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ÉDITERRANÉEN DES CROISADES 15 A o final do século XI, o espaço mediterrâneo dividia-se entre o mundo islâmico, o Império Bizantino e o mundo cristãoocidental. O Oriente muçulmano e bizantino, governado por verdadeiros Estados, era sede de uma civilização secular brilhante, enquantoo Ocidente cristão mal acabara de sair da barbárie em que o mergulharam as invasões e o retrocesso econômico. CAPÍTULO 1 O MUNDO MEDITERRÂNEO ÀS VÉSPERAS DAS CRUZADAS A elite social do Oriente valorizava as reuniões mundanas, com declamações de poemas em uma atmosfera de sofisticação, enquantoos aristocratas do Ocidente apreciavam atividades mais violentas, comoos combates e os torneios. Oriente_Cruzadas.indd 15 Oriente_Cruzadas.indd 15 26/9/2008 13:06:36 26/9/2008 13:06:36

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ÉDITERRANÉEN DES CROISADES

15

Ao final do século XI, o espaço mediterrâneo dividia-se entre o mundo islâmico, o

Império Bizantino e o mundo cristão ocidental. O Oriente muçulmano e bizantino, governado por verdadeiros Estados, era sede de uma civilização secular brilhante, enquanto o Ocidente cristão mal acabara de sair da barbárie em que o mergulharam as invasões e o retrocesso econômico.

CAPÍTULO 1

O MUNDO MEDITERRÂNEO ÀS VÉSPERAS DAS CRUZADAS

A elite social do Oriente valorizava as reuniões mundanas, com declamações de poemas em uma atmosfera de sofisticação, enquanto os aristocratas do Ocidente apreciavam atividades mais violentas, como os combates e os torneios.

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Para colocar seu exército ao abrigo da influência política de Bagdá e de suas desordens, o califa Mu’Tasim (842-847) construiu uma nova capital, Samarra, cidade exclusivamente imperial, habitada por soldados e funcionários. Abaixo, o minarete de sua mesquita.

O mundo islâmico, um imenso espaço de unidade incontestável

Estendendo-se da Índia à Espanha, sua unidade era extraída da preeminência do Islã e da língua árabe. Era igualmente caracterizado pelo número e pelo esplendor de suas cidades, especialmente na Síria e na Mesopotâmia, onde a tradição da vida urbana remontava a milênios. Todas essas cidades apresentavam o mesmo aspecto, tendo no centro uma mesquita e mercados e, nas capitais, um palácio para o governador. Tinham muralhas e uma cidadela. Populosas e industriosas, sedes de comércio internacional ou distantes de centros de intercâmbios regionais, elas figuravam entre as maiores cidades do mundo e podiam ter até centenas de milhares de habitantes. Cenários da vida da elite, afirmavam desde sempre um desejo de autonomia com relação ao governo central e a seu representante local.

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Depois da morte de Maomé, todos os territórios dominados pelo Islã foram reunidos sob a autoridade de um chefe religioso e político — o califaDepois de um apogeu sob os omíadas e sob os primeiros abássidas, o califado conheceu um longo declínio político. Sofreu os efeitos da secessão das regiões mais distantes e foi obrigado a enfrentar a contestação de sua legitimidade por dissidentes no seio do islamismo. Aos sunitas, que defendiam a legitimidade do califado abássida, se opunham os caridjitas e sobretudo os xiitas. Estes últimos estimavam que o califado deveria ser devolvido a um descendente de Ali, genro do profeta, mas se dividiam em ismaelitas e duodecimanos. Nos séculos X e XI, os ismaelitas eram os mais poderosos. Na África do Norte, os fatímidas, que eram ismaelitas, se proclamaram califas, conquistaram o Egito e fundaram O Cairo — “A Vitoriosa” —, e depois tomaram o caminho de Bagdá para derrubar os abássidas. Mas, não conseguindo ultrapassar Alepo, se contentaram em alcançar a Síria meridional. A essa contestação radical do poder se

acrescentaram imposição de tutela ao califado abássida pelos vizires bouyidas que prestavam obediência aos xiitas, a intervenção de mercenários na sucessão do califado e mesmo as dissidências regionais nas vizinhanças de Bagdá, na Síria do Norte e no norte da Mesopotâmia. O califado foi ficando, cada vez mais, acantonado em um papel puramente espiritual.

Audaciosos navegadores, os muçulmanos deram ao comércio internacional uma envergadura e uma intensidade que este não havia alcançado na Antiguidade. Descobridores de novas terras, eles viajavam regularmente à Índia e à China. Fosse através dos rios ou em caravanas, os intercâmbios continentais eram igualmente importantes. Entre o Ocidente subdesenvolvido e o Extremo Oriente, entre a Europa do Norte e a África, o Islã constituiu juntamente com Bizâncio um elo essencial do negócio. Nas cidades, as tavernas eram um local de predileção dos homens, que ali não só discutiam e conversavam sobre negócios, como também sobre o lazer (página da esquerda, ao alto).

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A entrada dos turcos seljúcidas em Bagdá, em 1055, parece dar início à reconstituição da unidade islâmicaOs turcos, que viviam como nômades nas planícies da Eurásia, foram convertidos ao islamismo no século X. Dentre eles, os seljúcidas adquiriram importância

A genealogia de Maomé (à esquerda) reveste-se de uma importância particular, pois é com base na questão de sua sucessão e da legitimidade do poder, e não com base em um problema dogmático, que se formaram os cismas em que se opuseram sunitas, xiitas e caridjitas e suas diversas facções. Os cinco atos essenciais, ou “pilares” do Islã, são a chahada ou “testemunho” (profissão de fé atestando que não existe outra divindade além de Alá e que Maomé é seu profeta), a prece legal (acima), a peregrinação a Meca, o jejum diurno durante o mês de ramadã e a zakat (contribuição financeira paga à comunidade).

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particular por meio das lutas conduzidas contra os principados muçulmanos do norte do Irã. Toghrul-Beg, seu chefe, se impôs ao califa de Bagdá, e outorgou a si mesmo o título de sultão, que lhe dava autoridade temporal, tendo como missão o restabelecimento da unidade do califado e a predominância do sunismo. O principal objetivo era, portanto, a derrubada do califado fatímida. Entretanto, os sultões não detinham o controle total de suas tropas, pois as tribos turcomanas, cujas tendências à autonomia eram acentuadas, estavam interessadas sobretudo em pilhar e se apropriar dos territórios percorridos por suas tropas. Sob este ponto de vista, a Síria e a Mesopotâmia absolutamente não lhes agradavam, uma vez que era proibido efetuar operações de pilhagem contra muçulmanos e o clima tórrido dessas regiões não era adequado para seus rebanhos.

Os turcos obtêm uma vitória importante sobre Bizâncio em Mantzikert, em 1071A Anatólia bizantina, em compensação, era um lugar ideal. Além disso, o sultão Alp Arslan precisou comandar contra o Império Bizantino —que as incursões nascentes dos turcomanos obrigaram a uma contra-ofensiva — uma grande batalha em Mantzikert. Traído por seus inimigos internos, o imperador Romano IV Diógenes foi completamente derrotado e feito prisioneiro. Alp Arslan, que não desejava se deixar desviar

Mais que a batalha de Mantzikert, que resultou numa derrota completa dos exércitos pelos turcos seljúcidas, a guerra civil que a ela se seguiu em Bizâncio foi um desastre para o império. Os partidários do imperador Romano IV Diógenes e do exército da Ásia Menor enfrentariam os partidários dos Ducas (Miguel VII) e da aristocracia de Constantinopla em um combate que só trouxe vantagens para os turcomanos. Suas tribos se lançaram sobre a Anatólia sem encontrar resistência (acima). Disso resultou uma mudança duradoura, catastrófica para Bizâncio, na composição populacional da região central da Anatólia: ali, o elemento turco suplantou definitivamente o elemento grego.

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de seu objetivo por uma guerra contra Bizâncio, libertou o prisioneiro imperial. Enquanto isso as tribos turcomanas, a favor da guerra civil em que soçobraria Bizâncio, desferraram-se contra toda a Anatólia até o mar de Mármara.

Mas os seljúcidas fracassaram em sua tentativa de unificaçãoOs sultões conseguiram reunificar sob sua autoridade o califado abássida, mas não tiveram sucesso em reduzir o califado fatímida e, sobretudo, depois da morte de Malik Shah, sucessor de Alp Arslan, em 1092, o sultanato, por sua vez, começou a se fragmentar. Para sucedê-lo, uma amarga competição opôs seus irmãos e seus filhos. A Síria e a Alta Mesopotâmia dependiam nominalmente do sultanato da Pérsia, cuja sede ficava em Bagdá e coube a Barkyaruq. Nas principais cidades foram implantados emirados efetivamente autônomos e governados por atabegues, termo turco designando os tutores dos príncipes seljúcidas, geralmente chefes militares. Em parte alguma a fragmentação foi tão grande quanto na Alta Mesopotâmia e na Síria: Alepo e Damasco pertenciam, respectivamente, a sobrinhos de Malik Shah; Trípoli era governada por um civil, o

A cidadela de Alepo fica empoleirada no cume de um tell, uma colina artificial, no centro da cidade velha. No século XII, Nur ed-Din restaurou as muralhas e as mesquitas, construiu um hipódromo sobre o terrapleno central e ergueu, sobre as ruínas de um velho palácio, seu “Palácio de Ouro”. Foi em Alepo que Renaud de Châtillon ficou detido durante 15 anos.

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cádi; Sheizar, pela dinastia árabe dos munqidhitas; Mossul, por Kerbogha; e a região de Diyar Bakr, pelos ortoquidas. No final do século XI, instalou-se a seita ismaelita dos Assassinos nas montanhas de Ansariye. Mais que por suas crenças, eles se caracterizavam por sua profunda hostilidade ao sunismo e pela prática do assassinato. Os adeptos observavam uma obediência absoluta ao grão-mestre. Abrigados em verdadeiros ninhos de águia, conseguiram preservar sua independência.

Os turcos não colonizaram a Síria, cuja população permaneceu árabeEtnicamente, eles eram uma minoria que pouco a pouco foi assimilada pelo elemento árabe.

Suas divisões, portanto, se sobrepuseram a outras, mais antigas, de ordem regional: a oposição entre a Síria do litoral e a Síria interior, entre Alepo, Damasco e a Palestina. Oposição também de ordem confessional: os sunitas dominavam a Síria do Sul e a Palestina; os xiitas, a

Junto com Damasco, Alepo era a maior cidade da Síria interior. Desde a mais alta Antiguidade, esteve à frente de um Estado territorial (cujos limites variaram) e conheceu momentos de glória, contra Bizâncio, no século X. Nos séculos XII e XIII, mais uma vez desempenhou o papel principal. Resistiu com vigor aos ataques dos cruzados e, a despeito da repugnância de suas elites mercadoras pouco desejosas de alienar sua autonomia em benefício dos militares, engajou-se na guerra do lado que combatia contra os francos.

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Síria do Norte, onde recebiam reforço dos Assassinos. Os drusos, presentes no Líbano, constituíam uma seita derivada do cisma: não acreditavam na morte, em 1021, do sexto califa fatímida, Al-Hakim, que havia proclamado sua divindade. Ainda se mantinham numerosos os elementos não muçulmanos na população e, dentre eles, judeus e cristãos se beneficiavam de um estatuto particular: “povos da Bíblia”, eram considerados como sendo crentes do mesmo deus, mas faltava-lhes a revelação suprema e derradeira,

Damasco, capital dos omíadas, jamais se submeteu a nenhuma dominação estrangeira, mesmo muçulmana (ao lado, à direita).

Os cristãos do Ocidente há muito tempo mantinham relações com os muçulmanos nos Estados islâmicos da Espanha. Sabiam que, dentre eles, ainda existiam cristãos que conservaram sua religião e suas leis, mas que falavam árabe. Sua liturgia, a liturgia moçárabe, foi suprimida em 1080 por instigação de Gregório VII (ao lado, à esquerda, uma bíblia moçárabe).

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a de Maomé. Os judeus se disseminaram nas cidades da Síria do Norte e da Palestina, mas se reagruparam sobretudo em Jerusalém. Os cristãos mais numerosos são os sírios ortodoxos, ou seja, jacobitas, que são monofisistas:

podemos encontrá-los tanto nas regiões do campo como nas cidades, particularmente na Síria do Norte e na Alta Mesopotâmia. Os gregos ortodoxos, na verdade sírios que foram helenizados na época bizantina, mas que se tornaram cada vez mais arabizados, quase não aparecem nas cidades. E, finalmente, encontramos maronitas no monte Líbano, monges georgianos, armênios gregorianos, também monofisistas.Esta diversidade da Síria produziu dois

efeitos opostos. De um lado, ela constituiu uma fraqueza, pois talvez pudesse ser causa de divisão, mas de um outro lado, tornava indispensável a coexistência com a diferença e permitia contatos e associações que, em outros lugares, na mesma

Depois do ano 1000, a peregrinação aos lugares santos tomou novo impulso. Os senhores muçulmanos de Jerusalém jamais puseram obstáculo a elas, nem antes das Cruzadas nem depois. A fim de evitar competições ulteriores entre cristãos e muçulmanos, depois da tomada de Jerusalém pelos árabes em 637, Omar, o segundo califa, teria declinado o convite do patriarca para ir rezar nos lugares santos. Com efeito, também para o Islã, Jerusalém é uma cidade santa, pois, segundo a tradição, foi lá que Maomé, depois de ter rezado sobre o rochedo, efetuou sua ascensão para o céu. Até 624, os companheiros do profeta oravam voltados para Jerusalém e não para Meca.

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época, eram impossíveis. Não se pode, portanto, ficar surpreendido com o fato de que, depois de uma expansão ideológica e conquistadora inicial, o Islã tenha renunciado ao jihad, ou à “guerra santa”, nesta Síria que a tradição considerava como a terra do jihad.

Em Bizâncio, o brilho da civilização urbana mascara o enfraquecimento políticoEm 1025, por ocasião da morte de Basílio II, o Império Bizantino estava em seu apogeu. Cobria toda a Ásia Menor até a Armênia, o norte da Mesopotâmia e da Síria, Chipre, Creta, os Bálcãs, com todas as regiões compreendidas ao sul do Danúbio até Trieste e uma parte da Itália do Sul. Sua defesa era assegurada pelo exército (de soldados profissionais) da capital, reforçada pelos das diversas thémas, ou regiões. Sobre esse imenso conjunto reinava o imperador, o basileu, herdeiro direto dos imperadores romanos. O imperador bizantino era a lei encarnada, o eleito de Deus, o intermediário entre Deus e os homens, o agente supremo da justiça sobre a terra. Na prática, ele era tão poderoso quanto as condições da época o permitiam. A Administração

O reinado de João II Comneno de Bizâncio (1118-1143) — neste ícone, com a imperatriz Irene — foi marcado por grandes sucessos de política exterior. Na Europa, ele se impôs aos pechenegues, aos sérvios e conteve os húngaros.Na Ásia, elese apoderou daCilícia e daPequena Armênia.

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formava uma rede que buscava circunscrever toda a sociedade do império. Na verdade, se desincumbia mal dessa tarefa, pois o império era muito vasto e os deslocamentos eram lentos. As cidades renasceram a partir da metade do

século IX e a capital, Constantinopla, excepcional em todos os sentidos, se aproximava do meio

milhão de habitantes, ou seja, a metade de Bagdá. Distinguia-se pelo esplendor de seus monumentos: igrejas, palácios, residências suntuosas, muralhas do século V que desafiaram os invasores. Centro de cultura, a “Cidade” era também o centro econômico e social do império. Graças a seus comerciantes, estava na encruzilhada do mundo medieval, tanto pelos laços estabelecidos com o Islã como com o Ocidente bárbaro e com as planícies da Rússia.

Inteiramente dedicado à sua prosperidade econômica, o império se põe, pela primeira vez em sua existência, em estado de pazA aristocracia militar e rural via seu poder enfraquecido pela ascensão de novas classes sociais. Os imperadores renunciaram às conquistas, dissolveram os exércitos das thémas e deram acesso

O hipódromo de Constantinopla,local de atividades esportivas e políticas, tinha capacidade para 30 mil espectadores. Através da acolhida que o público lhe reservava, oimpério media ali sua popularidade, diga-se de passagem, não sem riscos: o povo de Constantinopla era dividido em duas facções, os Verdes e os Azuis, “clubes esportivos” transformados em portadores de reivindicações políticas; sua coalizão em 532 por pouco não custou a Justiniano seu trono. Desde então, os imperadores passaram a controlar as “facções do circo”. Aqui, um cavaleiro árabe faz a demonstração de sua habilidade a cavalo. A cena se desenrola no século VIII, mas o estado de guerra com os árabes não impediria os espetáculos desse tipo.

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às funções imperiais e às dignidades a homens originários da burguesia rica da cidade, formados nas universidades. Enquanto isso, acontecimentos externos virão oferecer à aristocracia a oportunidade de um retorno ao poder. Invasores se apresentaram nas fronteiras: normandos da Itália do Sul a oeste, turcomanos a leste. Os turcos desfecharam invasões por toda a Ásia Menor até o mar de Mármara e ali se instalaram. Em 1081, Aleixo I Comneno, oriundo de

uma grande família da Ásia, tomou o poder e reagiu contra a política de seus predecessores, afastando a burguesia responsável pelas atividades comerciais e financeiras. Para reconquistar os territórios perdidos, ele pediu soldados ao papa. Em seu espírito, este pedido não comportava nenhuma ambigüidade: era uma questão de obter mercenários, não de requisitar a intervenção de exércitos ocidentais.

Apesar de separados pela religião, os bizantinos sentiam-se mais próximos dos muçulmanos do que dos ocidentaisNo princípio do século X, o patriarca Nicolas Mystikos escreveu a um emir muçulmano que existiam duas soberanias: “a dos sarracenos e a dos romanos que inundam com sua luz o conjunto da Terra. Portanto, é preciso viver em comunidade e em fraternidade com ambas; não é porque sejam separadas por modos de vida, costumes e religião que devem ser hostis uma com a outra.” Ao longo das

guerras e por meio do comércio em tempos de paz, bizantinos e muçulmanos criaram laços e aprenderam a se conhecer.

Com relação aos ocidentais, entretanto, os bizantinos nutriam sentimentos de condescendência, desprezo e desconfiança. Essa

Em 1050, graças à tenacidade de seus “imperadores soldados”, o Império Bizantino se estendia de Trieste a Ani, da Chersonésia ao Líbano, com uma entrada ativa, com Edessa, para o norte da Mesopotâmia (mapa ao lado). Mantinha relações cordiais com o califado fatímida, e o califado abássida estava paralisado por suas dissensões internas. O império se pôs em paz e encorajou a economia. A partir de 1071, o Oriente Próximo se transformou. Atacada pelos turcos e enfraquecida, Bizâncio perdeu quase a totalidade de seu território asiático, enquanto os turcos, com Malik Shah, reuniram um império imenso compreendendo o Irã, a Anatólia e todo o Oriente Próximo, exceto o Egito, que permaneceu com os fatímidas. Mas com a morte de Malik Shah, em 1092, seu filho desmembrou de novo o império e o dividiu em cinco grandes seções. O centro de seu governo ficou na Pérsia, em Bagdá; seu irmão governava a Pérsia oriental; na Síria, seus sobrinhos foram nomeados príncipes de Alepo e de Damasco; a parte ocidental da Anatólia foi confiada a Kilidj Arslan e a parte oriental coube aos danishmenditas. Às vésperas das Cruzadas, o Império Bizantino estava reduzido e o Império Islâmico, expandido.

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diferença de mentalidades se traduzia no domínio religioso. Em 1055, os legados do papa excomungam o patriarca Miguel Cerulário. A excomunhão não dizia respeito à Igreja ortodoxa, somente à pessoa do patriarca. Para justificar a tomada de Constantinopla pelos cruzados em 1204, o papado transformaria, a posteriori, este incidente em cisma. Porém, mais grave que este acontecimento simbólico, uma mentalidade carregada de mal-entendidos opunha bizantinos e ocidentais.

A chegada ao poder de Aleixo I Comneno (página à esquerda) marca a vitória política dos militares; seus sucessos são comprometidos por privilégios aduaneiros concedidos aos venezianos em troca do auxílio de sua frota.

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28 CAPÍTULO 1

Se comparado com o Oriente, o Ocidente parece um mundo bárbaro onde, contudo, grandes mudanças estão para acontecer No princípio do século XI, o Ocidente encontrava-se esvaziado de homens, seu campesinato era pobre e subjugado. Castelos construídos em madeira formavam o horizonte dos homens. O dinheiro não circulava, a cultura estava acantonada na corte dos príncipes e nos monastérios. Os poderes estavam fragmentados e a brutalidade caracterizava as relações sociais. Mas, depois do ano 1000, as grandes invasões cessaram. A população cresceu. Os camponeses, providos de melhores ferramentas, desbravaram os terrenos escassos à custa das florestas. A produção agrícola aumentou. O campesinato conseguiu obter excedentes graças a uma maior

produtividade. Os alimentos, tendo se tornado mais abundantes, fizeram recuar a fome e as epidemias. As cidades passaram a reunir uma população mais numerosa e começaram a se distinguir dos campos. Sem condições, entretanto, de ser comparadas com as ricas metrópoles do Oriente, as mais populosas não ultrapassavam 10 mil habitantes.Os ocidentais retomam as

viagens distantes, através das rotas do Norte, pela Escandinávia e pela planície russa, pela Europa central, ao longo do Danúbio,

pelo Mediterrâneo, a partir da Itália e da Catalunha. Eles exportam matérias-primas e escravos, e importam produtos de luxo. Estes são encontrados nos portos orientais, em Constantinopla, na costa da Síria e em Alexandria.

A emergência da cavalaria Em um contexto de enfraquecimento do poder realcausado pelas invasões, emergem, localmente, pequenos senhores; eles são, teoricamente,

A terra, base quase exclusiva da economia; a guerra, atividade predileta dos poderosos.

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representantes do reie investidos, em seu

nome, do “direito de proclamas”, o direitode comandar, dejulgar e de punir, mas, na realidade, se comportam como verdadeiros senhores e defensores de seu

cantão, a partir dos castelos de madeira onde viviam entrincheirados.Mudanças também ocorrem na

arte de combater. Vestidos com uma couraça e um capacete, os senhores aperfeiçoam seus armamentos defensivos e ofensivos. A guerra passa a ser negócio para especialistas. Para exercer a profissão de guerreiro, é preciso formar-se no ofício das armas desde a primeira infância, e também ser rico para adquirir o equipamento necessário. De modo que assim, e por muito tempo, o campesinato ficou relegado aos trabalhos pesados.

No correr do século XI, esses senhores e seus companheiros, combatentes a

cavalo, finalmentesão designados coletivamente pelo nome de “milites”

É no seio de uma sociedade de contrastes que são recrutados os cavaleiros. Os senhores mais poderosos usurparam os poderes públicos exercidos em nome do imperador carolíngio. Depois o esmigalhamento político resultou, inicialmente, no norte da França, na emergência de senhores “banais” na liderança de pequeníssimos distritos rurais. Na base da escala, encontramos senhores “rurais”, cujos direitos são reduzidos àqueles de um proprietário de terras sobre seus camponeses.

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(soldados), na verdade cavaleiros. No topo da hierarquia social, distinguem-se dos outros homens por seus privilégios, seu comportamento, sua mentalidade. Eles formam uma sociedade masculina da qual as mulheres estão ausentes, uma casta de herdeiros preocupados com seus ancestrais. Seus valores são a coragem e a força; por escolha, são iletrados, pois a educação do espírito corrompe. À coragem devem acrescentar fidelidade e sentido de honra. Os cavaleiros se enfrentam em combates em grandes unidades, as “batalhas”. Sua tática predileta é a carga furiosa, com a lança abaixada, diante da qual a infantaria não pode resistir, mas é preciso que disponham de um terreno apropriado — vastos espaços planos e descobertos.

Paz de Deus e cavalaria de CristoOs membros da Igreja por vezes participavam do ideal da cavalaria e não desconsideravam combater com os cavaleiros. A Igreja teve êxito em desligar o clero do feudalismo por meio do grande movimento da reforma gregoriana. Desse modo, certos clérigos conseguiram estabelecer a “paz de Deus”, proibindo os combates em certos períodos. Essa vontade de transformação se manifestou logo de início, principalmente, no clero regular, e novas ordens

No século XI, os monges desempenharam um papel decisivo na reforma da sociedade. Eles apoiaram o esforço dos papas para subtrair o clero da influência dos senhores feudais. Este foi o caso de Urbano II(página à direita, ao alto), eleito papa em 1088, que quis aplicar integralmente o programa de reformas de Gregório VII: luta contra a alteração dos costumes do clero, o poder crescente dos leigos na Igreja e a onipotência dos imperadores germânicos.

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foram criadas: Grandmont, os Chartreux, Prémontré e, sobretudo, Cîteaux. Como faltava-lhe o poder para impedir a guerra, a Igreja tentou cristianizar e dar um caráter religioso à cavalaria. O cavaleiro transformou-se em um herói piedoso que devia proteger as pessoas e os bens da Igreja, os fracos, os pobres, as viúvas, os órfãos em nome de Deus. Seu objetivo supremo era a luta contra o Infiel.Dois personagens disputavam a direção da

política do Ocidente medieval: o imperador do Sacro Império Romano Germânico e o papa. Provisoriamente, no final do século XI, o papa levouvantagem, e foi nesse contexto que Urbano II assumiu a empreitada de reunir o povo cristão numa grande expedição para estabelecer, em seu nome, a soberania sobre os lugares santos.

Guerra justa, peregrinação e CruzadaOs Pais da Igreja tinham elaborado a idéia da guerra justa, fazendo da cristandade uma pátria que era preciso defender contra o agressor. Tendo sido berço da vida e da paixão de Cristo, a Palestina e, particularmente, Jerusalém ocupam um lugar primordial nas mentalidades e admitia-se que uma peregrinação à Terra Santa equivalia à remissão dos pecados. Essa convicção se prende a um conjunto de representações que ligam entre si a Jerusalém celeste e a Jerusalém terrestre. No final dos tempos,

Transformados em soldados de Cristo, os cavaleiros, equipados de cavalos possantes, adotaram uma nova esgrima: a lança deixou de ser uma arma de arremesso para tornar-se uma arma de choque, como podemos ver nesta justa de exercício de combate a cavalo

em que as lanças são equipadas de globos protetores nas extre-midades.

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a Jerusalém celeste desceria exatamente ao local da Jerusalém terrestre. Morrer na Terra Santa permitiria, portanto, que se estivesse ao lado de Cristo na hora do Julgamento Final. O Ocidente exercia um protetorado moral sobre os lugares santos, concedido a Carlos Magno pelos califas abássidas. A peregrinação a Jerusalém, cujo desenvolvimento foi facilitado pela criação dos abrigos mantidos por religiosos, por vezes revestiu-se do aspecto de uma empreitada coletiva maciça: em 1064-1065, Günther, bispo de Bamberg, viajou à Terra Santa acompanhado por cerca de 12 mil pessoas.No princípio do século XI, o califa fatímida

Al-Hakim perseguiu os cristãos; além disso, a conquista turca criou novas dificuldades e interrompeu as peregrinações aos lugares santos.O objetivo do papa teria sido, portanto, restabelecer a liberdade de acesso aos lugares santos.

A Cruzada, empreendimento religioso e políticoMas quando lançou um apelo em favor da Cruzada no concílio de Clermont, em 1095, o papa Urbano II obedecia também às considerações de ordem política. As notícias do Oriente, que o pedido de Aleixo I Comneno vieram confirmar, mostravam que o cristianismo ali corria grande perigo. Por outro lado, não existia meio mais certo de reunir sob a conduta papal os elementos turbulentos da cristandade do Ocidente do que engajá-los nesse imenso e audacioso empreendimento que seria a conquista dos lugares santos. Para os

Foi em Jerusalém, “umbigo do mundo”, que os teólogos da Idade Média situaram o fim dos tempos. Inversamente, os Pais da Igreja haviam se esforçado para dissociar a Jerusalém celeste da Jerusalém terrestre. A peregrinação a Jerusalém remonta ao século IV, depois que Helena, mulher de Constantino, acreditou ter descoberto a “Verdadeira Cruz” e o local da Crucificação. Este mapa de Jerusalém (abaixo), idealizado sob a forma perfeita do círculo, ilustra bem os principais monumentos e santuários da cidade.

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As peregrinações favoreceram o desenvolvimento da cartografia. Este itinerário de Londres à Terra Santa retrata de maneira bastante exata a geografia da Palestina e as cidades costeiras. Jerusalém está no centro, com a indicação de seu desenho, o vale do Jordão e o mar Morto. Além disso, a carta apresenta as distâncias estimadas em tempo de percurso: entre Damasco e Jerusalém, um dia de viagem. Trata-se, evidentemente, de distâncias percorridas a cavalo.

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contemporâneos, apenas as motivações religiosas já eram suficientes. Para aqueles que respondessem a seu apelo, o papa assegurava a suspensão das ações intentadas contra eles na justiça e a salvaguarda de seus bens sob a proteção do clero. Uma vez cumprida sua missão, os cruzados, assim nomeados porque ostentavam uma cruz bordada sobre suas vestimentas, teriam como prêmio a remissão de seus pecados.

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