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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6
O NOVO IMPERIALISMO:TERRITÓRIO E FINANÇAS
Angelita Matos Souza
UNESP - Rio Claro
AS INTERPRETAÇÕES CLÁSSICAS
Com os riscos inevitáveis de empobrecimento das interpretações dos autores,
neste tópico iremos resumir o que nos parece ser o fator preponderante nas concepções
clássicas acerca do imperialismo de Hobson, Kautsky, Luxemburgo, Hilferding e Lênin.
Iniciaremos por Hobson e Kautsky, por ser possível identificar nos dois autores a ideia do
imperialismo como uma das possibilidades do capitalismo, quer dizer, para os autores seria
possível distinguir capitalismo de imperialismo. Em seguida resumimos a posição de Rosa
Luxemburgo, enfatizando a relação entre espaços capitalistas e não capitalistas, encerrando
com Hilferding e Lênin e o destaque ao domínio do capital financeiro.
O pensamento de John Atkinson Hobson1 não se situa no campo marxista, como
os demais autores que abordaremos aqui, mas o autor é pioneiro em destacar o poder do
setor financeiro no capitalismo moderno, compreendendo o imperialismo como um
equívoco que traria mais dissabores que vantagens para o Império britânico, embora da
perspectiva dos povos dominados pudesse proporcionar avanços civilizatórios. Para o autor
a razão última do imperialismo encontrar-se-ia nos interesses da classe financista da City,
que lograva convencer a Coroa das vantagens do expansionismo, quando seria mais
produtivo a opção pelo aumento da demanda por bens industriais por meio da elevação dos
salários dos trabalhadores ingleses. O problema seria o poder da fração parasitária, não
sendo o imperialismo inevitável ou intrínseco ao sistema capitalista. Essa posição aparece
em muitos autores – sendo Keynes o mais conhecido – que consideram possível impor
limites ao domínio das finanças, incentivando a produção, a fim de que o capitalismo possa
1 Em Imperialism: a study, de 1902.
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seguir seu curso mais normalmente. Efetivamente, o capitalismo do pós-guerra - keynesiano
- esteve mais próximo do defendido por Hobson, mas nem por isso deixou de ser
imperialista/militarista. Em razão da capacidade de organização e pressão das classes
trabalhadoras assistiu-se à emergência de Welfare States avançados nos países
desenvolvidos, um capitalismo mais regulado emergiu, porém isso não implicou na
eliminação do movimento de conglomeração/monopolização econômica e, no contexto da
guerra-fria, as despesas militares não deixaram de se expandir.
Karl Kautsky também apreende o imperialismo como uma entre outras
possibilidades para a acumulação do capital, mas a relação estabelecida por Hobson entre
finanças e imperialismo perde importância na sua obra2. Para o autor, o imperialismo seria
produto fundamentalmente do desenvolvimento industrial em algumas nações, permitido
pela fase do livre comércio, nações que passaram a competir no mercado mundial com a
Inglaterra. O imperialismo estaria relacionado à problemática da superprodução e do
subconsumo3 e fundamentalmente ligado às disputas pelas regiões agrárias como
mercados para os produtos industrializados das potências, podendo levar às guerras mas
também aos meios menos conflitivos de gestão do capitalismo e resolução dos conflitos. Na
medida em que um número cada vez em menor de agentes econômicos – organizados em
trustes, cartéis – seria responsável pela gestão do sistema capitalista mundial, e à maioria
deles não interessaria a guerra, seria possível a conformação de um “ultra-imperialismo” no
qual operações cooperativas entre as grandes potências poderiam evitar a eclosão de
guerras, sendo o imperialismo substituído “por uma santa aliança dos imperialistas”4.
É certo que em vários momentos guerras foram evitadas por meio de acordos e
negociações, mas o imperialismo nunca viveu em paz, das duas guerras mundiais ao mundo
mais regulado saído de Bretton Woods até alcançar a etapa da mundialização do capital,
sendo que neste início de século o belicismo avançou como nunca desde o pós-guerra.
Como tem insistido Fiori em textos recentes5, retomando Hobbes, a guerra não precisa
ocorrer de fato, basta existir como possibilidade, é o que move a indústria bélica mundial e
o próprio imperialismo: a guerra como possibilidade. Daí que seja possível evitar guerras
efetivas, mas não distinguir capitalismo do imperialismo/militarismo, e alguma guerra é
2 O que não deixa de ser curioso, dado seu entusiasmo pela obra de Hilferding. Ver “Finance, Capital and Crises”. Disponível em https://www.marxists.org/archive/kautsky/1911/xx/finance.htm, acesso em 14/07/2014.
3 Ver Mazzucchelli, 2004.
4 Em Ultra-imperialism, de 1914.
5 Ver por exemplo José Luís Fiori, 2008.
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sempre oportuna à legitimação dos gastos militares que, sobretudo no caso
norte-americano, funcionam como uma espécie de keynesianismo bélico.
Rosa Luxemburgo6 não concebe o imperialismo como uma opção entre outras
nem como intrinsecamente identificado ao capitalismo monopolista. O imperialismo é
entendido como inerente ao capitalismo, um mecanismo de expropriação típico da fase da
acumulação primitiva estudada por Marx e jamais superado. Por sua vez, são limitações no
campo do consumo que impelem ao imperialismo determinando a natureza
cosmopolita/universalista do sistema. O elemento fundamental à compreensão do
fenômeno seria a relação necessária e contraditória entre áreas capitalistas e não
capitalistas. Por certo que a autora não ignora o papel do capital financeiro, nem dos
Estados e do militarismo, ao contrário, mas sua definição de imperialismo está basicamente
ligada à ideia da necessidade de conquista de outros mercados, sem os quais a acumulação
ampliada de capital não teria como seguir em frente e o capitalismo alcançaria o seu limite
histórico. O que em tese haveria de ocorrer quando não existissem mais espaços não
capitalistas a serem explorados, processo não automático, a luta política revolucionária seria
essencial, porém a perspectiva da autora dá margem às críticas de economicismo. Como em
Kautsky, a definição de imperialismo encontra-se relacionada à problemática do consumo,
da demanda efetiva insuficiente à absorção da produção capitalista global, problema para o
qual a saída seria a internacionalização do capital e conquista dos espaços ainda não
dominados pelo capitalismo.
Hoje, mais que nunca, qualquer definição do imperialismo pelo viés do consumo
é bastante problemática e de difícil sustentação, na medida que, embora muito bem vindo,
o consumo não é o central ao processo de acumulação na etapa da mundialização
financeira. E a tese da fase da acumulação primitiva como uma constante na história do
capitalismo só dificulta a reflexão teórica e avanços na compreensão da transição social a
partir da articulação entre luta política revolucionária e desenvolvimento das forças
produtivas. De fato, aproxima-se do flerte com o pensamento conservador e teses da
história como eterna repetição - na linha do “tudo muda para que tudo fique igual” –
quando, do ponto de vista marxista7, é mais produtivo compreender a acumulação primitiva
como uma fase que termina na grande indústria, com avanços a partir daí da perspectiva
tecnológica e do processo civilizatório, contudo sem superação da face barbárie, intrínseca
6 Em A acumulação de capital, de 1913.
7 Cuja dimensão central é o par desenvolvimento das forças produtivas e revolução.
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ao capitalismo, que pode inclusive se acentuar como se deu nas últimas décadas e isso é o
capitalismo/imperialismo na sua maturidade: a combinação mais ou menos desequilibrada
entre civilização e barbárie. Quer dizer, os pressupostos centrais da análise de Rosa
Luxemburgo – consumo, necessidade de mercados externos e acumulação primitiva - não
parecem os mais elucidativos à compreensão da realidade atual.
A Rudolf Hilferding8 interessa o processo de concentração e centralização do
capital que resultou na formação do capital financeiro (não é diretamente o imperialismo
seu objeto de estudo). Como é conhecido, em meio à expansão do sistema de créditos
comandado pelos bancos dá-se a fusão entre capital bancário e capital industrial, sendo a
sociedade anônima o mecanismo por excelência para conformação do capital financeiro
moderno. Não interessa aqui a discussão sobre as formas de conformação do capital
financeiro – especialmente as diferenças entre o caso alemão e o norte-americano – e sim
destacar a transformação nas relações de propriedade, cada vez mais coletiva nos marcos
do sistema capitalista9, e a tendência à indistinção entre atividades produtiva e financeira do
ponto de vista da acumulação de capital, tendencialmente favorável ao primado da
atividade financeira.
O autor destaca a importância dos Estados para o expansionismo imperialista
liderado pelo capital financeiro, sendo que o desenvolvimento do capital financeiro
permitiria certo consenso entre as diversas frações das classes dominantes, pois o mercado
financeiro despontaria como mecanismo de convergência entre interesses de agentes
econômicos diferenciados10. No entanto, isto não eliminaria a competição capitalista
mundial entre os grandes monopólios, conferindo um caráter precário à convivência
relativamente harmoniosa entre capitais de origens e dimensões distintas. A atualidade do
autor está fora de dúvida, há espaço hoje para ações coordenadas, mormente as
relacionadas à defesa em bloco dos interesses financeiros mundialmente dominantes, mas
o crescente processo de concentração e centralização do capital, causa e efeito do próprio
avanço do capital financeiro, potencializa a competição intercapitalista e a tendência à
anarquia econômica, ficando a cargo dos Estados solucionar crises cíclicas cada vez mais
frequentes, geralmente em proveito das finanças tendo em vista a situação de ponto de
8 Em O capital financeiro, publicado em 1910.
9 Conforme Belluzzo, a tendência é a coletivização, sem que o sistema abandone os critérios privados de apropriação da renda e da valorização da riqueza, voltaremos ao tema mais adiante. (2013:103)
10 Diríamos que, da perspectiva do mercado financeiro seria possível apreender as classes dominantes à maneira trotskistas, como bloco monolítico.
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convergência no mundo da competição intercapitalista11.
Vladimir Illitch Ulianov12 retoma largamente o estudo de Hilferding e também as
análises de Hobson no seu texto célebre sobre a fase superior do capitalismo. Para Lênin o
imperialismo não diz respeito simplesmente às políticas de dominação das potências
capitalistas sobre o resto do mundo, tampouco deve ser visto como mera conquista de
mercados para contrabalançar as dificuldades de realização de valor ou saída para um
sistema econômico supostamente agonizante. O imperialismo é o capitalismo monopolista,
um desdobramento lógico do desenvolvimento capitalista, da sua natureza cosmopolita em
busca da valorização máxima do capital. Estágio que não eliminaria a competição
intercapitalista, liderada por monopólios gigantescos essa se tornaria mais intensa,
acirrando tendências às crises cíclicas, desproporções setoriais e o caráter anárquico da
produção, até porque os monopólios não se estabelecem por toda parte. O capital
financeiro, como em Hilferding, é produto e elemento propulsor da monopolização
econômica, sendo a exportação de capitais e a repartição do mundo entre grupos
capitalistas internacionais e grandes potências condição e resultado do predomínio do
capital financeiro, da sua assunção em força motriz do desenvolvimento capitalista em
escala mundial. Na crítica dirigida a Kautsky, fica clara a concepção do autor:
O imperialismo é uma tendência para as anexações; eis a que se reduz a parte
política da definição de Kautsky. Ela é correta, mas extremamente incompleta, pois no
aspecto político o imperialismo é, em geral, uma tendência para a violência e para a reação.
Mas o que neste caso nos interessa é o aspecto econômico que o próprio Kautsky introduziu
na sua definição. As inexatidões da definição de Kautsky saltam à vista. O que é
característico do imperialismo não é precisamente o capital industrial, mas o capital
financeiro. (...) O que é característico do imperialismo é precisamente a tendência para a
anexação não só das regiões agrárias, mas também das mais industriais (...), pois, em
primeiro lugar, já estando concluída a divisão do globo, isso obriga, para fazer uma nova
partilha, a estender a mão sobre todo o tipo de territórios; em segundo lugar, faz parte da
própria essência do imperialismo a rivalidade de várias grandes potências nas suas
aspirações à hegemonia, isto é, a apoderarem-se de territórios não tanto diretamente para
si, como para enfraquecer o adversário e minar a sua hegemonia. (2011: 220-21)
11 Sobre a centralidade da competição intercapitalista desde o pós-guerra (e as crises recentes do capitalismo) ver Robert Brenner, 1999; e Luiz Gonzaga Belluzzo, 2013.
12 Em Imperialismo: etapa superior do capitalismo, publicado em 1916.
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Ou seja, o imperialismo implica num patamar superior de desenvolvimento
capitalista, no qual o expansionismo econômico e político-militar seria distinto de
imperialismos precedentes, a exportação de capitais seria o mecanismo decisivo nas
relações de dominação dos países mais fracos pelos mais ricos, meio pelo qual o capital
financeiro dos países dominantes buscaria estender seus domínios sobre o mundo
indistintamente – sobre regiões atrasadas e industrializadas. Na defesa dos interesses do
capital financeiro internacional, os Estados são cruciais, dominantes e dominados, da
perspectiva desses últimos o imperialismo deve ainda ser entendido tanto como obstáculo
ao desenvolvimento capitalista como seu elemento propulsor, desenvolvimento sempre
limitado pelas relações de dependência face aos Estados usurários.
Num breve balanço é possível afirmar que todos os aportes acima são em
alguma medida pertinentes, o imperialismo está intrinsecamente relacionado ao processo
de monopolização econômica, ao poder da classe parasitária (dos financistas). Não se trata
de uma opção que possa ser descartada e substituída pela preferência pela produção, mas
pode ser contido por força da luta política, como no pós-guerra, luta política que neste início
de século teria provavelmente que assumir uma dimensão muito mais internacionalizada. O
imperialismo não deixa de responder às determinações advindas da divisão internacional
do trabalho, entre nações industriais e agrárias, e disputas imperialistas decorrentes, por
sua vez a possibilidade de ações concertadas entre poucos agentes político-econômicos
dominantes é real e pode evitar guerras efetivas, além de propiciar alguma
organização/orquestração à produção capitalista. Contudo, sem eliminar a competição
intercapitalista e o caráter anárquico do sistema, assim como sem prescindir das guerras
como possibilidade (que em alguma dimensão sempre se realiza) e da preparação para
tanto. O imperialismo pode igualmente ser entendido como expediente mais ou menos
eficaz para os problemas ligados às insuficiências de consumo e avança expropriando
povos/territórios em processos que lembram a fase da acumulação primitiva. Dessa ótica, o
objetivo das grandes corporações multinacionais de controlar largas fatias dos mercados e
dos recursos naturais mundiais segue acintosamente, intensificado com a emergência
chinesa.
Não obstante, o elemento sobredeterminante, que sobrevive à prova dos
tempos, é o domínio do capital financeiro, domínio expressivo do patamar superior de
desenvolvimento do capitalismo que, nas últimas décadas, teria dado um novo salto, para
alguns analistas adentrando à etapa superior do imperialismo. E vale salientar que além do
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capital financeiro e articulados intrinsecamente a sua existência e poder mundial, outros
fatores precisam ser considerados na denominação de imperialista a uma nação, tais como:
moeda forte, poder militar, domínio do processo de inovação cientifico-tecnológico,
capacidade de determinar os rumos da economia mundial. Também não se deve entender
por imperialismo o oposto de hegemonia, ao contrário, os EUA são imperialistas e
hegemônicos (ou hegemônicos porque imperialistas), como antes fora a Inglaterra. Mas
atualmente a articulação entre estados e capital é sem dúvida maior. Os Estados das
economias centrais (mas não só) precisam zelar tanto pelos interesses de seus capitais
domésticos como pelos interesses do capital imperialista dominante devido, sobretudo, às
articulações do capital financeiro internacionalizado dentro de cada formação social. E isto é
imperialismo, mas também hegemonia, estão todos consentindo no poder dos EUA devido à
articulação de interesses intercapitalistas globais – liderada pelos interesses financeiros –
manifesta no interior de cada formação social.
Articulação de interesses que não elimina a competição intercapitalista mesmo
que estejam todos financiando os déficits americanos. E o consentimento também diz
respeito ao elemento força, seja por meio da participação ativa ou simplesmente pela
omissão/inação daqueles que poderiam conjuntamente se opor à força e não o fazem. Aliás,
o exercício mais agressivo da hegemonia norte-americana nas últimas décadas – elemento
central nas teses sobre o novo imperialismo identificado ao militarismo - pode ser até
conveniente para as demais economias dominantes, beneficiadas pela liderança
norte-americana, com movimentos e sentimentos anti-imperialistas concentrados sobre os
EUA13.
O NOVO IMPERIALISMO: TERRITÓRIO E FINANÇAS
Território
Vale insistir que destacamos nos autores que aparecem aqui a ideia que
entendemos como chave à compreensão do que seja imperialismo, o que não significa que
outros fatores sejam ignorados. No caso de David Harvey, em O novo imperialismo (2004),
13 Da nossa parte, discordamos que seja o militarismo o elemento determinante à compreensão do imperialismo atualmente, porém na ordem de importância deve vir em seguida ao domínio das finanças. Em O império da incoerência, Michael Mann (2006) faz um panorama interessante do poder militar norte-americano que permite relativizar a importância crucial que alguns autores conferem a dimensão militar a fim de definirem um suposto novo imperialismo. Não que o poder militar dos EUA não seja incomparável mas como defende Mann as guerras, contra os inimigos eleitos, são sempre países que ameaçam muito pouco o poder norte-americano.
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inspirado pela perspectiva de Rosa Luxemburgo, a relação necessária e contraditória entre
espaços capitalistas & espaços não capitalistas é o central, destacando mecanismos novos
de acumulação primitiva – ou mecanismos novos de acumulação por espoliação -
necessários à reprodução do capitalismo hoje como fora o processo de acumulação
primitiva à gênese do modo de produção capitalista. Evidentemente o autor confere
importância crucial à dimensão financeira14 - seria impossível não fazê-lo em meio à
financeirização global – e há mais espaço para pensar o papel dos Estados nacionais que em
Luxemburgo, mas na definição de imperialismo do autor a dimensão territorial constitui o
eixo central. Mais que tudo o novo encontra-se relacionado à exacerbação dos expedientes
de exploração dos espaços não capitalistas/periféricos.
A análise é bastante rica, discorrendo sobre formas novas de exploração
imperialista ou acumulação por espoliação, sendo que o livro contribuiu para recolocar o
imperialismo em discussão, ganhando ressonância nos movimentos sociais, na América
Latina em especial. Mas em que pese análise interessante sobre as formas novas de
acumulação via espoliação, a centralidade da relação necessária entre áreas capitalistas e
não capitalistas parece-nos de difícil sustentação. Relação agora ligada à problemática da
sobreacumulação, já que o autor contesta o fator consumo, como aparece em Luxemburgo,
na explicação das crises e do imperialismo, entendendo a necessidade de incorporação dos
espaços ainda não dominados pelo capitalismo como uma solução ao problema da
sobreacumulação.
O que não teria tanta importância se sua análise não deixasse a impressão de
que, ao final das contas, a solução é o que define o novo imperialismo. Quer dizer, se em
Rosa Luxemburgo é o consumo que fundamentalmente explica a relação necessária entre
espaços capitalistas e espaços não capitalistas, em Harvey a explicação gira em torno da
tendência à sobreacumulação. A expansão capitalista seria norteada pela necessidade de
encontrar áreas/negócios lucrativos à absorção do capital excedente, por meio da conquista
de novos mercados, promoção de novos produtos e modos de vida, novos instrumentos de
crédito, gastos estatais e endividamento público, monopolizações (fusões e aquisições entre
empresas), exportações de capital etc. Se nada for suficiente, a crise tende a se estabelecer,
produzida pelo excedente de capital tornado ocioso, movimento normalmente
acompanhado pelo trabalho ocioso. Assim, embora a dimensão financeira da dominação
14 Vale notar que o autor não concebe o predomínio das finanças como desvio de rota, mas sim como produto do desenvolvimento capitalista, no qual finanças e produção aparecem indissociavelmente articuladas.
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imperialista não seja em hipótese alguma menosprezada por Harvey, a ideia de espoliação
dos espaços não capitalistas a fim de fazer frente aos problemas da sobreacumulação tende
a predominar no conceito de imperialismo do autor.
De nossa parte, discordamos da ideia da relação necessária entre áreas
capitalistas e áreas ainda não dominadas pelo capitalismo como central à definição do
imperialismo. O imperialismo não deve sua existência à necessidade dos espaços não
capitalistas para a acumulação seguir em frente. São as anexações/espoliações que
prosseguem no imperialismo ou capitalismo monopolista, assumindo natureza distinta das
formas anteriores devido à forma financeirizada agora dominante. A articulação entre
espaços capitalistas e não capitalistas menos que necessária é decorrente, um elemento
subordinado na definição do imperialismo. Por sua vez, se, conforme entendemos, a fase da
acumulação primitiva terminou na grande indústria, o que Harvey destaca é a barbárie que
se acentuou nas últimas décadas, mas isso é apenas capitalismo, consolidado e avançado15.
E não seria descabido imaginar que espaços não capitalistas possam desaparecer do mundo
sem que isto implique no fim do capitalismo (e, por suposto, da barbárie), a não ser que o
desenvolvimento das forças produtivas combinado à luta política revolucionária leve a este
fim.
Em síntese, diríamos que o foco em Harvey – como em Rosa - é mais a
problemática dos mercados, recursos naturais e mão de obra barata em meio à relação
necessária e contraditória entre espaços capitalistas e não capitalistas. O imperialismo,
menos que à etapa superior do capitalismo, está identificado às políticas de exploração das
nações imperialistas sobre as regiões periféricas. Uma verdade evidente, mas que não deixa
de inverter a ordem dos fatores causais, em prejuízo da compreensão do imperialismo, à
época de Rosa e Lênin e mais ainda hodiernamente. Agora, para a luta política, a perspectiva
é mais motivadora que a identificação do imperialismo à fase monopolista do capitalismo
como o principal, cuja destruição exigiria o fim do capitalismo, passando pelo
desenvolvimento do próprio capitalismo/imperialismo.
15 Como escreveu João Manuel Cardoso de Mello: “Tudo se passa como se as tendências fundamentais do capitalismo reemergissem com intensidade redobrada. O desenvolvimento monstruoso do capital financeiro revelou uma verdade incontestável. Ou, por outra, verdade bem conhecida de Marx e Keynes, de Braudel e Polanyi – nós é que andávamos meio entorpecidos pelas décadas de capitalismo domesticado, esquecidos de que o capitalismo é um regime de produção orientado para a busca de riqueza abstrata, da riqueza em geral expressa pelo dinheiro. Esta abstração destrutiva aparece com toda sua força nua e crua no atual rentismo especulativo. (...) O desemprego estrutural, a precarização do trabalho, a intensificação da disparidade dos rendimentos, a heterogeneidade do mercado de trabalho e o agravamento da pobreza estão aí para quem quiser ver, e reconhecer enfim no capitalismo o que ele sempre foi, uma gigantesca máquina de produzir desigualdade.” (1998: 23-24)
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Para concluir, vale destacar a relação de contradição e complementaridade entre
duas lógicas, a lógica do Estado – “a política do Estado e do Império” – e da acumulação
privada - “processos moleculares de acumulação do capital no espaço e no tempo”. Por
certo a ideia de complementaridade entre as duas lógicas tende a predominar nas
considerações de Harvey acerca da acumulação por espoliação no contexto do novo
imperialismo, mas o fator contradição é produtivo por conceber Estado e economia como
esferas separadas e autônomas:
Com a primeira expressão [política do Estado e do império] desejo acentuar as
estratégias políticas, diplomáticas e militares invocadas e usadas por um Estado
(ou por algum conjunto de Estados que funcionam como bloco de poder político)
em sua luta para afirmar seus interesses e realizar suas metas no mundo mais
amplo. Com a última expressão [processos moleculares de acumulação do
capital no espaço e no tempo], concentro-me nas maneiras pelas quais o fluxo
do poder econômico atravessa e percorre um espaço contínuo, na direção de
entidades territoriais (tais como Estados ou blocos regionais de poder) ou em
afastamento delas mediante as práticas cotidianas da produção, da troca, do
comércio, dos fluxos de capitais, das transferências monetárias, da migração do
trabalho, da transferência de tecnologia, da especulação com moedas, dos
fluxos de informação, dos impulsos culturais e assim por diante (HARVEY, 2004:
31).
Acreditamos que não há necessidade de se recorrer a ideia de Império, que não
deixa de transformar o imperialismo numa opção política (numa política de Império)16, mas à
análise da realidade, mormente no campo da geopolítica, metodologicamente, parece
bastante produtivo analisar como operam as duas lógicas, à luz da ideia de autonomia
estatal e buscando nas conjunturas concretas elucidar os limites a tal autonomia, tendo
como cenário as relações internacionais, as disputas intercapitalistas e a luta entre classes
antagônicas no interior de cada formação social. Tarefa nada fácil, mas Harvey tem tentado
esse caminho de forma instigante.
Finanças
A opção por discutir imperialismo e finanças partindo da obra de François
Chesnais se justifica por ser o autor um dos primeiros a apontar transformações na ordem
16 E ainda que se possa imaginar a formação de um Império decorrente do desenvolvimento futuro do capitalismo, é cedo para abusar da ideia, como fizeram especialmente Negri e Hardt em Império e, em menor dimensão, Harvey em A condição pós-moderna.
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capitalista mundial, com ênfase à dimensão financeira, introduzindo termos como
“mundialização do capital” e “financeirização”. Seu livro A Mundialização do Capital, publicado
em 1997 (2ª edição ampliada), constitui um marco no debate sobre a internacionalização do
capital facilitada pela desregulamentação dos fluxos de capitais e pelos avanços nas áreas
de comunicação e transportes das últimas décadas. Para o autor, não eram as relações
comerciais o fundamental à compreensão das transformações em curso, mas sim a
internacionalização ou mundialização do capital em suas formas industrial e financeira,
destacando fusões-aquisições que elevaram o processo de concentração a níveis
inimagináveis17. No que mais interessa aqui, o autor é pioneiro ao chamar atenção para o
papel do endividamento público norte-americano na configuração do
capitalismo/imperialismo atual, isso antes da emergência decisiva da China na economia
mundial, daí a ênfase sobre a “tríade” América do Norte, Europa, Japão.
Conforme Chesnais (2001), a mundialização do capital longe de eliminar a
importância dos Estados nacionais e as relações políticas de dominação e dependência
entre países centrais e periféricos reforçava os fatores de hierarquização – entre a tríade,
seus sócios mais próximos e seus domínios. No âmbito da tríade e dessa para com o resto do
mundo acentuou-se o peso dos Estados Unidos: “(...) não somente pelo fato do
desmoronamento da União Soviética e da posição militar única deles, mas também em
razão de uma posição inigualável no domínio financeiro” (2001: 14). A partir do
desmoronamento do sistema de Bretton Woods, em 1971, do choque dos juros e medidas
de liberalização e desregulamentação financeiras empreendidas a partir de 1979, os Estados
Unidos reafirmariam drasticamente seu poder mundial, apesar ou graças ao crescimento
muito rápido da dívida pública americana a partir de 1980-1982:
Os Estados Unidos mostraram que eles são o único país capaz de contrair uma
dívida pública tão elevada sem sofrer imediatamente a '“sanção dos mercados”.
Ainda melhor, eles puderam dar aos bônus do Tesouro americano o estatuto de
ativo financeiro que representa o “valor refúgio” por excelência. (...) Bem antes
que Wall Street levantasse vôo, esta dívida atraiu para os Estados Unidos os
fundos líquidos em busca de investimentos financeiros, não somente rentáveis
mas completamente seguros. Estes fundos financiaram o programa militar da
“guerra nas estrelas” que assentou definitivamente a predominância militar dos
Estados Unidos e acelerou a crise da ex-União Soviética. A presença deles no
17 Muito mais que A mundialização do capital utilizamos aqui o texto “Mundialização: o capital financeiro no comando”,revista Outubro, n. 05, 2001.
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nível da remuneração da qual se beneficiaram (8% de taxa de juro real durante
vários anos a partir de 1982) permitiram igualmente aos mercados financeiros
americanos adquirir sua dimensão e sua sofisticação únicas. Este processo foi,
em seguida, consolidado e confortado pela existência de fundos de pensão e de
investimentos financeiros coletivos. (2001: 14-15)18
Processo que não pode ser entendido de forma desarticulada da expansão da
dívida pública nos Estados em geral19, e muito especialmente nos Estados periféricos, que,
em meio à crise da dívida dos anos 1980 promoveram uma inversão no fluxo de capitais
para o centro capitalista, submetidos aos pacotes de ajustes do FMI dos anos 1980:
(...) uma espetacular inversão de fluxos. Entre 1980 e 1983, houve primeiro uma
diminuição brutal das entradas líquidas de créditos privados para os países em
desenvolvimento, que passaram de 26 a 1,6 bilhão de dólares. Depois, a partir
de 1984, o fluxo simplesmente passou a correr em sentido contrário,
tornando-se uma transferência líquida de 2,5 bilhões de dólares aos bancos
credores. (CHESNAIS, 1996: 256)
O afluxo de capitais para os EUA a partir do choque dos juros em 1979 que
precipitaria a crise da dívida na periferia contribuiu decisivamente para o novo ciclo de
crescimento da economia americana, impulsionada por investimentos tecnológicos de
ponta e desenvolvimento de produtos novos, com a Terceira Revolução Industrial
espalhando-se pelas demais potências econômicas, acompanhada inclusive por países da
periferia asiática. A monopolização econômica avançaria com as transformações
científico-tecnológicas em curso, em especial as transformações no setor de
telecomunicação-informatização elevariam a um patamar novo o domínio das finanças.
Surpreendentemente os EUA vão assumindo dianteira entre os países devedores, passando
a exercer um domínio financeiro-militar sem precedentes, sendo que: “(...) os governos de
todos os países onde o capital financeiro é desenvolvido estão comprometidos com os
Estados Unidos. (...) A mundialização contemporânea não é ‘americana’. Ela é capitalista e é
como tal que ela deve ser combatida” (CHESNAIS, 2001:16).
Klagsbrunn (2008) chama a atenção para a crescente contraposição entre as
18 Não iremos abordar o papel dos fundos de pensão e de investimentos financeiros, que teriam passado a maior importância que os bancos, mas esse é um aspecto importante na análise do autor.
19 “O ‘poder das finanças’ foi construído sobre o endividamento dos governos, que permitiu a expansão ou, mesmo empaíses como a França, a ressurreição dos mercados financeiros. É uma das fontes da força econômica e política imensa adquirida pelas instituições financeiras que é comum a todos os países da OCDE, praticamente sem exceção”(CHESNAIS, 2001: 17).
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esferas produtiva e financeira em textos mais recentes de Chesnais, textos nos quais
predominaria a relação de exterioridade das finanças propriamente ditas em relação à
produção, exterioridade expressa na forma da estreita dominação da esfera produtiva pela
financeira20, com o capital produtivo tornado “refém” da ação do capital financeiro,
interpretação que alimentaria propostas [no mínimo ingênuas] de combate à especulação e
ganhos exagerados na esfera financeira de forma a resolver os problemas centrais do
capitalismo contemporâneo. Conforme Klagsbrunn, a concepção de uma esfera financeira
exterior, dominando nocivamente a esfera produtiva, é exatamente o que Marx em O
Capital quer evitar e criticar:
Embora seja essa a visão superficial, muitas vezes externada por capitalistas
industriais, sobretudo quando a taxa de juros se apresenta mais elevada, para
Marx, o desenvolvimento do crédito, do capital bancário, das ações e demais
instrumentos de crédito e de participação de lucros é uma necessidade lógica do
capital, pois esses elementos permitem uma fantástica expansão da demanda e
da produção, além de permitir a necessária circulação de dinheiro pela
transferência e criação de depósitos, sem passar pela forma de dinheiro vivo. É
preciso, portanto, ir além das aparências pontuais e dos sentimentos de frações
do capital e partir do papel do crédito como altamente impulsionador da
acumulação do capital. (...) o desenvolvimento das categorias referentes ao
sistema de crédito em Marx tem o grande mérito de explicar por que seu
aparecimento e expansão são uma grande vantagem para todos os segmentos
do capital, e para o sistema capitalista como um todo, configurando uma lei
geral do sistema. A função do crédito, de qualquer tipo, não é negativa e
contrária à acumulação, mas uma fantástica alavanca para a acumulação em
todos os segmentos do capital. (KLAGSBRUNN, 2008: 45)
Afinada com a perspectiva acima é o estudo de Belluzzo (2013), com o qual
prosseguiremos21. A partir da leitura do autor, elegeremos como elemento central à
definição da fase superior do capitalismo, identificada ao domínio do capital financeiro,
justamente a tendência do sistema capitalista de “coletivizar” todas as formas de existência,
tendência acentuada nas últimas décadas pela expansão do dívida pública e socialização
pelos Estados nacionais da apropriação por poucos da riqueza coletiva. Conforme
entendemos seriam dois níveis de determinações: num nível fundamental
20 Klagsbrunn (2008) destaca texto de A finança mundializada (2005).
21 O objetivo de Klagsbrunn (2008) é a leitura crítica da obra de Chesnais, não diretamente o capitalismo contemporâneo, objeto do livro de Belluzzo O capital e suas metamorfoses (2013).
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(sobredeterminante) a dimensão financeira (que subordina a territorial) e, no seu interior, a
tendência à coletivização.
Belluzzo retoma vários autores – Hobson, Hilferding, Lênin, Keynes –, mas é em
Marx que encontra os fundamentos para o entendimento da dominância da forma
financeira no mundo contemporâneo. A forma financeira em Marx já seria praticamente
tudo o que afirmado depois por autores diversos, guardadas as devidas contextualizações
históricas. As do pós-guerra e especialmente as mais recentes serão analisadas por Belluzzo
rechaçando qualquer hipótese de exterioridade ou descolamento entre a economia real e a
economia monetário-financeira. E nem seria o capital industrial propriamente enfraquecido
nem a concorrência arrefecida com o desenvolvimento do capital financeiro22.
Conforme Belluzzo o que se passou nas últimas décadas foi o “desenvolvimento
das formas avançadas, isto é, mais socializadas e contraditórias de geração do valor e de
avaliação da riqueza” (2013: 123), cuja ideia de descolamento não é capaz de elucidar. Na
visão do autor (ou na sua leitura do Marx), o capitalismo não pode ser definido apenas pela
existência da propriedade privada, “mas como um sistema que tende a ‘coletivizar’ todas as
formas de existência” (2013: 103) e que “apenas utiliza a capacidade de trabalho para
acumular riqueza abstrata”, não podendo ser reduzido “às trivialidades da produção de
mercadorias por meio de mercadorias” nem “à extração de mais valor mediante a
exploração da força de trabalho” (p.64, nota 5).
É interessante destacar aproximações entre a análise do autor e o
estruturalismo francês na leitura de O capital (embora nenhum autor ligado à corrente seja
mencionado), mas sem descurar da história, afinal “a análise marxista dos modos de
produção tem como objetivo explicitar o conteúdo histórico e concreto das relações de
propriedade e de dominação” (p. 73). Belluzzo salienta que o objetivo de Marx nunca foi
fazer uma simples tipologia dos modos de produção e sim demonstrar a especificidade do
modo de produção capitalista: “(...) uma separação entre o político e o econômico de tal
modo que a propriedade atinge uma ‘natureza’ puramente econômica, diferente, portanto,
22 “A mobilização dos capitais impulsionada pelo sistema de créditos se transforma em uma força do capital industrial na medida em que promove a supressão das barreiras tecnológicas e de mercado, nascidas do próprio processo de concentração – em particular daquelas que decorrem do aumento das escalas de produção, com imobilização crescentes de grandes massas de capital fixo. As instituições financeiras que participam da constituição e gestão das grandes empresas ao estimular a ‘concorrência’ promovem centralização do capital e, portanto, reforçam o caráter monopolista dos empreendimentos capitalistas. Na verdade, ao estimular a conquista de novos mercados, provocam o acirramento da concorrência entre blocos de capital e impulsionam a internacionalização crescente da concorrência capitalista”. (BELLUZZO, 2013: 96)
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do conteúdo que assume nos demais modos de produção” (p. 73).
Domínio do econômico que revelaria sua essência com a subordinação real
promovida pela grande indústria: “À relação formal de apropriação passa a corresponder
uma relação real, o trabalhador isolado dá lugar ao trabalhador coletivo, de tal maneira que
o capitalista e o trabalhador passam a se constituir em simples suportes de uma relação
mais ampla de dominação” (p. 74, grifos nosso). O regime do capital enquadra trabalhadores
e capitalistas e no papel de sujeito encontramos o próprio capital, não “o capitalista
individual senão o próprio capital e o trabalho coletivo como sua extensão” (Idem). Por sua
vez, a relação mais ampla de dominação é tão opressiva que fica difícil vislumbrar a
transição social e não fazemos nenhuma crítica, o foco é mesmo a reprodução, sobre luta de
classes e socialismo encontramos apenas o básico e fundamental:
Marx não acreditava na transformação da sociedade produzida pelas leis
automáticas e “naturalizadas” – visão que o fetichismo da mercadoria, do
dinheiro e do capital pretende impor aos homens -; mas, para ele, tal mudança
só podia ser feita por meio da luta social a partir do que havia sido construído
pela história até então. O que mais irritava Marx era o socialismo utópico dos
que pretendiam reinventar o mundo ou fazê-lo regredir a formas de convivência
primitivas (p.19, grifo nosso).
Em meio ao processo sem sujeito de desenvolvimento do capitalismo - ou no
qual se sujeito houver é esse sujeito abstrato chamado capital -, a forma financeira vai
impondo sua dominância. Daí o volume III de O Capital, ser o que mais interessa ao autor:
“(...) as análises da concorrência, do crédito e, portanto, do processo de concentração do
capital se constituírem na parte mais rica e substantiva da investigação marxista sobre a
dinâmica do sistema capitalista e suas metamorfoses” (2013: 88). Análises amplamente
utilizadas por Belluzzo na reflexão sobre o desenvolvimento do capitalismo monopolista,
que, além de não eliminar a concorrência - “mais generalizada quanto mais desenvolvido o
capitalismo” (2013: 99) -, engendra negócios e formas de enriquecimento que pretendem a
independência “das leis da produção de mais-valia e das normas de reprodução e
acumulação do capital produtivo” (2013:108).
Por sua vez, a expansão o sistema de créditos comandado pelos bancos e a
fusão de interesses entre capital bancário e industrial vão promovendo o domínio das
finanças e a socialização da propriedade do capital. Conforme Belluzzo: “Criatura da
centralização do capital promovida pelo capital a juros, isto é, pelo capital replicado sob a
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forma de capital-propriedade, a sociedade anônima supõe necessariamente a transferência
de poder do capital industrial para o capital financeiro” (2013: 98). Como no mundo do
trabalho, a tendência é a coletivização, sem que o sistema abandone os critérios privados de
apropriação da renda e da valorização da riqueza. “(...) O capital assume uma forma social
nos marcos da propriedade privada” (2013:103) ou “(...) nas palavras de Marx (1966), a
‘abolição da indústria privada capitalista dentro do próprio regime capitalista de produção’”
(2013: 107). E “Marx fala claramente que essa forma desenvolvida [coletiva] de existência do
capital dá origem ao monopólio, às formas mais escandalosas de controle político e à
submissão do Estado aos ditames da finança” (Idem).
Enfim, se compreendemos bem, Belluzzo aponta à intensificação das
características centrais do capitalismo já identificadas por Marx e objeto de estudo em
autores posteriores. O desenvolvimento do capital financeiro executa as leis de movimento
do modo de produção capitalista, cujo dínamo é o processo de competição generalizada
determinando a tendência à expansão ilimitada. Todavia é preciso entender como “os
processos especulativos e de criação contábil de capital fictício”, antes “práticas ocasionais e
‘anormais’”, adquiriram caráter universal, dominante e ao que tudo indica permanente
dentro do sistema de acumulação consolidado nas últimas décadas (2013: 105).
Não é possível responder se as leis de movimento do modo de produção
capitalista chegariam a esse mesmo resultado independentemente dos processos políticos e
decisões tomadas no âmbito dos Estados nacionais - quer dizer, se de todo modo se imporia
o domínio das finanças em suas formas mais especulativas. É possível apenas apontar para
processos e decisões políticas que contribuíram neste sentido, talvez acelerando seu curso.
Nesse sentido, à luz dos estudos de Chesnais (1997, 2001), destacaríamos três decisões
políticas: a revogação em 1971 do sistema de Bretton Woods, o 1º choque do petróleo em
1973 e a decisão do governo dos Estados Unidos de em 1979 subir drasticamente a taxa de
juros.
A decretação unilateral dos Estados Unidos da inconversibilidade do dólar em
1971 representou uma primeira vitória da finança concentrada que abriria caminho para as
medidas de liberalização e desregulamentação financeiras a partir de 1979. Para os EUA a
passagem para o regime de taxas flexíveis de câmbio significaria o reforço da
predominância do dólar frente a todas as outras moedas, predomínio fomentado pelo
crescimento da dívida pública americana a partir de 1980-1982 (CHESNAIS, 2001:14)23. O
23 Embora, como escreveu Belluzzo (2013:160): “O mundo não convergiu para o regime de taxas flutuantes. Muito ao
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primeiro choque do petróleo e decorrentes petrodólares serviriam ao financiamento de
políticas econômicas na periferia do sistema, ao passo que o choque dos juros
norte-americanos em 1979 levaria os países devedores à beira da bancarrota, promovendo
a inversão dos fluxos do capital dos países devedores para o centro capitalista, numa
conjuntura de incertezas e desaceleração econômica mundial que atrairá capitais de todo o
mundo para os EUA24.
Como já apontado, a economia estadunidense foi impulsionada por
investimentos tecnológicos de ponta e desenvolvimento de produtos novos, o processo de
monopolização econômica avançaria com as transformações científico-tecnológicas em
curso, em meio à revolução nos assuntos militares norte- americanos (Revolution in Military
Affairs, RAM) e ao próprio fim da divisão bipolar do mundo. As transformações no setor de
telecomunicação-informatização elevariam o domínio das finanças, alterando as formas de
articulação com a produção de mercadorias e de espoliação das nações mais pobres pelas
mais ricas. Politicamente, a potência hegemônica passou a exercer um domínio
financeiro-militar sem precedentes graças à condição de maior devedor do mundo.
Atualmente, seus credores principais são China, Japão e outros países do leste asiático, mas
praticamente todos os países capitalistas têm acumulado reservas em dólar, em parte
aplicadas em ações, obrigações e títulos americanos. Como escreveu Mann:
(...) Isso significa que os países mais pobres subsidiam a economia dos EUA,
muito mais do que jamais chegam a receber como auxilio americano ao
desenvolvimento. Os Estados Unidos são a maior nação devedora, sinal não de
fraqueza, mas de força, o que lhe dá um grau inigualável de liberdade financeira.
O setor financeiro, que parece tão multinacional enquanto gira pelo mundo, usa
na verdade um passaporte americano. (MANN, 2006:73)
Eis o ponto central da articulação entre o Estado norte-americano e o capital
financeiro internacional: precisamente, sua posição de maior devedor do mundo, no interior
de cada formação social a articulação de interesses intercapitalistas globais –
contrário: a coexistência entre regimes de taxas de câmbio flutuantes e taxas administradas ou fixas tornou-se a marca registrada da economia mundial”.
24 Belluzzo (2013) descreve como vai se constituindo e se expandindo por toda parte uma engrenagem financeira nova- o “autodesenvolvimento do sistema financeiro” (p.158) - em torno da dívida estadunidense. Por exemplo: “Carregados de ativos podres latino-americanos e de outros países da periferia, os bancos substituíram em suas carteiras as dívidas dos periféricos por títulos do governo mais poderoso de mundo. A emissão de nova dívida pelo governo norte-americano foi importante para impulsionar o desenvolvimento dos mercados de capitais, ou seja, da securitização e dos derivativos. Os títulos norte-americanos, por sua liquidez e segurança, estimularam a expansão das operações de credito ‘securitizadas’.” (p.139)
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fundamentalmente financeiros - passa em maior ou menor grau pelo financiamento dos
déficits americanos. Como vem salientando Fiori (2008, 2009), os EUA decididamente se
tornaram o centro financeiro do mundo, com o Federal Reserve System administrando a
emissão da moeda de circulação internacional por meio das taxas de juros do próprio FED e
dos títulos emitidos pelo tesouro estadunidense, que passaram a servir de lastro ao padrão
dólar-flexível, num sistema no qual os EUA estipulam a taxa de juros da própria dívida
externa. E isto é imperialismo: o domínio do capital financeiro assumindo formas antes
inimagináveis: dominar devendo, a exportação de capitais segue crucial mas ocorreu certa
inversão de sentido.
A AMÉRICA LATINA ANTE O NOVO IMPERIALISMO
Para nós o que tem sido denominado de novo imperialismo é o velho
intensificado, que dispensa conceitos novos, mas sem rigor usamos a expressão a fim de
operar com a ideia de intensificação. Neste tópico, faremos comentários rápidos sobre a
ascensão e crescimento da economia chinesa reforçando a dimensão territorial do
imperialismo ligada à exploração de recursos naturais, ao mesmo tempo em que a
dimensão financeira se impõe desbragadamente sob a égide dos EUA. Não que tenha
amainado o objetivo das grandes corporações norte-americanas de controlar mercados e
recursos naturais mundiais, pelo contrário, segue acintoso, como demonstram estudos de
Harvey, Foster e outros que destacam a dimensão territorial recente da exploração
imperialista. Entretanto é possível afirmar que a “concorrência amistosa”, como definiu o
presidente Obama, entre EUA e China, implica numa articulação entre espoliação territorial
e espoliação financeira sob a égide da segunda. Conforme Belluzzo: “(...) o chamado ‘modelo
asiático’ tem uma relação simbiótica com as transformações financeiras e organizacionais
que deram origem as novas formas de concorrência entre as empresas dominantes da
tríade desenvolvida, Estados Unidos, Europa e Japão” (2013: 132).
As novas formas de concorrência caracterizar-se-iam pelo avanço da
centralização do controle por meio das fusões e aquisições desde os anos 1980
simultaneamente à descentralização da produção manufatureira, transferida para países de
mão de obra barata, com destaque para a China, que soube utilizar em favor do seu
desenvolvimento o estreitamento das relações com os EUA, anterior às reformas capitalistas
que supostamente explicariam seu sucesso, cuja integração à economia mundial foi
amplamente facilitada pelas transformações da terceira revolução industrial.
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Conforme Fiori (2013), analistas diversos costumam salientar o papel das
políticas liberalizantes de Deng Xiaoping, considerado o pai do “milagre econômico chinês”.
Entretanto, a história seria mais antiga, remetendo às relações com a União Soviética e, no
contexto da guerra-fria, com os EUA. A inimizade com a URRS seria fundamental à
compreensão do milagre chinês, pois teria levado à associação com os Estados Unidos e ao
desenvolvimento de uma indústria bélica chinesa. Associação que se tornará cada vez mais
estreita a partir de meados dos anos 1970 quando uma nova estratégia militar e econômica
encerraria a Revolução Cultural (1965-1974) e promoveria a centralização e o fortalecimento
do Estado. Essa pré-história seria fundamental ao entendimento da ascensão mundial do
gigante asiático:
A URSS era definida como a principal ameaça à segurança chinesa, e deveria ser
contida através de uma política militar de “defesa ativa”, e de uma estratégia
política-diplomática “ofensiva”, de reaproximação com os EUA. (...) [em 12/1971]
chegou à Casa Branca, em Washington, a mensagem do primeiro-ministro, Chou
en Lai, que deu início a uma das transformações geopolíticas mais importantes
do século XX. Em nome da nova estratégia, na reunião presidencial de 1972,
entre os presidentes Mao e Nixon, Mao Tse Tung colocou entre parêntesis as
divergências dos dois sobre a questão de Taiwan, e propôs ao presidente Nixon
uma “linha horizontal” de contenção da URSS, que passava pelo Oriente Médio, e
chegava até o Japão. (FIORI, 2013)
Tendo servido aos interesses norte-americanos de enfraquecimento da URSSS, a
parceria EUA-China se estreitaria após o fim da URSS (embora a China também tenha se
aproximando da Rússia). E mais que enfraquecer/ameaçar a hegemonia norte-americana, o
casamento China-EUA tem fortalecido a posição de potência mundial dos EUA, financiando
seus déficits e promovendo o barateamento da produção de mercadorias por meio da
transferência de unidades produtivas para a Ásia e da entrada de produtos manufaturados
baratos no mercado americano (FIORI et al, 2008). A abertura do mercado norte-americano
aos produtos chineses foi por sua vez decisiva para o denominado milagre chinês, assim
como a ancoragem da sua moeda ao dólar25.
Para a América Latina, a ascensão chinesa foi providencial, pois a demanda por
commodities movimentou a economia da região, além dos investimentos diretos chineses
também terem aumentado significativamente. Mas gerando uma situação muito favorável
25 A China é o maior credor dos EUA e possui reservas que ultrapassam os U$$ 3,5 trilhões em torno de 70% estão aplicados em dólar.
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às exportações de produtos primários latino-americanos e importações de produtos
manufaturados chineses, que preocupa, pois tende a promover desindustrialização (ou não
industrialização) e especialização produtiva. Além disso, para o Brasil, do ponto de vista dos
mercados externos, a expansão chinesa em países nos quais empresas brasileiras atuam
tem significado perda de mercados face ao país asiático, na medida em que este pode
promover parceria/financiamentos mais atrativos que o Brasil. Contudo a expansão chinesa
também abriu oportunidades de negócios e investimentos à economia brasileira nos
últimos anos. Neste sentido vale retomar as recomendações de Barros de Castro (2011)
numa de suas últimas entrevistas, para quem tratava-se de aproveitar a bonança das
commodities para investimentos em:
(...) setores protegidos pela especificidade dos nossos recursos naturais, por
costumes, estrutura industrial e demanda. (...) Não proponho uma volta ao
agrário. O agrário é uma trégua para você, por exemplo, construir uma indústria
ligada ao pré-sal, de satélites, de novos materiais, de aços especiais. É aplicar os
conhecimentos existentes para desenvolver coisas próprias e originais. A
química do etanol permite desenvolver plásticos verdes. A indústria
automobilística chinesa deseja vir para cá? Vamos fazer um acordo para em dez
anos os plásticos serem todos verdes; nós garantimos a evolução do produto. É
usar a China como mercado. É possível mudar os tratores para que eles se
adaptem às necessidades do Brasil. Não é pegar o americano e fazer outro um
pouco mais sofisticado. É fazer máquinas adaptadas às condições tropicais de
solo, clima.26
Entretanto precisaria ser eficaz e rápido, o que um país emaranhado nas teias da
dependência externa, ao qual na atual fase do capitalismo foi reservado o papel de paraíso
dos juros, talvez seja impossível. E por tudo que foi dito acima, acerca do que seja o
imperialismo, é difícil sustentar que o Brasil seja um país imperialista, mesmo que em
dimensão regional, sendo possível apontar apenas para práticas imperialistas, porém o
imperialismo é muito mais que um conjunto de práticas. Temos a mesma impressão quanto
à China, numa situação evidentemente muito mais elevada que o Brasil e cuja articulação
com os EUA pode garantir mais poder inclusive comparativamente a outros países da tríade
desenvolvida/imperialista.
26 Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1104201109.htm, acesso em 14/07/2014.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste texto procuramos resumir o debate clássico sobre o imperialismo, entre
autores que concebem o imperialismo como uma política expansionista a fim de superar
problemas ligados ao processo de acumulação e expandir o poder dos Estados dominantes
e aqueles que identificam o imperialismo sobretudo ao domínio do capital financeiro e
etapa superior do capitalismo. Deve estar clara nossa concordância com a última
perspectiva, segundo a qual o imperialismo não designaria meramente a política de
dominação e conquista de mercados externos pelas potências hegemônicas ou uma opção
de política do capital financeiro internacional. O imperialismo é intrínseco ao capitalismo,
mas, mais que isso, é o próprio capitalismo na etapa monopolista, produto do
desdobramento lógico das leis de movimento deste modo de produção, cujo dínamo é o
processo de competição generalizada e a tendência à expansão ilimitada que, nas últimas
décadas, promoveu a entrada em cena de um novo jogador: a China. Finalmente, quis a
política que a execução das tendências imanentes ao desenvolvimento do capitalismo
reafirmasse não apenas o predomínio das finanças mas levasse às suas formas mais
especulativas, sem que tenha diminuído o apetite das grandes corporações por mercados e
recursos naturais. Ao contrário, com a emergência econômica da China intensificou-se a
articulação entre espoliação territorial e espoliação financeira, como demonstra recente
especulação sobre preços de commodities. Finalmente, não é possível ainda falar numa
nova teoria do imperialismo, o que denominam novo imperialismo vem, de fato, sendo
analisado por meio de conceitos repaginados, portanto, talvez falar em
desenvolvimento/aprofundamento das características do velho imperialismo seja mais
acertado.
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O NOVO IMPERIALISMO: TERRITÓRIO E FINANÇAS
EIXO 1 – Transformações territoriais em perspectiva histórica: processos, escalas e contradições
RESUMO
O artigo se divide em três tópicos, no primeiro retomamos teorias do imperialismo clássicas; em
seguida tentativas de teorizações recentes; por fim arriscamos comentários sobre a situação
latino-americana, entre o velho e o novo imperialismo. Após exposição breve das teorias de
Hobson, Kautsky, Luxemburgo, Hilferding e Lênin, abordaremos teorias recentes, buscando
apontar para o que haveria de supostamente novo no imperialismo atual. O objetivo é a reflexão
sobre a retomada da problemática do imperialismo no debate acadêmico das últimas décadas,
com destaque aos estudos de David Harvey e François Chesnais. Interessa abordar tanto a
dimensão territorial das práticas imperialistas atuais como o imperialismo como etapa superior.
Para nós a última dimensão é sobredeterminante, mas em tentativas de teorização recentes a
primeira dimensão tem predominado: o imperialismo como conjunto de práticas ligadas à
exploração dos países pobres pelos países ricos, cuja característica central seria a espoliação de
territórios. Dimensão crucial, que, todavia, deve ser analisada como subordinada à definição
leninista, do imperialismo como etapa superior do desenvolvimento do capitalismo. Como é
conhecido, em meio à expansão do sistema de créditos ocorre a fusão entre capital bancário e
industrial, sob a égide do primeiro, sendo a sociedade anônima o mecanismo por excelência para
conformação do capital financeiro moderno. A tendência é para a coletivização da propriedade do
capital sem abolição da apropriação privada da renda e mecanismos de valorização da riqueza. É
essa fase superior do capitalismo marcada pela socialização da propriedade do capital nos
marcos do regime da propriedade privada que define o imperialismo, à luz dos estudos de Lênin e
de Hilferding. Patamar superior de desenvolvimento capitalista que distinguirá os países
imperialistas dos subordinados no sistema mundo e que faria do imperialismo capitalista algo
distinto das práticas imperialistas transhistóricas. Dessa ótica, teria pouco sentido denominar o
Brasil de imperialista e as práticas expansionistas recentes de empresas brasileiras precisam ser
analisadas sob outro prisma. Mais difícil é a análise do caso chinês, sobre o qual apenas
arriscaremos comentários a partir dos autores/textos aos quais recorremos. Em resumo, o objetivo
principal é refletir sobre o lugar do espaço-território nas teorizações recentes e nas clássicas, de
forma articulada ao que constituiria a essência do imperialismo: o domínio do capital financeiro. A
ascensão e crescimento da economia chinesa reforçou a dimensão territorial do imperialismo,
ligada à exploração de recursos naturais, ao mesmo tempo em que a dimensão financeira se
impõe desbragadamente sob a égide dos EUA. É essa articulação entre espoliação territorial e
espoliação financeira (mormente dos Estados, outra forma de socialização & apropriação privada
da riqueza) que pretendemos abordar rapidamente na última parte, da ótica da periferia
latino-americana. A metodologia envolve sobretudo a pesquisa baseada em fontes secundárias,
fontes primárias serão utilizadas a título de ilustração dos apontamentos teóricos.
Palavras-chave: imperialismo, território, finanças.
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