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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O MODELO DE EXCELÊNCIA DISNEY Por: Andréa Santos Diniz Taranto Orientador Prof. Carlos Cereja Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O MODELO DE EXCELÊNCIA DISNEY

Por: Andréa Santos Diniz Taranto

Orientador

Prof. Carlos Cereja

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O MODELO DE EXCELÊNCIA DISNEY

Apresentação de monografia à

Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Gestão Empresarial

Por: Andréa Santos Diniz Taranto

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AGRADECIMENTOS

A Walt Disney, o sonhador cuja vida me

encantou e que continua perpetuado por suas

magníficas realizações, inspirando gerações na

busca por seus sonhos. E ao meu marido,

Fábio, que me inspira continuamente a ser uma

líder e um exemplo melhor.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha filha, Maria

Clara, a quem eu espero legar minha paixão por

viagens e livros.

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RESUMO

O presente trabalho irá mostrar como o Walt Disney World Resort

acredita que o crescimento e desenvolvimento da empresa passa diretamente

pelo crescimento e desenvolvimento dos seus Recursos Humanos. O que a

Disney faz melhor do que qualquer outro do ramo é treinar seus funcionários a

serem artistas em um show ao vivo. Como resultado desse processo de

treinamento, o “elenco” alcança uma qualificação profissional que o torna apto

a atuar em seus papéis e habilidades, oferecendo aos convidados um serviço

exemplar, provando como uma grande companhia comunica seus valores aos

funcionários, fazendo com que todos aprendam seu papel no show.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho foi pesquisa bibliográfica a

livros sobre o modelo de gestão da Disney, artigos extraídos da Internet e

publicações em jornais e revistas sobre o tema abordado neste trabalho.

Principais autores pesquisados: Lee Cockerell, Ginha Nader e Tom

Connellan.

Além disso, foi também realizada uma pesquisa exploratória, que

permitirá um aprofundamento no tema. Esta pesquisa foi realizada com a

turismóloga Eliane Boechat.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – TORNANDO O SONHO REALIDADE 10

CAPÍTULO II – WALT DISNEY WORLD RESORT 16

CAPÍTULO III – O MARKETING DE RELACIONAMENTO

DO WALT DISNEY WORLD RESORT 20

CAPÍTULO IV – CRISE DE LIDERANÇA 25

CAPÍTULO V – OS SEGREDOS DA DISNEY 31

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 39

ÍNDICE 40

FOLHA DE AVALIAÇÃO 42

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INTRODUÇÃO

O reino encantado chamado Walt Disney World é o maior destino

turístico do mundo e um dos maiores locais para convenções do planeta. Em

seus 10.000ha estão localizados 32 hotéis com mais de 31 mil quartos,

centenas de áreas de alimentação e vendas e quatro grandes parques

temáticos, dois parques aquáticos, um complexo de esportes e recreação, uma

vila com shopping e entretenimento e 270 km de ruas. Com 59 mil “Membros

do Elenco”, é a empresa que tem mais colaboradores atuando em um só local.

E o mais impressionante disso tudo é que cada Membro do Elenco está

preparado em termos mentais e emocionais para deixar que a visão da Disney

World governe todas as suas ações: tratar os Convidados como se fossem

amigos, superar suas expectativas, e lhes proporcionar férias incomparáveis. E

esse comportamento é coerente, pois eles são tratados da mesma maneira

pelos líderes da Disney: com o máximo de atenção e respeito.

Essa é uma estratégia de negócios racional, vigorosa e sensata.

Seus efeitos se refletem nos sólidos resultados financeiros da empresa, sem

falar na impressionante taxa de retorno dos visitantes – 70% - e no menor

índice de rotatividade de funcionários entre as grandes empresas do setor de

hospitalidade.

A fórmula é simples: líderes comprometidos, responsáveis e

motivadores criam uma cultura de cuidado e atenção que produz um serviço de

qualidade, que proporciona satisfação aos Convidados, o que gera resultados

financeiros significativos e uma grande vantagem competitiva.

Este trabalho visa apresentar os segredos do sucesso do Walt

Disney World Resort, mostrando, principalmente, que só é possível prestar um

atendimento de alto nível criando uma cultura de atenção e respeito centrada

nas pessoas que formam a empresa. O problema pesquisado foi “Afinal, o que

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a Disney vende? Será abordada a qualidade dos produtos e serviços, a

motivação dos funcionários e a estratégia de liderança da empresa, concluindo-

se que a Disney vende Excelência na realização de sonhos. A metodologia

utilizada neste trabalho foi de pesquisa bibliográfica. No primeiro capítulo

apresenta-se a trajetória de Walt Disney e sua obsessão por excelência e

qualidade. Nos capítulos dois e três, serão apresentadas as estratégias de

liderança empregadas no Walt Disney World Resort, sua cultura empresarial e

a eficiência de seus colaboradores.

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CAPÍTULO I

TORNANDO O SONHO REALIDADE

Walter Elias Disney nasceu em Chicago, em 5 de Dezembro de

1901. Era o quarto filho de Flora e Elias Disney.

Quando Walt tinha apenas 4 anos, seu pai começou a se preocupar

com a educação dos filhos em uma cidade tão violenta como era Chicago

naqueles dias, marcada pela guerra entre gângsteres. Quando três bares foram

inaugurados em uma esquina perto de sua casa, ficou indignado e decidiu que

aquele não era um lugar para se criarem filhos. Assim, mudou de cidade e de

profissão. Comprou uma fazenda em Marceline, no Missouri, onde viveriam do

cultivo de maçãs e ameixas. Sabia que, com quatro filhos homens, não

precisaria pagar empregados para os serviços da fazenda.

Marceline representou para Walt Disney o símbolo de seus anos

felizes, uma lembrança que o acompanhou por toda a vida (NADER, Ginha. A

Magia do Império Disney. p. 25. São Paulo: Senac São Paulo, 2009). Anos

mais tarde, quando construiu a Main Street na Disneylândia, Marceline foi sua

inspiração.

O trabalho na fazenda mantinha os Disney ocupados a maior parte

do dia, mas Walt sempre conseguia encontrar tempo para se divertir. Seu

irmão, Roy Disney acabava fazendo sua parte no trabalho na fazenda,

enquanto o gênio sonhador desenhava ou conversava com os animais.

Ninguém sabia ainda que o menino de 4 anos era um gênio, nem ele mesmo.

Seguir pela vida sonhando. Este foi o traço marcante da

personalidade de Walt, e Marceline representou a fonte inspiradora para a

materialização de suas fantasias. Ele viveu menos de cinco anos nesta cidade,

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mais jamais esqueceu o lugar, as pessoas e os animais que lá conheceu.

Essas lembranças o influenciaram pelo resto da vida.

No verão de 1910, se mudaram para Kansas. Os irmãos Roy e Walt,

este com apenas 9 anos, tornaram-se os primeiros entregadores do jornal

Kansas City Star. O medo do fracasso, que provocaria a ira paterna, o trabalho

duro e o desejo ardente de sucesso traçaram seu caráter e moldaram seu

futuro. Amy Boothe Green & Howard E. Green, em seu livro Remembering

Walt: Favorite Memories of Walt Disney, mencionam que: “Anos mais tarde, já

produtor famoso, ainda tinha pesadelos horríveis e acordava no meio da noite,

banhado em suor, pois sonhava ter esquecido de entregar o jornal em alguma

casa” (NADER, Ginha. A Magia do Império Disney. p. 32. São Paulo: Senac

São Paulo, 2009).

Na escola, Walt não era um bom aluno. Certa vez, recebeu a tarefa

de desenhar um vaso de flores. Desenhou o seu cheio de flores que tinham

rostos e expressão. Quando a professora lhe chamou a atenção, respondeu

que suas flores tinham cara e, como os animais, conversavam com ele. Anos

mais tarde, seu primeiro desenho animado colorido viria a se chamar Flores e

árvores.

Certo dia, não resistiu e entrou no único cinema que havia em

Kansas City. Walt nunca havia estava em um cinema antes. O filme em cartaz

era Branca de Neve. De acordo com Pete Martin, A história de Walt Disney:

“Ele jamais esqueceu o primeiro filme a que assistiu na vida, o qual ganharia

uma nova versão que seria um dos maiores sucessos de bilheteria de Disney”.

Aos 17 anos, em 1918, seu grande desejo era se alistar nas Forças

Armadas e participar da Primeira Guerra Mundial. O jeito que encontrou foi

mentir sobre sua idade, falsificando seus documentos. Teve a oportunidade de

viajar com a Cruz Vermelha como motorista de ambulância. Entusiasmado,

embarcou para a França, onde passou quase um ano dirigindo ambulâncias e

fazendo aquilo de que mais gostava: desenhar. Conseguiu ganhar algum

dinheiro, desenhando condecorações e medalhas.

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Nessa época, o destino incumbiu-se de reunir dois grandes gênios

norte-americanos. Na mesma companhia em que Walt estava servindo havia

um garoto de 17 anos, que também mentira sobre sua idade para ir à França.

Seu nome era Ray Kroc, que mais tarde se transformaria no “imperador do

hambúrguer”, com a criação do McDonald’s. Nessa época o futuro rei do

McDonald’s achava Disney um garoto bastante esquisito e diferente dos

demais. Enquanto a maioria dos rapazes só pensava em sair com garotas, ele

passava seu tempo livre desenhando (LOVE, John F. McDonald’s: a verdadeira

história do sucesso. p. 64. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,1987).

Ao voltar para os Estados Unidos, foi admitido como aprendiz de

desenhista em um pequeno estúdio, com salário mensal de US$ 50. Lá

conheceu Ubbe Iwerks, um rapaz de sua idade, com quem, ao final de seu

contrato de aprendiz, montou seu primeiro estúdio: a Iwerks-Disney Pintores

Comerciais.

Apesar de seu enorme talento para vender idéias, sua inaptidão para

os negócios ficava evidente a cada dia. Vendeu seu primeiro filme pelo preço

que lhe custara: 30 centavos. A falta de preocupação com o lado financeiro era

latente. Não pensava em lucro. O que importava era que estava, finalmente,

produzindo seus desenhos.

Seu irmão Roy sempre o ajudou financeiramente, mais era mais do

que apenas uma fonte de renda e de conselhos. Dava ao jovem artista apoio

emocional e incentivo. Foram tempos difíceis. Walt teve que se mudar do

quarto no qual morava para o escritório. Lá, seu único companheiro era um rato

que aparecia às vezes em cima de sua mesa e que ele eventualmente

alimentava.

Em Julho de 1923, usou o pouco dinheiro que lhe sobrara para

comprar uma passagem só de ida para Los Angeles. Como ritual de despedida,

levou o companheiro ratinho até um bosque próximo e deu-lhe a liberdade.

Em Los Angeles, ele e seu amigo Ubbe uniram-se a Roy Disney e

fundaram outra empresa: a Disney Brothers Productions. Walt sonhava e Roy

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corria atrás do dinheiro. A essa altura, os irmãos Disney produziam dois ou três

desenhos animados por mês.

Em 1928, a bordo de um trem que o levava de volta a Los Angeles

vindo de uma reunião em Nova York, levou seus pensamentos aos tempos de

Kansas City, quando em determinado período, seus únicos companheiros eram

os ratos que habitavam o minúsculo quarto sujo que alugara. Lembrou-se

particularmente do ratinho que soltara em um bosque. Imediatamente, pegou

seu bloco de desenhos e começou a rabiscar a figura de um rato com forma

humana. Quando ficou pronto, mostrou-o a sua esposa que sugeriu que o

chamasse de Mickey. Assim nasceu alguém que ficou mais famoso que

qualquer imperador, mais amado que qualquer rei, alguém que se tornou mais

conhecido que qualquer personagem da história.

Nessa época, a produtora passou a ser mais bem organizada: Roy

cuidava da parte financeira, Walt produzia e dirigia e Ubbe desenhava. A

movimentação de Walt para aperfeiçoar a arte da animação era interminável.

Introduziu o technicolor na animação e conseguiu, com isso, o primeiro de seus

32 Oscars com Flores e ávores, em 1932.

Criou o primeiro longa-metragem de animação musical, Branca de

Neve e os sete anões, ao custo inédito de US$ 1.499.000,00 durante o auge da

Grande Depressão. Por ocasião do lançamento de Branca de Neve e os sete

anões na Europa, em 1937, a imprensa local declarou Disney o maior cineasta

desde Charles Chaplin (NADER, Ginha. A Magia do Império Disney. p. 92. São

Paulo: Senac São Paulo, 2009). Nos anos seguintes, produziu outros longas-

metragens de animação clássicos como Pinóquio, Fantasia, Dumbo e Bambi.

Ao todo, 81 filmes foram lançados pelo estúdio durante sua vida.

Mas Walt ainda tinha um sonho antigo. Ele contava que um dia,

quando suas filhas ainda eram pequenas, estava com elas em um parque,

sentado em um banco, observando o carrossel e comendo amendoim, quando

começou a pensar que deveria construir alguma coisa, um lugar de

divertimento e lazer onde pais e filhos pudessem se divertir juntos.

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O projeto, no entanto, foi recusado por Roy, apoiado pelo conselho

diretor da Walt Disney Productions, que de imediato vislumbraram o alto custo

da nova idéia. Além disso, não queriam se envolver com o negócio de parques

de diversões, alegando que esses locais eram muito sujos e não divertiam os

adultos.

Porém este era exatamente o ponto. Walt sonhava com um parque

diferente: limpo e seguro, um lugar onde pais e filhos se divertiriam juntos, um

mundo de fantasia para toda a família.

Para não levantar objeções dos sócios da Walt Disney Productions,

reuniu os melhores profissionais da área de animação, pagando todas as

despesas de seu próprio bolso. Segundo Van Arsdale France, Window on Main

Street... 35 Years of Creating Happiness at Disneyland Park: “Eram pessoas

que compreendiam seu método de trabalho, tinham perfeita sintonia com ele e

acreditavam em seu sonho”. A essa equipe ele deu o nome de imagineering,

uma mistura em inglês de “engenheiro” com “imaginador”. Com eles, passava

horas a fio fazendo o que mais gostava: dar asas à sua imaginação, enquanto

seus desenhistas iam traduzindo suas palavras e seus sonhos em fachadas,

plantas e croquis.

A Disneylândia seria o primeiro parque de diversões temático: um

espetáculo ambiental que incluiria arquitetura, paisagismo, numerosos

personagens, comercialização de produtos, planejamento de alimentação e até

das roupas que os empregados vestiriam e do papel que desempenhariam.

Tudo, enfim, baseado nos mais variados temas dos contos de fadas e

aventuras infanto-juvenis.

Walt Disney estava revolucionando o conceito dos antigos e

decadentes “parques de diversões” ao enfatizar que o seu seria

impecavelmente limpo, planejado e bem cuidado. Para que o ambiente fosse

agradável, criaria rios e lagos, algo jamais imaginado. O público seria atendido

por funcionários bem treinados e entusiasmados, que estariam sempre

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sorrindo, demonstrando o quanto se sentiam felizes por trabalharem lá. Criava-

se assim o Disney look.

Reforçando essa idéia, Marcelo Salomão comenta em seu livro

Parques de Diversões no Brasil, que pela primeira vez se atribuía tanta

importância a paisagismo, ambientalismo, tecnologia de comunicação,

engenharia, planejamento meticuloso, urbanização e transporte de massa.

Resultado: Uma sociedade utópica em miniatura, preservando as qualidades

de uma sociedade real, sem interferência de seus vícius.

A construção da Disneylândia foi financiada pelo canal de televisão

ABC em troca de um contrato para um programa. Dessa forma, Walt ainda

usou a televisão para divulgar em grande escala a existência do parque. O

programa, nas tardes de Domingo, tinha o nome de Disneylândia. Tratava-se

de uma mixagem de velhos e novos filmes, além de trailers que mostravam a

construção do parque e suas atrações.

A Disneylândia foi enfim aberta ao público em 15 de Julho de 1955,

um Domingo. Aí começava a mina de ouro de Walt Disney, que nunca mais

teve fim. Até o fim de 1955, 1 milhão de pessoas já tinham visitado o parque, e

a maioria saía de lá como Walt esperava: com um sorriso escancarado no

rosto.

Hoje a empresa continua a crescer e a se diversificar, fundamentada

fortemente em um sonho de Walt Disney, que era o de “proporcionar felicidade

às pessoas em todos os lugares”. A Walt Disney Company desenvolveu em

seu público uma imagem de encantamento que é reconhecida e respeitada

mundialmente, fruto de uma herança valiosa que tem de ser preservada. A

base de sustentação dessa imagem é o Elenco Disney (como são chamados

seus funcionários), totalmente dedicado a manter vivo o sonho de Walt.

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CAPÍTULO II

WALT DISNEY WORLD RESORT

O Walt Disney World Resort é um complexo de entretenimento de

categoria mundial localizado em Lake Buena Vista, Flórida, 32 quilômetros a

sudoeste de Orlando. Com 121,7 Km2 contínuos de área com apenas 70 km2

construída e 25% designados à reserva natural. Sua composição se dá da

seguinte forma:

Parques Temáticos

Magic Kingdom Theme Park: O mais requintado parque temático da

Disney (Walt Disney World resort & Orlando, p. 34, Publifolha, 2005). A área é

dividida em sete “territórios”, as Lands, a saber: Main street (Rua Principal),

Fantasyland (Terra da Fantasia), Adventureland (Terra da Aventura),

Frontierland (Terra da Fronteira), Liberty Square (Praça da Liberdade),

Mickey’s Toontown Fair (Cidade do Mickey) e Tomorrow Land (Terra do

Amanhã). Com 44 atrações e vários shows. Foi inaugurado em 1º de Outubro

de 1971, em uma área de 44,3 hectares e estacionamento para 12.213

veículos, entre carros e ônibus.

Epcot: Acrônimo de Experimental Prototype Community of

Tomorrow, era o sonho de Walt Disney para uma comunidade ativa, repleta de

tecnologia. A idéia dele era representar no Epcot uma visão utópica do futuro.

Mas no momento de sua inauguração em 1982, foram feitas diversas

mudanças no sonho original e Epcot abriu como um centro educacional e feira

mundial permanente (Walt Disney World resort & Orlando, p. 42, Publifolha,

2005). Inaugurado em 1º de Outubro de 1982, em uma área de 121,4 hectares

e com estacionamento plano com capacidade para 12.155 veículos, se divide

em duas partes: o Future World e a World Showcase. Segundo parque

temático mais popular da Disney World

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Disney Hollywood Studios: Estúdio de filmes, TV e rádio em

operação e um parque temático com dezoito atrações. Inaugurado em 1989,

em uma área de 62,3 hectares, tem capacidade para 7.500 veículos. É o menor

dos quatro parques temáticos, porém é o mais adulto de todos. O complexo

que até 2007 era chamado de MGM Studios, simula um grande estúdio

Hollywoodiano.

Disney,s Animal Kingdom Theme Park: Conta com quinze atrações.

Inaugurado em 1º de maio de 1998, possui uma área de 202 hectares. É cinco

vezes maior do que o Magic kingdom. Trata-se de um complexo de diversão

intimamente ligado à natureza. Nele podemos encontrar aproximadamente

1.700 animais divididos entre 300 espécies, além de milhares de árvores e

flores de diferentes continentes. Custou US$ 800 milhões.

Parques Aquáticos

Disney’s Typhoon Lagoon Water Park: Inaugurado em Junho de

1989 com o status de primeiro parque aquático da Disney World. Possui uma

das maiores piscinas de ondas artificiais do mundo, bem como um tobogã de

65 m de altura no qual atinge-se uma velocidade de 50 km/h.

Disney’s Blizzard Beach Water Park: Inaugurado em Abril de 1995.

Representa uma estação de esqui em processo de descongelamento. O pico

Summit Plummet (Topo do Mergulho) possui a descida em queda livre mais

veloz do mundo, onde o corpo atinge a velocidade de 88 km/h. Encanta pelo

charme da neve artificial que reina por todos os lados do parque (Orlando

2010/ 2011, p. 109, Editora Europa, 2010).

Complexos de Lazer

Downtown Disney West Side: Conta com restaurantes de grifes

famosas, como Planet Hollywood, o fascinante Cirque Du Soleil e diversas

lojas.

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Disney’s Downtown Marketplace: Abriga restaurantes temáticos,

como o Rainforest Café. Além disso, destaca-se também a World of Disney, a

maior loja do mundo de produtos relacionados à terra do Mickey.

Downtown Disney Pleasure Island: Com danceterias, restaurantes e

lojas.

Centros de Recreação

Com esportes aquáticos, esportes ecológicos, pavilhão de

casamento e campos de golfe:

• Fort Wilderness Resort & Campground;

• Disney’s 99 Holes of Golf

• Disney’s Fantasia

• Disney’s Winter Summerland

• Richard Petty Driving Experience

Transatlânticos de Cruzeiros Marítimos

• Disney Magic

• Disney Wonder

• Celebration Company

Parque Hoteleiro

Mais de 32 unidades de resorts, sendo 23 pertencentes ao complexo

Disney e operados pela própria Companhia, totalizando cerca de 27.240

apartamentos, com mais de 70 mil leitos.

Centro de Esportes

Disney’s Wide World of Sports: Com mais de 30 quadras

poliesportivas para todas as modalidades e instalações para eventos.Projetado

para acomodar treinamentos e competições, em uma área de 890 mil metros

quadrados. Foi inaugurado em 28 de Março de 1997.

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Áreas de treinamento

• Universidade Disney

• Disney Institute

Atualmente, existem 11 parques da Disney ao redor do mundo,

sendo a Disneylândia de Tóquio, inaugurada em abril de 1983, o primeiro

parque construído fora dos Estados Unidos. Em cada um dos parques, porém,

o sentimento mágico e as experiências são as mesmas.

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CAPÍTULO III

O MARKETING DE RELACIONAMENTO DO WALT

DISNEY WORLD RESORT

Marketing é a arte de descobrir oportunidades, desenvolvê-las e

lucrar com elas (KOTLER, Philip. Administração de Marketing. p. 27. São

Paulo: Atlas, 1998). Mas sempre deve-se objetivar a criação de uma marca na

mente do cliente. São estes os conceitos adotados quando pensamos em

captar e fidelizar clientes, objetivando sempre as vendas e o lucro no final.

Antigamente, via-se uma maior necessidade de focar seu potencial

nos produtos ou serviços oferecidos. Aos poucos este foco foi direcionado para

o cliente. Atualmente, a idéia é foco no cliente, ou seja, preocupar-se mais na

forma que o mesmo enxerga a empresa e os produtos e serviços oferecidos

pela mesma. As velhas regras de identificação e satisfação das exigências do

cliente já não se aplicam. É o momento oportuno para novas alternativas e

oportunidades que somente o Marketing de Relacionamento pode

proporcionar. E é neste aspecto que a Disney, ao usar o seu Marketing de

Relacionamento, consegue fidelizar clientes de todas as idades e de todas as

partes do mundo (CONNELLAN, Ton. Nos bastidores da Disney. p. 136. São

Paulo: Futura, 1998).

Basicamente, o Marketing é o processo de identificar as

necessidades do cliente, conceituar essas necessidades em termos da

capacidade de uma organização para produzir, comunicar essa conceituação

aos diferentes níveis do poder na organização, conceituar o produto ou serviço

adequado às necessidades do cliente previamente identificado e comunicar

todos os conceitos ao cliente.

A Disney promove pesquisas, recolhe dados qualitativos e

quantitativos, examina as necessidades dos clientes e busca criar estratégias

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para atender à essas necessidades. No passado, a empresa dizia a seus

colaboradores o que els deveriam fazer. Agora se deu conta de que seu elenco

tem capacidade para identificar soluções melhores e mais adequadas. Bons

exemplos são os gigantescos estacionamentos dos parques. As equipes que

ali trabalham, apesar de serem treinadas para organizar o grande volume de

veículos que chegam quase simultaneamente, constataram a incidência de

visitantes que, na saída, esquecem o lugar onde deixaram seus carros (uma

média de 19 mil por ano). Por sugestão dessas equipes, foi desenvolvido um

sistema no qual o funcionário anota o horário de preenchimento de cada

quadra dos estacionamentos. Com a informação da hora de chegada ao

parque, o veículo é facilmente localizado. Além disso, circulam constantemente

carros de suporte com mecânico, chaveiro (também é grande o número de

pessoas que esquecem o carro trancado com a chave dentro), galão de

gasolina, etc. quando o visitante percebe que seu “problema” foi solucionado e

menciona fazer um pagamento ou oferecer uma gorjeta, a resposta,

acompanhada de um largo sorriso, é: “Você está na Disney” (NADER, Ginha. A

Magia do Império Disney. p. 384. São Paulo: Senac São Paulo, 2009). Tudo é

pensado para que o cliente viva experiências mágicas.

Nesse sentido, o Marketing é utilizado para criar uma relação forte

entre empresa e cliente, onde a marca terá o papel de transmitir as qualidades

intangíveis da corporação, as que realmente conquistam a lealdade do seu

público. Um ponto importante que deve ser levado em conta é que quando

alguém compra um produto ou serviço, ele cria uma expectativa quanto ao que

lhe será apresentado. Quando o recebe é a hora da percepção, que vai

confirmar, anular ou superar suas expectativas. Fazendo essa comparação,

obtém-se a satisfação.

Atualmente o Marketing não é mais visto como uma função, é uma

forma de fazer negócios. O Marketing não é uma nova campanha de

publicidade ou uma promoção do mês. Tem que ser uma atividade difundida,

parte do trabalho de todos, das recepcionistas à diretoria. Na Disney,

tradicionalmente, os funcionários são emprestados para outro setor em função

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de suas habilidades, a fim de não ser “departamentalizado” o potencial

humano. De duas a três vezes por semana, os funcionários administrativos e

os supervisores (incluindo altos executivos) vestem aventais azuis sobre suas

roupas e vão aos parques para ajudar seus supervisionados nas funções

necessárias. Alguns diretores chegam a vestir as roupas dos personagens para

sentir o fascínio que estes exercem nos visitantes (NADER, Ginha. A Magia do

Império Disney. p. 384. São Paulo: Senac São Paulo, 2009). Esse

procedimento aumenta a motivação da equipe, que vê sue líder auxiliando e

interagindo com ela e com o cliente externo. O trabalho de cada um se

transforma, o ciclo muda, as posições mudam, e isso os motiva também. Na

visão da organização, nenhum trabalho é tão importante quanto a interação

com os clientes.

A criação de relações sólidas e duradouras é uma tarefa árdua, de

difícil manutenção. Mas em um mundo onde o cliente tem tantas opções,

mesmo em segmentos limitados, uma relação pessoal é a única forma de

manter a fidelidade do cliente. O Walt Disney World especializou-se em

estreitar o seu relacionamento com os seus clientes, ou melhor, seus

convidados. Reconhecido e admirado em todo o mundo, seu notável sucesso

está em sua capacidade de fazer com que seus clientes sempre retornem.

Quase setenta por cento dos freqüentadores dos parques já o visitaram antes.

Através da realização de pesquisa exploratória com a turismóloga

Eliane Boechat, proprietária da agência de viagens Tia Eliane Tours, foi

possível perceber que o pacote de viagem para o exterior mais procurado pelas

pessoas atualmente é o com destino ao Walt Disney World. Entendam-se

pessoas não apenas adolescentes, mas também adultos com toda a sua

família. Estes pacotes garantem 30% da rentabilidade da empresa. Eliane, que

muitas vezes participa da excursão, afirma que a satisfação do cliente é

garantida. Todos os turistas já saem do Brasil crédulos de que viverão os

melhores momentos de sua vida.

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Em entrevistas realizadas com ex-visitantes, foi possível perceber a

empolgação e o entusiasmo ao se falar sobre os motivos que os levaram a

admirar os dias passados no complexo Disney. Para a bancária Flávia Goulart,

38 anos, o mais marcante da viagem foi o fato de os visitantes se sentirem

como em sua própria casa, recebendo total atenção e carinho dos funcionários.

Ela afirma ainda que “aquelas duas semanas no Reino Encantado foram

mágicas, inesquecíveis e cheias de momentos agradáveis”.

O cliente recebe tratamento de exclusividade. Um ponto de

informação dentro da empresa transmite para um outro ponto, através de

mensagem radiofônica, o nome e a descrição física de um visitante, o que

possibilita um contato mais amigável e direto por parte do membro do elenco.

Por ser chamado pelo nome sem nem ao menos ter se apresentado, ele se

sente bastante realizado e se entusiasma com a sua importância e o seu

reconhecimento. É uma forma de estreitar o relacionamento empresa-visitante.

O posicionamento no mercado é vital ao sucesso da corporação.

Todos os componentes do marketing (estratégias competitivas, preço, serviço,

comunicação) estão inter-relacionados na estratégia de posicionamento que

passou a ser determinada pelas percepções das pessoas em relação ao que

lhe foi oferecido. Para analisar a satisfação do público, conferir o seu

posicionamento e descobrir o que cada um dos convidados aprovou ou não

sobre sua experiência, o Walt Disney World adota múltiplos postos de escuta.

Alguns membros do elenco, denominados Superanfitriões, munidos de laptop,

percorrem os parques em diferentes momentos do dia realizando pesquisas

com os convidados. Para não entediá-los e nem atrapalhar a sua diversão,

quem realiza a entrevista é uma Sininho virtual, que torna aquele momento

bastante divertido. Ao todo, os superanfitriões chegam a entrevistar de 700 a

1400 pessoas semanalmente. Os resultados são somados, analisados e

repassados também semanalmente ao elenco com o único objetivo de alcançar

100% de satisfação dos futuros convidados. Outros postos de escuta são os

próprios funcionários que estão sempre atentos a todos os movimentos dos

convidados, bem como às suas reclamações, sugestões e elogios

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(CONNELLAN, Ton. Nos bastidores da Disney. p. 76. São Paulo: Futura,

1998).

Para Bruce Jones, responsável pelo Disney Institute, a fórmula do

sucesso de Walt Disney World é a soma da excelência da qualidade para o

Elenco (funcionários), excelência da qualidade para os Convidados (clientes) e

práticas de negócios de qualidade. Isto assegura o futuro da empresa

(CONNELLAN, Ton. Nos bastidores da Disney. São Paulo: Futura, 1998).

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CAPÍTULO IV

CRISE DE LIDERANÇA

O modelo de atendimento de qualidade vislumbrado por Walt Disney

há quase um século impulsionou enormemente a reputação da empresa na

década de 80. Executivos e gerentes de outras organizações começavam a se

perguntar de que maneira poderiam reproduzir essas técnicas.

Mas o início dos anos 90 trouxe mudanças. Os concorrentes

estavam cada vez mais próximos. Além disso, certos aspectos do estilo de

administração da empresa começavam a se mostrar ultrapassados. O Walt

Disney World precisava transformar sua cultura corporativa.

Judson Green, então presidente da divisão de Parques Temáticos e

Resorts, certa vez declarou: “Se quisermos que as pessoas prestem um

atendimento excelente, temos que lhes fornecer uma liderança neste mesmo

nível”.

Nessa época, a Disney já era conceituada por seus excelentes

métodos de treinamento e capacitação, porém eles não incluíam liderança. Sua

diretriz, a partir de então, era promover a excelência dos Membros do Elenco

(termo usado para designar seus funcionários), apresentando expectativas

claras e oferecendo instrução permanente. E isso passou a valer para todos. A

idéia era alcançar a excelência em liderança disseminando responsabilidade e

autoridade em todos os níveis da organização, dos integrantes da equipe de

limpeza ao CEO.

A política “Tudo tem que ser do meu jeito” foi substituída por “O que

você acha?”. O líder deveria se mostrar receptivo a opiniões e deixar claro aos

Membros do Elenco que suas idéias eram valorizadas e suas necessidades,

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levadas a sério” (COCKERELL, Lee. Criando Magia. p. 19. Rio de Janeiro:

Sextante, 2009).

Porém, o caminho para a excelência em desempenho foi um pouco

tortuoso no começo. Alguns líderes deixaram a empresa nos primeiros 18

meses. Dois anos depois de começada esta reestruturação, a nova filosofia de

liderança ainda não se encontrava completamente implementada.

Foi então que Lee Cockerell, baseado em 35 anos de carreira no

setor de hospitalidade, e com a ajuda de um consultor em Administração,

redigiu o que acabou sendo chamado de Estratégia dos grandes líderes da

Disney, e elas logo se tornaram os princípios fundamentais que regem os

líderes da empresa.

Sem esses valores fortes e um treinamento completo dos líderes

para implementá-los, talvez a Walt Disney World não tivesse superado a

tumultuada década de 1990 com a notável reputação e o diferencial

competitivo que mantém até hoje.

Em pouco tempo, cada vez mais organizações procuravam a Disney

para aprender seus métodos de treinamento. Por isso, foi criada uma

instituição dedicada à promoção do desenvolvimento profissional completo, o

Disney Institute, que atrai mais de 100 mil pessoas por ano, com cursos livres e

programas elaborados sob medida. Profissionais de todos os tipos de empresa,

provenientes de diferentes países inscrevem-se nessas atividades para

melhorar suas aptidões como líderes.

Segundo Ginha Nader em A magia do império Disney: “O Disney

Institute foi desenvolvido para dar suporte à Universidade Disney. Enquanto

esta prepara os funcionários, transformando-os em artistas (...), o Disney

Institute é direcionado ao público, com a idéia de revelar segredos de uma

empresa cujo modelo de gestão virou um clássico no mundo da Administração”

(NADER, Ginha. A Magia do Império Disney. p. 391. São Paulo: Senac São

Paulo, 2009).

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Os executivos que participam dos cursos no Disney Institute ficam

admirados com a capacidade que a Disney tem de cativar tipos de público

distintos. Há anos a organização é respeitada pelo magnífico serviço que

presta a seus hóspedes. Assim que se entra no estacionamento de um dos

parques, só o que se vê são sorrisos por toda parte, palavras amigas e que não

soam falsas, um desejo genuíno de ajudar e agradecer, quase uma atitude de

veneração para com o convidado. A Disney sabe cativar todo mundo,

recebendo cada um com braços abertos, carinho e cordialidade. Como

resultado, o público gasta mais e mais, e adoram cada minuto. Em todos os

lados dentro do parque, esta sensação agradável predomina. E tudo isso se

traduz em lucros recordes que continuam aumentando sempre.

E é exatamente sobre isso que se tratam as Estratégias dos

Grandes Líderes da Disney, já citadas anteriormente. Essas estratégias são

capazes de transformar gerentes em líderes, líderes fracos em líderes bons,

líderes bons em grandes líderes, todos capazes de criar o tipo de ambiente em

que todos sonham em trabalhar e ao qual os clientes retornam cada vez mais.

Duas das dez estratégias enfatizam conceitos básicos relativos à

estrutura organizacional e a procedimentos de negócios. As demais se

concentram nas pessoas. São elas:

Estratégia no 1: Todos são importantes. A inclusão é essencial por

um motivo simples: Quando todas as pessoas são importantes e sabem disso,

elas chegam felizes ao trabalho e ficam ansiosas para retribuir com energia,

criatividade e lealdade. O resultado é previsível: Mais produtividade e

satisfação, menos abstenção e rotatividade. Em síntese, todo colaborador quer

ser aceito, ouvido, respeitado e considerado parte da organização. Quer que

sua opinião seja levada em conta , quer sentir-se valorizado. É por isso que os

grandes líderes se esforçam para que todos no ambiente de trabalho,

independentemente do cargo e da hierarquia, se sintam incluídos.

Estratégia no 2: Quebre o Molde. Uma das tarefas do líder é

descobrir que configuração a organização deveria ter e não apenas fazer o

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melhor possível dentro do formato em vigor. Infelizmente, muitos líderes acham

que realizar mudanças estruturais não compensam o trabalho que elas dão.

Estratégia no 3: Faça da sua equipe a sua marca registrada. Não

importa o quanto os produtos e serviços de uma empresa sejam bons, uma

empresa só alcança a autêntica excelência atraindo, desenvolvendo e

mantendo profissionais excelentes. Independente do tipo de empresa que se

gerencia, é seu pessoal que faz a marca. Sem bons profissionais, não há

marketing, propaganda, nem ações de relações públicas que dêem jeito. Um

líder deve aprender a contratar, promover e capacitar os melhores

colaboradores. O retorno em termos de satisfação das pessoas e de resultados

para a organização é garantido.

Estratégia no 4: Crie Magia por meio da capacitação. Uma vez que

os profissionais certos estão nos cargos certos, a tarefa do líder é lhes

proporcionar tudo o que for necessário para que tenham um desempenho

excelente. Os bons líderes são os que preparam os colaboradores para

assumirem responsabilidades oferecendo oportunidades de formação

adequadas e expondo-os a experiências importantes para seu

desenvolvimento.

Estratégia no 5: Elimine Inconvenientes. Uma das responsabilidades

mais importantes de um líder é identificar problemas nos processos e corrigi-los

o mais rápido possível. Processos eficazes fazem com que as tarefas de rotina

fluam de forma tranqüila e estável, permitindo que os colaboradores dediquem

mais tempo a atividades adicionais capazes de transformar um bom negócio

em um negócio excelente.

Estratégia no 6: Saiba a Verdade. Seja qual for a área em que se

atue, as decisões só serão boas se baseadas em informações igualmente

boas. Como líder, é necessário que se conheça a empresa como se conhece a

casa em que vive e os funcionários assim como os filhos. Sem conhecê-los,

como tomar as melhores decisões?

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Estratégia no 7: Use um combustível Grátis. Apreço, reconhecimento

e estímulo. Juntos eles constituem um combustível grátis e totalmente

sustentável, que gera autoconfiança e auto-estima, melhora o desempenho

individual e coletivo. É o que alimenta a energia e a motivação humana. Quanto

mais o usamos, mais temos dele pois cada pessoa que o recebe aumenta seu

estoque interno e começa a distribuir o excedente.

Estratégia no 8: Mantenha-se na dianteira. Isso implica correr atrás

de conhecimentos, prestar atenção a tudo que acontece à sua volta e expandir

de forma permanente seu modelo de referência para que possa melhorar seus

negócios empregando meios novos e mais eficientes. Um líder deve absorver

conhecimento como uma esponja.

Estratégia no 9: Cuidado com o que se diz e faz. Os líderes devem

ser um modelo permanente de comportamento adequado. Estão sendo

observados e julgados o tempo todo e estão sempre ensinando. O autêntico

profissionalismo envolve sobretudo atitude e comportamento, além da imagem

que projetamos no mundo.

Estratégia no 10: Desenvolva o Caráter. É imprescindível que, antes

de qualquer coisa, um líder solidifique seu caráter e conheça seus valores.

Como disse Albert Einstein: “Dar o exemplo não é a melhor maneira de

influenciar os outros, é a única.”.

As 10 estratégias de liderança apresentadas revelam que a

liderança é uma habilidade que pode ser aprendida e exercida por qualquer

indivíduo. Tanto assim que elas foram incorporadas pelo Disney Institute como

a base de seus programas de desenvolvimento profissional.

Segundo Brian Pitman, chairman do Lloyds Bank, em termos de

serviços para o cliente, a Disney é insuperável: a maneira como os funcionários

se comportam, como parecem felizes e, acima de tudo, como se mostram

interessados em atender bem o público (NADER, Ginha. A Magia do Império

Disney. p. 410. São Paulo: Senac São Paulo, 2009). Essa é a mágica da

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Disney: A ótima liderança que conduz à excelência dos funcionários, que gera

a satisfação dos clientes e sólidos resultados financeiros.

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CAPÍTULO V

OS SEGREDOS DA DISNEY

Em 1923, quando Walt Disney e Roy fundaram seu estúdio de

desenho animado, não tinham quase nenhuma experiência em administração

de empresas. Muitos anos depois, aquela pequena companhia de produções

tornara-se um “império dos sonhos”, atuando em várias unidades empresariais

diferentes.

Hoje a empresa continua a crescer e a se diversificar, fundamentada

fortemente em um sonho de Walt Disney, que era o de “proporcionar felicidade

às pessoas em todos os lugares”. A Walt Disney Company desenvolveu em

seu público uma imagem de encantamento que é reconhecida e respeitada

mundialmente. A base da sustentação dessa imagem é o elenco Disney,

totalmente dedicado a manter vivo o sonho de Walt.

A Walt Disney Company vem passando, ao longo dos anos, por

mudanças constantes. O que podemos observar é que o estilo de liderança

perpetuado em tradições e valores comunicados e praticados por todos na

organização, é que conduz a companhia ao status de “empresa de

permanência”. Ginha Nader, em seu livro A Magia do Império Disney, afirma

que enquanto muitas empresas não se deram conta de que ainda estão

adotando o modelo de “empresa de sobrevivência”, ou seja, com foco no

operacional, a Disney reconhece que o crescimento e o desenvolvimento da

empresa passa diretamente pelo crescimento e pelo desenvolvimento de seus

recursos humanos, seu elenco (NADER, Ginha. A Magia do Império Disney. p.

355. São Paulo: Senac São Paulo, 2009).

A Universidade Disney foi destinada exclusivamente a treinar os

futuros empregados de acordo com as regras de conduta traçadas por Walt.

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Tão logo um candidato é selecionado e recrutado, ele vai para a

universidade aprender o que o programa Disney quer dizer, em uma espécie

de envolvimento emocional que o faz sentir-se orgulhoso e feliz por trabalhar

para a organização, disposto a preservar a imagem e a prestar serviços

rápidos, eficientes e cordiais (THOMAS, Bob. Walt Disney, o mago da tela, São

Paulo: Melhoramentos, 1969).

A universidade Disney é uma instituição educacional com diversos

níveis, operada em terreno da Disney por uma equipe em tempo integral. Além

de o funcionário ser treinado para colocar o hóspede em um pedestal, bem

como para assimilar a filosofia Disney, há aulas de vários idiomas, informática,

contabilidade, arte dramática e dança. Todos os membros do elenco podem

freqüentá-la, e muitos dos cursos dão créditos universitários. Mas a finalidade

principal é transmitir que o mundo Disney gira em torno de uma pessoa: O

visitante.

Dentre as lições aprendidas na universidade Disney, está a

“Entusiasmo em tudo e em todos”. Alex Wright, projetista veterano e

engenheiro da Disney, explica que o princípio é que toda vez em que um

cliente entra em contato com a empresa, existe uma oportunidade de criar algo

valioso (Em Seleções, Rio de Janeiro, janeiro de 2011). E chance não

aproveitada é chance desperdiçada! Se qualquer Membro do Elenco vir um

pedaço de papel no chão, irá recolhê-lo e jogá-lo no lixo, pois todos são

responsáveis pela limpeza. Tom Connellan, em seu livro Nos bastidores da

Disney, cita que certa vez, ao ver um homem bem arrumado com um crachá da

Disney na roupa, recolhendo um pedaço de papel do chão, aproximou-se e

perguntou: “O senhor faz parte da equipe de limpeza?” e o homem respondeu:

“Sim, faço.”. Quando já estava indo embora, virou-se e perguntou: “Quantas

pessoas há na equipe de limpeza?”. O homem respondeu: “45 mil”

(CONNELLAN, Ton. Nos bastidores da Disney. p. 32. São Paulo: Futura,

1998). A satisfação do cliente está acima de tudo: do faxineiro ao presidente,

todos pertencem ao “Departamento de Atendimento ao Cliente”.

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A especial marca registrada do serviço ao convidado não resulta

apenas de um treinamento especial ou programa de comunicação. Ambos

reforçam a política de serviço ao Convidado, mas a atitude positiva dos

Membros do Elenco é fruto de uma empresa bem organizada, amplos planos

de relações humanas: o estilo Disney de liderança humanística, racional em

todos os níveis de gerenciamento, sendo crucial a supervisão de linha de

frente. As pessoas tendem a responder da mesma maneira. Eles fazem com os

outros como fizeram com eles. Assim, o conceito básico de relações humanas

no fundo de todo treinamento, comunicação e cuidado Disney é simples: A

Disney se empenha em tratar todos os Membros do Elenco com a mesma

cortesia, respeito, compreensão e consideração que esperam que eles

demonstrem para com os Convidados.

Os objetivos das atividades do Elenco são aumentar ao máximo a

experiência de trabalho, descobrir as necessidades diárias, desenvolver a

moral e a lealdade na companhia e promover grupos de atividades.

Outra lição que a Disney nos dá e que torna seus parques realmente

especiais é a fantástica atenção aos detalhes. São as pequenas coisas que

fazem a grande diferença. Tom Connellan cita um bom exemplo em seu livro

Nos bastidores da Disney: “No local do Magic Kingdom que retrata a Marceline

do início do século passado, os postes são literalmente retirados e retocados

todas as noites para que o parque pareça novo todas as manhãs! A idéia é não

medir esforços e recursos em qualquer coisa que afete a experiência dos

Convidados”.

Um outro exemplo é o Carrossel da Cinderela. Ele tem suas partes

douradas pintadas com tinta de ouro em pó 23 quilates! É um detalhe que os

Convidados nunca perceberão e nem contribuirá diretamente para a

experiência deles. Mas todos os Membros do Elenco sabem disso, o que os faz

lembrar a importância dos Convidados e que não devem existir limites naquilo

que fazem. Até as latas de lixo são adaptadas ao cenário do local, tornando-as

bastante caras, reafirmando que absolutamente tudo transmite entusiasmo.

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Ainda nos referindo aos detalhes, se dermos uma boa olhada no

castelo, perceberemos que na base da torre mais alta, há uma série de

formidáveis gárgulas, as quais mal podemos ver do chão. Ainda assim, elas

são parte da “fórmula mágica” (Tom Connellan, Nos bastidores da Disney, São

Paulo: Editora Futura, 1998). Elas são parte de milhares de mínimos detalhes

que se podem ver mas sem perceber conscientemente. Individualmente, elas

não são nada, mas coletivamente se encaixam na experiência visual que o

convidado não encontra em nenhum outro lugar.

A atenção aos infinitos detalhes, pequenas coisas, pormenores,

minúcias com as quais os outros não querem gastar nem tempo nem dinheiro

ou mesmo esforço. Para as organizações Disney, é essa a única maneira de

fazer a coisa certa. Esta tem sido a secreta e transparente fórmula do sucesso.

Assim como no caso do detalhe visual, os pormenores de um plano

de gerenciamento isoladamente não tem grande significado. Um componente

sozinho não alcançaria os resultados desejados. O todo é um conjunto de

pequenas peças, constantemente monitoradas e continuamente

implementadas, que produzem o resultado esperado, o orgulho que resulta de

um atendimento com qualidade ao convidado. Como dizia Aristóteles: “Nós

somos o que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas

um hábito.

“Na Disney, o feedback é uma regra!”. Para analisar seu sucesso

global, a Disney dá grande prioridade às pesquisas de satisfação dos clientes.

Seu segredo é ter múltiplos postos de escuta. Tom Connellan cita, em seu livro

Nos bastidores da Disney, que além das tradicionais pesquisas formais de

coleta de dados, grupos de foco e outras ferramentas de Marketing, a fonte

mais valiosa de informações são todos os mais de 45 mil Membros do Elenco

que fazem milhares de contatos diários com os convidados (CONNELLAN,

Ton. Nos bastidores da Disney. p. 73. São Paulo: Futura, 1998). Alguns postos

de escuta possibilitam ações imediatas a partir de uma informação: Flores para

um casal em lua-de-mel, bolos de aniversário. Um pipoqueiro que receba

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diversas solicitações de mapas do parque vai manter sempre mapas no seu

carrinho, pois é uma prova de que os Convidados precisam dele na sua área.

Todos têm consciência de que podem fazer algo para superar as expectativas

dos clientes e tornar especial uma visita.

Acreditar nisso e demonstrá-lo, é uma característica de todos em

posição de liderança. Só ocupa de fato esta posição, exatamente quem

acredita nisso. Derrubar as paredes entre os departamentos é fundamental

para que o trabalho de equipe possa resultar num incremento da fidelidade dos

clientes. Os membros do Elenco desenvolvem uma habilidade especial em

antecipar as necessidades dos clientes e manter uma atitude positiva.

Na época da construção do grandioso Epcot, a maior parte dos

operários era terceirizada. Para fazê-los se sentirem parte da família Disney, a

empresa fechava o local um Domingo por mês e oferecia um piquenique para

todos os trabalhadores que traziam suas famílias para percorrer a obra e

conhecer seus detalhes e andamento. O objetivo era criar orgulho e senso de

prioridade pelo projeto, com um tratamento semelhante ao dado para os

Membros do Elenco. Resultado: O projeto foi concluído dentro do prazo e do

orçamento e todos compareceram à inauguração com suas famílias (NADER,

Ginha, A Magia do Império Disney, p. 227. São Paulo: Editora SENAC São

Paulo, 2009).

Essas técnicas simples são o resultado de mais de cinqüenta anos

de experiência em diversões por todo o mundo. Assim, a Disney mantém a

fidelidade de seus convidados e pode ser usada como exemplo para todas as

empresas de qualquer área. Na Disney, as primeiras impressões são sempre

as melhores.

Afinal, o que a Disney vende? Uma obsessiva paixão e dedicação

pela experiência do Convidado, que deve ser mágica, alegre, inesquecível, e

repleta de entusiasmo. Não é este o segredo da vida? Como lembrava Walt

Disney: “Tenham sempre em mente que tudo começou com um rato.” Ou seja,

a essência está na simplicidade das coisas. Em um detalhe, às vezes.

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CONCLUSÃO

Quando entramos na Disney de Orlando, é como se estivéssemos

entrando em um magnífico show. A música, a emoção em ver o castelo, as

cores, os cheiros de pipoca, de chocolate, tudo faz parte desse espetáculo

tridimensional.

Enquanto as informações são transitórias, as relações possuem uma

permanência muito poderosa em um mundo em processo de rápida

transformação. Com a construção de relacionamentos certos, uma empresa

pode conquistar uma credibilidade e um reconhecimento que jamais alcançaria

por meio de publicidade. A fidelização de clientes passa impreterivelmente

pelos clientes internos de uma empresa.

Treinamentos constantes, além de uma política de educação

corporativa e de ascensão de carreira muito bem estruturada representam

alguns dos meios utilizados pela organização estudada para atingir excelência

em seu marketing de relacionamento. Cada membro do elenco é capaz de

resolver problemas e situações adversas com extrema competência, pois

conhece e constantemente avalia dificuldades enfrentadas por clientes nos

parques.

Além disso, o Elenco da Disney reproduz com os convidados a

relação saudável e amistosa experimentada em seu dia a dia de trabalho, onde

supervisores se preocupam de fato com seu bem-estar pessoal e sucesso

profissional. São funcionários felizes que desejam a todo tempo transmitir a

fantasia da Disney para os Convidados e trabalhar para que nada dê errado

neste mundo mágico.

Processos que visam eliminar burocracias e excessos de papéis

permitem que o trabalho flua mais eficientemente e com mais rapidez. O

dinamismo gerado pela flexibilidade de funções, além de criar funcionários

capazes de exercer múltiplas atividades, evita que os mesmos sintam-se

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entediados. Na Disney todos sabem o que fazer e até onde podem ir em uma

hierarquia o mais horizontal possível e com líderes de fato servidores de seus

subordinados.

Todos trabalham juntos como um time. O TEAM Disney é um nome

que para os funcionários da empresa tem um significado muito importante:

Together Everyone Achieves Magic, o que quer dizer: Juntos alcançaremos a

magia. Magia: Este trabalho monográfico mencionou muito esta palavra. Seu

objetivo foi levantar um pouquinho o véu da Disney e revelar alguns de seus

segredos guardados há mais de 55 anos.

Por ser considerado o marketing mais perfeito do mundo e ser a

empresa que mais fideliza clientes, ou melhor, convidados (The New York

Journal, dez/2010), fui levada a procurar explicações plausíveis e aprofundar

os estudos nesta área.

O Walt Disney World exerce um “poder” de influência sobre os

convidados a ponto de os mesmos se sentirem extremamente curiosos e com

desejo de viverem a “magia” proporcionada por este “Reino Encantado”.

Busca-se explicação para o fato de adolescentes preferirem ganhar uma

viagem para a Disney de aniversário em vez da tradicional festa de 15 anos.

Marketing é a arte de descobrir oportunidades, desenvolvê-las e

lucrar com elas (KOTLER, 2000), mas sempre objetivando a criação de uma

marca na mente do cliente. Isso significa que as empresas devem ter um

conhecimento tal de seu público a ponto de toda a corporação conseguir

enxergar o produto / serviço da mesma forma que seus clientes. E é neste

mundo cada vez mais competitivo que o Walt Disney World especializou-se em

estreitar o seu relacionamento com os seus convidados.

Qual é a fórmula do sucesso? Jardins lindos e bem cuidados, uma

milagrosa ausência de lixo, fantástica atenção aos detalhes e uma equipe que

faz o impossível para garantir que os convidados se divirtam. É claro que este

mundo é artificial, mas a idéia é esta mesmo: fugir um pouco da realidade. A

Disney espera que, enquanto passam pela roleta e entram no parque, os

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convidados sintam como se entrassem num imenso teatro, com uma sensação

cada vez maior de empolgação e expectativa.

Nos bastidores, cartazes com sorrisos estimulam os integrantes do

Elenco a transmitir: “Imagem e energias positivas”. Como dizia Michael Eisner,

CEO da Disney na década de 80: “Para quem está fora da empresa, Disney é

um produto de qualidade. Para nós de dentro, Disney são pessoas de

qualidade; pessoas extremamente talentosas que trabalham em equipe – uma

equipe como nenhuma outra”.

A perfeita assimilação da missão da empresa por funcionários que

vestem a camisa e têm como foco principal de suas atividades o atendimento e

superação das expectativas do cliente, desenvolve nos colaboradores um

direção comum de atuação. É provável que muitos funcionários não consigam

lembrar exatamente a definição da missão da empresa, porém, se estimulados

a escrevê-la, produzirão textos muito similares. Na Disney, a cada colaborador

é dado um propósito de vida, que se resume em fazer pessoas felizes e

realizar o sonho de crianças e adultos.

Todos os convidados recebem tratamento VIP, garantindo a

reputação da empresa de ter “os funcionários mais amigáveis do mundo”.

Como o próprio Walt Disney costumava dizer: “Você pode sonhar, criar e

construir o lugar mais maravilhoso do mundo, mas precisa de pessoas para

tornar o sonho realidade”. Para as organizações Disney, esta é a única maneira

de fazer a coisa certa. Esta tem sido a secreta e transparente fórmula do

sucesso.

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BIBLIOGRAFIA

BASSO JR., Paulo. Orlando 2010 / 2011. São Paulo: Europa, 2010.

COCKERELL, Lee. Criando Magia. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.

CONNELLAN, Ton. Nos bastidores da Disney. São Paulo: Futura, 1998.

KIENER, Robert. “Por trás da Magia”. Em Seleções, Rio de janeiro, Janeiro de

2011.

KOTLER, Philip. Administração de Marketing. São Paulo: Atlas, 1998

LOVE, John F. McDonald’s: a verdadeira história do sucesso. Rio de Janeiro:

Bertrand Brasil,1987

MARTIN, Pete. A história de Walt Disney. Rio de Janeiro: Vecchi, 1960.

NADER, Ginha. A Magia do Império Disney. São Paulo: Senac São Paulo,

2009.

SALOMÃO, Marcelo. Parques de Diversões no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad,

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THOMAS, Bob. Walt Disney, o mago da tela. São Paulo: Melhoramentos, 1969.

VILLELA, Rodrigo. Walt Disney World Resort & Orlando. São Paulo: Publifolha,

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

TORNANDO O SONHO REALIDADE 10

CAPÍTULO II

WALT DISNEY WORLD RESORT 16

CAPÍTULO III

O MARKETING DE RELACIONAMENTO DO

WALT DISNEY WORLD RESORT 20

CAPÍTULO IV

CRISE DE LIDERANÇA 25

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CAPÍTULO V

OS SEGREDOS DA DISNEY 31

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 39

ÍNDICE 40

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Instituto A Vez do Mestre

Título da Monografia: O Modelo de Excelência Disney

Autora: Andréa Santos Diniz Taranto

Data da Entrega: 20/01/2011

Avaliado por: Carlos Cereja Conceito: