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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 5 – O Português popular do Brasil, Portugal e África: aproximações e distanciamentos. 44 O PORTUGUÊS POPULAR FALADO POR ÍTALO-DESCENDENTES DO SUL DO BRASIL Carmen Maria FAGGION 1 RESUMO: O português falado por ítalo-descendentes na Serra Gaúcha, no Sul do Brasil, tem características peculiares que, durante muito tempo, foram estigmatizadas (v. Frosi, Dal Corno e Faggion, 2006, 2007, 2008). Frosi e Mioranza (1983, 2009) mencionam várias dessas características, em trabalhos pioneiros. Frosi (1987) assinala elementos que constituem o sotaque (vibrante simples no lugar da múltipla, fricativa alveolar no lugar da fricativa palato-alveolar; uso de “on” no lugar de “ão”; ausência de palatalização de /t/ e /d/ diante de /i/; ausência de elevação da vogal átona final; não- fechamento do timbre da vogal /a/, quando nasalizada). Além disso, ocorrem [e] epentético, ausência de velarização ou semivocalização da lateral alveolar em coda, e elevação vocálica pretônica diante dos sufixos - inho e – zinho, ignorando-se o caráter singular desses elementos mórficos na língua portuguesa. Ocorrem ainda construções frasais específicas e traduções literais de expressões idiomáticas. Há resquícios do dialeto italiano em exclamações e no turpilóquio (Faggion, 2009). Tudo isso mostra um caso bem específico de Português Popular falado, em área de imigração, que preserva características peculiares mesmo num contexto de quarta ou quinta geração depois do início do processo migratório. PALAVRAS-CHAVE: língua portuguesa; sociolinguística e dialetologia. Este trabalho tem o objetivo de reunir algumas características do português popular da Região de Colonização Italiana (RCI) do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, apontando resultados de pesquisas já efetuadas e assinalando alguns aspectos decorrentes da observação – válidos, portanto, enquanto verificáveis – que demandam ainda investigação específica. A apresentação de características dessa variedade do português permitirá comparações com variedades populares de outras regiões, contribuindo para a reflexão sobre aproximações e distanciamentos do Português Popular de diferentes lugares.

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 5 – O Português popular do Brasil, Portugal e África: aproximações e distanciamentos.

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O PORTUGUÊS POPULAR FALADO POR ÍTALO-DESCENDENTES DO SUL DO BRASIL

Carmen Maria FAGGION1

RESUMO: O português falado por ítalo-descendentes na Serra Gaúcha, no Sul do Brasil, tem características peculiares que, durante muito tempo, foram estigmatizadas (v. Frosi, Dal Corno e Faggion, 2006, 2007, 2008). Frosi e Mioranza (1983, 2009) mencionam várias dessas características, em trabalhos pioneiros. Frosi (1987) assinala elementos que constituem o sotaque (vibrante simples no lugar da múltipla, fricativa alveolar no lugar da fricativa palato-alveolar; uso de “on” no lugar de “ão”; ausência de palatalização de /t/ e /d/ diante de /i/; ausência de elevação da vogal átona final; não- fechamento do timbre da vogal /a/, quando nasalizada). Além disso, ocorrem [e] epentético, ausência de velarização ou semivocalização da lateral alveolar em coda, e elevação vocálica pretônica diante dos sufixos - inho e – zinho, ignorando-se o caráter singular desses elementos mórficos na língua portuguesa. Ocorrem ainda construções frasais específicas e traduções literais de expressões idiomáticas. Há resquícios do dialeto italiano em exclamações e no turpilóquio (Faggion, 2009). Tudo isso mostra um caso bem específico de Português Popular falado, em área de imigração, que preserva características peculiares mesmo num contexto de quarta ou quinta geração depois do início do processo migratório.

PALAVRAS-CHAVE: língua portuguesa; sociolinguística e dialetologia.

Este trabalho tem o objetivo de reunir algumas características do português

popular da Região de Colonização Italiana (RCI) do estado do Rio Grande do Sul, no

Brasil, apontando resultados de pesquisas já efetuadas e assinalando alguns aspectos

decorrentes da observação – válidos, portanto, enquanto verificáveis – que demandam

ainda investigação específica.

A apresentação de características dessa variedade do português permitirá

comparações com variedades populares de outras regiões, contribuindo para a reflexão

sobre aproximações e distanciamentos do Português Popular de diferentes lugares.

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1 Universidade de Caxias do Sul, Campus Universitário da Região dos Vinhedos, Centro de Ciências Humanas e da Educação, Departamento de Letras e Filosofia – Alameda João Dal Sasso, 800 – Bloco J – 95700-000 Bento Gonçalves RS – Brasil – [email protected]

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Preconceito gerando identidade

O português dos ítalo-descendentes da Região de Colonização Italiana (RCI), no

Sul do Brasil, tem características que já foram estigmatizadas, como analisaram Dal

Corno e Santini (1998), e também Frosi, Dal Corno e Faggion (a partir de 2005), no

Projeto Estigma (UCS), coordenado por Vitalina Maria Frosi.

Frosi, Dal Corno e Faggion (2005, 2006, 2008) verificam a questão da atitude

dos ítalo-descendentes em relação à fala da RCI. Apontam causas históricas para a

sedimentação do estigma, como a Campanha de Nacionalização do Ensino, promovida

pelo governo Vargas na década de 1930, e a proibição de falar italiano ocorrida na

Segunda Guerra Mundial (a esse respeito, v. também Pesavento, 1980; Frosi, 1987 b;

Payer, 2001; Sganzerla, 2001; Campos, 2006). Registram a crescente urbanização e suas

consequências para a imagem do colono, do trabalhador rural, a quem são atribuídas

características de desprestígio (fato assinalado por Frosi, 1996, p. 162).

Analisando depoimentos elicitados pela pesquisa, neles encontram a memória do

estigma, que “ocasionou não só situações de desconforto e desagrado, mas também,

muitas vezes, entraves profissionais e isenções sociais aos que podiam ser identificados

como colonos” (FROSI; DAL CORNO; FAGGION, 2008, p. 157). E concluem que há uma

superação do estigma, encabeçada por uma geração com educação universitária.

Na RCI, já na aquisição do português pela criança há traços linguísticos da língua

de seus pais e avós, conforme assinala Frosi (1996, p. 165), e também Paviani (2001, p.

631). A língua portuguesa falada na RCI, especialmente nas zonas rurais, guarda sinais

do contato lingüístico entre variedades das duas línguas.

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A esse respeito, Bergamaschi investiga atitudes e associa o estigma ao passado:

“o tempo verbal utilizado pelos falantes acaba por revelar a presença ou não de prestígio

linguístico nos depoimentos” (BERGAMASCHI, 2006, p. 137).

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Toscan (2005) já assinalara que interação formal ou informal e solidariedade ao

interlocutor também orientam o uso das variedades. Assim, o uso da variedade marcada

pode constituir elemento (poderoso) de identidade e de pertencimento a um grupo.

Há um complexo jogo de identidades, valores, percepções e construção de

imagens a reger o uso de línguas e variedades linguísticas, na RCI como em qualquer

outro lugar. É difícil, portanto, falar de um português popular como uma variedade

única. Como lembra Leite (2008, p. 107):

“Como as pessoas não vivem em grupos isolados, ou seja, hipoteticamente, o grupo dos usuários cultos da língua de um lado e o dos usuários não-cultos do outro, há marcas linguístico- discursivas que se misturam nos dois registros.”

Também nas regiões do Rio Grande do Sul colonizadas por alemães, embora os

traços de sotaque sejam diferentes (havendo em comum ao menos um, a neutralização

do /r/), não são diferentes as atitudes, como bem observa Schneider (2008, p. 2): a

“variedade de menor prestígio (...) é usada para obter efeitos cômicos”, com evidente

desrespeito à identidade do falante, como faz ver a autora (SCHNEIDER, 2008, p. 3).

Não há apenas uma forma diferente de falar: há culturas e uma maneira de ser.

Frosi, Dal Corno e Faggion (2008) assinalam alguns traços culturais e a consciência que

deles têm os falantes. Bancich (2004), ao analisar atos de polidez de zona urbana e rural

de Caxias do Sul, encontra neles um vínculo com a cultura e a história da imigração.

As marcas de sotaque

Frosi e Mioranza (1983, p. 334) enumeram as seguintes características do

português dos ítalo-descendentes: não-realização do ditongo nasal ão, geralmente

pronunciado on; realização da vogal nasal /a/ com timbre aberto em vez de fechado;

realização de /a/ pleno em posição átona final (sem redução); realização de /o/ e de /e/

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como vogais átonas finais (sem elevação); e neutralização das vibrantes (a múltipla e a

simples são realizadas da mesma maneira). A neutralização se verifica inclusive nos

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empréstimos do português, pois é instável a pronúncia das vibrantes em verão, amarelo,

coração, açougueiro, cozinheiro, sapateiro, chiqueiro, barato, barulho, estourar (lista

apresentada por Frosi e Mioranza, 1983, p. 348).

Frosi e Mioranza (1983, p. 349) mencionam também a substituição da fricativa

palato-alveolar pela alveolar (o que ocasionaria pronúncias como siquero, simaron,

Cassia em vez de chiqueiro, chimarrão, Caxias). No entanto, apesar de ser uma das

marcas de sotaque mais lembradas, a ponto de se ter tornado ícone da pronúncia local,

sua ocorrência hoje em dia restringe-se a áreas bem isoladas ou com características

muito específicas. Contudo, são observáveis na RCI nomes (assim registrados em

cartório) como Zilmar, Zairo, Zair, por Gilmar, Jairo, Jair, além de Rozério. Portanto, é

um traço que persiste ainda, mas esses nomes sejam de pessoas com mais de 40 anos.

As marcas apontadas por Frosi e Mioranza (1983) já naquela época não eram

uniformes, sendo circunscritas às áreas estudadas, predominantemente rurais. Já se

inseriam, naquele tempo, nas diferentes comunidades, influências socioculturais que

marcavam as tessituras locais com novos modelos de vida e permitiam visualizar outras

formas de convivência, de trabalho, de construção de identidades.

O grande mérito dos trabalhos pioneiros está em haverem identificado as marcas

do sotaque, vencendo até mesmo o descaso com que tais marcas eram vistas, pois havia

em tempos passados uma pressurosa busca de ocultá-las ou corrigi-las. Não é menor o

mérito de haver elencado com precisão traços que despertam interesse e que até hoje são

estudados. De fato, há muitos trabalhos desenvolvidos a respeito dessas características.

Além disso, a partir da década de 1970, principalmente, a criação de Cursos de

Mestrado e Doutorado nas Universidades gaúchas criou condições, oportunidades e

inspirações para pesquisas, ao promover o conhecimento científico e sua construção. Ao

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passo que os estudos sobre a língua das minorias étnicas se desenvolviam, a partir dos

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anos 1970, o estado do Rio Grande do Sul assistiu a um grande progresso nos estudos

de Fonética e Fonologia, nos quais se pode ver a marcante influência e a generosa

liderança de Leda Bisol, cujo brilho atraiu inúmeras vocações para essa área.

Um dos trabalhos de Leda Bisol (1984), sobre harmonização vocálica como

regra variável, contempla a fala dos ítalo-descendentes. A autora compara amostras da

fala de descendentes dos três principais povos colonizadores do Rio Grande do Sul -

açorianos, alemães e italianos - para verificar a harmonização vocálica no português,

sendo a etnia uma das variáveis extralingüísticas. Os italianos estão em segundo lugar

no uso da harmonização vocálica, logo após a capital. Bisol lembra que a elevação de

e>i é bastante geral no italiano; assim, os bilíngües italianos, familiarizados com a

presença de uma vogal alta na pauta pretônica, estão mais motivados a usar a regra de

harmonização vocálica do que os alemães e os fronteiriços (BISOL, 1984, p. 91).

Já nos estudos científicos sobre dialetos italianos no Brasil, ressalta-se a figura

de Vitalina Maria Frosi, que, inicialmente com Ciro Mioranza (1983, 2009), investigou

esses dialetos e, mais tarde (FROSI, 1987 a e b, 1992, 1996, 2005, 2006), vários outros

aspectos atinentes à fala da RCI.

Por exemplo, Frosi (1987 b), aos traços mencionados por Frosi e Mioranza

(1983, p 334), acrescenta a ausência de palatalização, pois a transformação de oclusiva

em africada que ocorre com /t/ e /d/, diante de /i/, é muito usada no português gaúcho,

mas é menos comum na RCI.

A esse respeito, o trabalho de Mauri (2008) mostra que as pequenas

comunidades, impulsionadas pelas inovações e tendo como condicionadores os jovens,

apresentam aumento de incidência da palatalização, ligada também a condicionamentos

linguísticos. Como pondera Mauri (2008: 70), “a palatalização pode estar sendo

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introduzida nas capelas por meio de práticas socioeconômicas que promovem o contato

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dos indivíduos com outros de fora, que palatalizam”. Ou seja, mudanças sociais fazem

sentir sua influência. Não foi diferente a conclusão de Dutra (2007) a respeito de outra

área bilingue, o Chuí (esta bilingue de português/espanhol): aí também a palatalização

está sujeita a variáveis linguísticas e sociais e configura mudança em progresso.

Mais esclarecimentos sobre esse ponto trará a abrangente pesquisa

sociolinguística sobre palatalização empreendida por Elisa Battisti (2008), da

Universidade de Caxias do Sul, de que Matte (2009) apresenta alguns resultados.

No que se refere à realização de /o/ e de /e/ como vogais átonas finais (sem

elevação), mencionada por Frosi e Mioranza (1983, p. 334) e por Frosi (1987 b), impõe-

se estimular investigações para verificar em que passo se encontra o processo, visto que

há sinais de variação. Vieira (2002) investiga as médias em posição pós-tônica final e

não-final, e afirma que, no Sul do Brasil, em posição átona final, as vogais médias

“tendem a se manifestar (...) ora como vogais médias ora como vogais altas” (VIEIRA,

2002, p. 128). Vieira (2002, p. 138) verifica preservação da vogal /o/, em posição pós-

tônica não-final, na cidade de Flores da Cunha, no Rio Grande do Sul, cidade de

imigração italiana. A autora também registra que Flores da Cunha é o local que mais

preserva /e/ em posição pós-tônica (VIEIRA, 2002, p. 154). A esse propósito, Silva

(2009) verificou, em área bilingue de português/espanhol, que estão ocorrendo

variavelmente alguns alçamentos, aos quais é mais suscetível a vogal /o/ do que a /e/.

Na RCI, um estudo mais aprofundado das vogais átonas poderá revelar mais sobre o

índice de frequência de palatalização, visto que se subtrai ambiente de palatalização, ao

não elevar. Assim, o mesmo falante que palataliza em palavras como tipo, tirar, ativo,

deixa de palatalizar numa expressão como boa noite, ou em palavras como depois ou

teatro, por não realizar elevação. Aliás, também em palavras como leite, dente, onde,

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tenho observado que, em lugar de elevação e palatalização, ocorre um ligeiro

ensurdecimento da vogal átona, especialmente em final de frase.

Sobre a não-elevação das átonas, também se observa outro dado curioso: há um

abaixamento, ou medialização, das vogais altas ou semivogais, em posição átona final.

Assim, ouvem-se formas como ele caío, subio, repetio. Não registrei nenhuma forma

com a semivogal anterior sofrendo abaixamento, mas compilei muitos exemplos de

vogais médias anteriores, em posição átona final, que não sofreram elevação: cobre,

leve, sorte, parte, vende, alface, sobe. E, é claro, também de vogais posteriores sem

elevação: bolo, tudo, ato falho, maduro, farmacêutico.

A respeito da vibrante, muito se tem estudado. Callou, Moraes e Leite (2002)

assinalaram o número de realizações fonéticas identificadas, e analisaram suas variações

em posição de coda em diferentes cidades brasileiras, levando em conta gênero, faixa

etária, vogal antecedente e contexto subsequente. Identificaram uma divisão nítida de

isoglossas entre sul e norte, e salientam que

“a norma de pronúncia do /r/ aponta para um processo de posteriorização, de enfraquecimento: de anterior para posterior (velar ou laríngeo), com eventual mudança de modo de articulação de vibrante para fricativa, em posição medial, chegando até a cancelar-se, em posição final” (CALLOU; MORAES; LEITE, 2002, p. 487)

Verifica-se, pois, em zonas urbanas, tendência bem específica.

Brescancini e Monaretto (2008), num artigo que se pauta pela amplitude e pela

exaustividade, constroem um panorama geral dos róticos na Região Sul, com base em

dados do VARSUL, assinalando que

“o que se observa, em todas as pesquisas, é a presença de variantes anteriores (vibrantes e fricativas), tanto em posição de ataque como em coda, como marcas típicas da variedade do português falado da região Sul do Brasil.” (BRESCANCINI E MORANETTO, 2008, p. 55)

As autoras acrescentam que a frequência das variantes é dependente da posição

na sílaba. No ataque, predomina a fricativa velar. Mas, em Flores da Cunha (RS), região

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de imigração italiana, o tepe alcança mais de 60% das realizações (BRESCANCINI E

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MORANETTO, 2008, p. 56), confirmando a verificação de Frosi e Mioranza (1983, p. 334) e de Frosi (1987 b, p. 138), de que há neutralização das vibrantes, visto que o tepe

ocupa um lugar que seria só da vibrante múltipla. As autoras, nos dados de áreas de

colonização alemã e italiana, verificam a existência de tepe e vibrante no ataque,

“caracterizando uma variação sociolinguística” (BRESCANCINI E MORANETTO, 2008, p.

57), e registram a presença de vibrante alveolar na coda, em Flores da Cunha

(BRESCANCINI E MORANETTO, 2008, p. 57). Em suas considerações finais, Brescancini

e Monaretto (2008, p. 64) afirmam que, na fala do Sul do Brasil, a posição na sílaba e a

localidade em que se situa o falante condicionam a vibrante. E acrescentam:

“Na posição de ataque, observa-se a presença de variantes com articulação na zona anterior da boca, na forma de vibrantes, fricativas e tepes, caracterizando a fala dessa região. Variantes articuladas na zona posterior não são as mais encontradas nas cidades da amostra do VARSUL, mas aparecem como fricativas velares, com frequência mais alta em Porto Alegre, Florianópolis e Londrina.” (BRESCANCINI E MORANETTO, 2008, p. 64)

Verifica-se que as grandes cidades aparecem como difusoras de uma pronúncia

inovadora da vibrante. Talvez seja isso que faça os falantes da RCI, especialmente os da

faixa mais experiente, não aceitarem a ideia de pronunciar os róticos na zona posterior

da boca. No testemunho de uma fonoaudióloga, pessoas que, nos anos 1970, precisavam

desenvolver a distinção entre as duas vibrantes, recusavam-se a utilizar a fricativa

posterior como opção para a múltipla. Parece que se envolve aí uma questão de

identidade. Aliás, a preferência por um determinado tipo de vibrante foi observada

também por Fraga (2008, p. 373) em relação a outro grupo de ascendência bilíngue, o

dos descendentes de holandeses. Também Monguilhott (2007, p. 166) observa que “o

tepe, originário dos colonizadores, é a variante mais conservadora na fala

florianopolitana” (em posição de coda), e mantém-se como a de maior uso nas zonas

rurais (localidades isoladas) “que conservaram os traços linguísticos dos colonizadores”

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(MONGUILHOTT, 2007, p. 166), neste caso, açorianos. Vê-se que há preferência de dadas

minorias por uma das variantes de /r/.

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Especificamente na região de Caxias do Sul, Bovo (2004) assinala, em seu

resumo, que o valor social conferido à variação da vibrante é de ordem sócio-econômica

e histórica, e se constrói através das práticas.

Há um dado observável, muito interessante, verificado especialmente nas

pessoas bilingues de origem rural de grau médio ou superior de escolaridade. Essas

pessoas desenvolvem a múltipla, às vezes até mesmo substituindo-a pela fricativa velar,

mas só a utilizam em início de palavra. Por exemplo, dizem rápido, rua, rosto, como na

pronúncia padrão, mas usam tepe em posição medial, em palavras como corrente,

carregado, arroba. Ou pronunciam palavras como ressurreição, realizando o primeiro

rótico como vibrante múltipla ou fricativa velar e o rótico medial como tepe.

Sobre a pronúncia do ditongo nasal –ão como –on, Tomiello (2005) destaca a

influência da idade, da escolaridade e do gênero. Os jovens, com mais vivência urbana e

escolarização, tendem a empregar –ão. Tomiello (2005, p. 83) mostra que 46% realizam

–on e 54%, -ão, na população investigada, numa localidade de São Marcos (RS), na RCI.

O número de sílabas do vocábulo funciona como variável linguística: “monossílabos

(...) condicionam favoravelmente a produção de –on”, diz Tomiello (2005, p. 88).

Em trabalho recente (Faggion, 2006), faço acréscimos aos aspectos mencionados

acima, a respeito da fala portuguesa da região. Além dos traços mencionados,

característicos da fala portuguesa da RCI, observam-se mais três.

O primeiro é a ocorrência de [e] epentético. Na epêntese, ocorre com freqüência

acréscimo de [e], e não [i]: [pe’new] para “pneu” e [adevo’gado] para “advogado” são

pronúncias comuns, embora em “ritmo” haja ocorrência de “i” epentético, ao que tudo

indica por atuação de uma regra de harmonização vocálica. (Sobre epêntese, ver

Collischonn, 2002, p. 205-230.) Essa epêntese é coerente com a pronúncia das vogais

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átonas finais, que não sofrem elevação, o que nos leva a pensar que o estatuto das

átonas, na fala portuguesa da RCI, seja a posição média (ou baixa, no caso de /a/).

O segundo é o da ausência de velarização ou semivocalização da lateral alveolar

em posição de coda. Assim, pronúncias como mal e mau não se confundem, e a lateral é

alveolar em palavras como malte, falso ou legal. Essa característica é observável nas

pessoas de mais idade. Os mais jovens tendem a empregar a forma velarizada ou a

semivocalização. (Sobre variação do segmento lateral na coda silábica, ver Tasca, 2002,

p. 269-302. A autora assinala, à página 284, a preservação da forma alveolar entre

descendentes de italianos e alemães. Ver também Espiga, 2003.)

O terceiro é a presença de elevação vocálica pretônica diante dos sufixos - inho e

- zinho. O dialeto português desses falantes ignora o caráter singular desses elementos

mórficos na língua portuguesa. Assim, verificam-se formas como ‘suzinho’ e ‘sozinho’

(com o primeiro “o” fechado) para sozinho, vocábulo que no português padrão teria

pronúncia aberta da vogal pretônica. O caso se configura como uma regra de

harmonização vocálica, de acordo com a definição de Bisol (1981), que vê a harmonia

vocálica como a elevação da vogal média alta [e] ou [o], em posição pretônica, por

influência da vogal alta na sílaba subseqüente. Em português, assinala Bisol, a harmonia

vocálica é contígua e atinge as vogais pretônicas. O caráter de contiguidade é

confirmado pela pesquisa de Matzenauer e Miranda (2003, p. 95), que veem a

Harmonia Vocálica como o espraiamento regressivo do nó de abertura de uma vogal

alta (p. 108), esse espraiamento não ultrapassando uma sílaba2.

Sobre –inho e –zinho, foi efetuada uma investigação (Faggion, 2006 e 2007), na cidade de Pinto Bandeira, escolhida por ter maioria populacional de ítalo-

descendentes. Os resultados permitiram verificar uma tendência de diminuição de

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2 Aliás, Schwindt (2002, p. 161 – 182) verifica que houve crescimento da regra de harmonização vocálica nas duas últimas décadas, no português gaúcho, sendo os condicionamentos principais de ordem lingüística. Mas o caso de que falamos aqui é próprio somente da Região de Colonização Italiana.

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elevação vocálica diante de –zinho, liderada por mulheres jovens de zona urbana. A mesma faixa manifesta leve tendência a diminuir a elevação vocálica diante de –inho.

Surgiram formas como isculinha, morininha (escolinha, moreninha), palavras

sempre pronunciadas com manutenção do timbre original da vogal pretônica, em

português padrão. Outros exemplos são cafizinho, puquinho (por pouquinho),

cervijinha, saculinha, misinha (por mesinha), velhinho (com e fechado), coleguinha

(com e fechado), fistinha e muitas outras. Isso parece ocorrer só em pequenas

comunidades da RCI. Há elevação vocálica também nas gerações mais novas, mesmo

que não falem italiano. Sobre o estatuto diferente dos dois elementos mórficos em

português, há muitos estudos, entre os quais assinalo Câmara (1970), Leite (1974),

Moreno (1977), Costa (1993), D’Andrade (1994), Lee (1996), Mateus e d’Andrade

(2000, p. 102-103), Cagliari (2002, p. 83), Basilio (2004, p. 70 s.) e outros.

Viegas (2004) assinala uma pronúncia semelhante registrada em Belo Horizonte,

um alçamento usado como “recurso para atribuir valor pejorativo a determinadas

palavras, especialmente em diminutivos, como em litrinha, cabilinho, etc.” Observe-se

que o uso na região ítalo-descendente não tem nenhuma conotação pejorativa para o

usuário: é sua fala habitual. Pode ter, eventualmente, para quem o imite.

Deve ser registrado que outras elevações vocálicas de sílabas pretônicas,

presentes na fala de outras regiões, não ocorrem na RCI. Não houve, na investigação

acima mencionada, elevação vocálica na pretônica em colégio, fogueira, fogão, polenta,

mostarda e outros, pronunciados com um nítido /o/ pretônico, nem em teatro,

pronunciado com um claro /e/.3 Houve também duas instâncias de pequeno sem

elevação da pretônica, entre outros exemplos. Isso parece confirmar a presença de uma

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3 A esse respeito, Klunck (2007) , ao estudar o alçamento das vogais médias pretônicas sem motivação aparente, como em ‘tomate’, verifica que a variação nesse contexto atinge mais a vogal /o/ que a /e/.

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regra de harmonia vocálica como determinante, ou uma restrição de uso da elevação,

que se aplica somente aos casos em que há presença tônica de vogal alta.

Aqui cabe uma observação. Koch et al. (2002, p. 61) registram, no ALERS, o uso

de gordura sem elevação vocálica pretônica, em falantes de Garibaldi e Caxias do Sul,

na RCI. Se a observação de formas desse tipo subsistir, circunscreve-se ainda mais o

campo da harmonia vocálica na RCI, pois essa regra de assimilação de traços se

manteria só diante da vogal tônica palatal. Mas esse seria tópico de outro estudo.

Contudo, não se registra elevação da pretônica em formas como frescura, verdura,

tontura, depura, embora se registre em costura, visivelmente pela vizinhança do /s/4.

Há outras constatações ainda, sobre fenômenos que, ao que me é dado saber

neste momento, ainda não foram contemplados por estudos específicos.

Em primeiro lugar, observa-se que, enquanto as nasais em posição tônica são

pronunciadas, por algumas pessoas, com as alterações já assinaladas acima (irmán, pon,

etc.), as nasais átonas são frequentemente desnasalizadas. Isso não se restringe à RCI,

conforme se pode ver no estudo de Battisti (2002: 183 s.), que aliás trata da redução de

ditongos. As vogais são, no português popular de muitos ítalo-descendentes,

pronunciadas na sua forma oral. Em nomes próprios, há ocorrência de Nelso, Vilso,

Milto, Carme, Airto, Gerso, assim registrados em cartório, e, é claro, muitas pronúncias

como essas para os nomes grafados na forma usual5.

Distingue-se ainda, na RCI, a pronúncia peculiar das nasais em posição de coda.

Em palavras como oitenta, quinto, vento, tempo, limpo, mas também em quilombo,

mundo, canto, campo, percebe-se na região de Porto Alegre uma pronúncia velarizada.

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4 A elevação pela consoante fricativa /s/ é registrada, entre outros, por Carneiro e Magalhães (2008). 5 Em nomes próprios, o /s/ final também é suprimido na pronúncia, e em alguns casos também é assim registrado: Oclide, Alcide, Aristide. Reflete-se, assim, outro traço da fala, embora não seja, de modo algum, restrito aos ítalo-descendentes.

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Na RCI, a consoante mantém sua pronúncia anterior, ao menos nas faixas etárias mais

experientes. Embora sejam foneticamente muito difíceis de definir as fronteiras do

complexo nasalizado, isto é, pode ser que a vogal é que sofra alterações6, a diferença na

pronúncia da RCI é marcante, para um ouvido atento. Ouso formular a hipótese de que

as nasais em coda sejam as seguintes a assumir uma pronúncia velarizada, logo após as

laterais, que já a têm atualmente. No processo, a região metropolitana está bem distinta

da RCI, que ainda não aplica a alteração nas nasais, e aplica nas laterais só em algumas

faixas da população.

Outras marcas

Frosi (1987 a) lembra que as marcas não são apenas fonéticas, constituindo o

sotaque, mas também morfossintáticas. Salienta certas expressões idiomáticas que

acusam a estrutura dialetal italiana na frase com palavras portuguesas. Assim, ocorrem

expressões como “Ela veio bonita como sua mãe” (= tornou-se bonita como a mãe dela)

ou “Eu me fiz pra cima as mangas” (= arregacei)7. Registro aqui expressões colhidas de

oitiva: “Meus pais não querem que eu ande em volta à noite” [= às voltas], (estudante,

rapaz, 1995), “Se fosse eu no lugar dele” [= estivesse, uso do verbo ser por estar],

(homem de idade, 1996), “Vem lá em casa, tu sabe onde eu moro, nem é tão longe” [uso

do verbo vir indicando a casa do falante, mesmo que este se encontre longe dela],

(mulher, meia-idade, 2009). Leonir Razador8, autor de obra pioneira sobre a história de

Monte Belo do Sul (RAZADOR, 2005), coletou a frase “A mãe está atrás das vacas”, que

não indica localização no espaço, mas ocupação, equivalente a “cuidando das vacas”.

Paviani (2004) analisa uma das marcas morfossintáticas, o uso específico do

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pronome ético me (em frases como “eu me comprei uma roupa”), com origem no

6 A respeito da nasalização vocálica, veja-se Abaurre e Pagotto (2002). 7 Os exemplos foram coletados em palestras proferidas por Frosi. 8 Relatada a esta autora em conversa particular.

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modelo latino e que constitui, segundo a autora, um desmembramento do dativo de

interesse. A autora apresenta exemplos como “Olha que tu ainda me cai daí, Me choveu

no dia do casamento, Me desce já dessa taipa!” (PAVIANI, 2004, p. 67) Em alguns casos,

a autora observa que o pronome aponta o envolvimento emocional do falante: “O nenê

não me dorme bem”, “Os guris me dormiram até tarde”, “Não me sobe na escada”, “[...]

porque se tu me cai daí...”, “Não me come uva perto dele, é!” (PAVIANI, 2004, p. 71). A

autora considera esse me enfático um traço característico do português falado na região,

inicialmente dos bilíngues, mas que hoje “passa a fazer parte da fala do monolíngue

como se fosse algo natural ao português” (PAVIANI, 2004, p. 105).

Olsen (2005) analisa sociolinguisticamente a concordância de número no

sintagma nominal, no português falado das áreas urbana e rural de Caxias do Sul. As

comunidades rurais apresentam marcas de plural mais acentuadamente que as urbanas

(cf. OLSEN, 2005, p. 192). Pode ser opção por uma forma de prestígio, segundo o autor,

pois, quanto maior o grau de escolaridade, maior a presença de regras de plural (cf.

OLSEN, 2005, p. 193); mas Olsen admite também que a ocorrência das marcas de plural

“pode estar expressando o substrato dialetal de tipo vêneto, no qual se faz a flexão de

número” (OLSEN, 2005, p. 192). Como se vê, há traços comuns ao paradigma das duas

línguas, e é difícil saber, em alguns casos, que traços se devem ao contato linguístico.

Outras marcas são observáveis.

Uma é o uso do nexo temporal apenas, muito raro em português oral, mas

recorrentemente usado na RCI, com a pronúncia pena, após ter sofrido aférese9 e

também um processo de gramaticalização: tornou-se marcador de passado recente, de

ação ocorrida há momentos. Exemplos: Eu comi pena agora, Ele pena saiu10 (‘eu comi

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faz minutos’, ‘ele saiu agorinha mesmo’).

9 A forma do italiano padrão é appena. 10 Exemplos colhidos de oitiva.

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Outra é o uso do nexo adversativo ma (‘mas’) como interjeição ou como

marcador de frase. São frequentes as exclamações ou interrogações do tipo ma sim, ma

não, ma por que, ma como, ma onde, ma quem, ma o que que tu qué, ma bah, ma!, etc.

No plano lexical, é observável a grande confusão entre os verbos trazer e levar.

No dialeto italiano há um único verbo, portar, (italiano padrão portare) com o

significado geral de ‘carregar’, sendo a direção indicada por advérbios (quà, là,

respectivamente ‘aqui’ e ‘lá’). Há gerações fica confundido o uso dos dois verbos

portugueses entre os bilíngues, outra das marcas que se tornaram emblemáticas.

Há um dado curioso. É comum, em adultos, o emprego, como interjeição, de

uma vogal anterior arredondada, igual ou semelhante à da palavra francesa peu. Essa

vogal ocorre nos dialetos lombardos do norte da Itália, tais como o milanês e o

cremonês, e é ou foi empregada pelos falantes de dialetos lombardos da RCI, tal como

recorrentemente mencionada em Frosi e Mioranza (1983). A vogal é empregada, hoje,

bem alongada, exprimindo espanto ou surpresa, antecedendo frases do dialeto italiano

ou portuguesas, ou como resposta a uma observação em qualquer das línguas.

Interessante é que quem a utiliza pode nem ter ascendência lombarda11.

É difícil saber se as formações que surgem na RCI, hoje, têm ainda algo a ver

com o substrato italiano. Por exemplo, desenvolveu-se (entre os jovens) uma resposta

formulaica ao agradecimento: uma pessoa diz obrigado/a e a outra diz magina – assim

mesmo, com aférese. A ideia subjacente é “imagina se precisa agradecer”. Há algum

elemento dialetal nesse uso?12 Quanto à aférese, o dialeto italiano tem muitos exemplos:

Mérica, talián, pena. Mas a língua portuguesa também: tá, pera, brigado/a. Talvez

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11 Essa e outras vogais alongadas têm uso comum na variedade de fala da RCI, particularmente como fala enfática ou expressiva. As vogais longas são características dos dialetos lombardos e do friulano e ocorrem sempre em posição tônica (FROSI; MIORANZA, 1984: 131-136). 12 A Professora Vitalina Frosi esclarece que o uso de Magina! ou Maginarsi! é bastante comum nos dialetos vênetos ou lombardos, e encontra correspondência também no italiano padrão, nesse caso Immagina(tu), S’immagini!(lei), ou ainda Immaginatevi! (voi) (Consulta feita por e-mail, a cuja resposta sou muito grata.). Mas tem emprego exclamativo, e não como resposta a um agradecimento.

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chegue um momento em que se torne difícil ver de qual das línguas vem a influência

para uma dada forma. O português da RCI segue seu próprio caminho.

E ainda há resquícios da língua italiana, entre os monolíngues (de português).

Trata-se de um bilinguismo residual, segundo Mackay (2004, p. 616), isto é, há

fragmentos de frases em línguas estrangeiras, usadas como marcas de identidade étnica,

Entre outros elementos de tal bilinguismo residual, podemos citar o turpilóquio.

Conforme vemos em Frosi (2008), Faggion (2009), Dal Picol (2009), Lazzaretti (2009)

e outros estudos em andamento, pessoas que não falam italiano, ou até as que provêm

de outras cidades e outras origens étnicas, identificam termos torpes em italiano, e

algumas os empregam. Há um uso bastante peculiar da blasfêmia em que esta,

substituída por eufemismos ou não, fica destituída de seus traços ofensivos. Tal

emprego é reconhecido por todos, ítalo-descendentes ou não.

Cabe mencionar ainda um uso acentuado de palavras de origem dialetal italiana,

sempre ligadas a elementos culturais específicos. Assim, ocorrem formas como bigoli

para designar um tipo específico de massa (o equivalente spaghetti é um empréstimo

recente), bem como taiadele, ravioli, capeleti e outros; mescola designa uma pá de

mexer polenta; bisca, um jogo de cartas; mora, um jogo de pontos, jogado com os

dedos, semelhante ao par-ou-ímpar. O Dicionário de Italianismos, de Battisti et alii

(2006), reúne importantes dados sobre o vocabulário da Serra Gaúcha.

Considerações finais

Uma variedade do português popular que parece ter encontrado seus próprios

caminhos, com suas marcas de sotaque, suas expressões culturais e sua mutabilidade: tal

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é o português da região de colonização italiana do Sul do Brasil.

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Persistem as marcas registradas trinta anos atrás, mas em áreas recônditas e

minguantes, em zonas rurais. Nas áreas urbanas, o multiculturalismo aponta para

situações complexas, e variáveis sociais somam-se às características étnicas e de contato

linguístico. As marcas ainda se manifestam: as vibrantes neutralizadas, a palatalização

com suas contingências, a não-elevação das médias átonas, as nasais peculiares, a

harmonia vocálica, a epêntese em /e/, uso característico de palavras e expressões.

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