta à presidência pelo voto popular, chegando ao trágico desfecho de agosto de 1954.
Passemos agora a olhar para o gênero jornalístico em questão nesse estudo: a biografia4,
que vêm tornando-se popular entre o grande público e vista como fenômenos editorias. Mas a
questão que se coloca é que o enigma que muitos historiadores e jornalistas aceitaram resolver
3 Considera-se um livro-reportagem quando uma obra trata de acontecimentos ou de fenômenos reais e utiliza,
para sua produção, procedimentos metodológicos inerentes ao campo do jornalismo, sem, contudo, descartar certa
nuances literárias. 4Partimos da noção proposta por Vilas Boas (2002) que afirma que biografia significa basicamente a arte de
escrever vidas. Em rigor é a compilação de uma (ou várias) vida(s).
é tentar dar conta da realidade a partir do individual, entendendo a biografia como um gênero
híbrido, uma mescla de ficção e realidade, que produz uma narrativa histórica. Pertinente ainda
assinalar que as biografias acabaram igualmente transformadas com o surgimento de novas
técnicas editoriais que ganharam ênfase pela ascensão do New Jornalism, movimento
revolucionário ocorrido nos Estados Unidos da década de 1960. As biografias começaram a
utilizar elementos literários em seus textos, o que pode ser definido como a aplicação das
técnicas ficcionais a textos de não ficção.
No universo do jornalismo, o jornalista coloca na escrita biográfica as características de
seu ofício que leva em consideração premissas como a investigação/apuração de informações
que irão estruturar seu texto, tendo como elemento estruturante de sua narrativa o universo do
real, do fato, do acontecido. Esse profissional se torna multifacetado, conectando a biografia
com diversas áreas, tornando-se um pouco historiador, romancista e escritor. Para o jornalista
biógrafo, a biografia é um produto de harmonia e discórdia entre a ficção e a realidade e “a
subjetividade do relato e o como dizer esta narrativa se interpõem como imbricações
conflitantes, como na historiografia.” (VIEIRA, 2011, p. 32).
Passemos então para um rápido resumo do corpus desse estudo. A biografia jornalística
analisada reporta um dos momentos históricos e períodos mais estudados e conhecidos da vida
do ex-presidente Getúlio Vargas, começando a partir do êxito do golpe de estado que derrubou
Washington Luís quando o então governador do Rio Grande do Sul assume o governo e se
encerra em 1945, quando é enxotado do poder, após 15 anos na presidência. Como fazer caber
em 500 páginas um período tão rico e dinâmico, eis o desafio para o autor que construiu uma
narrativa vigorosa e recheada de elementos históricos. Na obra é possível encontrar um relato
em pormenores do período de vida mais conhecido e público de Getúlio Vargas. As duas
principais fontes de pesquisa, o diário de Vargas e o relato dos jornais ajudam a construir uma
compreensão do pensamento e o modus operandi do biografado. No posfácio do livro, Lira
Neto relata que o maior desafio para escrever o segundo volume da trilogia foi sintetizar o
grande volume de informações a respeito do intervalo de tempo entre a posse de Getúlio no
Catete e a sua derrubada, por meio de um golpe de Estado em 1945.
É talvez, um dos períodos históricos mais estudados da história brasileira, por
envolver uma série de episódios específicos e, cada um deles, por si só, já
contemplados por uma bibliografia exaustiva e consolidada: a revolta paulista
de 32, o levante comunista de 35, o golpe getulista de 37, o putsch integralista
de 38 e a ditadura do Estado Novo, que sobreviveu até 45. Em nenhum
momento ousei reescrever ou reinterpretar tais acontecimentos, empreitada
que fugiria ao limite de minha competência e ao escopo original deste livro.
Meu propósito, como biógrafo, foi articular o vasto pano de fundo com
aspectos da vida privada do biografado, sobrepondo cotidiano e contexto
histórico, para tentar compreender de que forma essas duas dimensões
interagiram e sofreram influência mútuas (LIRA NETO, 2013, p.493).
No período abraçado por esse volume, o Brasil viveu sua mais profunda transformação
em meio a uma turbulência de inúmeras crises políticas. Foi o período em que o país deixou de
ser um país meramente agrícola exportador basicamente de café e borracha para começar seu
processo de industrialização, principalmente com a siderurgia, quase que uma obsessão de
Getúlio, com bem descreve o livro. Assim como é bastante minucioso descrevendo a revolução
constitucionalista paulista de 1932, a intentona comunista de 1935, o putsh integralista de 1938
e implantação do Estado Novo. Para mergulhar nesse universo o autor percorreu dois conjuntos
de fontes, o primeiro o acervo pessoal de Getúlio, preservado e catalogado pelo Centro de
Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas,
e o segundo núcleo de pesquisa foram os 13 volumes de diários do biografado. Os arquivos do
CPDOC compreendem mais de 4 mil documentos manuscritos e audiovisuais ou impressos, já
o os diários de Getúlio quando foram publicados em livros somam mais de 1200 páginas.
A pesquisa atravessou os documentos oficiais, os diários pessoais do biografado, e
também pelo menos algumas dezenas de livros e pesquisas que tiveram este período histórico
como objeto de estudo. Para construir uma narrativa jornalística-literária Lira Neto não
prescindiu do rigor na apuração das informações e da premissa profissional de se reportar aos
fatos tendo como horizonte a necessidade de reportar algo acontecido, do universo do real, da
história.
O autor se utiliza por inúmeras vezes ao longo da biografia da citação literal de trechos
do diário de Getúlio, reafirmando nesses momentos seu compromisso em retratar fatos
fidedignos e por sua vez componentes de uma narrativa histórica sobre momentos da história
do Brasil. A narrativa histórica, presente na obra Lira Neto, esboça, por exemplo, como a
revolução constitucionalista paulista de 1932 se deu, e de que forma Getúlio lidou com a
situação.
Em dezembro de 1931, sob forte pressão da opinião pública, pedira ao
ministro da Justiça que acelerasse a elaboração de um esboço de legislação
eleitoral, com o qual pretendia aplacar as críticas dos que o acusavam de
querer perpetuar no poder de governar o país ao arrepio das tradições
constitucionais... o movimento popular organizado por ligas pró-constituinte
em todo Brasil vinha concentrando multidões em praças públicas, exigindo a
redemocratização (Ibidem, 2013, p.27).
Sob este episódio o autor ampara-se em relatos publicados em jornais da época como o
Folha da Manhã, que registrou o fato em notícias e fotografias que exibiam o mar de gente
ocupando a Praça da Sé manifestando-se a favor da redemocratização. Na biografia, o autor
narra que o texto do novo código eleitoral encomendado por Getúlio ficou pronto e foi assinado
exatamente no dia 24 daquele ano, não por coincidência a data exata do 41º aniversário da
primeira Constituição republicana brasileira, a de 1891. “Pela primeira vez na história do país
se previa o voto secreto, a participação das mulheres nas urnas e a organização de uma Justiça
Eleitoral (Ibidem, p.27)”.
Os pronunciamentos de Getúlio aos jornais da época também são artifícios recorrentes
usados pelo autor mesclando ora narrativa histórica ora reprodução de discurso do biografado
reproduzido a partir dos seus diários pessoais ou de declarações publicadas na imprensa da
época. No recorte temporal no qual houve as discussões em torno do estabelecimento de uma
Assembleia Nacional Constituinte, Lira Neto narra:
Naquela tarde, discursando do Palácio Tiradentes, as ondas curtas se
encarregaram de remeter a mensagem de Getúlio para longe, aos rincões de
norte a sul do Brasil. O discurso trazia uma boa nova. O Tiradentes, em breve,
voltaria a funcionar. O país teria eleições para uma Assembleia Nacional
Constituinte (Ibidem, p. 625).
Logo em seguida na narrativa, o autor intercala trecho do discurso de Getúlio Vargas
no qual ele faz um elogio ao regime de exceção. Discurso este que foi criticado por editorial
do jornal Folha da Manhã, que o nominou como uma “encenação”, e que havia atraso no
anúncio da medida. No discurso de Getúlio segue:
O período ditatorial tem sido útil, permitindo a realização de certas medidas
salvadoras, de difícil ou tardia execução dentro da órbita legal. A maior parte
das reformas iniciadas e concluídas não poderia ser feita em um regime em
que predominasse o interesse das conveniências políticas e das injunções
partidárias... mas nunca me pretendi me manter indefinidamente no exercício
dos poderes discricionários que a Revolução me delegou. Dentro de um ano,
poderão finalmente realizar-se as eleições (Ibidem, p. 62).
5 Lira Neto referencia, por meio de nota no fim do livro, este episódio baseado em publicação do jornal Correio
da Manhã, 15 de maio de 1932.
Na sequência da narrativa, Lira Neto contextualiza que mesmo com a fixação do
calendário eleitoral isto não fora o bastante para conter a onda de protestos que tomava conta
da capital paulista. E alterna com uma fala de Getúlio para ratificar o contexto histórico
inflamado que o país passava. “A revolução ainda não terminou”, dizia Getúlio (Ibidem, p.63).
Na página 98 o autor registra o início da revolução constitucionalista em São Paulo:
Rebentou em São Paulo um movimento armado contra o governo. Várias
guarnições estão sublevadas... dizem-se constitucionalistas. Mas isso é
pretexto. Há mais de um mês nomeei a comissão para elaborar o anteprojeto
da nova Constituição (Ibidem, p.986).
E narrativa segue registrando outro importante momento no qual pela primeira vez
Getúlio expressa a vontade suicida diante da possível derrocada. “Naquele 10 de julho de 1932,
imaginando que um grupo de militares estava prestes a enxotá-lo do poder, condenando-o
possivelmente ao eterno vexame e à permanente infâmia, Getúlio escreveu um inequívoco
bilhete de suicida (Ibidem, 105).
Na sequencia o narrador traz o discurso reproduzido do bilhete de Getúlio:
Meus intuitos, no exercício do governo, foram os mais nobres e elevados.
Procurei sempre inspirar-me nos interesses da pátria. Entreguei as posições
aos que se rebelaram contra mim e fui vencido pela traição, pela deslealdade,
pela felonia. Reservara para mim o direito de morrer como soldado,
combatendo pela causa que abraçara. A ignomínia duma revolução branca
não m’o permitiu. Escolho a única solução digna para não cair em desonra,
nem sair pelo ridículo (Ibidem, p.1057).
Estes trechos da biografia nos reportam as relações convergentes entre literatura,
jornalismo e história. Pois a narrativa da biografia jornalística sobre Getúlio Vargas dispõe uma
sequencia de eventos que ocorrem num tempo e espaço determinado com a participação de
personagens, e esta prática recai tanto sobre a prática literária quanto à jornalística.
Nos excertos retirados da obra é possível afirmar que a narrativa biográfica prioriza
uma perspectiva historiográfica para referendar a percepção de realidade dos fatos narrados,
ou seja, a história do biografado se confunde com a história oficial do Brasil. A perspectiva de
se narrar a história individual do biografado e desse modo singularizar o olhar sobre esse
6 Lira Neto referencia, por meio de nota, este episódio baseado na obra Getúlio Vargas, meu pai, de Alzira Vargas.
O livro de memórias narra a vida do político gaúcho, entre 1923 até 1937, por sua filha e principal confidente e
foi publicado originalmente em 1960. 7 Bilhete escrito por Getúlio Vargas, 10 de julho de 1932. Arquivo CPDOC-FGV. Documento GV C 1932.07.10/7.
momento histórico ora se confunde com a linha mestre da biografia que não perde de vista a
narrativa histórica maior. Entretanto, as memórias que são reconstruídas na biografia a partir,
principalmente de trechos do diário de Getúlio, vão remontar as percepções individuais, e por
sua vez, particulares sobre os acontecimentos narrados. Deste modo, há a presença de dois
aspectos que conectam a biografia ao campo da história e da memória: a presença de
documentos considerados históricos, como base da narrativa, como também o uso referencial
dos Diários de Getúlio para reconstruir uma memória individual.
A biografia sobre Getúlio comunga da história essencialmente no tocante ao viés
memorialístico, e propõe uma metamorfose entre a história, o factual e o ficcional.
Na obra também é possível perceber o uso de técnica norteadoras dos praticantes do
New Jornalism como a construção cena-a-cena. Na construção cena a cena temos o relato
detalhado do acontecimento, o que Lima (1995) chama de cena presentificada da ação. Esse
detalhamento pode ser visto no seguinte trecho de Getúlio:
A batalha na ponte do rio Eleutério, na divisa de Minas com São Paulo, foi
palco do mais violento de todos os confrontos que o destacamento são-
borjense enfrentou ao longo da campanha. Em 26 de agosto, cercado pelos
paulistas, os homens “do catorze-de-pé-no-chão” foram surpreendidos em
inferioridade numérica e, por isso, receberam do comandante, coronel
Galdino Esteves, a ordem para recuar. Bejo Vargas, arrebatado pelo fragor da
luta, insistiu em romper o cerco, com ajuda de Gregório Fortunato. Mesmo
sob forte tiroteio, assistindo a camaradas varados pelas balas caindo mortos
ao chão, Bejo pediu reforços e munição extra, na intenção de seguir adiante
(Ibidem, p.116).
Wolf (1973) destaca a técnica da construção minuciosa como outra característica do
New Jornalism, que consiste em reunir e citar os gestos e hábitos cotidianos, a personalidade,
o comportamento com familiares, crianças, empregados, e vizinhos, além de outros pormenores
que permeiam a vida dos personagens e que servem para delimitar estilo de vida, por exemplo.
Euclides, o motorista oficial do Catete, acionou a buzina quando viu a luz
vermelha do semáforo acesa, no cruzamento da rua Silveira Martins com
Praia do Flamengo. O cadilac presidencial, que desfrutava de preferência no
trânsito do Rio de Janeiro, estava atrasado – e Getúlio, sabia-se, tinha
verdadeira obsessão pela pontualidade. Segundo a filha Alzira, quatro tipos
de gente o tiravam do sério, em ordem crescente de irritabilidade: as que lhe
contavam sempre as mesmas histórias, as muito burras, as demasiadamente
prolixas e, em especial, as que se atrasavam (Ibidem, p.406).
Tom Wolfe comentava que quando se passa da reportagem para esta nova forma de
jornalismo “[...] descobre-se que a unidade fundamental do trabalho já não é o fato, mas a
cena”. Olhar com minúcia e traduzir isso na narrativa são um exercício que distancia o
jornalista do narrar apressado e cotidiano da prática profissional e o transporta para um
universo mais próximo da literatura.
Considerações finais
O retorno da biografia ao círculo de debates é um movimento internacional e perceptível
em diversas correntes recentes, como, por exemplo, a nova história francesa, o grupo
contemporâneo de historiadores britânicos de inspiração marxista, a microhistória italiana, a
psico-história, a nova história cultural norte-americana, a historiografia alemã recente e
também a historiografia brasileira atual. O fato é que apesar das diferenças entre elas, é
marcante em todas elas o interesse pelo resgate de trajetórias singulares, destacando-se as
biografias.
Este estudo que não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas sim contribuir para a
observação dos caminhos que se cruzam entre jornalismo, literatura e história permite afirmar
que na obra observada é possível perceber o constante uso do recurso jornalístico no uso de
fontes consideradas oficiais para respaldar o seu discurso de narrativa biográfica histórica. O
narrador em terceira pessoa utiliza-se de elementos/documentos históricos para dar
credibilidade e veracidade aos fatos narrados, de modo que asseguram em certa medida um
discurso pautado no real, na história de um personagem histórico. O biógrafo situa-se então na
intersecção do ofício entre jornalista e historiador, e deste modo construindo um gênero
discursivo impuro, hibrido.
A biografia se coloca então na intersecção entre história, jornalismo e literatura,
revelando nesse mosaico o hibridismo de seu gênero. Ela se coloca como um gênero de
fronteira entre a história e a ficção, a realidade e a imaginação. Produto híbrido, o gênero
biográfico se situa na divisa entre a vontade de reproduzir o real e o ficcional, de acordo com
as feições criativas do escritor. Entretanto, vale ressaltar que na biografia jornalística Getúlio,
o autor realizou uma minuciosa pesquisa bibliográfica e documental que se debruçou sob
inúmeros arquivos públicos, eletrônicos, obras consultadas, jornais e revistas e uma centenas
de documentos oficiais consultados. Sua preocupação com os detalhes é notável e transparece
ao longo do livro, dando um ‘sabor de verdade’ à trama apresentada. Olhando-a como um
gênero fortemente híbrido, na fronteira entre a literatura, a história e o jornalismo, as técnicas
biográficas são usadas como peças de um jogo na trama do texto, de forma a criar um forte
efeito de realidade, que lembra à estética realista, com a pesquisa prévia, a obsessão por
pormenores descritivos, a exatidão de informações. Esse tom de literatura de fatos, pautada em
uma reprodução de realidade abriga o que nas teorias de jornalismo se conceitua como
literatura de realidade.
Olhar para a obra Getúlio e fazer a leitura dos rastros, indícios, traços e sentidos que se
depreendem da narrativa nos leva a compreender que a biografia origina-se e desenvolve-se na
fronteira entre história e literatura. Como também coloca o jornalismo em aproximação com a
reportagem de fôlego que transborda o simples narrar de fatos cotidiano do jornalista como um
‘historiador apressado do presente’ e o transporta para um universo que faz do seu ofício um
processo de construção de uma narrativa de reconstituição, que se constrói no devir da história
de vida do biografado e estabelece uma nova identidade narrativa do personagem e da obra. A
biografia entrelaça os campos da história, literatura e jornalismo, aproximando-os e mesclando
os seus modos de fazer e dizer, reafirmando-se como uma produção discursiva permeada por
fatores estéticos, éticos, que traduzem um olhar sob o mundo, sob a história do biografado.
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