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O Município no Brasil Colônia e sua transição para o Império: o primeiro “surto emancipacionista” Resumo No Brasil, o Município precedeu ao próprio Estado Unidade da Federação constituindo- se, desta forma, os fundamentos da Federação. Atualmente o Brasil possui 5.570 municípios, contudo o ritmo de criação das unidades municipais variou no tempo e no seu extenso território. Vários fatores contribuíram para que esse ritmo se alternasse ao longo da história do país, dentre eles a forma de governo, o baixo contingente do conquistador vis-à- vis a extensão territorial da colônia, a ameaça estrangeira, os ataques indígenas, a diversidade geográfica, os ciclos econômicos, etc. Durante o longo período do Brasil Colônia, não se verificou crescimento vertiginoso do número de vilas e cidades. Contudo, na transição para o Império ocorreu pela primeira vez o que muito autores chamam de “surto emancipacionista”, contrariando a ideia de que a “explosão” da criação de municípios no Brasil aconteceu apenas no período da República, notadamente, na Nova República, quando a Constituição Federal de 1988 concedeu autonomia às unidades federativas sobre a temática das emancipações e, em decorrência disso, foram criados mais de mil municípios. O objetivo desta pesquisa é, portanto, trazer à baila a discussão de que o Brasil tem histórico emancipacionista desde a transição para o Império, e que os “surtos” ocorrem em momentos oportunos da política brasileira e em função do “represamentoda criação de novos municípios, como se assiste nos dias atuais. Palavras-chave: Povoamento, História do Brasil, Municípios brasileiros, Emancipações. TEMA 14: As múltiplas abordagens da história da população

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O Município no Brasil Colônia e sua transição para o Império: o primeiro “surto emancipacionista”

Resumo

No Brasil, o Município precedeu ao próprio Estado – Unidade da Federação – constituindo-se, desta forma, os fundamentos da Federação. Atualmente o Brasil possui 5.570 municípios, contudo o ritmo de criação das unidades municipais variou no tempo e no seu extenso território. Vários fatores contribuíram para que esse ritmo se alternasse ao longo da história do país, dentre eles a forma de governo, o baixo contingente do conquistador vis-à-vis a extensão territorial da colônia, a ameaça estrangeira, os ataques indígenas, a diversidade geográfica, os ciclos econômicos, etc. Durante o longo período do Brasil Colônia, não se verificou crescimento vertiginoso do número de vilas e cidades. Contudo, na transição para o Império ocorreu pela primeira vez o que muito autores chamam de “surto emancipacionista”, contrariando a ideia de que a “explosão” da criação de municípios no Brasil aconteceu apenas no período da República, notadamente, na Nova República, quando a Constituição Federal de 1988 concedeu autonomia às unidades federativas sobre a temática das emancipações e, em decorrência disso, foram criados mais de mil municípios. O objetivo desta pesquisa é, portanto, trazer à baila a discussão de que o Brasil tem histórico emancipacionista desde a transição para o Império, e que os “surtos” ocorrem em momentos oportunos da política brasileira e em função do “represamento” da criação de novos municípios, como se assiste nos dias atuais.

Palavras-chave: Povoamento, História do Brasil, Municípios brasileiros, Emancipações.

TEMA 14: As múltiplas abordagens da história da população

1- INTRODUÇÃO

Os estudos que tratam da criação de municípios no Brasil, através das

emancipações distritais, são relativamente fartos quando se referem a períodos mais

recentes, notadamente a partir da Constituição Federal de 1988 (BREMAEKER, 1991 e

1996; NORONHA, 1996; SOUZA, 1997; KLERING, 1998; RIBEIRO, 1998; KASZNAR, 1999;

GOMES & MAC DOWELL, 2000; TOMIO, 2002; FLEURY, 2003; LORENZETTI, 2003;

FAVERO, 2004; BRANDT, 2008; WANDERLEY, 2008; CIGOLINI, 2009; PINHEIRO, 2013;

NUNES & GARCIA, 2014; NUNES, GARCIA & OLIVEIRA, 2014, 2015; SHIKIDA, s.d.), e

muitos outros. Contudo, esses estudos tornam-se escassos à medida que se regride a

períodos mais pretéritos de nossa história.

Os registros históricos revelam que durante o longo período do Brasil Colônia o

número de vilas e cidades, e seus “termos”, evoluiu de forma gradual. Enquanto que, na

transição para o Império, verificou-se um grande incremento do número de municípios, como

se os pedidos para a emancipação estivessem represados ou aguardando momento político

oportuno. Na condição de colônia, o Brasil estava sujeito aos interesses da Metrópole

portuguesa. Embora o sistema político-administrativo herdado dos lusitanos tivesse que se

adaptar à realidade da Colônia e de suas atividades econômicas.

Nos três primeiros séculos da colonização a economia brasileira é parte do universo

mercantilista, cuja base é o Pacto Colonial, ou seja, a Colônia existe para fornecer matéria-

prima à Metrópole (IGLÉSIAS, 1993). Assim, as primeiras cidades coloniais, que tiveram

seus “termos” definidos para a configuração dos limites municipais, surgiram ao longo do

vasto litoral brasileiro como resultado dessa amálgama: povoamento (de caráter

exploratório) e bases locais, que constituíam os pontos de exportação das riquezas.

Esse estudo, portanto, irá elencar os principais acontecimentos externos e internos,

fatos históricos e agentes que contribuíram para o surgimento das vilas e cidades no Brasil

Colônia e no período de transição para o Brasil Império, quando se iniciaram os surtos

emancipacionistas, típicos do Brasil República – conforme referências supracitadas. Para

isso, foi imprescindível arregimentar dados em meio digital, derivados da importante obra do

geógrafo Aroldo de Azevedo (1992) sobre o surgimento das vilas e cidades no Brasil colonial.

2- A ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA NO BRASIL COLÔNIA E O SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS VILAS E CIDADES

Essa seção fará uma breve incursão histórica, visando contextualizar o surgimento

dos primeiros municípios no Brasil, bem como a sua expansão durante o Brasil Colônia até

a transição para o Império. Antes, todavia, formalizou-se sinteticamente os aspectos

metodológicos da pesquisa.

2.1- Aspectos metodológicos Dois eixos principais sustentam essa pesquisa: a) revisão bibliográfica, numa

perspectiva historiográfica, em que o pesquisador fundamenta o seu texto a partir de obras

importantes que permitem situar o seu objeto de pesquisa (CANABARRO, 2008); b) análise

do surgimento de vilas e cidades no período colonial, a partir das informações obtidas e

dados quantitativos coletados das principais referências elencadas.

No primeiro eixo, alguns autores foram imprescindíveis. No caso de Azevedo (1992),

sua obra utilizada nesta pesquisa, antes em formato analógico, hoje digitalizada. Da mesma

forma, autores como Odair Alves (1986), Francisco Iglésias (1993), Caio Prado Jr. (1998),

Celso Furtado (1998) e Raymundo Faoro (2012) foram, da mesma forma, importantes para

correlacionar os principais fatos históricos ao povoamento do Brasil e, consequentemente, à

criação de vilas e cidades. Outros autores também trouxeram contribuições bem pontuais à

compreensão de fatores responsáveis pelo surgimento das primeiras municipalidades

brasileiras.

Assim, o principal percurso desse estudo é de caráter historiográfico, seja para situar

o objeto de pesquisa, seja para escolher a metodologia que permita dar conta do seu

desenvolvimento. Evidentemente, seria de maior relevo se se pudesse contar com dados

demográficos para o período de análise. Em Minas Gerais e em muitos territórios do Império

português, a contagem da população passou a ser realizada a partir da década de 1770

(STUMPF, 2017), o que impede o conhecimento detido do tamanho das vilas do período. No

entanto, isso não torna a pesquisa menos relevante, uma vez que foram identificados os

primeiros “surtos emancipacionistas” em períodos ainda remotos da história desta nação –

o seu principal objetivo.

2.2- Percursos históricos: o surgimento das primeiras vilas no Brasil A paisagem de hoje do território nacional, sua organização e distribuição de cidades,

é o produto do “acúmulo de tempo” (Santos,1997). O território de hoje ainda se associa às

normas instituídas no passado. Sem entendê-las, não seremos capazes de melhor

compreender os espaços atuais (ABREU, 1997). Os ritmos do povoamento e as mudanças

impressas no espaço foram, portanto, diferenciados.

Durante os primeiros trinta anos após a chegada de Cabral, Portugal não se

preocupou em oferecer ao Brasil uma administração regular (a Carreira das Índias lhe era

muito mais rendosa). Com o declínio dos lucros nas Índias, a Coroa, então, deu início à

colonização do Brasil erigindo vilas e instituindo órgãos do Poder Judiciário. Evidentemente,

as leis que aqui passaram a vigorar eram as da Metrópole (BANDECCHI, 1972).

Os primeiros municípios da América portuguesa surgiram a partir de 1532, sob a

vigência das Ordenações Manuelinas (promulgadas em 1521). Todavia, as leis herdadas do

reino português não se ajustavam à Colônia. Assim, essas Ordenações não foram seguidas

à risca no Brasil. Aliás, o próprio sistema sesmarial apresentou falhas quanto à concessão

de terras. Martim Afonso, primeiro governador-geral, contrariou o texto régio que estabelecia

que a doação seria vitalícia, não de caráter perpétuo. No entanto, não há dúvida que essa

modificação se adequou melhor aos objetivos da colonização (ABREU, 1997).

Pêro Borges, primeiro Ouvidor-Geral, ao chegar ao Brasil em 1549, observou entraves

à colonização. Escreveu longa carta a D. João criticando a Justiça, pois as Ordenações

foram feitas tendo em vista os povos de lá e não os de cá. “Esta terra, Senhor, para se

conservar e ir avante, há mister não se guardarem em algumas coisas as ordenações, que

foram feitas não havendo respeito aos moradores daqui” (BANDECCHI, 1972, p. 18).

Ressalte-se que o Estado português tinha estabelecido um acordo com o Papado, no

qual recebia os dízimos relativos à Igreja e ficava responsável pela manutenção das

despesas da Igreja no Brasil, conhecido como padroado. O pagamento desse tributo à Coroa

e as consequentes obrigações que esta teve que assumir constituíram peças fundamentais

do processo de organização territorial do Brasil, e fizeram surgir um engenhoso sistema de

regionalização da cobrança (ABREU, 1997).

Segundo Vasconcelos (1997), a Igreja teria papel fundamental na Colônia à medida

que definia localizações das catedrais e das igrejas matrizes e delimitava as áreas territoriais

correspondentes (as paróquias). As ordens leigas, o Estado, os agentes econômicos e a

população foram agentes modeladores das cidades brasileiras no período colonial.

Os agentes tiveram diferentes papéis durante os quase três séculos do período colonial. Durante este período a Igreja teve um papel importante, porém declinante no fim do período, ao passo que o Estado manteve seu papel e mesmo o ampliou no final da colônia (VASCONCELOS, 1997, p. 268).

Fonseca (2011), ao pesquisar sobre a gênese dos espaços urbanos em Minas,

atribuiu o processo de urbanização às funções religiosas e comerciais sem apontar aquela

que deteve a primazia1. Já Santin e Flores (2006) admitem que as municipalidades se

1 O processo de urbanização teria sido iniciado por necessidades de ordem espiritual ou material? Para alguns

autores, a primazia deve ser atribuída à função religiosa. Segundo eles, era a construção de uma primeira capela que atraía novos moradores, o comércio e as outras atividades urbanas seriam, portanto, uma consequência desta função primordial. Para outros autores, a população teria, ao contrário, erguido igrejas e habitações em lugares que já possuíam uma função comercial, ou seja, nas proximidades dos pousos situados ao longo das estradas e dos ranchos, onde se reuniam os tropeiros (FONSECA, 2011, p. 430). É quase impossível identificar o elemento determinante de tal transformação, que permitiu o nascimento e o

desenvolveram não apenas sob a influência da Igreja, mas também com o apoio dos

donatários para a formação administrativa e política do Brasil.

No início da colonização, contudo, era comum que o estabelecimento das cidades e

vilas geralmente antecedesse ao povoamento, isto porque o seu próprio fundador (o capitão-

mor regente), detinha carta concedida pelo rei ou governador (FAORO, 2012).

Com relação a distinção entre vila e cidade, convém considerar o fato de o Brasil ter

pertencido à Ordem de Cristo, da qual o Rei era Grão-Mestre, Isso fez com que só vilas

fossem criadas nos tempos coloniais, pois as cidades deviam se assentar em terras isentas

de senhorios. A questão era mais de ordem eclesiástica, pois o Vaticano não consentia que

bispados fossem instalados em vilas e sim em cidades, por serem os bispos nobres de

primeira grandeza e príncipes titulares.

Destarte, os primeiros municípios fundados no Brasil com o nome de vila foram: São

Vicente, instalada em janeiro de 1532 por Martim Afonso de Sousa; Olinda (1537); Santos

(1545); Salvador (1549); Santo André da Borda do Campo (1553); São Paulo do Campo do

Piratininga e Rio de Janeiro (1567). Tudo indica que, no findar do século XVI, existiam no

Brasil 14 vilas (AZEVEDO, 1992), conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1 – Brasil Colônia: 1532-1600. Evolução do número de vilas, conforme as atuais grandes regiões)

DATAS DENOMINAÇÕES (original e atual) UNIDADE ATUAL

REGIÃO NORDESTE

1536 1- Igaraçú Pernambuco

1537 2- Olinda Pernambuco

1599 3- Natal Rio Grande do Norte

REGIÃO LESTE

1535 1- Porto Seguro Bahia

1536 2- São Jorge dos Ilhéus (atual Ilhéus) Bahia

1536 3- Santa Cruz (atual Santa Cruz Cabrália) Bahia

1551 4- Espírito Santo Espírito Santo

1551 5- Nossa Senhora da Vitória (atual Vitória) Espírito Santo

1590 6- São Cristóvão Sergipe

REGIÃO SUL

1532 1- São Vicente São Paulo

1545 2- Santo André da Borda do Campo (atual Santo André) São Paulo

1558 3- São Paulo de Piratininga (atual São Paulo)

São Paulo

1561 4- N. S. da Conceição de Itanhaém (atual Itanhaém) São Paulo

1600 5- São João Batista da Cananéia (atual Cananéia) São Paulo

Fonte: Adaptado de Azevedo (1992).

A maior parte das vilas fundadas, entretanto, estava localizada na faixa litorânea, já

que fora um grande desafio para a Coroa realizar as primeiras incursões sertanistas, ainda

crescimento das cidades no Brasil. Contudo, dois lugares havia de suma importância para a população das vilas e cidades coloniais: “a igreja que era de todos e a venda que era para todos” (TORRES, 1944, p. 55 apud AZEVEDO, 1992, s.p.).

no século XVI, em busca de pedras e metais preciosos. Era necessário um sistema de

governo que pudesse incentivar a fixação e a permanência do colonizador nessas paragens.

2.3- A administração territorial pioneira: o Brasil “bipolar” e a “civilização litorânea”

Os portugueses se deram conta de que estavam diante de um extenso território

voltado para o Atlântico, e de difícil penetração do seu interior (PRADO JR., 1998). Além

disso, tiveram que conviver com as constantes ameaças das invasões francesa, inglesa e

holandesa, e dos ataques dos nativos. Pesava ainda a indefinição quanto aos limites

territoriais, notadamente na região da Bacia do Prata, com o seu vizinho ibérico.

Ao constatar a não ocorrência de metais preciosos, os portugueses adiaram a

instalação de um típico empreendimento mercantil-colonial, limitando-se a assentar, até

meados do século XVI, pequenos e dispersos entrepostos de escambo e comercialização

do pau-brasil. Esta frágil presença estava longe de configurar uma verdadeira estratégia

geopolítica de ocupação e domínio de um território. Então, resolveram evoluir para bases

mais sólidas de ocupação, por meio de empreendedores privados dispostos (COSTA, 1989).

Assim, a primeira forma administrativa apresentada foi eminentemente

descentralizada – o sistema de capitanias hereditárias (FREIRE, 1906), instituído em 1534

por dom João III. Inicialmente foram catorze capitanias e doze donatários. Eram hereditárias

e não tinham relações umas com as outras.

Este sistema vigoraria até 1548, quando a Coroa instalou o governo-geral, pouco

eficaz no povoamento da terra. Os donatários não pretendiam povoar, mas arrecadar,

depressa. As donatarias fracassaram, bem como as capitanias, mas a terra prosperava2.

“[...] malograva-se o sistema, mas vingava o negócio” (FAORO, 2012, p. 166).

A instalação de um governo-geral visava, sobretudo, a defesa contra os constantes

ataques dos índios e de estrangeiros. A missão era vigiar o litoral, já que a expansão colonial

para o interior seria gradual e conflituosa. A “insistência de estrangeiros na costa, para

ocupá-la ou simples contrabando, levava o governo a fazer fortalezas, colocar forças em

determinados pontos e a manter pequenas frotas [...]” (IGLÉSIAS, 1993, p. 37). Assim, as

escassas vilas litorâneas existentes funcionavam também como estratégia de defesa.

Em 17 de dezembro de 1548, dom João III nomeou Tomé de Sousa como o primeiro

governador-geral do Brasil, fixando os poderes do governador, temporariamente designado.

Este sistema, mesmo que frágil, duraria enquanto existisse a Colônia, e em muito

2 Apenas duas capitanias foram exitosas: a de Pernambuco, de Duarte Coelho, e a de São Vicente, de Martim

Afonso de Souza. Persistia um quadro de semiabandono do novo território, uma vez que o dispêndio de capitais seria enorme, dado as suas dimensões. “Se as capitanias eram a descentralização, o governo-geral era, como o nome indica, a centralização” (IGLÉSIAS, 1993, p. 26).

interessava à Metrópole. Primeiro, por assegurar a posse do novo território diante das

ameaças externas, segundo, por interiorizar o povoamento à custa do desbravamento de

novas terras, com base no trabalho escravo (COSTA, 1989).

A Coroa, ao incentivar a colonização por meio da concessão de terras para a

construção de engenhos de açúcar aos que tivessem posses, incentivou também a sua

concentração (ABREU, 1997), o que reflete até hoje na estrutura fundiária brasileira3.

Não obstante, a interiorização da colonização ainda parecia distante. O povoamento

se concentrava nas adjacências de um ponto de comando do território, geralmente uma vila.

Por esta razão, a fronteira entre as terras já concedidas e as que ainda estavam disponíveis

para doação foi rapidamente se afastando dos núcleos de colonização (ABREU, 1997).

No Brasil Colônia não houve sistemas urbanos sólidos que permitissem o

entrelaçamento dos povoados e das emergentes vilas das capitanias. Azevedo (1992)

chama atenção para o fato de que o sistema de povoamento e as atividades econômicas

desenvolvidas fora da área mineradora contribuíram para essa tendência antiurbanizante.

Dessa forma, as sesmarias e as fazendas de gado estimulavam a dispersão demográfica,

assim como os engenhos de açúcar eram responsáveis pela concentração populacional que

gravitava em torno das “casas-grandes".

Matos (2011) observa que, naquele período, no próprio continente europeu a vida

urbana era incipiente e a grande maioria da população vivia em áreas rurais. Deste modo,

falar em cidades no Brasil Colonial é focalizar territórios densos de pequeno tamanho, muito

distantes das grandes densidades das sociedades urbano-industriais do século XX4.

Contudo, à medida que os núcleos de povoamento mais densos se expandiam, diversificava-

se a economia e surgiam grupos sociais que acumulavam poder não rural, por meio do

comércio de maior porte e da participação na administração colonial (MATOS, 2011, p. 43).

Holanda (2016) afirma que os portugueses não instauraram no Brasil uma civilização

agrícola, mas uma civilização de raízes rurais. Foi nas propriedades rústicas que toda a vida

da Colônia se concentrou durante os séculos iniciais da ocupação europeia: as cidades eram

dependentes delas. Sem o incremento das cidades e a formação de classes não agrícolas,

a terra se concentrou, gradativamente, nas mãos de poucos. Holanda (2016), entretanto,

não ignorou que a burguesia emergente das cidades, notadamente os comerciantes, se

rivalizou com os proprietários rurais detentores do monopólio das Câmaras Municipais, muito

3 Estrutura que foi validada pela Lei de Terras (nº 601, de 18 de setembro de 1850), que reconheceu as

sesmarias antigas e ratificou formalmente o regime de posses, e instituiu a compra como a única forma de obtenção de terras. Só em 1854 que essa lei foi regulamentada (SILVA, 1996 apud ABREU, 1997, p. 229).

4 Azevedo (1992), ao se fundamentar no historiador Max Fleiuss (s.d., p. 4), considera que os núcleos de povoamento no Brasil eram modestíssimos e “um esboço dos nossos primeiros núcleos da organização político-administrativa” e que eles, pouco a pouco, com a chegada de mais colonos, a feitoria se convertia em aldeamento ou povoado, depois floresciam as vilas e as cidades.

poderosas no início do Brasil Colônia5. Serve de exemplo a disputa entre a aristocracia rural

de Olinda e os comerciantes de Recife, até então distrito daquela Vila. A disputa culminaria,

entre os anos de 1710 e 1711, na Guerra dos Mascates (GRILLO JR. 2013)6.

Este poder político do Brasil Colônia, especialmente no Nordeste, foi denominado

por Costa (1989) de “bipolar”. Um lado representado pelo governo-geral, que expressava o

Estado português no controle do sistema tributário, militar e comercial. De outro lado havia

a força política do poder local existente no modo de funcionamento das Câmaras Municipais,

onde se expressava o poderio dos proprietários rurais, os “homens bons”, os únicos que

possuíam direitos políticos (votar e serem votados). As câmaras poderiam fixar tributos

locais, regular moedas, organizar a defesa e o ataque aos índios. Permanecia, no entanto,

a característica principal da gestão política da colônia – a sua dispersão (COSTA, 1989).

Em suma, o modo como se efetivou a colonização portuguesa no primeiro século foi

criticado por Frei Vicente do Salvador, ao salientar que os portugueses, como ótimos

desbravadores de terras, se contentavam, todavia, em andar como caranguejos, ocupando

apenas estreita faixa do litoral brasileiro.

A ocupação do litoral, partindo dos focos de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Vicente, foi obra da metrópole, obra oficial e empreendida por seus agentes. Os pontos extremos dessa jornada, para a qual o Atlântico serviu de via unificadora, se fixaram no Rio Grande do Sul e na bacia do Amazonas, já entrado o século XVII, na tentativa de recortar o perfil geográfico do Brasil entre os dois maiores cursos d’água do continente sul (FAORO, 2012, p. 178).

Até o final do século XVI, poucas eram as vilas instaladas no Brasil, mesmo assim a

maioria estava localizada ao longo da costa brasileira, conforme mostra a Figura 1.

No decorrer do primeiro século a colonização pouco avançou, e a “ocupação do

litoral” teria fim com as incursões dos bandeirantes no século XVII. Havia, pois, um mundo

novo, entre o mar e o sertão, entre o mar e a serra (FAORO, 2012). Para “mergulhar” no

sertão era necessário se afastar do litoral. Mas faltava um elemento motivador para penetrar

o interior.

5 Este domínio político pelos senhores rurais perpetuou no Brasil por vários séculos, culminando na República

Velha com o fenômeno do “coronelismo” (LEAL, 1997). 6 “No Recife, forma-se, logo, uma burguesia rica que passa a dominar, econômicamente (sic), a Capitania.

Seus componentes, que eram negociantes e na maioria portuguêses (sic), querendo ingressar na Câmara, sofreram forte oposição dos olindenses, que os chamavam de mascates por se dedicarem ao comércio. Em 1703 conseguiram os recifenses, os mascates, o direito de disputar cargos em Olinda, mas esta ordem foi anulada, em seguida. Só restava, então, à elevação do distrito de Recife à categoria de Vila, desmembrando-se de Olinda. A luta se acendeu entre burguesia e aristocracia” (BANDECCHI, 1972, p. 29).

Figura 1- Marcha do Povoamento e a Urbanização do Século XVI no Brasil Fonte: Adaptado de Azevedo (1992).

2.4- A interiorização da colonização: bandeirismo e transição entre ciclos econômicos na construção de novas territorialidades

Os 150 primeiros anos da colonização portuguesa no Brasil foram marcados por

lenta expansão territorial. Isso porque a Coroa contava com um efetivo populacional bem

reduzido, vis-à-vis à grande dimensão da Colônia e a necessidade de vigiar o seu litoral das

invasões. Além disso, pesava à administração metropolitana a grande distância entre

povoados e vilas já instalados, e também o desafio de conhecer o sertão. A penetração seria

obra oficialmente orientada, com estrutura militar do Reino já implantada na Colônia.

No início do século XVII, o litoral brasileiro, apesar da persistência dos vazios de

ocupação, já estava relativamente povoado, desde São Vicente até a foz do Amazonas. Vale

lembrar que Belém do Pará foi fundada em 1616, após expulsão dos estrangeiros. A

pecuária extensiva no sertão nordestino e meio-norte se encarregou de ocupar boa parte

dessas regiões, adensando-se ao longo dos vales fluviais. Os jesuítas, por seu turno,

instalaram suas missões pelo oeste do território e atingiram o extremo norte. Os

bandeirantes, partindo de São Paulo, abriram vias de circulação e criaram algumas pré-

condições para ocupações futuras, em especial com a descoberta do ouro em Minas Gerais.

Os vicentinos rumaram, a partir do litoral, em direção ao Rio da Prata, onde enfrentaram o

domínio espanhol (em fins do século XVII) e ocuparam parte dos campos gerais meridionais

mediante criação e comércio de gado empreendidos por luso-brasileiros (COSTA, 1989).

A economia canavieira, sobretudo a que estava assentada na Zona da Mata

nordestina, era a atividade econômica mais rentável durante o período colonial, embora essa

renda estivesse fortemente concentrada entre os donos de engenho (FURTADO, 1998). A

atividade suplantou, inclusive, a mineradora que se iniciaria no final do século XVII – por isso

conseguiu fixar os homens e seus sonhos de riqueza na orla litorânea por tão longo tempo

(SIMONSEN, 1957).

A produção açucareira, fundamento econômico dos séculos XVI e XVII, foi a forma

de inserção da Colônia no mercado mundial. A agricultura era sustentada pelo trinômio:

latifúndio, monocultura e escravagismo. No entanto, a economia canavieira revelaria a sua

primeira crise no final do século XVII, quando as exportações do açúcar brasileiro, em sua

grande maioria proveniente do Nordeste, começaram a minguar7 (FURTADO, 1998).

Em decorrência, aconteceria importante dispersão demográfica em direção ao

interior nordestino. O prestígio e certa opulência de Pernambuco e do nordeste litorâneo

acabaram impondo outras necessidades que sucederam a atividade canavieira. A ocupação

do interior se intensificava através da pecuária e surgiram outras culturas como a do tabaco

e do algodão que ganhariam notoriedade econômica no Nordeste (IGLÉSIAS, 1993).

A Figura 2 ilustra a marcha do povoamento no Brasil no século XVII; observa-se que

o povoamento se expande pelo sertão nordestino por vales dos principais rios, como o São

Francisco e o Amazonas.

A atividade criatória nordestina era muito dependente da economia açucareira. Em

princípio, a expansão desta comandava a daquela, em consequência ampliava-se a

penetração nos sertões. O crescimento do rebanho, associado à crise do setor açucareiro,

fazia com que sempre houvesse emprego para a força de trabalho que crescia

vegetativamente (FURTADO, 1998).

A crise econômica colocou Portugal em uma busca “feroz” de novas fontes de renda,

uma vez que a Coroa vivia das inúmeras taxas e impostos arrecadados na Colônia. Este

cenário estimulou que aventureiros e bandeirantes se colocassem a postos em busca do

ouro e de pedras preciosas.

Segundo Azevedo (1992), ao longo do século XVII foram criadas dezenas de vilas

no Brasil, sobretudo nas macrorregiões antes denominadas Leste e Sul do Brasil, conforme

7 A economia canavieira do Brasil foi afetada, primeiro, devido à concorrência antilhana, que se beneficiava de ótima posição geográfica, já que a Holanda havia começado a produzir açúcar nas Antilhas, de boa qualidade, com preços mais baixos, equipamentos novos e exportando o produto para a Europa – principal mercado consumidor. A contribuição dos holandeses para a grande expansão do mercado do açúcar já ocorria deste a segunda metade do século XVI, e por isso constitui fator fundamental do êxito da colonização do Brasil (FURTADO, 1998). Segundo, a descoberta do açúcar a partir de outras fontes de sacarose. Em 1747, um químico alemão obteve os primeiros cristais a partir do suco extraído de raízes de beterraba. Entretanto, apenas no início do século XIX que a nova indústria teve finalmente oportunidade para se desenvolver, já que a Europa assistia às guerras napoleônicas, com o bloqueio britânico e o consequente racionamento do açúcar – o que acendeu um novo alerta à Coroa Portuguesa.

mostra o Quadro 2.

Figura 2- Marcha do Povoamento e a Urbanização do Século XVII no Brasil. Fonte: Adaptado de Azevedo (1992).

Quadro 2- Brasil Colônia: 1608-1700. Evolução do número de vilas por grandes regiões.

DATAS DENOMINAÇÕES (original e atual)

UNIDADE ATUAL

REGIÃO NORTE

1632 1- Vila Viçosa da Santa Cruz do Cametá (atual Cametá) Pará

1634 2- Vila Souza de Caeté (atual Bragança) Pará

1661 3- Gunipi(?)* Pará

REGIÃO NORDESTE

1627 1- Vila Formosa (atual Sirinhaém) Pernambuco

1636 2- Bom Sucesso do Porto Calvo (atual Porto Calvo) Alagoas

1636 3- Santa Maria Madalena da Alagoa do Sul (atual Marechal Deodoro) Alagoas

1636 4- Penedo do Rio de São Francisco (atual Penedo) Alagoas

1637 5- Santo Antônio de Alcântara (atual Alcântara) Maranhão

1700 6- São José de Aquirás (atual Aquirás) Ceará

REGIÃO LESTE

1608 1- Angra dos Santos Reis da Ilha Grande (atual Angra dos Reis) Rio de Janeiro

1608 2- Cairú Bahia

1665 3- Santo Antônio da Itabaiana (atual Itabaiana) Sergipe

1667 4- Parati Rio de Janeiro

1677 5- São João do Paraíba (atual São João da Barra) Rio de Janeiro

1677 6- São Salvador dos Campos dos Goitacazes (atual Campos) Rio de Janeiro

1689 7- Guarapari Espírito Santo

1693 8- Nossa Senhora do Rosário de Cachoeira (atual Cachoeira) Bahia

1693 9- Nossa Senhora da Ajuda de Jaguaripe (atual Jaguaripe) Bahia

1693 10- Camamú Bahia

1693 11- São Francisco da Barra do Sergipe do Conde (atual São Francisco do

Conde) Bahia

1697 12- Santo Antônio de Sá de Macacú (atual Japuiba) Rio de Janeiro

1697 13- Santo Amaro das Brotas Sergipe

1699 14- Iguaçu (atual Duque de Caxias) Rio de Janeiro

Fonte: Adaptado de Azevedo (1992). *Localidade não identificada.

2.5- A expansão dos territórios do sul: a pecuária e os surtos de riqueza oriundos da mineração nos setecentos

Da crise do setor açucareiro decorreu a diversificação econômica nordestina, o que

impulsionou a atividade pecuarista que rumaria para o sul, através dos vales de rios, como

o São Francisco e seus afluentes das duas margens8. Era o período da colonização dos

“sertões de dentro”, quando a Coroa Portuguesa também se preocupava com o

abastecimento interno das povoações e engenhos da Bahia e Pernambuco.

Verificou-se, assim, a intensificação de arraiais e fazendas de gado pelo interior da

Bahia e de Minas Gerais, já no final do século XVII. A expansão desses currais, momento

antes do ciclo do ouro, permitiu o surgimento dos primeiros núcleos urbanos, que serviam

de pouso para tropeiros, bandeirantes e aventureiros, e que se desenvolveram graças ao

incipiente comércio de alimentos, artigos e utensílios domésticos. Os caminhos abertos que

antecederam à mineração, somados às trilhas palmilhadas pelos bandeirantes, iriam formar

as primeiras artérias da atual rede de cidades do território nordestino (FERREIRA, 1999).

A descoberta de ouro em quantidade como ocorreu em Minas Gerais na última

década dos seiscentos, e que se estendeu pelo século XVIII, iria colaborar para o

devassamento do território (IGLÉSIAS, 1993). Concomitantemente, a atividade pecuarista

se tornava mais vigorosa no Nordeste e Sul do Brasil, e ganharia cada vez mais projeção

econômica no atual Sudeste. O interior do país adquiria dinamismo econômico em torno das

minas, e inúmeras fazendas surgiram próximas dos núcleos mineradores, muitas situadas

ao longo das estradas que ligavam os diversos centros de extração aurífera – em particular,

8 As terras localizadas à margem esquerda do rio São Francisco, no atual território baiano, pertenciam à

Capitania de Pernambuco. “‘O São Francisco’ – escreve Vicente Licínio Cardoso, ampliando a intuição do gênio de Euclides da Cunha – ‘é a coluna magna de nossa unidade política, o fundamento basilar que reagiu e venceu todos os imperativos caracterizadamente centrífugos oferecidos pelo litoral’ – ‘laço cósmico’ que uniu os ‘bandeirantes do sul e os do nordeste’” (FAORO, 2012, p. 180).

REGIÃO SUL

1611 1- Santana de Mogi das Três Cruzes (atual Mogi das Cruzes) São Paulo

1625 2- Santana de Paraíba São Paulo

1636 3 - São Sebastião São Paulo

1637 4- Exaltação da Santa Cruz de Ubatuba (atual Ubatuba) São Paulo

1645 5- São Francisco das Chagas de Taubaté (atual Taubaté) São Paulo

1653 6- Nossa Senhora da Conceição do Rio Paraíba (atual Jacareí) São Paulo

1653 7- Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá (atual Paranaguá) Paraná

1655 8- Nossa Senhora do Desterro do Campo Alegre de Jundiaí (atual Jundiaí) São Paulo

1657 9- Santo Antônio do Guaratinguetá (atual Guaratinguetá) São Paulo

1657 10- Nossa Senhora da Candelária do Outú Guaçú (atual Itu) São Paulo

1660 11- Rio de São Francisco do Sul (atual São Francisco do Sul) Santa Catarina

1661 12- Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba (atual Sorocaba) São Paulo

1665 13- Nossa Senhora das Neves de Iguape (atual Iguape) São Paulo

1693 14- Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba (atual Curitiba) Paraná

os caminhos que conduziam ao Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Bahia. Em certos casos,

permitiram a formação de pequenos arraiais em suas terras (FONSECA, 2011).

[...] se o século XVII, o das Bandeiras, foi o século da expansão territorial, da conquista e do povoamento, o século do ouro, o XVIII foi, com o declínio do patriarcalismo rural, no norte, e do movimento das Bandeiras, ao sul, o século do desenvolvimento das cidades, onde se formara e já ganhava corpo a nova classe burguesa, ansiosa de domínio, e já bastante forte para enfrentar o exclusivismo das famílias de donos de terras (AZEVEDO, 1971, p. 68 apud AZEVEDO, 1992, s. p.).

Visando um melhor controle das áreas mineradoras, em dezembro de 1720 a

Capitania de Minas se desmembrou da de São Paulo, sob o governo de D. Lourenço de

Almeida. Antes, havia se tornado uma unidade político-administrativa própria, ao se separar

do Rio de Janeiro a capitania de São Paulo e Minas do Ouro, em 1709 (IGLÉSIAS, 1993).

Nesse sentido, a descoberta do ouro resolveria um problema antigo da Coroa, que

persistia desde o início da colonização: necessitava atrair e fixar grandes contingentes

humanos no interior do Brasil, inclusive com o estabelecimento de uma grande via interior,

que foi o caminho da Bahia para as Minas Gerais (LIMA JR., 1978, p. 40-41).

Os arraiais do ouro se expandiram pelo Jequitinhonha. A mineração, começou nas

antigas lavras do aurífero Hivituruí. Logo, o atual município do Serro foi desmembrado do

termo da vila de Sabará, em janeiro de 1714, e elevado à categoria de vila. A descoberta de

diamantes nos anos de 1720, permitiu o florescimento da atual Diamantina. Localidade que

viria a ser o arraial do Tejuco, uma área de intenso afluxo de garimpeiros (NUNES, 2001).

Desta forma, duas modificações de fundamental importância alteraram

substancialmente o curso da formação territorial do Brasil. A primeira foi representada pelo

deslocamento do polo dinâmico da economia colonial do Nordeste para o Centro-Sul, a partir

da decadência da atividade açucareira e do advento da mineração em Minas. A segunda

refere-se ao deslocamento da sede do poder central. Em 1763, a capital da colônia é

transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, a fim de aproximar a administração central do

novo polo econômico, e também efetuar melhor controle de suas riquezas. Essas mudanças

afetaram o curso da formação e da gestão territoriais futuras (COSTA, 1989).

A atividade mineradora possibilitou uma efetiva interiorização do povoamento de

base predominantemente urbana, além de que estabeleceu fluxos e vias de comunicação,

com São Paulo e Rio de Janeiro, criando assim as bases da futura região Sudeste (com as

grandes polaridades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte)

2.6- O Brasil na transição para o século XIX: declínio da mineração e distúrbios às vésperas do Brasil Império

Até fins do século XVIII, a colônia brasileira já havia experimentado dois importantes

momentos econômicos: o canavieiro e do ouro. A partir de então, estes setores econômicos,

articulados à pecuária e agricultura, iriam comandar a formação de novos territórios no

interior do Brasil. Nas palavras de Furtado (1998), a economia brasileira

[...] se apresentava como uma constelação de sistemas em que alguns se articulavam entre si e outros permaneciam isolados. Essas articulações se operavam em torno de dois polos principais: a economia do açúcar e do ouro. A pecuária nordestina estava articulada ao núcleo açucareiro, se bem que de forma cada vez mais frouxa, estava a pecuária nordestina. Articulada ao núcleo mineiro estava o hinterland pecuário sulino, que se estendia de São Paulo ao Rio Grande. Esses dois sistemas, por seu lado, ligavam-se frouxamente através do rio São Francisco, cuja pecuária se beneficiava da meia-distância a que se encontrava entre o Nordeste e o centro-sul para dirigir-se ao mercado que ocasionalmente apresentasse maiores vantagens. No norte estavam os dois centros autônomos do Maranhão e do Pará [...] (FURTADO, 1998, p. 90).

No início do século XIX o sistema colonial estava em franca desagregação, e já dera

os seus frutos sob o signo do velho Pacto Colonial (IGLÉSIAS, 1993). Nos extremos

setentrionais e meridionais, o povoamento e a economia haviam prosperado: além do Pará

e do Maranhão existiam núcleos ao longo da calha do Amazonas, com destaque para São

José do Rio Negro (Manaus); ao sul, os núcleos litorâneos e a ocupação extensiva do interior

já representavam uma base segura para a onda de povoamento do séc. XIX (COSTA, 1989).

Contudo, a nação estava prestes a passar por distúrbios, que foram estimulados pelos

ideais de liberdade9 que ecoaram dos Estados Unidos e do Velho Continente, reforçados

pelos constantes abusos da Coroa Portuguesa. O descontentamento se tornou cada vez

mais intenso, sobretudo quando se reduzia a exploração mineral, o que provocou a crise do

setor. Assim, no alvorecer do século XIX, a colônia brasileira transitava por um momento em

que se esgotavam os seus depósitos auríferos de superfície na vasta área que ocorreram.

Um rápido balanço do que sobrou da mineração, foram observados nas quatro capitanias

centrais: Minas Gerais (principal), Goiás, Mato Grosso e muito pouco na Bahia.

Neste período acentuaram as rebeliões e revoltas na Colônia, muito relacionado ao

modo que a Coroa administrava as riquezas. Estes conflitos já se arrastavam desde os

primeiros decênios do século XVIII. Era uma série de rebeliões de origem fiscal e de revoltas

que desafiaram as autoridades coloniais, em diferentes regiões, como exemplo Bahia,

Pernambuco, Minas Gerais. Tratava-se de reivindicações setorizadas, já que a ideia de uma

unidade entre as diferentes partes que compunham a América portuguesa era, então, muito

menos clara entre os colonos do que entre os homens que os governavam a partir da

9 Essas mudanças tiveram início com os ecos da Independência Americana, em 1776, e que repercutiram em

todo o planeta. As ideias liberais foram robustecidas ao calor da Revolução Francesa, em 1789, que redesenhou o mapa da Europa e iria abalar as monarquias daquele continente. A independência das colônias inglesas também foi fundamental. Assim, no início dos oitocentos, a América Latina já estava madura para tentar a sua emancipação política.

Metrópole (FONSECA, 2011).

Além de choques entre as capitanias, funcionários da justiça e do fisco, entre os

governos das capitanias e o central, este clima culminaria com duas importantes

contestações, ainda no início do século XVIII, as guerras dos Emboabas e dos Mascates (já

mencionada), que já sinalizavam a fragilidade do domínio metropolitano sobre a Colônia.

A Guerra dos Emboabas, por exemplo, colocou em choque dois grupos distintos em

Minas Gerais: os bandeirantes paulistas, que reclamavam exclusividade na exploração do

ouro, e forasteiros imigrantes. Em Minas Gerais, após esta guerra, a criação de municípios

conseguiu levar a pacificação àquela área da Colônia.

Todavia, a mais importante dessas rebeliões ocorreria na segunda metade do século

XVIII, em 1788, conhecida como Conjuração Mineira, quando as vilas mais populosas da

Província viviam a crise da mineração. Os inconfidentes eram contrários ao funcionamento

das Casas de Fundição10 e tinham em vista os ideais de liberdade, visando tornar o Brasil

independente da Metrópole. Estes acontecimentos foram influenciados pelos ideais da

Revolução Francesa, que resultaram também nas lutas pela independência nas Américas.

As rebeliões e os acontecimentos políticos no Velho Continente deixaram a Colônia

mais instável do ponto de vista do controle político e social, como também contribuíram para

as manifestações de liberdade e independência.

É neste contexto, que a literatura revela que ocorreu forte incremento na criação de

vilas e cidades no Brasil Colônia, cujos resultados serão apresentados nas próximas seções.

3- ALGUNS RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como visto em seções anteriores, alguns acontecimentos foram fundamentais para

a escalada do número de vilas no final do Brasil Colônia, a exemplo do clima de rebelião que

estava instalado desde os primeiros decênios do século XVIII, e que se acentuou até

culminar na Inconfidência Mineira.

Conforme visto, Alves (1986) cita que a criação de municípios em Minas Gerais

conseguiu pacificar aquela área da Colônia após a Guerra dos Emboabas. Fato é que as

lides municipais já não empolgavam, àquela altura, os senhores da terra e os colonos, que

ascenderam economicamente com a descoberta das minas. Estas propiciavam maior

número de cargos e os naturais da terra começavam a ter maiores aspirações, ao enviarem

seus filhos à metrópole para cursarem universidade. As vilas, distantes dos centros auríferos,

10 As casas de fundição transformavam o ouro em barras para serem enviadas a Portugal. A Coroa cobrava “o

quinto”, ou 20% em impostos. Além do quinto, cada região produtora deveria fornecer certa quantidade de ouro. Havia muita sonegação de impostos, e quando o valor não atingia o esperado pela Coroa, os soldados entravam nas casas e retiravam os bens dos moradores até que se completasse o valor – a derrama. Esta cobrança era motivo de revoltas entre a população.

decaem e o grupo patriarcal que dominava os concelhos municipais também se eclipsa. Com

a queda da produção aurífera, esse grupo se volta às atividades agrícolas e se transformará,

durante o Império, no alicerce econômico do Brasil (ALVES, 1986).

No final do Brasil Colônia, durante o século XVIII, foram criadas mais de uma

centena de vilas, e as macrorregiões Nordeste, Leste e Sul, conforme regionalização

utilizada por Azevedo (1992), já figuravam como as mais segmentadas territorialmente –

prenúncio do que aconteceria nos dois séculos seguintes com as emancipações distritais. O

Quadro 3 mostra o número dessas vilas criadas no período de 1701-1800, segundo a região

e os estados brasileiros atuais.

Quadro 3- Brasil Colônia: 1701-1800. Número de vilas criadas, segundo as grandes regiões e UFs.

UNIDADE DA FEDERAÇÃO (ATUAL)

Nº DE VILAS CRIADAS

REGIÃO NORTE Amazonas 8

Pará 8

Amapá 1

Subtotal 17

REGIÃO NORDESTE Ceará 13

Paraíba 4

Maranhão 3

Rio Grande do Norte 3

Alagoas 2

Piauí 2

Pernambuco 1

Subtotal 28

REGIÃO LESTE Bahia 27

Minas Gerais 14

Sergipe 3

Espírito Santo 2

Rio de Janeiro 2

Subtotal 48

REGIÃO SUL São Paulo 13

Paraná 3

Santa Catarina 3

Rio Grande do Sul 1

Subtotal 20

REGIÃO CENTRO-OESTE Mato Grosso 4

Goiás 1

Subtotal 5

TOTAL 118

Fonte: Adaptado de Azevedo (1992).

De acordo com Fonseca (2011), a instituição de novas câmaras municipais poderia

ser uma maneira eficaz de acalmar e assim satisfazer as elites locais. A fundação de uma

vila acarretava não apenas a criação de cargos administrativos e judiciários, mas podia

favorecer o comércio e aumentar o valor das terras nas redondezas (FONSECA, 2011).

Certamente a criação de vilas durante o longo período colonial corresponde não

apenas ao povoamento progressivo e crescimento econômico das localidades, como

também aos interesses do governo português na instituição do poder civil, com fins

principalmente fiscais. E que atinge também as lideranças políticas locais (CHAVES, 2013).

Este movimento emancipacionista se estendeu pelas primeiras décadas do século

XIX. Segundo Azevedo (1992), os primeiros 22 anos do século XIX, a derradeira etapa do

período colonial, no que se refere à urbanização, fez-se mais do que em todo o século XVII

– duas novas cidades e 44 vilas novas surgiram no panorama urbano do Brasil. Com mais

de 8 milhões de quilômetros quadrados, o Brasil, enfim, conseguiu tornar-se independente.

Seria esse o panorama urbano do Brasil no momento em que se libertou do domínio

português: 12 cidades e 213 vilas, concentradas na porção leste, conforme ilustra o Mapa 1.

Mapa 1- Vilas e cidades brasileiras criadas entre 1530 e 1824. Fonte: Atlas dos Municípios (PNUD, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos que tratam da criação e emancipação de municípios no Brasil são

relativamente raros quando se regride a períodos mais antigos da constituição territorial do

país. Os dados históricos mostram que durante o Brasil Colônia o número de vilas e cidades

evoluiu lentamente. Contudo, na transição para o Império, verificou-se um notável aumento

do número de municípios.

Os primeiros municípios do Brasil surgiram a partir de 1532, sob a vigência das

Ordenações Manuelinas (promulgadas em 1521), embora não se ajustassem à Colônia, daí

a adoção do sistema sesmarial (modificado por Martim Afonso). Fato é que a criação de

municípios e a estrutura administrativa sofreram clara influência dos donatários, mas

também da Igreja.

A maior parte das vilas fundadas localizava-se na faixa litorânea, de onde a Coroa

pudesse realizar as primeiras incursões sertanistas, ainda no século XVI, em busca de

minerais preciosos.

Diante da não ocorrência de metais preciosos, os portugueses adiaram a instalação

de um típico empreendimento mercantil-colonial, limitando-se, até meados do século XVI, a

pequenos e dispersos entrepostos de escambo e comercialização do pau-brasil. Esta frágil

presença territorial estava longe de configurar uma estratégia geopolítica de ocupação.

Com a decadência da economia canavieira e o desenvolvimento da mineração é que

o povoamento se efetivou no interior da Colônia com o surgimento de novas vilas e cidades.

A crise do setor mineral e os acontecimentos externos colocaram em xeque a

monarquia no Velho Continente. Várias revoltas e rebeliões ocorreram no Brasil no clamor

pela independência. Neste período vários municípios foram criados com o intuito de

“pacificar” as regiões em conflito.

Este pequeno “surto” emancipacionista no Brasil Colônia teria continuidade nas duas

primeiras décadas do século XIX, quando foram criadas muitas outras municipalidades.

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