o mundo globalizado - texto 5

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-- CAPíTULO 6 o mundo globalizado Nelson Leirner, Sem título, da série Assim é ... se lhe parece I (2003). Fotografia (120 x 218 cm). O artista contemporâneo critica como a globalização se dá, utilizando a bandeira americana para cobrir o mapa-múndi. A globalização é um processo irreversível, que traz em seu bojo aspectos positivos e negativos. Resta aos países periféricos denunciar a assimilação passiva de valores das culturas hegemônicas e buscar formas alternativas de intercâmbio mundial. Primeira parte - O que é globalização Introdução Se olharmos a história da humanidade, veremos que as sociedades tradicionais mudam muito lentamente, o que permite às novas gerações a adaptação segura à he- rança recebida. A extrema rapidez das mudanças, po- rém, tem nos deixado perplexos. Na socie- dade contemporânea, as notícias não che- gam como antigamente, no "lombo dos bur- ros"; ao contrário, podem se disseminar ins- tantaneamente por todo o globo, pelas infovias. Do mesmo modo, as crenças soli- dificadas perdem a força que dava segu- rança às decisões importantes, enquanto a 82 - diversidade das culturas oferece a possibi- lidade de adesão a ideias mais dispares, colocando em xeque a visão de mundo com aspirações à "verdade absoluta". Vivemos o tem po da globalização, como se o mundo fosse uma grande aldeia. - Globalização: "A globalização pode ser de- finida como a intensificação das relações so- ciais em escala mundial, que ligam localida- des distantes de tal maneira que aconteci- mentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa." (Anthony Giddens)

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O mundo globalizado, o que é, as suas transformações. O que é Globalização?Cultura diante dos processos globalizados.

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  • -- CAPTULO 6o mundo globalizado

    Nelson Leirner, Sem ttulo, da srie Assim ... se lhe parece I (2003). Fotografia (120 x 218 cm).O artista contemporneo critica como a globalizao se d, utilizando a bandeira americanapara cobrir o mapa-mndi. A globalizao um processo irreversvel, que traz em seu bojoaspectos positivos e negativos. Resta aos pases perifricos denunciar a assimilao passivade valores das culturas hegemnicas e buscar formas alternativas de intercmbio mundial.

    Primeira parte - O que globalizao

    IntroduoSe olharmos a histria da humanidade,

    veremos que as sociedades tradicionaismudam muito lentamente, o que permite snovas geraes a adaptao segura he-rana recebida.

    A extrema rapidez das mudanas, po-rm, tem nos deixado perplexos. Na socie-dade contempornea, as notcias no che-gam como antigamente, no "lombo dos bur-ros"; ao contrrio, podem se disseminar ins-tantaneamente por todo o globo, pelasinfovias. Do mesmo modo, as crenas soli-dificadas perdem a fora que dava segu-rana s decises importantes, enquanto a

    82-

    diversidade das culturas oferece a possibi-lidade de adeso a ideias mais dispares,colocando em xeque a viso de mundo comaspiraes "verdade absoluta".

    Vivemos o tem po da globalizao, comose o mundo fosse uma grande aldeia.-Globalizao: "A globalizao pode ser de-

    finida como a intensificao das relaes so-ciais em escala mundial, que ligam localida-des distantes de tal maneira que aconteci-mentos locais so modelados por eventosocorrendo a muitas milhas de distncia evice-versa." (Anthony Giddens)

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  • H quem contra-argumente que sem-pre existiu algum tipo de internaciona-lizao, bastando voltar no tempo para'ernbrar o imperialismo da civilizao-elenista ou da romana, na Antiguidade,: ::iescobrimento do Novo Mundo e o co-='cio das metrpoles europeias com as

    :: nias desde o sculo XVI at o XIX,da colonizao de pases africanos

    =- :r:entais no sculo XIX.o entanto, em poca alguma se atin-

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  • -o;:Fi__ TEMAS DE FILOSOFIA .

    Nas fbricas, a produo em massa, t-pica da rigidez do fordismo, tem sido subs-tituda pela exigncia de maior flexibilida-de, que no s evita a padronizao dosprodutos, como tambm requer um traba-lhador com formao abrangente, capaz dese readaptar com rapidez a condies sem-pre diferentes. Para tanto, ser preciso umaeducao que estimule a iniciativa, a capa-cidade de deciso, a criatividade e a dis-ponibilidade para o novo.

    Do ponto de vista econmico, na maiorparte do globo predomina o modo de pro-duo capitalista. Com a queda do Muro deBerlim, em 1989, e a adeso de muitos pa-ses socialistas economia de mercado, viu--se fortalecido o neoliberalismo, bem comoos mecanismos do capital transnacio-nalizado. Por isso, a globalizao, ao ladodos seus benefcios, preocupa sobretudoos pases perifricos, que, por serem eco-nomicamente dependentes, perdem a au-tonomia e se curvam s decises externas,que nem sempre vm ao encontro de seusinteresses.

    Os desequilbrios do sistema transpa-recem no desemprego estrutural resultanteda automao e nas ondas migratrias den-tro de um mesmo pas, ou entre naes,recrudescendo as manifestaes de xeno-fobia, de rejeio ao estrangeiro.

    Tambm na produo do saber ocorreintercmbio entre as naes, por meio de flu-xos de informaes entre as universidades,nos congressos internacionais e pela publi-cao de ampla literatura dos diversos cam-pos do saber. No mais solitrio, o cientistatrabalha em equipe, em laboratrios bemmontados - inclusive com computadores dealta preciso - e sob investimentos alts-simos, que s as grandes corporaes e osgovernos so capazes de bancar.

    bem verdade, na sociedade capita-lista baseada no lucro, a guerra das paten-tes no d trgua, chegando ao pattico deempresas tentarem registrar a propriedadede material gentico - que patrimnio dahumanidade.

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    Poltica e globalizao

    As questes anteriores nos remetem aotema da poltica, ou seja, ao jogo de poderdiante do confronto de foras no espaomundializado. Voltando no tempo, lembra-mos que a modernidade - que comeou ase configurar no sculo XVII -, entre outrascaractersticas, foi marcada pelo surgimentodas monarquias nacionais, baseadas noconceito de Estado-nao, como espaounificado e soberano que concentra o po-der e detm "o monoplio da fora legtima".

    Hoje, porm, no se pode mais falarexclusivamente nesse tipo de central i-dade. Ainda que as naes mantenhamsua soberania e no desapaream no mun-do que se globaliza, cada vez mais exis-tem instituies intergovernamentais inte-ressadas em restabelecer o equilbrio deforas, posto em perigo pelos pases maispoderosos. Esse "frum" mundial no serestringe aos poderes governamentaisconstitudos, mas est aberto tambm aosrepresentantes dos variados grupos repre-sentativos da sociedade civil, que lutam porbandeiras as mais diversas - ecologia, di-reitos humanos e emancipao dos exclu-dos do poder, como mulheres, negros e gays- e extravasam as fronteiras nacionais comreivindicaes em termos mundiais.

    Como exemplos, lembramos a conheci-da atuao da Anistia Internacional na lutapelos direitos humanos e do Greenpeace nadefesa do equilbrio ecolgico. Do mesmomodo a Organizao das Naes Unidas(ONU), a Organizao dos Estados America-nos (OEA), a Organizao do Tratado doAtlntico Norte (Otan), a Unio Europeia, oMercosul e eventos como Rio 92, Rio +10,sejam esses organismos de natureza polticaou econmica, refletem a necessidade deassembleias com representantes de vriospases, para pressionar governos ou mobili-zar pessoas, a fim de resolver problemas queinteressam ao planeta. No que se refere estri-tamente questo da globalizao, so in-meros os movimentos de oposio, ou pelomenos de reivindicao, de uma globalizao

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  • Captulo 6 - O mundo globalizado __

    =:. :ernativa, mais democrtica e menos= cludente, como veremos adiante.

    Ainda quanto aos poderes, mas na con- '::,amo dos interesses solidrios, no pode--os nos esquecer da influncia poltica das.a citadas redes mundiais de narcotrfico, deavagem de dinheiro da corrupo, bemcomo das organizaes terroristas. E tam-bm de uma "ordem militar mundial" queestimula a industrializao da guerra, com aproduo de armas e a promoo de alian-as e ameaas entre Estados.

    Outro setor em que notamos mudanasfantsticas o das relaes nterpes-soas. O comportamento dos indivduos,suas expectativas e os padres de sociali-zao tambm foram profundamente alte-rados com a globalizao em curso. Nos devido s transformaes j referidas,que interferem na vida de cada um de ns,mas, segundo o jurista e filsofo italianoNorberto Bobbio, graas maior das revo-lues silenciosas de nossos tempos, quefoi a transformao das relaes entre ossexos, isto , da relao de gneros.

    E tambm essa a opinio do historiadorEric Hobsbawm, quando diz que no sculoXX ocorreu uma profunda "revoluo morale cultural, uma dramtica transformao dasconvenes de comportamento social epessoal. As mulheres foram cruciais nessarevoluo cultural que girou em torno dasmudanas na famlia tradicional e nas ativi-dades domsticas de que as mulheres sem-pre tinham sido o elemento central".

    Ao criticar o mundo androcntrico -centrado no poder masculino -, a emancipa-o feminina criou outras expectativas sobreos papis que o homem e a mulher desempe-nhavam at ento na sociedade e no ncleofamiliar. Assim, entra em crise o patriarcalismoao se dissolverem as fronteiras entre o homem"chefe de famlia", "provedor", e a mulher ape-nas "me" e "dona de casa".

    Mas ateno: isso no significa o desa-parecimento da instituio familiar, e sim a

    sua transformao profunda, em direo aoutros modelos de relaes familiares. Mui-tos deles ainda causam escndalos e temo-res, devido aos divrcios e casamentos su-cessivos, famlias sem casamento oficial,adoo de filhos fora do casamento, a "pro-duo independente" da opo mono-parental (a criana vivendo s com pai ous com a me), casamento gaye tantas ou-tras formas de constituio familiar.

    A esse propsito, a historiadora e psi-canalista francesa Elisabeth Roudinesco,baseando-se em pesquisas sociolgicas,acrescenta: "Finalmente, para os pessimis-tas que pensam que a civilizao corre orisco de ser engolida por clones, brbarosbissexuais ou delinquentes da periferia,concebidos por pais desvairados e meserrantes, observamos que essas desordensno so novas - mesmo que se manifes-tem de forma indita - e sobretudo queno impedem que a famlia seja atualmentereivindicada como o nico valor seguro aoqual ningum quer renunciar. Ela amada,sonhada e desejada por homens, mulherese crianas de todas as idades, de todas asorientaes sexuais e de todas as condi-es". E acrescenta: "A famlia do futurodeve ser mais umas vez reinventada"."-"Vejo sinais de uma recomposio da famlia, medida que milhes de homens parecemestar prontos para desistir de seus privilgiose trabalhar ao lado das mulheres, para en-contrar novas formas de amar, compartilhar eter filhos. Na verdade, acredito que a recons-truo das famlias sob formas igualitrias sejao alicerce necessrio para a reconstruo dasociedade pela base. (... ) A mudana maisfundamental das relaes de experincia naEra da Informao sua passagem para umpadro de interao social construdo sobre-tudo pela experincia real da relao. Hojeem dia, as pessoas mais produzem formasde sociabilidade que seguem modelos decomportamento." (Manuel Castells)

    2 ROUDINESCO, Elisabeth. A famlia em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 198.

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  • 3. A cultura diante dosprocessos de globalizaoo processo de globalizao cultural

    fortemente marcado pela divulgao dosvalores da indstria cultural ocidental, prin-cipalmente da norte-americana. Ou seja:como na economia e na poltica, os proces-sos de globalizao no so simtricos, noso abertos para todos, de modo igualit-rio. Pelo contrrio, do oportunidades paraque o poder dos pases centrais se exera,alargando mercados, trazendo novos valo-res, modos de vida, sonhos de consumo.

    Para melhor compreender esses proces-sos, vamos examinar dois modos complemen-tares pelos quais se produz a globalizao.

    O primeiro deles o que o socilogoBoaventura de Sousa Santos" chama deloealismo globalizado: quando deter-minado fenmeno cultural local globalizadocom sucesso. o caso da expanso da ln-gua inglesa como lngua mundial, especial-mente na internet; da difuso do fast-foodcomo modo de alimentao, no s em me-trpoles, mas tambm nas pequenas cida-des; dos padres do cinema comercial deHollywood, que tambm promove o "modoamericano de viver" desde o final da Segun-da Guerra Mundial; dos padres de msicapopular; dos parques temticos etc.

    O que se globaliza, nesse caso, a cul-tura dos vencedores, que valorizam as ma-nifestaes culturais dos pases centrais emdetrimento da cultura dos lugares perifri-cos. A vitria traz a possibilidade de ditar ostermos da integrao, da competio e daexcluso, e aquilo que era prprio de umlocal universalizado, permitindo-se at aincluso de culturas diferentes, mas somen-te como subalternas e alternativas. Na ver-dade, esses processos de aculturao tan-to podem ser de assimilao quanto de in-corporao, como vimos no captulo 1, "Oque cultura". Veja-se como exemplo os fil-mes brasileiros candidatos ao Oscar, nos pri-

    meiros anos do sculo XXI, que so aceitosna competio como produo subalterna,alternativa, mostrando a pobreza, a crimi-nalidade, as favelas, os desvalidos sociais ecorrespondendo viso que os pases cen-trais tm do Brasil.

    O segundo modo de produzir aglobalizao, ainda de acordo com o mes-mo autor, denominado de globalismo locali-zado, a contrapartida e o complemento doanterior, agora visto a partir da tica dasculturas perifricas. o impacto produzidopelas prticas e pelos imperativos transna-cionais decorrentes dos localismosglobalizados sobre as condies locais.

    As culturas locais so desintegradas,porque a tradio desestruturada e, even-tualmente, reestruturada sob a forma de in-cluso subalterna. Como exemplo desseprocesso, podemos citar o uso turstico destios histricos, cerimnias religiosas, doartesanato, da natureza e da vida selvagemque devem ser restaurados, equipados eestruturados segundo os padres e as ex-pectativas dos turistas internacionais. His-tria, religio, artesanato, festas folclricas

    o mau hbito de comer hambrguer, quetem alta taxa de gordura saturada, espalhou--se pelo mundo, tendo chegado at a China.

    3 SANTOS, Boaventura de S. "A linha do horizonte". In: SANTOS, Boaventura S. A globalizao e as cinciassociais. 2. ed. So Paulo: Cortez, 2002.

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  • ou tpicas, culinria, natureza e vida selva-gem deixam de responder simplesmente snecessidades locais, para atender s ne-cessidades da indstria turstica global.

    As consequncias da globalizao dacultura - algumas positivas e outras nega-tivas - so bastante variadas.

    Do lado positivo, h hoje uma facilidadede se conhecer outras culturas, seja por meiodo turismo; dos restaurantes que oferecemculinria de diversos pases; dos filmes dediferentes origens - como os indianos, irania-nos, argentinos, suecos, espanhis, irlande-ses e outros, que fogem do padro do cine-ma comercial norte-americano -; da televi-so por assinatura, que oferece programasde e sobre vrios pases, etnias, usos e cos-tumes de locais e comunidades remotas; semesquecer que tambm se editam livros deautores do mundo todo em todo o mundo.

    Do lado negativo, a consequncia maisdiscutida a possibilidade de que a culturamundial seja homogeneizada, isto , que hajao nivelamento de todos os produtos cultu-rais, uma vez que seriam produzidos por ummesmo sistema tcnico, para atender ao mer-cado planetrio. (Consultar no captulo 4 oitem "Cultura de massa").

    Segundo o socilogo Renato Ortiz'. oprocesso de homogeneizao tambmpode ser visto sob duas ticas: a otimista ea pessimista. Na viso otimista, o isolamen-to entre os seres humanos de diversas par-tes do mundo seria rompido, levando aoreconhecimento mtuo e comunho. Naviso pessimista, traria a padronizao daconduta e a sociedade apresentaria umaface unidimensional, consumindo os mes-mos objetos simblicos (moda, cinema, li-teratura, culinria, msica etc.) para suprirsuas necessidades e seus desejos.

    Para resolver o conflito entre esses pon-tos de vista, Ortiz prope que a globalizaoseja vista como transversal idade algo queatravessa a cultura local, regional e nacio-nal. A cultura mundializada no existe ape-nas como ideologia, mas se materializa no

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    cotidiano dos indivduos que compartilhamos mesmos interesses, as mesmas neces-sidades, o mesmo imaginrio. Nesse senti-do, no se cria a unidimensionalidade, masse d espao para a manifestao damultiplicidade cultural, em que as reivindi-caes locais especficas convivem com aproduo global, que no pertence queleterritrio geogrfico. O particular continuaexistindo, porm envolto por uma trama queconecta as partes em um todo mais amplo.

    necessrio destacar que a trans-versalidade no elimina o fato de que a cul-tura global aspira a um lugar de dominaoe pressupe acomodaes e conflitos pe-culiares a cada caso. No sendo um pro-cesso homogneo, a sua influncia pode sermaior ou menor, dependendo da fora dacultura local para responder s necessida-des da comunidade, do acesso informa-o de outras partes do mundo e do aces-so aos meios de comunicao.

    Bonecos do carnaval de Olinda (PE). Ao contrrio docarnaval do Rio e de So Paulo, o de Recife, Olinda ealgumas cidades do interior, como So Lus deParaitinga (SP), preserva as tradies e mantm a par-ticipao da populao local.

    4 ORTIZ, Renato. Um outro territrio. Ensaios sobre mundializao. 2. ed. So Paulo: Olho d'gua, 2000.

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  • 4. Por uma globalizaoalternativaVivemos hoje um tipo de globalizao

    comandado pelas foras do capitalismoneoliberal, que, apesar de ser um sistemaeconmico capaz de produzir riqueza e ace-lerar o progresso, com significativo poderpoltico, mostrou-se incapaz de distribu-Ia demaneira justa. O mundo sofre com problemascomo fome, mortalidade infantil, falta de sa-neamento bsico devido concentrao derenda e de terras nas mos de poucos. Apobreza dos inmeros pases perifricos con-trasta com a situao das naes poderosas,as quais no chegam a uma dezena: bastaler nos jornais quando os G7 ou G8 - grupodos sete pases mais ricos mais a Rssia -renem-se para decidir nossos destinos.

    Alm disso, em nome das foras eco-nmicas, os pases se mantm insensveis- ou reagem muito lentamente - aos ape-los dos movimentos ecolgicos que denun-ciam as agresses ao equilbrio da nature-za. No por acaso, tambm a poluio um fenmeno global: as chuvas cidas queocorriam na Sucia e na Noruega na dca-da de 1960, prejudicando a criao de sal-mes e trutas, resultavam da emisso degases de indstrias da Inglaterra e da Ale-manha. Outro exemplo o da formao doburaco na camada de oznio da estratos-fera, provocado por certos gases usadosna fabricao de refrigeradores e que mui-tas indstrias resistiam a substituir.

    O descontentamento com o descom-passo entre meios e fins, em que o merca-do mais importante que o ser humano,estimula a criao de grupos ecolgicosdesde h algum tempo. Em 1996, no Mxi-co, um movimento antiglobalizao ocorreuno Primeiro Encontro Internacional pelaHumanidade e contra a Neoliberalismo.

    Outras reaes se seguiram, nem sem-pre contra a globalizao em si, considera-da por muitos um acontecimento irreversvel,mas pela defesa de uma globalizao alter-nativa e democrtica, que levasse em conta

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    as reivindicaes dos mais diversos segmen-tos sociais que se consideram prejudicados.Encontros como os de Seattle (EUA), Davos(Sua), Gnova (Itlia), e muitos outros, fo-ram palcos de protestos de que participa-ram - do lado de fora - representantes deONGs, centrais sindicais, partidos polticos,grupos de esquerda, estudantes etc.

    Nessa polmica, mereceu notcia oFrum Econmico Mundial que se reuniu emDavos, na Sua, em 2000, e cujo iderioneoliberal se contrapunha ao do Frum So-cial Mundial de Porto Alegre, no Brasil, ins-talado na mesma poca para priorizar o so-cial, e no o econmico.

    ConclusoComo vimos no incio deste captulo, o

    fenmeno da globalizao trouxe transforma-es e impactos tanto positivos quanto nega-tivos, que podemos ver com otimismo ou pes-simismo. Tudo depender de como as forascom interesses antagnicos se confrontem,para que possamos garantir a esperana deque um outro mundo melhor seja possvel.

    ""ti.Abertura do Frum Social Mundial (2005), em PortoAlegre (RS). O primeiro encontro do Frum Social Mun-dial deu-se em 2000, na defesa da globalizao demo-crtica contra o iderio neoliberal e elitista do FrumEconmico Mundial de Davos, na Sua.

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    O mundo globalizado - Cap. 6