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O PAPEL CONSTITUCIONAL DAS FORÇAS ARMADAS (Jornal O Estado de S. Paulo – 09/06/2017 – A2 Espaço Aberto)
Os recentes atos de vandalismo provocados por movimentos que sempre se
manifestam promovendo a baderna, destruição de bens públicos e privados - pois são
notórios violadores da lei e da ordem, a título de impor o que entendem ser ideal para
o país, ou seja, a “república do caos” - deixaram um saldo negativo para a imagem do
Brasil, com incêndios e depredações de Ministérios em Brasília.
É de se lembrar que o ex-presidente Lula pediu aos autos confessados delinquentes de
colarinho branco da JBS, dinheiro para financiar a ida à Capital Federal de invasores de
terras (MST), transportados, em 60 ônibus, com outros violadores da ordem. Onde
conseguiram dinheiro para isto, é questão que deve ser averiguada. Geraram uma
desordem não contida pela polícia militar em Brasília e só possível de ser debelada
quando o Presidente da República chamou as Forças Armadas a intervir, COMO
DETERMINA A CONSTITUIÇÃO.
A imprensa, não versada no direito constitucional, e os políticos de esquerda, que
chamaram os agressores de bens públicos de “companheiros mascarados”, enxergaram
no ato uma violação à ordem democrática.
Ora, agiu, o Presidente da República, rigorosamente como deveria, não se omitindo na
preservação da ordem e da lei, pois a Constituição permite o uso das Forças Armadas
em tais circunstâncias.
O artigo 142 da CF, “caput” tem a seguinte redação:
“Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.
São três, portanto, suas funções, a saber:
1) Garantir a defesa da pátria;
2) Garantir os Poderes constituídos;
e
3) A pedido de quaisquer deles (Poderes constituídos) assegurar o cumprimento da
lei e da ordem.
Em outras palavras, o Título V da Lei Suprema, destinado a assegurar o Estado
Democrático de Direito nas crises externas ou internas –nós, os constitucionalistas,
denominamos o Título V, de “Regime Constitucional das crises, constituído de 9 artigos
(136 a 144) - dá às Forças Armadas (142 a 143) e às forças de Segurança Pública
(144) tais funções, que podem ser exercidas, em crises internas, invocando o “Estado
de Defesa” (crise localizada) ou de “Sítio” (generalizada), para evitar que a ordem seja
tisnada.
Ora, os baderneiros, que não entendem que, na democracia, todas as manifestações
populares são válidas, DESDE QUE SEM VIOLÊNCIA, geraram caos impossível de ser
controlado pela polícia militar, primeira linha de defesa da ordem pública e da paz
social. Sua ineficiência gerou a necessária convocação do Exército, cuja mera presença
simbólica já serviu para estancar a desordem, ao ponto de o decreto presidencial poder
ser revogado em menos de 24 horas.
A lição não compreendida pelos que desconhecem a Constituição –- além daqueles que
fingem não compreendê-la por cinismo, com vistas à imposição arbitrária de seus
próprios objetivos-- é de que os constituintes de 88 deram às Forças Armadas o
relevante papel de estabilizador das crises políticas e sociais, quando os Poderes se
tornarem incapazes de uma solução, por vias normais. Assim, agem na defesa da
pátria (fracasso da diplomacia), na defesa das instituições contra agressões físicas
(fracasso da população em entender que a violência contra instituições não é própria
das manifestações democráticas) ou da lei e da ordem (fracasso da harmonia entre
Poderes ou invasão de competência de um na de outro).
O simples fato de criar-se este instrumento supremo e estabilizador, em momentos de
crise não solucionada pelo poder civil, foi pensado pelos constituintes de 88,
objetivando preservar a mais importante conquista política de um povo, que é a
democracia.
John Rawls, em seu livro “Direito e Democracia”, sustenta só ser possível a
democracia, a partir da convivência de “teorias não abrangentes”. Ou seja: não há
teoria absoluta, na democracia; do debate entre as várias teorias é que surge, para
cada Nação, aquela melhor aplicável. Não sem razão, o regime parlamentar é o melhor
sistema de governo (responsabilidade a prazo incerto), pois as mudanças políticas
fazem-se sem traumas, ao contrário do presidencialismo (irresponsabilidade a prazo
certo) em que tais mudanças são sempre traumáticas. Das 20 maiores democracias do
mundo, 19 são parlamentaristas e só uma (Estados Unidos) é presidencialista.
Tais considerações eu as faço para esclarecer que tem as Forças Armadas função
relevante, para não permitir que a democracia brasileira seja maculada por baderneiros
e políticos oportunistas, ou seja, aqueles que geraram o caos econômico, a inflação
descontrolada, o desemprego elevado e brutal queda do PIB, além de longos anos de
corrupção, sem limites.
A democracia só pode ser vivenciada por povos que compreendem que o debate
político é necessariamente oposição de ideias e que estas devem ser sempre expostas
sem limites, mas também sem violência, para que a razão e não a emoção gerada pelo
populismo venha a prevalecer. A ignorância, de rigor, é a grande arma de que o
populismo se serve para conquistar o poder. Mas o líder populista é um despreparado
para exercê-lo, razão pela qual, quando o conquista, gera retrocesso e corrupção.
Pode-se criticar o texto constitucional, por adiposidade excessiva em disposições,
muitas delas sem densidade constitucional, mas, na essência, Ulisses Guimarães e
Bernardo Cabral (presidente e relator) conseguiram de seus pares um texto em que a
parte dedicada aos princípios fundamentais é boa, principalmente a que diz respeito
aos direitos individuais e ao equilíbrio entre os Poderes, com papel relevante, mas de
reserva para crises, das Forças Armadas.
A2 Espaço aberto SEXTA-FEIRA, 9 DE JUNHO DE 2017
0 ESTADO DES. PAULO
o papel constitucionaldas Forqas Armadas0tis CDA SILVA NLMITINS
O
s recentes atosde vandalismoprovocadospor movimen-tos que semprese manifestam
promovendo a baderna, des-truiçao de bens püblicos e pri-vados - pois são notórios viola-dores da lei e da ordem, a tItulode impor o que entendem serideal para o Pals, ou seja, a "re-pñblica do caos" - deixaramurn saldo negativo para a ima-gern do Brasil, corn incêndios edepredaçoes de ministérios,em Brasilia.
E de lembrar que o ex-presi-dente Lula pediu aos autocon-fessados delinquentes de colari-nho branco da JBS dinheiro pa-ra financiar a ida a capital fede-ral de invasores de terras(MST), transportados em 6oônibus, corn outros violadoresda ordern. Onde conseguirarndinheiro para tudo isso é ques-tao que deve ser averiguada.Provocaram uma desordernnão contida pela PolIcia Militardo Distrito Federal e que so foipossIvel debelar quando opresi-dente da Repüblica chamou asForças Armadas a intervir, co-
ma determina a Constituição.A imprensa, não versada no
Direito Constitucional, e os po-liticos de esquerda, que chama-ram os agressores de hens pü-blicos de "companheiros mas-carados", enxergaram no atouma violaçao a ordern derno-crática. Ora, agiu o presidenteda Repüblica rigorosarnente co-rno deveria, não se omitindo napreservaçao da ordem e da lei,pois a Constituiçao permite ouso das Forças Armadas emtais circunstbncias.
0 artigo 142 da Carta Magna,caput, tern a seguinte redação:"As Forças Armadas, constituI-daspela Marinha, pelo Exército epela Aeronáutica, são institui-çOes nacionaispermanentes e re-gulares, organizadas corn basena hierarquia e na disczlina, soba autoridade suprema do Presi-dente da Repiiblica, e destinarn-se a defesa da Pátria, a garantiadospoderes constitucionais e,poriniciativa de qualquer destes, dalei da ord em".
São três, portanto, as suasfunçöes,asaber: i) garantirade-fesa da Pátria, 2) garantir os Po-deres constituldos e 3) a pedidode quaisquer deles (PoderesconstituIdos) assegurar o curn-primento da lei e da ordem.
Em outras palavras, o TItulo
V da Lei Suprema, destinado aassegurar o Estado Democráti-co de Direito nas crises exter-nas ou internas - que nós, osconstitucionalistas, denornina-mos "Regime Constitucionaldas crises"—, constituIdo de no-ye artigos (136 a iz), dá as For-ças Armadas (142 a 143) e as for-ças de segurança püblica (in)tais funçOes, que podem serexercidas em crises internas in-vocando o "estado de defesa"(crise localizada) ou de "sltio"(generalizada), para evitar quea ordem seja tisnada.
Ora, os baderneiros - quenão entendemque na democra-cia todas as manifestaçoes po-pulares são válidas desde quesern violência - produziramcaos impossIvel de sercontrola-do pela PolIcia Militar, primei-ra linha de defesa da ordem pü-blica e da paz social. Sua inefi-ciência causou a necessáriaconvocação do Exército, cujamerapresença simbólicajá ser-viu para estancar a desordem, aponto de o decreto presiden-cial poder ser revogado em me-nos de 24 horas.
Alição não compreendida pe-los que desconhecem a Consti-tuiçao - além daqueles que fin-gem não cornpreendê-la por ci-nismo, corn vista a imposiçãoarbitráriade seuspróprios obje-tivos - é a de que os constituin-tes de 1988 deram as Forças Ar-madas o relevante papel de esta-
A mera presençasimbólica do Exércitoserviu para estancara desordem em Brasilia
bilizador das crises polIticas esociais, quando os Poderes setornarem incapazes de uma so-luçao por vias norrnais. Assim,agem na defesa da Pátria (fra-casso da diplomacia), na defesadas instituiçOes contra agres-sôes fIsicas (fracasso dapopula-cão em entender que a violên-cia contra instituiçoes não éprópria das manifestaçoes de-mocráticas) ou da lei e da or-dem (fracasso da harmonia en-tre Poderes ou invasão de com-petencia de um na de outro).
0 simples fato de se criar es-se instrumento supremo e esta-bilizador, em momentos de cri-se não solucionada pelo podercivil, foi pensado pelos consti-tuintes de 88, objetivando pre-servar a mais importante con-quista polItica de urn povo, que
é a democracia.John Rawls, em seu livro Di-
reito e Dernocracia, sustenta soserpossIvelademocracia apar-tir da convivência de "teoriasnão abrangentes". Ou seja: nãoháteoria absoluta, na democra-cia; do debate entre as váriasteorias é que surge, para cadanação, a melhor aplicável. Nãosern razão, o regime parlamen-tare o melhor sistema de gover-no (responsabilidade a prazoincerto), pois as rnudanças p0-lIticas se fazem scm traumas,ao contrário do presidencialis-mo (irresponsabilidade a pra-zo certo), em que tais mudan-ças são sempre traumáticas.Das 20 maiores democraciasdo mundo, 19 são parlamenta-ristas e sO uma (Estados Uni-dos) é presidencialista.
Tais consideraçOes eu as façopara esclarecer que tern as For-ças Armadas função relevante,para não perinitir que a demo-cracia brasileira seja maculadapor baderneiros e politicosoportunistas, ou seja, aquelesque causaram 0 caos econômi-co, a inflação descontrolada, odesemprego elevado e brutalqueda do PIB, alérn de longosanos de corrupção sem lirnites.
A democracia so pode ser vi-venciada por povos que com-preendem que o debate politi-co é necessariamente Oposiçãode ideias e que estas devem sersernpre expostas scm limites,mas também sem violência, pa-ra que a razão, e não a emoçãogerada pelo populismo,venha aprevalecer. A ignorância, de ri-gor, é a grande arma de que opopulismo se serve para con-quistar o poder. Mas o lIder p0-pulista é urn despreparado paraexercb-lo, razão por que, quan-do o conquista, promove retro-cesso e corrupção.
Pode-se criticaro texto cons-titucional por adiposidade cx-cessiva em disposiçOes, muitasdelas scm dens idade constitu-cional. Mas, na essência, Ulys-ses Guimarães e Bernardo Ca-bral (presidente e relator) con-seguiram de seus pares urn tex-to em que a parte dedicada aosprincIpios fundamentais éboa, principalmente a que dizrespeito aos direitos indivi-duais e ao equilibrio entre osPoderes, com papel relevante,mas de reserva para crises, dasForças Armadas.
*JURISTA, PROFESSOR E ESCRITOR