O que pediatras e obstetras gostariam de saber sobre a preveno da deficincia auditiva na infncia

Ana Emlia Linares

Discente do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru.

Mariza Ribeiro Feniman

Docente do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de So Paulo. Ps-doutora em Audiologia pela University of Cincinnati - Ohio - USA.

Unitermos: preveno, deficincia auditiva, pediatras, obstetras.

Unterms: prevention, hearing loss, pediatrician, obstetrician.

SumrioConsiderando que obstetras e pediatras so os primeiros profissionais a obter importantes informaes sobre as condies de sade de bebs e crianas e, preocupados com a sade auditiva dos mesmos, acreditamos ser de fundamental importncia que esses profissionais conheam as formas de preveno, deteco e interveno precoces da deficincia auditiva infantil.Para atingir nosso objetivo, inicialmente foi realizada uma investigao sobre as dvidas e necessidades de 37 obstetras e 63 pediatras, por meio da aplicao de um questionrio contendo perguntas pertinentes ao assunto.A partir dos resultados obtidos foi possvel a divulgao de informaes de maneira efetiva, por meio da elaborao de um manual informativo que correspondesse s necessidades dos profissionais que assistem a populao estudada, viabilizando assim a preveno primria da deficincia auditiva infantil e fortalecendo a relao interdisciplinar entre os profissionais da sade.

SumaryConsidering that Obstetricians and Pediatricians are the first professionals to obtain important information on the health conditions of babies and children, and worried about the hearing health of these children, we believe it is extremely important for these professionals to learn about the early prevention, detection and intervention in children with hearing loss.

To achieve our goal, an investigation was carried out on the doubts and needs of 37 Obstetricians e 63 Pediatricians, by means of a questionnaire on the subject.

The results showed the need of an informative manual, which was carefully elaborated, considering the needs of those professionals assisting the studied population, thus making the prevention of hearing loss in children possible and strengthening the interdisciplinary relation among the health service professionals.

Numerao de pginas na revista impressa:187 192

INTRODUO

A deteco precoce da deficincia auditiva na infncia tem sido um desafio para os profissionais que trabalham com crianas na rea da sade (Parving, 1991).

A deficincia auditiva foi considerada como uma das alteraes mais freqentes ao nascimento, com uma incidncia variando entre duas e quatro alteraes em 100 nascimentos de bebs de alto risco (Aap, 1999).

As crianas consideradas de risco correspondem quelas que apresentam algum dos indicadores de risco para deficincia auditiva, determinados pelo Joint Committee on Infant Hearing 2000 (Roush, 2001). So eles:

Indicadores de risco (do nascimento a 28 dias) Permanncia na UTI por um perodo igual ou superior a 48 horas. Histria de deficincia auditiva (DA) na famlia. Infeco congnita. Anomalias craniofaciais, incluindo alteraes morfolgicas de orelha externa e conduto auditivo. Sndromes associadas DA neurossensorial e/ou condutiva.

Indicadores de risco (29 dias a 2 anos) Os indicadores acima citados, exceto a permanncia na UTI por 48 horas. Hiperbilirrubinemia em nvel de exsanguino-transfuso. Infeco ps-natal associada com DA neurossensorial, incluindo meningite. Hipertenso pulmonar associada com ventilao mecnica. Otite mdia recorrente com efuso por mais de trs meses. Sndromes associadas DA com alterao de orelha interna e/ou orelha mdia e/ou tuba auditiva. Sndromes associadas com perda auditiva progressiva. Desordens degenerativas, como a sndrome de Hunter. Traumatismo craniano. Queixas dos pais referentes ao desenvolvimento da linguagem, fala e audio. Neuropatias sensrio-motoras.

A fim de detectar alteraes auditivas, surgiram os programas de Triagens Auditivas Universais de bebs, em maternidades, a partir de 1994. A proposta da Triagem Neonatal Universal preconiza que todos os bebs sejam avaliados, pois estudos revelaram que 50% das perdas auditivas permanentes so encontradas em bebs que no apresentam indicadores de risco para essa alterao (Jcih, 1994; Vorh et al., 1998).

Northern & Downs (1989) relataram que o diagnstico da surdez na infncia um esforo cooperativo de todos os especialistas envolvidos com a criana.Por esse motivo, o papel do obstetra de fundamental importncia, na medida em que, durante o perodo gestacional, podem ocorrer intercorrncias (rubola, sfilis, toxoplasmose, herpes, entre outras) que so consideradas indicadores de risco para deficincia auditiva. As intercorrncias podem ocorrer antes, durante e aps o parto. A observao da presena de indivduos, na famlia, portadores de alterao auditiva pode ser uma informao valiosa, levando o mdico a suspeitar do indicador hereditariedade.

Northern & Downs (1989) referiram que o pediatra pode determinar a etiologia da deficincia auditiva e sugerir a realizao de testes que contribuiro para o diagnstico da surdez. Durante os primeiros contatos com o beb e por meio do exame fsico, o pediatra pode suspeitar de sndromes ou malformaes craniofaciais que podem estar associadas a alteraes auditivas.

A privao sensorial no primeiro ano de vida, perodo crtico do desenvolvimento da linguagem, interfere na maturao funcional e anatmica das vias auditivas da criana. Dessa maneira, o pediatra deve ficar atento aos atrasos no desenvolvimento da criana, uma vez que a surdez pode acarretar atrasos ou alteraes na aquisio da linguagem e at na performance comportamental e escolar (Gravel, 1996).

De acordo com Yoshinaga-Itano (1998), as crianas identificadas como apresentando deficincia auditiva antes dos seis meses podem receber tratamento e demonstrarem, significativamente, uma linguagem melhor do que as identificadas depois dos seis meses.A deteco, identificao e interveno precoces da deficincia auditiva permitiro um trabalho imediato, oferecendo condies para o desenvolvimento de linguagem, social, psquico e educacional da criana. Cabe aos profissionais que atuam com bebs a mobilizao quanto importncia da preveno da surdez na infncia.

MATERIAL E MTODO

Trinta e sete obstetras e 63 pediatras, de ambos os sexos, atuantes em clnicas particulares, hospitais e postos de sade foram submetidos a um questionrio, elaborado pelas prprias autoras, levando em conta a especialidade do profissional. As perguntas contidas no questionrio consistiam em respostas do tipo abertas e fechadas. Os 100 questionrios respondidos foram analisados de acordo com as respostas mais freqentes.

Grfico 1 - Pediatras que se preocupam com a audio dos bebs durante a consulta de rotina.

Grfico 2 - Obstetras que se preocupam com a audio do beb durante a consulta de rotina.

RESULTADOS E DISCUSSO

Sero descritos, a seguir, os achados mais relevantes durante este estudo.Os resultados mostraram que pediatras e obstetras se preocupam com a audio dos bebs durante a consulta de rotina, porm a maneira de investigarem a integridade das vias auditivas referida pelos pediatras se deu por meio da reao comportamental a sons de chaveiro (44,5%), sendo este o mesmo procedimento referido por 24,3% dos obstetras. Assim foi constatada, na maioria dos casos, a reao comportamental ao som de chaveiro, palmas e chamados.

Acredita-se que este tipo de procedimento vlido, pois a partir de atividades simples se pode detectar ou encontrar alteraes auditivas. Entretanto, esse tipo de procedimento no considerado totalmente fidedigno, pois no detecta perdas auditivas leves ou unilaterais (Furquim,1996). Somente 20,6% dos pediatras investigam o desenvolvimento motor e da linguagem associando-o a alteraes auditivas.

Os pediatras tm numerosas oportunidades para avaliar o beb durante as consultas de Puericultura. Nestas consultas o mdico pode ouvir as preocupaes que os pais da criana tm em relao fala, linguagem e desenvolvimento auditivo (Bachmann & Arvedson, 1998).

Grfico 3 - Pediatras que conhecem a preveno da deficincia auditiva nos bebs.

Grfico 4 - Obstetras que conhecem a preveno da deficincia auditiva nos bebs.

A preveno da deficincia auditiva infantil conhecida pela maioria dos profissionais entrevistados.

Acredita-se que o pr-natal pode permitir ao obstetra a realizao de um trabalho de deteco e preveno quanto s infeces congnitas, principalmente com relao rubola. Podem tambm ser realizadas orientaes gestante quanto s implicaes do uso de ototxicos e outras drogas.

Os resultados encontrados no ultra-som podem sugerir alterao craniofacial e possvel malformao auricular. Segundo Vohr et al. (1998), os indicadores de risco para a deficincia auditiva mais encontrados, em seus estudos, foram histria familial e anomalia craniofacial, mostrando que o obstetra pode sugerir a realizao de uma avaliao audiolgica (BERA ou EOA) logo aps o nascimento do beb, favorecendo diagnstico e interveno precoces.

Outra maneira de preveno a proposta da Triagem Neonatal Universal, que preconiza que todos os bebs sejam avaliados, pois estudos revelaram que 50% das perdas auditivas permanentes so encontradas em bebs que no apresentam indicadores de risco para essa alterao (Jcih, 1994; Vorh et al., 1998).

Em 1994, o Joint Committee on Infant Hearing recomendou o desenvolvimento de programas de triagem universal para todos os neonatos, para identificao, diagnstico e tratamento precoces.Estes resultados revelaram que seria importante uma aproximao entre o fonoaudilogo, pediatras e obstetras, principalmente quanto a publicaes de estudos sobre audio, em revistas cientficas, visando divulgar as formas de prevenir a surdez (Bonamigo,1991).

Grande interesse no conhecimento do trabalho fonoaudiolgico foi relatado pela populao investigada neste trabalho, que mencionou o desejo da incluso de cursos e palestras da rea, durante a graduao de seus cursos ou residncia mdica, no sentido de inform-los sobre audio e linguagem.

CONCLUSO

Com base nos resultados encontrados, pediatras e obstetras se preocupam com a audio de bebs e crianas; entretanto necessitam receber mais informaes sobre o trabalho desenvolvido pela Fonoaudiologia e Otorrinolaringologia, principalmente aqueles relacionados a audio.

Para que haja essa mobilizao, necessrio que pediatras e obstetras tenham acesso a informaes sobre indicadores de risco, diagnstico, fisiopatologia, conseqncia e tratamento da deficincia auditiva. A relao interdisciplinar deve preconizar a troca de informaes e de conhecimento, a fim de favorecer a qualidade no atendimento criana deficiente auditiva.

A partir desse estudo foi possvel estabelecer quais as necessidades desses profissionais, para a confeco de um material explicativo voltado para a preveno da deficincia auditiva infantil, favorecendo-se assim a preveno primria e fortalecendo a relao interdisciplinar entre Fonoaudiologia, Pediatria e Obstetrcia.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos colaborao dos pediatras e obstetras que participaram deste estudo, assim como Fapesp, pelo auxlio e incentivo para concretizao deste trabalho. Demonstramos nossos agradecimentos Associao dos Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos de Sorocaba (Apadas).

Bibliografia

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