o magnetismo como recurso terapeutico

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  • 8/14/2019 O Magnetismo Como Recurso Terapeutico

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    O magnetismo como recurso teraputico nosprocessos obsessivos

    MARCELO BORELA DE OLIVEIRADe Londrina

    Quem estuda as obras basilares do Espiritismo, algo que segundo Divaldo Franco tem sidograndemente negligenciado em nossos dias, sabe que existem algumas situaes em que a eficcia domagnetismo, como terapia psicossomtica, pode ficar prejudicada e mesmo tornar-se nula.

    Dentre elas, podemos citar como causas limitadoras da ao magntica:

    A falta de f ou de receptividade do paciente (Evangelho de Marcos, 6:2 a 6:6; ObrasPstumas, Manifestaes dos Espritos, itens 52 e 53; Nos Domnios da Mediunidade, cap. 17)

    O comportamento inadequado do enfermo (Revista Esprita de 1865, pp. 205 e 206;Missionrios da Luz, pp. 326 e 333)

    A imposio da lei de causa e efeito (Mateus, 26:52; Revista Esprita de 1867, pp. 190 a 193;

    Revista Esprita de 1868, p. 85; O Cu e o Inferno, 2a

    Parte, cap. VIII, Um sbio ambicioso) A natureza do mal ou enfermidade (Entre a Terra e o Cu, cap. 34; O Evangelho segundo o

    Espiritismo, cap. 28, item 81; Revista Esprita de 1864, pp. 11 a 17; Revista Esprita de 1865, pp.4 a 18 e Revista Esprita de 1866, pp. 348 e 349).

    A cura de Valentine Laurent Fixemo-nos na ltima causa citada, em que o Codificador doEspiritismo inclui os casos de obsesso, o que pode ser facilmente aferido consultando-se as obrasmencionadas.

    Na Revista Esprita de 1865, pp. 4 a 18, o sr. Dombre, de Marmande, relata as crises convulsivasexperimentadas por Valentine Laurent, uma jovem que contava ento apenas 13 anos. Essas crises, almde se repetirem vrias vezes por dia, eram de tal violncia que cinco homens tinham dificuldade de

    mant-la na cama. Tratava-se de um caso obsessivo dos mais graves, produzido pelo Esprito deGermaine, como depois acabou revelado.

    Valentine era sensvel ao tratamento recebido do sr. Dombre por meio da imposio de mos, mas,to logo ele se afastava, voltavam as crises. O grupo dirigido pelo sr. Dombre evocou ento a entidadeperturbadora e iniciou uma srie de sesses de doutrinao, com o que, depois de vrias reunies e dehbeis instrues transmitidas a Germaine, o processo obsessivo chegou ao fim e tudo se explicou.

    Germaine, arrependida, pediu perdo menina e disse que agora se sentia outra pessoa, porquanto aprece que derramaram sobre seu Esprito tornara sua alma mais limpa e extinguira sua sede de vingana.No dia seguinte, a conselho dos guias espirituais, o sr. Dombre fez com que Valentine adormecesse todosos dias pelo sono magntico, de modo a livrar-se completamente da ao dos maus fluidos que a tinhamenvolvido e, ao mesmo tempo, fortificar o seu organismo. que, desde a libertao, a jovem

    experimentava mal-estar, incmodos do estmago, pequenos abalos nervosos, conseqncias doprocesso obsessivo.Relatado o caso, Kardec indagou: Para que teria servido o magnetismo se a causa tivesse

    subsistido?Era preciso primeiro observou o Codificador - destruir a causa, antes de atacar os efeitos, ou, pelo

    menos, agir sobre ambos simultaneamente, sinalizando que o magnetismo, por si s, incapaz de curaras obsesses graves.

    O caso de possesso da srta. Jlia Na Revista Esprita de 1864, pp. 11 a 17, aps examinar ocaso de possesso da srta. Jlia, Kardec reiterou o entendimento, hoje consagrado na Doutrina Esprita,

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    de que naquele episdio e em todos os casos anlogos o magnetismo simples, por mais enrgico quefosse, seria insuficiente. Segundo Erasto, em tais circunstncias, necessria uma ao material e morale, ainda, uma ao puramente espiritual. Asseverou Erasto: Isto vos demonstra o que deveis fazerdagora em diante, nos casos de possesso manifesta. indispensvel chamar em vossa ajuda oconcurso de um Esprito elevado, gozando ao mesmo tempo de fora moral e fludica, como o excelentecura dArs.

    O ponto essencial no tratamento da obsesso, observou Kardec, levar o Esprito obsessor a

    emendar-se, o que necessariamente facilita a cura. E foi o que se fez, tanto no caso de Valentine como nocaso de Jlia, com a indispensvel doutrinao das entidades perturbadoras.A participao do obsidiado, fundamental para o xito do tratamento, tambm destacada por

    Kardec no cap. 28, item 81, de O Evangelho segundo o Espiritismo e por vrios estudiosos do assunto,como podemos ver nas obras de Yvonne A. Pereira e Manoel Philomeno de Miranda.

    *

    vista do exposto, preocupa-nos a introduo na prtica esprita de mais um modismo a chamadadesobsesso por corrente magntica -, assunto que o confrade Cauci de S Roriz examina no artigo aolado.

    Desobsesso por corrente magntica. possvel?CAUCI DE S RORIZ

    De Gois

    Lemos atentamente o livro Desobsesso por Corrente Magntica, volume 1, de autoria doMaurcio Neiva Crispim, Editora Auta de Souza, sobre o qual tecemos alguns comentrios.

    Preliminarmente, para se restabelecer a verdade, torna-se imperiosa uma retificao. Ao contrrio doque o livro afirma, Eurpedes Barsanulfo jamais realizou reunies de corrente magntica. O saudoso

    Gilson de Mendona Henriques, implantador do mtodo em Braslia, quando esteve em Sacramento, nadcada de 80, foi informado disso pelos parentes diretos de Eurpedes Barsanulfo, dentre eles osobrinho, Saulo Wilson, ativo trabalhador da Doutrina. Eurpedes, quando muito, ao orar, permitia queos presentes dessem-se as mos e nessas ocasies no havia comunicao de Espritos nem superiores,nem inferiores, nem tratamento, nem nada que sequer lembre a corrente magntica. Apenas uma doce esingela prece ao Senhor!

    1) A proposta da corrente magntica parte de uma base falsa, qual seja, a de que o Espiritismo existapara atender, na prtica desobsessiva, a um grande nmero de pessoas (pg. 19), sendo necessriodesenvolver e aplicar mtodos voltados para as multides (pg. 88).

    Ora, o trabalho medinico, conquanto a sua importncia, apenas uma atividade-meio da Doutrina.Privilegi-lo dessa forma seria desatender a atividade-fim, a essncia da Doutrina, que conscientizar ohomem da necessidade de promover a sua renovao ntima, incentivando-o a tomar a conduo de seudestino, sabendo-se responsvel por seus atos e pensamentos, como esprito imortal. Da o imensoesforo empreendido pela Federao Esprita Brasileira no sentido de dotar as Casas Espritas de bonsgrupos de evangelizao da criana e do jovem e de cursos direcionados aos adultos. O estudo que levaao progresso intelectual, aliado prtica da caridade ou evangelhoterapia, que conduz evoluo moral, o ponto central da Doutrina. A reunio medinica um mero adjutrio desse objetivo maior e no apea principal.

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    2) Na pgina 53 consta a informao que corrente magntica desobsessiva nada mais que acorrente magntica dos magnetizadores. No ! A corrente magntica dos magnetizadores visavaexclusivamente a cura de males fsicos. No havia manifestao medinica. A corrente magnticaapregoada no livro pretende a desobsesso, com a recepo, ainda que rapidamente, da entidadeobsessora. A diferena de mtodos e objetivos absoluta.

    3) O livro informa que Allan Kardec abordou a questo da corrente magntica, mas deixa deesclarecer que o significado do termo dado pelo codificador completamente diverso do sentido dadopelo livro. Kardec, ao falar de corrente magntica, alude to-somente ligao fludica existente entre oscomponentes, encarnados e desencarnados, de um grupo medinico e no a um mtodo para desobsediarmultides.

    4) Afinal de contas, o que a corrente magntica versada no livro sob anlise?

    Sinteticamente, um mtodo de trabalho no qual um grupo de 2 a 50 mdiuns (pg. 146), s vezesde mos dadas, s vezes no (pg. 148), colocados prximos uns dos outros 30 a 45 cm (pg 154),

    atraem mentalmente os Espritos imperfeitos que passam pelos mdiuns em comunicaes rpidas aotempo em que o coordenador dos trabalhos, pausadamente, diz: passe, passe, passe... (pg. 169),determinando, depois, a retirada das entidades com as expresses siga, siga, siga... (pg. 170). Constaainda a informao que as expresses Passe e Siga, ditas pelo dirigente, funcionam como verdadeirosinterruptores do circuito medinico (pg. 175).

    5) O autor informa: No queremos tirar a respeitabilidade dos mtodos conhecidos. Queremos avanar (pg. 67) e que no decurso de mais de 20 anos j foram beneficiadas 500 mil pessoas (pg. 19).500 mil? O nmero espantoso, mas no o colocaremos em dvida. Uma coisa, porm, certa, atmesmo para os idealizadores desse mtodo, a sua eficcia consistiria apenas no afastamento temporrio

    do obsessor. Idntica eficcia tm os mtodos geralmente utilizados pela umbanda e pela ultrapassadatcnica mdica do eletrochoque. Vamos adot-los? Na pgina 201 do livro est transcrita arecomendao de Manoel P. de Miranda: somente a radical mudana de comportamento do obsidiadoresolve, em definitivo, o problema da obsesso.

    Pergunta-se: Vale a pena envolver tanta gente, tanto esforo e tanto tempo na esperana de se obterapenas um afastamento temporrio do obsessor? Isso avanar??? No existiria algo mais efetivo eduradouro que possamos fazer em prol dos irmos necessitados?

    6) Na pgina 105 informa-se que o mtodo o nico auxiliar na terapia dos ovides, porque eles

    no conseguem escutar a doutrinao verbal. Se assim, ento, no mtodo para desobsediar asmultides, mas apenas para atender especificamente aos ovides. Ora, se os ovides no ouvem adoutrinao verbal, para que as misteriosas palavras passe, passe e siga, siga ? Ou ser que a ordem docoordenador encarnado para os dirigentes espirituais?

    7) A partir da pgina 136 e repetidamente em outras pginas so relacionados os passos a seremseguidos pelos adeptos dessa corrente magntica, quais sejam:

    1o passo: Expulso de remanescentes dirios; 2o passo: absoro de energias do planosuperior; 3o passo: a unio dos pensamentos dos mdiuns e dos espritos coordenadores e, 4o passo:

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    os mdiuns, em transes rpidos e seqencialmente, recepcionam os espritos e os bombardeiamcom foras fludicas e idias renovadoras (pg. 437), podendo ocorrer vertigens, tremores,resmungos, gemidos etc. (pg. 455).

    Para apresentar exemplos e informaes quanto aos trs primeiros passos no houve qualquerdificuldade. Transcreveram os preciosos esclarecimentos contidos nos livros da Codificao e das obrasauxiliares referentes s respeitveis e conhecidssimas reunies medinicas de doutrinao, nas quais,ressalte-se, um Esprito se comunica por intermdio de apenas um mdium, sob intensa vibrao de

    amor de todos os participantes. No so novidade para ningum. Na pgina 450 o autor afirma ser o quarto passo o que predomina nas aes da corrente

    magntica. Ento, para bem divulgar essa corrente, obrigatoriamente o livro deveria apresentar dados eexplicaes convincentes e conclusivas sobre essa fase. Nada disso feito! As quase 600 pginas dolivro limitam-se a repetir exaustivamente os trs primeiros passos, j sobejamente conhecidos por todos,deixando de detalhar quanto ao quarto passo, que , afinal, conforme diz o autor, a essncia dessacorrente magntica. No se penetra o mago da questo.

    8) Todos sabemos que a ligao do Esprito ao mdium freqentemente realizada com dias deantecedncia da reunio, objetivando vencer algumas dificuldades fludicas entre os dois.

    Seria possvel a ocorrncia de transes medinicos rpidos e seqenciais em intervalo de 10segundos, ou menos? Como fica a lei da Afinidade e da Sintonia? A obrigatoriedade de receber oEsprito no foraria o mdium a simular o transe, passando a gemer como os outros? A DoutrinaEsprita se baseia no ensino universal dos Espritos. No h dvida quanto a isso. Por que o livro nomenciona quais obras e quais Espritos se pronunciaram de maneira clara e inequvoca sobre o quartopasso, ensinando-nos como ele se processa?

    Concluindo: Em respeito ao trabalho de Kardec e dos Espritos da Codificao, seria bom queevitssemos trazer para as nossas Casas Espritas toda e qualquer novidade que surja. evidente que

    ningum nos tira o direito, e talvez at o dever, de estud-las em grupos fechados, reduzidos eespecficos para esse fim, pesquisando-as em todas as nuances, ainda que leve mais de 20 anos, a fim debem assentar as bases do trabalho. Melhor rejeitar dez verdades do que admitir uma nica falsidade(Erasto, em O Livro dos Mdiuns, cap. XX, item 230, 6o pargrafo). H uma montanha dequestionamentos no esclarecidos sobre essa corrente. Os Espritos ainda no enviaram orientao arespeito. Sejamos prudentes! Antes de implantarmos as novidades em nossa Casa, primeiro estudemo-lasincansavelmente. Restando uma nica dvida prefervel aguardar o tempo. Melhor assim, do quecomprometermos a Doutrina e a ns prprios.

    Nota da Redao O artigo ora transcrito foi publicado inicialmente na revista O ESPRITA, de

    Braslia-DF, e aqui reproduzido com expressa autorizao do seu Editor.

    Participao do obsidiado na reunio de desobsesso

    No artigo publicado neste mesmo espao em outubro ltimo, intitulado O magnetismo comorecurso teraputico nos processos obsessivos, escrevemos que a participao do obsidiado, fundamentalpara o xito do tratamento, tambm destacada por Kardec no cap. 28, item 81, de O Evangelhosegundo o Espiritismo e por vrios estudiosos do assunto.

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    Alguns leitores entenderam que no trecho mencionado estaramos abonando a presena doobsidiado nas sesses de desobsesso, o que constitui grave equvoco. No foi isso o que escrevemos. Ovocbulo participao, ali colocado, no quer dizer presena do obsidiado nas reunies medinicas, mas,sim, os seus esforos, a sua vontade, a sua luta em prol do xito do tratamento, como Kardec observa noitem 81 do cap. 28 de O Evangelho segundo o Espiritismo, por ns citado.

    Como explica Divaldo P. Franco na questo no 97 do livro Diretrizes de Segurana, o ideal serque o obsidiado no participe dos trabalhos medinicos, porque em certas situaes o trabalho

    medinico pode mesmo ser-lhe seriamente pernicioso. (Marcelo Borela de Oliveira)