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O LÚDICO EM BENEFÍCIO DA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS COM
TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO (TDAH)124
Noemí Pacheco Viana Eixo Temático: Formação de professores e processos de inclusão/exclusão em educação
Categoria: Comunicação Oral [email protected]
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo reforçar a importância de atividades lúdicas, não somente
para complementar o acompanhamento, seja este fonoaudiológico, psicológico ou
psicopedagógico, de crianças portadoras do Transtorno de Déficit de Atenção com
Hiperatividade, o TDAH, como também beneficiar a aprendizagem das atividades
propostas no dia a dia da sala de aula em escolas. Dentro desta perspectiva, o objeto de
estudo neste artigo será o lúdico em beneficio da aprendizagem, favorecendo a inclusão
destas crianças que necessitam de apoio e atenção, bem como de profissionais que estejam
capacitados, em conhecimento e habilidades, para propiciar um ambiente facilitador
(Winnicott) onde promova possibilidades de a criança criar, superar os desafios e caminhar
com mais segurança.
Neste trabalho, pretendo trazer possíveis discussões sobre a formação de professores,
certamente, de acordo com estudos e neste caso cito o livro de Paulo Mattos, “No mundo
da Lua”, onde é notória a carência de profissionais na área da Educação que estejam
apropriados de conhecimentos mais científicos sobre este assunto. A escola e os
professores são a outra grande parte de convívio social de crianças TDAH, num ambiente
escolar são inúmeras as vivências não só de aprendizado pedagógico, mas de convivência e
socialização. É neste espaço, que poderão surgir indícios de comportamentos que indiquem
este transtorno e que clamem por maior atenção. Desta forma, encontra-se implícito neste
artigo a necessidade de uma formação de professores que esteja preparada para distúrbios
e/ ou transtornos tão presentes em uma sociedade que tem indicado a inclusão como forma
124 Este artigo foi orientado pela Profa Dra Maria Vitoria Campos Mamede Maia, coordenadora do Grupo Criar e Brincar – LUPEA e orientadora do trabalho de final de curso da autora .
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de sanar as diferenças que só reforçam a desigualdade e a alienação, nesta expressão me
refiro a formas de ensino tão padronizadas e rígidas, que de igual modo refutam a
importância de atividades lúdicas que não sejam somente para o “mero brincar”, mas que
acreditem no lúdico, quer com jogos quer com brincadeiras que promovam a aprendizagem
e sirvam como precursores de potencializar a capacidade intelectual que muitas crianças
com TDAH tem.
MAS AFINAL, O QUE É UM TDAH?
O TDAH é um transtorno neurobiológico que compromete a atenção, o comportamento e o
controle de impulsos e emoções dos portadores. De acordo com Mattos (2011), existe forte
influência genética para o aparecimento deste transtorno, cerca de 80% a 90% do TDAH
esta relacionado à genética e o transtorno é chamado de poligênico (poli = muitos), pois
são vários genes em conjunto que somados acarretam o TDAH. Estes genes (MATTOS,
2011) “estão relacionados à produção de dopamina e noradrenalina, substâncias
existentes no sistema nervoso que permitem a comunicação entre as células nervosas (os
chamados neurotransmissores)”, neste caso o controle destes neurotransmissores está
alterado o que compromete a concentração e o controle das emoções de um TDAH.
O TDAH geralmente é diagnosticado por profissionais da área de saúde (médicos ou
psicólogos), porém para o seu tratamento, além destes, incluem-se pedagogos e
fonoaudiólogos que poderão acompanhar dificuldades de leitura, escrita e de comunicação
oral de crianças com esta patologia. Este transtorno é reconhecido pela Organização
Mundial de saúde (OMS), órgão que faz publicação de doenças existentes. Cerca de 5% da
população poderá ter muito mais sintomas de desatenção e inquietude, o que poderá causar
problemas ao longo da vida.
O TDAH é caracterizado por dois grupos de sintomas, listados no DSM-IV (Diagnostic
and Statistical Manual, 4ª edição):
- desatenção
- hiperatividade e impulsividade
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Para que uma pessoa seja diagnosticada com TDAH estes sintomas devem ocorrer
frequentemente.
Pessoas com este transtorno prestam pouca atenção a detalhes, tem dificuldades em se
concentrar por longo tempo, tendem a não seguir instruções até o fim e deixam tarefas pela
metade, são desorganizadas, relutam quando há exigência de esforço de tarefa mental, são
distraídas, esquecem com facilidade, são inquietas, extremamente ansiosas, falam demais,
são hiperativas e impulsivas. Neste caso, o TDAH não possui todos os sintomas, mas a
maioria destes.
Existem três tipos de TDAH: o desatento, o hiperativo-impulsivo e o combinado (neste há
a junção de muitos sintomas do desatento e do hiperativo-impulsivo).
O TDAH X APRENDIZAGEM
Os portadores de TDAH possuem dificuldades de comportamento, consequentemente isto
afeta seu desempenho nas atividades escolares e também em suas avaliações pedagógicas
(notas). Quanto maior a exigência de atenção, maiores as queixas de desatenção por parte
dos professores.
O portador deste transtorno acaba não se dedicando o suficiente para concluir ou até
mesmo começar suas atividades escolares. Isto é um dos inúmeros motivos de rotulação
(aluno insuficiente) e até mesmo de brigas no âmbito familiar. Dificuldades com a leitura
(dislexia), com a matemática (discauculia) e com a escrita (disortografia), exemplificam
situações que comumente podem ocorrer com crianças TDAH; igualmente problemas com
a linguagem (DEL - Déficit Específico de Linguagem), acontecem, porém são raros.
Esse desequilíbrio bioquímico impede crianças de focar a atenção numa determinada
tarefa, fazendo com que prestem atenção a todos os estímulos do ambiente, inclusive
àqueles que não são úteis, como por exemplo, um lápis que cai ao chão, as cores das
roupas dos colegas etc., situações que as impedem de manter a atenção, a concentração e a
resolver tarefas pontualmente solicitadas.
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O LÚDICO: JOGOS E BRINCADEIRAS EM BENEFÍCIO DA APRENDIZAGEM.
É POSSÍVEL.
Atividades com jogos e brincadeiras contribuem para o desenvolvimento da criança.
Segundo Piaget (1998, p.47), o lúdico atua nas atividades intelectuais da criança, o que se
torna indispensável para a prática de um contexto educativo. Brincando que a criança
adquire aprendizado e explora o mundo que a rodeia, tomando cada vez mais
conhecimento do que está a sua volta. De acordo com a definição de Vygotsky (1984, p.
114) o brinquedo é um recurso que promove experiências agradáveis à criança,
desempenhando um papel de grande importância para o desenvolvimento psicológico e
cognitivo da criança.
Winnicott (1975,p;35) afirma que, “é a brincadeira que é universal e que é própria da
saúde: o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz aos
relacionamentos grupais”.O jogo está presente como um papel de fundamental importância
na educação. Jogando, a criança entra em contato com outras crianças, aprende a respeitar
os diferentes pontos de vistas, e isso irá favorecer a saída de seu egocentrismo original.
Raciocinar de forma lógica, lidar com regras, questões de associação, socialização e
apropriação, solucionar problemas, construir hipóteses, ter personalidade ativa e
desenvolver as variadas formas de linguagem entre as crianças são algumas possibilidades
de desenvolver habilidades durante atividades lúdicas .
Sabemos que o portador do TDAH, inicialmente, possui muitas dificuldades de
aproveitamento dos benefícios dos jogos e brincadeiras, tão presentes nas escolas. O que se
coloca em questão não é a incapacidade devido ao transtorno, mas atividades direcionadas
para que atuem “confrontando” a dificuldade de concentração e foco de crianças TDAH,
evidenciando sua capacidade de criação e interação com a atividade proposta.
É necessário que o professor seja ativo e reconheça as necessidades da criança e/ou de seu
aluno. Ele deve ter a capacidade e a habilidade de criar espaços e momentos em que haja
jogos e brincadeiras, considerando a individualidade cada um, utilizando recursos
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adequados, apropriados para o uso, estabelecer propostas que propiciem a aprendizagem,
que estimule a capacidade criativa do aluno e que favoreça a interação coletiva do grupo.
Piaget (1990) fala da ação direta do aluno sobre os objetos do conhecimento. O equilíbrio
das funções cognitivas da criança promoverá aprendizagem, sendo esta sustentada por um
desenvolvimento cognitivo. Jogando a criança constrói a sua aprendizagem e,
consequentemente sua capacidade comunicação e a socialização com o meio onde convive.
Atividades com jogos promovem interação, trabalho em equipe e cooperação no grupo.
Segundo Kishimoto (1996), as atividades lúdicas tornam as aulas mais dinâmicas e
atraentes e as crianças e/ou alunos se sentem mais encorajados. Acrescenta Piaget (1975)
que, os jogos em si não carregam a capacidade de desenvolvimento conceitual, porém
podem suprir certas necessidades e funções vitais ao desenvolvimento intelectual.
De acordo com algumas sugestões de Juliana Bielawski Stroh em: TDAH – diagnóstico
psicopedagógico e suas intervenções através da Psicopedagogia e da Arteterapia, algumas
brincadeiras e jogos beneficiam crianças com este transtorno e são ótimas ferramentas de
trabalho para o planejamento da escola e de aula dos professores.
Jogo com regras: a criança poderá desenvolver suas habilidades de raciocínio, auto-
imagem; saber lidar com as frustrações.
Brincadeiras de representar: os diálogos e a troca de papéis favorecem a criança o
“ver com mais clareza seu jeito de ser”.
Uso de sucata: as crianças com TDAH podem utilizar sua criatividade.
O trabalho com o barro e/ou massinhas de modelar: favorecem a concentração.
Jogos que alternam expansão de percepção e liberação do movimento com foco em
figuras, seus detalhes e na concentração de ações.
Atividades de construções criativas manuais em que se usa a força com as mãos
utilizando pincéis de várias texturas, giz de cera colorido.
Atividades com o corpo: imitando movimentos corporais, imagens e elementos.
Exemplo: estátua.
Andar e contar histórias sobre situações de tensão e relaxamento, rápido e lento.
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Exercício de detalhes de quem descobre mais rápido. Exemplo: Cara a Cara.
Jogos com movimentos que requeiram atenção e rapidez diante de um sinal.
As atividades lúdicas dentro de uma perspectiva de trazer benefícios para um portador de
TDAH contribuem para que a capacidade de criação e participação de crianças com este
transtorno sejam mais ativas e presentes nas atividades, promovem o prazer do brincar e
interagir, por meio de jogos e brincadeiras, com situações que as impulsionem a refletir e
atuar de forma mais independente sobre os desafios que lhe são propostos.
Sendo assim, um planejamento escolar deve atender a todas as necessidades que se possam
encontrar numa sala de aula e, o professor deve estar atento e preparado para intervir de
forma significativa promovendo um espaço prazeroso de aprendizado se apropriando dos
benefícios do lúdico no seu trabalho pedagógico.
DESAFIOS DA ESCOLA E DO PROFESSOR: CAMINHOS PARA A INCLUSÃO.
Sabe-se que a Educação é um direito de todos e sendo para todos devemos considerar que a
escola precisa se adequar às necessidades educacionais de sei contexto social- escolar. As
necessidades educativas especiais vão muito além do termo “deficiência”, utilizado
comumente em alguns discursos que ouvimos.
De acordo com a RESOLUÇÃO CNE/CEB No. 02/2001. As Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação institui no Art. 5º: Consideram-se educandos com
necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem:
I- dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica;
Muito ouvimos falar sobre a questão da inclusão seja no âmbito educacional e/ou social
para pessoas que possua alguma questão diferente de um “padrão social de convivência
e/ou aprendizado”. Poder-se-ia levar em consideração a frase que ouvi de uma criança,
quando eu trabalhava em uma Ludoteca (dentro de uma comunidade) “se somos todos
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diferentes, então somos todos iguais!”. Esta frase pode sugerir a quebra de muitas barreiras
que insistem em formatar o aceitável e o repudiante, o fácil e o difícil.
Uma escola empenhada para os desafios da inclusão deve primeiramente estar muito bem
informada e preparada para receber novos desafios. Sendo assim a deve-se, por parte da
escola e do professor, levar em conta as diferenças individuais de aprendizagem,
empenhar-se em critérios de avaliação diversificados, possuir uma individualização das
atenções, ter salas de aula que permitam ao aluno e ao professor o máximo de contato e
devem estar organizadas quanto aos murais, lembretes, cartazes que especifiquem regras
gerais de comportamento e convivência.
Faz-se necessária a reestruturação das instituições escolas, investindo em especializações
ou ampliar o campo profissional, pois assim todos os alunos com TDAH, poderão se
beneficiar e complementar o tratamento que fazem deste transtorno, e que acomete sua
vida diária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, proponho o início de uma discussão bastante presente quanto à
responsabilidade do professor em lidar e incluir crianças com TDAH nas atividades
cotidianas em sala de aula; aqui incluo também a responsabilidade social da escola. Para
isso, é necessário que hajam profissionais capacitados, informados e habilitados para lidar
com este transtorno.
Se apropriando do lúdico, o professor poderá identificar a criança TDAH, favorecer a
inclusão e ajudar não somente a muitas famílias de crianças com este transtorno, mas
também escola, sinalizando ao setor responsável por esta questão, que dará todas as
orientações para que haja encaminhamento a profissionais especializados em tratar o
Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade.
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REFERÊNCIAS
ABDA - Associação Brasileira de Déficit de Atenção (http://www.tdah.org.br/) Acessado em: 11/04/2013. DSM – IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais. 4ª edição. Porto Alegre. Artmed Editora, 2002 KISHIMOTO, T. M. (Org.) Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996. PIAGET, Jean. A construção do real na criança. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
PIAGET, Jean. A linguagem e o pensamento da criança. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: IMAGO, 1971. http://www.efdeportes.com/efd118/criancas-com-transtorno-de-deficit-de-atencao-hiperatividade.htm Acessado em 11/04/2013 http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201.pdf. Acessado em 14/04/2013.