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Políticas Públicas & Cidades, vol. 5 (2), dezembro 2017. ISSN: 2359-1552 81 Artigo O processo de urbanização na Amazônia e suas peculiaridades: uma análise do delta do rio amazonas Sandra Maria Fonseca da Costa 1A, D, E, F Programa de pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional, Universidade do Vale do Paraíba (UVP), São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] Nilton Carlos Rosa 2C Programa de pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional, Universidade do Vale do Paraíba (UVP), São Paulo, SP, Brasil. Resumo O intenso processo de urbanização, verificado, nas últimas três décadas, na Amazônia, proporcionou a emergência das cidades como importante elemento dentro do espaço regional. Muitas cidades são habitantes, possuem fraca ou nenhuma infraestrutura. Uma parte significativa dessa urbanização tem ocorrido no ambiente do Delta do Rio Amazonas. Assim, esse artigo tem como objetivo apresentar uma análise espaço-temporal do crescimento urbano e suas mudanças no Delta do Rio Amazonas, seu surgimento, o crescimento urbano recente e as consequências em termos de acesso à serviços de infraestrutura e o comprometimento da Região, na perspectiva socioambiental. Foram utilizados dados do Censo de 2010 e imagens de satélite para mapear o crescimento urbano. Nossos resultados indicam que a infraestrutura urbana regional continua sendo, na melhor das hipóteses, deficiente, tendo piorado, em muitas cidades. No entanto, essas cidades ainda oferecem uma perspectiva atraente para muitos moradores pois as famílias ribeirinhas e as das pequenas cidades se beneficiam econômica e socialmente das conexões urbanas existentes para acessar saúde, educação e emprego informal, que são ainda mais precários nas comunidades ribeirinhas. Palavras-chaves: Delta do rio amazonas. Pequenas cidades na A. Fundamentação teórico-conceitual e problematização; B. pesquisa de dados e análise estatística; C. elaboração de figuras, tabelas e mapas; D. fotos; E. elaboração e redação do texto; F. seleção das referências bibliográficas. COSTA, S. M. F.; ROSA, N. C. O processo de urbanização na Amazônia e suas peculiaridades: uma análise do delta do rio amazonas. Revista Políticas Públicas & Cidades, v.5, n.2, p.81 – 105, ago./dez. 2017. Recebido: 14/04/2017 Nova submissão: 01/09/2017 Aceito: 20/12/2017

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Políticas Públicas & Cidades, vol. 5 (2), dezembro 2017. ISSN: 2359-1552

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Artigo

O processo de urbanização na Amazônia e suas peculiaridades: uma análise do delta do rio amazonas

Sandra Maria Fonseca da Costa 1A, D, E, F

Programa de pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional, Universidade do Vale do Paraíba (UVP), São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] Nilton Carlos Rosa 2C Programa de pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional, Universidade do Vale do Paraíba (UVP), São Paulo, SP, Brasil.

Resumo

O intenso processo de urbanização, verificado, nas últimas três

décadas, na Amazônia, proporcionou a emergência das cidades como importante elemento dentro do espaço regional. Muitas cidades são

habitantes, possuem fraca ou nenhuma infraestrutura. Uma parte significativa dessa urbanização tem ocorrido no ambiente do Delta do

Rio Amazonas. Assim, esse artigo tem como objetivo apresentar uma análise espaço-temporal do crescimento urbano e suas mudanças no Delta do Rio Amazonas, seu surgimento, o crescimento urbano recente e as consequências em termos de acesso à serviços de infraestrutura e o comprometimento da Região, na perspectiva

socioambiental. Foram utilizados dados do Censo de 2010 e imagens de satélite para mapear o crescimento urbano. Nossos resultados indicam que a infraestrutura urbana regional continua sendo, na melhor das hipóteses, deficiente, tendo piorado, em muitas cidades. No entanto, essas cidades ainda oferecem uma perspectiva atraente

para muitos moradores pois as famílias ribeirinhas e as das pequenas cidades se beneficiam econômica e socialmente das conexões urbanas existentes para acessar saúde, educação e emprego informal, que são ainda mais precários nas comunidades ribeirinhas.

Palavras-chaves: Delta do rio amazonas. Pequenas cidades na

A. Fundamentação teórico-conceitual e problematização; B. pesquisa de dados e análise estatística; C.

elaboração de figuras, tabelas e mapas; D. fotos; E. elaboração e redação do texto; F. seleção das referências bibliográficas.

COSTA, S. M. F.; ROSA, N. C.

O processo de urbanização na

Amazônia e suas

peculiaridades: uma análise do

delta do rio amazonas. Revista

Políticas Públicas & Cidades,

v.5, n.2, p.81 – 105, ago./dez.

2017.

Recebido: 14/04/2017

Nova submissão: 01/09/2017

Aceito: 20/12/2017

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Amazônia. Infraestrutura e serviços na Amazônia.

Introdução

A Região Amazônica representa o maior cenário nacional no qual se processaram, e se

processam, mudanças que são resultantes da forma como esse espaço foi apropriado pelo

capital por meio das estratégias estabelecidas pelo Estado e traduzidas nas políticas de

integração do território (MIRANDA, 1987, p. 108). Essa Região tem como característica não

ser um espaço plenamente estruturado e é uma região estratégica, por excelência, para o

Estado, o qual, ao mesmo tempo que quer sua rápida estruturação e controle para integrá-lo

ao espaço global, manipula a preservação de imagem do espaço alternativo (BECKER e

EGLER, 1994). Assim, a Amazônia não se constitui um conjunto espacialmente homogêneo.

Como tal, a Amazônia brasileira foi caracterizada como uma floresta urbanizada a partir

de 1980, quando o número de população urbana ultrapassou a população rural (Becker,

1985) e, apesar de ainda ser considerada uma "fronteira agrícola", pesquisadores enfatizam

que as cidades continuam crescendo muito rapidamente (Becker, 2005, Correa, 1987,

Sawyer, 1987 e 1997, Browder e Godfrey, 1990 e 1997, Browder, 2002, Machado, 1994,

Trindade Jr, 2010, Oliveira, 2000, SCHOR et al., 2014, SCHOR et al., 2016). Segundo Costa e

Brondizio (2011), a intensidade do processo de urbanização na Amazônia, no entanto, não

foi acompanhada por investimentos proporcionais em infraestrutura urbana. Como

resultado, as cidades amazônicas são deficientes em termos de infraestrutura e serviços,

bem como de emprego.

Diferentes autores discutiram o processo de urbanização da Amazônia, considerando-o

intenso, após 1970 (Becker, 1985 e 2005, Martine e Turchi, 1988, Sawyer, 1987, Browder e

Godfrey, 1990, 1996 e 1997, Machado, 1999, 2001, Vicentini, 2006, Trindade Jr., 2013). Todos

esses autores, de alguma forma, explicam que o processo de ocupação da Amazônia tinha a

urbanização como estratégica deliberada para estimular o desenvolvimento regional do

país.

De acordo com Castro (2006, p.

poder, de ocupação do espaço e de apropriação de seus recursos e, por isso, lócus de tensão,

. Para

essa autora, a cidade na Amazônia se tornou referência no que diz respeito à incorporação

de novas áreas ao mercado, assim como de desflorestamento, mudanças na estrutura

fundiária e no uso da terra.

Considerando esse aspecto, podemos afirmar que, em função do intenso processo de

urbanização, principalmente, verificado ao longo das últimas três décadas, na Amazônia,

houve a emergência das cidades como importante elemento dentro do espaço regional.

Predominantemente, estas cidades são pequenos aglomerados urbanos , com menos de

vinte mil habitantes, que se emanciparam recentemente ou foram fundadas há muitos anos,

-estrutura, têm como base econômica o repasse de

recursos públicos e, embora apresentem a estrutura de cidade, carecem de atividades

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econômicas caracterizadas como Oliveira, 2006). A complexidade dos espaços

urbanos na Amazônia torna o estudo de seu processo de urbanização uma fonte de novos

modelos conceituais e modelos que permitem compreender outras regiões do mundo.

A realidade urbana da Amazônia permanece peculiar e muitos problemas urbanos, que

necessitam solução emergencial, permanecem sem tratamento, incluindo infraestrutura

deficiente, carência de serviços sociais e médicos, rápido crescimento das cidades e

poluição (Browder e Godfrey, 1997, p.3).

Apesar desses problemas, essas cidades sempre foram consideradas um "Eldorado" para

muitos imigrantes, uma proteção contra a falta de terra, ou de uma política de acesso à

terra, e um apoio para que as famílias acessem serviços urbanos e expectativas de emprego,

que não existem ou são mais precários nas áreas rurais (Padoch et al. 2008). Ao longo de

seus diferentes períodos econômicos, essas cidades receberam ondas de migrantes atraídos

por um setor terciário em desenvolvimento, ou muito fraco, e, em muitos casos,

predominantemente, pelas oportunidades de trabalho em instituições públicas (Sawyer e

Carvalho, 1986). Uma parte significativa dessa urbanização tem ocorrido no ambiente do

Delta do Rio Amazonas. É na várzea do Delta que se localizam muitas das cidades mais

antigas da Região Amazônica, algumas com mais de 400 anos.

Em 2010, a Região do Delta3 do Rio Amazonas continha, aproximadamente, 16,5% da

população total e 18% da população urbana da Amazônia legal (IBGE, 2015), e ocupa uma

área de 160.662 km2, o que representa 3% da área total da Amazônia Legal (IBGE, 2017).

Enquanto outras áreas da Amazônia brasileira sofreram mudanças ambientais significativas

durante as últimas três décadas, a região do Delta tem apresentado níveis relativamente

menores de degradação ambiental. A maioria das áreas urbanas da região carece de

saneamento básico e de outras infraestruturas e serviços públicos que, juntamente com

altas taxas de pobreza, criam condições de vulnerabilidade social para um segmento

significativo da população (MANSUR et al., 2016). Por outro lado, os agricultores ribeirinhos

da região estão relatando mudanças nos padrões de inundação aos quais os sistemas

agroflorestais em expansão são mais resistentes do que os usos anteriores predominantes

nas planícies aluviais do Delta (VOGT et al., 2016). A riqueza ambiental dessa área também

torna esse ambiente exposto às mudanças ambientais globais. As cidades localizadas nessa

região, em função de suas características, também contribuem com sua degradação.

Nesse sentido, esse artigo tem como objetivo apresentar uma análise espaço-temporal do

crescimento urbano e suas mudanças espaciais das cinquenta cidades do Delta do Rio

Amazonas (BRONDIZIO e HETRICK, 2014), assim como avaliar as condições do crescimento

urbano dessas cidades, em relação à infraestrutura, aos serviços urbanos disponíveis. Uma

3 BRONDIZIO e HETRICK (2014) definiram 50 municípios, que se localizam em um raio de até 5 km do Rio

Amazonas, como área de influência direta do Delta. Essa classificação é a utilizada pelo Projeto DELTAS,

financiado pelo Belmont Forum.

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avaliação mais detalhada foi realizada enfocando as cidades com menos de 50 mil

habitantes, consideradas, nesse estudo, Pequenas Cidades.

Apesar desse artigo apresentar dados censitários, obtidos em 2010, as análises apresentadas

fazem uma conexão entre os dados espaciais, obtidos por meio do mapeamento das áreas

urbanas, disponivel nas imagens de satélite, e os dados secundários. Assim, a novidade

nesse artigo é trazer uma discussão não apenas sobre a intensidade do processo de

urbanização no Delta do rio Amazonas, as deficiências em investimentos públicos em

infraestrutura urbana, que são mais precários nas pequenas cidades, mas entrelaçar os

dados espaciais com essas informações.

Metodologia

Essa pesquisa se caracteriza como exploratória, de abordagem qualitativa e quantitativa, e

foi desenvolvida a partir da consulta a dados multifontes e multi bibliográficos, que

permitiram compreendar o crescimento urbano de cinquenta cidades do Delta do Rio

Amazonas e as relações o acesso da população à infraestrutura básica.

As análises apresentadas nesse estudo baseiam-se, predominantemente, em dados

secundários, obtidos no IBGE (2015), sobre as cidades do Delta do Rio Amazonas, tais como

Dados Censitários, sobre número de habitantes nas cidades, número de domicílios com

acesso à infraestrutura básica, assim como dados da Relação Anual de Informações Sociais -

RAIS (2016). Esses dados foram tabulados e mapeados, para facilitar compreensão do

contexto urbano nessa área da Amazônia.

Foram coletados dados históricos, sobre a fundação das cidades do Delta, disponibilizados

nos Annaes da Bibliotheca e Archivo Publico do Pará, publicado pelo Instituto Lauro Sodré

(ESTADO DO PARÁ, 1916). Esses dados nos possibilitaram compreender não apenas o

processo de fundação das cidades mas as carcterísticas desse processo.

Para compreender o processo de crescimento urbano, além de utilizarmos os dados

populacionais do Censo de 2010 (IBGE, 2015), também foram utilizadas imagens de satélite,

obtidas em 1984 e 2010, para possiblitar o mapeamento da área urbana dessas cidades e

quantificar o crescimento ao longo de 26 anos. Esse mapeamento foi realizado utilizando-se

imagens do satélite Landsat 5, obtidas em 2000, e imagens Quick Bird, disponíveis no Google

Earth, obtidas entre 2009 e 2011.

O contexto do delta do rio amazonas

Os Deltas, em função de suas características socioambientais, podem ser transformados de

hot spot de mudança e de vulnerabilidade, em canteiros de sustentabilidade e resiliência

(ROMERO-LANKAO apud DELTAS, 2014). O Delta do Rio Amazonas, foz do maior rio do

mundo que lança a maior carga total de sedimentos em sua foz, se localiza na Região Norte

do Brasil e inclui amplas zonas estuarinas úmidas.

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Segundo o Projeto DELTAS (2014), o Delta do Rio Amazonas é muitas vezes classificado

como possuindo "baixo risco" ambiental por causa de seu represamento limitado e baixa

extração de água / óleo. No entanto, o desmatamento na Região prossegue em um ritmo

acelerado, assim como o crescimento populacional, urbano, econômico e de infraestrutura

na Amazônia. Além disso, a construção projetada de barragens, portos e aquedutos, em

curso, como parte das políticas de desenvolvimento de integração regional irá impactar a

água e fluxo de sedimentos de grandes afluentes, como os rios Madeira e Xingu, para o Delta

(DELTAS, 2014). Na figura 1, pode-se observar a localização do delta do Rio Amazonas. O

Delta é uma das áreas mais antigas do Brasil, em termos de ocupação. Cidades foram

fundadas na Região, iniciando-se esse processo no século XVII.

As cidades de Deltas experimentaram mudanças socio-espaciais intensas, nas últimas

quatro décadas, em função da concentração rápida de população e de atividades

econômicas nas áreas urbanas. Este processo tem causado muitos problemas urbanos

sérios, tais como falta de habitação, questões ambientais, precariedade de serviços urbanos.

No Delta, assim como em qualquer outro lugar no mundo, as cidades são o foco da pobreza,

mas também representam a melhor esperança para escapar dessa condição.

O processo de urbanização no delta: tempo passado e contemporaneidade

A urbanização pode estar associada a detalhes de terrenos, transportes, uso da terra,

estrutura social e produção econômica, mas é, freqüentemente, relacionada à demografia e

à economia. De acordo com Li, Sato, & Zhu (2003), a demanda por espaço pelos seres

humanos é a força original para a expansão urbana. No entanto, a expansão urbana não

pode acontecer sem apoio econômico. O alto crescimento econômico também pode

promover as demandas por crescimento urbano (Li, Sato, & Zhu, 2003, p.67).

Durante o século XX, a população do mundo cresceu mais rapidamente do que nunca na

história humana, passando de 1,65 bilhões, em 1900, para 6,06 bilhões em 2000 (Zlotnik,

urbanização da sociedade e a urbanização do território, depois de um longo período de

começou nos países mais desenvolvidos, onde o processo de industrialização causou a

concentração da população nos centros urbanos, como ocorreu no Brasil.

Reis Filho (1968) explica que a política de colonização e o processo de urbanização

brasileiros são expressos por uma ordem, possivelmente elaborada em teoria mas, na

realidade, necessariamente coloca-se em prática uma política de urbanização. Esta

urbanização adquiriu um sentido regional e, obviamente, um nacional. Nesse sentido,

podemos afirmar que a polícia de conquista do território brasileiro é uma polícia

urbanizadora e, como resultado, uma rede urbana foi construída, apesar de fragmentada,

como é o caso da rede urbana da Amazônia.

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Figura 1 Localização do Delta do Rio amazonas. Fonte: elaborado pelos autores (2016).

Correa (1987) afirma que a rede urbana amazônica deve ser analisada e compreendida

considerando-se a inserção da região em um contexto externo, seja internacional, nacional ou abrangendo ambos, além de considerar a existência, conflitante ou não, da cristalização do urbano resultante da internalização destas diferentes inserções. Há periodização da

formação da rede urbana, e cada momento está associado a uma rede urbana específica que reflete esse momento histórico, que o torna vivo, com um sentido.

Segundo Correa (1987), na região amazônica, a diferenciação do espaço-tempo é notável no

contexto da rede urbana. Por esse motivo, pode-se falar de setores "antigos", que têm um longo espaço-tempo e "novos" setores, exemplificados com as cidades e embriões urbanos que emergiram sobre os grandes eixos de estradas que fragmentaram a Região.

Assim, a formação urbana do Delta do Rio Amazonas deve ser analisada porque faz parte

dessa estrutura dinâmica - a rede urbana, que deve ser entendida, uma vez que é necessário compreendê-la como um todo (REIS FILHO, 1968), para perceber as pecualiaridades desse urbano.

Em relação ao Delta, depois do século XVI, na época em que Portugal estava interessado em

conquistar o território da colônia brasileira, uma rede urbana começava a ser construída, especialmente na Região Amazônica. Esta área estava estrategicamente localizada em termos de ocupação e precisava ser protegida, para garantir o território da Colônia também

salvo de possíveis ataques de outras Nações.

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A expansão de Portugal, durante a expansão marítima (séculos XVI e XVII), levou o País a

construir centros fortes e implantá-los ao longo da costa da África e do Leste, especialmente durante o século XVI. A política de conquista do território, além de comércio, foi aplicada

principalmente no Brasil, onde a Metrópole estabeleceu novos centros urbanos, desde o século XVI, ao longo da costa, e um sistema de fortificação que se desenvolveu,

especialmente, a partir do século XVII, correspondendo o século XVIII como um Período de delimitação do território interior (VALLA, 2015). Nas colónias da América portuguesa, o conceito de cidade estava ligado à estratégia de dominação territorial, segundo a qual a

cidade era considerada um lugar de apoio logístico, com ênfase na apropriação e expropriação da riqueza, mesmo nos séculos XVII e XVIII (VICENTINI, 2006, p. 62).

De acordo com Valla (2015), 37 povoados e cidades foram fundados no Brasil, entre 1532 e 1650, sete deles por Portugal. A urbanização da Amazônia ocorreu a partir da segunda

metade do século XVII, como uma afirmação e conquista essenciais desse território. O assentamento, a marcação e a defesa da linha de fronteira do território da colônia foram

definidos pela implantação de aldeias, cidades e fortalezas também posicionadas ao longo do rio, e esse elemento serviu como meio de comunicação e definiu, naturalmente,

fronteiras e rotas em toda a Região (VALLA, 2015, p. 11). A primeira cidade fundada na Amazônia Brasileira (AMB), localizada no interior do Delta do rio Amazonas, foi Belém, criada em 1616, como fortificação para garantir a posse portuguesa e proteger a entrada do

Rio Amazonas de qualquer tentativa de ataque. Muitas outras cidades desta Região foram criadas para proteger as possessões portuguesas, como Santarém, criada em 1661, Manaus

em 1669, Tabatinga em 1730 e Macapá em 1738 (CNM, 2007). No Delta entram-se cidades muito antigas e que tiveram um papel importante no processo de ocupação da Região

Amazônica.

Na Figura 2, é possível visualizar o período de fundação das cidades Delta. De acordo com

dados históricos (ESTADO DO PARÁ, 1916), a maioria destas cidades foram criadas até o início do século XX (78%). Na realidade, 88% das cidades foram fundadas antes do governo

militar, em 1964, prolífico período de políticas de integração do território brasileiro.

É importante notar que 66% das cidades do Delta foram criadas durante o período colonial e

imperial do Brasil, até 1889. Como resultado do Iluminismo e da lógica de ocupação espacial trazida pelo colonizador do exterior, a cidade barroca colonial da Amazônia foi instalada,

seguindo um desenho urbano originado do controle de estados absolutistas (VICENTINI, 2006). Esse processo se verificou também no Delta.

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Figura 2 Fundação das Cidades do Delta. Fonte: elaborado pela autora (2016).

Uma rede urbana do Delta começou a mostrar sinais de organização depois do século XVIII,

com políticas econômicas, sociais e administrativas definidas pelo Marques de Pombal, privilegiando cidades como Belém (VALLA, 2015, p.11). Segundo Valla (2015), a política

encorajada e aplicada pelo governador Francisco Xavier Mendonça Furtado, irmão do Marques, nessa região tentou atender à filosofia iluminista dominada pela "razão" e

defendida por Pombal. Ambos os irmãos pretendiam criar uma imagem do progresso civilizacional em que o homem confrontou a natureza e criou novas regras para a nova sociedade.

Seguindo as políticas do Marquês de Pombal, as aldeias que foram institucionalizadas

mudaram administrativamente os seus nomes originais para toponímias referenciando as aldeias e vilas portuguesas como uma forma de asserção política, como afirmou Valla (2015, p.17). No Delta, 64% das cidades fundadas antes de 1800, mudaram seus nomes para de

cidades portuguesas, como Barcarena, Porto de Moz, Salvaterra, Oeiras do Pará, entre outras.

Na Figura 3, é possível visualizar que as primeiras cidades fundadas no Delta e a formação de uma proto-rede urban. As primeiras cidades se localizaram no canal sul do Estuário do

Rio Amazonas, tais como as cidades de Belém, Gurupá, Cametá, Vigia e Salvaterra. Entre 1700 e 1800, foram criadas nove cidades no Delta, no canal norte do estuário, sendo que

Ponta de Pedras, Barcarena, Santana e Oeiras do Pará são algumas das cidades criadas durante este período. Observa-se, na figura 3, que se intensifica o surgimento de ciades nas

proximidades de Belém e ao longo do canal sul, em função do fluxo comercial, que era intenso nessa rota, além de Belém ser a cidade core da Região, naquele momento.

Durante o período Pombalino, Segundo Aroldo de Azevedo, foram criadas 118 aldeias no Brasil, ao longo do século XVIII e 57 assentamentos foram elevados à categoria de aldeias

(AZEVEDO, 1956). No Delta do Rio Amazonas, dezoito cidades, 36% do total atual de cidades, foram fundadas nesse período ou aldeias foram erigidas a cidades.

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Durante o século XIX, foram fundadas 25 cidades, 50% das cidades existentes, atualmente,

no Delta, a maioria, ainda, ao longo do canal sul. Uma explicação é o boom da borracha porque esta foi a maneira mais fácil de descarregar a produção, criando entrepostos para

depósito do produto e facilitar o seu transporte. Belém foi a cidade mais importante durante o período do boom da borracha e concentrou a maioria das empresas de exportação. Após o

colapso da economia da borracha, as cidades da Amazônia perderam sua força e influência econômica, embora várias cidades novas tenham sido criadas com infraestrutura deficiente, organização política frágil e acesso a recursos limitados.

Apesar de perderem sua importância para a economia nacional, as cidades amazônicas

ainda eram importantes como centros administrativos. Neste sentido, seis cidades foram criadas depois de 1900, e antes de 1980, 12% das cidades do Delta. O canal sul continua a ser a rota preferencial de fluxo econômico, assim como do surgimento de cidades como centro

de decisão política. De acordo com Maurício de Abreu (ABREU, 1997), nessa época a diferenciação entre vilas e cidades era judicial, na natureza, e não hierárquica. As cidades,

como propriedade do Rei, eram chamadas de cidades reais, mas nem todas elas alcançaram o papel de comando que o título lhes dava. Por outro lado, o status do povoado não diminuiu

a importância de um centro urbano.

Embora o processo de urbanização no Brasil tenha se intensificado após a metade do século

XX, logo após o processo de industrialização brasileiro, a região do Delta do rio Amazonas teve um comportamento diferente. As duas capitais, Macapá e Belém, quatro das cinco

cidades médias, e a maioria das pequenas cidades (80%), com população urbana menor que 50.000 habitantes, foram estabelecidas entre 1700 e 1900. Nesse sentido, a rede urbana do Delta foi construída e consolidade durante esse período. A inauguração de Brasilia, após

março de 1960, possibilitou o processo de conexão do interior (Norte e Centro-Oeste) ao centro econômico do Brasil, que incluiu a ligação da Região Norte/Amazônia, à costa

(Região Sudeste) do País. No Delta, apenas 12% das cidades foram criadas após a década de 1950.

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Figura 3 Processo de fundação de cidades no Delta do rio Amazonas: a) cidades criadas até 1700; B) cidades até 1800; C) cidades fundadas até 1900; E d) cidades fundadas até 1997. Fonte: elaborado pela autora (2016).

(a)

(b)

(c) (d)

Canal Sul

Canal Norte

Belém

Macap

á

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O processo recente de urbanização no delta

Em 1970, 37% da população total na região Amazônica viviam em áreas urbanas. Nas

várzeas amazônicas, no entanto, naquela época, 57% da população dos municípios viviam

em áreas urbanas (COSTA e BRONDIZIO, 2011). Em 1991, 56% da população total da

Amazônia e 67% da população de várzea viviam em áreas urbanas. Em 2000, o ritmo da

população urbana continuou a crescer, com 68% da população total da Amazônia e 79% da

população de várzea viviam em áreas urbanas. Em 2010, a Região possuía uma população de

24.371.265 habitantes (ou seja, 13% da população brasileira), com mais de 70% vivendo em

áreas urbanas, e a Várzea Amazônica, onde se inclui o Delta do Rio Amazonas, tinha,

aproximadamente, 80% de sua população em cidades.

A região do Delta pode ser considerada "urbanizada" desde pelo menos 1960, e de 1970 a

2010 a população urbana da região aumentou em 300% (IBGE, 2015). O processo de

urbanização no Delta foi impulsionado, principalmente, por booms econômicos,

estabelecidos desde o século XVIII, apesar de alguns autores afirmarem que o processo de

urbanização da Amazônia foi intensificado pela política de migração depois dos anos 1970

(GODFREY, 1990, Browder e Godfrey, 1997, BECKER, 1978, 1985, 2005, CORREA, 1997,

MACHADO, 1989, 1994, 1999, SAWYER 1987). Ressalta-se que a políOs municípios

localizados na planície de inundação do Delta foram urbanizados antes da Região como um

todo. Como o Delta é faz parte da planície de inundação (Várzea) do Rio Amazonas, como

mencionado, as cidades mais antigas da Região estão localizadas nesta área. O Delta é uma

das áreas mais antigas do Brasil em termos de ocupação, com a maioria das cidades (78%)

estabelecida em ou antes do século XIX. Antes de 1940, 90% das cidades Delta tinham sido

criadas como uma vila ou como uma cidade.

Nesse sentido, o processo de urbanização não é o mesmo para todas as cidades amazônicas,

e isso ocorre porque existem diferentes processos em termos de Região, embora o principal

ator responsável por ambos os processos (antiga ocupação e nova fronteira) sejam os

mesmos: o Estado e a necessidade de incluir o Brasil no Sistema Capitalista. A partir de 1970,

motivado por políticas federais de ocupação de fronteiras de recursos, o processo de

urbanização da região foi muito intenso até a década de 1990, quando diminuiu de

intensidade.

De 1970 a 1991, este processo desacelerou no Delta do Rio Amazonas, entretanto, as capitais

de estados, aí localizadas, Belém e Macapá, atraíram um fluxo populacional importante,

pois forneciam as principais oportunidades de emprego no Delta. Depois de 1991, a taxa

urbana do Delta foi mais intensa do que a da Região Amazônia, como um todo, e, além das

capitais, as pequenas cidades, com menos de 50 mil habitantes, apresentaram um

crescimento populacional mais intenso. O período de crescimento urbano mais significativo

foi de 1991 a 2000, como resultado dos processos de migração principalmente rural-urbano.

Este processo de urbanização do Delta também se refletiu, diretamente, em uma redução da

população rural.

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Durante as décadas de 1940 e 1950, muitos trabalhadores urbanos deslocaram-se para as

ilhas do estuário do rio Amazonas para trabalhar na coleta e processamento de óleo de

palma e outros produtos florestais (BRONDIZIO, 2008). Esta tendência inverteu-se na década

de 1970, quando a expansão das fazendas de búfalos para a produção de carne para suprir

uma demanda de países produtores de petróleo (como Venezuela e Arábia Saudita),

impulsionou o processo de migração para pequenos e grandes centros da região urbana. A

Figura 4 apresenta a distribuição, em termos de tamanho populacional, das cidades do

Delta, em 1980 e 2010 e reflete um dos aspectos urbanos da Região.

A figura 4a, que apresneta a distribuição da população urbana no Delta, por ordem de

grnadeza, mostra que, em 1980, há uma predominância de pequenas cidades. Em 1970, 95%

das cidades do Estuário do rio Amazonas possuíam menos de 50.000 habitantes. Nesse

momento, duas cidades se destacaram em número de habitantes: Belém, com mais de 600

mil habitantes, e Macapá, com mais de 50.000 habitantes. Em 1980, essas cidades

mantiveram seu status de imprtante cidades, apenas Belém e Macapá permaneceram com

mais de 50.000 habitantes no Delta. Ressaltamos que a população urbana de Macapá cresceu

70% entre 1970 e 1980.

Em 2010 (figura 4b), permanceu a predominância das pequenas cidades (86% do total de

cidades do Delta), consideradas, nesta pesquisa, aquelas com menos de 50.000 habitantes.

Essas cidades concentravam 19% da população urbana total do Delta. A população urbana

está concentrada em seis cidades (80% do total de habitantes urbanos), sendo que Belém e

Macapá, respectivamente, concentravam 55% da população urbana total do Delta, em 2010.

A predominância de pequenas cidades cria uma articulação entre essas cidades do Delta que

não pode ser explicada pela teoria da hierarquia urbana tradicional, como a Teoria do Lugar

Central. Browder e Godfrey (1997) propuseram uma teoria da urbanização desarticulada,

considerando a inexistência de uma hierarquia urbana regional na Região Amazônica, como

a existente no Delta. A realidade urbana do Delta pode assumir essa explicação, porque o

número de pequenas cidades, associadas às distâncias físicas entre elas, permite a

existência de uma rede urbana relacionada à realidade social e econômica regional

(CORREA, 1988). As cidades estão conectadas entre si, de forma que o nível local permite

que pequenas cidades se conectem a pequenas cidades, aos Centros Regionais, como Belém

e Macapá, ou mesmo ao Sistema Mundial, como a Vila dos Cabanos, localizada em

Barcarena, em função da existência de uma produção industrial de Alumina.

A Figura 5 apresenta o crescimento do espaço urbano ocorrido no Delta, entre 1984 e 2010.

Este mapeamento, como explicado, foi elaborado utilizando imagens de satélite obtidas em

ambos os períodos. O aumento populacional ocorrido nesta Região do Delta também

revelou um significativo crescimento da área urbana. Ao longo de 26 anos, entre 1984 e

2010, as cidades de Delta apresentaram um crescimento espacial acumulado de 220%.

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(a)

(b)

Figura 4 Tamanho das cidades, em termos de população urbana. Fonte: Elaborado com base nos dados dos censos: (a) 1980; (B) 2010.

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Esse crescimento foi concentrado em sete cidades (83% do crescimento total): Belém (PA),

Macapá (AP), capitais estaduais; Ananindeua (PA), Marituba (PA), e Benevides (PA), cidades

localizadas na Área Metropolitana de Belém; Santana (AP), uma cidade média localizada na

Região Metropolitana de Macapá; Barcarena (PA), uma cidade industrial, próxima à Belém.

Essas cidades também concentraram a população urbana do Delta. Mesmo com esta alta

concentração de população em alguns pontos espaciais, as pequenas cidades são

predominantes no Delta.

As cidades consideradas pequenas, com população urbana menor que 50.000 habitantes,

foram responsáveis por 30% do crescimento da área urbana da Região Delta, entre 1984 e

2010. Apesar deste aumento não ser significativo em termos de valor absoluto, as pequenas

cidades alcançaram taxas de crescimento muito elevadas, variando entre 34% e 2300%. A

cidade de Belém apresentou um crescimento intenso durante este período, mais de 140%,

considerando a área urbana em 1984. Espera-se que as cidades mais importantes da região

cresçam mais do que qualquer outra, devido à dinâmica urbana usual de um importante

centro regional. Surpreende o fato das pequenas cidades terem crescido de forma muito

sifnigicativa.

Alguns exemplos de intensidade de crescimento da área urbana entre 1984 e 2010, de

cidades com menos de 20 mil habitantes: Acará, Mazagão e Gurupá, que cresceram quase,

ou um pouco mais de 300% em área; Afuá, que crescuem mais de 450% , Bagre, com um

crescimento da área urbana de quase 650%; e Melgaço e Oeiras do Pará, que cresceram,

respectivamente, 1650% e 2100%. Esse crescimento urbano está associado à migração rural

urbana, em função intensificação da produção de açaí nesses municípios. Segundo o IBGE

(2015), Oeiras, por exemplo, é terceiro maior produtor de açaí do País, assim como Afuá,

Mazagão, Acará e Bagre depontam como importantes produtores dessa fruta.

Assim, observa-se que, independentemente da idade, tamanho e localização dos espaços

urbanos do Delta, a expansão das cidades seguiu trajetórias semelhantes, abrangendo a

expansão não planejada ao longo das margens dos rios e várzeas e mantendo as deficiências

urbanas em infra-estrutura e serviços e falta de emprego. Nesse sentido,

independentemente desse intenso crescimento urbano, as cidades do Delta têm

infraestrutura e se

de população, principalmente porque as cidades cresceram mantendo fortes vínculos com o

ambiente rural, ribeirinho, do seu torno, em termos de relações sociais e atividades

econômicas.

Mesmo que a população urbana do Delta, assim como da Região Amazônica, esteja

concentrada em cidades que não oferecem serviços suficientes à sua população, como o

serviço de água, esses espaços são considerados cidades. Pequenas, médias ou grandes,

essas cidades funcionam como um salvaguarda para os habitantes do interior, em uma área

pobre de investimento social e são importantes para oferecer emprego, acesso à informação

e bens e serviços essenciais à população.

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Figura 5 Crescimento do espaço urbano das cidades do Delta, entre 1984 e 2010. Fonte: Elaborado pela autora (2016), a partir de imagens de satélite.

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A figura 6 apresenta uma matriz conceitual sobre o processo de crescimento urbano

das pequenas cidades do Delta, e as consequências desse processo. As pequenas

cidades têm, em geral, economias transformadoras frágeis, alta dependência dos

subsídios federais e empregos, predominantemente, no serviço público. Os

municípios com população urbana menor que 50.000 habitantes têm cerca de 50% de

seus empregos formais no setor público, e quanto menor a população urbana, maior

dependência desse setor na geração de empregos, segundo dados da RAIS (2016).

A baixa oferta de empregos diversificados, formais, é resultado da dependência que

existe entre o urbano e rural, especificamente, em relação à economia extrativista,

que não favorece a captação de impostos por parte do poder público.

Consequentemente, não há recursos, suficientes, disponíveis para investimentos nas

necessidades básicas da população, para melhorar a qualidade da oferta de serviços

básicos à população, como saúde e educação.

Figura 6 Quadro conceitual que resume a situação das pequenas cidades do Delta, que resulta em deficiências urbanas. Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Não importa quão grande é a taxa de urbanização, o acesso à infraestrutura básica

ainda está longe de ser satisfatório em termos de acesso pela população urbana (ou

não urbana) do Delta. As condições urbanas e a infraestrutura nesta área não são

seletivas, afetando pequenas cidades independentemente da idade e localização.

Entretanto, essas pequenas cidades possuem baixa capacidade de investimento e alta

concentração de pobreza. Essa situação soma-se à inaptidão dos gestores públicos em

pensar local, regional e globalmente. Como resultado, essa situação se reverte em

pressão sobre o ambiente do DELTA, que pode se reverter em pressão sobre essas

cidades, mais especificamente, sobre a qualidade de vida de seus moradores. Um

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círculo vicioso se forma, o qual não apresenta perspectivas para a população e tão

pouco para os gestores públicos.

Considerando a baixa qualidade de vida, esse não é problema exclusivo dass cidades

do Delta, Perz (2000) comparou indicadores de qualidade ambiental para populações

urbanas da Região da Amazônia, em 1980 e 1991 e mostrou, como esperado, que esses

indicadores tendiam a se deteriorar, proporcionalmente, ao ritmo do crescimento

urbano. Segundo o autor, as antigas áreas urbanas estabelecidas apresentaram melhor

qualidade ambiental, sugerindo uma deterioração que ocorreu em parte devido ao

estabelecimento de ocupações recém-formadas. Seu estudo detectou que os domicílios

em novas áreas urbanas têm recursos e serviços consideravelmente menores, como

coleta de resíduos e abastecimento de água e estão mais expostos aos riscos

ambientais do que as áreas urbanas mais antigas. O que se observa nas cidades do

.

O número de domicílios urbanos, em todo o Delta, cresceu 37%, entre 2000 e 2010,

segundo o IBGE (2015). Em relação aos domicílios urbanos conectados ao sistema de

esgotos (tabela 1), em 2000 representavam 15% do total. Em 2010, representavam 21%

do total de domicílios. No entanto, quando analisamos o crescimento relativo de

domicílios conectados ao sistema de esgoto, observamos que teve um crescimento de

87%, nesse período. Ou seja, houve um aumento de domicílios conectados ao sistema

de coleta de esgoto, entretanto, não o suficiente para suprir a demanda do

crescimento urbano. Em relação ao abastecimento de água, constatamos que, em

2000, 62% dos domicílios urbanos estavam conectados ao sistema de água. Em 2010,

houve um aumento para 64%, representando um crescimento relativo de 40% no

período considerado. Para os domicílios urbanos com acesso à energia elétrica, houve

um crescimento importante, motivado pelo Programa do Governo Federal, Luz para

Todos.

% de domicílios 2000 2010

Conectados ao Sistema de esgoto 15,4 21,1

Com abastecimento de água 62,2 63,5

Com luz elétrica 89,9 99,5

Tabela 1 Porcentagem de domicílios com infraestrutura básica. Fonte: IBGE (2016)

Independentemente do número de famílias com acesso à infraestrutura básica, a

distribuição desses serviços não é a mesma ao longo das cidades do Delta. Quando

analisamos os resultados por grupo de cidades, observamos que há diferenças

significativas. Agrupamos as cidades de acordo com o tamanho da população:

pequenas cidades, com população urbana inferior a 20.000 habitantes, cidades

pequenas cidades com população urbana entre 20.000 e 50.000 habitantes; cidades

médias, com população entre 50.000 e 300.000 habitantes; e grandes cidades, com

mais de 300.000 habitantes. Utilizamos os dados do Censo de 2010, sobre o número de

domicílios urbanos com acesso a esgoto e água (IBGE, 2010), e tabulamos os dados,

que podem ser visualizados na Figura 7.

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Esta informação permite-nos notar que em qualquer grupo de cidade, o acesso a água

canalizada alcança, ao menos, 50% dos domicílios urbanos. Este cenário não se repete

quando se considera o acesso ao sistema de coleta de esgoto. Quanto maior a cidade,

maior o número de domicílios que acessam esse serviço, entretanto, o serviço ainda é

precário, pois, de acordo com os dados, apenas 27,8% dos domicílios urbanos são

beneficiados. O problema torna-se mais grave para as pequenas cidades (com menos

de 50.000 mil habitantes), que geralmente são privadas de infraestrutura, serviços

urbanos e capacidade para gerar recursos para alimentar o sistema de investimentos

para melhorar a qualidade de vida de sua população. Quanto menor a população,

maior é a probabilidade de se gerar problemas ambientais.

Se observarmos esses dados, ao longo do tempo (Figura 8), pode-se perceber que,

independente do tamanho de cidade, em 2000 existia uma infraestrutura precária que

se tornou mais problemática ainda, considerando que houve um crescimento no

número de habitantes e, consequentemente, de domicílios urbanos. Ou seja, os

investimentos que foram realizados para melhorar a infraestrutura urbana não foi

planejado de forma à atender a demanda progressiva por esse serviço. Outro aspecto

importante é que o nível de acesso a serviços públicos e infraestrutura urbana não se

correlaciona com a idade, tamanho e localização das cidades. Todas as cidades do

Delta estão crescendo, mas os investimentos em infraestrutura não estão

correspondendo a este processo de urbanização.

Mansur et al. (2016) desenvolveu um estudo sobre 41 cidades localizadas no DELTA.

Segundo os autores, a falta de serviços públicos e infraestrutura, como água potável,

esgoto, recolhimento e eliminação de resíduos de forma adequada, aumenta os riscos

para a saúde da população, colocando desafios adicionais ao avanço do progresso

social e econômico da Região (MANSUR et al., 2016, p. 637).

Da mesma forma, os impactos da urbanização também afetam os serviços dos

ecossistemas, pois a poluição urbana, o desmatamento ciliar acelerado e a crescente

demanda por recursos estão exercendo pressões crescentes sobre os serviços

ecossistêmicos locais. Nesse sentido, de acordo com Guenni et al. (Apud MANSUR et

al., 2016, p.628), uma parte significativa das populações ribeirinhas e urbanas do Delta

dependem diretamente dos bens e serviços dos ecossistemas locais, incluindo a

provisão de água para consumo doméstico e higiene pessoal, pesca, e transporte. E

esses bens e serviços estão se deteriorando, dia após dia, sem que os gestores atuem

de forma decisiva na reversão dessa problemática.

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Figura 7 Porcentagem de domicílios urbanos conectados ao Sistema de coleta de esgoto e de abastecimento de água, de acordo com o Censo de 2010. Fonte: elaborada pela autora, a partir dos dados do IBGE (2015).

Figura 8 Infraestrutura nas cidades do Delta, entre 2000 e 2010. Fonte: elaborada pela autora, a partir dos dados do IBGE (2015).

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Considerações finais

Esse artigo teve como objetivo apresentar uma análise espaço-temporal do

crescimento urbano e suas mudanças espaciais, de cinquenta cidades do Delta do Rio

Amazonas, assim como avaliar as condições do crescimento urbano dessas cidades,

em relação à infraestrutura, aos serviços urbanos disponíveis. Optou-se, em função da

linha de pesquisa em desenvolvimento pelos autores, em especificar algumas

análises, mais voltadas às cidades com menos de 50 mil habitantes, consideradas,

nesse estudo, Pequenas Cidades.

Metodologicamente, a pesquisa teve um caráter exploratório e se amparou em dados

secundários (censitários, RAIS e históricos), além da utilização de mapeamento do

crescimento urbano, em 26 anos, das cinquentas cidades do Delta, utilizando-se, para

isso, imagens de satélite. A conjugação dessas informações nos permitiram perceber

que as cidades cresceram intensamente, ao longo desse período, mas os investimentos

em infraestrutura urbana não foram suficientes para acompanhar esse crescimento

urbano. Assim, acesso da população urbana do Delta à infraestrutura, tais como água

tratada e coleta e tratamento de esgoto, não cresceu em igual proporção ao

crescimento das cidades. Apesar de existir, atualmente, disponibilidade de recursos

para a implantação e melhoria desses serviços, a maior parte das cidades do Delta,

assim como a maioria das cidades brasileiras, precisará, com urgência, não medir

esforços se quiserem universalizar o acesso da população aos serviços de água tratada,

coleta e tratamento dos esgotos na próxima década.

Compreendemos que, na perspectiva urbana, uma aboradagem tão ampla, como a

apresentada nesse artigo, que apresenta dados tanto da Metrópole Regional, Belém,

quanto das

Amapá, não consegue estabelecer uma linha teórica que dê suporte a análise dessa

complexidade urbana. Entretanto, não era esse o objetivo da presente pesquisa e sim

apresentar dados, secundários ou não, de uma forma esquematizada, que abrisse a

possiblidade de compreender: 1) o quanto difícil é estudar esse urbano do Delta; 2)

Que a urbanodiversidade (Trindade Jr, 2013) torna mais complexo ainda esses estudos;

e 3) Que as pequenas cidades precisam ter voz, pois encontram-se em uma situação

deficiente de acesso aos serviços urbanos e possuem uma incapacidade para gerar

recursos e reinvestir localmente, para melhorar a qualidade de vida da população.

Parafraseando Trindade Jr (2013),

A urbanodiversidade assim entendida é revelada não somente por diversas

formas de cidades e pela existência de múltiplos tipos de urbanização que decorrem normalmente de processos originados externamente à região, mas também por formas complexas de espaços que indicam a hibridização de relações definidas por contatos e resistências em face desses movimentos de

diferentes naturezas que chegam à região (TRINDADE Jr, 2013, p. 18).

Nesse sentido, compreender como as cidades se estruturaram, a intensificação do seu

processo de urbanização, em todas as suas dimensões, é um aspecto fundamental da

equação social e ambiental mais ampla das condições de qualidade de vida dos

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moradores do Delta do Rio Amazonas. Esse estudo tem uma característica descritiva,

quali-quantitativa, do processo de urbanização do Delta, mas aponta, por meio dessa

descrição, que pode-se compreender que as pequenas cidades se apresentam no lado

mais frágil do jogo de forças políticas, que possibilitariam direcionar os recursos para

melhorar os indicadores de qualidade de vida.

A qualidade atual dos serviços públicos urbanos e a falta de perspectivas para as

cidades do DELTA, principalmente para as pequenas cidades. para lidar com o ritmo

das mudanças econômicas e demográficas alimentam um ciclo vicioso de

dependência de subsídios governamentais e uma crescente incapacidade de sustentar

uma sociedade cada vez mais urbana. Apesar de seus diferentes processos históricos,

tempo de existência, tamanho e importância na Rede Urbana regional, as cidades do

Delta se aproximam, em termos de disponibilidade de infraestrutura adequada

disponível para suas respectivas populações, como sistemas de água e esgoto. Ao

mesmo tempo, as pequenas cidades estão experimentando um crescimento

populacional significativo e expansão das áreas urbanas. Isso nos mostra que ainda

precisamos entender que função os pequenos centros urbanos do Delta

desempenham nas economias regionais e nacionais e qualquer tentativa de

compreender e contribuir para o futuro da Região exige uma atenção especial a esses

processos.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e ao Belmont Forum pelo apoio recebido, sem o qual a realização dessa pesquisa seria

inviável.

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The urbanization process in the Amazon region and its peculiarities: an analysis of the delta of the amazon river

Abstract

The intense urbanization process, verified in the last three decades in the Amazon Region, has provided the emergence of cities as an important element within the regional space. Many of these cities are "small urban agglomerations", with less than twenty thousand inhabitants, have fragile or no infrastructure. A significant part of this urbanization has occurred in the environment of the Amazon River Delta. In this sense, this paper presents a space-time analysis of urban growth and its changes in the Delta, its emergence, recent urban growth and the consequences in terms of access to infrastructure and the commitment of the Region, from a socio-environmental perspective. We used Census data and satélite images to produce a map of urban growth. Our results indicate that regional urban infrastructure remains poor and has become worst in many cities. However, the cities still offer an attractive prospect for many residents because the riverine and small-town families take benefits, economically and socially, from existing urban connections to access, in particular, health, education and informal employment, which are even weak at Riverside Communities.

Keywords: Delta of the Amazon River. Small cities in the Amazon. Infrastructure and services in the Amazon.

El proceso de urbanización em la región Amazónica y sus peculiaridades: un análisis del delta de rio amazon

Resumem

El intenso proceso de urbanización en el Amazonas, evidenciado en las últimas tres décadas, provocó el surgimiento de ciudades importantes dentro del espacio regional. Estas ciudades se caracterizan por ser predominantemente pequeños aglomerados urbanos con menos de veinte mil habitantes y que cuentan con una infraestructura urbana escasa o inexistente; para una población inmigrante. Una parte significativa del proceso de urbanización mencionado ocurrió en el Delta del Río Amazonas. El objetivo de este artículo se centra en analizar dicho crecimiento urbano desde una perspectiva espacio-temporal, así como los cambios que originó en el Delta, se analiza el surgimiento del reciente crecimiento urbano y sus consecuencias en términos del acceso a servicios de infraestructura y cómo se ha afectado la región desde una perspectiva socio ambiental. Utilizamos para ello datos del Censo de 2010 e imágenes de satélite para mapear el crecimiento urbano. Por su parte, los resultados de la investigación indicaron que la infraestructura urbana regional continúa siendo deficiente e incluso se evidenció que declinó en muchas ciudades. Por otra parte, cabe destacar que esas ciudades continúan atrayendo familias ribereñas y de otras pequeñas ciudades debido a que se benefician económica y socialmente de las conexiones urbanas existentes para acceder a los servicios de salud, educación y empleo formal.

Palabras-claves: Delta del río Amazonas. Pequeñas ciudades en la Amazonia. Infraestructura y servicios en la Amazonia.