o papel da lisofosfatidilcolina na ativação do...
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Universidade de Braslia UnB
Instituto de Cincias Biolgicas - IB
Programa de Ps-Graduao em Biologia Molecular
O papel da lisofosfatidilcolina na ativao do
inflamassoma NLRP3 e sua relao com a formao
de clulas gordurosas
Rafael Corra
Orientadora:
Prof. Dra. Kelly Grace Magalhes
Braslia
Fevereiro, 2016
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Universidade de Braslia UnB
Instituto de Cincias Biolgicas - IB
Programa de Ps-Graduao em Biologia Molecular
Rafael Corra
O papel da lisofosfatidilcolina na ativao do
inflamassoma NLRP3 e sua relao com a formao
de clulas gordurosas
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao em Biologia Molecular,
para a obteno do ttulo de Mestre em Biologia Molecular.
Orientadora:
Prof. Dra. Kelly Grace Magalhes
Braslia
Fevereiro, 2016
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Rafael Corra
O papel da lisofosfatidilcolina na ativao do inflamassoma NLRP3 e sua
relao com a formao de clulas gordurosas
Data: 19 de Fevereiro de 2016
Banca Examinadora
Prof. Dra. Kelly Grace Magalhes (Presidente)
Programa de Ps-graduao de Biologia Molecular- Universidade de Braslia
Prof. Dr. Marcelo de Macedo Brgido (Membro)
Programa de Ps-graduao em Biologia Molecular - Universidade de Braslia
Prof. Dra. Patrcia Torres Bozza (Membro)
Instituto Oswaldo Cruz Rio de Janeiro
Prof. Dr. Jos Raimundo Correa (Membro suplente)
Programa de Ps-graduao em Biologia Molecular - Universidade de Braslia
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Agradecimentos
A Deus pelo dom da vida, cincia e sabedoria. Por todo o suporte emocional, fsico e
material, alm de sempre estar presente na minha vida me abenoando e protegendo.
A minha orientadora Dra. Kelly Grace Magalhes por ter me acolhido, ensinado e
direcionado durante toda a minha carreira acadmica, e por todas as vezes que ela foi, amiga,
psicloga, confidente e principalmente Me. Agradeo por ter enxergado em mim, um
potencial que nem eu mesmo sabia que possua, por acreditar e confiar em mim desde sempre,
sem voc este trabalho certamente no existiria.
A minha amiga, irm e co-autora Raquel das Neves Almeida por ter caminhado junto
comigo desde do primeiro dia da graduao at hoje, por me ajudar nos momentos em que
quis desistir, por ser companheira das madrugadas na escrita ou no lab. Por sempre acreditar e
confiar em mim, e por todas as vezes que eu precisava de uma palavra amiga, um abrao ou
at mesmo um chocolate e voc estava sempre ao meu lado.
Aos meus co-autores Dalila e Lus Felipe, por todo apoio experimental e psicolgico
alm da companhia maravilhosa de vocs dois todos os dias no lab. sem vocs esse trabalho
no teria ficado to bom. Aos meus colegas, ex-colegas e amigos do Laboratrio de
Imunologia e Inflamao (LIMI): Adrielle, Beatriz, Ceclia, rika, Gabriel, Larissa, Lvia,
Lus Henrique, Nayara e Tiago. E aos agregados do LIMI: Ivy, Michelle e Pedro por toda a
pacincia em conviver comigo e por tudo o que fizeram por mim.
A todos estes listados que me ajudaram de alguma forma quando precisei: ao Lab. De
Radicais Livres (GPRO): Daniel, Ting, Luana, Igor, Hylane e Prof. Marcelo. Lab. De
Imunologia Aplicada (LIA): Raffael, Mrcio, Karina, Angelina, Pedro, Isaque, Gabriela,
Dawane, Prof. Aldo e Prof. Anamelia; (Ana Camila, Tssia e Luza). Ao Lab. De Interao
Parasito-Hospedeiro (LIPH): Raquel, Clnia, Camila, Milene, Natlia, Grazi, Yanna, Carol,
Marta e a Prof. Izabela, (Jhonata); Ao Lab. de Microscopia: Lorena, Jos, Nbia, Daniella e
ao Prof. Corra. Ao Lab. de Virologia: Miguel, Dbora, Daniel e o Prof. Fernando. Ao Lab.
de Anlises Moleculares de Patgenos (LAMP): Nayara, Erick, Prof. Tatiana e o Prof.
Vicente. A Prof. Cecilia, Prof. Beatriz, Sara, Jivago e Adriana do Biotrio. A Amanda, Joo
Paulo e todos os colegas do corredor da Biofsica em especial ao Chiquinho por todo suporte
e ajuda que me foi concedida.
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Aos meus bioamigos, Agnelo, Miguel e Mara, Raffael Castro e Raquel Almeida por
serem os melhores amigos que a biologia poderia me conceder, obrigado por estarem junto
comigo realizando este sonho. Que nossa amizade seja eterna.
As minhas melhores amigas Gleice Borges e Thas Amanda por todo o apoio
psicolgico, emocional e por todas as vezes que me ajudaram no lab. Etiquetando meus
tubinhos ou lavando minhas placas de ELISA, uma honra ter amigas como vocs.
As minhas meninas, Carol, Jussara, Rayane, Deyse, Bia, Veronica, Isadora e Camila.
Pela amizade, fidelidade, pacincia e compreenso. Aos meus amigos da Igreja, Claiton,
Ruan, Matheus Lothar, Matheus Rezende, Marcus Vinicius. Aos meus amigos de ensino
mdio, Weslen e Melissa, Geisiane, Diogo, Fabula, Yuri e Nayara, Paulo, Davson, Vanya,
irka e a todos que me apoiaram e me incentivaram durante todos esses anos.
Aos meus Vizinhos e amigos Jari e Evanor, por me ajudarem financeiramente, me
dando apoio e incentivo em todos os momentos. Aos meus afilhados Carol, Pablynne e Paulo
Henrique, Deus me deu vocs de presente pra cuidar e amar.
A minha famlia, minha me Lucineide e meu pai Marcos por me gerarem e criarem
com tanto amor, carinho e cuidado. A minha irm e melhor amiga Isabela por todas as vezes
que cuidou de mim, me amou e foi pro lab. etiquetar meus tubinhos. A meus animais de
estimao Amy e Uli por me mostrarem o amor da forma mais sincera e leal possvel. Vocs
so o bem mais precioso e valioso que eu possuo a melhor coisa que eu nunca tive e apesar
das dificuldades defeitos, a melhor famlia que eu poderia ter. A todos os meus Tios, Tias,
primos e primas, em especial aos meus padrinhos Hildete e Minoro por serem os melhores
padrinhos que eu poderia ter.
Essa dissertao eu dedico em especial a memoria das minhas duas avs, Maria
Moraes Correa e Josefa Romana de Jesus, por todo o amor, carinho, palavras de sabedoria e
incentivo. Esse ttulo pra vocs muito obrigado por tudo que fizeram por mim e por meus
pais. Saibam que meu amor e gratido por vocs sero infinitos.
Por fim, agradeo a Universidade de Braslia por ser minha segunda casa desde 2010,
ao programa de ps-graduao em Biologia Molecular, e as agencias de fomento FAPDF e
CNPq.
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Sumrio
Resumo ...................................................................................................................................8
Abstract...................................................................................................................................9
Lista de Abreviaturas............................................................................................................10
1) Introduo..........................................................................................................................12
1.1 Aterosclerose .................................................................................................................12
1.2 Lisofosfatidilcolina........................................................................................................14
1.3 Corpsculos lipdicos.....................................................................................................16
1.4 Inflamassoma e piroptose .............................................................................................18
2) Justificativa ......................................................................................................................22
3) Objetivos............................................................................................................................23
4) Materiais e Mtodos.........................................................................................................24
4.1 Camundongos, tratamentos in vivo e consideraes ticas...........................................24
4.2 Clulas utilizadas...........................................................................................................24
4.3 Estmulos e tratamentos.................................................................................................25
4.4 Anlise da viabilidade celular........................................................................................25
4.5 Anlise da ativao de caspase-1...................................................................................26
4.6 Anlise da produo de espcies reativas de oxignio..................................................26
4.7 Dosagem de citocinas.....................................................................................................27
4.8 Anlise da biognese de corpsculos lipdicos por citometria de fluxo e microscopia de
fluorescncia confocal.............................................................................................................27
4.9 Anlise de HMGB1 por imunofluorescncia.................................................................28
4.10 Anlises estatsticas......................................................................................................28
5) Resultados...........................................................................................................................29
5.1 A LPC possui um efeito citotxico e diminui a viabilidade celular de moncitos e
clulas endoteliais humanas.....................................................................................................29
5.2 LPC induz a ativao de Caspase-1 em macrfagos murinos.........................................30
5.3 LPC induz a produo de ROS in vitro e in vivo............................................................31
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5.4 LPC induz a secreo de IL-1 em moncitos humanos.................................................33
5.5 Mecanismos de secreo de IL-1 induzida por LPC.....................................................35
5.6 A secreo de IL-1 em camundongos estimulados com LPC.......................................38
5.7 LPC induz a translocao do HMGB1 para o citoplasma em moncitos e clulas
endoteliais.................................................................................................................................39
5.8 LPC induz a biognese de corpsculos lipdicos em moncitos humanos......................41
5.9 Mecanismos envolvidos na biognese de CL em moncitos mediados por LPC...........43
5.10 LPC induz a biognese de corpsculos lipdicos em clulas endoteliais......................45
5.11 Mecanismos envolvidos na biognese de CL em clulas endoteliais mediados por LPC
...................................................................................................................................................47
5.12 LPC induz a biognese de CL in vivo, independente de Caspase-1/11 e NLRP3.........49
5.13 LPC induz a liberao de fatores pela clula endoteliais que medeiam a ativao de
moncitos humanos...................................................................................................................50
5.14 LPC induz a secreo de citocinas pr-inflamatrias por moncitos e clulas
endoteliais.................................................................................................................................52
6) Discusso ............................................................................................................................53
7) Concluses...........................................................................................................................60
7.1 - Modelo Proposto..............................................................................................................61
8) Referncias..........................................................................................................................62
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8
O papel da lisofosfatidilcolina na ativao do inflamassoma NLRP3 e sua relao com a
formao de clulas gordurosas.
Resumo
Dissertao de mestrado
Rafael Corra
A Lisofosfatidilcolina (LPC) um lisofosfolipdio que constitui a membrana plasmtica e
possui um papel importante na sinalizao celular, pois est diretamente associada albumina
e a lipopoliprotenas. A LPC tem um amplo espectro de atividades pr-inflamatrias e exerce
um papel fundamental durante a aterosclerose, pois ela o principal componente fosfolipdio
de lipoprotenas de baixa densidade oxidada (oxLDL). Ela tambm capaz de induzir a
formao de clulas gordurosas, as quais so componentes celulares fundamentais para o
estabelecimento da aterosclerose e recrutamento leucocitrio para o stio desta patologia,
induzindo a progresso da doena. No entanto, o papel de LPC na ativao do inflamassoma e
na modulao da biognese de corpsculos lipdicos (CLs) neste processo ainda mal
compreendido. Este estudo tem por objetivo investigar se LPC capaz de ativar o
inflamassoma NLRP3 e induzir a secreo de IL-1 relacionando com os mecanismos de
formao de clulas gordurosas por meio da anlise da biognese de CLs. Nossos resultados
mostraram que a LPC induz um efeito citotxico em altas concentraes em moncitos e
clulas endoteliais, alm de induzir a produo de espcies reativas de oxignio (ROS) e a
ativao de caspase-1. A LPC induz a ativao do inflamassoma NLRP3 atravs da induo
da secreo de IL-1 dependente de efluxo de potssio, dano lisossomal, reconhecimento via
TLR-2, ativao de PPAR e estabilizao das jangadas lipdicas em moncitos humanos e
dependentes das caspases-1/11 e do inflamassoma NLRP3 em macrfagos peritoneais de
camundongos. Alm disso, a LPC induz a translocao do HMGB-1 do ncleo para o
citoplasma tanto em clulas endoteliais quanto em moncitos. Outro resultado importante foi
induo da formao de clulas gordurosas, via LPC, em moncitos e clulas endoteliais in
vitro, atravs do aumento da biognese de CLs de maneira independente do inflamassoma
NLRP3 e das caspases-1/11 in vivo. Alm disso, as clulas endoteliais estimuladas com LPC
ativam moncitos a se transformarem em clulas gordurosas, atravs da induo da biognese
de CL, por mecanismo ainda desconhecido. Portanto, o presente trabalho caracterizou
diferentes mecanismos celulares e moleculares envolvidos na formao de clulas gordurosas,
correlacionando-os com as vias de ativao dos inflamassomas e do metabolismo lipdico
celular, e que corroboraram para a criao de um microambiente propcio ao estabelecimento
e manuteno da formao de placas aterosclerticas.
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The role of lysophosphatidylcholine in the activation of the NLRP3 inflammasome and its
relation to the formation of foam cells
Abstract
Dissertao de mestrado
Rafael Corra
Lysophosphatidylcholine (LPC) is a major lipid component of plasmatic membrane and has
an important role in cell signaling because it is directly associated with albumin and
lipoproteins. The LPC has a broad spectrum of pro-inflammatory activity and plays a key role
in atherosclerosis, since it is a major phospholipid component of oxidized low density
lipoprotein (oxLDL). Furthermore, LPC is also able to induce the formation of foam
macrophages, which are the key cell component for the establishment of atherosclerosis and
leukocyte recruitment on the site of the pathology. However, the role of LPC in modulating
inflammasome activation and lipid droplet biogenesis in this process is poorly understood.
This study is aimed to investigate if LPC is capable of inducing inflammasome activation and
IL-1 secretion, verify the foam cell formation by analyzing lipid droplet biogenesis and
characterize the signaling pathway involved in this process. Our results showed that LPC
induces a cytotoxic effect in high concentrations in monocytes and endothelial cells,
generation of reactive oxygen species (ROS) and activation of caspase-1. LPC induces
activation of the inflammasome NLRP3 by induction of IL-1 secretion dependent of
potassium efflux, and lysosomal damage via TLR-2 recognition, PPAR gamma activation and
stabilization of lipid rafts in vitro, and caspase-1/11 and NLRP3 inflammasome in vivo
assays. Furthermore, LPC induced translocation of HMGB1 from the nucleus towards the
cytoplasm in endothelial cells and monocytes. Another important result was the induction of
the formation of foam cells by LPC both in monocytes and endothelial cell in vitro assays, by
increasing the biogenesis of lipid droplets in a manner independent of the NLRP3
inflammasome and caspase-1/11 in vivo. Additionally, endothelial cells stimulated with LPC
activated monocytes to transform into foam cells through induction of lipid droplets
biogenesis by unknown mechanism. Therefore, the present study characterized different
cellular and molecular mechanisms involved in the formation of foam cells, correlating them
with the activation pathways of inflammasomes and cellular lipid metabolism, and
corroborated to create a favorable microenvironment for the establishment and maintenance
of formation atherosclerotic plaques.
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Lista de abreviaturas, acrnimos, siglas e smbolos
AA cido araquidnico
ADRP Protena relacionada diferenciao de adipcitos
AIM-2 Ausente no melanoma 2
ASC Protena particular associada apoptose contendo domnio de recrutamento de caspase
ATP Adenosina Trifosfato
BIR Domnio inibidor de baculovrus
CARD Domnio para recrutamento de caspase (CARD)
CL Corpsculo lipdico e ou CLs Corpsculos lipdicos
CO2 Dixido de carbono
DAMPs Padres moleculares associados a perigo
DAPI 4',6-diamidino-2-phenylindole
DFC-DA 2,7 Diclorodihidrofluorescena-diacetato
DMSO Dimetilsulfxido
DNA cido desoxirribonucleico
DP Desvio padro
ELISA Ensaio imunoenzimtico
Fig. Figura
GM-CFS Fator de crescimento de colnias para granulcitos/moncitos
GPCR Receptor acoplado protena G
h Hora
HDL Lipoprotena de alta densidade
HMGB-1 Protena do grupo de alta mobilidade B1
HMGCoa 3-hidroxi-3-methyl-glutaril-CoA redutase
HUVEC Clulas endoteliais derivadas de veia umbilical humana
ICAM-1 Molcula de adeso intercelular 1
INF Interferon
IL Inteleucina
LCAT Lecitina-colesterol aciltransferase
LDL Lipoprotena de baixa densidade
LE Lipase endotelial
LH Lipase heptica
LPC Lisofosfatidilcolina
LPL Lisofosfolipdios
LPS Lipopolissacardeo
MCD Metil- -ciclodextrina
MCP-1 Protena quimioatraente de moncitos/macrfagos
M-CSF Fator estimulante de colnia de macrfagos
MFI Mdia de intensidade de fluorescncia
mL - Mililitro
mM- Milimolar
NAC N-Acetil-L-Cisteina
NE No estimuladas
NFB Fator nuclear B
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NLRC Receptor do tipo NOD que contm domnio CARD
NLRP Receptor do tipo NOD que contm domnio pirina
NOD Domnio de oligomerizao de nucleotdeos
NK Clulas Natural Killer
OxLDL Lipoprotenas de baixa densidade oxidadas
PAMPS Padres moleculares associados a patgenos
PARP Poli-[ADP-ribose]-polimerase
PAT Famlia composta por perilipina, ADRP e TIP47
PBS Tampo Salino Fosfato
PC Fosfolipdios
pg Picograma
PLA2 Fosfolipase A2
PPAR Receptor ativado por proliferadores de peroxissomos
PRR Receptor de reconhecimento padro
PYD Pirina
ROS Espcies Reativas de Oxignio
RPMI Meio Roswell Park Memorial Institute
SFB Soro Fetal Bovino
THP-1 Linhagem de moncitos humanos
TGF- Fator de transformao do crescimento -
TLR Receptores do tipo Toll
TCD4+ Linfcitos T CD4 + (T helper )
TNF- Fator de necrose tumoral -
TIP-47 Protena de interao da poro terminal de 47 quilodaltons
V-CAM-1 Molcula de adeso celular vascular-1
WT - Tipo selvagem
g - Micrograma
M Micromolar
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1. Introduo
1.1. Aterosclerose
As doenas cardiovasculares esto entre as principais causas de morte no mundo, onde a
doena isqumica do corao e o acidente vascular cerebral so responsveis por uma em
cada quatro mortes no mundo, e a aterosclerose a causa subjacente na maioria dos casos
(Lozano et al. 2012). A aterosclerose uma doena inflamatria crnica que se estabelece
pelo acmulo de lipdios na camada ntima arterial, resultando na formao de leses
vasculares, ou placas, que so caracterizadas por inflamao, morte celular e fibrose. A
aterosclerose geralmente permanece assintomtica ao longo de vrias dcadas, at que ocorra
uma ruptura da placa, provocando a formao de trombos que obstruem o vaso, causando
severos danos teciduais e at mesmo um ataque cardaco fulminante (Lundberg & Hansson
2010).
Os tradicionais fatores de risco incluem a idade, hipercolesterolemia, hipertenso arterial,
tabagismo, sexo, diabetes mellitus e histrico familiar, alm de dietas ricas em gorduras,
colesterol e triglicerdeos, obesidade e sedentarismo (Hopkins & Williams 1981). Na ltima
dcada, foi identificado um grande nmero de compostos biolgicos como novos fatores de
risco de aterosclerose. Estes compostos incluem fatores para a coagulao anormal e reduzida
(fibrinlise), remodelao cardiovascular, inflamao, adeso celular e infeco (Frishman
1998). A partir dessa identificao muitos estudos se mostram importantes para o melhor
entendimento dessa patologia (Hacman & Anand 2003).
Aps a descoberta de clulas imunes em placas aterosclerticas utilizando anticorpos
monoclonais (Jonasson et al. 1986), um grande foco foi colocado sobre a inflamao na
investigao das doenas cardiovasculares e isto levou a grandes descobertas a respeito da
patognese da aterosclerose. Estudos in vitro demonstraram que a lipoprotena de baixa
densidade oxidada (oxLDL) promove a ativao imunolgica inata de macrfagos. Em leses
aterosclerticas, macrfagos do infiltrado inflamatrio tm o fator de transcrio nuclear
NFB translocado para o ncleo, indicando sua ativao e regulao de genes relacionados a
imunidade inata (Edfeldt et al. 2002). Macrfagos presentes em placas aterosclerticas
expressam tambm vrios receptores do tipo Toll (Toll-like receptors - TLRs), e a LDL
modificada e seus produtos derivados podem ser ligantes endgenos de TLR2 e TLR4 (West
et al. 2010; Miller et al. 2003).
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Dentre as clulas imunolgicas inatas, neutrfilos, mastcitos, clulas matadoras
profissionais (natural killer - NK) e clulas T matadoras naturais (NKT) desempenham papis
importantes durante a aterognese, porm apresentam-se em menor nmero nos stios
aterosclerticos em comparao com os macrfagos e clulas TCD4+ (Hansson &
Hermansson 2011). Experimentos usando camundongos hipercolesterolmicos mostraram que
neutrfilos so recrutados durante o inicio da aterosclerose, mas no esto presentes em fases
posteriores (Drechsler et al. 2010). J os mastcitos podem desempenhar um importante papel
na estabilidade das placas, atravs de suas enzimas que degradam a matriz extracelular (Bot et
al. 2014). As clulas NK e NKT agravam a aterosclerose, possivelmente devido a liberao de
Interferon gama (IFN-) (Whitman 2004; Tupin 2004). As clulas NKT que produzem IL-10,
por outro lado, podem limitar o desenvolvimento da doena (van Puijvelde et al. 2009).
Tomados em conjunto, as diversas clulas imunolgicas inatas desempenham papis
importantes em diferentes fases do desenvolvimento da doena, mas a principal clula efetora
da resposta imune inata, e tambm a mais abundante nas placas aterosclerticas, so os
macrfagos.
Nos macrfagos gordurosos a formao de cristais de colesterol pode ativar o
inflamassoma NLRP3, levando a secreo da citocina pr-inflamatria IL-1 (Duewell et al.
2010; Rajamki et al. 2010). Isto proporciona uma ligao clara entre o metabolismo do
colesterol e ativao imunolgica inata. A inibio da IL-1 para prevenir eventos
cardiovasculares, est atualmente sob avaliao em ensaios clnicos (Ridker et al. 2011). A
IL-1 secretada atua sobre as clulas musculares lisas para a produo de IL-6 (Loppnow &
Libby 1990), esta por sua vez induz a produo de protena C reativa (PCR) pelo fgado.
Uma artria normal constituda por trs camadas: i) a camada ntima com clulas
endoteliais e clulas do msculo liso; ii) a camada mdia com clulas de msculo liso e
lamelas elsticas; iii) e uma camada adventcia circundante com tecido conjuntivo frouxo
(Hansson 2005). O acmulo de LDL ocorre na camada ntima, e promove o desenvolvimento
da aterosclerose. Modificaes oxidativas atravs de mieloperoxidases, lipoxigenases, e
espcies reativas de oxignio (ROS) levam formao de oxLDL, que desencadeia uma
resposta inflamatria inata (Hansson & Hermansson 2011). Em resposta s oxLDLs, clulas
endoteliais comeam a aumentar a expresso de molculas de adeso, tais como VCAM-1,
ICAM-1, e P-selectinas, alm de promover a quimiotaxia atravs da secreo de protena
quimiottica de moncitos-1 (MCP-1) (Nakashima et al. 1998). Sendo assim, moncitos
circulantes e outros leuccitos so recrutados para estes locais. Os moncitos diferenciam-se
em macrfagos, que se infiltram na camada ntima em resposta ao M-CSF e GM-CSF
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produzido pelas clulas endoteliais (Rajavashisth et al. 1990). Os macrfagos derivados de
moncitos so os mais abundantes em placas aterosclerticas e podem proliferar localmente
(Robbins et al. 2013). Eles expressam receptores scavenger, dos quais o receptor Scavenger -
classe A e CD36 foram identificados como os mais importantes para a absoro de oxLDL
(Kunjathoor 2002). Os receptores Scavenger so regulados positivamente em resposta
acumulao intracelular de colesterol. E a imerso contnua de lipdios leva formao de
clulas gordurosas a partir de macrfagos que fagocitam as oxLDLs (Park 2014).
O fosfolipdio Lisofosfatidilcolina e cidos graxos oxidados no esterificados so gerados
durante a oxidao da LDL, por lipoprotenas associadas fosfolipase A2, que tambm
ativam o sistema imune inato (Hurt-Camejo et al. 2001). Todos estes eventos so susceptveis
a serem fatores importantes que iniciam e contribuem para a manuteno da inflamao na
formao de leses aterosclerticas.
1.2. Lisofosfatidilcolina
Por muitos anos os lisofosfolipdios (LPL) foram associados apenas com sua funo
estrutural e de armazenamento energtico. Entretanto, com base em vrios estudos realizados
durante as ltimas dcadas, esta se tornando cada vez mais evidente a ao dos LPLs como
hormnios, molculas de sinalizao e mediadores lipdicos intracelulares. Estas molculas
tambm possuem a capacidade de ativar receptores de membrana especficos e/ou receptores
nucleares que regulam diversos processos fisiolgicos e fisiopatolgicos. Entre os LPLs, a
lisofosfatidilcolina (LPC) vem se tornando um modelo cada vez mais utilizado e estudado
(Drzazga et al. 2014) devido a sua importncia, no s fisiolgica, mas tambm patolgica,
em diferentes modelos.
A LPC um lisofosfolipdio constituinte de membranas plasmticas e possui um papel
importante na sinalizao celular por estar presente em alta quantidade na circulao
sangunea humana, a maior parte da LPC circulante esta associada molculas como a
albumina e s oxLDLs (Schmitz & Ruebsaamen 2010). Devido a essa associao, a LPC
exerce um papel fundamental durante a aterosclerose, pois ela o principal componente
fosfolipdio de oxLDL e desta forma, est diretamente implicada como um fator crtico na
atividade aterognica da oxLDL. Ela tambm capaz de induzir a formao de clulas
gordurosas, as quais so componentes celulares fundamentais para o estabelecimento da
aterosclerose e recrutamento leucocitrio para o stio desta patologia, induzindo a progresso
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da doena (Matsumoto et al. 2007). Devido a esta relao direta com a aterosclerose, a LPC
tornou-se um interessante modelo pra estudos relacionados a essa patologia.
Vrias isoformas de LPC, com diversas cadeias acil, j foram identificadas, como os
cidos palmtico (16: 0), esterico (18: 0), oleico (18: 1), linoleico (18: 2), araquidnico (20:
4) e docosahexaenico (22: 6), e encontradas no plasma humano (Riederer et al. 2010). Todas
elas podem ser geradas por vrios processos biolgicos, incluindo: i) a clivagem da membrana
plasmtica de lipoprotenas de fosfatidilcolina (PC) pela fosfolipase A2 (PLA2) (Sato et al.
2008) ii) a atividade da enzima lecitina colesterol aciltransferase (LCAT) em lipoprotenas de
alta densidade (HDL) (Rousset et al. 2009), e iii) a oxidao de lipoprotenas de baixa
densidade (LDL) (Parthasarathy et al. 1985). Fontes adicionais de LPC so oriundas de
lipases endoteliais (LE) e lipases hepticas (LH) que por clivagem de HDL-PC, geram LPC
saturada (16:0) e quantidades substanciais de LPC insaturadas (18:1; 18:2; 20:4) (Gauster et
al. 2005; Santamarina-Fojo 2004).
Alguns receptores j foram descritos para a LPC, tais como receptores acoplados a
protena G (GPCRs), G2A, GPR4 e GPR119 (Murakami et al. 2004), TLR2 (Magalhes et al.
2010) e TLR4 (Carneiro et al. 2013). Tais receptores podem ativar diversas vias a partir de
diferentes protenas cinases (Schmitz & Ruebsaamen 2010) e a via do fator de transcrio
nuclear NFkB induzindo a sua translocao para o ncleo (Magalhes et al. 2010).
A LPC tem um amplo espectro de atividades pr-inflamatrias, que incluem a promoo
do crescimento celular (Nakano et al. 1994), a induo da migrao celular (Kohno et al.
1998) e a regulao positiva de molculas de adeso, como a ICAM-1, VCAM-1, e P-
selectinas (Zou et al. 2007), alm de promover a quimiotaxia atravs da induo de protena
quimiottica de moncitos-1 (MCP-1) (Takahara et al. 1996; Quinn et al. 1988). Outra funo
conhecida da LPC aumentar a atividade bactericida de neutrfilos via NADPH oxidase que
estimula a produo de espcies reativas de oxignio (ROS) (Hong et al. 2014; Lin et al.
2005). Tambm j foi descrito que a LPC ativa caspase-1 e a gerao de ROS dependente das
lipid rafts em micrglia (Schilling & Eder 2010). Alm disso, a LPC promove um aumento da
permeabilidade celular, que pode levar a apoptose (Takahashi et al. 2002), e possui um efeito
citotxico em clulas musculares lisas vasculares, pois promove um influxo de clcio e um
aumento na sntese de DNA (Chen et al. 1995).
A LPC induz a produo e secreo de diversas citocinas, tais como a interleucina-1
(IL-1)(Stock et al. 2006; Liu-Wu et al. 1998), o fator de necrose tumoral - (TNF-) (Huang
et al. 1999), a interleucina 6 (IL-6)(David & Bryan 1996), o Interferon (IFN) (Sheikh et al.
2001) e o fator transformador de crescimento 1 (TGF-1)(Hasegawa et al. 2011).
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LPC tambm est envolvido na produo de prostaglandina I2 (PGI2 tambm conhecido
como prostaciclina) in vitro em clulas endoteliais articas humanas primrias e in vivo em
modelo murino. O produto da degradao estvel de PGI2, 6-ceto-prostaglandina F1a
(PGF1) tambm foi induzida por LPC (Riederer et al. 2010). Em clulas endoteliais a LPC
promove a liberao de cido araquidnico (AA), graas a ao das fosfolipases (Wong et al.
1998)e induz a ao da ciclooxigenase-2, sendo assim, a LPC uma importante precursora da
sntese de mediadores lipdicos (Zembowicz et al. 1995).
Em parasitos, como o Trypanossoma cruzi, a LPC tem demonstrado papel fundamental na
modulao da transmisso do parasito, agindo como um potente fator quimiottico de clulas
inflamatrias ao local da picada do vetor (Silva-Neto et al. 2012). Em Schistosoma mansoni, a
LPC exerce papel importante na patologia causada por este helminto ao induzir intensa
eosinofilia e liberao das citocinas IL-5 e IL-13 (Magalhes et al. 2010). Alm disso, a LPC
tambm tem sido utilizada como adjuvante de vacinas (Perrin-Cocon et al. 2006).
Em tumores, a LPC hidrolisada em cidos graxos para a nutrio do tumor, onde
pacientes com cnceres metastticos apresentam um menor nvel de LPC no plasma. Outro
ponto importante que a LPC, tanto saturada quanto monoinsaturada, tendem a atenuar a
atividade metasttica do tumor, revelando uma importante ao da LPC na progresso do
cncer (Raynor et al. 2015).
Outra importante funo da LPC a induo da biognese de corpsculos lipdicos, que
so marcadores de ativao celular e importantes stios de sntese e armazenamento de
mediadores lipdicos celulares (Magalhes et al. 2010).
1.3. Corpsculos Lipdicos
Corpsculos lipdicos (CLs) so organelas distribudas no citoplasma da maioria das
clulas eucariticas, possuem uma regio central composta de lipdeos neutros e envolto por
uma monocamada de fosfolipdios associados a protenas designadas PAT, que compreendem
as perilipinas, as protenas relacionadas com a diferenciao de adipcitos (ADRP) e a TIP47,
o que difere os CLs das demais organelas celulares convencionais (Melo et al. 2006; U et al.
1999).
No passado, acreditava-se que a presena de CLs nas clulas serviria simplesmente para o
armazenamento e transporte de lipdios, entretanto, atualmente j se sabe que CLs so
organelas altamente reguladas que esto envolvidas em vrios aspectos de ativao e
metabolismo celular e inclusive no processo inflamatrio (Bozza et al. 2009). CLs so
especializados em armazenar lipdios neutros, triacilglicerol, colesterol-ster e fosfolipdios,
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associados a uma variada composio proteica. O armazenamento de lipdios celulares
varivel, e reflete o balano entre a chegada dos lipdios nas clulas e o seu consumo por elas;
um acmulo excessivo de CLs tambm ocorre em diversas doenas como a obesidade,
esteatose, diabetes, miopatia e aterosclerose (Greenberg et al. 2011).
Em leuccitos em estado de repouso, existe apenas um nmero basal de CLs, entretanto,
estas organelas se tornam abundantes quando as clulas se tornam ativadas e envolvidas em
processos inflamatrios (Bozza et al. 2009). A biognese dos CLs ocorre em decorrncia
um estmulo inflamatrio e est relacionado diversas patologias (Melo et al. 2011). Sendo
assim os CLs so formados sob duas condies ambientais diferentes: I) na primeira condio
as clulas acumulam CLs em resposta a disponibilidade exgena de lipdios e sabe-se que os
cidos graxos armazenados nos CLs so utilizados como substrato para o metabolismo
energtico, sntese de membranas celulares e produo de molculas derivadas de lipdios tais
como lipoprotenas, sais biliares, hormnios e mediadores lipdicos do sistema imune (Pol et
al. 2014); II) na segunda condio, as clulas recebem estmulos ou sofrem estresses, como a
prpria inflamao, o estresse oxidativo e patgenos que podem induzir a biognese de CLs,
refletindo assim o papel dos CLs em processos no diretamente relacionados com o
metabolismo lipdico, tais como na degradao de protenas ou na imunidade. (Melo et al.
2011; Walther & Farese 2012). Dessa forma, os corpsculos lipdicos atuam como
importantes marcadores de ativao celular uma vez que sua biognese desencadeada
imediatamente aps a ativao de leuccitos (Bozza et al. 2009).
Os CLs possuem enzimas chaves envolvidos no metabolismo de colesterol e na sntese de
cidos graxos, pois so stios ativos do metabolismo do cido araquidnico e ambos os passos
anablicos e catablicos do metabolismo lipdico esto presentes nessa organela. Todas as
enzimas necessrias para sntese de eicosanoides, como fosfolipase A2 (PLA2),
ciclooxigenases (COX), prostaglandina E2 e D2 (PGE2 e PGD2) sintase, 5- e 15-lipoxigenases
(5-LO e 15-LO) e leucotrieno C4 (LTC4) sintase, foram localizadas dentro de CLs em clulas
ativadas (Melo et al. 2011; Haeggstrom & Funk 2011). Outras enzimas envolvidas na
liberao de cido araquidnico como MAPK e PI3K, p38, ERK1/2 tambm esto co-
localizadas em CLs (Yu et al. 1998). Desta forma, os CLs so organelas multifuncionais e
stios de eventos regulatrios, bem como potenciais fontes de produo de mediadores
inflamatrios como os eicosanoides e as prostaglandinas (Bozza & Viola 2010; Haeggstrom
& Funk 2011). Sendo assim, estas organelas atuam na inflamao como marcadores da
ativao de leuccitos, constituindo assim um possvel alvo anti-inflamatrio (Bozza et al.
2009).
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Os CLs alm de serem stios de eicosanides podem estar associados com o
armazenamento de citocinas pr-inflamatrias, como TNF-, MIF e RANTES (Beil et al.
1995; Pacheco et al. 2002; Bandeira-Melo et al. 2001), alm de fatores de crescimento
(Dvorak et al. 2001). A relao entre os CLs e a citocina pr-inflamatria IL-1, a qual
processada e maturada pelo complexo dos inflamassomas, ainda escasso e controverso.
1.4. Inflamassoma e Piroptose
Os inflamassomas so complexos multiproteicos intracelulares responsveis pela
clivagem e ativao da enzima pro-caspase-1 em caspase-1, que exerce um papel fundamental
no processamento e maturao das citocinas pr-inflamatrias IL-1 e IL-18 e numa forma de
morte pr-inflamatria rpida chamada de piroptose (Schroder & Tschopp 2010; Miao et al.
2011).
Existem duas vias descritas pelas quais os inflamassomas so gerados. A via cannica na
qual ele formado por receptores de reconhecimento padro (PRRs), uma caspase
inflamatria e, se necessrio, a protena adaptadora ASC (Keyel 2014). E a via no cannica,
na qual a caspase murina 11 ou a sua homloga humana, a caspase-4, se liga diretamente ao
estmulo microbiano (Shi et al. 2014). A ativao dos receptores ou ligao das caspases com
o estmulo, leva ao recrutamento das protenas do inflamassoma e oligomerizao da pr-
caspase-1, que promove sua autoprotelise e consequente ativao leva a clivagem e a
secreo de IL-1 e IL-18 ou a piroptose (Guo et al. 2015).
Para que ocorra o processo completo, dois sinais so necessrios para a eficiente
maturao de IL-1 e IL-18: o primeiro sendo a sinalizao por PRRs que induzam ativao
do fator de transcrio NF-B, promovendo a transcrio de pr-IL-1 e pr-IL-18; o segundo
sinal, consiste no processamento proteoltico desses precursores em suas formas
biologicamente ativa via caspase-1, a qual ativada pelo inflamassoma (Strowig et al. 2012).
O inflamassoma composto por PRRs intracelulares do tipo NLRs (Node-like
receptors), que em humanos codificado por 22 genes e possui a diviso em trs subfamlias:
NOD, NLRP e IPAF (NLRC). Esses so constitudos por trs regies funcionais, uma regio
NOD de regulao localizada na posio central, uma regio N-terminal efetora envolvida na
sinalizao, nesse domnio pode conter um domnio pirina (PYD), um domnio para
recrutamento de caspase (CARD), ou um domnio inibidor de baculovrus (BIR); e a regio
C-terminal que composta por repeties ricas em leucina (LRRs) (Schroder & Tschopp
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2010). A montagem desse complexo ocorre de forma que o NLR recruta uma protena
adaptadora, a ASC, que interage com a caspase-1 ou caspase-11 levando a sua ativao, para
essa promover a maturao das citocinas pr-inflamatrias (Bauernfeind et al. 2011). Vrios
NLRs capazes de formar o complexo do inflamassoma j foram descritos, dentre eles:
NLRP1, NLRP3 (NALP3), NLRP6, NLRC4 (IPAF) e AIM2 (Strowig et al. 2012).
Cada um destes receptores parece ser responsvel por responder a estmulos distintos e
especficos. Por exemplo, NLRP1 participa no reconhecimento da toxina letal de Bacillus
anthracis, Toxoplasma gondii, e contribui para a depleo de ATP intracelular (Ewald et al.
2014; Liao & Mogridge 2013; Boyden & Dietrich 2006). J o NLRP6 est relacionado com a
manuteno e regulao da microbiota intestinal, previne contra inflamaes intestinais,
protege contra o cncer de clon e regula a imunidade inata antiviral intestinais (Jackson et al.
2015; Chen 2014; Anand & Kanneganti 2013). O inflamassoma AIM2 participa no
reconhecimento de DNA citoslico proveniente de vrus e bactrias (Fernandes-Alnemri et al.
2009; Warren et al. 2010). J o inflamassoma NLRC4 responsvel pelo reconhecimento de
flagelina e componentes do sistema de secreo do tipo III de bactrias alm de patgenos
bacterianos diferentes, incluindo Legionella pneumophila, Pseudomonas aeruginosa,
Salmonella typhimurium, Shigella flexneri (Miao et al. 2010; Miao et al. 2006; Cerqueira et
al. 2015; Sutterwala et al. 2007; Franchi et al. 2006).
Dentre todos os inflamassomas at hoje descritos, o mais estudado e caracterizado o
NLRP3, que diferentemente dos receptores citados anteriormente, responsvel por
reconhecer uma vasta gama de agentes infecciosos, incluindo diversas bactrias como
Staphylococcus aureus, Vibrio cholerae, Escherichia coli, Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia
pneumoniae e Citrobacter rodentium (He et al. 2010; Shimada et al. 2011; Duncan et al.
2009; Harder et al. 2009; Toma et al. 2010); Alguns fungos patognicos A. fumigatus, C.
albicans , C.neoformans e P.brasiliensis (Gross et al. 2009; Hise et al. 2009; Tavares et al.
2013; Sad-Sadier et al. 2010; Guo et al. 2014); E tambm vrus, como o influenza A (Allen
et al. 2009); e os parasitas Schistosoma mansoni e T.cruzi (Ritter et al. 2010; Gonalves et al.
2013).
A via e os mecanismos de ativao do Inflamassoma NLRP3 so muito bem
caracterizados. Os principais mecanismos que desencadeiam a ativao do NLRP3 consistem,
no primeiro sinal comum aos outros inflamassomas, na qual PAMPs ou DAMPs via PPRs
como TLRs, receptores de IL-1 ou TNF desencadeiam uma cascata de sinalizao ativando o
fator de transcrio NFB, que transcreve a pr IL-1, pr IL-18 e pr-caspase-1 e regula
positivamente a expresso do NLRP3 (Schroder & Tschopp 2010; Hornung & Latz 2010). E
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o segundo sinal a partir do qual diversos mecanismos induzem a formao e ativao do
complexo NLRP3, como a produo de espcies reativas de oxignio (ROS)(Tschopp &
Schroder 2010); o efluxo de potssio e ATP (Ptrilli et al. 2007) e o dano lissosomal devido
liberao da protease catepsina B para o citoplasma. Estes eventos so iniciados a partir de
diversos ativadores, como partculas de slica, alum, protena fibrilar amilide- ou cristais de
cido rico (Cassel et al. 2009). Estudos recentes demonstram que a ativao exacerbada do
inflammasoma NLRP3 est associada com a patognese de vrias doenas auto-imune,
crnicas, inflamatrias e doenas metablicas, como alzheimer, aterosclerose, diabetes tipo 2,
gota e doenas inflamatrias intestinais (DII) (Ozaki et al. 2015). Alm disso, a ativao do
inflamassoma NLRP3 tambm pode levar a piroptose da clula hospedeira (Wree et al. 2014).
A piroptose um tipo de morte celular caracterizada pela lise celular resultante da
formao de poros da membrana plasmtica, aumento do volume celular, fragmentao
nuclear e condensao da cromatina que ocorrem dependente da atividade da caspase-1 ou 11,
e independentemente da secreo de IL-1 e IL-18 (Cookson & Brennan 2001; Monack et al.
2001; Fink & Cookson 2006; Silveira & Zamboni 2010).
A piroptose possui algumas semelhanas com a apoptose, como a condensao da
cromatina e a fragmentao do DNA. Entretanto, os efeitos entre estes dois tipos de morte
celular so diferentes. A piroptose considerada pr-inflamatrio por apresentar rompimento
da membrana celular e liberao dos componentes intracelulares, enquanto que a apoptose
descrita como no inflamatria por manter a integridade da membrana (Bergsbaken et al.
2009; Fernandes-Alnemri et al. 2007). Outra diferena diz respeito Poli-[ADP-ribose]-
polimerase (PARP), a clivagem de PARP determinante para a apoptose, mas no ocorre na
piroptose. (Jorgensen & Miao 2015).
As caspases so produzidas em sua pr-forma inativa e so clivadas e ativadas atravs
do inflamassoma ou piroptossoma (Guo et al. 2015; Fernandes-Alnemri et al. 2007). Alm de
clivar e ativar as citocinas pr-inflamatrias IL-1 e IL-18, a caspase-1 tambm leva
secreo da protena de alta mobilidade de grupo caixa-1 (HMGB1)(Keller et al. 2008). A
protena nuclear HMGB1 possui a funo de determinar a estrutura da cromatina e regular a
transcrio. Entretanto, ela pode ser secretada da clula por processo de morte celular ou
ativao do inflamassoma (Lamkanfi et al. 2010). Contudo, por qual mecanismo a caspase-1
induz a morte por piroptose ainda desconhecido, devido a isso, o interesse na piroptose e
ativao de caspases permanece crescente (Tait et al. 2014).
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A relao entre CLs e os inflamassomas, bem como o papel dos CLs na maturao e
secreo de IL-1, ainda pouco descrita na literatura e os poucos trabalhos publicados
apresentam dados controversos. Itoh e colaboradores (2014) mostraram que macrfagos
deficientes para os componentes do inflamassoma NLRP3 apresentaram um aumento da
biognese de corpsculos lipdicos em modelo de infeco por Chlamydia pneumoniae. Por
outro lado, McRae e colaboradores (2015) demonstraram que quando se inibe
farmacologicamente ou atravs de RNA de interferncia as protenas NLRP3, ASC e
Caspase-1, ocorre uma diminuio da biognese de corpsculos lipdicos no modelo de
infeco pelo vrus da dengue. Apesar de alguns estudos mostrarem que a LPC induz a
secreo de IL-1 e a ativao de caspase-1, ainda no est descrito por qual inflamassoma e
por quais mecanismos este lipdio atua na ativao deste complexo, nem qual a relao entre
CLs e o inflamassoma no modelo de estimulao celular com LPC.
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2. Justificativa
O interesse pela lisofosfatidilcolina tm-se intensificado cada vez mais na comunidade
cientfica. Tal relevncia devida a sua relao com a aterosclerose, e sua capacidade
imunomoduladora. Como j conhecido a LPC induz a secreo de IL-1 em moncitos
humanos (Liu-Wu et al., 1998) e em macrfagos murinos (Magalhaes et al, 2010). Entretanto,
ainda no foi descrito qual inflamassoma ativado por este lipdeo imunomodulador, por
quais mecanismos a LPC induz a maturao e secreo da citocina IL-1 e se este lipdio
capaz de induzir a piroptose em moncitos e clulas endoteliais, portanto uma de nossas
hipteses de que a LPC est ativando o inflamassoma NLRP3 e induzindo a secreo de IL-
1 dependente dessa via.
Alm disso, outro fator interessante a ser investigado a relao entre a formao de
clulas gordurosas, atravs da biognese de CL, com a ativao dos inflamassomas e a
secreo de IL-1. Nossa hiptese de que a LPC induz a formao de clulas gordurosas
dependente das vias de ativao do inflamassoma NLRP3. Com isso, esse projeto visa
preencher lacunas existentes no entendimento dos mecanismos celulares e moleculares
envolvidos na ativao inicial da resposta inflamatria desencadeada pela LPC, e desta
maneira poder utilizar os complexos dos inflamassomas como alvos farmacolgicos de
interveno contra a aterosclerose e outras patogenias relacionadas a este lipdio.
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3. Objetivos
3.1. Objetivo geral:
Caracterizar os mecanismos celulares e moleculares envolvidos na ativao do
inflamassoma NLRP3 e sua relao com a formao de clulas gordurosas por biognese
de corpsculos lipdicos pela Lisofosfatidilcolina (LPC).
3.2. Objetivos especficos:
a) Investigar o papel da LPC na ativao de caspase-1 e produo de ROS;
b) Caracterizar os mecanismos intracelulares envolvidos na secreo de IL-1 induzida
por LPC;
c) Caracterizar os mecanismos intracelulares envolvidos na biognese de Corpsculos
lipdicos induzida pela LPC e sua relao com a via do inflamassoma NLRP3;
d) Investigar o papel da LPC na formao de clulas gordurosas, analisando a, biognese
de Corpsculos Lipdicos em moncitos e clulas endoteliais;
e) Analisar se a LPC induz piroptose em moncitos e clulas endoteliais humanas.
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4. Materiais e Mtodos
4.1. Camundongos, tratamentos in vivo e consideraes ticas.
Utilizamos camundongos da linhagem C57/BL6, NLRP3-/-, Caspase1/11-/- e
selvagens, os quais foram mantidos no biotrio do Instituto de Cincias Biolgicas da
Universidade de Braslia com gua e alimento ad libitum. Todos os procedimentos
experimentais envolvendo animais foram aprovados pela Comisso de tica e uso de Animais
da UnB. Os camundongos foram estimulados com LPC 100g/mL diluda em PBS e
administrada intraperitonealmente ou intravenosa. Aps 24h os camundongos foram
anestesiados com 30l de quetamina e xilasina em propores iguais, administrados
intramuscularmente. O sangue foi coletado, para extrao do soro e posteriormente, esses
animais foram sacrificados em cmara de CO2, para a retirada das clulas do lavado
peritoneal.
4.2. Clulas utilizadas
THP-1: uma linhagem imortalizada de moncitos humanos no aderentes. Essas
clulas foram cultivadas em meio RPMI-1640 adquirido da Sigma-Aldrich e
suplementado com bicarbonato de sdio, 10% de Soro Fetal Bovino (SFB), 50M de
2-mercaptoethanol, 40g/mL de Gentamicina em estufa mida a 37C a 5% CO2.
HUVEC: uma linhagem de clulas derivadas de endotlio vascular umbilical
humano aderente com morfologia estrelada. Foram cultivadas com meio F12
adquirido da Sigma-Aldrich e suplementado com bicarbonato de sdio, 10% de SFB,
0.1 mg/ml heparina; 0.03 mg/ml de suplemento de crescimento de clulas endoteliais
(ECGS), 40g/mL de Gentamicina e 10g/mL de Cloranfenicol em estufa mida a
37C a 5% CO2.
Macrfagos Peritoneais: Os macrfagos peritoneais foram obtidos atravs de
lavagem peritoneal de camundongos previamente estimulados com tioglicolato.
Brevemente, os animais receberam injeo intraperitoneal de tioglicolato a 4% e aps
72h eles foram sacrificados e a lavagem peritoneal foi realizada injetando 5mL de
RPMI refrigerado dentro do peritnio. O meio foi recolhido, centrifugado a 300g por
5min. a 4C. As clulas ento foram ressuspendidas, contadas e plaqueadas em placas
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de cultura. Aps 24h em estufa mida a 37C a 5% CO2, o sobrenadante foi
descartado e as clulas fortemente aderidas consideradas macrfagos.
4.3. Estmulos e tratamentos
Durante todo o projeto foi utilizado o lisofosfolipdio 1-palmitoil-2-hidroxi-sn-glicero-
3- fosfocolina (16:0 LysoPC), mais conhecido como lisofosfatidilcolina (LPC), da Avanti
Polar Lipids. O estoque de LPC foi diludo em etanol e mantido a -20C em tubos de vidro.
Em todos os experimentos a quantidade de LPC total era retirada do estoque, secada em gs
nitrognio em outro tudo cnico de vidro. Em seguida a LPC era ressuspendida em meio de
cultura, sonicada durante 10min, vortexada por 30seg, e imediatamente pipetada a quantidade
desejada nos poos, a fim de estimular as clulas. Como controles positivos foram utilizados
lipopolisacardeo (LPS) (500ng/mL; Sigma-Aldrich), adenosina-tri-fosfato (ATP) (1mM;
Sigma-Aldrich) e Menadiona (100 M; Sigma-Aldrich).
Para a caracterizao de vias e mecanismos envolvidos no desenvolvimento do
trabalho, as clulas foram pr-tratadas de 45min a 1h com alguns inibidores farmacolgicos.
As drogas utilizadas foram: inibidor de espcies reativas de oxignio (ROS) [N-Acetil-L-
Cisteina (NAC) 5mM; Sigma-Aldrich] e [Rotenona 10M; Sigma-Aldrich]; inibidor de
catepsina B (CA074-Me 50M; Sigma-Aldrich); Inibidor de caspase-1 (Ac-YVAD-cho
20M; Enzo Life Sciences,); Inibidor de canais de potssio sensveis a ATP (Glibenclamida
ou Gliburdeo, 150M; Sigma-Aldrich); Inibidor de HMG-CoA redutase (Atorvastatina
25M; Sigma-Aldrich); Inibidor de translocao do NFB (JSH-23 30M; Sigma-Aldrich);
Antagonista de PPAR- (GW9662 1M; Sigma-Aldrich); Desestabilizador de lipids rafts
(Metil--ciclodextrina 10 M; Sigma-Aldrich) e um anticorpo neutralizante de TLR-2 (PAb-
hTLR2 10g/mL; InvivoGen).
4.4. Anlise da viabilidade celular
O reagente MTT (3-(4,5-Dimetiltiazol-2-yl)-2,5-difeniltetrazolio brometo), foi
utilizado para anlise de viabilidade celular. Para esse experimento as clulas THP-1 e
HUVEC foram plaqueadas em placas de cultura de 96 poos, tratadas por 24 horas com LPC
em diferentes concentraes, 0.1, 1, 10, 20, 50 e 100 g/mL. Aps o tempo de estmulo, o
sobrenadante foi substitudo por uma soluo de 10% MTT, 5mg/mL (Sigma-Aldrich, USA)
diludo no prprio meio de cultura celular. Em seguida, a placa foi incubada por 4h protegida
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da luz na estufa de cultivo. O sobrenadante foi descartado e os cristais de formazan formados
foram diludos em 100L de DMSO. A absorbncia foi lida a 570nm no espectrofotmetro
SpectraMax M3 (Molecular Devices, USA). Para o clculo da viabilidade, as clulas no
estimuladas foram consideradas como 100% viveis e os demais estmulos foram calculadas
proporcionalmente.
4.5. Anlise da ativao de caspase-1
A deteco de caspase-1 ativa foi obtido atravs da utilizao de um kit especfico e
manipulado de acordo com as instrues do fabricante: FLICA FAM-YVAD-FMK
(Immunochemistry). Este kit composto por uma sonda fluorescente que se liga de forma
irreversvel uma subunidade especfica de caspase-1 clivada. Macrfagos peritoneais
estimulados com LPC 1g/ml por 1, 3, e 6h foram submetidos marcao com FLICA, e
posteriormente analisados por citometria de fluxo (FACS VERSE, BD Biosciences). O gate
foi plotado na populao de clulas viveis, excluindo-se os debris celulares da anlise. Os
histogramas e mdias de intensidade de fluorescncia (MFI) foram feitos no software FlowJo
V10 (Tree Star Inc).
4.6. Anlise da gerao de espcies reativas de Oxignio (ROS)
Para anlise da formao de espcies reativas de oxignio (ROS) foi utilizada a sonda
2,7 Diclorodihidrofluorescena-diacetato (DFC-DA) a qual permevel membrana celular
e no fluorescente. Na presena de ROS, este composto oxidado no interior da clula e
produz um composto fluorescente, a 2,7 diclorofluorescena (DFC), que permanece no
interior da clula. Tanto THP-1 quanto HUVECs foram estimuladas com LPC 1g/mL por
diferentes tempos 1, 3, 6 e 24h. Completado o tempo dos estmulos as culturas de clulas
foram incubadas a 37C, protegidas da luz por 30 minutos com a sonda DFC-DA dissolvida
em meio de cultura na concentrao final de 20M. Aps esse perodo as clulas foram
lavadas com PBS1x 3 vezes, resuspendidas em 500 L de PBS1x gelado e mantidas a 4C. A
leitura foi realizada imediatamente por citometria de fluxo (FACS verse ou FACS Calibur), O
gate foi plotado na populao de clulas viveis, excluindo-se os debris celulares da anlise.
Os histogramas e mdias de intensidade de fluorescncia (MFI) foram feitos no software
FlowJo V10 (Tree Star Inc).
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4.7. Dosagens de Citocinas
As citocinas provenientes do sobrenadante das culturas foram analisadas pelo mtodo
de ELISA, utilizando-se kits comerciais (eBioscience e R&D System). O ensaio foi realizado
seguindo-se as instrues do fabricante e os nveis de citocinas foram demonstrados em
valores absolutos (pg/mL).
4.8. Anlise da biognese de corpsculos lipdicos por citometria de fluxo e
microscopia de fluorescncia confocal
Para analisar e quantificar a biognese de corpsculos lipdicos (CLs) foi utilizado
uma sonda fluorescente lipoflica, BODIPY 493/503 (Life technologies), usado para a
identificao de lipdios neutros intracelulares (triglicerdeos e steres de colesterol) presentes
em grandes quantidades em CLs. Para a quantificao de CL por citometria de fluxo, THP-1 e
HUVECs pr-tratadas ou no com inibidores foram estimuladas com LPC 1g/mL por 24h.
Aps o estimulo as clulas foram incubadas com uma soluo de bodipy/PBS na
concentrao de 1/5000 por 30 minutos a 4C protegido da luz. Aps esse perodo as mesmas
foram lavadas com PBS1x 3 vezes, resuspendidas em 500L de paraformaldedo 1% e
mantidas a 4C at leitura por citometria de fluxo (FACS Calibur). O gate foi plotado na
populao de clulas viveis, excluindo-se os debris celulares da anlise. Os histogramas e
mdias de intensidade de fluorescncia (MFI) foram feitos no software FlowJo V10 (Tree Star
Inc).
Para analise de CL por microscopia de fluorescncia confocal, as clulas pr-tratadas
ou no com inibidores e estimuladas com LPC 1g/mL por 24h foram fixadas com
paraformaldedo a 4% por 10 minutos em temperatura ambiente. Em seguida foram lavadas
por trs vezes com PBS e incubadas com uma soluo de Bodipy/PBS na concentrao de
1/300 por 30 minutos a 4C protegido da luz. Aps esse perodo as mesmas foram lavadas
com PBS 3 vezes e incubadas com uma soluo de 4',6-diamidino-2-phenylindole (DAPI)
que um corante fluorescente que se liga a DNA amplamente utilizado na microscopia de
fluorescncia para demarcar o ncleo da clula. Essa soluo de DAPI foi diluda na
concentrao de 1/5000 de DAPI em PBS, as clulas foram incubadas por 5 minutos e em
seguida lavadas 3 vezes com PBS. As lminas foram montadas em meio anti-fadding Prolong
(Life technologies). As imagens foram obtidas no microscpio Leica TCS SP5 (Leica
Microsystems, DEU).
-
28
4.9. Anlise de HMGB1 por imunofluorescncia
Para verificar a localizao da protena HMGB1 nas clulas tratadas com LPC, foi
feita imunomarcao intracelular e anlise por microscopia de fluorescncia confocal. Aps o
tempo de estmulo, as clulas foram fixadas com paraformaldedo a 4% por 10 minutos em
temperatura ambiente. Em seguida foram lavadas por trs vezes com PBS e permeabilizadas
em Triton a 0,2% por 20 minutos em temperatura ambiente. Aps novas lavagens, foi
adicionada soluo de bloqueio (2% de BSA, 5% de SFB e PBS) por 20 minutos
temperatura ambiente. O anticorpo primrio foi diludo em soluo de bloqueio na
concentrao de 1:400 e incubado overnight a 4C. Aps esse perodo, as clulas foram
lavadas e incubadas com o anticorpo secundrio conjugado a Alexa Fluor 546 (1:2000 em
PBS) por 1 hora temperatura ambiente. Foram feitas novas lavagens e, em seguida,
incubao com o DAPI (1:5000 em PBS) por 5 minutos temperatura ambiente. As lminas
foram montadas em meio anti-fadding Prolong (Life technologies). As imagens foram obtidas
no microscpio Leica TCS SP5 (Leica Microsystems, DEU).
4.10. Anlises Estatsticas
Os resultados foram analisados estatisticamente utilizando programa GraphPad Prism
6.0, GraphPad Software, Inc. Os testes utilizados foram one-way ou two-way ANOVA para
comparao de mdias, seguido do ps-teste de Turkey ou test t de student no pareado. A
significncia estatstica foi assumida com valor de p 0,05.
-
29
5. Resultados
5.1. A LPC possui um efeito citotxico e diminui a viabilidade celular de moncitos
e clulas endoteliais humanas.
A fim de verificar se a LPC possui um efeito citotxico, moncitos (A), e clulas
endoteliais (B), foram plaqueadas e estimuladas durante 24h por diferentes concentraes de
LPC, aps o perodo de incubao o teste de MTT foi realizado e os dados analisados. Os
dados demonstraram que a LPC diminui a viabilidade celular a partir de 10g/mL em
moncitos humanos de forma dose dependente (Figura 1A). J em clulas endoteliais a LPC
diminuiu a viabilidade celular a partir da concentrao de 20g/mL (Figura 1B). Desta forma,
estes resultados comprovam que em altas concentraes a LPC possui um efeito citotxico,
diminuindo a viabilidade de diferentes tipos celulares. A partir destes resultados, a
concentrao de 1g/mL de LPC foi escolhida como concentrao ideal de trabalho para
grande parte dos ensaios.
Figura 1: LPC diminui a viabilidade celular em moncitos e clulas endoteliais humanas. THP-1
(A) e HUVEC (B) foram plaqueadas e estimuladas com LPC nas concentraes de 0,1 g/mL,
1g/mL, 10g/mL, 20g/mL, 50g/mL e 100g/mL por 24h, Aps os estmulos as clulas foram
incubadas com MTT , a citotoxidade foi analisada pelas mdias dos percentuais de clulas vivas em
relao as clulas no estimuladas (NE) (consideradas 100% vivas). Cada barra representa a mdia do percentual DP (n=3) e * representa a diferena estatstica significativa (p
-
30
5.2. LPC Induz a ativao de Caspase-1 em macrfagos murinos
A atividade da enzima caspase-1 possui um importante papel no processamento e
maturao da citocina IL-1 e na promoo da piroptose. Por este motivo, foi investigado se a
LPC induziria a ativao de caspase-1. Macrfagos peritoneais foram estimulados com
1g/mL de LPC por diferentes tempos. Aps o perodo de estimulao os macrfagos foram
marcados com FLICA, e as clulas foram analisadas por citometria de fluxo. Os resultados
demonstram que a LPC induziu a ativao da Caspase-1 a partir de 1h, com uma taxa de
clulas positivas para FLICA de cerca de 45% , em 3h a porcentagem de clulas positivas
para FLICA continua elevada com cerca de 40% e ento a partir de 6h e 24h de estmulo
observa-se um decrscimo da porcentagem de clulas positivas para FLICA, que corrobora
para uma diminuio da ativao da caspase-1 em tempos mais tardios j descritos na
literatura. Portanto, a LPC ativa caspase-1 de modo tempo dependente com picos de ativao
em tempos iniciais de estimulao (Figura 2).
Fig. 2: LPC induz a ativao de Caspase-1 em macrfagos murinos de modo tempo dependente.
Macrfagos peritoneais oriundos de camundongos C57/BL6 foram plaqueados e estimulados com
1g/mL de LPC por 1h, 3h, 6h e 24h. Aps os estmulos as clulas foram marcadas com FAM-
FLICA-Caspase-1, e em seguida as clulas foram analisadas por citometria de fluxo. As barras
representam a porcentagem de clulas positivas para FLICA, e o grfico representativo de trs
exprimentos independentes. Clulas no estimuladas (NE).
C
lula
s F
LIC
A +
(%
)
N E 1 h 3 h 6 h 2 4 h
0
1 0
2 0
3 0
4 0
5 0
L P C
-
31
5.3. LPC induz a produo de ROS in vitro e in vivo
Espcies reativas de oxignio (ROS) so metablitos de oxignio que, devido sua
capacidade de ganhar e perder eltrons, so propensas a participar de reaes de oxidao-
reduo. As clulas de mamferos desenvolveram vrios mecanismos para limitar a produo
de ROS, entre elas desativ-los, e reparar os danos s clulas. No entanto, quando a taxa de
produo de ROS aumenta dramaticamente e/ou as defesas antioxidantes so insuficientes ou
falham, ocorre o estresse oxidativo. Esse estresse oxidativo um importante sinal para a
ativao do inflamassoma e desempenha um papel importante na patognese da aterosclerose
(Peluso et al. 2012; Yu & Bennett 2014).
A fim de verificar se a LPC induz estresse oxidativo, via gerao de ROS, clulas
endoteliais e moncitos humanos foram estimulados com 1g/mL de LPC por diferentes
tempos. Aps o perodo de estimulo as clulas foram incubadas com a sonda DFC-DA e a
gerao de ROS analisada por citometria de fluxo. Nas clulas endoteliais a LPC induziu a
gerao de ROS a partir de 3h, e o pico de induo foi verificado com 6h,. Em 24h houve um
decrscimo da gerao de ROS (Figura 3A). A partir destes resultados podemos concluir que
a LPC induz a gerao de ROS de modo tempo dependente em clulas endoteliais humanas.
J em moncitos humanos no houve gerao de ROS via LPC em nenhum dos tempos
verificados (Figura 3B).
Nos experimentos in vivo, camundongos C57/Black06 foram estimulados
intraperitonealmente com 100g/mL de LPC, por 24h, aps o tempo de estimulo os
camundongos foram sacrificados e as clulas do lavado peritoneal foram coletadas e marcadas
com a sonda DFC-DA e a gerao de ROS analisada por citometria de fluxo. Como j era
esperado a LPC tambm induziu consideravelmente o estresse oxidativo, via produo de
ROS in vivo (Figura 3C).
-
32
Fig.3: A induo da produo de ROS via LPC in vitro e in vivo. HUVEC (A) e THP-1(B) foram
estimuladas com LPC 1g/mL por 3h, 6h e 24h, Aps a estimulao as clulas foram marcadas com a
sonda DFC-DA e a gerao de ROS nas clulas foi analisada por citometria de fluxo. Como controle
negativo foi usado clulas no estimuladas (NE) e para controle positivo clulas estimuladas com
menadiona 100M (Men.). (C) Macrfagos peritoneais coletados de camundongos C57/BL6
estimulados com 100g/mL de LPC, durante 24h, foram marcados com DFC-DA e a gerao de ROS
nas clulas tambm foi analisada por citometria de fluxo. Como controle negativo foi utilizado
macrfagos peritoneais coletados de camundongos estimulados com PBS. Os histogramas so
equivalentes anlise de clulas vivas. Os nmeros so equivalentes mdia de intensidade de
fluorescncia (MFI). Os histogramas (A) e (B) so representativos de dois experimentos distintos,
enquanto o histograma (C) representativo de um experimento com N=5 animais.
-
33
5.4. LPC induz a secreo de IL-1 em moncitos humanos
A inflamao crnica da parede arterial um elemento chave na patognese da
aterosclerose, dentre os fatores que desencadeiam a inflamao a ativao dos inflamassomas
e a consequente secreo de IL-1 e IL-18 tm sido cada vez mais estudados devido a sua
capacidade aterognica (Liu et al. 2014). Sendo assim, fomos investigar se a LPC induz a
ativao do inflamassoma e a secreo de IL-1 tanto em moncitos quanto em clulas
endoteliais humanas. Para isso, moncitos THP-1 e clulas endoteliais HUVEC, foram
tratadas e estimuladas da seguinte maneira: I) primadas com 500ng/mL de LPS por 4h, como
primeiro sinal de ativao do inflamassoma, e estimuladas com 1g/mL de LPC, como
segundo sinal de ativao do inflamassoma. II) Estimuladas apenas com a 1g/mL de LPC e
III) Estimuladas com LPC como primeiro sinal da ativao do inflamassoma e depois tratadas
com 1mM de ATP como segundo sinal.
Em moncitos, LPC induziu a secreo de IL-1 significativamente quando comparada
aos moncitos no estimulados, entretanto podemos observar uma potencializao dessa
secreo quando primamos os moncitos com LPS. Alm disso, uma secreo semelhante a
das clulas estimuladas somente com LPC foi observado em moncitos que receberam o ATP
como segundo sinal (Figura 4A). Porm, em clulas endoteliais no observamos o mesmo
fenmeno, nelas a LPC no induziu a secreo de IL-1 significativamente (Figura 4B).
Tambm importante notar que clulas endoteliais apresentaram nveis constitutveis de IL-
1 nas clulas no estimuladas (Figura 4B). Portanto, nossos dados demonstram um papel
importante da LPC na ativao do inflamassoma, onde este lipdeo foi capaz de ativar o
inflamassoma tanto sozinha quanto atuando como primeiro e/ou segundo sinal para a secreo
de IL-1.
-
34
Fig.4: LPC induz a secreo de IL-1 em moncitos humanos. Moncitos THP-1 (A) e clulas
endoteliais HUVEC (B) foram plaqueadas e tratadas da seguinte maneira: um grupo foi primado com
500ng/mL de LPS por 4h antes do estmulo de LPC 1g/mL, outro grupo foi estimulado somente com
LPC 1g/mL e um ultimo grupo foi estimulado com 1g/mL de LPC e uma hora antes da coleta do
sobrenadante tradas com 1mM de ATP. Como controles foram usados clulas sem tratamento e
estmulos, tratadas somente com LPS, somente com ATP e clulas tratadas com ambos, controle
positivo. O sobrenadante foi recolhido aps aproximadamente 24h de estimulao, e os nveis de IL-
1 foram dosados pela tcnica de ELISA. Cada barra representa a mdia da concentrao DP. Os
dados so de um experimento em triplicata. Diferenas estatsticas entre os grupos foram
representados por asteriscos em comparao com as clulas sem tratamento *p 0.05
T H P -1
IL-1
(
pg
/mL
)
0
2 0 0
4 0 0
6 0 0
L P C
L P S
A T P
-
-
-
+
-
-
+
+
-
+
-
+
-
+
-
-
-
+
-
+
+
* *
* *
*
*
A )
H U V E C
IL-1
(
pg
/mL
)
0
5
1 0
1 5
2 0
L P C
L P S
A T P
-
-
-
+
-
-
+
+
-
+
-
+
-
+
-
-
-
+
-
+
+
B )
-
35
5.5. Mecanismos de secreo de IL-1 induzida por LPC
Vrios mecanismos esto associados ativao do inflamassoma e a secreo de IL-1. O
inflamassoma NLRP3 o inflamassoma mais conhecido e bem estudado, entretanto como a
LPC poderia estar ativando esse inflamassoma e seus mecanismos de ativao, ainda so
desconhecidos. Sabe-se que a ativao do inflamassoma NLRP3 caracterizada por um
primeiro sinal que pode ser um DAMP ou PAMP que via receptores de membrana, como os
da famlia dos TLRs, desencadeiam a ativao de fatores de transcrio como o NFB a
transcreverem os genes da pr-caspase-1, pr-IL1, ASC e NLRP3, entretanto um segundo
sinal necessrio para a montagem desse complexo e sua ativao. Os segundos sinais
conhecidos que exercem essa funo, so as espcies reativas de oxignio (ROS), o efluxo de
potssio e dano lisossomal, o qual induz a liberao de enzimas lisossomais como a catepsina-
B.
Para verificar se estes mecanismos estavam envolvidos na ativao do inflamassoma
NLRP3 pela LPC, moncitos humanos foram pr-tratados durante uma hora com: A)
Anticorpo neutralizante de TLR2; B) Inibidor de catepsina B; C) Inibidor de caspase-1; D)
Inibidor de ROS; E) Inibidor de efluxo de potssio; F) Inibidor de NFB; G) Desestabilizador
de jangadas lipdicas (lipid rafts); e H) agonista de PPAR. Aps os tratamentos os moncitos
foram estimulados com 1g/mL de LPC, e aproximadamente 24h depois da interao o
sobrenadante foi coletado e os nveis de secreo de IL-1 foram dosados pela tcnica de
ELISA.
Os resultados mostraram que induo da secreo de IL-1 via LPC dependente de
reconhecimento via TLR2, uma vez que observou-se uma diminuio dos nveis de IL-1 nas
clulas tratadas com anticorpo neutralizante de TLR2 quando comparadas com as clulas
estimuladas com LPC (Figura 5A). Os resultados demonstraram tambm que a LPC induz a
secreo de IL-1 independente de caspase-1, uma vez que os nveis de IL-1 gerados nas
clulas tratadas com inibidor de caspase-1 e no tratadas foram similares (Figura 5C). A
secreo de IL-1 induzida por LPC em moncitos foi independente de NFB, considerando
que a leve diminuio da secreo de IL-1 nas clulas tratadas com inibidor de NFB no foi
significativa quando comparadas as clulas estimuladas apenas com LPC (Figura 5F).
Com relao aos mecanismos envolvidos nos segundos sinais de ativao do
inflamassoma, a secreo de IL-1 mediada por LPC foi independente da gerao de espcies
reativas de oxignio, pois no houve diminuio da secreo de IL-1 nas clulas tratadas
com o inibidor de ROS, NAC (Figura 5D), e Rotenona (Dados no mostrados), quando
-
36
comparada com as clulas estimuladas apenas com LPC. Entretanto a secreo de IL-1 via
LPC dependente do efluxo de potssio (Figura 5E) e dano lisossomal (Figura 5B), pois
houve uma reduo significativa nos nveis de IL-1 nas clulas tratadas com os respectivos
inibidores quando comparado com as clulas estimuladas apenas com LPC. O PPAR e as
jangadas lipdicas (lipid rafts) presentes na membrana plasmtica, so fatores importantes no
metabolismo lipdico. Nossos resultados mostraram que eles apresentam um papel importante
na secreo de IL-1 mediada por LPC, uma vez que em clulas tratadas com os inibidores de
PPAR e lipid rafts houve uma diminuio significativa da secreo de IL-1 quando
comparada com moncitos estimulados apenas por LPC (Figuras 5G e 5H).
-
37
Fig.5: LPC induz a secreo de IL-1 dependente de TLR-2, dano lisossomal, efluxo de potssio,
estabilizao de jangadas lipdicas, NFkB e PPAR. Moncitos THP-1 foram pr-tratados com (A)
anticorpo bloqueador de TLR-2(-TLR2); (B) Inibidor de catepsina B , CA074-ME (CA074) ; (C)
Inibidor de caspase-1, Ac-YVAD-cho (Y-VAD); (D) Inibidor de ROS, N-Acetil-L-Cisteina (NAC);
(E) Inibidor de Efluxo de potssio, Glibenclamida (Gly); (F) Inibidor de NFB, JSH-23 (JSH); (G)
Desestabilizador de jangadas lipdicas , Metil--ciclodextrina (MCD); (H) Antagonista de PPAR-,
GW9662 (GW) por uma hora e em seguidas estimuladas com 1g/mL de LPC, aps aproximadamente
24h de interao o sobrenadante foi coletado e os nveis de secreo de IL-1 foram dosados pela
tcnica de ELISA. Os grficos so representativos de trs experimentos distintos e os dados so de um
experimento em triplicata. Cada barra representa a mdia da concentrao DP. Diferenas
estatsticas entre os grupos foram representados por asteriscos em comparao com as clulas sem
tratamento e com as clulas estimuladas com LPC *p 0.05.
-
38
5.6. A secreo de IL-1 em camundongos estimulados com LPC
A fim de verificar se a LPC induz a secreo de IL-1 in vivo, e entender se essa secreo
dependente ou no de NLRP3 e Caspase-1/11 in vivo, camundongos C57/BL6 selvagens e
nocautes para Caspase-1/11 e NLRP3 foram estimulados via intraperitoneal ou via
intravenosa com 100g/mL de LPC, por 24h. Aps o tempo de estimulo os camundongos
foram sacrificados e seu sangue coletado para obteno do soro, nos quais os nveis de
secreo de IL-1 foram dosados pela tcnica de ELISA. Nossos resultados demonstram que
embora a LPC tenda a induzir um aumento na secreo de IL-1, tanto intraperitonealmente
quanto via intravenosa em camundongos selvagens, esse aumento no foi estatisticamente
significativo, assim como a tendncia dessa secreo ser dependente de NLRP3 (Figura 6A) e
Caspase-1/11 (Figura 6B). Desta forma, so necessrios outros experimentos e novas
repeties, testando outras concentraes de LPC e outros tempos de estimulao in vivo.
Fig.6: Secreo de IL-1 induzida por LPC in vivo. Camundongos C57/BL6 Selvagens (WT) e
Nocautes para o inflamassoma NLRP3 e Caspases-1/11 foram infectados com 100g/mL de LPC
intraperitonealmente (PE) ou via intravenosa (IV) e com PBS como controle negativo. Aps 24h o
sangue dos camundongos foi coletado para obteno de soro, neste foi dosado a quantidade de IL-1
secretada por ELISA. Os grficos so representativos de um nico experimento e os dados so de um
n de 5 animais. Cada barra representa a mdia da concentrao DP. No foram encontradas
diferenas significativas entre os grupos.
-
39
5.7. LPC induz a translocao do HMGB1 para o citoplasma em moncitos e
clulas endoteliais
A HMGB1 uma protena de alta mobilidade, no histnica, com papel estrutural na
arquitetura cromossmica que geralmente encontrada no ncleo. Durante a inflamao,
ativao celular e morte celular, estas protenas translocam para o citoplasma. A translocao
de HMGB1 para o citoplasma ocorre aps a ativao da caspase-1 por diferentes
inflamassomas, levando a sua consequente secreo. Aps ser secretada por clulas do
sistema imune, a HMGB1 funciona como um DAMP que desencadeia a resposta inflamatria
em diversas clulas, podendo levar a morte por piroptose (Lamkanfi et al. 2010; Keyel 2014).
Para verificar se a LPC induz a translocao da HMGB-1 para o citoplasma, moncitos e
clulas endoteliais foram estimuladas com 10g/mL de LPC durante 18h e depois marcadas
para microscopia confocal. Em moncitos (Figura 7A) e em clulas endoteliais (Figura 7B) a
LPC induziu a translocao do HMGB1 para o citoplasma, quando comparadas com as
clulas no tratadas. Indicando que a HMGB1 pode estar envolvida na induo da piroptose
mediada por LPC.
-
40
Fig.7: LPC induz a translocao da HMGB-1 para o citoplasma. THP-1 (A) e HUVEC(B)
foram estimuladas com 10g/mL de LPC durante 18h, as clulas foram marcadas e as imagens
obtidas por microscpio confocal Leica TCS SP5 com aumento de 63X e Zoom de 6 para THP-1
(A) e Zoom de 4 para HUVEC (B), as imagens so representativas de toda populao das
lminas. O Ncleo das clulas foi corado com o DAPI que fluoresce em azul, a HMGB1 foi
corada com anticorpo conjugado a fluorforo Alexa 546 que fluoresce em vermelho, na figura
nomeada sobreposio esto expostas as sobreposies das imagens do DAPI com o HMGB-1
para mostrar a localizao da HMGB1 no citoplasma ou ncleo da clula e o Campo claro mostra
as imagens das clulas sem marcadores fluorescentes para observao da morfologia celular.
A)
B)
-
41
5.8. LPC induz a biognese de corpsculos lipdicos em moncitos humanos
Durante a aterosclerose, clulas gordurosas desempenham um papel importante no
desenvolvimento dessa patologia, pois macrfagos fagocitam as oxLDLs e o colesterol
presentes no local e armazenam este contedo em corpsculos lipdicos (CL), o que crtico
para o estabelecimento e manuteno do estado inflamatrio caracterstico da aterosclerose.
Nos macrfagos gordurosos a formao de cristais de colesterol pode ativar o inflamassoma
NLRP3, levando a secreo de IL-1. Nossos dados j comprovaram que a LPC induz a
ativao do inflamassoma e a secreo de IL-1, entretanto no estava claro se a LPC seria
capaz de induzir a formao de clulas gordurosas atravs da biognese de CL.
Para isso, moncitos foram estimulados com 1g/mL de LPC, durante 24h e em seguida
marcados com a sonda fluorescente bodipy, que marca lipdeos neutros presentes nos CL. A
formao de CL foi analisada quantitativamente, por citometria de fluxo (Figura 8A) e
morfologicamente, por microscopia de fluorescncia confocal (Figura 8B). Como j era
esperado a LPC induziu um aumento significativo na biognese de CL em moncito humanos
quando comparado com o controle no estimulado (NE), como pode ser visualizado no
histograma e nas fotos de microscopia confocal.
-
42
Fig.8: LPC induz o aumento da biognese de corpsculos lipdicos em moncitos humanos.
Moncitos THP-1 foram estimulados com 1g/mL de LPC, e aps 24h de estimulao as clulas
foram marcadas com a sonda fluorescente Bodipy e o aumento da biognese de CL nas clulas
foi analisada por citometria de fluxo e microscopia de fluorescncia confocal. (A) O histograma
equivalente anlise de clulas vivas. Os nmeros so equivalentes mdia de intensidade de
fluorescncia (MFI). Esse histograma representativo de 3 experimentos distintos. (B) mostra
imagens obtidas por microscpio confocal Leica TCS SP5 com aumento de 63X e Zoom de 6, as
imagens so representativas de toda populao das lminas de trs experimentos realizados
separadamente (n=3). O Ncleo das clulas foi corado em azul com o DAPI, os corpsculos
lipdicos foram corados em verde com Bodipy, na figura nomeada sobreposio esto expostas as
sobreposies das imagens do DAPI com o bodipy para mostrar a localizao dos corpsculos no
citoplasma da clula e o campo claro mostra as imagens das clulas sem marcadores
fluorescentes para observao da morfologia da clula. Como controle foram usadas clulas no
estimuladas (NE).
-
43
5.9. Mecanismos envolvidos na biognese de CL em moncitos mediados por LPC
Aps verificarmos que a LPC induz um aumento significativo na biognese de CL em
moncitos, contribuindo para a formao de clulas gordurosas, fomos investigar por quais
mecanismos a LPC induz esse fenmeno. Para isso usamos inibidores relacionados a via de
ativao do inflamassoma e ao metabolismo lipdico, afim de compreender melhor a relao
da formao de clulas de gordura com a ativao do inflamassoma e a secreo de IL-1.
Para essa investigao, moncitos humanos foram pr-tratados durante uma hora antes
com: A) Inibidor de ROS; B) Inibidor de caspase-1; C) Inibidor de efluxo de potssio; D)
Inibidor de catepsina B; E) Anticorpo neutralizante de TLR2; F) Inibidor de HMG-CoA
redutase G) Inibidor de PPAR e H) Desestabilizador de jangadas lipdicas. Aps uma hora os
moncitos foram estimulados com 1g/mL de LPC, e aps aproximadamente 24h de
interao as clulas foram marcadas com a sonda fluorescente Bodipy, e a biognese de CLs
foi analisada quantitativamente, por citometria de fluxo.
Nossos resultados mostraram que a LPC induziu a biognese de CL de maneira
dependente do estresse oxidativo via produo de ROS, pois a fluorescncia pra bodipy
diminuiu em clulas tratadas com inibidores de ROS, Rotenona (Figura 9A) e NAC (Dados
no mostrados), quando comparadas com as clulas no tratadas. Outro dado importante
relacionado a via de ativao do inflamassoma a dependncia de caspase-1 para a produo
de CL, induzida pela LPC (Figura 9B). Todavia, quando os moncitos foram tratados com
inibidor de efluxo de potssio, no houve diminuio da produo de CL induzida pela LPC,
mostrando que essa produo independente de Efluxo de potssio (Figura 9C). Entretanto,
como era esperado, quando inibimos a liberao de catepsina B, que liberada quando temos
dano lisossomal, diminumos a produo de CL mediada por LPC (Figura 9D).
LPC como j era esperada, tambm induz a biognese de CL dependente de
reconhecimento via TLR2 (Figura 9E). Analisando fatores relacionados ao metabolismo
lipdico, quando inibiu-se a enzima HMG-CoA redutase, importante na sntese de colesterol,
observou-se uma diminuio expressiva na produo de CL mediada por LPC (Figura 9F).
Outro resultado j esperado a dependncia de PPAR (Figura 9G) e jangadas lipdicas
(Figura 9H) para a formao de CL, induzida por LPC, pois so fatores importantes e que
regulam a biognese de CL.
-
44
Fig.9: LPC induz a biognese de corpsculos lipdicos dependente de ROS, caspase-1, dano
lisossomal, TLR-2, HMG-CoA redutase, PPAR e estabilizao de jangadas lipdicas em
moncitos humanos. Moncitos THP-1 foram pr-tratados com: (A) Inibidor de ROS, Rotenona
(Rot); (B) Inibidor de caspase-1, Ac-YVAD-cho (Y-VAD); (C) Inibidor de Efluxo de potssio,
Glibenclamida (Gly); (D) Inibidor de catepsina B , CA074-ME (CA074); (E) anticorpo bloqueador de
TLR-2(-TLR2) (F) Inibidor de HMG-CoA redutase, Atorvastatina (Ator); (G) Antagonista de
PPAR-, GW9662 (GW) e (H) Desestabilizador de jangadas lipdicas , Metil--ciclodextrina (MCD);
por uma hora e em seguidas estimuladas com 1g/mL de LPC, aps aproximadamente 24h de
interao, as clulas foram marcadas com a sonda fluorescente Bodipy e o aumento da biognese de
CL nas clulas foi analisada por citometria de fluxo. Os histogramas so equivalentes anlise de
clulas vivas. Os nmeros so equivalentes mdia de intensidade de fluorescncia (MFI). Esses
histogramas so representativos de trs experimentos distintos.
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45
5.10. LPC induz a biognese de corpsculos lipdicos em clulas endoteliais.
Durante a aterosclerose, as clulas endoteliais desempenham um papel importante no
desenvolvimento dessa patologia, pois secretam quimiocinas e fatores que atraem os
moncitos circulantes para o stio de formao da placa aterosclertica, alm de super
expressarem molculas de adeso que facilitam a diapedese dos leuccitos do vaso para o
tecido. Entretanto, ainda no foi descrito na literatura se LPC seria capaz de induzir a
biognese de CL em clulas endoteliais. Como nossos resultados mostram que a LPC induz a
biognese de CL em moncitos humanos, fomos investigar se a LPC tambm poderia induzir
o aumento da biognese de CL e a sua diferenciao de clulas endotelial para clula
gordurosa.
Para isso, clulas endoteliais foram estimuladas com 1g/mL de LPC, durante 24h e em
seguida marcadas com a sonda fluorescente Bodipy, a qual marca lipdeos neutros presentes
nos CL. A formao de CL foi analisada quantitativamente, por citometria de fluxo (Figura
10A) e morfologicamente, por microscopia de fluorescncia confocal (Figura 10B). Para
nossa surpresa a LPC induziu um aumento significativo na biognese de CL em clulas
endoteliais quando comparado com o controle no estimulado (NE), o qual j possui uma
grande quantidade de CL basais, como pode ser visualizado no histograma e nas fotos de
microscopia confocal.
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Fig.10: LPC induz o aumento da biognese de corpsculos lipdicos em clulas endoteliais.
Clulas endoteliais HUVEC, foram estimuladas com 1g/mL de LPC, e aps 24h de estimulao
as clulas foram marcadas com a sonda fluorescente Bodipy e o aumento da biognese de CL
nas clulas foi analisada por citometria de fluxo e microscopia de fluorescncia confocal. (A) O
histograma equivalente anlise de clulas vivas. Os nmeros so equivalentes mdia de
intensidade de fluorescncia (MFI). Esse histograma representativo de 3 experimentos
distintos. (B) mostra imagens obtidas por microscpio confocal Leica TCS SP5 com aumento de
63X e Zoom de 4, as imagens so representativas de toda populao das lminas de trs
experimentos realizados separadamente (n=3). O Ncleo das clulas foi corado em azul com o
DAPI, os corpsculos lipdicos foram corados em verde com bodipy, na figura Sobreposio
esto expostas as sobreposies das imagens do DAPI com o bodipy para mostrar a localizao
dos corpsculos lipdicos no citoplasma da clula e o Campo claro mostra as imagens das clulas
sem marcadores fluorescentes para observao da morfologia da clula. Como controle foram
usadas clulas no estimuladas (NE).
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5.11. Mecanismos envolvidos na biognese de CL em clulas endoteliais
mediados por LPC
Aps verificarmo