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O LÚDICO NA CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DOALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
Autor: Prof.ª Vera Lúcia Marques Ganacin1
Orientadora: Prof.ª Dra. Elizabeth Rossetto2
Resumo
O trabalho desenvolvido na implementação da Produção Didático-Pedagógica teve como objetivo contribuir para a reflexão da prática pedagógica com os alunos com deficiência intelectual da Escola Mundo do Aprender. Mais especificamente, objetivou-se estimular e sugerir estratégias de aprendizagem que envolvam atividades lúdicas: jogos, brincadeiras, cantigas de roda, etc., como instrumentos facilitadores para o processo de ensino-aprendizagem. Tal trabalho apresenta a abordagem sociointeracionista como referencial teórico, abordagem fundamentada nas concepções de Wallon (1981), Vygotsky (1984) e de Piaget (1976), que defendem o lúdico como estratégia de ensino-aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual. A abordagem metodológica deu-se através de um estudo com os professores da escola, dos textos contidos no Caderno Pedagógico produzido na elaboração da Produção Didática.
Palavras-chave: Lúdico; Ensino-Aprendizagem; Deficiência Intelectual.
ABSTRACT
The efforts to implement the Didactic-Pedagogical Production, aimed to contribute to the reflection of teaching practice for students with intellectual disabilities School WorldLearning. More specifically, we aimed at encouraging and suggest learning strategies involving play activities, games, jokes, rhymes, etc. As instruments for facilitating the learning process, this paper presents the social interactionist approach as theoretical reference, approach grounded in conceptions of Wallon (1981), Vygotsky (1984) and Piaget (1976), who defend the play as a teaching strategy learning of students with intellectual disabilities. The methodological approach was made through the study of school teachers, the texts contained in the booklet produced in preparation of the Educational Production Curriculum.
Keywords: Playful, Teaching, Learning, Intellectual Disabilities.
1 Pedagoga, com especialização em Educação Especial, Psicopedagogia e Metodologia de Ensino. Diretora da Escola Mundo do Aprender.
2 Psicóloga, Mestrado e Doutorado em Educação/Educação Especial, Professora Efetiva da UNIOESTE-PR, Campus de Cascavel.
1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é contribuir com os professores na prática pedagógica,
utilizando as possibilidades do instrumental didático-pedagógico lúdico como
facilitador da aprendizagem do aluno com deficiência intelectual.
A ideia de desenvolver um projeto sobre esse tema partiu da necessidade de
um novo incentivo ao trabalho dos professores da Escola Mundo do Aprender
-Educação Infantil e Ensino Fundamental (anos iniciais), Modalidade de Educação
Especial do município de Terra Roxa
Ao trabalhar com alunos com deficiência é preciso estar ciente de suas
potencialidades, ignorar estigmas e preconceitos. É necessário assumir as
diferenças de cada indivíduo, favorecendo o seu desenvolvimento educacional e
respondendo às suas necessidades individuais no processo de ensino-
aprendizagem.
Na concepção de Wallon (1981), criança é sinônimo de lúdico. Toda a
atividade da criança é centrada em brincadeiras. Ela as exerce por si mesma antes
de poder integrar-se a um projeto de ação mais longo que a eduque para fazer parte
do meio social.
Desse modo, ao postular a natureza livre da brincadeira, Wallon a define
como atividade própria da criança. Ao ser imposta, deixa de ser uma brincadeira.
Passa a ser trabalho ou ensino.
Para Vygotsky (1984), é no brinquedo que a criança aprende a agir numa
esfera cognitiva. Nas atividades da vida real, a criança comporta-se de forma mais
avançada tanto pela vivência de uma situação imaginária, quanto pela capacidade
de subordinação às regras.
Ainda, segundo Piaget (1976), a atividade lúdica é o berço obrigatório das
atividades intelectuais da criança. Essas atividades não são apenas uma forma de
desafogo ou de entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que
contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual.
Partindo dessas concepções, fundamentadas em um referencial
sociointeracionista, este projeto de intervenção pedagógica procurou identificar
caminhos para implementar e orientar o processo de ensino-aprendizagem dos
alunos que frequentam a escola Mundo do Aprender.
Nos momentos vivenciados com a realidade desses alunos, pôde-se
perceber que o processo de ensino-aprendizagem na Modalidade de Educação
Especial não é diferente do ensino comum, na sua essência, ou seja, nos seus
objetivos, nas suas finalidades, mas, sim, nos recursos e nas adaptações
metodológicas que devem ser utilizados para o desenvolvimento máximo de suas
potencialidades. Assim, pode-se visualizar, na aprendizagem do aluno com
deficiência intelectual, integração social, autorrealização, bem como independência,
sem, no entanto, transformá-los em desiguais.
Diante dessa realidade, realizou-se, inicialmente, um estudo teórico acerca da
temática. Entende-se que esse procedimento é “[...] o primeiro passo em qualquer
tipo de pesquisa científica, com o fim de revisar a literatura existente e não redundar
o tema de estudo ou experimentação” (MACEDO, 1994, p. 13).
O segundo momento consistiu na aplicação de entrevistas com o pedagogo,
professores, alunos e respectivos pais da escola, como instrumento para a coleta de
dados, com o objetivo de colher informações sobre o processo de ensino-
aprendizagem.
Frente aos resultados obtidos com a análise das entrevistas realizadas,
construiu-se a Produção Didático-Pedagógica, documento apresentado sob a forma
de um Caderno Pedagógico onde se trata do lúdico no processo de ensino-
aprendizagem, apresentando ainda sugestões de estratégias metodológicas,
envolvendo atividades como jogos, brincadeiras, cantigas de roda, etc.
Assim, a produção didática foi apresentada durante a semana pedagógica da
escola, quando todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem se
reúnem, no início do ano letivo, para discutir e redefinir o trabalho pedagógico da
escola.
A partir daí, a pedido dos professores, foi organizada uma atividade de
capacitação, em forma de Grupo de Estudo, envolvendo conceitos e metodologias
sobre o lúdico na aprendizagem.
2 O LÚDICO NA CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Os alunos com deficiência intelectual apresentam dificuldades para aprender,
especialmente dificuldades para aprender os conteúdos e conceitos abstratos ou
assuntos de memorização imediata. Seu ritmo de aprendizagem também é mais
lento. Diante dessa realidade, o que importa é a qualidade das produções
acadêmicas de cada aluno, idealizadas pelo professor da turma.
Enquanto educadora envolvida com a educação há quase trinta anos, de
alunos com e sem deficiências, foi possível perceber que a aprendizagem entre eles
não se diferencia na sua objetividade. O que diferencia é o como ensinar e o tempo
que a criança com deficiência leva para aprender determinados conteúdos.
Professores de alunos com deficiência intelectual, tanto das escolas especiais
quanto das escolas normais, devem estar cientes de que o trabalho pedagógico em
sala de aula deve ser rico em estratégias como jogos, músicas e brincadeiras. Esses
recursos, devem ser explorados em sua totalidade na transmissão dos conteúdos no
ensino fundamental, nos primeiros anos e séries.
Leontiev (1991) pontua que, ao colocar crianças com deficiência mental em
condições adequadas e ao utilizar métodos especiais de ensino, é possível que
essas crianças alcancem progressos notáveis e muitas até consigam superar seu
próprio atraso.
Ainda, os profissionais envolvidos com uma educação de qualidade devem
estar conscientes de que o processo de ensino-aprendizagem do aluno com
deficiência intelectual requer um repensar sobre as práticas pedagógicas. Os alunos
em questão e seus respectivos pais, mesmo não conhecendo os caminhos para que
isso aconteça, demonstram expectativas e confiam na escola, no sentido de que
estará sempre investindo na aprendizagem do aluno.
As dificuldades de aprendizagem dos alunos que apresentam deficiências, ou outros transtornos, manifestam-se como um contínuo, incluindo desde situações leves e transitórias que podem ser passíveis de intervenções pedagógicas, com estratégias metodológicas adotadas cotidianamente, até situações mais graves e permanentes que requererem recursos e serviços especializados para sua superação. (SEED, 2006, p. 51).
Sabemos que, nas escolas em geral, os alunos apresentam dificuldades na
construção do conhecimento. Essas dificuldades surgem principalmente nas escolas
que mantêm um modelo conservador de ensino e uma gestão autoritária e
centralizadora. Essas escolas apenas acentuam a deficiência, aumentam a inibição,
reforçam os sintomas existentes e agravam as dificuldades de aprendizagem,
principalmente do aluno com deficiência intelectual. A escola, seja ela na modalidade
especial ou normal, é responsável pela formação não só intelectual, mas social do
aluno. Precisa, portanto, assumir essa função de acordo com os avanços da
sociedade. Deve ser cada vez mais inovadora, moderna e instigadora, levando ao
aluno a curiosidade e a alegria no aprender.
As mudanças aceleradas da sociedade em que vivemos obrigam a adquirir
competências novas, pois, como professores, participamos da construção de
mudanças que fazem a história da educação. A utilização de brincadeiras e de jogos
no processo pedagógico faz despertar o gosto pela vida e leva as crianças a
enfrentarem os desafios encontrados.
Os professores devem tomar consciência da relação do “brincar” com a
aprendizagem. Cada criança aprende no seu tempo e no seu ritmo. Nenhuma
criança é igual à outra. Possuem histórias e trajetórias de vida diferentes, como
qualquer ser humano. Deve ser respeitada, compreendida e não rotulada por causa
das suas dificuldades.
Assim, entende-se que aprender de forma lúdica é um processo terapêutico,
conforme pontua Fernandez (1990, p. 166):
[...] ao instrumentalizar o brincar no tratamento, criando-se um espaço compartilhado de confiança, pode-se ir modificando a rigidez ou estereotipia das modalidades de aprendizagem sintomáticas.
A escola de hoje precisa ser mais lúdica, mais prazerosa. Os professores
precisariam se unir para trazer novamente o prazer às crianças em aprender. E
também os próprios professores recuperarem a vontade de ensinar. O foco que
devemos ter é apenas o benefício da criança. Conhecê-la realmente, saber suas
dificuldades e vontades. É através do lúdico que conseguiremos reconhecer as
dificuldades de cada criança, apresentando a elas um mundo cativante, misterioso e
curioso para aprender.
Desse modo, o lúdico torna-se indispensável para o processo de ensino-
aprendizagem, uma vez que dois elementos o caracterizam: o prazer e o esforço
espontâneo. De acordo com Teixeira,
[...] prazeroso, devido a sua capacidade de absorver o indivíduo de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo. E este aspecto de envolvimento emocional que o torna uma atividade com forte teor motivacional, capaz de gerar um estado de vibração e euforia. [...] As atividades lúdicas integram as várias dimensões da personalidade: afetiva, motora e cognitiva. [...]. O ser que brinca e joga é, também, o ser que age, sente, pensa, aprende e se desenvolve. (1995, p. 23).
A brincadeira é uma atividade humana e social, produzida a partir de seus
elementos culturais. Quando trabalhamos na construção de diferentes materiais,
como fantoches, máscaras, marionetes, músicas, jogos, etc., a criança trabalha com
a imitação e a representação, desenvolvendo, assim, a sua autonomia e formulando
regras de convívio em grupo, dentre outras habilidades.
O brinquedo parece estar caracterizado em Vygotsky como uma das
maneiras de a criança participar na cultura. É sua atividade cultural típica, como o
será em seguida, quando adulto, o "trabalho" (BAQUERO, 1998, p. 101).
Ao assumir atividades lúdicas para o encaminhamento de seu trabalho
pedagógico, o professor deve ter seus objetivos bem definidos. Assim poderá ter
uma visão individual de cada aluno, da necessidade acadêmica de cada um, em
qual estágio de desenvolvimento ela se encontra e ainda um diagnóstico do grupo
como um todo. Se o objetivo do jogo é diagnosticar comportamento social, trabalhar
conflitos e problemas pode ser planejado de forma mais livre, com apenas a
observação do professor. Se, no entanto, o objetivo é estimular a aprendizagem de
determinado conteúdo, promovendo aprendizagem específica, o jogo ou a
brincadeira pode ser usada em forma de desafio cognitivo.
O educador deve definir, previamente, em função das necessidades e dos
interesses do grupo e segundo seus objetivos, qual é o tempo que o jogo irá ocupar
e, ainda, os objetos, brinquedos ou outros materiais a serem utilizados. É importante
também definir os espaços físicos onde esses jogos irão se desenvolver, se dentro
da sala de aula, no pátio ou em outro local.
As atividades lúdicas devem ser planejadas com cuidado e responsabilidade
por parte do professor. Ele deve chegar à sala de aula com tudo organizado para
que essas atividades não tenham característica de algo sem importância, com intuito
de passar o tempo.
É interessante a construção do conceito de que o lúdico é uma das
alternativas metodológica mais importante na vida da criança. Sugere-se, no
entanto, que as atividades lúdicas não sejam consideradas como único e exclusivo
recurso de ação. Orienta-se que o processo de ensino-aprendizagem seja
acompanhado de outros meios metodológicos, principalmente aqueles que vêm
registrar, consolidar os conteúdos introduzidos de forma prazerosa, com jogos e
brincadeiras.
As estratégias lúdicas devem ser planejadas, levando-se em conta a
realidade de cada grupo de crianças, a partir de atividades que constituam desafios
e sejam ao mesmo tempo significativas e capazes de incentivar e consolidar a
descoberta, a criatividade e a criticidade.
3 CAMINHOS METODOLÓGICOS
O Projeto de Intervenção Pedagógica teve como metodologia a coleta de
dados junto à comunidade escolar, através de uma pesquisa sobre o processo de
ensino da escola. Teve como roteiro, nas entrevistas, questões específicas sobre a
aprendizagem dos alunos.
Das entrevistas participaram seis professores, a orientadora pedagógica, três
alunos e respectivos pais da Escola Mundo do Aprender - Modalidade de Educação
Especial, na cidade de Terra Roxa-PR.
Os professores e a orientadora pedagógica foram entrevistados na hora-
atividade; os alunos, durante o recreio e os pais, em suas residências. O tempo
previsto foi de 40 minutos com cada sujeito. As entrevistas tiveram como objetivo,
por meio de depoimentos orais dos sujeitos, colher informações à luz dos objetivos
da pesquisa.
Durante as entrevistas, constatou-se que 100% dos envolvidos na pesquisa,
concordam com a importância do lúdico para o processo de ensino-aprendizagem
do aluno com deficiência intelectual.
A orientadora pedagógica, ao ser questionada sobre o trabalho pedagógico
em sua escola, respondeu que procura oferecer todo suporte necessário ao trabalho
realizado pelos professores e incentiva-os a trabalhar constantemente com o lúdico
na sala de aula. Descreveu várias estratégias indicadas e recursos didáticos
direcionados ao trabalho junto aos professores. Alguns dos mencionados foram:
jogos variados, bingo de numerais, informática, filmes, livros de histórias, músicas,
blocos lógicos, carimbos, quebra-cabeça, etc.
Na entrevista realizada com os três alunos, o trabalho pautou-se em cima de
duas questões: Por que você gosta desta escola e quais atividades mais gosta.
As respostas foram diretas e semelhantes entre eles. Os alunos falaram
pouco, no entanto relataram que gostam de vir para a escola especial; Têm muitos
amigos; aprendem enquanto brincam e todos gostam deles.
Nas entrevistas com os pais, percebeu-se a satisfação pelo fato de o filho ser
bem acolhido na escola e gostar dela. Constatamos respostas semelhantes entre os
entrevistados:
− Ele gosta de aprender com joguinho.
− Ele gosta de aprender com outros colegas, brincando.
− Na sala de aula, a professora ensina a ler, a escrever, respeito e limite.
− Educação significa aprender a ler e escrever, respeitar os mais velhos e
aprender limites.
− Eu duvidava que ele aprendesse. E ele está aprendendo.
− Quero que ele aprenda para passar de ano.
− Eu não mudaria nada na escola.
− Eu gostaria de ter como ajudar a escola quando ela precisa. Ela ajuda
meu filho.
− Para mim tudo está bom assim.
− Nesta escola meu filho gosta dos amigos e de aprender.
− Ele está avançando na aprendizagem.
− Matriculei meu filho nesta escola porque ele tinha muitas dificuldades
para aprender.
− A escola me ajuda a ensinar meu filho.
− Na outra escola ele não queria ir.
− Matriculei aqui, porque, se levo na outra escola, ela não fica, quer ir
embora.
De acordo com o ponto de vista dos seis professores entrevistados, todos
concordam ser possível reunir, dentro da mesma situação, o brincar e o educar.
Segundo os mesmos professores, o lúdico:
− proporciona o desenvolvimento motor;
− estimula o raciocínio;
− ajuda no desenvolvimento das habilidades sensório-motoras;
− estimula a atenção, a comunicação e a concentração;
− proporciona trabalhar limites e regras;
− desenvolve ainda o senso de organização e responsabilidade;
− e auxilia no desenvolvimento da linguagem.
Durante as entrevistas, constatou-se que 100% dos envolvidos na pesquisa
concordam com a importância do lúdico para o processo de ensino-aprendizagem
do aluno com deficiência intelectual.
No que se refere à questão "Quais são suas dúvidas em relação ao processo
de ensino-aprendizagem de seus alunos", chegou-se às seguintes respostas por
parte dos professores:
P 01: “Tenho muitas dúvidas. Não chega ser angústia e sim dúvidas. Às vezes
não sei como encaminhar o conteúdo para cada aluno. Uns aprendem mais rápido
outros bem mais devagar. Retiro os conteúdos que estão no planejamento de acordo
com cada um dos alunos. Alguns respondem bem, outros têm dificuldades. Tenho
medo de não estar fazendo correto. Uns não têm nenhuma noção. Não sei se o que
estou trabalhando está surtindo efeito. Tem alunos que não me dão resposta. É
preciso mais ajuda neste sentido. Acho que temos muito pouco em relação a
informações sobre estas dificuldades”.
P 02: “Na aprendizagem de nosso aluno, existem avanços e retrocessos. Às
vezes me angustio, pois não sei em que momento posso passar para outra
atividade. Ensinar outros conteúdos. Nas atividades coletivas, tenho que caminhar
mesmo tendo alunos que ainda não aprenderam determinados conteúdos. O ritmo é
lento e bastante demorado. Mesmo trabalhando com diversos materiais e atendendo
individualmente, alguns alunos continuam sem aprender. Outros conseguem com
mais facilidade. No dia a dia uso material concreto. As atividades concretas são
realizadas para a fixação dos conteúdos trabalhados. Uma das atividades que eles
mais gostam é o bingo de numerais”.
P 03: “O lúdico é primordial. Quando aprendemos de forma lúdica, é mais
prazeroso. A criança aprende melhor. Você tem que ter um objetivo com as
atividades lúdicas. Exemplo: Quando ensino, aos meus alunos da pré-escola, os
nomes das frutas, eles gostam muito. Levo para a sala várias frutas de plásticos e
até frutas de verdade. Assim, enquanto eles estão brincando, vou questionando
nomes dos objetos e relacionando-os entre si. Na aprendizagem do portador de
deficiência, o processo de aprendizagem é mais demorado. Quando iniciei o
trabalho com o deficiente intelectual, eu estranhei muito. Hoje já aprendi a conviver
com esse ritmo de aprendizagem. Meus alunos têm muitas dificuldades. Uso
materiais concretos, bastante recurso visual, fantoches, etc., para chamar a atenção
do aluno”.
P 04: “Trabalhar com o deficiente intelectual é bem diferente. No ensino
regular, a gente tem bastante aluno na sala de aula que aprende rápido. É um ou
outro que tem dificuldades. Os alunos ditos normais conseguem resultados em curto
prazo. Estabelece-se um tempo. O aluno especial, em longo prazo. Chega a ser
invisível este resultado, mas acontece. Há necessidade de persistência, de bastante
trabalho, onde é desenvolvido pela escola, num todo. É preciso um conjunto de
profissionais envolvidos.“
P 05: “Dependendo do aluno eu sinto muita angústia. Neste momento estou
assim, pois recebi uma aluna de outra escola que não acompanha o ritmo de meus
alunos. Não tem limite nenhum. Tem condições de aprender, mas percebo que não
foi trabalhado conceito de alfabetização com ele. Meus alunos estão mais à frente e
tenho que voltar no início com este aluno. Nesta semana levei meus alunos ao
mercado para trabalhar tipos de sabores dos alimentos. Foi bem interessante. Eles
adoraram. Fomos pesquisando nas prateleiras que tipos de sabores ali se
encontravam. Eles mostraram o café, o sal, o açúcar, etc. Já haviam experimentado
quase todos os produtos em sala de aula. Neste momento foram especificando o
sabor de cada um: azedo, doce, amargo, etc. Todos adoraram a atividade”.
P 06: “Trabalho de forma individual, pois cada aluno tem seu momento certo
para aprender. Não é fácil trabalhar individualmente, mesmo com poucos alunos na
sala. Tenho que preparar as atividades conforme o avanço de cada um. Há avanços
maiores para alguns e outros vão aprendendo mais lentamente. Por exemplo:
Enquanto uns já escrevem palavras ou até frases, outros ainda estão tentando
reconhecer as vogais. Meus medos e preocupações acontecem quando inicio o
trabalho com estes alunos e não consigo ver resultado. O processo é longo. No
entanto, como aconteceu este ano que continuei com alguns alunos na sala,
consegui ver os avanços alcançados. Vejo que o aluno já consegue fazer leituras.
Nestes momentos me sinto muito feliz. Meus medos vão embora e me sinto
realizada. Eu gostaria de ter mais contato com os pais destes alunos. A escola
precisa trazer mais vezes os pais para a escola”.
Na fala dos alunos, pais, equipe pedagógica e professores, percebeu-se que
a escola já usa atividades lúdicas na sua prática pedagógica. No entanto, alguns
professores deixaram transparecer, em seus relatos, dúvidas e preocupações em
relação à aprendizagem de seus alunos. Surgiu, assim, a ideia de desenvolver um
projeto sobre esse tema, partindo da necessidade de dar um novo incentivo ao
trabalho dos professores, pautado em estratégias metodológicas lúdicas. Sabemos
que essa prática, mesmo não sendo nenhuma inovação, vem sendo pouco utilizada
pelos professores na sua prática docente. A partir dessa realidade, deu-se início à
intervenção pedagógica intitulada: “O LÚDICO NA CONSTRUÇÃO DO PROCESSO
DE ENSINO-APRENDIZAGEM DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL”,
proporcionando uma base teórica que expressa, de acordo com o projeto inicial,
conceitos e metodologias sobre o processo de ensino-aprendizagem.
Para tanto, foram utilizadas, além de entrevistas, grupo de estudo com os
professores, confecção de material didático e atividades lúdicas com os alunos.
Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, foi colocada em prática
a proposta de um grupo de estudo sobre o tema em questão.
O grupo de estudos, com 12 horas de duração, contou com a participação dos
professores da Escola Mundo do Aprender e alguns professores de salas de recurso
do município. Estabeleceu-se como conteúdo: (i) Conceitos e metodologias sobre o
lúdico na aprendizagem do aluno com deficiência intelectual; (ii) estudo de três
projetos de alfabetização usando o lúdico na aprendizagem; (iii) apresentação das
atividades lúdicas propostas no Projeto de Produção Didática; (iv) troca de
experiências entre os professores sobre tipos de atividades aplicadas em sala de
aula; (v) pesquisas sobre blogs e sites com sugestões de atividades lúdicas que
possam subsidiar o trabalho pedagógico.
Na avaliação, os participantes reivindicam outros momentos para estudo, tais
como oficinas para confecção de material didático, pesquisas e trocas de
experiências envolvendo o lúdico na aprendizagem e confecção de material didático
(como as aulas de arte, onde o professor pode confeccionar esses materiais com os
alunos). Segundo os professores, essas práticas há muito tempo deixaram de fazer
parte das capacitações oferecidas aos professores dos anos iniciais do Ensino
Fundamental.
Ainda como parte da avaliação, os professores participantes entregaram
uma síntese dos conteúdos estudados e ainda as sugestões propostas durante o
Grupo de Estudo. Essas avaliações foram entregues juntamente com a lista de
presenças à Secretária de Educação, para a aprovação dos certificados.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitas metodologias podem ser usadas para o bom desempenho do
trabalho do professor em sala de aula. Para Aguiar (1977, p 78), a atividade lúdica é
o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo, por isso,
indispensável à prática educativa.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacional (1998), para as Adaptações
Curriculares, com estratégias para trabalhar alunos com necessidades educacionais
especiais, a escola e o professor devem criar condições físicas, ambientais e
materiais para o aluno na sua unidade escolar de atendimento.
Podemos perceber, nos trabalhos do grupo de estudo, com o auxílio dos
textos que fundamentaram o Caderno Pedagógico, que os professores demonstram
conhecimento de que é indispensável utilizar as estratégias lúdicas no processo de
ensino-aprendizagem do aluno com deficiência intelectual. Foi grande a aceitação
das afirmativas e dos conceitos sobre esse tema, no entanto é preciso que haja
conscientização e compromisso do professor e equipe pedagógica. A orientadora
pedagógica deve estar sempre presente, incentivando e colaborando nas atividades
que subsidiarão o trabalho pedagógico do professor.
Segundo Libâneo (2005, p. 33):
Pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligada à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modos de ação, tendo em vista objetos de formação humana previamente definida em sua contextualização histórica.
Assim, é preciso considerar aqui a importância do Planejamento da Ação
Pedagógica, em relação ao repasse de conteúdos de forma lúdica, criativa, como
uma prática diária e não apenas eventualmente, quando não tem nada planejado ou
como prêmio aos alunos. A ludicidade deve fazer parte da prática do currículo
escolar. Não se pode considerar que trabalhar com o lúdico é perder tempo ou que
dá muito trabalho para dominar a turma.
A sala de aula não pode mais ser um espaço de imposições ou atitudes
tradicionais de ensino. Estamos em época de inovações e de muito diálogo com os
alunos. Além disso, não se pode esquecer que a escola deve ser um lugar de
respeito, onde o aluno é o sujeito da aprendizagem. Cabe, principalmente ao
professor, criar condições para que essa aprendizagem aconteça.
A aprendizagem não acontecerá sem que haja uma metodologia para cada
aluno. Sabe-se que há um caminho longo a percorrer, principalmente no que tange à
dedicação e ao interesse pela qualidade do ensino especial. Através do
conhecimento, o professor pode pôr em prática essa premissa:
[…] diante da aceleração das mudanças, das novas descobertas das ciências e das tecnologias modernas, é preciso que estejamos sempre de espírito aberto à pesquisa, à busca incessante de novas respostas que nos ajudam a repensar o velho e a enfrentar o novo. (CARTOLANO, 1998, p. 29-30).
Conclui-se ser necessário um repensar urgente sobre a formação do
professor em relação às atividades lúdicas. As universidades deveriam preocupar-se
em oferecer, nos currículos dos cursos de formação de professores para o Ensino
Fundamental, uma disciplina que trate especificamente do lúdico na aprendizagem.
São poucos os professores que passam pelo curso do magistério a nível médio,
onde as disciplinas, em sua maioria, são trabalhadas de forma lúdica. Esse curso de
magistério não é oferecido em todos os municípios e não é considerado pré-requisito
para cursar uma faculdade de formação de professores das séries iniciais do Ensino
Fundamental.
Diante destas considerações, espera-se que este trabalho possa ser um
referencial para a prática pedagógica do professor.
Consideramos ainda, que os objetivos propostos inicialmente foram
atingidos, visto termos contribuído para a reflexão sobre a importância do lúdico no
ensino aprendizagem dos alunos da modalidade de Educação Especial.
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