“o mapa está fechado, mas a zona - faac.unesp.br · instalação interativa conectada a outras...
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“O mapa está fechado, mas a zona autônoma está aberta.’’
BEY, Hakin
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- Sumário -
Resumo..............................................................................................................06
Trajetória............................................................................................................08
Desejo................................................................................................................10
Atualização..........................................................................................................12
Instalação...........................................................................................................19
Bibliografia..........................................................................................................22
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Em tempos onde não existem terras incógnitas e livres surge Ahortus, uma
instalação interativa conectada a outras obras que habitam a exposição Jardim
Sensorial. Esse projeto teve início a partir da busca do conceito etimológico da
palavra “jardim”. Encontramos o termo hortus, que significa “murada”. Dessa
forma, compreendemos que jardim significa uma natureza cercada e controlada
por regras, uma vez que toda região delimitada pode ser entendida como privada
de liberdade.
Assim, projetamos uma maneira de gerar ‘espaços’, onde seja possível enxergar
através do muro que o cerca. Pretendíamos criar uma zona autônoma
temporária capaz de proporcionar um instante libertino a cada visitante. Partindo
dessa idéia, o projeto buscou atualizar suas possíveis existências, proporcionando
ao usuário uma instalação que desmaterialize o muro que cerca a exposição, em
tempo real, através do uso do croma-key.
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Iniciamos esse trabalho com o projeto de extensão orientado pelo Prof. Dr. Dorival
Rossi intitulado “Intervenções Urbanas”. Este teve como primeiro foco pesquisar
a essência da arte urbana usando a bibliografia recomendada para analisar os
trabalhos e traçar relações.
Através da pesquisa o conceito de intervenção se expandiu e, com isso, outras
formas de intervir passaram a ser pesquisadas na disciplina “Redes de Criação”.
Conhecemos o trabalhos de três artistas distintos, que foram relacionados entre si:
Stelarc - Artista /Cientista, discute em suas obras a evolução e extensão do
corpo humano através da tecnologia.
Blu Blu - Artista que desenvolve o grafite animado usando a cidade como su-
porte, e cria obras gigantescas e impactantes usando ferramentas para estender
seu corpo e capacidade de pintar.
Eduardo Kac - Artista/Cientista, explora a bioarte intervindo na genética dos
seres vivos. Criador de “GFP Bunny” (2000), um coelho modificado geneticamente
que emite cor verde quando exposto a luz azul.
A relação entre eles está no fato de todos atuarem em organismos vivos. No caso
de Blu Blu, devemos entender a cidade como tal. Assim, para os passos a seguir
do trabalho, a compreensão da cidade como organismo é fundamental para a
concepção do projeto
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“O nosso século é o primeiro sem terra incógnita, sem fronteiras. Nacionalidade é o princípio mais importante do conceito de “governo” - nenhuma ponta de rocha no Mar do Sul pode ficar em aberto, nem um vale remoto, sequer a lua ou os planetas. Essa é a apoteose do “gangsterismo territorial”. Nenhum centímetro quadrado da Terra está livre da polícia ou dos impostos... em teoria”.BEY, Hakin. 1991. TAZ - Temporary Autonomous Zone.
Autonomedia.
Segundo Bey, em nossos tempos ocorre um ‘fechamento no mapa’ e o conceito de
liberdade se perde. Entretanto, apenas em teoria, pois ainda existem entranças
e ‘espaços’ em que seja possível criar uma zona autônoma temporária, conforme
explica a seguir:
“Estamos à procura de “espaços” (geográficos, sociais, culturais, imaginários) com potencial de florescer como zonas autônomas – dos momentos em que estejam relativamente abertos, seja por negligência do Estado ou pelo fato de terem passado despercebidos pelos cartógrafos, ou por qualquer outra razão”BEY, Hakin. 1991. TAZ - Temporary Autonomous Zone.
Autonomedia.
O desejo de criar esses ‘espaços’ foi o que motivou esse projeto, que tem como
foco intervir além da superfície que demarca um território. Pensamos em como
criá-lo buscando inspirações em Alexandre Orion , que grafitou o túnel Max Feffer,
na região oeste da cidade de São Paulo, utilizando apenas um pano úmido, para
retirar a fuligem dos carros que impregnava ilustrando crânios em sua obra Ossário.
Ao passo que se resgata a compreensão da cidade como organismo, as relações
são estabelecidas entre o grafite e tatuagem, no âmbito em que ambos atuam na
superfície de sistemas complexos e orgânicos. Desejamos então criar um intervir
que perfure a pele dos muros (ou qualquer outra superfície limitadora), assim
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como faz o piercing (outra forma de modificação corporal), que cria novas áreas de
contato gerando conexões e permite o fluxo de conteúdo entre interno e externo.
Portanto, a intenção é criar esses espaços com um potencial de florescer como
zonas autônomas. Com isso, o objetivo foi gerar novas conexões e propor um
intervir o outro, a partir desse caráter subtrativo.
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A - Prefixo que significa negação ou ausência.
Hortus – Parte do latim e significa jardim fechado e tambem propriedade
cercada de muros.
Ahortus é a atualização do projeto exposto na exposição Jardim Sensorial. O
neologismo surge a partir da busca do conceito etimológico dessa temática onde
os termos ‘Hortus’ e ‘Éden’ são encontrados. Éden apresenta o conceito do
jardim dos desejos onde há paisagens luxuriantes, natureza benéfica e amor livre
enquanto que Hortus trata de tornar essas “dádivas” privadas, portanto separa
jardim de natureza. Todavia essa visão nos aprisiona, uma vez que as fronteiras
estabelecem regras e governo, privando-nos de nossa essência:
“Florestas/animais/seres humanos são investidos desde o início com o poder mágico do marginal, do desprezado e do proscrito. Se, por um lado, Caliban1 é feio e a natureza é uma “imensa selvageria”, por outro, Caliban1 é nobre e livre e a Natureza é um Éden.”BEY, Hakin. 1991. TAZ - Temporary Zone. Autonomedia.
Segundo essa compreensão, a atualização do projeto está em estabelecer um
desdobramento na murada com potencial de devolver o ‘estado de natureza’
ao jardim. Vale lembrar que esse levante necessita ser efêmero para que seja
eficaz, por isso inventamos uma instalação.
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A instalação Ahortus exposta no SESC Bauru é um projeto aberto dependente
input do usuário para existir, a partir da interação a pessoa passa a ter a sensação
de que ela desfaz o biombo que cerca a exposição.
Para obter o efeito desejado utilizou-se à técnica chroma-key, que consiste no
processamento de imagens, e tem como objetivo eliminar uma cor da imagem,
para posteriormente substitui-la por uma imagem ou vídeo.
O usuário deve adicionar uma fração de material com uma determinada cor-chave
sobre a superfície, nesse pedaço aparecerá o conteúdo que estava encoberto pelo
muro, dando a sensação de desmaterialização do muro, como se nele houvesse
grandes buracos. Assim que o ele retirar o material da superfície só é possível
visualizar o muro integro, essa instantaneidade cria a tão desejada zona autônoma
temporária.
No intuito de obter esse efeito foram necessários também alguns softwares que
trabalhassem em tempo real com o chroma-key. Decidimos então, como primeira
etapa, o local onde essa técnica seria aplicada. Em seguida, o conteúdo que o
muro esconde é fotografado, para que uma web cam seja instalada, com o mesmo
grau de inclinação e abertura da lente (com extrema precisão).
A próxima etapa consiste na calibração da cor escolhida como chave, nesse caso
utilizamos o verde, por questões técnicas. Neste momento, retiramos tudo que
contem a cor verde, e em seu lugar acrescentamos a imagem daquilo que atrás.
Assim que o usuário aparece em frente a webcam, munido do material verde
e posicionando-o frente ao muro, ele poderá notar no monitor de “feedback” a
abertura de um portal que o permitirá enxergar através.
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O presente projeto foi realizado de forma a priorizar o “como” intervir, e o fez
através das ferramentas do design contemporâneo. Pretendemos que ele fosse
uma atualização simples de sua forma de potência, e que se tornasse complexa à
medida que fosse incrementada.
Os estudos que levaram a esse projeto, aos que nos referimos “potência”,
permitem inúmeras formas de se atualizar, gerando novos conteúdos e formas de
existir. Nesse trabalho, apresentamos apenas uma delas, mas pretendemos abrir
espaço para que outras sejam desenvolvidas futuramente.
A todo tempo a conectividade e influencia dos outros trabalhos que habitaram a
exposição estiveram presentes e as integrações de todos os visitantes atribuíram
novas significâncias a essa instalação. Com tudo isso, esperamos ter realizado
nosso objetivo de transmitir ao usuário a sensação da liberdade, da ruptura de
barreiras, e o exercício do enxergar além do que se vê, além do permitido.
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- Bibliografia -
BEY, Hakin. 1991. TAZ - Temporary Autonomous Zone. Autonomedia.
FLUSSER, Vilém. 2007.O Mundo Codificado: por uma filosofia do design e da co-
municação. São Paulo. Ed. Cosac Naif
JOHNSON, Steven. 2003. Emergência: A vida integrada de formigas, cére-
bros, cidades e sotwares. Rio de Janeiro. Ed. Zahar.
LÉVY, Pierre. 1996. O que é o virtual. Rio de Janeiro, Ed. 34.
Rushkoff, Douglas.1999. Um Jogo Chamado Futuro. Revan
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