o mundodeannefrank

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  Janny van der Molen L  á  f   o r  a  ,  a   g  u  e r r  a

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cap 01 e 02

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  • Janny van der Molen

    O mundo deAnne Frank

    O mundo de Anne Frank

    O mundo deAnne Frank

    L fora, a guerra. Dentro do anexo da casa, Anne Frank e sua

    famlia. Dia aps dia, eles aguardavam em silncio, escondidos,

    o final daquela terrvel guerra.

    Mal lembravam como era abrir a porta da frente e andar

    em plena luz do dia. No podiam ir e vir pela rua, pegar um

    bonde, fazer o que bem entendessem...

    O mundo l fora se tornou o inimigo. O mundo l fora era

    assustador.

    Brincadeiras, amigas queridas, lar acolhedor e uma famlia cari-nhosa. Assim era o mundo da jovem Annelies Marie Frank, antes da per-seguio nazista. Milhes de jovens e adultos leram (e ainda leem) o seu fa-moso dirio, mas poucos conhecem as histrias da infncia alegre e os deta-lhes de sua captura e morte.

    Janny van der Molen retrata com de - licadeza esses momentos em O mundo de Anne Frank, dividindo-o em temas que falam sobre a escola, a guerra, o medo, o esconderijo, a escrita, a cora-gem, o amor e a traio.

    A autora mergulhou em arquivos, visitou campos de concentrao e a casa da famlia Frank e ainda entrevis-tou pessoas prximas a Anne, manten-do-se fiel s fontes originais e aos fatos histricos.

    Este livro comovente, que pode ser lido por crianas e adultos, contm ilus-traes de Martijn van der Linden e ricamente documentado com fotos de lbuns da famlia.

    Janny van der Molen jornalista, escritora premiada, te-loga e me de um menino e uma meni-na. Nascida na Holanda, ela trabalhou na rea de comunicao por muitos anos e agora devota a maior parte de seu tempo e de sua energia para es-crever livros infantis. Janny espera que seus livros estimulem as crianas a se envolverem na sociedade em que vi-vem e que as inspirem a desenvolver o melhor de si mesmas.

    Janny van der Molen L fora, a guerra

    L fora, a guerra

    Janny van der Molen

    184pginas em papel couche mate 115 com fotos15,5 X 22cm laminao soft touch

  • Janny van der Molen

    L fora, a guerra

    Ilustraes de Martijn van der Linden

    Traduo de Alexandra de Vries

    O mundo deAnne Frank

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  • Brincadeira

    No dia 12 de junho de 1929, nasceu uma menina na cidade alemde Frankfurt. Seu nome era Annelies Marie Frank, mas as pes-soas a chamavam de Anne. Era a segunda filha de Otto e EdithFrank, e sua irm se chamava Margot. Os Frank eram de origemabastada, e o pai de Anne trabalhava em um banco de proprie-dade de sua famlia.

    Otto Frank tinha muito orgulho de seu pas. Tanto que, naPrimeira Guerra Mundial (de 1914 a 1918), ele lutou pela Ale ma -nha. Mas seus sentimentos pelo pas mudaram durante a infnciade Anne. A Alemanha estava passando por graves problemas,com muito desemprego e pobreza. Na poca, havia um polticoque dizia que tudo aquilo era culpa dos judeus. O nome dessehomem era Adolf Hitler. Queria uma Alemanha grande e pode-rosa, e mais e mais pessoas comearam a concordar com ele.Nas eleies, votaram em seu partido poltico. Os seguidores deHitler eram chamados de nazistas.

    Os pais de Anne eram judeus. A me frequentava a sinagoga,mas o pai, no. Eles se sentiam muito vontade entre pessoas deoutras religies e at com quem no tinha religio alguma, maspassaram a ser vistos como inimigos s por serem judeus.

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  • Em 1933, quando Adolf Hitler, com o apoio de muitos alemes,foi eleito lder do governo, os pais de Anne decidiram se mudarpara a Holanda. No queriam mais morar em um pas ondeeram odiados por serem de origem judaica. Alm disso, os neg-cios no banco da famlia no andavam bem.

    Anne tinha quatro anos quando sua famlia se mudou paraAmsterd. Ela logo se adaptou. Foram morar em um bom apar-tamento. No bairro, havia outras crianas judias que tam-bm tinham vindo da Alemanha. Anne e Margot aprenderamrapi da mente a falar holands e no demorou muito para come-arem a se sentir holandesas tambm.

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    Anne tinha quatro anos quando sua famlia se mudou para Amsterd. Ela logo se adaptou.

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  • Uma vida repleta de alegria

    Nunca vou conseguir! Com o rosto vermelho por causa doesforo, Anne tentava fazer seu bambol rolar pela rua. Essetroo s cai! Desanimada, olhou para a amiga Sanne, queconseguia fazer o bambol rolar ao longo da calada sem pro-blemas. Como voc consegue fazer isso? Assim, . s colocar em p e dar um empurro.Anne pegou o bambol e fez exatamente como Sanne falou.

    Deu certo! O bambol saiu rolando pela calada... mas depoisde alguns segundos caiu de novo. Chega! No aguento mais! resmungou Anne. Vou an-

    dar de patinete.Era uma delcia brincar na praa Merwede, onde Anne mo-

    rava. De vez em quando, sua me olhava pela janela do aparta-mento, mas sabia que no havia muito perigo. Como no erauma rua principal, ali s passavam bicicletas e os carros dosmoradores da vizinhana. A calada e a rua ficavam pratica-mente vazias. Alm disso, o bairro ficava nos limites da cidade.Depois de alguns quarteires, j dava para ver vacas pastando.A rea ainda parecia um canteiro de obras. Perto da casa deAnne, havia um grande areal, onde a menina passava horas

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  • brincando. Foi assim que Anne cresceu: em um lar maravilho-so, em uma rua agradvel e com amigas queridas, frequentan-do uma tima escola.

    Psiu, psiu! Era um dia de semana qualquer na praa Merwede. Ainda

    era cedo e estava at um pouco escuro. Mame entrou no quarto de Anne e Margot. Anne, Hannah est esperando l embaixo. D para ouvi-la

    assobiando disse.Anne sabia que estava na hora de ir escola. Largou o livro

    que estava lendo, pegou o casaco do cabideiro, vestiu-o corren-do e se preparou para descer. Espere disse mame, severa. inverno, voc precisa co-

    locar um Mtze. Muts, mame. Gorro em holands muts, no Mtze. E no

    est to frio retrucou Anne. Ela j tinha oito anos e se sentiaperfeitamente capaz de decidir se precisava colocar um gorroou no. Coloque o gorro disse mame, e Anne percebeu pelo seu

    olhar que era melhor obedecer. Em seguida, desceu a escadacorrendo. Cuidado, o cho pode estar escorregadio, v com calma!

    gritou mame.Mas Anne j no ouvia. Tinha muita pressa. Ela queria

    compartilhar uma novidade com a amiga Hannah (a quemsempre chamava de Hanneli) e no podia esperar para contar. Hanneli, Hanneli! Vou viajar! Com meu pai! S nos dois!

    No maravilhoso? Vamos para a Sua, visitar a minha av naBasileia. Minha tia Leni e o tio Erich tambm moram l, e osmeus primos Bernd e Stephan, claro. Vai ser o aniversrio da

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  • minha Omi, eu sempre chamo a minha av de Omi, e temtambm o Stephan e... Hannah comeou a rir. O que foi? perguntou Anne, surpresa. Voc est falando to depressa que quase no consigo

    acompanhar. Mas estou to feliz! Bernd timo em patinao no gelo, e

    Omi conta histrias maravilhosas e... Estou muito feliz por voc, Anne. De verdade! Quando

    viajam? Em algumas semanas. Mal posso esperar comemorou.

    Em seguida, disse: Olha s, l vo Kitty e Ietje. Vamos darum susto nelas?Hannah riu da amiga.Anne adorava pregar peas nas pessoas. Colocou o dedo so-

    bre a boca em sinal de faa silncio e se aproximou das ami-gas sem fazer barulho. Quando chegou perto, cutucou as duasnas costas e gritou: B! Ai! reagiu Kitty. Ietje deu at um pulinho de susto.Anne caiu na gargalhada. Sua peste! disse Kitty. Mas mesmo assim comeou a rir.

    Depois de algumas semanas, finalmente chegou o grande dia:Anne e o pai embarcaram no trem para a Basileia. J chegamos? perguntava Anne toda hora. Ela sabia a

    resposta porque, quinze minutos antes, o pai tinha dito queno estavam nem na metade do caminho. Nossa... A Sua era longe.Assim que chegaram, Anne esqueceu imediatamente a lon-

    ga viagem e se divertiu brincando com Bernd. Teve que seacostumar de novo a falar em alemo com a famlia. Em casa

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  • quase no se falava mais alemo, j que papai e mame tenta-vam usar o holands o mximo possvel. Tive uma ideia divertida sussurrou Anne no ouvido de

    Bernd uma tarde. Bernd e Anne tinham ido visitar a vovFrank junto com tia Leni, tio Erich e o pai de Anne. Vamosentrar s escondidas no quarto da Omi, e voc vai vestir asroupas dela.Bernd lanou um olhar travesso para Anne. E depois? A voc finge que a Omi.Bernd sorriu. Tinha gostado da brincadeira. Juntos eles

    entraram no quarto, de fininho, e Bernd escolheu um lindo vestido.Anne quase engasgou de rir. Um chapu! exclamou ela. Deve ter um chapu para

    combinar!

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  • Bernd foi procurar um chapu.Depois precisou procurar os sapatos. O salto mais alto que voc achar disse Anne, dando risa-

    das. Bernd pegou um par de sapatos pretos de salto alto. Esses a!Bernd desfilou pelo quarto, fazendo de conta que era a

    Omi. Postura erguida, queixo para cima, nariz empinado, umar de orgulho... Igualzinho Omi! Era muito engraado mes-mo. Bernd imitava a av muito bem! Voc devia ser ator! Anne riu, e Bernd fez uma respeitosa

    reverncia empolgada plateia. Obrigado, senhora. Muito obrigado.As frias foram maravilhosas, mas acabaram depressa de-

    mais. Chegara a hora de voltar para casa. Papai tinha que re-tornar ao trabalho, e Anne, escola.J em casa, olhou para uma foto de Bernd. Eu volto, Bernd sussurrou para a foto. Voc ainda tem

    que me ensinar a patinar no gelo!

    Felizmente, tambm havia vrios meninos legais na escolapara ela brincar. Quem subir a escada primeiro ganha! Anne comeou a correr em direo livraria Blankevoort e

    virou a esquina na praa Merwede. Dois meninos corriamatrs dela. Voc no vai ganhar! gritou um deles. O outro corria o

    mais rpido que podia, mas no conseguia alcanar Anne nemseu amigo Appy. Primeiro! disse Appy, ofegante. Segunda! arfou Anne. T bem. Vocs ganharam disse Sally.

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  • Preciso recuperar o flego disse Anne enquanto sentavano ltimo degrau da escada de pedra, que levava at seu aparta-mento, no primeiro andar. Mame no gosta quando corro. Por causa do seu corao? perguntou Sally, olhando e

    sorrindo para Anne. Seu cabelo loiro estava despenteado e suaspronunciadas bochechas ficaram ruborizadas. Era uma dascoisas que Anne adorava nele: as bochechas rosadas. No nada grave. Mame apenas se preocupa demais. Mas na semana passada voc faltou uns dias de aula por-

    que estava doente disse Appy. Foi s um resfriadinho respondeu Anne, lanando um

    olhar desafiador aos amigos. Talvez eu no seja forte, mascertamente sou esperta!Os meninos riram. Anne era assim, sempre tinha uma res-

    posta na ponta da lngua!Ela se levantou, ajeitou as meias e a saia. Assim mame no

    podia reclamar. Mame gostava de tudo bem certinho, e agoraAnne estava apresentvel de novo. Tinha nove anos e estavabem arrumada. Vamos disse ela enquanto tocava a campainha.Mame abriu a porta. Oi, Anne, finalmente voc chegou! Oi, Appy, oi, Sally. Mame, ns queremos brincar de Banco Imobilirio.

    Podemos? Claro. Como foi a escola hoje? Nada de mais, senhora respondeu Sally educadamente.Os trs se sentaram mesa, e Anne preparou o tabuleiro, o

    dinheiro, as casas e os pinos. Parece difcil esse jogo suspirou Appy. Inseguro, olhou

    para Sally. No se preocupe. Vou explicar direitinho disse Anne.

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  • Mame chegou mesa com um prato de biscoitos. Trouxe um copo de Milch para cada um. Melk, me corrigiu Anne. Leite no Milch, melk.

    Revirou os olhos e olhou para os amigos como se quisesse di-zer minha me nunca vai aprender. Mas mame no disse mais nada, apenas ignorou e voltou

    cozinha. Olha s... disse Anne para Appy e Sally. Voc joga o

    dado e anda com o pino. A voc pode parar numa rua. Todosesses quadrados coloridos com nomes representam ruas. TrafaTrafal-gar s-qua-re? leu Sally em voz alta. O que

    isso? ingls, seu bobo. So todas ruas e praas em Londres.

    Este jogo veio da Inglaterra.

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  • Esta aqui bem fcil. Appy apontou para o tabuleiro. O nome dessa rua Strand. Ele pronunciou ishtrnd. Meu pai disse que os ingleses falam Strnd, no

    ishtrnd disse Anne, toda sabichona, enquanto pegava odado. Que seja resmungou Sally. Logo se envolveram tanto no jogo que at se esqueceram do

    leite e dos biscoitos.

    E assim o tempo passou. Estavam em 1938, e a famlia Frank jmorava em Amsterd havia cinco anos. A vida deles era igual de muitas outras famlias daquela poca. Papai saa de manhcedo para trabalhar no escritrio, e Margot e Anne iam esco-la. Mame arrumava a casa, fazia compras e se assegurava deque as roupas estivessem limpas e organizadas dentro dos ar-mrios. Sempre que podia, levava as meninas para passear.Elas saam para ver lojas, visitar um museu, ir ao cinema ouat passar um dia na praia. Margot era trs anos mais velhaque Anne e sempre recebia amigas em casa. Anne adoravabrincar com outras crianas. Papai trabalhava muito. s vezes, tinha tanto trabalho que

    ainda precisava ir ao escritrio no domingo para terminaralguma tarefa. Anne e Margot entendiam. Papai era dono daempresa. Tinha que trabalhar muito para pagar aquele beloapar tamento, comprar coisas bonitas e, claro, comida e roupas.Anne passava os dias estudando e se divertindo. A vida era

    boa. At que numa manh, em novembro de 1938, quandochegou mesa para tomar caf, encontrou o pai com uma ex-presso sria. Sua mo acariciava o brao da esposa, e era bvioque mame tinha chorado. Margot estava muito quieta. O que houve? perguntou Anne, assustada. No se preocupe. J passou respondeu mame.

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  • Quero saber o que foi! exigiu Anne. Eu sei que aconte-ceu alguma coisa.Papai respondeu com a voz calma: As coisas no esto nada bem na Alemanha, o que nos dei-

    xa muito tristes porque amamos tanto o pas. s isso. Venha,coma alguma coisa. Est quase na hora de ir escola. Mas papai... Assunto encerrado, Anne.

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  • Mame forou um sorriso para Anne. Mesmo assim, ela con-

    tinuou preocupada. Apostava que tinha algo a ver com aquele

    homem chamado Hitler, o lder da Alemanha. Mas os pais no

    queriam falar sobre isso. Para eles, o assunto estava encerrado.

    Anne descobriu depois o que realmente tinha acontecido.

    Os irmos da mame, os tios Julius e Walter, haviam sido pre-

    sos pelos nazistas aps uma noite terrvel de muita violncia

    contra os judeus. Aquela noite ficou conhecida como a Noite

    dos Cristais. Mame estava muito preocupada com eles.

    Algumas semanas depois dessa conversa, mame e Margot es-

    tavam se arrumando para ir sinagoga. Era uma manh de s-

    bado. Papai tinha ido ao escritrio trabalhar por algumas

    horas, e Anne foi escola, como de costume. Papai e mame

    convidaram vrios conhecidos judeus do bairro, que tambm

    tinham vindo da Alemanha, para ir a sua casa naquela tarde,

    algo que faziam regularmente aos sbados.

    No se esquea de buscar o Kuchen na padaria, Otto!

    Bolo em holands taart, me. No Kuchen.

    claro, Anne suspirou sua me. Assim que chegar da

    escola, lave o cabelo e coloque o Kleid que separei para voc.

    Voc quer dizer jurk, vestido...

    Anne, pare com isso falou papai em um tom rspido.

    Quantas pessoas vm hoje tarde? perguntou Anne.

    Viro algumas pessoas novas. E os velhos conhecidos: os

    pais de Hannah, os pais de Sanne, meu colega Van Pels com a

    esposa... A casa vai ficar cheia e animada.

    Miep e Jan vm tambm? Miep era a assistente do pai no

    escritrio, e ela e o noivo Jan tinham se tornado amigos da fa-

    mlia Frank.

    Acho que sim. Foram convidados.

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  • Que timo! disse Anne. Ela gostava muito de Miep e Jan.O tempo na escola passou rpido. Como todo sbado, os

    alunos tinham que arrumar tudo, tirar poeira e passar umpano na sala antes de irem embora. Algumas crianas judias,como Hannah, no iam escola aos sbados de manh porqueiam sinagoga, mas mesmo assim havia muitas outras crian-as na sala. Algumas, como Anne, eram judias, outras eramcrists, e outras no eram de nenhuma religio. Algumas crian-as eram da Alemanha, mas isso no importava. Ningum cos-tumava falar sobre suas origens.Naquela tarde, o trabalho de Anne foi abrir a porta para os

    convidados. No se esquea de se apresentar e oferecer a mo para

    cumpriment-los disse mame. Anne j conhecia a maioria dos convidados, mas em certo

    momento um casal desconhecido tocou a campainha. Meu nome Fritz Pfeffer, e essa minha esposa, Charlotte

    Kaletta disse o homem, com voz amigvel. Ele falou em alemo. Bem-vindos nossa casa disse Anne, educadamente.Enquanto os levava para cumprimentar seus pais, Anne per-

    cebeu que o clima na sala no estava nada bom. Havia muitaspessoas, como papai dissera, mas os convidados pareciam aba-tidos e quase no tocaram no bolo nem nas comidas. Depois,Anne observou que mame cobriu a boca com a mo quandoconversava com o sr. Pfeffer, claramente chocada com algo queele dissera. Anne se lembrou do que a me tinha falado algu-mas semanas antes, no caf da manh: No se preocupe. Jpassou. Mas era bvio que todos estavam muito preocupados.

    Mesmo assim, Anne ainda teria muitas alegrias nos meses se-guintes. Sua festa de aniversrio, por exemplo. Era junho de1939, e faltavam apenas alguns dias para ela completar dez

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  • anos. Ela estava feliz porque o seu aniversrio cairia durante asemana. Assim ela encontraria todos os amigos do colgio pri-meiro, e depois teria uma festinha em casa. Claro que iria con-vidar Hanneli e Sanne. As pessoas as chamavam de Hanne,Sanne e Anne. Eram melhores amigas desde pequenas, inclu-sive por causa das famlias: todas eram alems e judias. Elatambm iria convidar Ietje, Lucie, Martha e Mary. E Juultje eKitty, naturalmente. Eram todas boas amigas tambm. Novemeninas! Ia ser muito divertido.Na tarde daquela segunda-feira, 12 de junho de 1939, as

    meninas chegaram na casa uma a uma. Anne recebeu todas assuas amigas na porta. assim que se faz disse mame.Era um dia lindo. Anne estava usando seu vestido favorito,

    com estampa florida e uma pequena gola branca. Martha usa-va um lao festivo no cabelo. J Mary optou por dois laos.Todas usavam vestidos de vero naquele dia ensolarado e ra-diante. Anne estava radiante tambm: amava ser o centro dasatenes.Mame tinha feito um bolo e preparado algo para beber.

    Em seguida, comeou a cantar timidamente: Parabns pra voc, nessa data querida...As amigas cantaram animadas, e Anne vibrou. Depois, cada

    menina lhe deu um presente. Impaciente, ela rasgava todos osembrulhos logo que os recebia. Adorava presentes! Aps abrirtodos os presentes e comer o bolo, chegou a hora das brinca-deiras. Otto chamou todas as meninas para sentar em umaroda no cho. Por qu, sr. Frank? perguntou Juultje, meio descon-

    fiada. Voc j vai ver respondeu o pai de Anne, fazendo mist-

    rio. Agora tirem os sapatos.

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  • Algumas das meninas comearam a rir. O que ia acontecer?Papai pegou uma manta bem grande e cobriu os ps das ga-

    rotas. Agora vou colocar os sapatos de novo, sem olhar para

    seus ps. Voc nunca vai conseguir! deixou escapar Ietje. Vamos ver! disse papai. Ele pegou um sapato e comeou a

    tatear os ps diferentes debaixo da manta. No demorou mui-to para que todas as meninas comeassem a rir. Anne olhoupara o pai com admirao. Ele era um homem maravilhoso.Ningum tinha um pai to divertido quanto o seu Pim, comoela carinhosamente o chamava. Mais tarde, papai tirou uma linda foto das nove amigas. Foi

    o melhor dia de todos os tempos. Um dia que se desejaria tertodos os dias.

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  • Famlia

    Em janeiro de 1933, quando Hitler e seu partido nazista assumi-ram o poder, parte da famlia do papai j tinha deixado a Alema-nha. Tia Leni e sua famlia estavam morando na Sua havia alguns anos e, no outono de 1933, vov Frank tambm se mu-dou para l. Tio Robert e a esposa foram embora para Londresem 1933, e tio Herbert j se mudara para a Frana em 1932.

    A famlia da mame, contudo, ainda morava na Alemanha.VovHollnder e os dois tios solteiros de Anne, Julius e Walter, viviamem Aachen, perto da fronteira com a Holanda.

    A partir de 1933, os nazistas tornaram a vida dos judeus naAlemanha ainda mais difcil. Professores judeus perderam seusempregos. Judeus foram proibidos de se casar com no judeus.Havia placas em muitas cidades e vilarejos alemes informandoque os judeus no eram bem-vindos. Muitos tentaram deixar aAlemanha, procurando refgio em outros pases. Mas isso noera sempre fcil: era muito caro; depois, tinham de encontrarcasa e trabalho.

    Os pais de Anne fizeram de tudo para trazer vov Hollnderpara a Holanda, mas era muito difcil conseguir todos os docu-mentos oficiais. Ento algo terrvel aconteceu.

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  • Na noite de 9 para 10 de novembro de 1938, os nazistas ataca-ram judeus em toda a Alemanha. Mataram mais de cem judeus,prenderam mais de 30 mil. Destruram sinagogas, lojas de pro-priedade de judeus, casas e cemitrios. Essa noite ficou conhecidana histria como a Noite dos Cristais, por causa da quantidadede vidro quebrado na rua.

    Os tios de Anne, Walter e Julius, foram presos poucos dias de-pois daquela noite. Tio Julius foi liberado logo em seguida porquetinha lutado pela Alemanha na Primeira Guerra Mundial, mas tioWalter foi enviado para um campo de concentrao, que era umgrande campo transformado em priso, com cercas altas e ara-me farpado. A famlia entrou em pnico. Como fariam para liber-tar tio Walter e como poderiam tirar Julius e ele da Alemanha omais depressa possvel? E a vov? Quando dariam autorizaopara que ela fosse para Amsterd?

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    A partir de 1933, os nazistas tornaram a vida dos judeus na Alemanha ainda maisdifcil.

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  • Fugindo dos nazistas

    Conseguimos, Edith! Estavam em meados de novembro de 1938. Papai entrou na

    sala ainda de casaco. Tensa, mame olhou para ele. Parecia jsaber sobre o que ele estava falando.Papai fez que sim com a cabea. Agora vou tentar trazer o Julius para c tambm. E Walter.

    Mas no vai ser fcil. Mame parecia ansiosa. Fora, Edith. No podemos perder a esperana sussur-

    rou papai. O que foi, mame? perguntou Anne preocupada.Mame no respondeu.Papai chamou Margot, que estava no quarto. Sentem-se aqui, por favor disse.As duas meninas puxaram cadeiras e se juntaram mesa

    com os pais. Tivemos notcias da vov. Ela recebeu autorizao do go-

    verno holands para vir morar com a gente. Isso maravilhoso! disse Anne. Quando ela chega? O mais rpido possvel. Mas vov ainda precisa resolver

    algumas coisas.

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  • Anne estava feliz, muito feliz. Mas mame estava quieta. Voc no est feliz, me? perguntou Anne.Papai respondeu por ela: Mame tambm gostaria que tio Julius e tio Walter sas-

    sem da Alemanha. Mas claro que est aliviada porque, pelomenos, a vov vai poder vir.Anne agora entendia a preocupao da me. Sabia que vov,

    tio Julius e tio Walter estavam passando por grandes dificulda-des na Alemanha. A todo momento, a menina perguntava oque estava acontecendo por l, mas papai falava para ela no sepreocupar, que no era assunto para criana. Contudo, Annesabia que muitos dos problemas eram causados por aquele ho-mem chamado Hitler, que agora governava a Alemanha.

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  • Hitler odiava os judeus, e muitas pessoas concordavamcom o ponto de vista dele. Anne tambm sabia que os nazistastinham prendido seus tios e que apenas tio Julius fora solto.Tio Walter estava em algum campo de concentrao na Ale -manha. Mame tinha contado isso a elas depois que as meni-nas perceberam seu aspecto cada vez mais preocupado. Bom, meninas, vo para o quarto, por favor. Assim posso

    conversar com mame sobre o que precisamos fazer dissepapai.Anne e Margot foram para o quarto que dividiam, do outro

    lado do corredor. Margot fechou a porta, mas Anne, curiosa,apertou o ouvido contra a porta. Anne! censurou-a Margot, chateada. Quando papai e

    mame quiserem que a gente saiba de alguma coisa, eles nosdiro!

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  • Voc uma santinha do pau oco! resmungou Anne, mas

    se afastou da porta.

    No mesmo dia, o pai escreveu a uma organizao que ajuda-

    va refugiados judeus, pedindo autorizao para que tio Ju-

    lius entrasse na Holanda. Na carta, dizia que a inteno de Julius

    era seguir para os Estados Unidos e que ele estaria na Holanda

    apenas de passagem. E que ele, Otto Frank, o hospedaria em sua

    casa. No podiam fazer nada por tio Walter alm de rezar para que

    fosse liberto logo. Depois, ele tambm seguiria viagem para os

    Estados Unidos. Pelo menos, era esse o plano.

    Semanas se passaram sem novidades. Mas, no fim de dezem-

    bro de 1938, finalmente chegou uma boa notcia:

    Os nazistas soltaram Walter contou papai, aliviado.

    Mame comeou a chorar de felicidade.

    Ele vir em breve para a Holanda disse ele em seguida.

    Ele vem morar aqui, Pim? perguntou Anne.

    Papai disse que isso no seria possvel. Na Holanda, tio

    Walter ficaria em um campo de refugiados.

    Mas por qu? quis saber Margot.

    Ele no tem permisso para ficar no pas explicou pa-

    pai. O governo holands acha que j est abrigando judeus

    alemes demais. Ele vai ficar l at poder viajar para outro pas.

    Ento ele vai para outro tipo de priso? deduziu Anne.

    Mame fez que no com a cabea.

    apenas temporrio, Anne. Seus tios vo para os Estados

    Unidos.

    Para os Estados Unidos? perguntou Anne. Jura? Que

    bom! Aps alguns meses, veio o grande dia. Era maro de 1939, e

    tio Julius chegou a Amsterd. A organizao holandesa para

    29

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  • quem papai havia escrito tornou isso possvel. Tio Julius foiautorizado a se hospedar na casa da irm at viajar para osEstados Unidos. Tio Walter, infelizmente, ainda no receberapermisso para entrar nos Estados Unidos. Os planos muda-ram. Agora tio Julius se estabeleceria primeiro e esperaria queWalter pudesse segui-lo em breve.

    Depois de quase uma semana, vov Hollnder tambm

    chegou em Amsterd.

    Vov! vibrou Anne quando ouviu o barulho da chave na

    porta da frente.

    Mame e Margot j tinham ido at a porta. Papai entrou

    com vov. Anne dava pulos de alegria. Vov subiu os degraus

    da escada bem devagar. Levantou a cabea e sorriu para Anne,

    que levou um susto. Vov parecia to velhinha! Muito mais

    velha do que da ltima vez que a vira.

    Ela abraou forte a av.

    Que bom que a senhora chegou, vov!

    Mame tambm abraou e beijou vov e ajudou-a a tirar o

    casaco. Tio Julius estava aliviado que sua me havia chegado

    bem.

    Margot ajudou papai a carregar as duas malas at o canto da

    sala, que agora fora transformado num quarto para ela.

    Olha, vov! Anne apontou. Aqui est sua cama.

    Vov assentiu, agradecida, mas Anne percebeu uma grande

    tristeza em seu olhar.

    Meninas, deixem a vov sozinha um pouco pediu ma-

    me.

    Anne e Margot entenderam o recado e foram para o quarto.

    No entendo. A vov no ficou feliz de estar aqui com a

    gente? perguntou Anne.

    30

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  • Ela teve que abandonar tudo, Anne disse Margot, quasesussurrando.Tudo?, pensou Anne. Tudo mesmo? Tio Julius e vov tinham

    chegado com apenas algumas malas. Deixaram para trs m-veis, livros, quadros e todo o resto? Ou chegariam depois?De noite, Anne no aguentou e fez diversas perguntas ao

    pai. Ele respondeu calmamente:

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  • Preste ateno, Anne. Tio Julius vai para os Estados Unidos.Esperamos que tio Walter em breve se junte a ele. Vov agoraest conosco. Isso o mais importante. Os trs esto a salvo.

    Mas Pim...

    Acredite em mim, Anne. As coisas deles no so impor-

    tantes.

    Mas...

    Papai balanou a cabea. O assunto estava encerrado.

    No dia seguinte, tio Julius se preparou para viajar. Primeiro,

    ele iria de trem at Roterd, de onde embarcaria no navio

    Veendam. A campainha tocou. Mame abriu a porta e depois

    subiu a escada, toda feliz.

    Olha s, Julius! Veja s quem veio se despedir de voc!

    Tio Walter! exclamou Anne.

    Todo mundo ficou emocionado ao v-lo. Papai obteve per-

    misso para que tio Walter pudesse sair do campo de refugia-

    dos por algumas horas para se despedir do irmo. E para abraar

    a me, que ele no via havia meses. Claro, tambm para ver a

    irm, o cunhado Otto e as meninas, suas sobrinhas.

    Tio Walter sorriu. Estava muito feliz em rever todos. Claro

    que a vida no campo de refugiados no era um mar de rosas,

    falou:

    Agora mame est aqui em Amsterd, Julius est prestes a

    atravessar o oceano e, em breve, vou me juntar a ele. Todos es-

    capamos dos nazistas!

    Chegou a hora de se despedir de tio Julius.

    Vou escrever sempre que puder disse ele, enquanto dava

    um forte abrao na vov. Cuide bem da mame sussurrou

    32

    o mundo de anne frank miolo final 6/3/15 12:13 PM Page 32

  • para a irm. Ela fez que sim, mas parecia triste demais para

    responder. Meninas! dirigiu-se a Anne e Margot, forando

    um tom alegre. Continuem crescendo lindas e inteligentes!

    Um dia espero receb-las nos Estados Unidos.

    Com certeza! falou Anne, feliz. Seria timo, tio Julius!

    Em seguida, ele abraou o irmo.

    Aguente firme disse tio Julius. Espero que voc venha

    logo me encontrar.

    Tio Walter fez que sim com a cabea.

    Tio Julius apertou levemente a mo de vov uma ltima

    vez, pegou suas malas e desceu a escada com papai. Anne cor-

    reu at a janela para dar tchau. Margot e tio Walter foram atrs

    dela. Mas mame e vov s se deixaram afundar em uma ca-

    deira, sem dizer nada.

    Naquela primavera, um dia Anne chegou do colgio e correu

    at a vov porque queria lhe contar todas as novidades, como

    sempre fazia. Falaria sobre as brincadeiras de pular corda, so-

    bre as travessuras com a professora Godron, sobre as somas di-

    fceis na aula de matemtica. Sobre as histrias que Hanneli

    contara, sobre Mary e Juultje e Ietje. Vov adorava todas as

    histrias e sempre a escutava com muita pacincia. Mas na-

    quele dia ela interrompeu Anne depois de alguns minutos.

    Tenho uma surpresa para voc, Anne. Uma carta.

    Uma carta? Onde?

    Em cima da escrivaninha de vocs.

    Vou ver agora mesmo! gritou ela enquanto ia em direo ao

    quarto.

    Em cima da escrivaninha, do lado da janela, estavam duas

    cartas, uma para Margot e outra para ela.

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  • Srta. Anne Frank estava escrito na carta.

    Senhorita? Que engraado! Praa Merwede, 37, Amsterd.

    Anne viu pelo carimbo no selo que a carta tinha sido enviada

    de Amsterd. Mas o melhor de tudo era o que estava escrito no

    canto esquerdo superior do envelope: Assunto particular.

    Isso tornava a carta muito interessante mesmo!

    Anne reconheceu a letra. Era uma carta de Pim. Ela enfiou o

    dedo na abertura do envelope para abri-lo.

    No cabealho da carta, estava a data: 12 de maio de 1939.

    Isso seria amanh.

    Era o dia do casamento dos pais e a data em que o pai com-

    pletaria cinquenta anos. Naquele dia to importante, ele queria

    dar algo especial para ela. Era um costume da famlia: escrever

    uma carta ou um poema original em um dia comemorativo.

    Mame provavelmente receberia uma carta tambm.

    Mein liebes Annelein, assim comeava a carta. Minha queri-

    da Annezinha.

    Ela devorou as palavras do pai. Sorriu, gargalhou e se emo-

    cionou. Que linda carta!

    Depois, leu cada frase uma segunda vez.

    A vida com voc nem sempre fcil, Anne, dizia a carta.

    Seria bom se voc falasse mas... um pouquinho menos.

    Isso fez Anne rir. Sempre quando papai, mame, vov ou a

    professora diziam algo, ela respondia mas.... Anne realmen-

    te queria sempre saber mais. E gostava de corrigir os outros.

    Papai achava que ela deveria aprender a se acalmar, contar at

    dez e a pensar antes de falar. Porque h pessoas que ficam cha-

    teadas com esses mas, e muitas vezes os adultos tm seus

    motivos para no dar mais detalhes. Ela no precisava saber

    tudo.

    34

    o mundo de anne frank miolo final 6/3/15 12:13 PM Page 34

  • Anne continuou lendo a carta:

    Mas nada disso importa muito, desde que voc continue

    sempre sendo uma boa pessoa. Que palavras gentis! Ento

    ela leu a ltima frase: Que voc sempre continue alegre e sor-

    ridente, com esse sorriso que traz tanta alegria para sua vida,

    para a nossa e a dos outros.

    Papai assinou a carta Seu Pim.

    Anne apertou a carta contra o peito. Era a carta mais linda

    que j tinha recebido. Decidiu guard-la para sempre. Para

    sempre.

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  • Comearam as frias de vero de 1939. Quando elas acabas-

    sem, Anne iria para o quinto ano do ensino fundamental. A

    famlia no podia viajar, mas ainda havia muitas coisas diver-

    tidas para fazer. Eles iam praia, os amigos vinham brincar

    em casa e havia vrias festas. As meninas tambm passavam

    muito tempo escrevendo em lbuns de poesia, lindos cader-

    nos em que as amigas escreviam um poema ou uma dedicat-

    ria para que se lembrassem umas das outras no futuro. Juultje,

    uma colega da turma de Anne, ganhou um desses lbuns de

    presente de aniversrio de Kitty, que tambm estava com elas.

    Naquele momento, era a vez de Anne escrever algo para a ami-

    ga, e o caderno estava em cima da escrivaninha dela.

    Me, voc tem uma foto minha que eu possa usar?

    Para qu?

    Para o lbum de poesia da Juultje.

    Mame pegou uma folha com fotos 3x4 e foi procurar uma

    tesoura.

    Essas no! So do ano passado! Quero uma foto nova!

    Mas essas esto timas, Anne. Vamos mandar a foto deste

    ano para a famlia.

    Nessa foto pareo uma criana...

    do ano passado, Anne. essa ou nenhuma!

    Anne pegou a foto. Chateada, voltou escrivaninha. Abriu o

    caderno. Kitty, Hanneli e Ietje j tinham deixado mensagens e

    includo uma foto com as poesias. Comparada com as delas, a

    foto de Anne no estava to ruim assim. No havia outro jeito.

    Pegou a caneta e comeou a dar leves batidas com a ponta da ca-

    neta na mesa enquanto pensava: O que escrever? Tap, tap, tap...

    36

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  • Ela teve uma ideia. Usando sua melhor letra, escreveu:

    Querida Juultje

    O que escrever nesta folha?

    Querida, fiz esta escolha:

    Desejo sade e o poder do bem

    Muita coragem e o melhor que a vida tem

    E no importa o que acontecer

    Depois da chuva o sol sempre volta a aparecer.

    Com muito carinho

    Da amiga

    Anne Frank

    Pronto. Ficou bonitinho. Pelo menos ela achou. Anne esperou

    a tinta da caneta secar bem, e depois, nos cantos da pgina em

    que colou a foto, escreveu: Nunca se esquea de mim.

    37

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  • Ttulo Original OUTSIDE ITS WAR: ANNE FRANK AND HER WORLD

    A edio brasileira foi traduzida a partir do original holands, Buiten is het oorlog: Anne Frank en haar wereld.

    Este livro foi desenvolvido em colaborao com a Casa de Anne Frank, Amsterd. A Fundao Holandesade Letras contribuiu para este trabalho premiando a autora com uma bolsa de estudos internacional.

    Copyright Janny van der Molen, 2013 Vitgeverij Ploegsma Amsterdam. O direito da autora foi assegurado.

    Ilustraes: Martijn van der Linden, 2013, Copyright Casa de Anne Frank.Copyright fotos famlia Frank Casa de Anne Frank, Amsterd/ANNE FRANK-FONDS, Basel.

    Ilustrao da pgina 19 inspirada por uma foto da AKG-Images, Berlim/Hans Asemissen. Ilustraes das pginas 27 e 47 inspiradas pelas fotos da Imagebank wwII/The NIOD Institute for War,Holocaust and Genocide Studies, Amsterd. Ilustrao em corte transversal da Casa de Anne Frank:

    Vizualism (Chantal van Wessel, Frdrik Ruys)

    Direitos para a lngua portuguesa reservados com exclusividade para o Brasil EDITORA ROCCO LTDA.

    Av. Presidente Wilson, 231 8- andar 20030-021 Rio de Janeiro RJTel.: (21) 3525-2000 Fax: (21) 3525-2001

    [email protected] | www.rocco.com.br

    Printed in Brazil/Impresso no Brasil

    ROCCO JOVENS LEITORES

    Cip-Brasil. Catalogao na fonte.Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

    Molen, Janny van derM728m O mundo de Anne Frank: l fora, a guerra / Janny van der Molen;

    ilustrao de Martijn van der Linden; traduo de Alexandra de Vries. Primeira edio. Rio de Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2015.

    Traduo de: Outside its war: Anne Frank and her worldISBN 978-85-7980-240-9

    1. Frank, Anne, 1929-1945. O dirio de Anne Frank. 2. Frank, Anne, 1929-1945 - Arte literria. 3. Frank, Anne, 1929-1945 - Autoria. 4. Holocausto judeu

    (1939-1945) - Narrativas pessoais - Pases Baixos - Histria e crtica. 5. Escrita criativa. I. Linden, Martijn van der. II. Ttulo.

    15-20323 CDD 940.53492 CDU 94(100)'1939/1945'

    O texto deste livro obedece s normas do Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa.Impresso pela Grfica Stamppa, Rio de Janeiro RJ.

    GERENTE EDITORIALAna Martins Bergin

    EDITORA RESPONSVELMilena Vargas

    EQUIPE EDITORIALElisa MenezesLarissa HelenaManon Bourgeade (arte)Viviane Maurey

    ASSISTENTES

    Gilvan Brito (arte)Silvnia Rangel (produo grfica)

    REVISO

    Sophia LangWendell Setubal

    PREPARAO DE ORIGINAIS

    Luza Ulhoa

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