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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA O polimorfismo cromático e sua manutenção em Enyalius sp (Squamata: Leiosauridae) no Cerrado do Brasil Central Mariana Gonzaga Zatz Brasília-DF 2002

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Page 1: O polimorfismo cromático e sua manutenção em Enyalius sp ... · (Brodie III, 1989), a seleção dependente da freqüencia (Forsman, 1995) e a variação ... Thompson e Moore, 1991)

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA

O polimorfismo cromático e sua manutenção em Enyalius sp (Squamata:

Leiosauridae) no Cerrado do Brasil Central

Mariana Gonzaga Zatz

Brasília-DF

2002

Page 2: O polimorfismo cromático e sua manutenção em Enyalius sp ... · (Brodie III, 1989), a seleção dependente da freqüencia (Forsman, 1995) e a variação ... Thompson e Moore, 1991)

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Universidade de Brasília

Instituto de Ciências Biológicas

Departamento de Ecologia

O polimorfismo cromático e sua manutenção em Enyalius sp (Squamata:

Leiosauridae) no Cerrado do Brasil Central

Orientador: Guarino Rinaldi Colli, Ph. D.

Dissertação apresentada ao Instituto de Ciências

Biológicas da Universidade de Brasília como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do

Título de Mestre em Ecologia

Brasília-DF

2002

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Agradecimentos

Meu muito obrigada por toda ajuda, auxílio, contribuição, força, colher de chá,

acompanhamento, esforço, orientação, suporte e apoio fundamental, emocional,

logístico, institucional, estrutural, gastronômico, incondicional, memorável,

expressivo, enfim, tudo aquilo que tornou possível realizar este passo.

Ao Jardim Botânico de Brasília, Reserva Ecológica do IBGE, à Pós-graduação

em Ecologia pelo apoio institucional, e ao CNPq pelo apoio financeiro, através do

projeto " O Bioma Cerrado. Reserva Ecológica do IBGE" e bolsa.

Ao orientador Guarino que com muita paciência me mostrou o caminho das

pedras.

Aos meus pais, Inês e Yago, à Marly, Eduardo, Rodrigo, Claudia, Bernardo

(fofão), Ricardo (fofinho) e mana Paula por aguentarem, de perto, com tanto amor e

paciência.

Aos colegas e amigos Alemão, Lu, Dri, Pedro, Gatinha, Ajax, Keiko, Elena, Ana

Hermínea, Liana, Laura, Lila, Versiane, Iuri, Cláudio, Alexis, Helga, Daniel, Reuber,

BG, Kid, Muro, Maria Helena, Alda, Joana, Gus, Fernandinha e Adrian.

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Qualidade de vida depende da atitude diante dela:

"Amar como se nunca tivesse se machucado,

dançar como se não tivesse ninguém olhando e

trabalhar como se não precisasse de dinheiro"

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Resumo

A associação do polimorfismo cromático com aspectos da ecologia de

Enyalius sp foi investigada em duas matas-de-galeria no Cerrado do Brasil central.

Os seguintes parâmetros foram considerados como possíveis mantenedores do

polimorfismo cromático na espécie: maturidade sexual, sexo, atividade reprodutiva,

sazonalidade climática, taxa de permanência e taxa de crescimento. A associação

entre parâmetros ecológicos com o polimorfismo cromático foi averiguada através de

testes de associação geral de Mantel-Haenszel (QCMH) e de análises Bayesianas. As

taxas de permanência e de crescimento foram obtidas através de um estudo de

marcação-e-recaptura, ao longo de 22 meses. Em uma amostra de 268 indivíduos,

foram identificados 10 padrões cromáticos, formados por combinações dos

seguintes elementos: barras, círculos, losangos e listras paravertebrais. Machos e

fêmeas diferiram significativamente entre os padrões, mas não houve padrões

exclusivos de um dos sexos, em desacordo com o previsto pela hipótese de que os

padrões são utilizados para comunicação intraespecífica. Jovens apresentaram

maior ocorrência de barras, provavelmente como um mecanismo de escape de

predadores, já que a coloração na lateral do corpo produz um efeito disruptivo. Não

houve associação entre maturidade sexual, atividade reprodutiva ou sazonalidade

climática e os padrões cromáticos. Os diferentes morfos não apresentaram

diferenças no desempenho, inferido como o comprimento rostro-cloacal ou a taxa de

crescimento, ou a taxa de permanência. O polimorfismo cromático pode aumentar a

eficiência da camuflagem em espécies sujeitas a predadores orientados

visualmente, reduzindo o risco de predação de cada indivíduo, o que representa uma

vantagem em relação às espécies monomórficas. Os principais predadores de

lagartos são aves e serpentes diurnas, espécies orientadas visualmente. Assim, a

seleção direta sobre o polimorfismo cromático pela predação parece ser o

mecanismo mais plausível para sua manutenção em Enyalius sp.

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Abstract

The association of colour polymorphism and ecological aspects of Enyalius sp

was investigated in two gallery forests of Cerrado from Brazil Central. The follow

aspects were appointed as possible maintenance mechanism of colour polymorphism in

this specie: sex, sexual maturity, reproduction activity, climatic sazonality, growth rate

and permanence rate. The general association Mantel-Haenszel (QCMH) test and Bayesian

network was used to investigated the association between ecological aspects and colour

polymorphism. The permanence and growth rate were calculated from capture-mark-

recapture study, 22 month long. I identify 10 colour pattern from a sample with 268

individuals, with the combination of dorsal colour elements: bars, circles, lozenge,

paravertebral stripes. There are signifcative diferences between male and female, but

there are no exclusives pattern, what is in disagree whit the hypothesis that the colour

pattern is used to intraspecific communication. Juveniles shows much more bar, probably

as a predation scape mechanism, since the lateral coloration turns in to a disruptive effect.

There are no significative association of sexual maturity, reproductive activity or climatic

sazonality with colour pattern. The morphs doesn't show performance differences, seen as

CRC or growth rate, or permanency rate. The chromatic polymorphism could increase the

camouflage efficiency in species subject of visual oriented predator, reducing the

individual predation risk, what represent one advantage in relation with monomorphic

species. The main lizards predators are birds and diurnal snakes, visual oriented species. ,

a direct selection over colour polymorphism through the predation seems to be the most

plausive maintaince mechanism em Enyalius sp.

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Introdução

O polimorfismo é a ocorrência simultânea de dois ou mais fenótipos em uma

população, sendo um tipo de variação descontínua, formada por categorias discretas

(Pough, Andrews et al., 1998). A coexistência de vários fenótipos por um longo

período, sem que um deles prevaleça, tornando a população monomórfica, é

possível se os morfotipos tiverem a mesma aptidão, ou se apresentarem maior

aptidão quando raros na população (Ridley, 1993). Assim, os possíveis mecanismos

que mantêm o polimorfismo cromático em populações são a seleção correlacionada

(Brodie III, 1989), a seleção dependente da freqüencia (Forsman, 1995) e a variação

espacial ou temporal dos morfotipos (Schoener e Schoener, 1976; Ramírez-Bautista

e Benabib, 2000). Em populações de répteis, o polimorfismo na coloração e no

padrão cromático tem sido atribuído a estratégias de predação ou fuga de

predadores, mecanismos de manutenção (termorregulação), influências sociais e

variação ontogenética, dentre outros (Cooper e Greenberg, 1992).

Muitas espécies de répteis utilizam a camuflagem como uma estratégia para

evitar a detecção por parte de predadores (Norris e Lowe, 1964; Greene, 1994).

Alguns padrões cromáticos podem ser mais freqüentes em certos ambientes, por

serem mais crípticos e menos susceptíveis à predação (Schoener e Schoener, 1976;

Thompson e Moore, 1991). Por exemplo, na serpente Acanthophis antarcticus o

morfotipo avermelhado é mais freqüente na região continental australiana, onde os

solos são avermelhados, enquanto que o morfotipo cinza é mais freqüente em

populações de regiões costeiras, onde os solos são acinzentados (Johnston, 1996).

O polimorfismo cromático na população pode ser mantido por influência da

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predação, através de seleção dependente de freqüencia (Bond e Kamil, 1998;

Hoffman, 2000; Bond e Kamil, 2002). Predadores visualmente orientados tendem a

encontrar morfotipos mais comuns na população de presas, através de formação de

uma imagem de busca. Dessa forma, um balanço resulta de taxas de predação

diferentes sobre os padrões, sendo que aqueles mais comuns são mais predados

(Allen, 1988; Endler, 1988). Por outro lado, o polimorfismo cromático pode também

ser mantido por pressões seletivas que os predadores sofrem para se camuflar

efetivamente de presas em potencial (Shine, Ambariyanto et al., 1998; Greco e Kevan,

1999).

Processos fisiológicos de manutenção podem estar associados ao

polimorfismo cromático. Por exemplo, indivíduos com diferentes padrões cromáticos

podem divergir quanto ao tempo de exposição ao sol (Díaz, 1994), já que os padrões

cromáticos podem diferir na reflectância, influenciando a quantidade de radiação que

é transformada em calor (termorregulação) e afetando o desempenho dos

morfotipos (Pough, Andrews et al., 1998). Além disso, diversos estudos indicam que

indivíduos melânicos se aquecem mais rápido, atingem maiores temperaturas

corporais e alcançam maiores taxas de crescimento (Madsen e Stille, 1988; Luiselli,

1992; Forsman, 1995; Bittner, King et al., 2002). Assim, podem diminuir os riscos

associados à termorregulação, já que passam menos tempo expostos aos

predadores (Forsman, 1995). Por outro lado, indivíduos melânicos podem ser mais

conspícuos e facilmente detectados por predadores (Forsman, 1995). Ainda, por

atingirem um maior tamanho corporal, indivíduos melânicos podem aumentar o

sucesso reprodutivo, já que machos maiores são melhores em combates e fêmeas

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maiores podem produzir grandes ninhadas ou diminuir a mortalidade pós-parto

(Luiselli, 1992).

O polimorfismo cromático pode ainda estar associado a interações sociais,

como reconhecimento de indivíduos da mesma espécie (Losos, 1985; Macedonia e

Stamps, 1994), encontros agonísticos (Zucker, 1989; Olsson, 1994; Zucker, 1994;

Martín e Forsman, 1999) e comportamentos de corte (Smith e Zucker, 1997; Galán,

2000). Diversas espécies de lagartos que utilizam padrões cromáticos na

comunicação apresentam cores vistosas em partes do corpo expostas apenas

durante interações sociais, provavelmente para minimizar o risco de predação

(Cooper e Greenberg, 1992; Olsson, 1993). Esses sinais cromáticos podem estar

envolvidos em processos de seleção sexual, seja na escolha de parceiros por

fêmeas (seleção intersexual), seja na competição intrasexual entre machos pelo

acesso a fêmeas ou defesa de território (Sigmund, 1983; Zucker, 1989; Jenssen,

Orrell et al., 2000). Nesses casos, o status e as estratégias reprodutivas dos

indivíduos podem ser comunicados através da coloração (Sinervo e Lively, 1996;

Galán, 2000).

A ocorrência de polimorfismo cromático pode também estar associada à

ontogenia. Indivíduos jovens de algumas espécies apresentam cores conspícuas

em partes do corpo não vitais, como a cauda (Castilla, Gosa et al., 1999). Ainda,

mudanças ontogenéticas na coloração podem indicar a posição na hierarquia social

(Carpenter, 1995), a habilidade em encontros agonísticos (Olsson, 1994) ou a

receptividade sexual (Zucker, 1989; Watkins, 1997). Por exemplo, fêmeas do lagarto

Podarcis bocagei apresentam coloração de machos adultos após serem fertilizadas,

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indicando que não estão receptivas, mas re-adquirem o padrão cromático de fêmeas

após a postura dos ovos (Galán, 2000).

Enyalius é um dos sete gêneros da família Leiosauridae (Frost, Etheridge et

al., 2001), sendo constituído por oito espécies que habitam regiões florestais ao

leste da América do Sul (Jackson, 1978). Apesar de sua ocorrência em três biomas

brasileiros (Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica), a ecologia do gênero é ainda muito

mal conhecida. As espécies de Enyalius são arborícolas, mas análises da dieta

indicam que também forrageiam no folhiço (Vanzolini, 1972; Vitt, Avila-Pires et al.,

1996; Zamprogno, Zamprogno et al., 2000). Embora vinte padrões cromáticos

tenham sido listados para o gênero (Jackson, 1978; Vitt, Avila-Pires et al., 1996) a

associação do polimorfismo cromático com aspectos da ecologia das espécies

nunca foi investigada.

Neste trabalho, eu descrevo o polimorfismo cromático em Enyalius sp, uma

espécie não descrita (Colli, com. pessoal) que habita preferencialmente matas de

galeria no Cerrado do Brasil central. Ainda, eu investigo possíveis mecanismos

responsáveis pela manutenção do polimorfismo cromático, relacionados a

parâmetros ambientais e de história de vida da espécie. Mais especificamente, eu

testo a associação das seguintes variáveis com o polimorfismo cromático:

sazonalidade climática, atividade reprodutiva, sexo, maturidade sexual, taxa de

crescimento e taxa de permanência.

Materiais e Métodos

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Eu conduzi os trabalhos de campo em duas matas ciliares, em Brasília,

Distrito Federal (15º 56´ S, 47º 53´ W), na Área de Proteção Ambiental Gama-Cabeça

de Veado, de junho de 2000 a março de 2002 (Fig. 1). O clima da região é do tipo Aw

na classificação de Köppen, caracterizado por precipitação reduzida e

marcadamente sazonal (Fig. 2). No período de outubro a abril ocorre 70% da

precipitação (Nimer, 1977), com temperaturas elevadas, caracterizando a estação

chuvosa. Durante a estação seca, de maio a setembro, a precipitação média mensal

pode alcançar 8.8 mm e as temperaturas médias são mais amenas (Departamento

Nacional de Meteorologia, 1992). No período seco, as temperaturas médias não

variam muito (20˚C-22˚C) e as máximas diárias permanecem elevadas, mas com

uma amplitude maior entre a máxima e mínima diárias (Nimer, 1977; Departamento

Nacional de Meteorologia, 1992).

A Mata do Córrego Cabeça de Veado se localiza na porção oeste do Jardim

Botânico de Brasília (JBB) e é considerada a maior mata de galeria do Distrito

Federal. A densidade de arbóreas é alta (1736 indivíduos/ha) e o dossel é

praticamente contínuo, com 80 a 100% de cobertura. São conhecidas cerca de 47

espécies de arbóreas na área, com 14 m de altura média, mas com alguns

indivíduos emergentes de até 30 m. As espécies mais comuns são: Piptocarpha

macropoda, Maprounea guianensis, Salacia elliptica e Amaioua guianensis (FZDF,

1990).

A Mata do Córrego Monjolo se localiza na Reserva Ecológica do Roncador

(RECOR). Na área são conhecidas cerca de 80 espécies de arbóreas atingindo uma

densidade de 1720 indivíduos/ha. As espécies mais comuns são Tapira guianense,

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Cryptocarya aschersoniana, Licania apetala e Miconia cuspidata e a frequência de

árvores mortas e espécies emergentes é alta (Silva-Júnior, 1995).

Os córregos Monjolo e Cabeça de Veado são tributários do Ribeirão do Gama,

que deságua no Lago Paranoá. Apesar da proximidade geográfica, as matas do

Monjolo e do Cabeça de Veado diferem quanto à comunidade arbórea. Enquanto a

Mata do Monjolo é bem drenada e pouco fértil, a Mata do Cabeça de Veado é mal

drenada (Silva-Júnior, Felfili et al., 2001).

Eu coletei os animais com armadilhas tipo alçapão (n = 40) associadas a

cercas de interceptação (em forma de "Y") de placas de zinco galvanizado, com 5 m

de comprimento e 0,5 m de altura. Em cada ponta do anteparo, enterrei tubos de

PVC com 25 cm (Mata do Monjolo) e 30 cm (Mata do Cabeça de Veado) de diâmetro

e 50 cm de profundidade (Fig. 3). Eu instalei as armadilhas distantes 10 m umas

das outras, metade nas bordas e o restante em direção à porção mais central das

matas.

Na Mata do Cabeça de Veado, eu sacrifiquei os animais capturados através

de injeção letal de Tiopental®, os fixei com formol 10% e os depositei na Coleção

Herpetológica da Universidade de Brasília (CHUNB). De cada indivíduo, obtive as

seguintes informações: comprimento rostro-cloacal (CRC), sexo, condição

reprodutiva e padrão cromático. Eu medi o CRC com uma régua (0.5 mm) e

determinei o sexo e a condição reprodutiva pelo exame das gônadas. Defini o CRC

do menor indivíduo reprodutivo, de cada sexo, como o CRC da maturidade sexual e

considerei como adultos os indivíduos maiores ou de mesmo tamanho. Eu

considerei as fêmeas como reprodutivas quando apresentavam folículos

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vitelogênicos e/ou ovos, e os machos, quando apresentavam testículos aumentados,

amarelados e epidídimos enovelados.

Na Mata do Monjolo, marquei permanentemente os indivíduos capturados

pelo corte de falanges, com uma numeração individual. Para cada indivíduo

capturado, anotei o tamanho corporal (CRC), sexo, maturidade sexual e padrão

cromático. Para determinar o sexo, pressionei a base da cauda para provocar a

eversão do hemipênis nos machos. Eu classifiquei os indivíduos adultos, onde a

manipulação não resultou em eversão do hemipênis, como fêmeas e os indivíduos

jovens como de sexo indeterminado. Depois, soltei cada indivíduo nas proximidades

do local de captura.

Eu determinei os padrões cromáticos pela presença de quatro elementos do

colorido dorsal: barras, círculos, listras paravertebrais e losangos (Fig. 4). Formei os

nomes dos padrões com a primeira letra de cada elemento cromático presente (B,

C, L e P). Os elementos variaram em tamanho e saturação, mas não em localização.

As barras marrons, situadas lateralmente, se estenderam da região paravertebral

até a região ventral e variaram de linhas pontilhadas até barras completas. Os

círculos amarelos, dispostos na lateral do corpo, variaram em número e tamanho. As

listras paravertebrais foram sempre de cor branca. Os losangos localizaram-se ao

longo da linha vertebral, se estendendo até a base da cauda. Não houve variação no

padrão cromático da cauda com todos os indivíduos apresentando losangos na

base e barras transversais até a extremidade posterior.

Eu investiguei os efeitos dos seguintes parâmetros sobre o polimorfismo

cromático: sazonalidade climática (seca, chuva), atividade reprodutiva (estação

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reprodutiva de setembro a fevereiro, estação não reprodutiva de março a agosto),

sexo e maturidade sexual. Excluí 45 indivíduos jovens, com sexo indeterminado, das

análises que incluíram o fator sexo. Para verificar a associação do polimorfismo com

os parâmetros acima mencionados, eu utilizei o teste de associação geral de

Mantel-Haenszel (Stokes, Davis et al., 1995) e uma análise Bayesiana (Cowell,

Dawid et al., 1999).

O método de associação geral de Mantel-Haenszel (QGMH) é um tipo de

análise estratificada que verifica a existência de associação entre variáveis

categóricas, em escala nominal. O procedimento remove a influência de algumas

variáveis explanatórias, que constituem a estratificação, proporcionando um maior

poder para detectar associação entre outras variáveis de interesse. O método é

equivalente a um ajuste de covariância para uma variável categórica. A distribuição

dos valores de QGMH se aproxima da de qui-quadrado. Não incluí nessas análises o

padrão cromático BL, cuja frequência foi inferior a cinco indivíduos. Eu conduzi as

análises utilizando o PROC FREQ do programa SAS versão 8 (SAS Institute Inc.,

1988).

Eu construí duas redes Bayesianas para determinar as probabilidades

condicionais de ocorrência de elementos do colorido dorsal e dos padrões

cromáticos, dados valores das variáveis ambientais e de história de vida,

descrevendo assim relações entre as variáveis. Posicionei as variáveis ambientais

na raiz das redes, seguidas dos parâmetros de história de vida, especificando os

padrões e os elementos cromáticos como descendentes de todos os demais

parâmetros (Fig. 5). Assim, calculei as probabilidades de ocorrência dos padrões ou

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elementos cromáticos condicionais às variáveis ambientais e de história da vida

através da fórmula:

P Pa C( ) = P C Pa( ) × P Pa( )P C( )

,

onde Pa são os padrões ou elementos cromáticos, C são as variáveis categóricas,

P(Pa) é a probabilidade de ocorrência de um padrão ou elemento cromático a priori

do conhecimento da variável categórica e P(Pa/C) é a probabilidade de ocorrência

dos padrões ou elementos cromáticos, dados os valores das variáveis categóricas

(Cowell, Dawid et al., 1999). No cálculo das probabilidades condicionais dos

padrões ou elementos cromáticos, eu fixei uma das variáveis categóricas ambientais

ou de história de vida. Conduzi as análises utilizando os programas UnBBARB, para

construção das redes Bayesianas (disponível em

ftp://ftp.cic.unb.br/pub/cic/wagner/software/Bnets/UnBARB.zip) e Hugin Lite Decision

Engine, versão 5.4 (HUGIN, 2002), para o cálculo das probabilidades condicionais.

Considerei relevantes nas comparações as probabilidades condicionais com

valores maiores que o dobro.

Eu calculei taxas de permanência e de entrada na população, por mês e para

cada padrão cromático, com o programa POPAN versão 5B.4 (Arnason e Schwarz,

2000). Utilizei o modelo de Jolly-Dickson completo, por considerar constantes ao

longo do tempo a probabilidade de captura dos indivíduos e a saída e entrada de

indivíduos da população (mortalidade, nascimento e movimentos migratórios) e

também por considerar como permanentes as marcações individuais. A taxa de

permanência é a proporção de indivíduos marcados e recapturados por mês (junho

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de 2000 a março de 2002). Uma vez que não é possível identificar saídas da

população por morte ou emigração, o uso do termo taxa de permanência é mais

apropriado que o termo sobrevivência. Realizei comparações das taxas de

permanência entre padrões cromáticos através de uma ANOVA com o programa

SYSTAT, versão 9.0 (SYSTAT, 1992). Não fiz comparações das taxas de permanência

entre elementos cromáticos, uma vez que os dados não são independentes. Excluí

dois padrões da análise, BL por não ocorrer na área de estudo demográfico (Mata do

Monjolo) e BP, por não apresentar recapturas durante o estudo.

Para investigar o efeito dos padrões cromáticos sobre o desempenho dos

indivíduos, eu comparei as taxas de crescimento e o comprimento rostro-cloacal

entre padrões cromáticos através de ANOVAs (SYSTAT, 1992). Calculei as taxas de

crescimento a partir da diferença no comprimento rostro-cloacal (CRC, 0.05 mm)

entre a última e a primeira captura (mm/semana). Para eliminar o efeito do

dimorfismo sexual, eu realizei comparações separadamente entre os adultos de

cada sexo. Comparei taxas de apenas oito padrões, já que o padrão BL não ocorreu

na área de estudo demográfico (Mata do Monjolo) e não houve recapturas do padrão

BP durante o estudo. Em todos os testes de hipóteses, utilizei o nível de significância

de 5%.

Resultados

Eu capturei 268 indivíduos distribuídos em 10 padrões cromáticos (Figs. 6 e

7). O padrão cromático CL foi o mais comum (34.1%), sendo seguido de BCL

(24.7%), BLP (14.2%), C (6%) e P (5.6%). Os demais padrões (LP, BCLP, CLP, BP e

BL) ocorreram com frequência inferior a 5% (Fig. 8). Os elementos cromáticos mais

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freqüentes foram losangos (86.5%), círculos (73.4%), barras (45.7%) e listras

paravertebrais (35.2%). Não houve diferença na frequência dos padrões e elementos

cromáticos entre as matas do Monjolo e Cabeça de Veado (χ2 = 84,6, gl = 96, p =

0,79). Assim, dada a proximidade geográfica entre as duas matas e a capacidade de

dispersão da espécie em ambientes abertos (Brandão e Araújo, 2001), eu

considerei os animais provenientes das mesmas como pertencentes a uma única

população.

Não houve qualquer associação entre a atividade reprodutiva e a frequência

de padrões ou elementos cromáticos, independentemente dos valores de

maturidade sexual, sazonalidade climática e sexo (Tabela 1). Da mesma forma, as

probabilidades condicionais de ocorrência dos padrões ou elementos cromáticos,

na estação reprodutiva ou fora dela, foram similares, ou seja, as relações de

causalidade entre a atividade reprodutiva sobre o polimorfismo cromático são fracas

(Tabelas 2-3).

Houve associação significativa da maturidade sexual apenas com a

frequência de barras, independentemente dos valores de atividade reprodutiva,

sazonalidade climática e sexo (Tabela 1). Esta associação se refletiu em altas

probabilidades condicionais da presença de barras em jovens e baixas

probabilidades em adultos (Tabela 3).

A sazonalidade climática foi significativamente associada apenas à frequência

de listras paravertebrais, independentemente dos valores de atividade reprodutiva,

maturidade sexual e sexo (Tabela 1). Entretanto, não houve diferenças importantes

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nas probabilidades condicionais de listras paravertebrais de acordo com valores da

sazonalidade climática (Tabela 3).

A frequência dos padrões cromáticos, das barras, círculos e listras

paravertebrais foram significativamente associados ao sexo, independentemente

dos valores de atividade reprodutiva, maturidade sexual e sazonalidade climática

(Tabela 1). As probabilidades condicionais de padrões BLP e P em fêmeas foram

mais que duas vezes maiores que em machos, enquanto que as probabilidades

condicionais de padrões BCL, CL e LP em machos foram mais que duas vezes

maiores que em fêmeas (Tabela 2). Por outro lado, a ocorrência de círculos foi muito

mais freqüente em machos, enquanto que a de listras paravertebrais foi muito maior

nas fêmeas (Tabela 3).

Não houve diferenças significativas entre as taxas de crescimento (F 7,0.05 =

1,727; p = 0,14, n = 38) ou no CRC médio dos oito padrões analisados (machos:

F5,0.05 = 1.960, p = 0.09 e n= 119; fêmeas: F7,0.05 = 1.051, p = 0.40 e n = 66), sugerindo

que não há diferença no desempenho dos lagartos associada aos padrões

cromáticos. Da mesma forma, não houve diferença nas taxas de permanência de

indivíduos na população de acordo com os padrões cromáticos (F7,0.05 = 0.422, p =

0.89, n = 83), sugerindo que a pressão de predação sobre os diferentes padrões

seja a mesma (Tabela 4).

Eu observei mudanças no padrão cromático em 22 das 53 recapturas na Mata

do Monjolo. Essas mudanças, entretanto, aparentemente não foram associadas a

nenhum parâmetro de história de vida da espécie como maturidade sexual, estação

ou atividade reprodutiva (Tabela 5). Ainda, no laboratório, após deixar os animais

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coletados em local escuro por cerca de cinco minutos, observei mudanças nos

padrões associadas aos elementos cromáticos barras e losangos. As mudanças de

padrão cromático entre capturas aparentemente correspondem ao padrão de

mudanças encontrado no laboratório, sugerindo que tais mudanças são rápidas, de

origem fisiológica, resultantes do escurecimento dorsal, o que pode aumentar a

eficácia da termorregulação (Cooper e Greenberg, 1992).

Discussão

O polimorfismo cromático em Enyalius sp está associado a diferenças entre

jovens e adultos e entre os sexos. Jovens apresentam barras com maior frequência

que adultos. Por outro lado, machos apresentam círculos e os padrões C, BCL e CL

e com maior frequência, enquanto que listras paravertebrais e os padrões P, LP, LP,

PB, CLP, BLP e BCLP são mais associados às fêmeas.

Jovens apresentam, significativamente mais barras que adultos. Na maioria

das espécies de lagartos polimórficos, mudanças ontogenéticas estão associadas

à comunicação em interações sociais ou a estratégias de escape de predação

(Olsson, 1994; Carpenter, 1995; Castilla, Gosa et al., 1999). No primeiro caso, é

esperado que jovens e fêmeas apresentem padrões diferentes dos machos ou que

existam padrões exclusivos para jovens e adultos, o que não ocorre em Enyalius sp.

Eu proponho que o predomínio de barras nos jovens de Enyalius sp seja uma

estratégia de escape de predação. Dado que indivíduos jovens sofrem uma maior

pressão de predação (Greene, 1994), as barras nos lados do corpo podem

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aumentar a camuflagem, por causar um efeito disruptivo no contorno do corpo

(Norris e Lowe, 1964).

A associação do polimorfismo cromático com os sexos pode indicar seu uso

na comunicação durante interações sociais. Nesse caso, o polimorfismo cromático

é normalmente utilizado no reconhecimento intra-específico (Losos, 1985), em

processos de seleção sexual na escolha de parceiros por fêmeas (Smith e Zucker,

1997), em encontros agonísticos entre machos (Zucker, 1989), ou ainda na

sinalização do status reprodutivo (Galán, 2000) ou de diferenças na estratégia

reprodutiva (Sinervo e Lively, 1996). Entretanto, sob essas circunstâncias, os

padrões ou elementos cromáticos são exclusivos de um sexo, normalmente

ocorrendo apenas nos machos, o que não ocorre em Enyalius sp. Ainda, na grande

maioria dos casos, o dimorfismo sexual na coloração está associado a um

dimorfismo sexual no tamanho, onde os machos são maiores que as fêmeas como

produto da seleção sexual (Jenssen, Orrell et al., 2000). Porém, em Enyalius sp as

fêmeas é que possuem maior tamanho corporal. Assim, as diferenças encontradas

na frequência dos padrões cromáticos entre os sexos podem estar relacionadas a

outros mecanismos ligados ao sexo, que não a comunicação durante interações

sociais.

Padrões de coloração adquiridos durante a estação reprodutiva são

empregados na comunicação intraespecífica, podem evitar encontros agonísticos,

em atividades de corte, ou como sinais da posição na hierarquia social (Olsson,

1994; Carpenter, 1995; Hager, 2001). A ausência de mudanças na frequência dos

padrões e elementos polimórficos durante o período reprodutivo, corrobora a idéia

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de que o polimorfismo cromático em Enyalius sp não está associado a interações

sociais.

Mudanças fisiológicas na coloração podem estar associadas tanto à

termorregulação (Díaz, 1994; Castrucci, Sherbrooke et al., 1997), como à sinalização

de dominância em interações sociais (Zucker, 1989) e mudanças no substrato ou

luminosidade (Norris e Lowe, 1964). Houve escurecimento dorsal e mudanças nos

padrões cromáticos em indivíduos de Enyalius sp mantidos no escuro por alguns

minutos. Os elementos cromáticos listras paravertebrais e círculos parecem ser

menos suscetíveis a mudanças fisiológicas na coloração que as barras e losangos.

Entretanto, mais estudos são necessários para avaliar sob que condições essas

mudanças ocorrem em Enyalius sp.

Os morfotipos de Enyalius sp não diferem em desempenho, estimado como

taxa de crescimento ou tamanho corporal (CRC). Os estudos que mostram

diferenças no desempenho associadas ao polimorfismo cromático envolvem

indivíduos melânicos de regiões de clima temperado, que apresentam melhor

desempenho pelo aumento na eficiência da termorregulação, produzindo taxas de

crescimento e tamanhos corporais maiores (Luiselli, 1992; Bittner, King et al., 2002).

Entretanto, em regiões tropicais como o Cerrado, as condições ambientais para a

termorregulação são menos limitantes que na zona temperada e a seleção deve ser

mais intensa sobre mecanismos de dissipação que naqueles de aquisição de calor.

Desta forma, o polimorfismo cromático em Enyalius sp aparentemente não está

associado a processos fisiológicos de manutenção, como a termorregulação.

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Alguns estudos relacionam o polimorfismo cromático a variações nas

pressões de predação ao longo de gradientes ambientais, implicando na variação

na frequência dos morfotipos (Schoener e Schoener, 1976; Johnston, 1996; Merilaita,

Tuomi et al., 1999). Movimentos migratórios entre as áreas seriam responsáveis

pela manutenção do polimorfismo cromático nas populações (King, 1987). Apesar

das diferenças florísticas e estruturais entre as matas do Monjolo e do Cabeça de

Veado, não houve diferença nas frequências dos morfotipos de Enyalius sp entre

elas. Assim sendo, variações ambientais, pelo menos dentro dos limites tratados

neste estudo, aparentemente não influenciam o polimorfismo cromático em Enyalius

sp.

A manutenção do polimorfismo cromático por seleção dependente da

freqüencia implica em diferenças nas taxas de permanência, de forma que o padrão

mais freqüente apresentaria as menores taxas (Futuyma, 1993). Em Enyalius sp,

porém, o padrão mais comum na população (CL) atingiu as maiores taxas de

permanência, apesar destas não diferirem significativamente entre os morfotipos.

Assim, a manutenção do polimorfismo cromático em Enyalius sp aparentemente

não se deve à seleção dependente da freqüencia. Entretanto, essa hipótese não

deve ser descartada, uma vez que a escala temporal do estudo é pontual, limitando a

possibilidade de detecção de flutuações temporais dos padrões cromáticos na

população devido à predação diferencial.

O polimorfismo cromático pode aumentar a eficiência da camuflagem em

espécies sujeitas a predadores orientados visualmente, reduzindo o risco de

predação de cada indivíduo, o que representa uma vantagem em relação a espécies

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monomórficas (Hoffman, 2000). Os principais predadores de lagartos são aves e

serpentes diurnas, espécies orientadas visualmente (Greene, 1994). Assim, a

seleção direta sobre o polimorfismo cromático pela predação parece ser o

mecanismo mais plausível para sua manutenção em Enyalius sp, da mesma forma

como sugerido para anuros (Hoffman, 2000). Entretanto, aparentemente existe

algum efeito da interação do sexo com a predação sobre o polimorfismo cromático

nessa espécie. Essa interação pode resultar de diferenças ecológicas entre os

sexos, uma vez que, em ambientes heterogêneos, a eficiência da camuflagem tem

sido associada a outros fatores além da semelhança com o substrato, como o

tempo que os morfos passam nos microhabitats e a probabilidade de encontro com

predadores (Merilaita, Tuomi et al., 1999).

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Tabela 1. Valores dos testes de associação geral de Mantel-Haenszel (entre parênteses valores de p) dos

parâmetros de história de vida e parâmetros ambientais versus padrões e elementos cromáticos separadamente.

Atividade reprodutiva Maturidade sexual Sazonalidade climática Sexo

(n = 266) (n = 266) (n = 266) (n = 221)

Padrões 5.68 (0.68) 14.19 (0.08) 10.50 (0.23) 88.46 (<0.01)

Elementos

Barras 0.21 (0.65) 7.25 (<0.01) 0.99 (0.32) 5.00 (0.02)

Círculos 0.62 (0.43) 0.001 (0.97) 0.26 (0.61) 65.40 (<0.01)

Losangos 1.87 (0.17) 0.03 (0.85) 0.07 (0.78) 1.39 (0.24)

Paravertebrais 0.43 (0.51) 0.11 (0.74) 4.79 (0.03) 88.59 (<0.001)

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Tabela 2. Probabilidades condicionais de ocorrência dos padrões cromáticos dados

valores de variáveis ambientais e de história de vida em Enyalius sp.

Padrões cromáticos

BP BCL BCLP BLP CL CLP C LP PAtividade reprodutiva

Sim 4 21 5 13 31 6 7 6 9

Não 7 18 10 10 22 8 12 7 7

Maturidade sexual

Jovem 8 19 9 18 18 7 6 8 7

Adulto 3 20 5 10 34 6 9 6 8

Sazonalidade climática

Chuva 4 21 5 13 31 5 7 6 8

Seca 6 18 8 11 25 9 10 7 6

Sexo

Fêmea 6 11 9 23 13 10 5 11 13

Macho 3 26 4 3 43 4 11 3 3

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Tabela 3. Probabilidades condicionais da ocorrência de elementos cromáticos

dados valores de variáveis ambientais e de história de vida em Enyalius sp.

Barras Círculos Losangos ParavertebraisAtividade reprodutiva

Sim 45 71 84 36

Não 47 74 75 36

Maturidade sexual

Jovem 61 60 81 49

Adulto 38 76 82 30

Sazonalidade climática

Chuva 46 71 83 34

Seca 44 73 80 39

Sexo

Fêmea 53 45 77 70

Macho 36 94 85 9

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33

Tabela 4: Valores médios e desvios padrão (número de indivíduos) das taxas de

crescimento (mm/semana) e permanência (número de indivíduos recapturados) e

comprimento rostro-cloacal (mm) para cada padrão cromático encontrado em

Enyalius sp.

Padrões CRC Taxa de Taxa de

cromáticos Fêmeas Machos permanência crescimento

C * 71.6 ± 5.0 (14) 0.55 ± 0.59 (6) 0.44 ± 0.14 (2)

P 79.3 ± 2.3 (12) * 0.55 ± 0.74 (9) 0.07 ± 0.04 (2)

CL 76.5 ± 4.4 (9) 66.8 ± 6.4 (62) 0.73 ± 0.67 (13) 0.40 ± 0.31 (15)

LP 76.3 ± 5.7 (9) * 0.35 ± 0.44 (8) *

CLP 78.3 ± 4.6 (5) 70.3 ± 4.7 (3) 0.41 ± 0.42 (8) 0.31 ± 0.34 (2)

BLP 77.9 ± 4.9 (18) * 0.60 ± 0.60 (15) 0.55 ± 0.26 (8)

BCL 75.2 ± 6.4 (7) 66.5 ± 5.8 (37) 0.58 ± 0.43 (12) 0.14 ± 0.11 (6)

BCLP 75.8 ± 4.6 (5) 65.0 ± 1.4 (2) 0.60 ± 0.50 (12) 0.39 ± 0.14 (2)

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Tabela 5: Mudanças nos padrões dos indivíduos observados no estudo demográfico

de marcação e recaptura na mata do Monjolo.

Padrõescromáticos

Sexo Maturidadesexual

Sazonalidadeclimática

Atividadereprodutiva

C ⇒ CL M A seca não ⇒ sim

C ⇒ CL M A seca sim

C ⇒ CL M A chuva ⇒ seca sim

C ⇒ CL M A seca ⇒ chuva sim

P ⇒ BP F A chuva sim

CL ⇒ CBL M A chuva sim

CL ⇒ CBL M A seca ⇒ chuva sim

CL ⇒ CBL ⇒ CL M A seca ⇒ chuva ⇒ chuva sim

CL ⇒ CBLP M A chuva sim

BP ⇒ BLP J J chuva sim

BP ⇒ BLP F J ⇒ A chuva ⇒ seca sim

LP ⇒ BP ⇒ BLP F A seca ⇒ chuva ⇒ seca sim ⇒ não

LP ⇒ BLP F A seca ⇒ chuva sim

LP ⇒ P F A chuva sim

CBL ⇒ C M J ⇒ A chuva sim

CBL ⇒ CL M A chuva sim

CBL ⇒ CL J J chuva sim

CLP ⇒ CBLP F J ⇒ A seca ⇒ chuva não ⇒ sim

CLP ⇒ CL M A seca ⇒ chuva sim

BLP ⇒ LP F A chuva ⇒ seca sim

BLP ⇒ CL F J ⇒ A seca ⇒ chuva sim

CBLP ⇒ C M A seca ⇒ chuva não ⇒ sim

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Legenda das figuras

Figura 1: Localização das áreas de estudo: Mata do córrego Cabeça de Veado

(Jardim Botânico de Brasília) e mata do córrego do Monjolo (RECOR) na Área de

Proteção Ambiental Gama-Cabeça de Veado, Brasília-DF.

Figura 2: Médias mensais normais de precipitação (mm3) e temperaturas médias

mensais (C°) para a região de Brasília no período de 1960 a 1990.

Figura 3: Armadilhas do tipo alçapão com cercas de interceptação utilizadas nas

capturas dos lagartos (A, B e C) e Mata do Córrego Cabeça de Veado (D).

Figura 4: Elementos cromáticos dorsais usados para formar os padrões cromáticos

em Enyalius sp: círculos laterais, barras transversais, listras paravertebrais e

losangos.

Figura 5: Rede Bayesiana contruída a partir dos parâmetros ambientais e de história

de vida associadas aos padrões ou elementos cromáticos.

Figura 6: Padrões polimórficos encontrados em Enyalius sp. Nomes formados a

partir da primeira letra do(s) elemento(s) cromático(s) presente(s): C, P, CL, LP, BL,

BP, BCL, BLP, CLP e BCLP.

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Figura 7: Fotos representativas de alguns padrões cromáticos encontrados em

Enyalius sp: BLP (A), BCL (B), BCLP (C), LP (D), CLP (E), Jovem BLP (F), P (G), CL

(H) e aspecto da camuflagem de indivíduo BCLP (I).

Figura 8: Gráficos de distribuição de frequência dos padrões polimórficos

encontrados em Enyalius sp (acima) e entre machos e fêmeas de Enyalius sp

(abaixo).

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300

200

100

0 Pre

cipi

taçã

o (m

m3 )

J F M A M J J A S O N D

Meses

60

40

20

0

Temperatura (º C)

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140

120

100

80

60

40

20

Fêmeas Machos

Padrões cromáticos

C CL BCL BL BCLP CLP BLP BP PL P

C CL BCL BL BCLP CLP BLP BP PL P

120

100

80

60

40

20