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O MINISTÉRIO PÚBLICO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL João Alves Procurador Formador Díli, Maio de 2013

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O MINISTÉRIO PÚBLICO

NO

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

João Alves Procurador Formador

Díli, Maio de 2013

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ÍNDICE Fls

I- Introdução…...……................................................................................................4

A- A Constituição…………………………………………………………………......4

B- O Estatuto do Ministério Público………………………………………………. .6

II- Comentário às intervenções do MP previstas no Código de Processo Civil….12

III- Exemplos de peças processuais...…….............................................................49

1- Requerimento. Arguição de nulidade por falta de citação do MP……….…..49

2- Requerimento. Arguição de nulidade por falta de vista (parte acessória)….51

3- Requerimento. Resolução de conflito negativo de competência……………52

4- Requerimento. Pedido de confiança do processo…………………………….53

5- Petição inicial. Acção especial de interdição…………………………………..54

6- Petição inicial. Acção especial de inabilitação………………………………...57

7- Petição inicial. Acção especial de inventário………………………………….60

8- Petição inicial. Acção especial de reforma de livro…………………………...61

9- Providência cautelar de arresto………………………………………………...64

10- Contestação. Requerimento para prorrogação do prazo…………………..67

11- Contestação. Responsabilidade civil do Estado…………………………….68

12- Contestação. Representação de menor……………………………………..74

13- Contestação. Arrendamento. Eficácia do caso julgado……………………75

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14- Reclamação da especificação e questionário………………………………82

15- Recurso de agravo. Requerimento de interposição………………………..83

16- Recurso de apelação. Requerimento de interposição……………………..84

17- Recurso de apelação. Alegações……………………………………………85

18- Recurso de apelação. Contra alegações (a concordar com sentença) …89

19- Execução por custas ………………………………………………………….91

20- Execução de sentença (com liquidação da obrigação) …………………...93

21- Oposição à penhora…………………………………………………………..95

22- Oposição à execução baseada em sentença……………………………...97

23- Carta rogatória recebida por via diplomática. Pedido de cumprimento....99

24- Alegações. Revisão de sentença estrangeira……………………………100

ABREVIATURAS

- C. Civil: Código Civil. - C. Penal: Código Penal. - CPC: Código de Processo Civil. - CPP: Código de Processo Penal. - MP: Ministério Público.

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I- Introdução A) Na Constituição:

CAPÍTULO II MINISTÉRIO PÚBLICO

Artigo 132.° (Funções e estatuto)

1. O Ministério Público representa o Estado, exerce a acção penal, assegura a defesa dos menores, ausentes e incapazes, defende a legalidade democrática e promove o cumprimento da lei.

2. O Ministério Público constitui uma magistratura hierarquicamente organizada, subordinada ao Procurador-Geral da República.

3. No exercício das suas funções, os magistrados do Ministério Público estão sujeitos a critérios de legalidade, objectividade, isenção e obediência às directivas e ordens previstas na lei.

4. O Ministério Público goza de estatuto próprio, não podendo os seus agentes ser transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos senão nos casos previstos na lei.

5. A nomeação, colocação, transferência e promoção dos agentes do Ministério Público e o exercício da acção disciplinar competem à Procuradoria-Geral da República.

NOTAS: em síntese, as funções do MP na área cível podem ser divididas em três grandes

grupos: representação ou intervenção principal, assistência ou intervenção acessória e

fiscalização ou defesa da legalidade.

Importa precisar qual o sentido em que o termo Estado aqui é utilizado, na acepção

lata, o Estado é uma comunidade que, em determinado território, prossegue com

independência e através de órgãos constituídos por sua vontade a realização de ideais e

interesses próprios (Estado-Colectividade). Numa acepção restrita, o Estado é a pessoa

colectiva pública que, no seio da comunidade acima referida, e para efeitos internos,

prossegue, sob a direcção do Governo, a actividade administrativa (Estado-Administração).

Em regra, quando a lei civil ou processual civil pretendem referir-se ao Estado-

Administração, utilizam o termo Estado. Já, porém, quando o Estatuto confere ao

Ministério Público competência para representar outros interesses, pessoais ou

patrimoniais, ou de defesa «do próprio ordenamento jurídico, actuando a dimensão ética

deste, sendo a consciência legal do Estado enquanto suporte jurídico da comunidade

integrante», se entende que o Ministério Público actua em representação do Estado-

Colectividade.

Quando actua em defesa de interesses que relevam do Estado-Colectividade,

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estando os mesmos subjectivados relativamente a pessoas conhecidas, o Ministério Público

litigará processualmente em representação directa das mesmas, como sucede, no âmbito da

defesa de incapazes e ausentes determinados e conhecidos, Trata-se da representação,

activa ou passiva a titulo de intervenção principal - autor ou réu, requerente ou requerido,

exequente ou executado.

Nas acções cíveis, em representação do Estado existe a possibilidade de constituição

de mandatário próprio ou nomeação de defensor público, sem prejuízo do MP continuar a

intervir acessoriamente no processo (art. 5°, n° 2 e 4 do Estatuto do MP-Lei 14/2005 de

16/9 e art. 23°, n° 1, do C. Civil).

A disponibilidade e titularidade dos interesses do Estado pertencem à

Administração e, consequentemente, esta define o conteúdo, valor e amplitude da pretensão

a sustentar em juízo.

O magistrado do MP tem autonomia técnica na condução do processo.

Na sua actuação, deve utilizar os meios processuais que, em concreto, melhor

salvaguardem as posições do Estado, respeitando os deveres de lealdade, colaboração e

boa-fé.

As intervenções oficiosas, são competências especificamente atribuídas por lei ao

MP para, em nome próprio e na prossecução directa de um interesse público da

colectividade, posto a seu cargo, intentar determinadas acções ou procedimentos judiciais.

Trata-se de intervenção a título principal, não no exercício de qualquer forma de

representação mas, no âmbito de uma competência específica concedida por uma norma

especial que legitima a actuação oficiosa do MP (actuação directa e autónoma sem

interposição de qualquer entidade em cuja esfera jurídica se situe o direito exercido através

da acção).

A razão deste tipo de actuação processual é a defesa ou prossecução de um interesse

público radicado na própria colectividade, expresso no Estatuto do MP (art. 5°, n° 1), ao

conferir competência ao MP para actuar «... nos demais casos em que a lei lhe atribua

competência para intervir».

Como características deste tipo de intervenção principal destaco:

1- O carácter oficioso, a intervenção não é condicionada por qualquer entidade pública

relacionada com a prossecução do interesse em causa.

2- Carácter taxativo, reportada a um tipo específico de actuação previsto na norma

atribuidora de competência.

3- O MP actua como verdadeiro substituto processual dos titulares das relações

jurídicas materiais e não como representante destes.

4- Existência de isenção de custas (art. 2º, al. c) do Código das Custas Judiciais).

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Exemplo: o pedido de anulação de aquisições de bens não necessários à prossecução

dos objectivos estatutários de associações e fundações (art. 12º, nº 2, al. b) do DL

5/2005 de 3/8).

Actuação de acordo com a legalidade significa que o MP só pode exercer as suas

funções de acordo com a lei.

Actuar com objectividade implica ser imparcial, nortear a sua actuação apenas por

critérios jurídico-racionais, com superação do subjectivismo individual.

Ser isento significa actuar com honestidade e boa-fé, tratar com igualdade todas as

partes envolvidas (sem discriminações de ordem política, social, religiosa, racial,

cultural, sexual ou outra), não se deixando influenciar por terceiros nem pelas suas

convicções pessoais no exercício da sua actividade profissional.

B) No Estatuto do Ministério Público:

CAPÍTULO I ESTRUTURA E FUNÇÕES

Artigo 1.° Definição

O Ministério Público representa o Estado, exerce a acção penal, assegura a defesa dos menores, ausentes e incapazes, defende a legalidade democrática e promove o cumprimento da lei.

Artigo 3.° Competência

1. Compete, especialmente, ao Ministério Público:

a) Representar e defender os interesses do Estado; b) Assegurar a defesa dos incapazes, menores e ausentes; c) (...) d) (...) e) Promover a execução das decisões dos tribunais para que tenha

legitimidade; f) (...) g) (...) h) Requerer a fiscalização da constitucionalidade dos actos normativos,

nos termos da lei;

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i) (...) j) Recorrer sempre que a decisão seja efeito de conluio das partes no

sentido de defraudar a lei ou tenha sido proferida com violação de lei expressa;

k) Exercer as demais funções conferidas por lei.

Artigo 5.° Intervenção

1. O Ministério Público intervém nos processos quando representa o Estado ou os menores, ausentes e incapazes, bem como nos demais casos em que a lei lhe atribua competência para intervir. 2. Em caso de representação do Estado, a intervenção cessa quando for

constituído mandatário próprio ou nomeado defensor público. 3. Em caso de representação de incapazes, menores ou ausentes, a

intervenção cessa se os respectivos representantes legais a ela se opuserem, por requerimento no processo.

4. A cessação da representação do Ministério Público não prejudica o dever de continuar a intervir acessoriamente, para garantir os interesses públicos e a defesa da legalidade, nos termos da Constituição.

NOTAS: o Ministério Público (MP) em Timor-Leste tem a sua origem e limites

expressos na primeira fonte de direito da nação, a Constituição da República Democrática

de Timor-Leste. É um órgão de administração da justiça que goza de autonomia, dotado de

estatuto próprio, constituindo uma magistratura hierarquicamente organizada, subordinada

ao Procurador-Geral da República (art. 132°, n° 2 da Constituição), cuja nomeação para um

mandato de 4 anos é efectuada pelo Presidente da República (art. 133°, n° 3 da

Constituição). O art. 132°, n° 1 da Constituição atribui-lhe as seguintes funções «...

representa o Estado, exerce a acção penal, assegura a defesa dos menores, ausentes e

incapazes, defende a legalidade democrática1 e promove o cumprimento da lei.».

Ao exercerem estas funções, os magistrados do MP estão sujeitos a critérios de

legalidade (o MP só pode exercer as suas funções de acordo com a lei), objectividade

(implica ser imparcial, nortear a sua actuação pela verdade, com por critérios jurídico-

racionais e superação do subjectivismo individual), isenção (significa actuar com

1 Ou, numa expressão constante de legislação antiga portuguesa, ser fiscal do cumprimento da lei. A defesa

da lei é inerente a todas as funções atribuídas ao MP, a «... sua autonomização como função do Ministério

Público significa a exigência de que, pelo menos em determinados âmbitos ... ainda que não deva intervir a

qualquer outro título – seja aberto o espaço para a promoção processual em puro favor da legalidade. Neste

âmbito têm o seu enquadramento as funções em matéria de fiscalização da constitucionalidade ...» (Jorge

Miranda e Rui Medeiros, Constituição da República anotada, comentário ao art. 219°).

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honestidade e boa-fé, tratar com igualdade todas as partes envolvidas, sem discriminações

de ordem política, social, religiosa, racial, cultural, sexual ou outra, não se deixando

influenciar por terceiros nem pelas suas convicções pessoais no exercício da sua actividade

profissional) e obediência às directivas e ordens previstas na lei (art. 132°, n° 3 da

Constituição).

Em aplicação destes princípios constitucionais, o Estatuto do MP (Lei 14/05 de

16/9), veio estabelecer no art. 3°, n° 1, as seguintes competências:

A) Representar e defender os interesses do Estado.

É o exercício da advocacia do Estado, consiste na representação, activa ou passiva a

titulo de intervenção principal - autor ou réu, requerente ou requerido, exequente ou

executado em tribunal. É uma representação orgânica que não pode ser afastada a não ser

nos casos expressamente previstos na lei (vide, art. 23° do Código de Processo Civil).

Ao intervir na composição extrajudicial de conflitos, a posição do MP resume-se ao

aconselhamento técnico-jurídico da entidade pública que representa, com base nos

elementos sobre o litígio de que disponha.

B) Assegurar a defesa dos incapazes, menores e ausentes.

Trata-se de tutelar, quer do lado activo, quer passivo, os interesses de pessoas a

quem o Estado, garante dos direitos dos cidadãos, deve protecção. Como exemplos, podem

citar-se as acções de interdição, adopção e inabilitação.

C) Participar na execução da política criminal definida pelos órgãos de soberania.

Não compete ao MP definir a política criminal, mas sim participar na sua execução.

Por “política criminal” deve entender-se toda a actividade estadual relativa ao

direito penal, incluindo a legislação e a justiça penal.

D) Exercer a acção penal.

É a principal função do MP. O Código de Processo Penal atribui ao MP o quase

monopólio (os poderes do lesado são condicionados ou subordinados face ao MP) da acção

penal. O exercício da acção penal passa sobretudo pela decisão sobre a dedução de

acusação.

E) Promover a execução das decisões dos tribunais para que tenha legitimidade.

Os tribunais não executam oficiosamente as suas decisões. Em virtude do princípio

do dispositivo, incumbe às partes assumir a iniciativa da lide e respectivos incidentes. São

exemplos desta competência: a execução de sentenças dos processos em que o MP é autor e

onde obteve uma sentença favorável e as execuções por custas.

F) Dirigir a investigação criminal, ainda quando realizada por outras entidades.

A investigação criminal pode ser efectuada directamente pelo MP ou, sem prejuízo

dos poderes de fiscalização, avocação e devolução, realizada sob delegação específica ou

genérica (vide, art. 227° do Código de Processo Penal). É nas autoridades judiciárias (Juiz e

MP) que existem os poderes jurídicos relativos a procedimentos em que os órgãos de

polícia criminal intervêm como auxiliares, é uma vinculação predominantemente

processual, embora com respeito por técnicas e questões operacionais das polícias.

G) Promover e realizar acções de prevenção criminal, nos termos da lei.

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A atribuição desta competência ao MP relaciona-se com uma concepção global de

combate ao crime e à promoção da segurança. Na verdade, não é possível separar, sob pena

de ineficácia, as funções e objectivos de prevenção e repressão.

H) Requerer a fiscalização da constitucionalidade dos actos normativos, nos termos

da lei.

Atento o teor do art. 126°, n° 1, al. a) da Constituição, deve entender-se estarem

sujeitas a fiscalização todas as normas, independentemente da sua natureza, forma, fonte ou

hierarquia.

Os tribunais não podem aplicar normas contrárias à Constituição ou aos princípios

nela consagrados (art. 120° da Constituição). O MP exerce uma função de detecção,

iniciativa e controlo nos processos, para tal, é notificado das decisões finais proferidas em

quaisquer causas, que possam suscitar a interposição de recursos obrigatórios por força da

lei (art. 214°, n° 1 do Código de Processo Civil).

Resulta do art. 164°, n° 2 da Constituição e do art. 110° da Lei 8/2002 de 20/9, que

a competência transitória do Supremo Tribunal de Justiça, até à instalação e início de

funções deste Tribunal, é exercida pela instância judicial máxima da organização judiciária

existente em Timor-Leste – o Tribunal de Recurso. Como não existem normas que regulem

a interposição de recursos de constitucionalidade, estamos perante uma lacuna e, não

existindo em Timor-Leste uma norma geral que regule a integração de lacunas na lei,

importa aplicar o princípio geral de direito da aplicação ao caso omisso de norma ou

princípios reguladores de caso análogo – o regime do Código de Processo Civil.

Em geral, a legitimidade activa do MP resulta da sua competência para a defesa da

legalidade democrática, em concreto a sua legitimidade activa está prevista: em processos

de fiscalização concreta da constitucionalidade resulta dos arts. 152° da Constituição e art.

214°, n° 1 do Código de Processo Civil, na fiscalização abstracta da constitucionalidade do

art. 150°, al. c) da Constituição e na inconstitucionalidade por omissão, do art. 151° da

Constituição.

E quando o MP não é autor do pedido de fiscalização da constitucionalidade

concreta, abstracta ou por omissão? Existe intervenção? Entendo que sim. A legitimidade

passiva resultará da sua competência para a defesa da legalidade democrática e das regras

gerais da intervenção do MP no Código de Processo Civil, pelo que, deve ser citado, sob

pena de nulidade consistente na falta de citação (art. 156°, al. b) e art. 23°, n° 1 do Código

de Processo Civil, art. 132°, n° 1 da Constituição e art. 1° da Lei 14/2005 de 16/9).

I) Fiscalizar a actividade processual dos órgãos de polícia criminal no decurso do

inquérito.

Esta competência resulta do princípio de dependência funcional que define a relação

existente entre os órgãos de polícia criminal e as autoridades judiciárias, bem como das

atribuições gerais de defesa da legalidade atribuídas ao MP.

J) Recorrer sempre que a decisão seja efeito de conluio das partes no sentido de

defraudar a lei ou tenha sido proferida com violação de lei expressa.

Com o objectivo de defesa da lei, na dupla vertente de afirmação do direito e da

igualdade dos cidadãos, o MP possui vários poderes de iniciativa e acção. Entre eles, o

recurso para uniformização da jurisprudência (art. 494° do Código de Processo Civil e art.

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321° do Código de Processo Penal), o recurso da decisão que seja efeito do conluio das

partes (art. 214°, n° 1 do Código de Processo Civil) e o recurso da decisão proferida com

violação de lei expressa.

K) Exercer as demais funções confiadas por lei.

Ao MP podem vir a ser atribuídas outras competências, ainda que por legislação

avulsa, desde que se respeite a reserva relativa de competência que a Constituição (art. 96°,

n° 1, al. c) reconhece ao Parlamento. Um exemplo recente de novas competências, no

Brasil e Portugal, respeita à defesa dos interesses difusos (defesa do ambiente e protecção

do consumidor). Também em Timor, o art. 63º do DL 26/2012, de 3/7, seguiu a mesma

tendência, ao dispor que, «Compete ao Ministério público a actuação junto dos tribunais

competentes para a defesa do ambiente, da aplicação e cumprimento da presente lei e

demais legislação ambiental».

É de notar que este dever de representação não abrange questões pessoais dos

cidadãos que integram os órgãos do Estado, por exemplo, se um Ministro for demandado

em tribunal por causa de um acidente com a sua viatura própria, a contestação da acção não

pode ser efectuada pelo MP.

Artigo 34.° Instruções do Governo ao Ministério Público

Compete ao Governo, através do Ministro da Justiça:

a) Transmitir, por intermédio do Procurador-Geral da República instruções de ordem específica nas acções cíveis e nos procedimentos tendentes à composição extrajudicial de conflitos em que o Estado seja interessado. b) Autorizar o Ministério Público, ouvido o departamento governamental de tutela, a confessar, transigir ou desistir nas acções cíveis em que o Estado seja parte. c) (...) d) (...) e) (...) NOTAS: o Ministério Público não é parte, representa uma parte, parte é o autor ou réu,

requerido ou requerente, exequente ou executado.

A disponibilidade e titularidade dos interesses do Estado pertencem à

Administração e, consequentemente, esta define o conteúdo, valor e amplitude da pretensão

a sustentar em juízo, daí que se compreenda esta faculdade de dar instruções específicas ao

MP (exemplo: o MP entende que, face à sentença proferida no processo n° ...., que não

deve ser intentado recurso pelos seguintes motivos ...... Porém, comunicada tal posição à

entidade pública que representamos, se ela entender que se deve recorrer, tem que ser

interposto recurso).

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No âmbito da composição extrajudicial de conflitos, a posição do MP resume-se ao

aconselhamento técnico-jurídico da entidade pública que representamos, ponderando, entre

outros, os seguintes elementos:

- Posição da entidade que representamos (autor/réu)

- Que prova possui a outra parte?

- Que prova possui a entidade que representamos?

- Tempo provável de resolução do litígio em tribunal.

- Consequências da demora na resolução do litígio (juros de mora, imagem do

Estado, etc).

- A probabilidade de vitória em tribunal. Face à prova de ambos, ao direito

aplicável e a jurisprudência existente em casos semelhantes, quais as

probabilidades de ganhar o litígio?

Artigo 37.° Impedimentos

1. Os magistrados do Ministério Público não podem servir em tribunal ou juízo em que exerçam funções magistrados judiciais ou do Ministério Público ou funcionários de justiça a que estejam ligados por casamento ou união de facto, parentesco ou afinidade em qualquer grau da linha recta ou até ao 2° grau da linha colateral. 2. Os magistrados do Ministério Público não podem actuar em processos em que tenham de alguma forma intervindo como advogados.

NOTAS: trata-se de garantir a imparcialidade dos magistrados do MP através da

consagração de impedimentos. O impedimento constitui uma proibição, dirigida ao

magistrado, de exercer funções ou despachar nas causas em que acontecem as

circunstâncias enumeradas no artigo. Já na suspeição, a qual pode ser confundida com o

impedimento, as razões são de ordem subjectiva, residindo em possíveis interesses do

mesmo no desfecho da lide.

O parentesco é uma relação de sangue, são parentes as pessoas que descendem umas

das outras ou procedem de progenitor comum.

Abrangido pelo n° 1:

- Parentesco na linha recta: avós, pais, filhos, netos.

- Parentesco na linha colateral: irmãos

A afinidade não é uma relação de sangue, resulta do casamento, pode definir-se

como o vínculo que liga um dos cônjuges aos parentes do outro cônjuge. Conta-se por

linhas e graus, em termos idênticos ao parentesco.

Existem outros impedimentos, caso dos constantes no art. 90° do CPC.

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Artigo 43.° Exercício da advocacia

Os magistrados do Ministério Público podem advogar em causa própria, do seu cônjuge ou situação idêntica resultante de união de facto ou de descendente ou ascendente. NOTAS: trata-se de um privilégio ou regalia, mas limitado, por consagrar a possibilidade

de advogar apenas num círculo restrito aos parentes mais próximos, exigências de isenção e

imparcialidade desaconselham o alargamento deste privilégio.

II- Comentário às intervenções do MP previstas no Código de Processo Civil

Artigo 16.° Representação por curador especial ou provisório

1. Se o incapaz não tiver representante geral, deve requerer-se a nomeação dele ao tribunal competente, sem prejuízo da imediata designação de um curador provisório pelo juiz da causa em caso de urgência.

2. Tanto no decurso do processo como na execução da sentença, pode o curador provisório praticar os mesmos actos que competiriam ao representante geral, cessando as suas funções logo que o representante nomeado ocupe o lugar dele no processo.

3. A nomeação incidental de curador deve ser promovida pelo Ministério Público, podendo ser requerida por qualquer parente sucessível, quando o incapaz haja de ser autor, devendo sê-lo pelo autor, quando o incapaz figure como réu.

4. O Ministério Público é ouvido, sempre que não seja o requerente da nomeação.

NOTAS: incapaz é uma pessoa que sofre de incapacidade (de exercício), é o caso dos

menores, interditos e inabilitados.

Se o incapaz não tiver representante no momento em que a acção deva ser intentada

e existindo urgência na propositura (exemplo: fim do prazo de caducidade da acção, fim

do prazo de prescrição do direito de indemnização), deve requerer-se ao tribunal da

causa a nomeação de um curador provisório, cujas funções constam do n° 2.

Se a acção não for urgente, não tendo representante, deve requerer-se a nomeação

dele ao tribunal competente.

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Há lugar à nomeação de curador especial, por exemplo, se o citando estiver

impossibilitado de facto de receber a citação, devido a anomalia psíquica (abrange as

deficiências do intelecto, entendimento e discernimento, ou outro motivo grave (de

carácter permanente e duradouro), casos de cegueira, surdez-mudez, acidente, doença

(art. 19° e 201° do CPC).

Artigo 17.° Desacordo entre pais na representação do menor

1. (...) 2. (...) 3. Ouvido o outro progenitor, quando só um deles tenha requerido, bem

como o Ministério Público, o juiz decide de acordo com o interesse do menor, podendo atribuir a representação só a um dos pais, designar curador especial ou conferir representação ao Ministério Público, cabendo agravo da decisão, com efeito meramente devolutivo.

4. (...) 5. (...)

NOTAS: no caso de desacordo entre os pais na representação do menor, quer como autor

ou réu, existe a possibilidade do juiz atribuir a representação ao MP.

A lei não fornece uma noção de interesse do menor, trata-se de um conceito

indeterminado que terá ser concretizado, em conformidade com as orientações legais sobre

o conteúdo do poder paternal, designadamente as respeitantes à segurança e saúde do

menor, ao seu sustento e educação, ao seu desenvolvimento físico, intelectual e moral, à sua

instrução geral e profissional, à auscultação da sua opinião, de acordo com as sua idade e

maturidade, e à sua autonomização progressiva.

Cfr., quanto ao exercício do poder paternal, os arts. 1782º a 1794º do C. Civil.

Artigo 20.° Defesa do ausente e incapaz pelo Ministério Público

1. Se o ausente ou o incapaz, ou os seus representantes, não deduzirem oposição, ou se o ausente não comparecer a tempo de a deduzir, incumbe ao Ministério Público a defesa deles, para o que será citado, correndo novamente o prazo para a contestação. 2. Quando o Ministério Público represente o autor, será nomeado defensor público. 3.Cessa a representação do Ministério Público ou do defensor público, logo que o ausente ou o seu procurador compareça, ou logo que seja constituído mandatário judicial do ausente ou do incapaz.

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NOTAS: para que se verifiquem os casos do n° 1, importa que o representante não conteste

e não constitua advogado (cfr, n° 3 deste artigo).

No caso de incertos, o MP é logo citado (cfr., art. 21°).

No caso de ausentes em parte incerta, tem que se verificar a situação prevista no n°

1.

A falta de citação do MP implica a nulidade de todo o processado após a petição

inicial (art. 156°, al. b) CPC).

Artigo 21.° Representação dos incertos

1. Quando a acção seja proposta contra incertos, por não ter o autor possibilidade de identificar os interessados directos em contradizer, são aqueles representados pelo Ministério Público. 2. Quando o Ministério Público represente o autor, é nomeado defensor público aos incertos. 3. A representação do Ministério Público ou do defensor público, só cessa quando os citados como incertos se apresentem para intervir como réus e a sua legitimidade se encontre devidamente reconhecida. NOTAS: São incertos os interessados que, embora existam, não são conhecidos ou são de

difícil identificação.

A citação dos réus como incertos só se justifica quando o autor não tem

possibilidade de os determinar e identificar.

O autor só deve dirigir o procedimento judicial contra incertos quando não tenha

possibilidade de os identificar. Só pode dizer-se que não tem essa possibilidade quando

previamente desenvolveu diligências idóneas à pesquisa da sua identificação, o que importa

alegar na petição (Ex: questionados os vizinhos da casa sita na Rua ...., não foi possível

identificar o seu proprietário).

Não basta dizer numa petição que ignora se o falecido deixou descendentes ou se

deixou ascendentes vivos.

A citação dos réus como incertos só se justifica quando o Autor não tem

possibilidade de os determinar, não sendo lícito ao autor/requerente, para fugir a

dificuldades, requerer a citação, como incertos, de réus insuficientemente identificados.

Nos casos de mera dificuldade “subjectiva” do autor na identificação dos

interessados em contradizer, susceptível de ser ultrapassada com a cooperação do tribunal,

nos termos do art. 222º do CPC, deverá o tribunal determinar a realização das diligências

pertinentes para se conseguir a identificação de tais interessados.

O disposto no art. 21° do Código de Processo Civil não permite que se intente acção

contra incertos, sem que se alegue minimamente a razão do desconhecimento da identidade,

da profissão, da morada ou de qualquer outro elemento susceptível de permitir a

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identificação do ou dos demandados e sem se requerer a citação do MP. É insuficiente a

alegação de que se desconhece a identidade ou qualquer outro elemento identificador.

A intervenção do MP ocorre mesmo que haja também réus certos no processo e só

cessa quando todos se tenham tornado certos.

Artigo 22.°

Representação de ausentes e incapazes pelo Ministério Público

1. Incumbe ao Ministério Público, em representação de ausentes e incapazes, intentar em juízo quaisquer acções que se mostrem necessárias à tutela dos seus direitos e interesses. 2. A representação cessa logo que seja constituído mandatário judicial do ausente ou incapaz, ou quando, deduzindo o respectivo representante legal oposição à intervenção principal do Ministério Público, o juiz, ponderado o interesse do representado, a considere procedente. NOTAS: trata-se de uma intervenção no lado activo, sem restrição das matérias a que

respeita, tendo como limite a defesa dos interesses e direitos de ausentes ou incapazes.

Obviamente, pressupõe, ou que exista um contacto prévio com o MP ou que este

tenha feito diligências instrutórias com vista à obtenção de prova que permita sustentar uma

acção em juízo.

Esta intervenção do MP cessa em dois casos: se for constituído mandatário judicial

ou se o representante legal deduzir oposição (fundamentada) à intervenção do MP.

Artigo 23.° Representação do Estado

1. O Estado é representado pelo Ministério Público, sem prejuízo dos casos em que a lei especialmente permita o patrocínio por mandatário judicial próprio, cessando a intervenção principal do Ministério Público logo que seja constituído mandatário.

2. Se a causa tiver por objecto bens ou direitos do Estado, mas que estejam na administração ou fruição de entidades autónomas, podem estas constituir advogado que intervenha no processo juntamente com o Ministério Público, para o que serão notificadas, quando o Estado seja réu; havendo divergência entre o Ministério Público e o advogado, prevalece a orientação daquele.

NOTAS: o nº 1 tem que ser conjugado com o art. 5º do Estatuto do MP (Lei 14/2005, de

16/9).

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Este art. 23º, nº 1 completa o art. 5º do estatuto do MP, ao exigir que a «lei

especialmente permita o patrocínio por mandatário judicial».

O Estado pode designar mandatário que o represente em litígio, em substituição da

representação pelo Ministério Público (DL 16/2012, de 4/4/2012).

A designação do mandatário nomeado é feita por despacho fundamentado do

Primeiro-Ministro.

Pode ser nomeado, como mandatário em juízo, advogado privado habilitado ao

exercício da advocacia nos termos da Lei 11/2008, de 30/7.

Artigo 26.° Suprimento da incapacidade judiciária e da irregularidade de representação

1. (...) 2. (...) 3. Se a irregularidade verificada consistir na preterição de algum dos pais, tem-se como ratificado o processado anterior, quando o preterido, devidamente notificado, nada disser dentro do prazo fixado; havendo desacordo dos pais acerca da repetição da acção ou da renovação dos actos, o juiz decidirá ouvidos ambos os progenitores e o Ministério Público. 4. (...)

Artigo 36.° Constituição de advogado

1. (...)

2.Cessa a obrigatoriedade de constituição de advogado nos casos em que a lei atribua a representação judiciária da parte ao Ministério Público ou admita a representação por defensor público.

NOTAS: quanto às competências do MP, vide, o art. 132° da Constituição, os arts. 1° e 3°

do Estatuto do MP (Lei 14/2005, de 16/9) e as disposições mencionadas do CPC.

Quanto aos casos de intervenção de defensor público vide, o art. 44° do CPC e o DL

38/2008 de 29/10.

Artigo 74.°

Fixação definitiva do tribunal competente

1. Nos casos de incompetência absoluta, o Supremo Tribunal de Justiça, em via de recurso ouvirá o Ministério Público, sempre que não tiver sido este a suscitar a questão, antes de decidir.

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2. (...)

NOTAS: o regime consagrado neste artigo respeita apenas aos casos de incompetência

absoluta (infracção das regras de competência em razão da matéria e da hierarquia e das

regras de competência internacional – art. 69° CPC).

A omissão de ouvir o MP configura vício de nulidade por influir no exame ou

decisão da causa (art. 163°, n° 1 CPC).

Artigo 82.° Pedido de resolução do conflito

1. A decisão do conflito pode ser solicitada por qualquer das partes ou pelo Ministério Público, mediante requerimento em que se especifiquem os factos que o exprimem.

2. Ao requerimento, que é dirigido ao Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e apresentado na secretaria desse tribunal, juntar-se-ão os documentos necessários e nele se indicarão as testemunhas. NOTAS: o art. 81° CPC define o que é um conflito de competência. O que essencialmente

caracteriza e define um conflito positivo ou negativo de competência é a situação de

impasse ou paralisia processual que se formou devido à existência de duas ou mais decisões

incompatíveis, ou de sinal contrário.

Detectado o conflito, primeiro requer-se nos autos as certidões necessárias para

suscitar junto do Tribunal de Recurso a resolução do conflito (vide, peça processual n° 3).

Artigo 85.°

Produção de prova e termos posteriores

1. Recebida a resposta ou depois de se verificar que já não pode ser aceita, segue-se a produção da prova testemunhal, se tiver sido oferecida, faculta-se o processo aos advogados constituídos, para alegarem por escrito, dá-se vista ao Ministério Público e, por fim, decide-se.

2. (…)

Artigo 90.° Impedimento do Ministério Público e dos funcionários da secretaria

1. Aos representantes do Ministério Público é aplicável o disposto nas alíneas a), b), g) e i) do n.º 1 do artigo 87.º. Estão também impedidos de

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funcionar quando tenham intervindo na causa como mandatários ou peritos, constituídos ou designados pela parte contrária àquela que teriam de representar ou a quem teriam de prestar assistência. 2. (...) 3. O representante do Ministério Público ou o funcionário da secretaria, que esteja abrangido por qualquer impedimento, deve declará-lo imediatamente no processo. Se o não fizer, o juiz, enquanto a pessoa impedida houver de intervir na causa, conhecerá do impedimento, oficiosamente ou a requerimento de qualquer das partes, observando-se o disposto no artigo 101.º. 4. (...) NOTAS: o representante do MP está impedido de exercer funções quando tenham

intervindo na causa como mandatários ou peritos e nos casos do art. 87°, n° 1, al. a), b) e g)

do CPC:

a) Quando seja parte na causa, por si ou como representante de outra pessoa, ou

quando nela tenha um interesse que lhe permitisse ser parte principal;

b) Quando seja parte da causa, por si ou como representante de outra pessoa, o seu

cônjuge ou algum seu parente ou afim, ou em linha recta ou no segundo grau da

linha colateral, ou quando alguma destas pessoas tenha na causa um interesse que

lhe permita figurar nela como parte principal;

g) Quando seja parte na causa pessoa que contra ele propôs acção civil para

indemnização de danos, ou que contra ele deduziu acusação penal, em

consequência de factos praticados no exercício das suas funções ou por causa

delas, ou quando seja parte o cônjuge dessa pessoa ou um parente dela ou afim, em

linha recta ou no segundo grau da linha colateral, desde que a acção ou a acusação

já tenha sido admitida;

O regime de impedimentos constitui o efeito lógico do princípio da imparcialidade,

que deve envolver toda a actividade do MP. O vocábulo impedimento está utilizado num

sentido próximo do de incompatibilidade, corolário dos princípios da imparcialidade,

isenção e transparência.

Quanto a outros impedimentos, vide, o art. 37º do Estatuto do MP (Lei 14/2005, de

16/9).

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Artigo 120.° Manutenção da ordem nos actos processuais

1. (...) 2. (...) 3. (...)

4. Sempre que seja retirada a palavra a advogado ou advogado estagiário, é dado conhecimento circunstanciado do facto à Ordem dos Advogados, para efeitos disciplinares; das faltas cometidas pelos magistrados do Ministério Público é dado conhecimento ao respectivo superior hierárquico; das faltas praticadas por defensor público é feita participação ao Ministério da Justiça.

5. (...) NOTAS: importa lembrar que, nos termos do art. 132°, n° 2 da Constituição, o MP no

exercício das suas funções, está sujeito a critérios de legalidade, objectividade, isenção e

obediência às directivas e ordens previstas na lei, pelo que, a sua conduta em audiência terá

que respeitar a lei e as regras de cortesia e boa educação. Porém, a prática demonstra que,

em audiência, muitas vezes o MP é “atacado” para além dos limites de uma normal troca de

argumentos, então, a solução passará por requerer ao juiz a consignação em acta das

declarações para posterior queixa disciplinar ou criminal. O que não será admissível é

responder da mesma forma, importando manter a calma e concentração, porque muitas

vezes os ataques pretendem desviar a atenção do processo.

Importa ter em atenção no exercício do mandato forense, o direito de protesto,

condição da boa administração da justiça e do acesso dos cidadãos aos tribunais e ao direito

(art. 30º do regime jurídico da Advocacia – Lei 11/2008, de 27/7).

Artigo 125.° Prazo para os actos dos magistrados

1. Na falta de disposição especial, os despachos judiciais e as promoções do Ministério Público são proferidos no prazo de dez dias.

2. Os despachos ou promoções de mero expediente, bem como os considerados urgentes, devem ser proferidos no prazo máximo de dois dias.

NOTAS: o conceito de despacho de mero expediente consta do art. 121°, n° 4, do CPC,

estes despachos não admitem recurso (art. 429°, n° 1, al. a) CPC).

Despacho de mero expediente é aquele que, proferido pelo juiz, não decidindo de

qualquer questão de forma ou de fundo, se destina principalmente a regular o andamento do

processo.

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Tem-se entendido, em Portugal, que estes prazos têm carácter meramente

ordenador, o seu não cumprimento não tem consequências processuais, nomeadamente,

nulidade, decisão tácita ou preclusão. Porém, têm consequências disciplinares para o

Magistrado.

O princípio constitucional do acesso à justiça não se reduz à simples consagração

constitucional do direito da acção judicial, da faculdade de qualquer cidadão propor acções

em Tribunal, implicando, desde logo, que a todos seja assegurado, através dos Tribunais, o

direito a uma protecção jurídica eficaz e temporalmente adequada.

Tal garantia constitucional implica o direito ao patrocínio judiciário, sem limitações

ou entraves decorrentes da condição social ou económica, mas, igualmente, a obter, em

prazo razoável, decisão judicial que aprecie com forca de caso julgado a pretensão

regularmente deduzida em juízo, a faculdade de requerer, sem entraves desrazoáveis ou

injustificados a providência cautelar que se mostre mais adequada a assegurar o efeito útil

da acção e a possibilidade de, sempre que necessário, fazer executar, por via judicial, a

decisão proferida e não espontaneamente acatada (art. 5º, nº 1 CPC).

A violação dos prazos processuais poderá, em certos casos, ser condição suficiente,

mas não necessária, para se falar de funcionamento anormal da Administração da Justiça.

O reconhecimento do direito à indemnização dependerá de outros requisitos gerais

da responsabilidade civil extracontratual, nos quais se deverá incluir a exigência de um

dano, acompanhada da "irrazoabilidade" da dilação temporal.

São três os elementos que devem ser tomados na análise da violação do prazo

razoável de duração de um processo:

a) A complexidade do caso;

b) O comportamento das partes;

c) A conduta das autoridades judiciais (caso do não cumprimento dos prazos pelos

magistrados).

O não cumprimento dos prazos processuais, nos termos dos respectivos estatutos,

pode também ter consequências na classificação dos magistrados e na instauração de

processos disciplinares.

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Artigo 134.° Confiança do processo

1. Os mandatários judiciais constituídos pelas partes, os magistrados do Ministério Público e os que exerçam o patrocínio por nomeação oficiosa podem solicitar, por escrito ou verbalmente, que os processos pendentes lhes sejam confiados para exame fora da secretaria do tribunal. 2. (…) NOTAS: quando utilizada esta faculdade importa ter especial cuidado com a guarda do

processo (não o deixar no carro enquanto se vai às compras, etc), sob pena de posterior

responsabilidade disciplinar e, caso se perca, ser necessário instaurar uma acção para

reforma de autos (art. 808° CPC).

O princípio fundamental do Estado de direito democrático que rege em matéria de

actos judiciais é o princípio da publicidade (arts. 132º e 404º CPC e art. 131º da

Constituição). Trata-se de um princípio fundamental do Estado de direito democrático

porque sendo os Tribunais um órgão de soberania é claro que a publicidade dos actos de

processo se configura como uma forma de combater o arbítrio e assegurar a verdade e a

justiça das decisões judiciais, nomeadamente a possibilidade de um controlo popular dos

órgãos que, como os Tribunais, exercem poderes de soberania.

Cfr., art. 29º do regime jurídico da Advocacia (Lei 11/2008, de 27/7), relativamente

ao exame de processos, livros ou documentos.

A confiança do processo e apensos tem um custo de USD 5,00 (art. 65º do DL

16/2011), estando o MP isento do seu pagamento em virtude de beneficiar de isenção.

Cfr., peça processual nº 4.

Artigo 135.°

Falta de restituição do processo dentro do prazo

1. (...) 2. (...) 3. Se, decorrido o prazo previsto na última parte do número anterior, o mandatário judicial ainda não tiver feito a entrega do processo, o Ministério Público, ao qual é dado conhecimento do facto, promoverá contra ele procedimento pelo crime de desobediência e fará apreender o processo. 4. (...) NOTAS: recebida a informação escrita do funcionário, o MP proferirá despacho no

expediente determinando o seu registo e autuação como inquérito para investigação do

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crime de desobediência. Já no âmbito do inquérito, entre outras eventuais diligências,

requer-se ao juiz a apreensão do processo (art. 172° do CPP).

O crime de desobediência está previsto no art. 244º do C. Penal.

Artigo 150.°

Processo de cumprimento da carta rogatória

1. As cartas rogatórias emanadas de autoridades estrangeiras são recebidas por qualquer via, salvo tratado, convenção ou acordo em contrário, competindo ao Ministério Público promover os termos das que tenham sido recebidas por via diplomática.

2. Recebida a rogatória, dar-se-á vista ao Ministério Público para opor ao cumprimento da carta o que julgue de interesse público e, em seguida, decidir-se-á se deve ser cumprida. 3 .O Ministério Público pode agravar do despacho de cumprimento, seja qual for o valor da causa, e este agravo tem efeito suspensivo. NOTAS: A carta rogatória, por definição, transmite um pedido de auxílio judiciário,

formulado por uma autoridade judiciária nacional, com vista a possibilitar a investigação ou

o julgamento de determinados factos, a uma autoridade judiciária estrangeira.

De acordo com o n° 1, se a carta rogatória for recebida por via diplomática, deve

ser entregue ao MP, proferindo-se despacho no sentido de requerer o seu cumprimento

Cfr., peça processual nº 23.

Recebida no tribunal, é aberta vista ao MP, devendo pronunciar-se sobre o que

julgue de interesse público (vide art. 149°, n° 1, al. a) a d) do CPC):

a) Se a carta não estiver legalizada, salvo se houver sido recebida por via

diplomática ou se houver tratado, convenção ou acordo que dispense a legalização;

b) Se o acto for contrário à ordem pública timorense;

c) Se a execução da carta for atentatória da soberania ou da segurança do Estado;

d) Se o acto importar execução de decisão de tribunal estrangeiro sujeita a revisão e

que se não mostre revista e confirmada.

O regime do recurso de agravo está previsto nos arts. 467º a 486º do CPC.

Artigo 156.° Anulação do processado posterior à petição

É nulo tudo o que se processe depois da petição inicial, salvando-se apenas esta:

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a)Quando o réu não tenha sido citado; b)Quando não tenha sido citado, logo no início do processo, o Ministério Público, nos casos em que deva intervir como parte principal.

NOTAS: importa distinguir a falta absoluta de citação da nulidade da citação prevista nos

arts. 157° e 160° CPC.

A falta de citação é uma nulidade principal de conhecimento oficioso (art. 164°, n°

1 CPC), arguível em qualquer estado do processo (art. 166°, n° 1 CPC), desde que não

sanada (art. 166°, n° 2 e 158° CPC) e cognoscível até ao trânsito em julgado da sentença.

A falta de citação pode ainda ser fundamento para o recurso de revisão (art. 487°, al. f) CPC) e para deduzir oposição à execução fundada em sentença (art. 693°, al. d) CPC).

Artigo 158.°

Suprimento da nulidade de falta de citação

Se o réu ou o Ministério Público intervier no processo sem arguir logo a falta da sua citação, considera-se sanada a nulidade. NOTAS: a falta de citação deve ser arguida logo que intervenha no processo, isto é, no acto

que constitua a sua primeira intervenção, sendo que não intervém no processo enquanto não

praticar qualquer acto processual. A utilização da expressão «logo» significa de imediato,

pelo que, no próprio dia tem que dar entrada o requerimento a requerer a nulidade.

Se a secretaria já estiver fechada, até às 24 horas desse dia, existe a possibilidade de

envio por fax ou correio registado.

Vide, peça processual n° 1.

Artigo 162.°

Falta de vista ou exame ao Ministério Público como parte acessória

1. A falta de vista ou exame ao Ministério Público, quando a lei exija a sua intervenção como parte acessória, considera-se sanada desde que a entidade a que devia prestar assistência tenha feito valer os seus direitos no processo por intermédio do seu representante.

2. Se a causa tiver corrido à revelia do Ministério Público, o processo é anulado a partir do momento em que devia ser dada vista ou facultado o exame.

NOTAS: a intervenção do MP como parte acessória tem lugar nos casos previstos no art.

5° do Estatuto (Lei 14/2005 de 16/9).

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Esta nulidade não é de conhecimento oficioso, pelo que, tem que ser objecto de

reclamação pelo magistrado (art. 164°, n° 2 CPC) e pode ser arguida em qualquer estado do

processo (art. 166°, n° 2 CPC),

O regime da intervenção acessória do MP no CPC consta do art. 285° CPC.

Vide, peça processual n° 2.

Artigo 211.° Notificação às partes

1. As notificações às partes em processos pendentes são feitas na pessoa dos seus mandatários judiciais, do Ministério Público ou do defensor público. 2. (...)

NOTAS: trata-se de notificações respeitantes a processos em que o MP seja parte, já que,

quanto a outros processos, a notificação efectua-se por força do art. 214° do CPC.

Artigo 214.° Notificações ao Ministério Público

1. Para além das decisões finais proferidas em quaisquer causas, serão sempre oficiosamente notificadas ao Ministério Público quaisquer decisões, ainda que interlocutórias, que possam suscitar a interposição de recursos obrigatórios por força da lei. 2. O Ministério Público é notificado por funcionário judicial mediante o respectivo livro de protocolo. NOTAS: é esta notificação que permite que o MP tenha conhecimento de casos em que

tenha que recorrer por força da lei, casos previstos no art. 3°, n° 1, al. h) e j) do Estatuto

(Lei 14/2005 de 16/9):

h) Requerer a fiscalização da constitucionalidade dos actos normativos, nos termos

da lei;

j) Recorrer sempre que a decisão seja efeito de conluio das partes no sentido de

defraudar a lei ou tenha sido proferida com violação de lei expressa;

Enquanto não for feita a notificação, não corre o prazo para o MP intentar recurso.

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Artigo 235.° Regime da suspensão

1. Enquanto durar a suspensão só podem praticar-se validamente os actos urgentes destinados a evitar dano irreparável. A parte que esteja impedida de assistir a estes actos é representada pelo Ministério Público ou por advogado nomeado pelo juiz. 2. (…) 3. (…) NOTAS: a suspensão da instância significa apenas que está parada a tramitação processual

do processo.

A expressão «actos que se destinem a evitar dano irreparável» deverá ser

interpretada e aplicada como significando acto integrado na tramitação de um processo que

a lei explicitamente configura e qualifica como "urgente", sem que deva ter lugar a concreta

alegação e demonstração da virtualidade do acto em questão para produzir um (concreto)

"dano irreparável".

Na base da qualificação legal de um processo como urgente está a ideia de que o

conjunto das diligências a realizar nele tem como fim ou função última a prevenção de um

dano que o legislador presumiu irreparável para uma das partes (Lopes do Rego,

Comentários ao Código de Processo Civil, 1999, pág.122).

Artigo 236.°

Como e quando cessa a suspensão

1. (…) 2. (…) 3. (…) 4. Pode também qualquer das partes requerer que seja notificado o Ministério Público para promover, dentro do prazo que for designado, a nomeação de novo representante ao incapaz, quando tenha falecido o primitivo ou a sua impossibilidade se prolongue por mais de trinta dias. Se ainda não houver representante nomeado quando o prazo findar, cessa a suspensão, sendo o incapaz representado pelo Ministério Público.

NOTAS: esta intervenção enquadra-se no âmbito da representação de incapazes, vide arts.

16°, 17° e 22° do CPC.

DIVISÃO II

INTERVENÇÃO ACESSÓRIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

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Artigo 285.° Como se processa

1. Sempre que, nos termos do respectivo Estatuto, o Ministério Público deva intervir acessoriamente na causa, ser-lhe-á oficiosamente notificada a pendência da acção, logo que a instância se considere iniciada. 2. Compete ao Ministério Público, como interveniente acessório, zelar pelos interesses que lhe estão confiados, exercendo os poderes que a lei processual confere à parte acessória e promovendo o que tiver por conveniente à defesa dos interesses da parte assistida. 3. O Ministério Público é notificado para todos os actos e diligências, bem como de todas as decisões proferidas no processo, nos mesmos termos em que o devam ser as partes na causa, tendo legitimidade para recorrer quando o considere necessário à defesa do interesse público ou dos interesses da parte assistida. 4. Até à decisão final e sem prejuízo das preclusões previstas na lei de processo, pode o Ministério Público, oralmente ou por escrito, alegar o que se lhe oferecer em defesa dos interesses da pessoa ou entidade assistida.

NOTAS: a falta de vista ou exame ao Ministério Público, quando a lei exija a sua

intervenção como parte acessória gera nulidade, cujo regime está previsto no art. 162°

CPC.

O MP tem que ser notificado para todos os actos e diligências, bem como de todas

as decisões proferidas no processo, nos mesmos termos em que o devam ser as partes na

causa, tendo legitimidade para recorrer quando o considere necessário à defesa do interesse

público ou dos interesses da parte assistida (n° 2), algo que, com grande frequência os Srs

funcionários não cumprem.

O «interesse público» é o interesse colectivo, é o interesse geral de uma

determinada comunidade, é o bem-comum. A noção interesse público traduz uma exigência

de satisfação das necessidades colectivas.

Quando o MP intervém a título principal, cabem-lhe os poderes processuais

genericamente atribuídos às partes; intervindo acessoriamente, a Lei Orgânica diz que deve

zelar pelos interesses que lhe estão confiados, promovendo o que tiver por conveniente e

sendo os termos da intervenção definidos nas leis de processo.

A intervenção principal e a intervenção acessória constituem o enquadramento

clássico da actuação do Mº Pº no processo civil. «Intervenção principal, quando actua

perante a jurisdição cível como pleiteador normal, geralmente autor, mas também, e

igualmente, quando actua na posição de réu. Intervenção acessória, quando se faz em

processo, sem ter accionado o pedido ou a defesa» (Neves Ribeiro, O Estado nos Tribunais,

2ª edição, Coimbra, 1994, p. 15).

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Ao conceito de parte principal contrapõe-se o de parte acessória.

Parte principal‚ aquele que pede em seu próprio nome a actuação de uma vontade de

lei e aquele frente ao qual ela é pedida.

Partes acessórias são os portadores de certos interesses conexos com os interesses

em causa e que a lei admite a impulsionarem o processo numa posição subordinada à das

partes principais.

Artigo 299.° Como se processa

1. (…)

2. Findo o prazo dos éditos sem que os citados compareçam, a causa segue com o Ministério Público, nos termos aplicáveis do artigo 20.º.

3. (…) 4. (…) NOTAS: remete-se para as notas relativas ao art. 20° do CPC.

Artigo 366.º Prazo para a contestação

1. O réu pode contestar no prazo de trinta dias a contar da citação. O prazo começa a correr desde o termo da dilação, nos termos do artigo 210.º e quando o réu tenha sido citado por carta por éditos. 2. (…) 3. (…) 4. Ao Ministério Público é concedida prorrogação do prazo quando careça de informações que não possa obter dentro dele ou quando tenha de aguardar resposta a consulta feita a instância superior; o pedido deve ser fundamentado e a prorrogação não pode, em caso algum, ir além de trinta dias. 5. (…) 6. A apresentação do requerimento de prorrogação não suspende o prazo em curso; o juiz decidirá, sem possibilidade de recurso, no prazo de vinte e quatro horas e a secretaria notificará mediatamente ao requerente o despacho proferido. NOTAS: É através da citação (art. 190º, nº 1 CPC), acto pelo qual se dá conhecimento ao

réu de que foi proposta contra ele determinada acção e se chama ao processo para se

defender, que se inicia a fase da contestação.

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O réu pode tomar uma de duas atitudes fundamentais perante a petição inicial: opor-

se ao pedido do Autor ou não se opor a ele. A opção por uma destas condutas depende dos

factos indagados pelo advogado do Réu e das provas de que esta parte possa dispor,

havendo, naturalmente, que observar o dever de verdade que recai sobre essa parte (art.

662º, nº 2, al. a) e b) CPC) e o dever de não advogar contra a lei expressa e de não usar

meios ou expedientes ilegais que obriga o advogado (art. 40º, al. c) da Lei 11/2008 de 23/7

– Estatuto da Advocacia).

Caso o Réu não conteste a acção, entra em revelia. A revelia é absoluta quando, além

de não deduzir oposição, o Réu não constitui advogado nem intervém de qualquer forma no

processo e tem como consequência a confissão dos factos articulados pelo Autor (art. 363º

e 364º CPC).

A revelia relativa verifica-se quando o Réu constitui advogado, ou intervém de outro

modo, mas não apresenta contestação.

A ocorrência da revelia implica o encurtamento da acção, ao considerarem-se

confessados os factos, termina a fase dos articulados e não há lugar às fases de saneamento,

instrução e discussão da matéria de facto.

A defesa do Réu, em regra, é feita numa peça processual chamada contestação, em

certos casos, o Réu pode aproveitar a contestação para deduzir pedidos contra o Autor

(reconvenção – art. 379º CPC).

A elaboração de uma contestação passa por várias fases:

1º) Tem que ser efectuada uma citação (art. 190º, nº 1 CPC) do Magistrado do MP.

2º) O Magistrado ordena que o expediente entregue (petição inicial e documentos)

com a citação seja registado e autuado como Processo Administrativo (PA)

urgente2.

3º) Após, o PA é concluso ao Magistrado, que:

a) Procede à leitura atenta dos factos3,

b) Procede à análise dos fundamentos de direito invocados4,

2 O PA é urgente sempre que existam prazos a cumprir, como é o caso da elaboração de

articulado de contestação. 3 Essa leitura vai permitir, posteriormente, quando receber informações resultantes das diligências

que efectuar, afirmar se são falsos/incorrectos ou se os desconhece. 4 Também, após obter informações sobre os factos, é efectuado o seu enquadramento jurídico - é

essa a lei aplicável, é outra, a interpretação é incorrecta, não existe lei, etc. É matéria de direito as questões relativas à determinação das normas aplicáveis ao caso concreto, à sua interpretação, determinação do seu valor, à sua legalidade e constitucionalidade, à integração das lacunas da lei e à sua aplicação aos factos, bem como o apuramento dos efeitos derivados dessa aplicação.

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c) Pode ordenar a realização de diligências (inquirições, pedidos de

documentos, perícias, etc, à entidade que representa ou a terceiros),

d) Se necessário, pode requerer na acção judicial a prorrogação do prazo

para contestar (cfr., peça processual nº 10),

e) Elabora o projecto de articulado de contestação,

f) Ordena a remessa do PA, com o projecto de contestação ao superior

hierárquico para aprovação,

4º) Se o projecto de contestação for aprovado, despacha no PA a determinar a

entrega da contestação, documentos e duplicados no Tribunal.

5º) O PA fica a aguardar os posteriores desenvolvimentos da acção judicial.

Cfr, peças processuais nº 10 a 13.

Artigo 370.° Ónus de impugnação

1. (…) 2. (…) 3. Se o réu declarar que não sabe se determinado facto é real, a declaração equivale a confissão quando se trate de facto pessoal ou de que o réu deva ter conhecimento e equivale a impugnação no caso contrário. 4. Não é aplicável aos incapazes, ausentes e incertos, quando representados pelo Ministério Público ou por defensor público, o ónus de impugnação, nem o preceituado no número anterior. 5. (...)

NOTAS: Perante a instauração de uma acção a defesa pode ser defesa directa (em

que o réu nega frontalmente, sem mais, a verificação dos factos) e uma defesa indirecta (em

que o réu, nomeadamente, confessando ou aceitando uma parte dos factos alegados, aponta

outros que são incompatíveis com a existência de factos invocados na petição).

A excepção ao ónus de impugnação especificada contida no n° 4, apenas é aplicável

quando o MP representa incapazes, ausentes e incertos, não abrangendo outros casos de

representação.

Norma semelhante existe no CPC português (art. 490°, n° 4), onde o Supremo

Tribunal de Justiça entendeu não existir inconstitucionalidade (Ac. do STJ de 14/11/1993,

CJ, STJ, I, pág. 41).

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Os sujeitos processuais estão submissos ao princípio do ónus da impugnação

especificada dos factos articulados pela parte contrária, com a consequência de ou terem de

os admitir como verdadeiros ou de terem de os impugnar, valendo o silêncio como

confissão da sua veracidade.

O princípio geral do ónus de impugnação especificada é satisfeito quando se

individualizam os factos cuja veracidade se contesta,

O princípio geral do ónus da impugnação especificada apenas se aplica aos factos e

não as conclusões de direito.

Artigo 393.° Forma da antecipação da prova

1. (…)

2. Quando se requeira a diligência antes de a acção ser proposta, há-de indicar-se sucintamente o pedido e os fundamentos da demanda e identificar-se a pessoa contra quem se pretende fazer uso da prova, afim de ela ser notificada pessoalmente para os efeitos do artigo 504.º; se esta não puder ser notificada, será notificado o Ministério Público, quando se trate de incertos ou de ausentes, ou um defensor público nomeado pelo juiz, quando se trate de ausentes em parte certa.

NOTAS: para a produção antecipada de provas é competente o tribunal em que hajam de

efectuar-se (art. 62°, n° 1, al. d) CPC), trata-se de uma faculdade reconhecida quer ao autor,

quer ao réu.

A produção antecipada de prova a medida ajustada a evitar que o decurso do tempo

inutilize ou dificulte a produção de determinados meios de prova com potencialidade de

influir na decisão da matéria de facto (Abrantes Geraldes, Temas da Reforma do Processo

Civil, III Vol., 3.ª ed., pág. 74).

Segundo Alberto dos Reis esse justo receio de se vir a tornar impossível ou muito

difícil a produção da prova por depoimento podia resultar «da iminência ou risco de morte

da pessoa cujo depoimento se pretende obter; da idade avançada dessa pessoa; de doença

grave que ela esteja sofrendo e que seja susceptível de a impossibilitar de depor; da

previsão de ausência do depoente» (Código de Processo Civil Anotado", Vol. III, pág. 332).

Os casos em que pode ser requerido constam do art. 392° CPC.

Artigo 398.° Poderes do presidente

1. (…) 2. (…)

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a) (...) b) (...) c) (...) d) Exortar os advogados, o defensor público e o Ministério Público a que abreviem os seus requerimentos e alegações, quando sejam manifestamente excessivos, e a que se cinjam à matéria da causa, e retirar-lhes a palavra quando não sejam atendidas as suas exortações;

e )Significar aos advogados, ao defensor público e ao Ministério Público a necessidade de esclarecerem pontos obscuros e duvidosos;

NOTAS: conforme estipula o n° 1, a discussão deve ser útil e breve. Se o MP pautar a sua

actuação pela clareza e objectividade dos argumentos e tiver preparado o julgamento, nunca

incorrerá na hipótese da al. d).

No caso da al. e), ainda que o MP entenda não existirem pontos obscuros ou

duvidosos a esclarecer, é necessário compreender a diversidade humana, o que é claro para

António, pode não ser para o Carlos. Assim, deve o magistrado do MP efectuar um esforço

para corresponder à solicitação do juiz.

Em norma semelhante do CPC português (art. 650°), entende-se que as decisões

sobre a direcção e disciplina da audiência não admitem recurso porque são proferidas no

exercício legal de poderes discricionários.

Artigo 431.° Perda do direito de recorrer e renúncia ao recurso

1. É lícito às partes renunciar aos recursos; mas a renúncia antecipada só produz efeito se provier de ambas as partes. 2. Não pode recorrer quem tiver aceitado a decisão depois de proferida.

3. A aceitação da decisão pode ser expressa ou tácita. A aceitação tácita é a que deriva da prática de qualquer facto inequivocamente incompatível com a vontade de recorrer.

4. O disposto nos números anteriores não é aplicável ao Ministério Público. 5. O recorrente pode, por simples requerimento, desistir livremente do recurso interposto.

NOTAS: por força do teor do n° 4, resulta que, o MP:

a) Não pode renunciar aos recursos.

b) Pode recorrer mesmo que tenha aceitado a decisão.

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Artigo 441.° Ónus de alegar e formular conclusões

1. O recorrente deve apresentar a sua alegação, na qual concluirá, de forma sintética, pela indicação dos fundamentos por que pede a alteração ou anulação da decisão.

2. Versando o recurso sobre matéria de direito, as conclusões devem indicar: a) As normas jurídicas violadas; b) O sentido com que, no entender do recorrente, as normas que constituem fundamento jurídico da decisão deviam ter sido interpretadas e aplicadas; c)Invocando-se erro na determinação da norma aplicável, a norma jurídica que, no entendimento do recorrente, devia ter sido aplicada. 3. Na falta de alegação, o recurso é logo julgado deserto.

4. Quando as conclusões faltem, sejam deficientes, obscuras, complexas ou nelas se não tenha procedido às especificações a que alude o n.º 2, o relator deve convidar o recorrente a apresentá-las, completá-las, esclarecê-las ou sintetizá-las, sob pena de não se conhecer do recurso, na parte afectada; os juízes-adjuntos podem sugerir esta diligência, submetendo-se a proposta a decisão da conferência.

5. A parte contrária é notificada da apresentação do aditamento ou esclarecimento pelo recorrente, podendo responder-lhe no prazo de dez dias. 6. O disposto nos n.ºs 1 a 4 deste artigo não é aplicável aos recursos interpostos pelo Ministério Público, quando recorra por imposição da lei. NOTAS: o MP não está obrigado a cumprir o disposto nos n° 1 a 4, apenas nos casos em

que tenha que recorrer por força da lei, casos previstos no art. 3°, n° 1, al. h) e j) do Estatuto

(Lei 14/2005 de 16/9):

h) Requerer a fiscalização da constitucionalidade dos actos normativos, nos termos

da lei;

j) Recorrer sempre que a decisão seja efeito de conluio das partes no sentido de

defraudar a lei ou tenha sido proferida com violação de lei expressa;

No entanto, a boa técnica jurídica aconselha a que cumpra sempre integralmente as

exigências constantes deste artigo, quem recorre deve submeter expressamente à

consideração do Tribunal superior as razões da sua discordância para com a decisão, ou

seja, os fundamentos pelos quais acha que a decisão deve ser anulada ou alterada para que o

Tribunal tome conhecimento delas e as aprecie.

Cfr., peça processual nº 17, relativamente à estrutura que devem ter as alegações.

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Artigo 495.° Questão preliminar

1. Distribuído e autuado o requerimento de recurso e apensado o processo onde foi proferida a decisão transitada alegadamente em oposição, é aberta conclusão ao relator para, em cinco dias, proferir despacho de admissão ou indeferimento liminar. 2. Admitido liminarmente o recurso, vai o processo com vista ao Ministério Público para emitir parecer sobre a oposição de julgados. 3. Se o relator entender que não existe oposição de julgados, manda os autos às vistas dos juízes do Tribunal, após o que apresenta projecto de acórdão ao respectivo plenário. 4. O recurso considera-se findo se o plenário do tribunal deliberar que não existe oposição de julgados.

NOTAS: a uniformização de jurisprudência assenta na matriz da existência de acórdãos do

Supremo que hajam perfilhado soluções contraditórias sobre a mesma questão fundamental

de direito, no domínio temporal da mesma legislação.

A finalidade do recurso é impedir o tratamento desigual de casos substancialmente

iguais e, por outro, uniformizar a aplicação jurisprudencial da lei. No fundo, Os acórdãos

em confronto hajam sido proferidos no domínio da mesma legislação e que, relativamente à

mesma questão fundamental de direito, hajam perfilhado soluções opostas, ou seja, que

tenham aplicado os mesmos preceitos legais de forma divergente a idênticas situações de

facto (art. 494º CPC).

A intervenção do MP, na sequência do recurso intentado, consiste em emitir um

parecer escrito sobre a existência de oposição de julgados.

Artigo 496.° Instrução do processo

1. Verificada a existência de oposição das decisões, o relator ordena a notificação dos interessados directamente afectados pela decisão recorrida para alegarem no prazo de quinze dias. 2. Findo o prazo referido no número anterior, se no parecer do Ministério Público ou nas alegações dos interessados tiverem sido suscitadas novas questões, é notificado o recorrente para, querendo, responder no prazo de quinze dias. 3. De seguida o processo vai com vista ao Ministério Público para emitir parecer sobre o sentido da jurisprudência a fixar. 4. Em qualquer altura do processo o relator poderá ordenar as diligências indispensáveis à decisão.

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NOTAS: se for dada como verificada a existência de oposição das decisões, ao MP é aberta

vista, agora para emitir parecer sobre o sentido da jurisprudência a fixar.

Quanto à estrutura do parecer, após resumir o teor dos dois Acórdãos, concluir que

ocorre jurisprudência contraditória do Supremo sobre a mesma questão fundamental de

direito e no domínio da mesma legislação e concluir no sentido do conflito jurisprudencial

suscitado ser solucionado mediante a prolação de acórdão uniformizador de jurisprudência

nos seguintes termos, «,,,,,,,,,,,,,,».

Artigo 557.°

Prerrogativas de inquirição

1. Gozam da prerrogativa de ser inquiridos na sua residência ou na sede dos respectivos serviços:

a) (...) b) (...) 2. Gozam de prerrogativa de depor primeiro por escrito, se preferirem, além das entidades referidas no número anterior: a) (...) b) (...) c) Os juízes dos tribunais superiores; d) O Procurador Geral da República e magistrados do Ministério Público equiparados a juízes dos tribunais superiores; e) (...) f) Os membros do Conselho Superior da Magistratura e do Conselho Superior do Ministério Público; g) (...) h) (...) i) (...) 3. (...) 4. (...) 5. (...) 6. (...) 7. (...) 8. (...) 9. (...) 10. (...) 11. (...) 12. (...) 13. (...) 14. (...) 15. (...)

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NOTAS: o artigo é bastante extenso, no que respeita aos magistrados (apenas aos que o

artigo menciona), podem depor por escrito, porém, a parte que os indicar tem que indicar os

factos sobre que incide o depoimento (n° 3).

Trata-se de uma opção, se o magistrado quiser pode depor na audiência de

julgamento.

Artigo 618.° Instrução e julgamento

1. Com a arguição e com a resposta, podem as partes requerer a produção de prova. 2. São inseridos ou aditados ao questionário os factos que interessem à apreciação da arguição. 3. A produção de prova, bem como a decisão, terão lugar juntamente com a da causa, cujos termos se suspenderão para o efeito, quando necessário.

4. A decisão proferida sobre a arguição será notificada ao Ministério Público.

NOTAS: encontramo-nos no âmbito da impugnação da autenticidade de um documento,

analisada a questão pelo Juiz, é dado conhecimento ao MP da decisão, que decidirá se

requer certidão para instaurar procedimento criminal pelo crime de falsificação (art. 303° e

seguintes do C. Penal).

Artigo 633.° Questão preliminar

1. É aplicável aos peritos o regime de impedimentos e suspeições que vigora para os juízes, com as necessárias adaptações. 2. Estão dispensados do exercício da função de perito os titulares dos órgãos de soberania, bem como aqueles que, por lei, lhes estejam equiparados, os magistrados do Ministério Público em efectividade de funções e os agentes diplomáticos de países estrangeiros. 3. Podem pedir escusa da intervenção como peritos todos aqueles a quem seja inexigível o desempenho da tarefa, atentos os motivos pessoais invocados.

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Artigo 658.° Custas no caso de confissão, desistência ou transacção

1. Quando a causa termine por desistência ou confissão, as custas são pagas pela parte que desistir ou confessar; e, se a desistência ou confissão for parcial, a responsabilidade pelas custas é proporcional à parte de que se desistiu ou que se confessou.

2. No caso de transacção, as custas são pagas a meio, salvo acordo em contrário, mas quando a transacção se faça entre uma parte isenta ou dispensada do pagamento de custas e outra não isenta nem dispensada, o juiz, ouvido o Ministério Público, determinará a proporção em que as custas devem ser pagas. NOTAS: a transacção lavrada no processo, que põe termo ao litígio entre as partes,

constitui um contrato processual, consubstanciando um negócio jurídico efectivamente

celebrado pelas partes intervenientes na acção correspondente àquilo que estas quiseram e

conforme o conteúdo da declaração feita.

A posição normal do MP nestes casos de transacção é um pouco como a justiça do

Rei Salomão, «Entende o MP que as custas devem ser pagas em partes iguais», isto

porque, os Srs Advogados aproveitam o facto de uma parte ter isenção de custas para

acordarem que as custas ficam todas a cargo da parte isenta.

As isenções de custas (objectivas e subjectivas) estão previstas nos arts. 2º e 3º do

Código das Custas Judiciais ( DL 16/2011, de 13/4).

Artigo 678.° Legitimidade do Ministério Público como exequente

Compete ao Ministério Público promover a execução por custas e multas impostas em qualquer processo. NOTAS: esta norma geral atribui legitimidade ao MP para instaurar execução por

custas e multas aplicadas em qualquer processo.

Vide, relativamente à execução por custas, os arts. 69° a 76º do DL 16/2011, de

13/4 - Código das Custas Judiciais.

Ainda quanto a custas saliente-se a isenção de custas do Ministério Público e do

Estado (art. 2°, al. a) e c) do DL 16/2011.

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Artigo 687.° Requerimento executivo

1. O requerimento executivo, dirigido ao tribunal de execução, é obrigatoriamente assinado pelo Ministério Público, pelo defensor público ou por mandatário judicial constituído, conforme os casos.

2. Com o requerimento executivo será apresentado o título executivo que lhe serve de fundamento, devendo o exequente indicar o fim da execução.

NOTAS: como exemplos, vide, peças processuais n° 19 e 20.

A quantia exequenda a indicar no requerimento resulta da soma de:

a) Da quantia em dívida a título de custas e/ou multa e,

b) Dos juros de mora calculados – 0,25% ao mês (art. 67° do DL 16/2011).

É possível encontrar na internet programas informáticos gratuitos em Excel para

cálculo de juros, recomendo a consulta do site www.verbojuridico.net, na secção

«Aplicações de Cálculo de Juros Civis e Comerciais».

Artigo 700.º

Bens absoluta ou totalmente impenhoráveis São absolutamente impenhoráveis, além dos bens isentos de penhora, por disposição especial:

a) (...) b)Os bens do domínio público do Estado e das restantes pessoas colectivas públicas; c) (...) d) (...) e) (...) f) (...) g) (...)

NOTAS: a razão da impenhorabilidade total reside na presunção de que tais bens estão,

pela sua própria natureza, afectos exclusivamente a fins de utilidade pública. Só devem

considerar-se impenhoráveis os bens directamente utilizados no desempenho da sua

actividade, ou seja, os bens de todo indispensáveis ao seu normal funcionamento (Ex. o

carro de um Ministro, os computadores de uma Secretaria de Estado).

Este artigo reveste-se de importância porque pode implicar que, caso sejam

penhorados bens constantes da al. b), o MP apresente articulado de oposição à penhora,

com fundamento na sua inadmissibilidade (art. 710º, nº 1, al. a) CPC).

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A oposição à penhora, como decorre da remissão constante do art. 711º, nº 2 do

CPC, assume a natureza de um incidente da instância, no caso, da instância executiva.

Artigo 701.º Bens relativamente impenhoráveis

1. Estão isentos de penhora, salvo tratando-se de execução para pagamento de dívida com garantia real, os bens do Estado e das restantes pessoas colectivas públicas, de entidades concessionárias de obras ou serviços públicos ou de pessoas colectivas de utilidade pública, que se encontrem especialmente afectados à realização de fins de utilidade pública. 2. (...) a) (...) b) (...) c) (...)

NOTAS: no caso previsto neste artigo, poderá haver penhora, se for uma execução para

pagamento de dívida com garantia real (consignação de rendimentos, penhor, hipoteca,

privilégios creditórios, direito de retenção, penhora e o arresto).

Por exemplo, um depósito bancário pode ser penhorado, já que as importâncias

monetárias, enquanto meio de pagamento, só indirectamente têm a ver com a actividade da

pessoa colectiva.

Apresentado articulado de oposição à penhora incumbe ao MP a alegação e prova

de estarem os bens afectos a fins de utilidade pública.

Artigo 743.º Reclamação dos créditos

1. Só o credor que goze de garantia real sobre os bens penhorados pode reclamar, pelo produto destes, o pagamento dos respectivos créditos. 2. A reclamação tem por base um título exequível e é deduzida no prazo de quinze dias, a contar da citação do reclamante; é, porém, de vinte e cinco dias, a contar da citação a que se refere a alínea c) do n.º 1 do artigo 741.º, o prazo em que ao Ministério Público é facultada a reclamação dos créditos da Fazenda Nacional. 3. (…) 4. (…) 5. (…) NOTAS: a intervenção do MP depende da entrega de certidão das Finanças onde constem

os valores e juros a reclamar.

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Apenas as dívidas que gozem de garantia real sobre os bens penhorados podem ser

reclamadas. Entre outras, são garantias reais: consignação de rendimentos, hipoteca legal,

judicial ou voluntária, privilégios creditórios, penhora e direito de retenção.

Artigo 778.º Pagamento do preço e sanções

1. O arrematante depositará no acto da praça o preço ou a fracção que oferecer, não inferior à décima parte, e a quantia correspondente às despesas prováveis da arrematação, sem o que não lhe serão adjudicados os bens. 2. Quando a arrematação se realize no edifício do tribunal e a tesouraria judicial esteja aberta, nela se fará o depósito, sem acréscimos de qualquer percentagem; quando se efectuar fora ou a tesouraria estiver encerrada, far-se-á em mão do funcionário que lavrar o auto. Tanto o tesoureiro como este funcionário ficam obrigados a depositar em instituição de crédito a importância entregue, no própriodia ou no primeiro dia útil seguinte. 3. Quando houver sido depositada apenas uma parte do preço, será o restante depositado directamente pelo arrematante em instituição de crédito, no prazo de quinze dias, sob pena de os bens irem novamente à praça para serem arrematados por qualquer quantia, ficando o primeiro arrematante responsável pela diferença do preço e pelas despesas a que der causa. A nova praça é anunciada nos termos do n.º 2 do artigo 776.°. 4. A secretaria liquidará a responsabilidade do arrematante, que será executado no mesmo processo, a requerimento do Ministério Público ou de qualquer interessado, autuando-se a certidão de citação e seguindo-se os mais termos por apenso. 5. O arrematante remisso não é admitido a lançar na nova praça, mas, se depositar o preço até ao momento da sua abertura, fica ela sem efeito, subsistindo a arrematação. 6. Os preferentes que pretendam exercer o seu direito depositarão logo todo o preço, além das despesas prováveis da arrematação. NOTAS: depositada uma parte do preço, será o restante depositado directamente pelo

arrematante em instituição de crédito, no prazo de 15 dias, sob pena de os bens irem

novamente à praça para serem arrematados por qualquer quantia, ficando o primeiro

arrematante responsável pela diferença do preço e pelas despesas a que der causa. Então, a

secretaria faz o cálculo do montante em dívida (diferença do preço e despesas), notifica o

MP e este requer, no próprio processo, a execução do arrematante.

Atento o teor do nº 4, o requerimento do MP será autuado por apenso à execução

principal.

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Artigo 796.º Representação do requerido

1. Se a citação não puder efectuar-se, em virtude de o requerido se encontrar impossibilitado de a receber, ou se ele, apesar de regularmente citado, não tiver constituído mandatário no prazo de contestação, o juiz designa, como curador provisório, a pessoa a quem provavelmente competirá a tutela ou a curatela, que não seja o requerente, que será citada para contestar em representação do requerido: não o fazendo, aplica-se o disposto no artigo 20.º. 2. Se for constituído mandatário judicial pelo requerido ou pelo respectivo curador provisório, o Ministério Público, quando não seja o requerente, apenas terá intervenção acessória no processo. NOTAS: encontramo-nos no âmbito das acções especiais. Em primeira linha a defesa do

requerido é atribuída a um curador provisório nomeado pelo Juiz, só no caso de não haver

contestação o MP intervém, por força do art. 20º do CPC.

No caso do nº 2, o regime aplicável ao MP é o da intervenção acessória.

Cfr, peças processuais nº 5 e 6, quanto a acções de interdição e inabilitação

intentadas pelo MP.

Artigo 807.º Levantamento da interdição ou inabilitação

1. O levantamento da interdição ou inabilitação será requerido por apenso ao processo em que ela foi decretada. 2. Autuado o respectivo requerimento, seguir-se-ão, com as necessárias adaptações, os termos previstos nos artigos anteriores, sendo notificado para deduzir oposição o Ministério Público, o autor na acção de interdição ou inabilitação e o representante que tiver sido nomeado ao interdito ou inabilitado. 3. A interdição pode ser substituída por inabilitação ou esta por aquela quando a nova situação do incapaz o justifique. NOTAS: as sentenças de inabilitação ou interdição são alteráveis, devido a evolução

posterior do requerido.

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Artigo 843.º Discussão e julgamento

1. Findos os articulados e realizadas as diligências que o relator tenha por indispensáveis, é o exame do processo facultado, para alegações, às partes e ao Ministério Público, por quinze dias a cada um. 2. O julgamento faz-se segundo as regras próprias do agravo. NOTAS: encontramo-nos no âmbito das acções especiais, em concreto, da revisão de

sentenças estrangeiras.

Por sentença estrangeira entende-se apenas a decisão revista de força de caso

julgado, que recaia sobre direitos privados (matéria cível e comercial), qualquer que seja a

natureza do órgão que a proferiu e sua designação, bem como a sentença que tiver sido

proferida, sobre a mesma matéria, por árbitros no estrangeiro. Confirmar uma sentença

estrangeira, após a sua revisão, é reconhecer-lhe, no Estado do foro, os efeitos que lhe

cabem no Estado de origem, segundo a lei desse Estado. Esses efeitos são o efeito de caso

julgado e o efeito de título executivo.

Nas alegações a elaborar pelo MP, analisa-se o pedido efectuado, subsume-se à lei e

conclui-se pela sua procedência ou não.

Cfr, peça processual nº 24.

Artigo 847.º Legitimidade para requerer ou intervir no inventário

1. Têm legitimidade para requerer que se proceda a inventário e para nele intervirem, como partes principais, em todos os actos e termos do processo: a) Os interessados directos na partilha; b) O Ministério Público, quando a herança seja deferida a incapazes, ausentes em parte incerta ou pessoas colectivas. 2. Quando haja herdeiros legitimários, os legatários e donatários são admitidos a intervir em todos os actos, termos e diligências susceptíveis de influir no cálculo ou determinação da legítima e implicar eventual redução das respectivas liberalidades. 3. Os credores da herança e os legatários são admitidos a intervir nas questões relativas à verificação e satisfação dos seus direitos, cumprindo ao Ministério Público a representação e defesa dos interesses da Fazenda Pública.

NOTAS: uma breve síntese do processo de inventário:

A) O requerimento do inventário (art. 857º nº 1 CPC).

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O inventário inicia-se com o requerimento (petição inicial), apresentado no tribunal

comum, cível de 1ª instância, em regra, o tribunal do último domicílio do falecido (art. 61º,

n 2 al. a) CPC).

B) A nomeação do cabeça-de-casal (art. 856º CPC).

Incumbe ao Juiz do processo a sua nomeação. A ordem de deferimento é a do art. 856º, n 1

CPC. O cabeça-de-casal pode ser substituído a todo o tempo, por acordo de todos os

interessados directos na partilha e do Ministério Público, nos inventários em que tenha

intervenção principal. No âmbito do processo incumbe-lhe arrolar e descrever os bens da

herança, fora do processo, administra os bens da herança.

C) Declarações do cabeça-de-casal (art. 858º CPC).

Após a sua nomeação, o cabeça-de-casal deverá prestar compromisso de honra de

desempenho das suas funções (acto pessoal) e prestar declarações (lavradas em auto de

declarações) que fazem fé em juízo até serem impugnadas por qualquer interessado.

Se não pôde apresentar a relação de bens e os documentos que devia, ser-lhe-à

estipulado prazo para o fazer.

Os bens que integram a herança a partilhar devem ser relacionados por verbas

numeradas e por uma certa ordem, estabelecida no art. 863º CPC.

D) Citações (se o processo prosseguir – art. 859º CPC).

- O MP quando a sucessão seja deferida a incapazes, ausentes, em parte incerta ou

pessoas colectivas.

- As pessoas com interesse directo na partilha (herdeiros).

- Os legatários, credores e donatários.

E) Exame do processo (art. 865º CPC).

Este exame destina-se a permitir que os advogados dos interessados e o MP digam o que se

lhes oferecer sobre a relação de bens ou a sua falta.

F) Conferência de interessados (art. 869º, nº 1 CPC).

A conferência de interessados é o órgão deliberativo no processo de inventário,

deliberando por unanimidade ou maioria, consoante os assuntos:

1- Composição dos quinhões (art. 870º, nº 1, al. a), b) e c) CPC).

2- Aprovação do passivo (art. 870º, nº 3 CPC).

3- Reclamação contra o valor atribuído aos bens (art. 870º, nº 4, al. a) CPC).

4- Questões cuja questão possa influir na partilha (art. 870º, nº 4, al. b) CPC).

5- Avaliação nos casos em que não é possível abrir licitações sobre certos bens da

herança (art. 878º, nº 4 CPC).

G) Licitações (art. 879º CPC).

A licitação é uma arrematação restrita aos herdeiros e meeiro do inventariado, cada

um dos interessados pode licitar em todos os bens e pelo preço que entender.

I) Forma à partilha (art. 889º CPC).

São ouvidos sobre a forma à partilha os advogados dos interessados e o MP, nos

termos do citado art. 889º CPC. Nos 10 dias seguintes será proferido despacho

determinativo do modo como deve ser organizada a partilha.

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Artigo 856.º Nomeação, substituição, escusa ou remoção do cabeça-de-casal

1. (...) a) (...) b) (...) c) (...) d) (...) 2. (...) 3. O cabeça-de-casal pode ser substituído a todo o tempo, por acordo de todos os interessados directos na partilha e também do Ministério Público quando tiver intervenção principal no inventário. 4. (...) 5. (...) NOTAS: o MP tem intervenção principal no inventário quando a herança seja deferida a

incapazes, ausentes em parte incerta ou pessoas colectivas (art. 847º, nº 1 al. a) CPC).

A substituição do cabeça-de-casal é um incidente do processo de inventário (nº 4).

Artigo 859.º Citação dos interessados

1. Quando o processo deva prosseguir, são citados para os seus termos os interessados directos na partilha, o Ministério Público, quando a sucessão seja deferida a incapazes, ausentes em parte incerta ou pessoas colectivas, os legatários, os credores da herança e, havendo herdeiros legitimários, os donatários. 2. O requerente do inventário e o cabeça-de-casal são notificados do despacho que ordene as citações.

Artigo 861.º Oposição e impugnações

1. Os interessados directos na partilha e o Ministério Público, quando haja sido citado, podem, nos trinta dias seguintes à citação, deduzir oposição ao inventário, impugnar a legitimidade dos interessados citados ou alegar a existência de outros, impugnar a competência do cabeça-de-casal ou as indicações constantes das suas declarações, ou invocar quaisquer excepções dilatórias.

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2. A faculdade prevista no número anterior pode também ser exercida pela cabeça-de-casal e pelo requerente do inventário, contando-se o prazo de que dispõem da notificação do despacho que ordena as citações. 3. Quando houver herdeiros legitimários, os legatários e donatários são admitidos a deduzir impugnação relativamente às questões que possam afectar os seus direitos.

NOTAS: eis alguns fundamentos de oposição:

- A ilegitimidade de quem requer o inventário,

- A inexistência de bens,

- Já estarem partilhados os bens,

- Nulidade do testamento,

- Existirem apenas legatários e não herdeiros.

Artigo 865.º Reclamação contra a relação de bens

1. Apresentada a relação de bens, são os interessados notificados de que podem reclamar contra ela, no prazo de dez dias, acusando a falta de bens que devam ser relacionados, requerendo a exclusão de bens indevidamente relacionados, por não fazerem parte do acervo a dividir, ou arguindo qualquer inexactidão na descrição dos bens, que releve para a partilha. 2. Os interessados são notificados da apresentação da relação de bens, enviando-se-lhes cópia da mesma. 3. Quando o cabeça-de-casal apresentar a relação de bens ao prestar as suas declarações, a notificação prevista no número anterior terá lugar conjuntamente com as citações para o inventário. 4. No caso previsto no número anterior, os interessados poderão exercer as faculdades previstas no n.º 1 no prazo da oposição. 5. Findo o prazo previsto para as reclamações contra a relação de bens, dá-se vista ao Ministério Público, quando tenha intervenção principal no inventário, por dez dias, para idêntica finalidade. 6. As reclamações contra a relação de bens podem ainda ser apresentadas posteriormente, mas o reclamante será condenado em multa, excepto se demonstrar que a não pôde oferecer no momento próprio, por facto que não lhe é imputável.

NOTAS: o reclamante da relação de bens em processo de inventário tem de oferecer toda a

prova no próprio requerimento de reclamação, não a podendo indicar posteriormente.

São fundamentos para reclamar contra a relação de bens:

- Acusar a falta de bens que devam ser relacionados.

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- Requerer a exclusão de bens indevidamente relacionados, por não fazerem parte

do acervo a dividir.

- Arguir qualquer inexactidão na descrição dos bens, que releve para a partilha.

Artigo 870.º Assuntos a submeter à conferência de interessados

1. Na conferência podem os interessados acordar, por unanimidade, e ainda com a concordância do Ministério Público quando tiver intervenção principal no processo, que a composição dos quinhões se realize por algum dos modos seguintes: a) Designando as verbas que hão de compor, no todo ou em parte, o quinhão de cada um deles e os valores por que devem ser adjudicados; b) Indicando as verbas ou lotes e respectivos valores, para que, no todo ou em parte, sejam objecto de sorteio pelos interessados; c) Acordando na venda judicial, total ou parcial, dos bens da herança e na distribuição do produto da alienação pelos diversos interessados. 2. As diligências referidas nas alíneas a) e b) do número anterior podem ser precedidas de arbitramento, requerido pelos interessados ou oficiosamente determinado pelo juiz, destinado a possibilitar a repartição igualitária e equitativa dos bens pelos vários interessados. 3. À conferência compete ainda deliberar sobre a aprovação do passivo e forma de cumprimento dos legados e demais encargos da herança. 4. Na falta do acordo previsto no n.º 1, incumbe ainda à conferência deliberar sobre: a) As reclamações deduzidas sobre o valor atribuído aos bens relacionados; b) Quaisquer questões cuja resolução possa influir na partilha. 5. A deliberação dos interessados presentes, relativa às matérias contidas no n.º 4, vincula os que não comparecerem, salvo se não tiverem sido devidamente notificados. 6. O inventário pode findar na conferência, por acordo dos interessados e do Ministério Público, quando tenha intervenção principal, desde que o juiz considere que a simplicidade da partilha o consente; a partilha efectuada é, neste caso, judicialmente homologada em acta, da qual constarão todos os elementos relativos à composição dos quinhões e a forma da partilha. NOTAS: o acordo a que se refere o nº 1 deste artigo só pode ser obtido por unanimidade

dos interessados daí, a falta de algum interessado ou a insuficiência ou irregularidade de

representação, torna impossível o acordo e leva à abertura de licitações.

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As reclamações relativas ao valor atribuído aos bens relacionados, devem, em

princípio, ser formuladas por escrito quando da notificação da apresentação da relação de

bens (art. 865º do CPC), embora possam ser feitas verbalmente na conferência de

interessados, nos termos do art. 878º do CPC.

Artigo 878.º Reclamação contra o valor atribuído aos bens

1. Até ao início das licitações, podem os interessados e o Ministério Público, quando tenha intervenção principal no inventário, reclamar contra o valor atribuído a quaisquer bens relacionados, por defeito ou por excesso, indicando logo qual o valor que reputam exacto. 2. A conferência delibera, por unanimidade, sobre o valor em que se devem computar os bens a que a reclamação se refere. 3. Não se altera, porém, o valor se algum dos interessados declarar que aceita a coisa pelo valor declarado na relação de bens ou na reclamação apresentada, consoante esta se baseie no excesso ou no insuficiente valor constante da relação, equivalendo tal declaração à licitação; se mais de um interessado aceitar, abre-se logo licitação entre eles, sendo a coisa adjudicada ao que oferecer maior lanço. 4. Não havendo unanimidade na apreciação da reclamação deduzida, nem se verificando a hipótese prevista no número anterior, poderárequerer-se a avaliação dos bens cujo valor foi questionado. 5. As reclamações contra o valor atribuído aos bens podem ser feitas verbalmente na conferência. NOTAS: se não existir acordo sobre a partilha, pode colocar-se em causa o valor de

qualquer bem relacionado. Trata-se de evitar que o valor base de partida para as licitações

esteja falseado (para mais ou para menos), permitindo aos interessados com capacidade

financeira ficarem com os bens, com base num valor não real dos bens da herança.

Artigo 888.º Anulação da licitação

1. Se o Ministério Público entender que o representante de algum incapaz ou equiparado não defendeu devidamente, na licitação, os direitos e interesses do seu representado, requererá imediatamente, ou dentro do prazo de dez dias, a contar da licitação, que o acto seja anulado na parte respectiva, especificando claramente os fundamentos da sua arguição. 2. Ouvido o requerido, conhecer-se-á da arguição e, sendo procedente, decretar-se-á a anulação, mandando-se repetir o acto e cometendo-se ao Ministério Público a representação do incapaz.

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3. No final da licitação de cada dia pode o Ministério Público declarar que não requererá a anulação do que nesse dia se tenha feito.

NOTAS: a licitação consiste na oferta por cada interessado de valores sucessivamente mais

elevados em bens da herança, para lhe serem adjudicados em partilha judicial.

A anulação da licitação pode decorrer de vícios da vontade dos licitantes ou de

vícios de natureza processual.

O MP terá dificuldade em aperceber-se do valor real dos bens, por não ter acesso a

informação, apenas poderá intervir através de informações que lhe sejam fornecidas, por

exemplo, pela família.

SUBSECÇÃO VI DA PARTILHA

Artigo 889.º

Despacho sobre a forma da partilha

1. Cumprido o que fica disposto nos artigos anteriores, são ouvidos sobre a forma da partilha os advogados dos interessados e o Ministério Público, nos termos aplicáveis do artigo 865.º 2. Nos dez dias seguintes proferir-se-á despacho determinativo do modo como deve ser organizada a partilha. Neste despacho são resolvidas todas as questões que ainda o não tenham sido e que seja necessário decidir para a organização do mapa da partilha, podendo mandar-se proceder à produção da prova que se julgue necessária. Mas se houver questões de facto que exijam larga instrução, serão os interessados remetidos nessa parte para os meios comuns. 3. O despacho determinativo da forma da partilha só pode ser impugnada na apelação interposta da sentença da partilha.

NOTAS: quanto a um exemplo de despacho do MP vide, a nota ao art. 847º. Quando o inventário tem por objecto uma pluralidade de heranças, o despacho

determinativo da partilha deve ser formulado em termos de autonomia de cada uma delas,

segundo a sua ordem cronológica, com base nos factos sucessórios e familiares e na lei,

tendo em conta a necessária conexão entre as heranças.

Artigo 895.º Reclamações contra o mapa

1. Organizado o mapa, o juiz, rubricando todas as folhas e confirmando a ressalva das emendas, rasuras ou entrelinhas, pô-lo-á em reclamação.

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2. Os interessados podem requerer qualquer rectificação ou reclamar contra qualquer irregularidade e nomeadamente contra a desigualdade dos lotes ou contra a falta de observância do despacho que determinou a partilha. Em seguida dá-se vista ao Ministério Público para o mesmo fim, se tiver intervenção principal no inventário. 3. As reclamações são decididas nos dez dias seguintes, podendo convocar-se os interessados a uma conferência quando alguma reclamação tiver por fundamento a desigualdade dos lotes. 4. No mapa far-se-ão as modificações impostas pela decisão das reclamações. Se for necessário, organizar-se-á novo mapa. NOTAS: se o escrivão tiver dificuldades em elaborar o mapa, deve expô-las ao Juiz antes

de terminar o prazo para o organizar, para que seja prorrogado e as dificuldades resolvidas.

No caso frequente em que o activo da herança a partilhar é inferior ao passivo, ou é

requerida a falência por algum credor ou deliberação de todos os interessados ou, nada

sendo requerido, o processo de inventário termina por inutilidade superveniente da lide

(inexistência de activo a partilhar).

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II- EXEMPLOS DE PEÇAS PROCESSUAIS

1. Requerimento - arguição de nulidade por falta de citação do MP. Proc. n°…………. Exm. Sr. Juiz do Tribunal.......................... O Ministério Público, na sequência de notificação efectuada, vem arguir a seguinte nulidade:

No âmbito do processo acima identificado, o Ministério Público foi notificado em ../.../2012 da douta sentença,

2° Porém, o Ministério Público nunca teve qualquer intervenção no processo,

3° Pelo que, na sua primeira intervenção no processo, o Ministério Público argui a respectiva falta de citação (art. 156°, al. b) do Código de Processo Civil)

4° Essa intervenção, como parte principal, deveria ter ocorrido, em representação do Estado e na defesa da legalidade democrática e promoção do cumprimento da lei, por força dos art. 132°, n° 1 da Constituição, art. 1° da Lei 14/2005 de 16/9 e art. 23°, n° 1 do Código de Processo Civil,

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Pelo exposto, requer-se a declaração de nulidade de todo o processado posterior à petição inicial, nos termos do art.156°, al. b) do Código de Processo Civil.

O Procurador da República

...............

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2. Requerimento - arguição de nulidade por falta de vista (parte acessória). Proc. nº .......... Tribunal …......... Exmº Dr Juiz de Direito O Magistrado do Ministério Público, na sequência de notificação efectuada, vem arguir a seguinte nulidade:

No âmbito do presente processo o M.P. foi notificado em .../.../... do douto despacho de fls ....

Acontece que, o MP nunca teve qualquer intervenção no processo,

3º O que devia ter acontecido, atenta a sua qualidade de parte acessória (art. 285º CPC).

4º Pelo que, na sua primeira intervenção no processo o MP argui a respectiva nulidade (art. 164°, n° e 166°, n° 2 CPC).

Pelo exposto, deve ser anulado o processo a

partir do momento em que devia ser dada vista ou facultado o exame.

O Procurador da República

…………………………

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3. Requerimento - resolução de conflito negativo de competência. Proc. nº ........... Tribunal …......... Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito do Tribunal ............... O Ministério Público, nos autos à margem identificados, notificado da decisão de fls. .........., vem requerer a V.Exa. o seguinte :

1º Nos autos à margem identificados dois tribunais consideram-se incompetentes para conhecer a mesma questão.

2º Uma vez transitadas ambas as decisões a declinarem a competência para conhecerem a mesma questão, estaremos perante um conflito negativo de competência que deverá ser decidido pelo Tribunal de Recurso (art. 82º, nº 2 do CPC, art. 164°, n° 2 da Constituição e do art. 110° da Lei 8/2002 de 20/9 - a competência transitória do Supremo Tribunal de Justiça, até à instalação e início de funções deste Tribunal, é exercida pela instância judicial máxima da organização judiciária existente em Timor-Leste, o Tribunal de Recurso).

3º Em face do exposto, e uma vez que ambos os tribunais (tribunal de ................... e tribunal de ..................) declinaram a respectiva competência para decidir sobre a mesma questão, requer-se a V.Exa. que, ocorrendo o transito em julgado da decisão agora proferida, se digne ordenar que se extraia e nos seja entregue certidão da petição inicial e dessa decisão a declinar a competência para julgar a questão suscitada, com nota do respectivo trânsito em julgado, assim como certidão da acção e da decisão proferida anteriormente pelo tribunal de ................, com nota do respectivo trânsito, a fim de, oportunamente, ser suscitado o conflito negativo de competência. Junta: duplicados legais.

O Procurador da República ……………….

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4. Requerimento – pedido de confiança do processo. Proc. nº ........... Tribunal ……........ Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito do Tribunal ............... ………………………., Procurador da República, vem, ao abrigo do art. 134º do

CPC, requerer a confiança judicial do processo acima identificado, por um período

não inferior a 8 dias, para exame na Procuradoria Distrital de ……..

O Procurador da República

…………………

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5. Petição inicial - acção especial de interdição.

Exmo. Senhor Juiz de Direito do Tribunal ................

O Ministério Público vem, ao abrigo do disposto nos art. 22º, nº 1 e 793º do

CPC e art. 130º do C. Civil, propor acção especial de interdição relativamente a:

Jerónimo Augusto ........................., solteiro, maior, residente

em......................................................................

nos termos e pelos fundamentos seguintes:

Da isenção de custas

Ao abrigo do art. 2º, nº 1, al. c) do DL 16/2011, o M. Público está isento de

custas.

O requerido nasceu no dia 11 de Novembro de 1957 - Doc. nº 1.

O mesmo padece de esquizofrenia - Doc. nº 2.

Tal doença determina a completa incapacidade do mesmo para governar a

sua pessoa e administrar os seus bens.

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Não conhece o dinheiro, não tendo portanto qualquer noção relativamente

ao valor económico das coisas,

Recusa qualquer tipo de assistência médica,

Não cuida da sua higiene, padecendo de várias doenças de pele,

Vive de esmolas e dos restos de comida dos cafés,

Não é, por isso, capaz de realizar sozinho tarefas associadas à sua própria

subsistência.

O requerido encontra-se, em suma, de forma permanente e irreversível,

totalmente incapaz de cuidar de si e do seu património e, portanto, incapaz de

reger a sua pessoa e administrar os seus bens.

10º

Torna-se, assim, indispensável nomear alguém que cuide da sua pessoa e

dos seus bens e que legalmente o represente.

Nestes termos, e nos mais de direito, deve a presente

acção ser julgada procedente, por provada, decretando-se a

interdição, por anomalia psíquica, do Requerido.

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Para tanto se requer que, D. e A., V.Exª se digne

ordenar o cumprimento do art. 794º do CPC, seguindo-se os

demais termos até final.

Para exercer as funções de tutora, indica-se Maria João ........................, irmã do

requerido, residente em ...............................................

Para integrarem o conselho de família, indicam-se:

Pedro Manuel .............., residente em ................................... -

para protutor;

José Afonso ........................., residente em

................................ - para o cargo de vogal,

Valor: USD 5000 (Cinco mil dólares)

Junta: 2 documentos e duplicados legais.

O Procurador da República

………………………

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6. Petição inicial. Acção especial de inabilitação.

Exmo. Senhor Juiz de Direito do Tribunal ...........

O Ministério Público vem, ao abrigo do disposto nos arts. 22º, nº 1 e 793º

do CPC e art. 144º do C. Civil, propor acção especial de inabilitação relativamente

a:

Jerónimo Martins ........................., solteiro, maior, residente

em......................................................................

nos termos e pelos fundamentos seguintes:

Da isenção de custas

Ao abrigo do art. 2º, nº 1, al. c) do DL 16/2011, o M. Público está isento de

custas.

O requerido nasceu no dia 10 de Novembro de 1970 - Doc. nº 1.

O mesmo padece de atraso mental grave - Doc. nº 2.

Tal doença determina a completa incapacidade do mesmo para governar a

sua pessoa e administrar os seus bens.

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Na verdade, o Requerido, atento o seu atraso mental não aprendeu a ler e

a escrever..

Não sabe fazer contas nem apresenta qualquer forma de capacidade de

cálculo.

Conhece o dinheiro mas não tem a noção do seu real valor, nem dos

gastos que efectua.

O seu raciocínio mostra-se muito limitado a problemas imediatos com

respostas de sim ou não, gosta ou não gosta, quer ou não quer.

Verifica-se no Requerido um problema na memória nas suas diversas

formas de expressão, que se traduz na deficiente capacidade de aquisição e

aprendizagem.

Dadas as características da sua personalidade, e a sua baixa capacidade

intelectual, o Requerido necessita constantemente do apoio e orientação de um

adulto, para a prática de quaisquer actos relacionados com a sua pessoa e com o

seu património, tais como: Cuidados de saúde, movimentação da conta bancária,

resolução de assuntos burocráticos com entidades públicas e privadas,

pagamento do quarto e aquisição do passe social.

10º

Torna-se, assim, indispensável nomear-lhe alguém que a assista na prática

de tais actos, e a autorize a praticá-los quando tal se justificar.

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Nestes termos, deve a presente acção ser julgada

procedente, por provada, decretando-se a inabilitação, por

anomalia psíquica do Requerido, com a extensão referida no

art. 9º.

Para tanto se requer que D. e A., Vª Exª se digne

ordenar o cumprimento do artº 945º do Código de Processo

Civil, seguindo-se os demais termos até final.

Para exercer as funções de curador, indica-se Maria ........................, irmã

do requerido, residente em ...............................................

Para integrar o conselho de família, indicam-se:

- Manuel .............., residente em ................................... - para protutor;

- Afonso ........................., residente em ................................ - para o cargo

de vogal,

Valor: USD 5000 (Cinco mil dólares)

Junta: 2 documentos e duplicados legais.

O Procurador da República

…………………

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7. Petição inicial. Acção especial de inventário.

Exmº Senhor Juiz de Direito do Tribunal............................. O Ministério Público, ao abrigo do disposto no art. 847º, nº 1, al. b) do Código de Processo Civil e art. 2º, al. g) do DL 16/2001, vem instaurar acção especial de inventário, para partilha da herança de:

- Lia Fernanda ......, falecida no dia 7 de Março de 2008, com última residência habitual na Rua ............, Dili.

nos termos e pelos fundamentos seguintes:

1º A ora inventariada faleceu no dia 7 de Março de 2008, no estado civil de casada (Doc. 1).

2º Sucederam-lhe o cônjuge e uma filha menor (Doc. 2).

3º A herança é constituida por bens móveis e imóveis.

4º O cargo de cabeça-de-casal incumbe (artº 856º, nº 1, al. a) do CPC) ao cônjuge da falecida - Luís ................, residente em..................................

Nestes termos, requer-se a citação do indigitado cabeça-de-casal nos termos e para os efeitos do estatuído no art. 858º do Código de Processo Civil, seguindo-se os demais trâmites legais até final.

Valor: USD ............ Junta: um documento e duplicados legais.

O Procurador da República ……………

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8. Petição inicial. Acção especial de reforma de livro. Exmo Dr. Juiz de Direito do Tribunal

................

O Ministério Público vem, ao abrigo do disposto nos arts. 23º, nº 1 e 816º

do CPC, propor acção especial de reforma de livro contra:

3. Carlos Manuel, residente em ....................................., Díli.

4. Gomes & Paiva Lda, com sede em............................, Díli.

5. Maria & João Lda, com sede em ..............................., Díli.

Da isenção de custas

Ao abrigo do art. 2º, nº 1, al. c) do DL 16/2011, o M. Público está isento de

custas.

No Cartório Notarial de .......... existia o livro de notas nº ........, onde

estavam lavradas escrituras diversas efectuadas no ano de 2011 (Doc 1),

Em concreto:

1- Carlos Manuel, escritura de compra e venda.

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2- Gomes & Paiva Lda, escritura de cessão de quotas.

3- Maria & João Lda, escritura de cessão de quotas.

Na sequência de um pedido de certidão de uma escritura constatou-se que

o livro desaparecera.

Tal desaparecimento terá ocorrido em Janeiro de 2011,

Na sequência de uma mudança de instalações do Cartório Notarial,

Foram efectuadas buscas exaustivas para localizar o livro, sem quaisquer

resultados,

No Cartório não existe possibilidade de recuperar as escrituras insertas no

livro nº ..........., uma vez que não existem cópias.

O Estado tem interesse na reforma do livro desaparecido, uma vez que se

trata de instrumento público lavrado no âmbito da função notarial, que se

encontrava à sua guarda, através dos competentes órgãos,

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E do qual está obrigado, nos termos legais (art.138º e seguintes do DL

25/2009, de 26/8), a passar cópias, atestados e autenticações a qualquer

interessado que o requeira.

Nestes termos, e nos mais de direito, requer-se:

1. Se proceda à inquirição da testemunha abaixo arrolada, quanto a toda a matéria de facto alegada na presente petição (art. 816º e 808º, nº 2 CPC).

2. Inquirida a testemunha, se determine o prosseguimento da presente acção, designando-se dia para a conferência a que se reporta o art. 809º do CPC.

3. Se sigam os ulteriores termos do processo, julgando-se a presente acção procedente, por provada, ordenando-se a reforma do livro mencionado no art. 1º.

Valor: USD 5000 (Cinco mil dólares) TESTEMUNHAS: - .................., Notário do Cartório Notarial de ………, a requisitar; Junta: …. documentos e duplicados legais.

O Procurador da República

.....................

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9. Providência cautelar de arresto. Exmo Dr. Juiz de Direito do Tribunal

................5

O Ministério Público, em representação do Estado (art. 132°, n° 1 da Constituição, art. 1° da Lei 14/05 de 16/9 e art. 23°, n° 1 do CPC), com isenção de custas (art. 2°, n° 1 al. a) do DL 16/2011) vem, instaurar procedimento cautelar de arresto (art. 329º e seg., CPC) contra: ABC Lda, com sede em Comoro, Díli. Nos termos e com os seguintes fundamentos:

I- Dos factos6

1º Em ……/……/2013, o Ministério ….. abriu concurso para a venda de 10 carros em estado de sucata (doc. 1),

2º O concurso foi ganho pela Requerida, que apresentou a proposta mais alta, no valor de USD 10,000 (doc. 2),

3º Para pagar, a Requerida emitiu e entregou no Ministério …… o cheque nº 0134567, sacado sobre o banco ANZ, no valor de USD 10.000, datado de …../…./2013 (conforme cópia que se junta e se dá por reproduzida – doc. 3).

5 Regra geral da competência territorial dos procedimentos cautelares de arresto, art. 62º nº 1, al.

a) CPC - tribunal onde deva ser proposta a acção respectiva (lugar do cumprimento – obrigações pecuniárias, domicílio que o credor tiver ao tempo do cumprimento – art. 708º C. Civil) ou no do lugar onde os bens se encontrem ou, se houver bens em várias circunscrições, no de qualquer destas. 6 Expor os factos que servem de fundamento à providência (art. 349º nº 1, al. d) CPC – é

obrigatória a exposição dos factos por artigos por imposição do art. 117º, nº 2 CPC).

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4º O Ministério ….. depositou o cheque na sua conta do banco BNU, o qual foi devolvido, com um carimbo colocado no seu verso a dizer «falta de provisão» (doc. 3),.

5º Até à presente data a Requerida não pagou a quantia em divida, apesar das insistências por escrito e pelo telefone,

6º Entretanto, na última semana soube-se que a Requerida também não paga a outros fornecedores, aos bancos e aos seus trabalhadores,

7º E que, está a vender todos os seus bens,

8º Os seus sócios gerentes saíram de Timor,

9º As instalações da Requerida estão encerradas.

II- Do direito

10º Determina o art. 329º, nº 1 do CPC que o «O credor que tenha justificado receio de perder a garantia patrimonial do seu crédito pode requerer o arresto de bens do devedor».

11º

São, assim, requisitos do procedimento cautelar de arresto:

a) Titularidade indiciária do direito de crédito contra o arrestado;

b) Que o credor tenha justo receio de perda de garantia

patrimonial do seu crédito

12º Face ao alegado nos arts. ….. a ….. deste requerimento, o crédito do Estado é liquido e vencido.

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13º Atento o alegado nos arts. ….. a ….., existe justo receio de perda da garantia patrimonial do requerente Estado, em virtude dos actos de dissipação e ocultação do património da Requerida, da ausência dos gerentes do país, do encerramento das instalações da Requerida, e do não pagamento dos seus encargos e débitos a trabalhadores, fornecedores, bancos, financeiras, entre outras. Nestes termos e no mais de direito, requer-se que se decrete o presente procedimento cautelar de arresto dos bens do Requerido, que se identificam: 1º Jipe matricula ………………….., que se encontra junto à sede da Requerida. 2º Saldo da conta bancária nº………. do Banco ……………… Indica-se para ser fiel depositário dos bens: Alfredo dos Santos, com domicílio profissional no Ministério ……., Díli. Prova testemunhal (a apresentar): 1º- Carlos dos Santos, com domicílio profissional no Ministério ……., Díli. 2º- Maria de Jesus, com domicílio profissional no Ministério ……., Díli. Valor: USD 10.000 7.

Junta: 3 documentos e duplicados legais.

O Procurador da República

…………..

7 Valor do crédito que se pretende garantir (art. 265º, nº 3, al. e) CPC).

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10. Contestação. Requerimento para prorrogação do prazo.

Proc. n°.............

Exm. Sr. Dr. Juiz de Direito junto do Tribunal de ...............

O Ministério Público vem, ao abrigo do art. 366°, n° 4 do CPC, requerer a

prorrogação do prazo para contestar, por mais 30 dias.

O fundamento do pedido reside no facto de necessitar de ………….

(documentos pedidos ao Ministério, informações pedidas a ..........., de aguardar

instruções da hierarquia, etc).

Pede deferimento

O Procurador da República

………………

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11. Contestação - responsabilidade civil do Estado. Proc. nº ........... Exm. Sr. Dr. Juiz de Direito junto do Tribunal Distrital de ………… O Ministério Público, em representação do Estado (art. 132°, n° 1 da Constituição, art. 1° da Lei 14/05 de 16/9 e art. 23°, n° 1 do CPC), com isenção de custas (art. 2°, n° 1 al. a) do DL 16/2011) vem, na acção declarativa de condenação intentada por ............, apresentar o seu articulado de contestação, nos termos e com os seguintes fundamentos:

I- POR EXCEPÇÃO

A) Da não consagração legal da responsabilidade civil do Estado

1° No tocante à responsabilidade civil resultante do exercício das funções do Estado, permanece a inércia do legislador, pois não existe ainda qualquer diploma regulando genericamente a matéria,

2° Por ora, o decisor legislativo não atribui, normalizou ou densificou essa matéria e não cabe aos tribunais substituir-se ao legislador,

3° Em primeiro lugar, porque o exercício da faculdade de legislar obedece, em cada momento histórico a legítimos critérios de oportunidade e de ponderação, só assim se respeitando a liberdade constitutiva e conformadora do legislador, também democraticamente legitimado,

4° Depois, porque se se reconhecesse tal direito aos tribunais, consagrar-se-ia a subversão da relação entre o poder legislativo e o judicial, onde este último

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acabaria por ditar ao primeiro as opções a tomar em cada momento, reconhecendo direitos aos particulares sem qualquer legitimidade democrática para o fazer,

5° Na realidade, apenas existe regulamentação específica de certos actos, mas de carácter jurisdicional, geradores de responsabilidade civil do Estado:

No caso de condenações injustas (art. 31°, n° 6 da Constituição e art. 320° do Código de Processo Penal).

No caso de detenção ou prisão preventiva ilegal (art. 351°, n° 1 do Código de Processo Penal).

6° O Autor fundamenta juridicamente a sua pretensão no art. 1367° do C. Civil indonésio porém, a sua simples leitura permite constatar que se refere a casos muito específicos de responsabilidade de pessoas singulares (“An individual...”) e não de pessoas colectivas, como é o caso do Estado, sendo certo que, ao caso, não é admissível a aplicação da analogia ou a interpretação extensiva.

7° A consagração da responsabilidade do Estado por actos da suas funções, em certos casos, significa concomitantemente a exclusão da mesma responsabilidade nas hipóteses não visadas pelos textos (vide, neste sentido, Gomes Canotilho, O Problema da Responsabilidade do Estado por Actos Lícitos, pág. 228).

Não sendo aplicáveis ao caso as normas que prevêem a responsabilidade civil do Estado por actos jurisdicionais e inexistindo normas ordinárias às quais se subsuma a pretensão do Autor, ela está, irremediavelmente condenada ao fra-casso.

9° Esta excepção peremptória obsta a que o tribunal conheça do mérito da causa e conduz à absolvição do réu do pedido (art. 372°, n° 1 e 3 e art. 375° do Código de Processo Civil),

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Caso assim não se entenda, dir-se-á, por mera cautela e sem nada conceder :

B) Da caducidade

10° A presente acção deu entrada na secretaria judicial em 27/10/2008, data em que a acção se considera proposta (art. 223°, n° 1 do Código de Processo Civil),

11° De acordo com o alegado no art. 1° da petição inicial, o Autor teve conhecimento dos factos no próprio dia em que ocorreram - 11/3/2007,

12° Ora, por força do art. 1380° do Código Civil indonésio, a presente acção de responsabilidade civil por facto ilícito teria que ser proposta no prazo de 1 ano a contar da prática dos factos – o que não aconteceu.

13° Por outras palavras, aquando da instauração da presente acção, já havia, há muito, caducado o direito de acção.

14° Assim, a verificação da excepção da caducidade do direito de acção obsta a que o tribunal conheça do mérito da causa e conduz à absolvição do réu do pedido (art. 372°, n° 1 e 3 e art. 375° do Código de Processo Civil), Se, porém, assim não se entender, dir-se-á, por mera cautela e sem nada conceder:

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II- POR IMPUGNAÇÃO

15°

O Estado desconhece se são, ou não, reais os factos articulados pelo Autor nos artigos 1° a 19° da petição inicial,

16°

Que, por não serem pessoais, nem deles dever ter conhecimento, assim se impugnam (art. 370º, nº 3 do CPC),

17° Na verdade, apesar das diligências probatórias realizadas no inquérito 850/PDD/2007 da Procuradoria Distrital de Díli (de que o Autor juntou cópias), não foi possível apurar quem foram os autores dos alegados factos, o que conduziu ao arquivamento do inquérito,

18° Assim, cumpriu o Estado o seu objectivo de zelar pelos princípios do Estado de direito democrático (art. 6°, al. b) da Constituição, investigando, através das entidades próprias, os factos participados,

19° Porém, é um facto notório que, nem sempre as diligências probatórias permitem descobrir o autor(res) do(s) facto(s) ilícito(s), o que depende de factores externos à polícia ou ao Ministério Público, tais como, inexistência de testemunhas, documentos etc, situações relativamente às quais o Estado não tem qualquer domínio ou responsabilidade.

20° O Autor juntou à petição inicial uma série de documentos, que aparentam ser facturas, em língua não oficial (art. 104°, n° 1 do Código de Processo Civil), e cujo teor e conteúdo expressamente se impugnam,

Dir-se-á, quanto aos peticionados danos morais, por mera cautela e sem nada conceder:

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21° Afigura-se manifestamente excessivo e desproporcionado, o montante peticionado pelo Autor relativamente aos danos não patrimoniais que alega ter sofrido.

22°

Na verdade, esse valor de USD 3000 não tem o mínimo de correspondência com o nível de vida da generalidade da população timorense, e exorbita, em muito, dos valores médios que a jurisprudência tem vindo a atribuir aos danos morais:

a) Para uma justa e criteriosa ponderação do Tribunal, e tendo em conta a igualdade de tratamento de todos os cidadãos perante a lei, deve atender-se, na determinação do valor a atribuir, à jurisprudência uniformemente aplicada em situações semelhantes.

b) Na formação do juízo de equidade, devem ter-se em conta também as regras de boa prudência, a justa medida das coisas, a criteriosa ponderação das realidades da vida, como se devem ter em atenção as soluções jurisprudenciais para casos semelhantes e nos tempos respectivos.

c) Todos concordarão que uma ofensa à integridade física, que constitui um dos prejuízos supremos, não pode ser subvalorizada relativamente à perda da honra, da liberdade, da dignidade, da imagem e do bom nome - sem embargo da protecção que estes, indubitavelmente, devem merecer.

d) Comprovando-se o que se deixou dito, veja-se a título meramente exemplificativo o seguinte Acórdão: caso de ofensas corporais – agressão a pontapé no lábio superior, a indemnização por danos morais foi fixada em USD 50 (Ac. do Tribunal de Recurso de

28/9/2007, proc. 29/C.O/07/TR). É pois, patente o desajuste do valor peticionado pelo Autor.

Nestes termos e nos demais de direito aplicáveis deverá:

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1- Julgar-se procedente a excepção peremptória consistente na falta de consagração legal da responsabilidade do Estado nesta matéria, absolvendo-se o Estado do pedido.

Caso assim não se entenda,

2- Julgar-se procedente a excepção peremptória de caducidade, absolvendo-se o Estado do pedido.

Se, porém, assim não se entender,

3- Deve a acção ser julgada improcedente por não provada, absolvendo-se o Estado do pedido.

Valor: o da acção. Junta: 1 documento e duplicados legais.

O Procurador da República

…………..

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12. Contestação – representação de menor. Proc. nº……. Exm. Sr. Dr. Juiz de Direito junto do Tribunal Distrital de ……… O Ministério Público, em representação do menor João …….. (art. 132°, n° 1 da Constituição, art. 3°, n° 1, al. b) da Lei 14/05 de 16/9 e art. 22°, n° 1 do CPC), com isenção de custas (art. 2°, n° 1 al. g) do DL 16/2011) vem, apresentar o seu articulado de contestação, nos termos e com os seguintes fundamentos:

1° Relativamente à matéria de facto alegada pela autora, o MP não possui elementos que permitam concluir sobre se a mesma corresponde à realidade (art. 370°, n° 3 e 4 do CPC),

2° Após a prova produzida nos autos, o MP tomará uma posição concreta sobre o pedido formulado pela Autora.

3° No que respeita aos fundamentos de direito, entende o MP que ....................................................................................................................................

Nestes termos e nos demais de direito aplicáveis deverá a acção prosseguir a sua normal tramitação até final.

Valor: o da acção. Junta: duplicados legais.

O Procurador da República

…………….

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13. Contestação - arrendamento. Eficácia do caso julgado. Proc. nº……. Exm. Sr. Dr. Juiz de Direito junto do Tribunal Distrital de ……….. O Ministério Público, em representação do Estado (art. 132°, n° 1 da Constituição, art. 1° da Lei 14/05 de 16/9 e art. 23°, n° 1 do CPC), com isenção de custas (art. 2°, n° 1 al. a) do DL 16/2011) vem, na acção declarativa de condenação intentada por AAA Lda, apresentar o seu articulado de contestação, nos termos e com os seguintes fundamentos:

I- QUESTÃO PRÉVIA

Custas

1º A presente acção está sujeita ao pagamento de custas (art. 1º, nº 2 do DL 15/03 de 1/10), não beneficiando o requerente de qualquer isenção objectiva ou subjectiva (art. 2º e 3º do DL 15/03 de 1/10). Assim, devem de imediato ser passadas guias para pagamento.

II- POR EXCEPÇÃO

A) Da falta de constituição de advogado.

Atento o valor da acção, é obrigatória a constituição de advogado (art. 36º do CPC),

Porém, a petição inicial é subscrita pela Defensoria Pública, o que certamente se deve a lapso,

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4º Já que não é credivel que a Defensoria Pública desconheça o seu próprio Estatuto, constante do DL 38/2008 de 29/10,

5º Que apenas permite a assistência jurídica aos mais necessitados (art. 1º, nº 1) e, quanto a pessoas colectivas, apenas às de direito privado sem fins lucrativos (art. 5º, nº 2),

Ora, a AAA Lda é uma sociedade comercial que visa o lucro e que, por Lei (DL 38/2008 de 29/10), não pode ser representada pela Defensoria Pública.

7º Pelo exposto, requer-se a notificação da AAA Lda para, em 10 dias constituir advogado, sob cominação do Réu ser absolvido da instância (art. 37º do CPC).

Acresce que:

B) Da falta de interesse em agir relativamente ao pedido nº 1 (declaração que o Estado é o proprietário do terreno e edifícios).

8º O interesse em agir respeita ao interesse no próprio processo, no recurso à via judicial, à inevitabilidade do pedido de tutela jurisdicional apresentado em juízo,

9º “A qualificação do interesse em agir como pressuposto processual assenta na preocupação de evitar acções inúteis” (António M. Machado e Paulo Pimenta, O Novo Processo Civil, Almedina, 2004, pág. 79),

10º Se o CPC (art. 102º) proíbe a prática de actos inúteis, o que dizer de acções inúteis?

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11º Ora, resulta da Lei 1/2003 de 24/12, art. 4º e 16º, bem como da planta do terreno do cadastro predial nº ………… de 10/6/2003, que o Estado é o proprietário do terreno e edifícios,

12º Assim, é inútil que o Tribunal se pronuncie sobre algo que resulta directamente da Lei e do registo,

13º

A falta de interesse em agir é um pressuposto processual inominado, uma excepção dilatória atípica, que conduz à absolvição do Estado da instância (art. 372º, nº 1 e 2 e art. 373º, nº 1 do CPC).

Por outro lado,

C) Da violação da eficácia do caso julgado através dos pedidos nº 3 (declarar que a AAA Lda tem o direito e autorização, garantia de protecção e segurança jurídica para arrendar, subarrendar, controlar, construir/renovar o edifício, ocupar e utilizar o terreno e edifícios do Bairro Colmera), nº 4 (declarar que o Estado deve respeitar, honrar e executar todas as decisões e pronuncias do Tribunal e reconhecer todos os direitos da requerente, como arrendatária de boa fé) e nº 5 (declarar que a requerente tem o direito e autorização para registar todos os documentos relacionados com o arrendamento do terreno e edifícios do Bairro Colmera, incluindo o contrato de arrendamento e todas as decisões e sentenças do Tribunal de Dili, na Direcção de Terra e Propriedades.

14º Conforma alega a Autora, já existiram 4 decisões do Tribunal Distrital de Dili relativas ao terreno e edifícios do Bairro Colmera,

15º Mas, nesses processos, foram partes a AAA Lda e a BBB Lda, e não o Estado,

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16º O caso julgado forma-se apenas em relação às pessoas singulares ou colectivas que intervieram como partes nos processos – art. 421º do CPC (eficácia relativa do caso julgado material),

17º Pelo que, não está o Estado vinculado a qualquer uma dessas decisões do

Tribunal, nomeadamente, arrestos, validade de quaisquer contratos celebrados entre as partes, indemnizações, compensações, reconhecimento de direitos, registos, por ser um terceiro que não interveio nos processos,

18º A pretensão da AAA Lda constitui um claro lapso ou um manifesto

desconhecimento da eficácia do caso julgado das decisões judiciais (art. 421º do CPC),

19º A violação do caso julgado é uma excepção dilatória que conduz à

absolvição do Estado da instância (art. 372º, nº 1 e 2 e art. 373º, nº 1, al. h) do CPC).

D) Da ilegalidade do pedido nº 6 (declarar que a decisão a proferir é considerada como uma decisão de primeiro e último nível dessa instituição judicial).

20º A Autora esqueceu a Constituição, em concreto, o art. 123º (Categorias de tribunais),

21º Bem como, os art. 52º, nº 1 e 3, art. 426º, nº 1 e art. 428º, nº 2 do CPC,

22º Isto é, atento o valor da acção, a decisão admite recurso para o Tribunal de Recurso,

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23º O pedido é ilegal, pois tem na sua base e como efeito jurídico pretendido, a

alteração de regras relativas às alçadas e ao direito de recurso, constantes de normas imperativas, que não podem ser alteradas pela vontade das partes,

24º A ilegalidade do pedido é uma excepção peremptória (372º, nº 3 e art. 375º do CPC) que implica a absolvição do pedido.

G) Da ilegalidade do pedido nº 7 (declaração de que todas as despesas judiciais são da responsabilidade da AAA Lda).

25º Relativamente a custas, rege o art. 653º e seguintes do CPC e o DL 16/2011, de 13/4,

26º São normas imperativas, que não podem ser alteradas por acordo, nem por mera declaração de uma das partes,

27º O pedido é ilegal, pois tem na sua base e como efeito jurídico pretendido, a

alteração de regras relativas a custas, constantes de normas imperativas, que não podem ser alteradas pela vontade das partes,

28º A ilegalidade do pedido é uma excepção peremptória (372º, nº 3 e art. 375º do CPC) que implica a absolvição do pedido.

Acresce que:

II- POR IMPUGNAÇÃO

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29°

O Estado desconhece se são, ou não, reais os factos articulados pelo Autor nos artigos 5°,6°, 28°, 30° e 31° da petição inicial,

30°

Que, por não serem pessoais, nem deles dever ter conhecimento, assim se impugnam (art. 370º, nº 3 do CPC),

31° O Autor juntou à petição inicial uma série de documentos, que aparentam

ser contratos, em língua não oficial (art. 104°, n° 1 do Código de Processo Civil), e cujo teor e conteúdo expressamente se impugnam, Nestes termos e nos demais de direito aplicáveis deverá:

1º- Serem, de imediato, passadas guias para pagamento de custas por AAA Lda.

2º- Notificar-se a AAA Lda para, em 10 dias constituir advogado, sob cominação do Réu ser absolvido da instância (art. 37º do CPC).

3º- Julgar-se procedente a excepção dilatória de falta de interesse em agir, face ao pedido n° 1, com a consequente absolvição da instância,

4º- Julgar-se procedente a excepção dilatória de violação do caso julgado, face aos pedidos n° 3, 4 e 5, com a consequente absolvição da instância ou,

5º- Julgar-se procedente a excepção peremptória de ilegalidade dos pedidos nº 6 e 7, absolvendo-se o Estado do pedido.

Se, porém, assim não se entender,

6º- Deve a acção ser julgada improcedente por não provada, absolvendo-se o Estado do pedido.

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Prova testemunhal:

………………………., Director da Direcção de Terra e Propriedades.

Valor: o da acção. Junta: duplicados legais.

O Procurador da República

……..............

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14. Reclamação da especificação e questionário. Proc. nº……. Exm. Sr. Dr. Juiz de Direito do Tribunal Distrital de ……….. O Ministério Público, autor na acção acima identificada, em que é Réu Carlos Silva, notificado do douto despacho saneador, vem reclamar (art. 387º, nº 3 CPC) da especificação e questionário, nos termos e com os fundamentos seguintes:

1º O MP alegou no art. 3º da petição inicial que o Réu partiu um vidro do Ministério ...... no dia ...../.....2013.

Na sua contestação, o Réu não impugnou o facto alegado.

3º Pelo que, se deve considerar o facto admitido por acordo (arts. 370º, nº 2 e 387º, nº 1 CPC).

4º Pelo exposto, o facto que ora consta no art..... do questionário deve passar para a especificação. Junta: duplicados legais.

O Procurador da República

…………….

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15. Recurso de agravo. Requerimento de interposição. Proc. nº ….. Tribunal Distrital de ……….

Exmº Presidente do Tribunal de Recurso O Ministério Público, não se conformando com o douto despacho de fls

……, vem dele interpor recurso para o Tribunal de Recurso.

O recurso é de agravo, com subida diferida/imediata, nos próprios autos/em

separado e com efeito devolutivo/suspensivo (art. 467º, 468º, 470º, 471º e 474º

CPC).

Mais se requer a V.Exª que, admitido o recurso, se sigam os ulteriores

termos.

O Procurador da República

………………….

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16. Recurso de apelação. Requerimento de interposição.

Proc. nº ….. Tribunal Distrital de ……….

Exmº Presidente do Tribunal de Recurso

O Ministério Público, não se conformando com a douta sentença a fls….. a

….. vem interpor recurso para o Tribunal de Recurso.

O recurso é de apelação (art. 443º CPC), com efeito suspensivo (art. 444º

CPC) e com subida nos próprios autos (art. 445º, nº 1, CPC).

Assim, por estar em tempo, requer-se a V. Exª se digne admiti-lo. O Procurador da República

………………….

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17. Recurso de apelação. Alegações. Proc. nº ….. Tribunal Distrital de ……….

Exmº Presidente do Tribunal de Recurso O Ministério Público, não se conformando com a douta sentença de fls ……

a …….. que condenou o Réu no pagamento ao Autor da quantia de USD

…………., acrescida de juros de mora vencidos nas datas peticionadas e

vincendos até integral pagamento à taxa legal .

Com tal decisão não concordou o M. Público, em representação do Réu

(art. 20º CPC) pelo que, dele interpôs o presente recurso de apelação, admitido

pelo douto despacho de fls …….. .

I- FUNDAMENTOS

Foi dado como provado que «No âmbito da sua actividade, a A. e R.

celebraram um acordo escrito que constitui o documento que foi junto no decurso

desta audiência que se dá aqui por reproduzido» ( art. 2º dos factos provados ).

Existe uma relação causa/efeito entre a celebração do contrato de

prestação de serviço móvel terrestre e a atribuição do respectivo(s) cartão de

acesso. Acontece que, analisando detalhadamente o referido documento (fls

…….), constata-se que a ……. apenas atribuiu ao R. «o cartão de acesso

758588...”. Isto é, do contrato celebrado entre A. e R. apenas resulta que foi

atribuído ao R. o cartão de acesso ao serviço para o nº 758588 e não para os nº

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751019 e 808586, conforme a Mª juiz deu como provado (art. 3º dos factos

provados ).

Os documentos de fls 6 e 7 são meras cópias de mapas informáticos não

assinados por qualquer dos litigantes, a sua falta de impugnação apenas significa

que eles ( simples fotocópias ) estão conforme ao original (art. 594º CPC).

É certo que o art. 580º CPC estabelece que a força probatória do

documento escrito a que falte algum dos requisitos exigido por lei, é livremente

apreciado pelo tribunal. Porém, a verdade é que tais mapas, que qualquer pessoa

podia elaborar, não são suficientes para alicerçarem a pretensão da A., pois os

mesmos podem perfeitamente não corresponderem à realidade creditória da A.

Na douta sentença o R. foi condenado por ter utilizado o serviço móvel

terrestre da A. e não ter procedido “ ao pagamento do preço desse serviço “. Mas

qual serviço? Conforme resulta do teor de fls 39 e é do conhecimento comum, a

utilização do telemóvel não importa só no pagamento de chamadas telefónicas,

mas também de outros serviços, atente-se ao teor do contrato (fls 39) - “

Transferência de chamadas”, “ taxa mensal “, “ facturação detalhada “, assinatura

cartão de acesso “ etc.

Venerandos Juízes, nada foi dado como provado quanto:

A) Aos serviços que em concreto a A. teria utilizado.

B) Ao preço desses serviços.

C) À data de apresentação das facturas a pagamento.

É verdade que tal situação nasce da existência de uma causa de pedir

imperfeita, em que a A. alega de forma vaga e abstracta, daí , entender o M.P. que

o tribunal “ a quo “ não fez uma correcta e efectiva aplicação do direito aos factos

em causa ao condenar o R. , já que se impunha a improcedência da acção por

falta de matéria de facto sobre que haja de assentar o reconhecimento do direito

invocado. Aliás, analisando a sentença e efectuando um juízo acerca da

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delimitação do caso julgado, face à ausência de especificação do (s) serviço(s)

prestado(s) e sua falta de localização no espaço e no tempo, torna-se impossível a

averiguação da relação jurídica anteriormente litigada.

II- CONCLUSÕES

1- Está incorrectamente dado como provado que ao R. foram atribuídos os

cartões de acesso nº 676/751019 e 936/808586.

2- Tal conclusão resulta do teor do contrato celebrado entre A. e R. a fls 38

e 39.

3- Os documentos de fls 6 e 7 são meras cópias de mapas informáticos não

assinados por qualquer dos litigantes, insuficientes para alicerçar a

pretensão da A.

4- Nada foi provado quanto aos serviços que em concreto o R. teria

utilizado, qual o seu valor, em que datas foram prestados e qual a data da

apresentação das facturas a pagamento.

5- A sentença não permite a delimitação do caso julgado, face à ausência

de especificação dos serviços e sua falta de localização no espaço e no

tempo.

6- O tribunal “ a quo “ não fez uma correcta e efectiva aplicação do direito

aos factos, já que se impunha a improcedência da acção por falta de

matéria de facto sobre que haja de assentar o reconhecimento do direito

invocado.

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7- Pelo exposto, deverá a sentença ser revogada, e, em consequência, ser

a acção julgada improcedência.

Porém, V.Exas farão a costumada JUSTIÇA

O Procurador da República

…………..

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18. Recurso de apelação. Contra alegações (a concordar com sentença).

Proc. nº………… Tribunal Distrital de ………..

Contra-alegações do Ministério Público

EXCELENTÍSSIMO PRESIDENTE DO

TRIBUNAL DE RECURSO

Interpôs a Recorrente …………………………………, recurso de Apelação

do douto despacho saneador-sentença/sentença que julgou

…………………………………………………………………………………….

I- FUNDAMENTOS

Nas alegações de recurso que apresentou, a Recorrente alega em resumo:

- ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.

- ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.

- ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.

Antes de mais, é de mencionar que o Ministério Público concorda na

íntegra, com a argumentação expendida no douto despacho saneador-

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sentença/sentença ora recorrido, o qual está correctamente fundamentado e que,

sem necessidade de mais considerações, conduziria à improcedência do

interposto recurso. No entanto, sempre se dirá em favor da decisão:

- ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,;

- ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.

- ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,

II- CONCLUSÕES

1- O Ministério Público concorda na íntegra, com a argumentação expendida no

douto despacho saneador-sentença/sentença ora recorrido, o qual está

correctamente fundamentado e que, sem necessidade de mais considerações,

conduziria à improcedência do interposto recurso.

2- ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.

3- ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.

4- ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,..

5- O Mº. Juiz “a quo” aplicou correctamente a Lei, pelo exposto, deverá ser

mantida a douta decisão recorrida, considerando-se o presente recurso

improcedente.

Porém, V. Exas. farão a costumada JUSTIÇA

O Procurador da República

………………….

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19. Execução por custas.

Registo nº..................../...........

A . de ......................................

........Juízo

........Secção

EXMO. DR. JUIZ DE DIREITO junto do Tribunal de

…......................................

O Magistrado do Ministério Público porque o(s) executado(s)

…...............................................................................................................................................

...................................................................................................................................................

................................................................................................................................................

não efectuou(ram) voluntariamente e no prazo legal, o pagamento da quantia de USD

…................,00 proveniente de.................................da sua responsabilidade, liquidadas nos

autos à margem indicados, vem requerer a V.Exª que, por apenso àqueles autos, se digne

ordenar a penhora nos bens do executado(s) que a seguir se mencionam seguindo-se os

demais termos legais da execução (arts. 678º e 681º do Código de Processo Civil e arts. 70º

e 71º do Código das Custas Judiciais):

BENS A PENHORAR:

Veículo de matrícula ..........................................., o qual se encontra junto à

residência do executado, e cuja prévia apreensão se requer através da autoridade

policial.

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1/6 do salário que o executado aufere....................................................................

em........................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

.................................., até integral pagamento da quantia exequenda e legais acréscimos.

Imóvel..............................................................................................................................

.............................................................................................................................................

…………………………………………………………………………………………….

Bens móveis (TV, vídeo, hi-fi, computador, impressora, mobílias, objectos

decorativos, secretária, máquinas industriais, ferramentas, stocks de mercadorias), que

forem encontrados na sua residência, sede social, ou estabelecimento.

Conta bancária existente no banco ……………………………………………….

Outros:..............................................................................................................................

.............................................................................................................................................

..............................................................................................................................

Depositário: requer-se que seja nomeado sob informação da secretaria (art. 713º, nº 1 do

CPC).

Consigna-se que o M. Público não se opõe à nomeação do executado como depositário

(art. 713º, nº 2 do CPC).

Requer-se ainda que, sendo caso disso, se dê cumprimento ao artº. 741º, nº1, al. a) do

CPC.

Junta: Duplicados legais (art. 118º, nº 1 do CPC).

Valor: USD …..............,00.

O Procurador da República

...............

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20. Execução de sentença (com liquidação da obrigação).

Proc. nº ....... Exmº Senhor

Juiz de Direito do Tribunal ................ O Ministério Público, em representação do Estado, vem ao abrigo dos arts. 23º e 679º, nº 3 do CPC, com isenção de custas (art. 2º, al. a) do DL 16/2011), instaurar execução para pagamento de quantia certa (art. 668º, nº 2 CPC) e, em simultâneo, deduzir incidente de liquidação da quantia exequenda (art. 690º CPC), contra:

JANUÁRIO ANTÓNIO ESTEVES, divorciado, residente em ............................, Díli.

nos termos e pelos fundamentos seguintes:

Correu termos contra o executado o processo crime nº....... do Tribunal Distrital de Díli, no âmbito do qual foi condenado por sentença de 1/2/2013, pela prática de um crime de dano, na pena de multa de 55 dias, a 3 USD por dia. A sentença transitou em julgado em ..../..../2013 (Doc. 1).

2º Quanto ao pedido de indemnização cível formulado no processo crime, decidiu-se na sentença condenar o executado a pagar ao Estado o valor do vidro partido, em montante a liquidar em execução de sentença, acrescida de juros legais (Doc. 1).

O vidro partido do carro patrulha da PNTL custou 200 USD (Doc. 2),

Os juros a contar da data da sentença (..../..../2013), à taxa legal, até à data da entrada da presente execução contabilizam-se em .........USD.

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5º Liquida-se, assim, a obrigação exequenda no total de ..........USD. Nestes termos, requer-se a V.ª Exª:

- Se liquide a obrigação exequenda em ...........USD;

- Se cite o executado para no prazo de 20 dias

contestar, querendo;

- Se cite o executado para, no prazo de 20 dias,

pagar ou nomear bens à penhora.

Valor: ............ USD Junta: ......... documentos e duplicados legais.

O Procurador da República

.................

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21. Oposição à penhora.

Proc. nº .....

Ex.mo Senhor Juiz de Direito junto

do Tribunal .................

O Ministério Público, em representação do Estado, executado no processo

acima identificado, vem ao abrigo dos arts. 23º, 700º, al. b) e 710º, nº 1, al. a) do

CPC, com isenção de custas (art. 2º, al. a) do DL 16/2011), deduzir oposição à

penhora, o que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:

Na presente execução foram penhorados os 20 computadores existentes

no edifício do Ministério da ............, que integra o Governo,

O Estado é a pessoa colectiva pública que, no seio da comunidade acima

referida, e para efeitos internos, prossegue, sob a direcção do Governo, a

actividade administrativa (Estado-Administração).

Os computadores são utilizados no desempenho da actividade do Ministério

....... Sem eles, o Ministério não consegue funcionar, ou seja, são bens móveis de

todo indispensáveis ao seu normal funcionamento.

Com a penhora dos computadores e consequente imobilização dos

mesmos, o Ministério encontra-se impedido de cumprir as suas funções, com

inevitáveis prejuízos para os cidadãos.

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A penhora dos computadores efectuada na presente execução é

inadmissível, por violar o art. 700º, al. b) do CPC.

Nestes termos, e nos mais de direito

aplicáveis, deve o presente incidente ser julgado

procedente por provado, decretando-se o levantamento

da penhora que recaiu sobre os computadores.

Prova.

Testemunhal:

1- Carlos ....... residente em .......

2- Maria, residente em ...........

VALOR: USD ........,00.

JUNTA: duplicados legais.

O Procurador da República

.............

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22. Oposição à execução baseada em sentença.

Proc. nº……..

Ex.mo Senhor Juiz de Direito junto

do Tribunal .................

O Ministério Público, em representação do Estado, executado no processo

acima identificado, vem ao abrigo dos arts. 23º, 692º e 693º, al g) do CPC, com

isenção de custas (art. 2º, al. a) do DL 16/2011), deduzir por apenso, oposição à

execução, o que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:

A acção executiva foi instaurada em 5/2/2013,

No entanto, no dia 27/12/2012, o Estado pagou através do cheque nº…….a

quantia em dívida e os respectivos juros,

Assim, através do pagamento efectuado extinguiu-se a obrigação (art. 696º,

nº 1 C. Civil).

Nestes termos, e nos mais de direito aplicáveis,

deve a presente execução ser julgada improcedente e,

consequentemente, ser extinta.

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Prova.

Documental:

- Documento comprovativo do depósito no Banco …., em …./…./2013, da quantia

de USD ……..

VALOR: o da execução.

JUNTA: Duplicados legais.

O Procurador da República

…………………..

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23. Carta Rogatória recebida por via diplomática. Pedido de cumprimento. Carta Rogatória nº ……………. País da Autoridade Rogante: …………

Exmo. Senhor Juiz de Direito do Tribunal Distrital de ……………,

O Ministério Público vem requerer a V.Exª que, nos termos do art.

150º, nº 1 do CPC, se determine o cumprimento da carta rogatória que se anexa,

procedendo-se à notificação, mediante simples entrega de um dos exemplares

dos documentos juntos à mesma, do destinatário seguinte:

- Maria dos Santos, residente na Estrada dos Coqueiros, Díli.

Mais requer que, uma vez efectuada a notificação e lavrada a

competente certidão, nesta seja aposto o competente selo branco do Tribunal,

procedendo-se à devolução da carta rogatória a esta Procuradoria da República,

para reenvio à entidade rogante.

Junta: 1 carta rogatória, acompanhada dos respectivos documentos em duplicado.

Díli, …./……/2013

O Procurador da República

…………..

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24. Alegações - revisão de sentença estrangeira. Proc. n°......

Exm° Sr. Dr. Juiz de Direito do Tribunal de Recurso

O Ministério Público, tendo sido notificado nos autos supra referenciados, para alegações nos termos do art. 843º do CPC, tem a dizer o seguinte: I- Sobre a apresentação do pedido e a finalidade da confirmação da sentença estrangeira. Os autos tiveram origem na distribuição na petição apresentada por António…….., casado, mecânico, residente em Lisboa através do qual, manifesta o seu interesse na confirmação de sentença estrangeira, com vista à sua eficácia, em Timor-Leste. O requerimento foi distribuído em ..../.../..., como processo especial de revisão de sentença estrangeira. Alega em síntese que, intentou contra B, casado, jornalista, residente em Lisboa no Tribunal Cível de Lisboa, acção de reivindicação do prédio urbano sito na Rua ........, Dili, Timor-Leste, cuja sentença favorável obteve em ..../..../...... II- Da violação da competência exclusiva dos tribunais timorenses. De acordo com o art. 840°, al. c) do CPC, um dos requisitos necessários para a confirmação de uma sentença estrangeira, é que “não verse sobre matéria da exclusiva competência dos tribunais timorenses”. O elenco das matérias da exclusiva competência dos tribunais timorenses encontra-se no art. 49° do CPC, onde, na al. a), se incluem as acções relativas a direitos reais, que é o caso da acção de reivindicação.

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III- Conclusão. A petição de A afigura-se-nos ilegal, por violação da competência exclusiva dos tribunais timorenses assim, entende o Ministério Público que a petição deverá ser julgada improcedente.

O Procurador da República

........................