o mestre philippe de lyon - anjo guardião do martinismo

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Sociedade das Ciências Antigas O MESTRE PHILIPPE DE LYON Anjo Guardião do Martinismo por © Carmelo Ríos Nizier Anthélme, mais conhecido como “Maître Philippe”, veio ao mundo em Rubathier, Loisieux, na Savoie francesa, numa quarta-feira, 25 de Abril de 1849. Durante a gravidez, sua mãe Maria, tinha visitado Jean Marie-Baptiste Vianney, o santo Cura d’Ars, um homem milagroso que do nada fazia aparecer alimentos que se multiplicavam para socorrer os órfãos, e que materializava água para aliviar a sede de um ser sofredor, que predisse a chegada ao mundo de uma alma muito avançada. Seus pais, José e Maria, tiveram cinco filhos. Os fenômenos estranhos logo começaram na presença do pequeno Nizier. Já no parto, a mãe, sem sentir a menor dor, cantou e riu enquanto em suas mãos segurava um ramo de louro. Uma grande tempestade desabou no instante da chegada do menino. Depois, uma estrela fugaz sulcou o firmamento, talvez a mesma que foi vista no dia de seu batizado. O pároco da aldeia se inquietava pelos pequenos “milagres” que se manifestavam na proximidade do pequeno e dizia que esse menino estava mal batizado, pois materializava doces, curava a dor de cabeça apenas com um leve toque nas pessoas e, com cinco anos já trabalhando como pastor traçava um círculo com um ramo no solo ao redor do rebanho, do qual nenhuma ovelha podia sair e tampouco nenhum lobo aproximar-se, símbolo evidente de sua posterior missão como pastor divino. Aos quatorze anos foi viver em Lyon onde, simultaneamente a seus estudos na instituição Santa Bárbara, ajudava seu tio, o senhor Vachod, em seu açougue. O tio era um homem de grandes qualidades humanas, e extremamente compassivo, que exercia a caridade como religião pessoal, mas incrédulo no que se referia ao mundo dos espíritos. Dele diria o Mestre, anos mais tarde, que “se tivesse acreditado, teria sido um homem perfeito”. Moribundo, recebeu a visita de Philippe, que pondo um dedo em sua testa lhe disse: “Não acreditaste... olha agora!”. Philippe era de porte pequeno, corpulento e de aspecto muito simples. Seus cabelos eram pretos e finos, seus olhos de clarividente eram de um castanho variável, mas às vezes completamente azuis. Tinha o olhar profundo dos que sofreram muito. Todas as penas e tristezas deste mundo, mas também toda a beleza e alegria da vida universal estavam escritas em seus olhos. Durante os anos 1874 e 1875, Philippe se inscreveu na faculdade de medicina e farmácia de Lyon, ao mesmo tempo em que dirigia um consultório de cura espiritual onde atendia gratuitamente enfermos de condição humilde, frequentemente desenganados pela ciência. Os doutores não viam com bons olhos as surpreendentes qualidades terapêuticas do jovem, sobre quem circulavam inquietantes rumores de ter curado totalmente doentes que eles não tinham sabido tratar, por meio de certos poderes ocultos.

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Philippe de Lyon, anjo guardião

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  • Sociedade das Cincias Antigas

    O MESTRE PHILIPPE DE LYON

    Anjo Guardio do Martinismo

    por Carmelo Ros

    Nizier Anthlme, mais conhecido como Matre Philippe, veio ao mundo em Rubathier, Loisieux, na Savoie francesa, numa quarta-feira, 25 de Abril de 1849. Durante a gravidez, sua me Maria, tinha visitado Jean Marie-Baptiste Vianney, o santo Cura dArs, um homem milagroso que do nada fazia aparecer alimentos que se multiplicavam para socorrer os rfos, e que materializava gua para aliviar a sede de um ser sofredor, que predisse a chegada ao mundo de uma alma muito avanada. Seus pais, Jos e Maria, tiveram cinco filhos. Os fenmenos estranhos logo comearam na presena do pequeno Nizier. J no parto, a me, sem sentir a menor dor, cantou e riu enquanto em suas mos segurava um ramo de louro. Uma grande tempestade desabou no instante da chegada do menino. Depois, uma estrela fugaz sulcou o firmamento, talvez a mesma que foi vista no dia de seu batizado. O proco da aldeia se inquietava pelos pequenos milagres que se manifestavam na proximidade do pequeno e dizia que esse menino estava mal batizado, pois materializava doces, curava a dor de cabea apenas com um leve toque nas pessoas e, com cinco anos j trabalhando como pastor traava um crculo com um ramo no solo ao redor do rebanho, do qual nenhuma ovelha podia sair e tampouco nenhum lobo aproximar-se, smbolo evidente de sua posterior misso como pastor divino. Aos quatorze anos foi viver em Lyon onde, simultaneamente a seus estudos na instituio Santa Brbara, ajudava seu tio, o senhor Vachod, em seu aougue. O tio era um homem de grandes qualidades humanas, e extremamente compassivo, que exercia a caridade como religio pessoal, mas incrdulo no que se referia ao mundo dos espritos. Dele diria o Mestre, anos mais tarde, que se tivesse acreditado, teria sido um homem perfeito. Moribundo, recebeu a visita de Philippe, que pondo um dedo em sua testa lhe disse: No acreditaste... olha agora!. Philippe era de porte pequeno, corpulento e de aspecto muito simples. Seus cabelos eram pretos e finos, seus olhos de clarividente eram de um castanho varivel, mas s vezes completamente azuis. Tinha o olhar profundo dos que sofreram muito. Todas as penas e tristezas deste mundo, mas tambm toda a beleza e alegria da vida universal estavam escritas em seus olhos. Durante os anos 1874 e 1875, Philippe se inscreveu na faculdade de medicina e farmcia de Lyon, ao mesmo tempo em que dirigia um consultrio de cura espiritual onde atendia gratuitamente enfermos de condio humilde, frequentemente desenganados pela cincia. Os doutores no viam com bons olhos as surpreendentes qualidades teraputicas do jovem, sobre quem circulavam inquietantes rumores de ter curado totalmente doentes que eles no tinham sabido tratar, por meio de certos poderes ocultos.

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    Um dia, Philippe encontrou um doente chorando numa cama de hospital, j que iriam lhe amputar uma perna no dia seguinte. O Mestre assegurou-lhe que tal operao no aconteceria e f-lo prometer no dizer nada a ningum. No dia seguinte, os cirurgies perplexos, constataram que a perna enferma estava em processo de cura. s perguntas dos doutores, o enfermo respondeu: Foi aquele homem moreno ali.... Aquela milagrosa cura atraiu sobre Philippe ainda mais dvidas e um crescente ressentimento por parte da classe mdica. Em outra ocasio, visitou trs soldados afetados por febre tifoide, a tal ponto que os doutores aguardavam sua morte de um momento para outro. Aproximando-se deles e em voz baixa, Philippe disse: Consideram-vos perdidos, mas no vai ser assim. Os trs vo ser curados. Amanh entrareis em convalescena. E assim foi. Os mdicos souberam que, uma vez mais, o estudante Philippe tinha passado por ali e fizeram mais averiguaes sobre a estranha reputao do jovem curador. Logo provocaria a ira dos doutores da cincia e, em consequncia, foi expulso da faculdade de medicina por utilizar medicina oculta e charlatanismo. Acusaram-no tambm de explorao, de fraude e de uso do ocultismo. Ao longo de sua vida Philippe conheceria todo tipo de perseguies e denncias por parte dos mdicos, que enviavam espies e falsos pacientes a seu gabinete de cura, que Philippe descobria e os reenviava, com um sorriso, de volta ao remetente, e como o Grande Cagliostro (de quem se disse que Philippe era a reencarnao) os diagnosticava ironicamente: Excesso de blis na classe mdica. No entanto, no foram poucos os doutores que, com o tempo, se sentiram atrados pelo Mestre Philippe e se tornaram seus incondicionais colaboradores, admiradores ou discpulos e, inclusive, alguns de seus antigos detratores lhe enviavam - secreta ou discretamente - os pacientes que humildemente se sentiam incapazes de curar.

    SESSES DE CURA

    O Mestre Philippe reunia a cada dia, pela manh e tarde, em sua casa da Rue Tte dOr, em Lyon, enfermos (s vezes mais de cento e cinquenta!) do corpo, do corao e da alma que vinham de todas as partes pedir sua ajuda, assim como fiis devotos e alguns raros discpulos. Todas as sesses eram gratuitas, e quando se fazia alguma doao esta era repartida, no final, entre os numerosos pobres que se reuniam no umbral de sua porta. O nico sistema teraputico utilizado nessas sesses era a orao, j que Philippe proibia qualquer forma de ocultismo, adivinhao, magnetismo (ento chamado mesmerismo) ou de magia, que considerava desnecessrios, danosos e contrrios Lei Divina. Por outro lado, alguns de seus mais prximos discpulos, como os doutores Grard Encause (Papus), Enmanuel Lalande ou Paul Sdir, tinham sido grandes praticantes das cincias ocultas e da magia cerimonial, como seguidores de Saint-Yves DAlveidre e de Eliphas Levi, mas devido benfica influncia do Mestre e da evidncia de sua doutrina, abandonaram definitivamente essas vias para consagrar-se de corpo e alma ao servio do Cristo Sempre Vivo. Segundo os relatos das testemunhas, uma atmosfera luminosa, inexpressvel e espiritual se respirava nestas sesses, onde tudo era possvel para a Divina Providncia, encarnada em Philippe. Mas ele prprio frequentemente dizia: Eu nada posso, s fao pedir a Deus e vs no podeis sentir alvio algum nesta sala, seja para vossas enfermidades ou para aliviar o fardo que tanto pesa sobre este triste mundo, se no fizeres algo para o Cu. Aquele que no fez obras meritrias nada pode esperar, da mesma forma que no podeis sequer ser escutados. Com uma paternal bondade ouvia as palavras dos que a ele acudiam, tocava as fotografias de enfermos ausentes, tomava as cartas dos ali reunidos, cheias de pedidos de ajuda, de perguntas, de votos, de splicas, de confisses, que ele lanava ao fogo da lareira conhecendo o contedo profundo de cada uma delas. Um olhar, uma simples palavra, um leve toque de sua mo eram suficientes para que o Mestre sondasse nas profundezas dos sculos passados, conhecendo as causas esquecidas dos efeitos no presente, visveis frequentemente no sofrimento fsico e moral dos

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    assistentes. Seus olhos perscrutavam os pensamentos mais ocultos e os profundos sentimentos dos coraes, e via com clareza seu passado, seu presente e seu futuro, suas tristezas, sua dor, seus erros, seus problemas mais ntimos e a histria milenar da alma de cada participante. Viram-se homens orgulhosos, duros e severos, incrdulos, intelectuais ou racionalistas, que iam s sesses por curiosidade, para rir-se ou para desacredit-lo, sucumbirem, cair de joelhos, soluar e verter lgrimas desesperadas quando o Mestre lhes revelava obscuros acontecimentos de seus passados, demonstrando as origens de cada sofrimento que, como um pai, jamais julgava pois o Pai jamais nos julga dizia sempre - mas compreendia e indultava todos aqueles filhos prdigos em nome do Cu e do Secreto Amigo, em cujo exrcito de luz militava. Numa das sesses, um homem de aspecto arrogante fazia, em voz alta, observaes grosseiras e maliciosas, enquanto o Mestre falava: preciso ser idiota para acreditar em todas estas bobagens! - dizia - e outros comentrios do mesmo gnero. Passando perto dele em seu trajeto, o Mestre rogou-lhe que o acompanhasse a uma sala contgua. Ali lhe disse: Porque tal dia, a tal hora, estrangulaste aquela mulher? Eu estava a seu lado! O homem caiu de joelhos suplicando a Philippe que no o entregasse para a polcia. Com a condio de que mudes tua vida e sigas tua religio! - respondeu o Mestre Se seguir minha religio, deverei confessar-me, disse o desconhecido. J te confessaste para mim, suficiente!, terminou dizendo Philippe e o homem se foi chorando. Numa outra ocasio, uma famlia veio instalar-se prxima ao povoado onde ele vivia. Tal famlia era formada por uma mulher idosa e uma me de dois filhos. Todos viviam na mais lgubre pobreza, a ponto que a vida de todos eles corria perigo. A comunidade inteira se prestava a auxiliar famlia. Os discpulos do Mestre se interrogavam do porque de sua aparente indiferena para com aquela famlia, porque no mostrava nenhuma compaixo para com eles, sendo que sua vida inteira era dedicada a ajudar e a curar os pobres seres humanos. Um de seus mais prximos no pode evitar interrogar o Mestre a respeito. Este, silenciosamente, conduziu o discpulo a um quarto contiguo, f-lo fechar as cortinas e olhar fixamente para a parede. Com terror e assombro, ele viu projetada na parede a viso de uma anci e de uma jovem que deixavam morrer de fome outra mulher, para ficar com seus bens. Compreendeu que aquelas mulheres eram as pobres damas da vizinhana. Na parede daquela sala, viu como elas tinham aceitado voluntariamente seu estado atual, para poderem compensar sua dvida crmica, passando pela mesma situao que elas tinham criado numa vida anterior. Quando a cena se desvaneceu, o Mestre disse: No te inquietes, o Cu disps que dois seres de luz -os filhos da mulher jovem- venham salvar essa famlia do destino horrvel que as aguarda. Essas crianas levaro adiante o lar com seu trabalho e seu sacrifcio.

    CURAS MILAGROSAS Jean Baptiste Ravier nos conta esta histria: Dois carpinteiros se entregam fabricao de um pequeno atade, pois um menino da vizinhana acabava de morrer. Dois doutores saem de uma velha casa, falando entre si e reconhecendo que nada puderam fazer para salvar sua vida, que sua cincia ainda muito fraca, justamente no momento em que Philippe e um de seus discpulos chegam casa. Um dos doutores diz a Philippe: Morreu j faz horas! Custou-nos muito tempo te encontrar! Entrou antes em coma sabes o que um coma? E Philippe lhes responde: No nada, no nada, apressemo-nos. A me do falecido lhes diz que j muito tarde, pois faz mais de duas horas que seu filho morreu. Philippe sobe a escada que leva ao quarto de cima e entra.

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    Nizier Philippe se benze com o sinal da cruz, faz com que todos se sentem, procura no quarto a senhora Chapas e lhe pergunta: Entregas-me teu filho agora? Ela lhe responde: sim, sem compreender o que acontece. Ento Nizier Philippe se aproxima da cama, se concentra e diz: Juan, te entrego tua alma!. E o incompreensvel se produz. O defunto, branco, retoma rapidamente sua viva cor, v Nizier Philippe e lhe sorri. Emoo e alegria entre os assistentes. Eu assisti quela cena. Desde esse dia memorvel, jamais deixei o Mestre Philippe.1 Cabe dizer que o pequeno ressuscitado era Jean Chapas, um homem de excepcional sabedoria e humildade, que se tornaria o principal discpulo do Mestre e continuador de suas sesses de cura e de quem Philippe dizia que era o maior porque era o menor. Tambm afirmava que ao caporal Chapas (o cabo como ele o chamava) podiam pedir-lhe que realizasse curas, pedidos e milagres que a ele prprio o Cu negaria. Na medicina suprema do Mestre Philippe, extrada linha por linha do Evangelho e das prprias palavras do Divino Reparador, no havia lugar para nenhum mtodo de terapia convencional, nem energtica, nem vibratria, nem para o magnetismo, para a magia ou para a aplicao de uma cincia oculta. O caminho da verdadeira e definitiva cura consistia, fundamentalmente, no amor puro, consequncia imediata do esquecimento de si mesmo, na morte em vida do prprio ego, na derrota final do egosmo e do medo, cujas tendncias malignas e destrutivas so a causa de todo o sofrimento individual e coletivo dos seres. Tratava-se de imitar o Cristo, no como a uma personagem histrica ou como a um smbolo, mas como a uma presena viva. Atuar como Cristo o faria - como Cristo o faz - na prpria vida e ser o meio de expresso de Sua Luz, de seu Amor e de Sua Vida. E, para Philippe e quantos verdadeiramente possuam o grmen de uma autntica busca transcendental, s havia um caminho: o amor e a renncia ao egosmo. Mas o Mestre Philippe realizava tambm curas menos visveis: problemas do corao, tormentos do esprito, sofrimentos morais e espirituais. Como um Anjo Resgatador, se arrojava literalmente nas turbulentas guas da dor e do sofrimento humano, e salvava fsica, moral e espiritualmente os seres de naufrgios emocionais, de atolamentos espirituais, de tempestades na alma. Uma noite conta-nos Alfred Hael - ao regressar de seu laboratrio, depois de ter atravessado a ponte Morand, me rogou que aguardasse uns instantes. Acendeu seu cachimbo e desceu margem do Rhone. Ali, se dirigiu a trs homens que estavam deliberando uma m ao que desejavam realizar. Vendo-o caminhar at eles, se acreditaram descobertos pela polcia e, quando o Mestre lhes interpelou, comearam a negar tudo. No negueis! disse Foste tu quem tiveste a ideia! Responderam que estavam ss, sem trabalho e na maior misria. Ento, o Mestre Philippe prometeu trazer-lhes, no dia seguinte, numa hora fixada, a soma necessria para que se estabelecessem. No tendo o dinheiro, se viu obrigado a pedi-lo emprestado. Mais tarde esses homens se estabeleceram e, segundo o prprio Mestre, jamais houve comerciantes mais honestos.2 Alguns relatos afirmam que Philippe aparecia em situaes dramticas de tentativas de suicdio, de delitos e, inclusive de assassinatos, detendo a inteno autodestrutiva, os planos malignos ou a adaga mortfera. Para ele, tudo aquilo no era engendrado seno pela ignorncia ou pela misria que se esforava em aliviar de todas as formas possveis, visveis ou invisveis, muito mais alm do humanamente concebvel. Viram o Mestre curar distncia, apenas com a palavra, o filho moribundo de um juiz que na mesma manh o tinha condenado por exerccio ilegal da medicina!

    1 Jean-Baptiste Ravier: Confirmation de LEvangile par les actes et paroles de Matre Philippe de Leon. Le Mercure Dauphinois, Grenoble. Francia. 2 Alfred Hael: El Mestre Philippe, Editorial Escuelas de Misterios, Barcelona.

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    Sua doutrina, na linha exata do verdadeiro cristianismo, se baseava no Amor, no perdo, no silncio dos defeitos ou erros dos demais, na amnsia voluntria do mal alheio, na prtica do bem, da humildade, da misericrdia, da compaixo ativa e da bondade. Em ser uma providncia para quantos se aproximem e, em resumo, em fazer o mal a plena luz do dia e o bem na escurido -segundo suas prprias palavras. Sua prpria famlia viu Philippe diante dos tribunais em diversas ocasies, acusado de exerccio ilegal da medicina pelos ciumentos doutores da cincia que nunca entenderam a causa da devoo que lhe professavam os enfermos, nem esse milagroso poder espiritual que desafiava toda inteligncia, baseado simplesmente na f e na eficcia do amor. Mas, em algumas ocasies tambm utilizava uma poderosa energia espiritual quando se tratava de defender um inocente ou proteger o fraco. Numa ocasio, uma vez mais acusado por suas prticas pseudo ocultistas, tachadas de supersties, escutaram nos tribunais as caluniosas acusaes e difamaes atiradas contra o Mestre e, atnitos, viram como este, silencioso, no se defendia. Mas, semanas mais tarde, quando assistiram o juzo de um pobre curandeiro da comarca, tambm viram um Philippe pleno de potncia espiritual, pois ante a presena de numerosas testemunhas o jurado perdeu a voz e as letras da acusao se apagaram do papel!

    MEDICINA DIVINA

    Todo tipo de feitos milagrosos e extraordinrias histrias de curas preencheram a vida e a obra deste Soldado do Cu. A inexplicvel cura de um enfermo desenganado em troca de alguns dias ou mesmo de umas poucas horas sem falar mal do prximo. A redeno de graves erros passados, cujas consequncias eram visveis na triste existncia e na sade fsica e moral daqueles que o cercavam, em troca de uma orao, da privao de um simples desejo material, pela renncia a uma querela legal, pelo perdo de uma dvida, pelo esquecimento de uma ofensa. Tal era a medicina da alma que Philippe de Lyon prescrevia aos milhares de enfermos do corpo ou do esprito que, aflitos, chamavam sua porta. Durante mais de quarenta anos aconteceram milhares de curas extraordinrias, com frequncia de homens, mulheres, crianas e de animais e, inclusive, de rvores, de plantas e de campos de cultivo, desenganados pelos homens e pela cincia, sem utilizar outra medicina que a orao, a f e a confiana no Cu, que nos foram relatadas por seus contemporneos. Um dia, uma menina foi trazida por sua me. A pequena sofria de paralisia e era impossvel caminhar. A me pediu ao Mestre a cura de sua filha, ao que este respondeu: Ests disposta a pagar aquilo que eu te pea? A pobre me rompeu a chorar crendo que se tratava de uma soma de dinheiro, que sua humilde condio a impedia possuir. No dinheiro o que quero de ti - disse ento o Mestre Ests disposta a no falar mal de ningum at que tua filha tenha vinte anos? Aps a resposta da me, entre soluos, a menina se levantou e caminhou diante de uma assistncia jubilosa de testemunhos. Em outra ocasio, um comerciante que vendia a crdito para famlias pobres veio buscar o Mestre, comunicando-lhe que seu amado filho acabava de morrer. Philippe lhe disse: Deves ter uma longa lista de devedores em teu armazm. Ests disposto a esquecer de todas essas dvidas? ao que o desesperado pai respondeu que naquele mesmo momento rasgaria seu livro com as dvidas. Quando Philippe e o pai cruzavam o umbral da casa onde o filho jazia morto, este acabava de abrir os olhos. Para o Mestre Philippe, a Imitao de Cristo no consistia em fugir do que nos cabe viver, em separar-se dos semelhantes, em sentar-se a meditar num canto do templo, em perder-se num deserto de areia ou de solido, em esquecer-se do mundo vivendo no corao da selva, no cimo de uma montanha ou entre os muros de um monastrio. Consistia, sobretudo, em sair de si mesmo. Mas a seus discpulos, vrios deles antigos militantes de todas as formas possveis de ocultismo ou de

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    iniciao ocidental, aos terapeutas, aos curadores e, por fim, aos sinceros buscadores de uma real transformao interior, lhes exigia sacrifcios infinitamente maiores. Um dia, uma mulher veio chorosa pedir a cura de seu gato. Depois de escut-la, o mestre lhe disse: volta para casa, teu gato est curado. Quando ela partiu ele comentou com um de seus discpulos: Esta mulher jamais fez nada por ningum, mas esta manh sentiu pena por uma idosa e a ajudou a cruzar a rua. O Cu levou em conta esse ato de caridade e lhe concedeu a cura de seu gato. E acrescentou: Quanto a ti, essa ao no te teria servido absolutamente para nada.

    O CAMINHO DO FOGO

    Em 1877, Philippe contraiu matrimnio com Jean-Julie Landar, uma dama da aristocracia a quem tinha salvo da morte. Dessa unio nasceram dois filhos, Alberto, que morreu de varola poucos meses depois e Victria, uma alma pura, um esprito luminoso desde seu nascimento. Cheia de alegria e de compaixo, Victria casou-se, aos vinte anos com o doutor Enmanuel Lalande (conhecido com o pseudnimo de Marc Haven) mdico, autor, esoterista, grande mstico e um dos mais prximos discpulos do Mestre. De sade delicada, Victria anunciou a seu pai que devia morrer poucos meses depois de seu casamento. Em agosto de 1904, caiu doente. Sua famlia suplicava ao Mestre a cura de sua filha, mas ele guardava silncio. Nada posso fazer diria Victria ter um momento de lucidez, depois do qual se ir para sempre. Pedi a Deus uma alma pura e Ele me deu. Um ser como ela no tem nada a fazer neste mundo. O Mestre Philippe, que tinha ressuscitado os mortos, feito mudos falarem, aleijados caminharem, surdos ouvirem, curado tropas de soldados! Que possua um absoluto domnio sobre as foras da Natureza, que tinha feiro cair a chuva fresca na terra ressecada, feito o raio iluminar a noite escura, feito reverdecer a alma seca de quantos se aproximavam e provocado a tormenta espiritual no corao de seus discpulos! Que tinha mostrado a f pura no Amor verdadeiro e despertado o corao adormecido, moribundo ou murcho de milhares de seres! Matre Philippe, nada podia fazer diante do terrvel destino que o Cu lhe enviava! Diz-se que o escutaram orar...: Deus meu! Aceitamos as consequncias de nossa petio e prometemos suportar com resignao todas as provas que te compraza enviar-nos... Victria, o amor de sua vida, morreu com um sorriso no mesmo instante em que a seu fiel discpulo Jean Chapas nascia uma menina, a quem deram no nome de Martina, em memria de Louis-Claude de Saint-Martin. As nicas palavras do Mestre foram: Deus me crucificou vivo. Mas o Mestre sabia que esse poder, essa refulgncia espiritual, essa todo poderosa irradiao de milagroso amor, que no emanava de cincia alguma deste mundo, mas da fora do sacrifcio do eu, desse Amor puro, lmpido, sobrenatural por sobre-humano, que atravessava todo seu ser e que lhe tinha sido concedido diretamente do Reino dos Cus, para aliviar o sofrimento de todos os seres, no podia ser utilizado para si mesmo. Anos mais tarde afirmaria que a morte de Victria tinha evitado ou atrasado um grande desastre para a Humanidade e o planeta Terra. Em suas prprias palavras: Cada dia a alma se aproxima de Deus, e quando esteja preparada, se apresentar diante dEle. Para isso deve brilhar como um sol, do contrrio, no poderia resistir. Se soubsseis por que sofrem! Se conhecsseis o objetivo de vossos sofrimentos e o que vos aguarda como recompensa por vossos esforos! Estareis to felizes que j no sentireis nenhuma pena. J no haveria sofrimento.

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    O CAMINHO DO AMOR

    Aqueles que tiveram o raro privilgio de viver perto do Mestre atestam que seu modo de vida era simples, mas tambm muito estranho. Afirmam que dormia no mximo cinco horas divididas ao longo de vrias semanas, que pouco se alimentava e que, no entanto, possua uma energia inesgotvel, que passava as noites em seu laboratrio, preparando medicamentos, inventando artefatos, investigando, orando ou visitando enfermos, e seguramente trabalhando distncia nos planos invisveis. Possua tambm um domnio absoluto sobre os elementos da Natureza, acrescentava ou aumentava os dons teraputicos das plantas medicinais, fazia desabar a tormenta, cair uma tromba dgua ou deter a chuva a seu redor e precipitar um raio no meio do jardim de casa, para demonstrar um princpio espiritual, e gostava de acender seu cachimbo ao ar livre em meio a uma tempestade, ante o olhar assombrado de quantos o rodeavam. Numa ocasio, durante uma viagem por mar, comeou a soprar um vento forte que arrepiava e levantava grandes ondas, a ponto de pr em perigo a travessia, e os passageiros estavam muito assustados. Philippe disse a sua filha que fosse para a proa do barco e ordenasse tempestade que amainasse. Victria acudiu ao lugar e disse ao vento: disse meu pai que te detenhas, o que ocorreu imediatamente. Alguns de seus pacientes e discpulos atestam a presena do Mestre em dois lugares distantes ao mesmo tempo e, inclusive, sua faculdade de fazer-se invisvel, aparecer nos sonhos ou intervir no esprito em inumerveis casos desesperados, at mesmo depois de anos de sua morte. Como curiosidade, acrescentaremos que tambm afirmam que era absolutamente inacessvel aos videntes, e que os clarividentes diziam que estava constantemente rodeado por anjos e espritos protetores. Numa ocasio, na qual foi atacado na rua por uns meliantes, as testemunhas viram como estes eram literalmente sacudidos por foras invisveis sem que Philippe movesse um s dedo. Jamais poderemos saber at que ponto alcanava e alcana o poder espiritual do Mestre e de sua benfazeja presena. Sua Doutrina, seu Evangelho, se baseava exclusivamente no poder do amor, da compaixo e do sacrifcio do egosmo. Consistia, sobretudo, na capitulao total do ego, na rendio absoluta da personalidade diante do poder do Amor e da Luz da Alma, aqui e agora, nesta vida e com este corpo, no campo de batalha da existncia de cada dia. Em suas prprias palavras: No busqueis o repouso, buscai a guerra. Buscai os incrdulos, os maus, os ignorantes, os enfermos, e curai-os dando de vs mesmos, apesar de todo o esforo e das molstias que isso vos causar. Tornai-vos logo empobrecidos, cansados, esgotados, alcanados inclusive pelas dvidas devido a seus argumentos, fechai-vos em vosso quarto e rezai; a fora e o vigor voltaro. Philippe conhecia as causas ocultas dos efeitos visveis - as dvidas como ele as chamava - sobre a vida dos seres humanos. Sua alma bendita, em comunho constante com O Inefvel, podia sondar os sculos passados e encontrar a origem de qualquer consequncia crmica. Alfred Hael nos conta: Um dia, o Mestre abordou na minha frente um pobre homem sentado sobre seus calcanhares. Numa ocasio, quando passeava com um de seus discpulos, viram um homem paraltico que mendigava na passarela do Colgio. Suas pernas, deformadas, estavam paralisadas. Levavam-no at ali e iam busc-lo noite num pequeno carro. O Mestre lhe disse: conheo algum que poderia curar-te. Deves pedir a Deus e tuas pernas caminharo de novo. Prometes pedi-lo a Deus E o Mestre me disse ao partir: No pedir nada; a segunda existncia que passa assim, invlido. No quer trabalhar. Uma me, entre lgrimas e soluos, vinha pedir insistentemente a cura de seu filho pequeno, muito enfermo, mas o Mestre, apesar das splicas dos familiares, amigos e discpulos, sempre se negava a

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    intervir. Um dia, finalmente, aceitou e disse me sofredora: Seja como tu queres, e o filho se curou completamente. Anos mais tarde, a pobre mulher veio ver o Mestre para comunicar-lhe que esse mesmo filho, j maior, tinha assassinado o prprio pai.

    OS HERDEIROS ESPIRITUAIS

    Paul Sdir (1871-1926) pseudnimo do autor e mstico Francs Evn Le Loup, um dos mais admirveis discpulos do Mestre, escreveu: Afirmo que tive, durante um longo perodo de minha vida, a felicidade de ver viver um homem que, sem esforo aparente, realizava a perfeio do Evangelho. Aceitava ao p da letra as palavras do Evangelho, tendo por superficiais as exegeses modernas. Se nos esforamos em amar o prximo como a ns mesmos, o Cu nos revela o sentido oculto dos textos - dizia. Mostrava-se pouco prdigo em discursos. Colocava o amor fraternal antes de tudo, antes da orao e, inclusive, antes da f. Assinalava o orgulho e o egosmo como os maiores obstculos para nosso avano. Assim, esse cristo, esse filsofo, esse sbio, era o taumaturgo mais extraordinrio. Todas as maravilhas operadas pelos santos eu as vi realizar, as curas inexplicveis, os feitos de santidade, os milagres, floresciam sua passagem.3 O Dr. Eduard Bertholet, escreveu estas palavras acerca de seu Mestre: Um Mestre, segundo o Esprito, no algum que ensina, pois as lies que ele outorga, por muito vvidas e frutuosas que sejam, permanecem quase sempre silenciosas... Tudo entre os Amigos de Deus se desenvolvem ao inverso dos homens comuns. O Amigo de Deus possui a verdade, a verdade absoluta e no momento em que enviado a uma misso, o Pai lhe entrega um segredo por meio do qual, essa verdade absoluta se adapta a todas as particularidades do que relativo. O Homem Livre possui o direito de ser dono de si mesmo e do resto do mundo. Se seu olhar obriga toda criatura a mostrar-lhe seu corao nu, sua fora lhe confere sobre todos, uma autoridade suprema. Um olhar a uma planta e esta lhe revela todas suas virtudes, uma orao muda para a pedra do mais antigo monumento e esta lhe dir o nome do obreiro que o erigiu. O Homem Livre jamais adota frente aos homens uma atitude de Mestre e, em sua relao com Deus, jamais opera uma cura ou um milagre, jamais se permite a menor iniciativa ordinria da vida cotidiana sem solicitar antes sua permisso. O mvel profundo e nico que faz agir um Homem Livre o Amor....4 Paul Sdir, como outros grandes ocultistas e iniciados em toda sorte de ritos esotricos orientais e ocidentais, viu desmoronar seu universo de especulaes metafsicas diante da presena de um verdadeiro Enviado do Cu, um autntico Mestre do Amor. Numa de suas obras lemos: Quando o Mestre aparece, como um sol que se eleva no corao do discpulo, todas as nuvens se dissipam, todas as escrias se diluem. Uma clareza nova se esparge sobre o mundo, esquecemo-nos das penas, do desespero, das ansiedades. Se o pobre corao as envia at as radiantes paisagens entrevistas, sobre as quais o aprazvel esplendor da Eternidade desvenda suas glrias, nada obscuro pode ensombrecer a Natureza e tudo, enfim, se consome na admirao, na adorao e no amor....5

    3 Paul Sdir: Quelques Amis de Dieu. Les Amitis Spirituelles. Pars. 4 Dr. Eduard Bertholet: La Reincarnation daprs le Matre Philippe de Leon. Ediciones Rosicruciennes. Lausana. Suiza. 5 Paul Sdir: Initiations. Les Amites Spirituelles. Pars.

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    Em sua obra mestra de misticismo Iniciaes, relato alegrico e autobiogrfico, como discpulo na busca da verdade eterna, onde a personalidade do Mestre Philippe simbolicamente ocultada sob os traos de um personagem misterioso chamado Thefanes, escreveria: Eu, iniciado num grande nmero de graus, afiliado a todas as seitas europeias que tocam de perto ou de longe o iluminismo, obreiro de no poucas dentre elas. Eu que tinha escrito tantos livros sbios, que meus correspondentes estrangeiros chamavam Mestre Mui Douto e Sbio, e que acabei por crer, por fora de ouvir dizer. Eu que tinha realizado ritos mgicos e renovado as curas paraclsicas, que tinha dado luz um grande nmero de homens e mulheres respeitosamente atentos, que me acreditava impvido e impassvel, sentia minha torre de marfim tremer em sua base. Estava desorientado e me teria reprovado a mim mesmo se no tivesse adotado, diante desse desconhecido, outra atitude que a mais sincera: o desejo ardente de chegar a uma sntese, a algum repouso. Gerard Encause (1865-1916) conhecido com o clebre codinome de Papus, grande renovador e inspirador do Martinismo contemporneo que, ao longo de sua vida, tinha sido racionalista, mago e ocultista, se viu precipitado para o verdadeiro misticismo depois de conhecer o Mestre na Gare de Lyon. Numa de suas cartas a Philippe, lemos: Querido e bom Mestre: Recebi sua carta, que agradeo, pois sempre uma alegria ver sua to desejada escritura. Vs me fizeste conhecer e amar o Cristo, e por isso lhe serei eternamente agradecido.6 Alguns autores e certos grupos de ocultistas e de racionalistas, acusaram Papus, Sdir, Marc Haven (o Dr. Lalande) e outros valentes discpulos de Philippe de Lyon de terem tido imperdoveis e melanclicos desvios catolicistas no fim de seus dias. evidente que no compreenderam a transcendncia e a importncia capital do encontro com um verdadeiro Mestre do Amor e com um ensinamento to perfeito e simples, como o exerccio da compaixo incondicional para qualquer forma de existncia. Por outro lado, a doutrina do Mestre Philippe, inclua sua crena na Reencarnao e na necessidade de purificar-se por si mesmo, por um processo de sucessivas existncias: No sei se acreditais ou no na reencarnao. Sois livres para faz-lo. O que eu sei que me lembro de ter existido, de ter ido e ter voltado, e que sei quando irei de novo. Mas h algo que mostre mais a justia de Deus que esse tempo que nos d para reparar nossos erros?. Ademais de sua crena na reencarnao, para Philippe no havia outro sacramento que a bondade do corao, e a obrigao de compensar por si mesmo as dvidas (o carma) pelo exerccio da bondade, da humildade, da pobreza de esprito, o sacrifcio do orgulho e do egosmo, e o exerccio do amor em qualquer circunstncia. Estes ensinamentos resultavam por demais incompatveis com o dogma catlico romano, e menos ainda com a atitude habitual de seus ministros, e tambm com o saturado ambiente racionalista, anticlerical - e anti-espiritual - de certas lojas e obedincias manicas. Tampouco acreditava na necessidade de qualquer intermedirio entre a luz da alma e o Reino dos Cus, e outro sacerdcio exceto o que h que se esperar de um autntico cristo, pois todo sincero discpulo de Cristo, todo seguidor do Caminho do Amor um verdadeiro sacerdote, um secreto agente do Plano Divino. Durante toda sua vida o Mestre Philippe foi vtima dos furiosos ataques da classe mdica e da polcia secreta, que o considerava suspeito de espionagem, por causa de sua ntima relao com a corte da Rssia. E tambm de campanhas de injrias e de monstruosas calnias urdidas contra ele

    6 Dr. Philippe Encausse: Matre Philippe de Leon, thaumaturge et Homme de Dieu. Chacornac, Pars.

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    por personagens obscuros e por jornalistas pagos por polticos, doutores ou falsos curadores sem escrpulos. Que foi exemplo de amor, de entrega sem reservas, de sacrifcio alm do humano; mdico extraordinrio, terapeuta celestial do corpo e da alma, amigo, conselheiro e pai espiritual e ntimo dos necessitados e dos sofredores! Que dilapidou literalmente a fortuna de sua famlia para ajudar os pobres, a ponto de ter que pedir emprstimo para manter sua beneficncia ativa e annima! No obstante, outros filsofos, ocultistas e espiritualistas souberam e sabem - reconhecer na presena do Mestre o ideal mais ntimo de seus coraes, encarnado na imagem exterior de um Homem de Deus, de um Soldado de Cristo. E, como o prprio Mestre do Amor e seus Apstolos, tambm os fiis seguidores de Philippe de Lyon foram vtimas da intolerncia, da injustia, da incompreenso e da ingratido daqueles que, com frequncia, tinham resgatado da misria material, moral e espiritual, e em troca, quase sempre tiveram que suportar o ataque das obscuras foras da ignorncia, de todos os inimigos da Luz e do Poder da Alma, dos sicrios do Adversrio- nas palavras de Paul Sdir. Mas a respeito, Jean-Baptiste Ravier menciona estas palavras do Mestre: Aquele que no tem inimigos um morno, no sentido de que jamais fez o bem, pois fazendo o bem, se recolhe ordinariamente a ingratido, algo que no deve inquietar-nos.7 Mas o encontro com o Amor verdadeiro, talvez com o mais elevado amor a que um ser humano dado ascender, tangvel na benfazeja presena do Mestre Philippe, provocou em seus discpulos uma extraordinria transformao, uma tempestade na alma, um naufrgio do ego, e estabeleceu uma paz hermtica e uma felicidade indefinveis em seus coraes e lhes abriu o caminho para esse sonhado Reino dos Cus, que no um lugar num espao distante, mas um estado da alma, que como nos diz o evangelista Tom, Est em ns e fora de ns. Nem um s de seus valentes discpulos, verdadeiros Martinistas convertidos em genunos Soldados do Cristo Vivo, jamais deu um passo atrs no campo de batalha do sofrimento humano e na luta pelo avano da alma. A esse respeito, o estudo biogrfico dos herdeiros espirituais do Mestre Philippe no pode deixar de impressionar-nos e de comover-nos. Dimitri Sudoske, mais conhecido como Mouni Sadhu (1897-1971) pseudnimo de um investigador metafsico polaco que, como o clebre escritor Paul Brunton, encontrou seu Mestre, Ramana Maharshi aos ps da Santa Montanha de Arunachala, no sul da ndia, nos deixou um relato autobiogrfico em sua bela e profunda obra Em Dias De Grande Paz8. Nela revela que depois da leitura do livro de Paul Sdir Iniciaes, procurou veementemente o Mestre Secreto do qual fala a obra por toda Frana, sem encontr-lo. A maioria dos fervorosos discpulos de Philippe de Lyon, que continuaram sua obra ou escreveram profundos livros dedicados presena viva do Mestre, tinham sido iniciados no Martinismo, e foram verdadeiros smbolos vivos, continuadores e mensageiros da doutrina de Louis-Claude de Saint-Martin, feita visvel em corpo de amor nos ensinamentos de Philippe. Ademais do insigne Paul Sdir, o Dr. Philippe Encause, filho de Papus autor de uma excelente biografia9. Enmanuel Lalande, com sua magistral obra Le Matre Inconnu Cagliostro, na qual disfara a personalidade de Philippe sob os traos do Grande Copto. Jean Bricaud, Claude Laurent, Michel de Saint-Martin, Auguste Jacquot, Leo Costet de Maischeville (Swami Sevananda) Auguste Philippe (irmo do Mestre), Georges Descormires (Paheng), Jean-Baptiste Ravier, Jean-Franois

    7 Jean-Baptiste Ravier: Confirmation de LEvangile par les actes et paroles de Matre Philippe de Leon. Le Mercure Dauphinois, Grenoble. Francia. 8 Mouni Sadhu: En Dias de Gran paz. Sirio, Sevilla. 9 Dr. Philippe Encausse: Matre Philippe de Leon, thaumaturge et Homme de Dieu. Chacornac, Pars.

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    Brouse, Marie Lalande, segunda esposa de Marc Haven. E, dizem que a srie de obras de Cirel Scott O Iniciado, so baseadas na personalidade e nos prodigiosos feitos pelo Mestre Philippe. Mas, quem ou o que era na realidade Philippe de Lyon? Alfred Hael, fervoroso discpulo e autor de uma bela e muito profunda obra sobre o Mestre, nos conta esta reveladora histria: Bou-Amama era o adivinho da vila rabe na Exposio Universal do ano de 1900, em Paris. Papus tinha falado com ele sobre o Mestre Philippe e ele tinha expressado o desejo de viajar a Lyon para v-lo. Tinha, disse, muitas coisas para dizer-lhe. Eu fui o encarregado de receb-lo e de conduzir esse velho rabe sesso no dia que o M. Philippe tinha fixado. Permaneceu ali um momento diante do Mestre e fiquei surpreso ao ver que no lhe falava. Quando a sesso terminou, descemos a escada, ele e eu, e fomos sentar num banco no jardim, onde o Mestre Philippe devia reencontrar-nos. Tivemos uma conversao geral durante vinte minutos, depois o Mestre Philippe nos deixou. Quando expressei a Bou Amama minha estranheza de que no tivesse exposto ao Mestre as numerosas questes sobre as quais desejava falar-lhe, ele me respondeu: disse-lhe tudo e ele me respondeu. Eu perguntei ento: O que pensa do Mestre Philippe? Ele disse, elevando o indicador da mo direita: grande. muito grande, o maior.10 Numa ocasio, na qual o Mestre retornava a seu lar depois de suas cotidianas visitas aos enfermos, um cavalo atado a uma carruagem ficou muito nervoso e comeou a relinchar ao v-lo, a tal ponto que o cocheiro temia pelo que poderia ocorrer naquela praa to concorrida. Philippe se aproximou do cavalo, segurou-o pelo arreio, acariciou-o e lhe disse suavemente ao ouvido: Sofres meu pobre pequeno. Tem pacincia. Sei que no ests onde te corresponde, mas no te atormentes, pois j arranjarei isso. Tu me reconheceste, tu, enquanto que os homens no me reconhecem!

    O FINAL O mestre Philippe de Lyon continuou at o fim de seus dias suas milagrosas curas em seu espao da Rue Tte dOr, e poderamos evocar milhares de lembranas, de emotivos relatos, de inverossmeis feitos milagrosos. A tal ponto sua presena benfazeja assombrava a todos, que muitos pensavam que se tratava da encarnao de Jesus ou de algum dos discpulos do Mestre da Galilia. Mas ele afirmava categoricamente: Muitos de vs creem que sou Jesus, ou quase Ele. No vos equivoqueis. Eu sou o Cachorro do Pastor. O menor de vs. Por isso Deus me concede tudo quanto lhe peo. Quanto a vs, vos acreditais muito grandes. Por isso Deus no vos escuta. Eu no sou nada. O Cu tudo pode, eu no sou mais que o cachorro do pastor. No tenho nenhum mrito, pois no segui a via comum dos homens.... Estas palavras nos evocam a doutrina dos Avatares do Oriente, descidos do alto em beneficio do baixo, e certo que a vida, a obra, o exemplo e os ensinamentos de Philippe de Lyon concordam com a mensagem que, desde o alvorecer dos tempos, nos chegaram dos grandes Avatares como Orfeu, Mitra, Krishna, Buda ou Jesus o Cristo: o valor onipresente do Amor, do sacrifcio do egosmo, da renncia ao si mesmo, da confiana absoluta na energia da compaixo, no poder reconciliador e ressuscitador do Amor do Cu, e para isso, o Mestre nos diz: Cr-me, busquei outro caminho, mas s h um caminho: amar o prximo como a si mesmo.

    10 Alfred Hael: El Mestre Philippe, Editorial Escuelas de Misterios, Barcelona.

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    E qual , pois, o caminho, a tcnica para essa reconciliao com o Reino Divino? Philippe nos diz categoricamente: necessrio pr o orgulho aos ps e no ser nada, E o resto nos ser dado por acrscimo. O Mestre Philippe comeou a consumir-se lentamente em seu lar de Clos Landar. Sem foras para visitar seus enfermos, viam-no solitrio, passeando pelos bosques que tanto amava, falando com as rvores, com os pssaros - como so Francisco - e tambm com seres invisveis, talvez com a corte angelical de entidades divinas que sempre o acompanhavam, prontos a servir imediatamente aquele que incapaz de servir-se a si mesmo. At o ltimo instante emanava dele, como sempre, essa bondade viva, esse amor doce, clido, paternal, infinito, que abarcava o espao e o tempo, os mundos, os planos, os Universos essa Luz da Alma feita ser humano, e essa benevolncia ativa para com todas as formas de existncia, que atuava em todos os reinos da matria e do esprito, e ainda mais alm. A um de seus discpulos, ao falar-lhe das sances ou sesses de cura, disse:

    Tudo o que se realiza aqui repercute instantaneamente em todo o Universo. Passava as noites sentado em sua poltrona, atormentado por terrveis dores no corao, no entanto, nenhum mdico jamais encontrou nele sinal algum da mais leve patologia. No dia anterior sua morte, tinha passeado com Alfred Hael e aparentava estar em perfeito estado de sade. Mas por fim, s onze horas e trinta minutos da manh do dia 2 de agosto de 1905, Philippe levantou, deu alguns passos at a janela, um gemido sulcou o ar e caiu morto. Tudo tinha terminado. O Mestre Philippe tinha deixado este mundo para voltar sua verdadeira morada no Infinito. Antes de sua partida profetizou seu retorno, ainda afirmou que s seria reconhecido por alguns. Aps sua morte se soube muito mais da beneficncia secreta que tinha mantido oculta at a seus mais prximos colaboradores ou familiares. O que poderamos dizer dos inumerveis rfos, mes solteiras, mendigos, enfermos, presos, vivas e lares humildes que ele sustentava material e espiritualmente! Sua inumao aconteceu em 5 de Agosto no cemitrio de Loyasse, em Lyon. Uma massa incontvel de pessoas, vindas de todas as partes, acudiu para dar testemunho de gratido quele que tinha sido um Mestre e guia para uns, um grande benfeitor para outros e um exemplo para todos. A seu fiel Jean Chapas, o cabo, audaz continuador da obra do Mestre, deixou como herana, entre outros bens, a responsabilidade de dirigir a sances de cura e o pagamento mensal de mais de cinquenta aluguis de lares para pessoas pobres! Diante de seu mausolu, prximo ao de Jean Chapas e Jean-Baptiste Willermoz, no qual sempre cantam os pssaros e no qual jamais faltam flores, pleno de votos que, como neve pura cobrem de papel branco os ramos de suas frondosas rvores, renascidos e voltados para a verdadeira vida, como os coraes dos devotos do Mestre, e de numerosas mostras de agradecimento pelos milagres que continuam produzindo-se com a evocao de sua bem amada presena, no podemos seno sentir uma profunda emoo espiritual e um sincero sentimento de infinita gratido. Pelo poder do amor a Matre Philippe, esse lugar se transformou em destino de peregrinos e admiradores, de curadores, de iniciados na via cardaca, de iniciados Martinistas de todo o mundo, de sinceros buscadores espirituais, e de todos aqueles que sentiram em sua alma o chamado do verdadeiro Amor. Recordando sua benfazeja presena, estas palavras ressoam em nossa alma:

    No temais perder-me. Tenho um p no fundo do mar e outro sobre a terra.

    Uma mo para vs e a outra para o Cu.

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    Assim, sempre voltaremos a nos encontrar. Na atualidade, e com certeza no de forma casual, mas merc de um secreto desgnio e por vontade do Mestre do Amor, com relao ao despertar na humanidade uma nova luz de Conscincia Crstica, se revelou em todo o mundo um vivo interesse pela vida e pela obra de Philippe de Lyon. Em diferentes lnguas esto sendo editados muitos livros, biografias e, inclusive, vrios filmes sobre este personagem extraordinrio, que trazem uma grande luz, esperana e grande consolo ao aflito mundo atual, ao mesmo tempo em que indicam claramente uma direo a seguir no cenrio da evoluo do planeta Terra. Em suas palavras, podemos escutar os profticos e esperanosos ecos do futuro imediato: Podemos permanecer algum tempo sem avanar, mas chega o momento no qual somos empurrados pelas adversidades ou pelas enfermidades; devemos ento avanar ainda que no queiramos; a hora chegou, o Cu o quer assim! No seremos julgados pelo que acreditamos, mas pelo que temos feito. Amar ao prximo no to difcil, suficiente fazer esforos verdadeiros para quer-lo. O que nos faltam so esforos e o que os paralisa o orgulho. O Mestre Philippe de Lyon, um dos maiores Seres de Luz que a Humanidade j conheceu, exteriormente foi um terapeuta extraordinrio do corpo, do corao e do esprito, mas secretamente, qui uma das maiores almas que jamais caminharam sobre esta Terra. E nos deixou uma mensagem, a mesmo que, em todas as pocas, nos legaram os Amigos de Deus, os Homens Livres, os Servidores Desconhecidos, os verdadeiros Soldados do Cristo Vivo, e que talvez continuem nos deixando eternamente: que a nica direo para voltar para casa, para esse Reino dos Cus que est em ns e que ns, e talvez a nica lio que venhamos a aprender neste planeta, que devemos amar incondicionalmente o nosso prximo, e que esse prximo inclui a Natureza, a Vida e seus infinitos seres. O Mestre Philippe de Lyon continua vivo entre ns, pois o Anjo Guardio dos Martinistas, dos Cavaleiros Benfeitores, dos terapeutas do corpo e do corao, dos Nobres Viajantes, dos autnticos Servidores Desconhecidos do Cristo, e de todos aqueles que militam no Secreto Exrcito do Bem, que humildemente e em nome do Amor, sacrificam com frequncia sua felicidade, sua paz, sua sade, sua reputao e seus meios materiais para socorrer e aliviar a dor e o sofrimento dos seres visveis e invisveis, passados, presentes e futuros. Diante de suas flores, escutando o canto dos pssaros e diante da luz branca que se filtra tnue atravs dos ramos das rvores, diante da beleza e do amor puro que evoca em nosso corao sua adorada lembrana, estas palavras consoladoras e redentoras, ressoam sempre em nossa alma: preciso que acrediteis na imortalidade da alma, que Deus no vos deixou ss. Ele vos deu uma alma que parte dEle e que est convosco. No rejeites a Luz. De tempos em tempos, o Cu enviou, em diferentes pontos do globo, encarregados de trazer a Luz, e se a rejeitas, das trevas menos espessas nas quais vos encontrais, sereis imersos em trevas mais escuras. Ningum, vos asseguro, ningum vos ama tanto como eu. Se sentisses o que eu sinto, sabereis que no somos seno Um. Eu estarei sempre convosco, no diante de vs, mas convosco. Quando encontreis vossa carga demasiado pesada, pedi a Deus que alivie vossas penas ou pensai em mim e vos prometo que sereis aliviados se estais animados por boas intenes, j que sem elas, tampouco eu vos escutarei.

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    Prometo-vos que estarei sempre convosco, o prometo de novo e o juro, que nenhum de vs ser perdido. Se vos perdeis, irei buscar-vos por todas as partes onde estivestes, ainda que seja no fundo do grande inferno. Deus testemunha de que no entrareis no Cu sem ter-me voltado a ver. Estais sob meu imprio e no entrarei no Paraso seno quando vs mesmos retornes e entres nele. Amai-vos uns aos outros e vos prometo que no momento de vossa morte um s pensamento vosso me levar at vs. Estarei a!

    AMAI-VOS UNS AOS OUTROS, O CU TUDO PODE!

    Carmelo Ros

    Bibliografia:

    1- Jean-Baptiste Ravier: Confirmation de LEvangile par les actes et paroles de Matre Philippe de Leon. Le Mercure Dauphinois, Grenoble. Francia. 2- Alfred Hael: El Mestre Philippe, Editorial Escuelas de Misterios, Barcelona. 3- Paul Sdir: Quelques Amis de Dieu. Les Amitis Spirituelles. Pars. 4- Dr. Eduard Bertholet: La Reincarnation daprs le Matre Philippe de Leon. Ediciones Rosicruciennes. Lausana. Suiza. 5- Paul Sdir: Initiations. Les Amites Spirituelles. Pars. 6- Serge Caillet: Monsieur Philppe, LAmi de Dieu. Derbe, Pars. 7- Mouni Sadhu: En Dias de Gran paz. Sirio, Sevilla. 8- Dr. Philippe Encausse: Matre Philippe de Leon, thaumaturge et Homme de Dieu. Chacornac, Pars.

    Outros livros recomendados: - Franois Brouse: LEvangile de Matre Philippe. La Licorne Aile. Pars. Auguste Jacquot/ Auguste Philippe: Les Rponses de Matre Philippe. Le Mercure Dauphinois, Grenoble. Francia. - Victoire Philippe: Les carnets de Victoire Philippe. - Phillip Collin: Vie et enseignements de Jean Chapas, le disciple de Matre Philippe de Leon. Le Mercure Dauphinois, Grenoble. Francia. - Claude Laurent: Gurisons et enseignement de Matre Philippe. Le Mercure Dauphinois, Grenoble. Francia. - Carmelo Ros: Adeptos. Escuelas de Misterios. Barcelona. E um maravilhoso filme de Bernard Bonamour: Matre Philippe de Lyon, Le Chien du Berger. http://www.youtube.com/watch?v=iJFXrBPzT6M

    FIM