o principialismo -fichamento

Upload: luana-oliveira

Post on 08-Apr-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/6/2019 O Principialismo -fichamento

    1/10

    FAMEC- Faculdade Metropolitana de Camaari

    Curso: Direito

    Projeto de Iniciao a Pesquisa Cientifica

    Orientador: Prof. Marcelo pinto

    Discente: Clia Virgnia Borges

    Atividade: Fichamento

    O Principialismo

    Introduo

    A formulao j clssica desse modelo terico encontra-se na obra de Tom L.

    Beuchamp e James F. Childress, PrinciplesofBiomedicalEthics. (p.19)

    Beauchamp e Childress formulam quatro princpios gerais fundamentais para orientar

    moralmente as decises dos pesquisadores e dos clnicos no mbito da biomedicina.

    Esses princpios so: 1)respeito pela autonomia, 2)beneficncia, 3) no-maledicncia e

    4) justia. (p.119)

    [...] como destaca o prprio Childress num seu artigo, os autores de

    PrinciplesofBiomedicalEthics no so os nicos representantes de uma abordagem

    principialista da tica. (p.120)

    Para que uma proposta merea o nome de principialista basta que conceda s normas

    morais gerais aos princpios um lugar central na reflexo biotica, sem que seja

    necessrio negar os outros elementos da vida moral que ocupam lugar de honra em

    outros enfoques da tica-biomdica, tais como a anlise de casos ou virtudes. (p.120)

    Em sentido restrito, os princpios so as normas morais mais amplas e gerais, que so,

    por sua vez, a fonte e fundamento de outras normas mais especficas. (p.120)

    I. Pano de Fundo Histrico

  • 8/6/2019 O Principialismo -fichamento

    2/10

    Como sabemos, em 1974, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a lei conhecida

    como NationalResearchAct, que criava uma comisso encarregada de estudar as

    questes ticas relativas pesquisa cientfica nos campos da biomedicina e das cincias

    do comportamento. (p.122)

    Segundo o Relatrio Belmont, o princpio de respeito s pessoas apoia-se em duas

    convices morais fundamentais: 1) deve-se tratar as pessoas como agentes autnomos

    e 2) deve-se tutelar os direitos das pessoas cuja autonomia est diminuda

    (comprometida). (p.122)

    II. O Contedo dos Princpios

    1. O princpio de respeito da autonomia[...] no h dvida de que o respeito pela autonomia exerce um papel central emseu sistema, como em toda a biotica contempornea, que filha ou talvez, neta-

    da modernidade. (p.123)

    a. O conceito de autonomia

    A autonomia pessoal refere-se capacidade que tm as pessoas para se

    autodeterminar, livres tanto de influncias externas que as controlem, como de

    limitaes pessoais que as impeam de fazer uma genuna opo. (p.123)

    Praticamente, todas as teorias sobre a autonomia admitem que existem duas

    condies essenciais para que as aes de uma pessoa sejam autnomas: 1)

    liberdade externa, ou seja, o agente deve estar livre de influncias externas que o

    controlem; 2) agncia (ou liberdade interna), ou seja, o sujeito deve ter a capacidade

    para agir intencionalmente. (p. 124)

    b. Pessoas autnomas e aes autnomas

    Beauchamp e Childress se interessam em determinar os traos caractersticos nodas pessoas autnomas, mas das aes autnomas. (p.124)

    Uma ao autnoma se o agente moral age: 1) intencionalmente, 2)com

    compreenso e 3) sem influncias externas que determinem ou controlem sua ao.

    (p.124)

  • 8/6/2019 O Principialismo -fichamento

    3/10

    c. O princpio de respeito pela autonomia: seu contedo normativo

    Ser autnomo no o mesmo que ser respeitado como um sujeito autnomo. (p.

    125)

    O respeito pela autonomia exige, pelo menos, que se reconhea o direito do sujeitomoral (ou seja, da pessoa que capaz de decidir autonomamente): 1) de ter seus

    prprios pontos de vista, 2) fazer suas prprias aes e 3) de agir em conformidade

    com seus valores e crenas pessoais. [...] Por isso, Beauchamp e Childress destacam

    que o respeito pela autonomia alheia exige aes e no s atitudes.

    O princpio de respeito pela autonomia pode ser formulado de maneira positiva e

    negativa. Em sua formulao positiva, o princpio exige, no contedo biomdico, se

    d um tratamentorespeitoso s pessoas de informaes na comunicao e que

    tambm favoream suas decises autnomas. Em alguns casos, pode nos obrigar a

    incrementar o nmero de alternativas acessveis a uma pessoa. Esse princpio obriga

    os profissionais de sade e os pesquisadores biomdicos a revelar a informao

    oportuna, promover uma adequada tomada de decises, assegurando-se de que os

    pacientes ou sujeitos de experimentao tm uma compreenso adequada e agem de

    maneira voluntria (p.126)

    Se for expresso negativamente, o principio de respeito pela autonomia exige que as

    aes autnomas das pessoas no sejam submetidas por outras pessoas a controles

    externos que as limitem ou as impeam. (p.126)

    d. Pessoa autnoma diminuda

    Quando as pessoas tm autonomia diminuda e no possvel conseguir que

    cheguem a decidir de modo autnomo, ento, e somente ento, podem-se justificar

    as intervenes de ndole paternalista. (p.127)

    2.

    O Princpio de no-maleficncia

    O principio de no-maleficncia afirma, essencialmente, a obrigao de no causar

    dano intencionalmente. [...] Na verdade, Diego Gracia sustenta que o princpio da

    no-maleficncia o fundamento da tica mdica. [...] provavelmente a no-

    maleficncia seja o principio bsico de todo sistema moral. (p.128)

  • 8/6/2019 O Principialismo -fichamento

    4/10

    a. A distino entre a beneficncia e a no-maleficnciaEmbora no exista no paradigma principialista de Beauchamp e Childress uma

    ordem lexicogrfica entre os princpios, em muitos casos nem sempre, insistem os

    autores- as obrigaes de no-maleficncia obrigam com mais fora as de

    beneficncia. (p.129)

    Nossos autores insistem que essa precedncia no universal. [...] Em todo caso,

    Beauchamp e Childress sustentam que se pode afirmar que na maior parte dos casos

    as obrigaes de no-maleficncia vinculam com maior fora que as obrigaes de

    beneficncia. (p.129)

    Para precisar o princpio de no-maleficncia em relao ao principio de

    beneficncia, Beauchamp e Childress recorrem a Frankena, que, como j se disse,

    une as obrigaes de no- maleficncia e de beneficncia num s princpio, que

    contm quatro obrigaes gerais: 1) No se deve fazer mal ou causar dano. 2) Deve-

    se prevenir o mal ou dano. 3) Deve-se eliminar o mal ou dano. 4) Deve-se fazer ou

    promover o bem. (p. 130)

    b. O conceito de danoUma ao pode ter efeitos adversos sobre outra pessoa sem que o sujeito moral a

    tenha ofendido ou a tenha tratado injustamente. [...] Para que haja ofensa moral

    preciso que o dano tenha sido intencional e injusto: a ofensa envolve a violao dos

    direitos alheio, ao passo que o dano no envolve necessariamente violao

    semelhante. (p. 131)

    Danificar significa, no uso que eles do ao termo, frustrar ou prejudicar os

    interesses de algum, sem que constitua necessariamente uma ofensa ou injustia ao

    prejudicado. (p. 131)

    c.

    Algumas normas morais que se apoiam no principio da no-maleficncia

    Embora essas normas sejam numerosas, os autores enumeram cinco delas como

    exemplos tpicos das normas derivadas desse princpio geral: 1) no matar; 2) no

    causar dor ou sofrimento; 3) no causar incapacidade; 4) no ofender; 5) no privar

    outras pessoas dos bens da vida. (p. 132)

  • 8/6/2019 O Principialismo -fichamento

    5/10

    3. O princpio da beneficnciaA beneficncia exige que faamos atos positivos para promover o bem e a

    realizao dos demais. (p. 132)

    a. O conceito de beneficnciaOs autores classificam como beneficncia qualquer ao humana levada a cabo

    para beneficiar a outra pessoa. (p. 132-133)

    b. Beneficncia obrigatria e beneficncia ideal[...] muitos autores sustentam que a beneficncia um ideal moral. Isso significa

    que os agentes morais so dignos de louvor quando agem de modo beneficente, masno incorrem em deficincia moral quando no o fazem. (p.133)

    Algumas normas ou regras de beneficncia obrigatria so, em sua opinio: 1.

    Proteger e defender os direitos alheios; 2. Prevenir os danos que poderiam afetar

    terceiros; 3. |Eliminar as condies ou situaes que pudessem prejudicar a outros;

    4. Ajudar as pessoas com incapacidades ou deficincias; 5. Resgatar as pessoas que

    esto em perigo. (p. 134)

    c. A beneficncia geral e a beneficncia especficaA beneficncia especfica obriga-nos a agir de modo beneficente com as pessoas

    com quem nos ligamos por relaes especiais, como cnjuge, filhos, amigos,

    pacientes etc. A beneficncia geral obriga-nos a agir de modo beneficente para alm

    das relaes especiais, com todas as pessoas. (p. 135)

    Quando no existem relaes particulares (contratos, deveres profissionais,

    amizade, relaes familiares [...]), uma pessoa (X) est obrigada a agir de modo

    diferente em favor de outra (Y) somente se se satisfazem as seguintes condies:

    1. Y corre um risco significativo de perda ou dano que afetaria sua vida, sua sadeou qualquer outro interesse seu que seja fundamental e importante.

    2. A ao de X (s ou em unio com outros) necessria para prevenir a perda oudano de Y.

  • 8/6/2019 O Principialismo -fichamento

    6/10

    3. Existe uma grande probabilidade de que a ao de X tenha xito, ou seja, queconsiga prevenir eficazmente o dano ou perda que ameaa Y. (p. 135)

    d. Beneficncia e no-maleficncia: suas diferenasAs normas morais baseadas no principio de no-maleficncia: 1) so proibies

    negativas; 2) devem ser obedecidas imparcialmente; 3) do ou podem dar margem

    para estabelecer proibies sancionadas pela lei. Pelo contrrio, as obrigaes de

    beneficncia: 1) impem aes positivas; 2) nem sempre exigem uma obedincia

    imparcial; 3) em poucas ocasies do margem para o estabelecimento de obrigaes

    sancionadas por lei. (p. 136)

    e. Problemas ticos em torno do principio de beneficncia: o paternalismoAge-se de maneira paternalista quando se ultrapassam as preferncias e decises de

    uma pessoa cuja autonomia foi violada. (p. 138)

    4. O princpio de justiaNo mbito biomdico, a dimenso ou espcie da justia que nos interessa

    mais a justia distributiva, que se refere, em sentido amplo, distribuio

    equitativa dos direitos, benefcios e responsabilidades ou encargos na sociedade.

    (p. 138)

    a. O critrio formal da justia distributiva[...] o assim chamado princpio da justia (ou de igualdade) formal,

    tradicionalmente atribudo a Aristteles: casos iguais ser tratados igualmente e casos

    desiguais devem ser tratado desigualmente. um princpio formal porque carece de

    contedos concretos. (p. 139)

    b. Critrios materiais de justia

    Alguns princpios materiais de justia distributiva que se encontram na literaturatica so os seguintes: 1. A cada pessoa uma poro igual; 2. A cada pessoa segundo

    suas necessidades; 3. A cada pessoa segundo seus esforos; 4. A cada pessoa

    segundo sua contribuio; 5. A cada pessoa segundo seu mrito; 6. A cada pessoa

    segundo regras de intercmbio num mercado livre. (p.139-140)

    III. O Raciocnio Moral Principialista

  • 8/6/2019 O Principialismo -fichamento

    7/10

    1. EspecificaoBeauchamp e Childress definem especificao da seguinte maneira:Especificao

    o processo pelo qual reduzimos a indeterminao das normas abstratas e as

    dotamos de contedos aptos para guiar aes concretas. (p. 142)

    A especificao , no fundo, um processo de depurao para desenvolver o

    significado e alcance dos princpios e normas morais gerais, em coerncia com os

    valores e as normas morais aceitas pelo sujeito e/ou por sua comunidade. (p. 143)

    2. Os princpios postos na balana[...] Quais so os critrios para decidir qual o valor ou norma preponderante na

    situao concreta? O critrio aqui de ndole consequencialista. Em caso de conflito

    entre os princpios e normas que nos vinculam,prima facie, o sujeito moral deveoptar pela alternativa que maximiza o bem na situao. (p. 145)

    IV. A Excelncia Moral

    1. Os nveis da vida moralA vida moral tem pelo menos dois nveis: o nvel ordinrio e o nvel extraordinrio.

    O nvel ordinrio o da moral de mnimos ou o nvel da estrita obrigao moral. [...]

    O nvel extraordinrio , pelo contrrio, o nvel da aspirao ou dos ideais morais.

    (p.147)

    2. As aes supererrogatriasSupererrogao significa, literalmente, pagar ou dar mais do que se deve: fazer

    mais do que o exigido, que o obrigatrio. Segundo Beauchamo e Childress, para que

    um ato seja supererrogatrio, devem dar-se quatro condies: (p.148)

    1. A ao que se realiza opcional. No nem mandada nem proibida pelasnormas morais.

    2. Vai alm do que mandado ou prescrito pela moralidade comum.3. O sujeito moral realiza a ao intencionalmente para beneficiar os demais.4. A ao boa e digna de louvor em si mesma, para alm da boa inteno do

    sujeito moral.

  • 8/6/2019 O Principialismo -fichamento

    8/10

    3. Da obrigao supererrogao: uma progresso contnuaOs autores apresentam essa progresso como uma escala com quatro nveis:

    obrigao estrita, obrigao fraca, super-rogao fraca e super-rogao estrita.(p.

    149)

    4. Importncia da excelncia moral[...] o sujeito moral no tem que se contentar com os mnimos morais, deve aspirar

    a nveis superiores de excelncia. [...] O reconhecimento do nvel de excelncia na

    vida moral amplia nossa perspectiva e enriquece a compreenso da vida moral. (p.

    150)

    V. Teleologismo ou Deontologismo? Uma Avaliao Crtica do Principialismo

    de Beauchamp e Childress

    1. Sobre os princpios e o Principialismo

    Em nosso ponto de vista, seu mrito consiste em captar e enunciar os pilares

    constitutivos da moral, sua estrutura essencial. (p. 151)

    preciso acrescentar a seguir que nem os autores de Prince ofBiomedicalEthics

    nem os redatores doRelatrio Belmontinventaram esses princpios. O que fizeram

    foi resumir numa proposta coerente os princpios reconhecidos e formulados dedes a

    Antiguidade pela tradio da filosofia moral ocidental e tambm pela teologia moral

    crist. (p. 151 )

    2. Teleologismo ou deontologismo

    [...] um deontologismo moderado ou uma mescla de deontologismo e utilitarismo -

    (definio clssica de C. D. Broad)- [...] o paradigma que nos propem Beauchamp e

    Childress claramente teleolgico. (p. 152-153)

    3. Os princpios tm o mesmo nvel ou so de nveis diferentes?Beauchamp e Childress no admitem que exista uma ordem lexicogrfica entre os

    princpios: todos eles so do mesmo nvel prima facie. [...] tanto Ross com, de

  • 8/6/2019 O Principialismo -fichamento

    9/10

  • 8/6/2019 O Principialismo -fichamento

    10/10