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O PROCESSO GRUPAL E A DESNATURALIZAÇÃO DA MATERNIDADE EM UM GRUPO DE PREPARO DE CANDIDATOS
A ADOÇÃO
RESUMO
O presente relatório tem por objetivo apresentar o estágio realizado na área de
Psicologia Social Comunitária (PSC) como requisito parcial para a obtenção do título de
Psicólogo. Escolhemos como estágio a atuação com grupos de adoção, pois era um tema de
nosso interesse, de grande relevância para a área de PSC e por já existir um projeto mais
amplo na Universidade sobre o tema. Realizamos o estágio durante todo o ano de 2011, no
1º semestre nos instrumentalizamos sobre o tema e propusemos a formação de um grupo
com pais que adotaram crianças acima de 2 anos de idade (adoção tardia). Como não
conseguimos formar um grupo com esse perfil, modificamos nosso objetivo para a
formação de um grupo de preparo de candidatos a adoção. O grupo aconteceu no 2º
semestre de 2011 e teve 10 sessões de duração. Participaram 4 casais heterossexuais e 1
homoafetivo que procuraram o grupo devido a um convênio entre a Universidade e o
Fórum do Tatuapé em São Paulo. Em cada uma das sessões diferentes atividades foram
realizadas objetivando discutir temas relevantes e sensibilizar os futuros pais para a
situação que estariam vivenciando. Todas as atividades objetivavam também desconstruir o
mito da maternidade, bem como desconstruir outras ideologias. Registros de observações e
de falas manifestadas durante as sessões foram analisados e categorizados com o objetivo
de avaliar o impacto do grupo. Observaram-se muitas transformações dos participantes ao
longo da intervenção e destacou-se o importante papel do sentimento de pertença grupal
como facilitador das discussões promovidas e da cooperação intergrupal.
Palavras-chave: adoção, processo grupal; desnaturalização da maternidade
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O PROCESSO GRUPAL E A DESNATURALIZAÇÃO DA MATERNIDADE EM UM GRUPO DE PREPARO DE CANDIDATOS
A ADOÇÃO
RENAN DE ALMEIDA SARGIANI
REGIANE MARTINS FORONI
SUPERVISORA: PROFA. DRA. REGINA CÉLIA DO PRADO FIEDLER
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1. Introdução
A realidade social da América Latina é muito diferente do que a dos países norte-
americanos e europeus. No entanto, a Psicologia utilizada na América Latina, de modo
geral, sempre foi apenas importada e traduzida dos países desenvolvidos e pouco adaptada
à realidade latino-americana (MARTÍN-BARÓ, 1987). Muitas críticas a essas teorias pouco
adaptadas foram feitas, desde os anos 1960, o que promoveu outras formas de se pensar em
Psicologia como na abordagem que é chamada de Psicologia Social Comunitária.
A proposta da Psicologia Social Comunitária (PSC), de acordo com Montero (2002),
surge para preencher o vazio criado por uma Psicologia eminentemente subjetivista e de
uma visão eminentemente macrossocial das demais ciências sociais. De tal modo, que a
PSC propõe desde o seu início uma perspectiva crítica das experiências e práticas
psicológicas e do mundo ao redor que as possibilita e com o qual deve lidar.
Montero (2002) salienta que a PSC veio se constituindo desde a década de 1970, muito
lentamente, uma vez que foi necessário delimitar melhor o que era uma nova forma de se
pensar e atuar em Psicologia. E assim a PSC aos poucos, se construía a partir de práticas e
novas formas de intervir que contribuíam para a construção do conhecimento e, por
conseguinte reformulavam as novas práticas.
Nessa perspectiva, o tema da adoção é de relevante importância para à PSC, uma vez
que envolve de diferentes maneiras abrigos, famílias, políticas públicas e menores
institucionalizados. Configurando-se, deste modo, em um importante assunto com o qual
nos deparamos de diferentes maneiras todos os dias. Ainda se destaca a relevância deste
tema no campo da PSC, uma vez que esta área objetiva uma transformação pessoal e social
de forma crítica (FIEDLER, 2007, p.114) e que, portanto, pode contribuir para uma visão
diferenciada sobre a temática da adoção.
Na Universidade Cruzeiro do Sul, o Núcleo de Estudos e Atendimento Psicológico –
NEAP, com a parceria do curso de Psicologia e das Varas da Infância de São Miguel,
Itaquera, Tatuapé e Penha, realizam o Programa Abrigo e Adoção. O Programa, em 2009,
recebeu do Conselho Regional Psicologia (CRP) de São Paulo, o Prêmio Madre Cristina de
“Práticas Inovadoras na Área da Psicologia”, sendo avaliado pelo CRP como um projeto
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pioneiro na área da adoção e da defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes. Nesse
programa são oferecidos atendimentos psicológicos grupal e individual para famílias
adotivas e pessoas em processo de adoção.
Como alunos do 5º ano do curso de Psicologia nós podíamos escolher um estágio a ser
realizado na disciplina de Psicologia Comunitária. Assim, optamos pelo trabalho com
adoção, devido a nosso interesse pelo tema. Inicialmente, o foco de nosso trabalho foi à
adoção tardia que designa toda e qualquer adoção em que o adotando tenha dois anos ou
mais na ocasião em que foi adotado. Em geral, é o caso da maioria das adoções, já que
antes dos dois anos poucas são as crianças aptas para a adoção, segundo a Cartilha Adoção
Passo a Passo (FERREIRA et. al, 2007).
A justificativa para a escolha do tema da adoção tardia se deu principalmente pelo
conhecimento de que a literatura aponta para as resistências em pretendentes à adoção
optarem por crianças mais velhas, ainda que essas constituam a maioria das crianças em
condição de serem adotadas (FERREIRA et al, 200&). O que justifica igualmente o
objetivo de trabalhar com as famílias que adotaram, pois poderíamos discutir e promover a
desnaturalização da maternidade, a desmistificação do chamado mito do amor materno, o
que poderia auxiliar em relacionamentos familiares mais saudáveis.
Nesse sentido, Elizabeth Badinter (1985), realiza uma extensa pesquisa histórica
sobre a maternidade, mais especificamente sobre o chamado “amor materno”. Este é visto,
ainda nos dias atuais, muitas vezes como uma condição sine qua non para ser mãe. O amor
materno seria algo natural, instintivo, despertado nas mulheres pela própria condição de
maternidade. Entretanto, Badinter questiona algumas dessas verdades tão ideologicamente
naturais como: é mesmo normal que uma mulher ame o seu filho incondicionalmente?
Todas as mulheres independente de seu contexto sócio-histórico-cultural têm amor
materno? Se uma mãe se separa durante anos de seu filho, e se existiu um amor materno
por ocasião do nascimento, ele não se enfraquece com a falta de cuidados e a distância?
Uma mulher que não deseje ser mãe: trata-se de uma anormal, uma doente, já que contraria
as leis da natureza?
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Badinter (1985) afirma que ao revistarmos a história das atitudes maternas, podemos
constatar que o instinto materno é um mito. Não existem evidências de que este se trate de
uma conduta universal e comum a todas as mães. No entanto, a crença nesse mito
comumente divulgado na sociedade, implica principalmente na angústia daquelas mulheres
que gostariam de ser mãe e não podem por algum motivo. Ressalta-se que a
desnaturalização dos fenômenos sociais, consiste em um importante objetivo da Psicologia
Social Comunitária (MARTÍN-BARÓ, 1987; FIEDLER, 2007).
Embora, tenhamos construído todo o caminho para esse tipo de trabalho, que seria
realizados com casais que já tivessem adotado, não houveram casais suficientes para formar
um grupo com essa temática. Assim, mudamos nosso foco para o trabalho com pessoas que
se preparavam para a adoção. Essas pessoas foram indicadas pelo Fórum do Tatuapé,
devido ao convênio estabelecido com a Universidade Cruzeiro do Sul. Os casais
procuraram o NEAP para participarem de atendimento psicológico, que consiste em um
requisito legal para concluir o processo de adoção, e assim foram encaminhados ao grupo.
É importante destacar que quando as pessoas optam pela adoção são muitos e diversos
os motivos que os levam a tomar essa decisão. Alguns optam pela adoção por não poderem
ter filhos biológicos, outros por que têm uma visão de que estão fazendo uma caridade aos
filhos adotados, além de outros diversos motivos. No entanto, muitas dessas escolhas são
marcadas, na cultura ocidental, por uma tradição judaico-cristã, isso é, permeadas pelo ideal
de (re)constituir uma família no modelo biológico, mas também no modelo idealizado pela
religião (WEBER, 1998; COSTA & CAMPOS, 2003; COSTA & ROSSETTI-FERREIRA,
2007).
Assim, os filhos desejados para serem adotados, são aqueles que são mais jovens, mais
próximos de bebês e que poderiam, então, preencherem a lacuna de filho biológico. Isso
nos leva a números alarmantes de crianças institucionalizadas que passam muitos anos em
abrigos sem serem adotadas, inclusive atingindo a maioridade nesses locais (WEBER,
1998). E por outro lado, ainda que crianças mais velhas sejam adotadas, as famílias que as
recebem muitas vezes também, mesmo que implicitamente, carregam consigo as marcas
dessas crenças no amor materno e natural que surgiria com uma gestação biológica e o
momento do parto. Esse fato pode ser observado a partir de relatos de casos em que as
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crianças são devolvidas, porque tinham “sangue ruim” ou porque “eram muito diferentes de
nós, nunca iria dar certo”. Esses relatos normalmente indicam, em uma análise mais
minuciosa, que as famílias não tiveram a abertura ou tempo suficiente de convívio com as
crianças para que o vínculo fosse formado. E como acreditavam implicitamente que o amor
por um filho biológico seria natural, também pensavam que com o filho adotivo seria,
portanto impossível de ser desenvolvido (WEBER, 1998; COSTA & CAMPOS, 2003;
COSTA & ROSSETTI-FERREIRA, 2007).
Essa crença do amor materno, enraizada em nossa sociedade permeia de maneiras
distintas todas as relações, desde mães que superprotegem àquelas que abandonam seus
filhos por diferentes variáveis. Crescemos em um meio social que desde a infância apregoa
um crescimento entendido como “normal” aquele que é esperado no sentido biológico que
segue o ciclo de nascer, crescer, se reproduzir e morrer. O normal é confundido com o
natural em nossa sociedade (MARTÍN-BARÓ, 1987; FIEDLER, 2007). E juntamente com
esse ideal também seguem “recomendações” que são transmitidas de modo direto e indireto
sobre como cada fase da vida deve ser, o que intensifica e consolida ainda mais o mito do
amor materno e tantos outros.
Quando os pais adotam uma criança, convivem então com as incertezas de uma relação
que não é entendida como natural por fugir ao modelo biológico e intensificam todas essas
incertezas que em uma relação de filiação biológica, não seriam tão agravadas. Como, por
exemplo, quando um filho faz uma cena de “birra” os pais biológicos interpretam como
apenas uma birra, mas os adotivos podem imaginar se aquele comportamento é algo
referente à relação “não-normal” que tem com a criança; uma características dos pais
biológicos; podem achar que a criança não os ama ou que não quer viver com eles mais.
Isso tudo faz com que pequenos problemas no cotidiano dessas famílias sejam vivenciados
como muito mais graves e angustiantes nas famílias adotivas (WEBER, 1998).
Nos últimos anos, surgiu um movimento no Brasil por uma nova cultura de adoção
na qual preconiza-se que se deve buscar uma família para uma criança e não uma criança
para uma família. Essa nova cultura da adoção comporta um novo projeto de família, de
maternidade e de paternidade e atribui novos sentidos ao ser pai e mãe. Pressupõe uma
família que aceite o diferente, a alteridade, que não só lide com projetos de filiação
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alternativos, mas que efetivamente adote o diferente (COSTA & ROSSETTI-FERREIRA,
2007). Tais mudanças são o reflexo das modificações legislativas de 1987 e 1998 que
passaram a priorizar mais o interesse da criança; e que as decisões sobre medidas de
proteção à criança precisam ser tomadas por uma equipe de profissionais (psicólogos e
assistentes sociais), desvinculada do Judiciário.
Pensando nisso, em nosso estágio objetivamos reunir em grupos de discussão casais que
são candidatos a adoção. Pressupõe-se que os candidatos a adoção se encontram em um
momento de dúvidas, angústias, possibilidades e decisões e que poderiam então se
beneficiar das discussões promovidas em grupo. Como já se evidenciou em nossas
explanações iniciais, estes pais convivem com a angústia muitas vezes de estarem em uma
relação nova, permeada por incertezas e temores de que a qualquer momento algo possa dar
errado. Vivenciam ao mesmo tempo também a angústia do conflito com as expectativas
sociais e as esperanças e desejos de que esta relação seja profícua, por que querem exercer
a paternidade e maternidade. O grupo então poderia ser um momento de discussões desses
temas, um espaço de apoio e informação que favoreceria e possibilitaria uma adoção de
forma mais crítica considerando tanto os motivos quanto as reais condições e possibilidades
de adoção.
2. Descrição do trabalho
No primeiro semestre de 2011, visitamos o Fórum Regional VIII – Vara da Infância
Juventude Juizado Especial Cível – Tatuapé e conversamos com as psicólogas responsáveis
pelos casos de adoção. Logo após, participamos de um curso de formação de candidatos a
adoção no Fórum Central Cível João Mendes Júnior (SP), para compreender melhor as
angústias dos pais, apreender mais sobre a área de adoção e as expectativas legais de
formação dos candidatos. Visitamos também abrigos para conhecer um pouco a realidade
das crianças em situação de abrigo e o modo como são cuidados enquanto não são
adotadas. Realizamos entrevistas iniciais com possíveis candidatos para o grupo de Adoção
Tardia, mas não tivemos quantidade de participantes para formar um grupo e então
encaminhamos os casais para outros atendimentos disponíveis na Universidade.
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No segundo semestre de 2011, modificamos o propósito do grupo para nos adequarmos
a demanda que era majoritariamente formada por candidatos à adoção. Assim, construímos
o projeto que tinha por objetivo principal possibilitar um espaço de escuta sobre as dúvidas,
angústias e emoções de futuros pais adotivos. Objetivávamos que nesse espaço grupal
realizado semanalmente os pais pudessem compartilhar com os demais suas angústias,
experiências e dúvidas. Ademais, o objetivo mais amplo desse grupo era o de promover
discussões e reflexões acerca dos mitos envolvidos na questão da adoção, sendo o principal
deles, para nós, o mito do amor materno.
As entrevistas iniciais e as reuniões do grupo aconteceram no Núcleo de Estudos e
Atendimento Psicológico (NEAP) da Universidade Cruzeiro do Sul, campus Anália Franco,
aos sábados pela manhã. Os pais foram convidados a participar do grupo quando
procuravam a Universidade a partir do convênio com a Vara da Infância do Fórum Tatuapé
que indicava aos casais aos locais mais próximos que ofereciam atendimento psicológico.
Os encontros dos grupos eram semanais e tinham a duração de uma hora e meia e
aconteceram entre os meses de agosto e outubro, totalizando 10 encontros.
2.1. Descrição das famílias atendidas no grupo
Realizamos entrevistas semi-dirigidas com todos os casais para a composição do
grupos a fim de que pudéssemos conhecer aspectos como: o motivo que os levou a adoção;
como os familiares perceberam essa decisão; conhecer um pouco da história de cada um
deles; como era o cotidiano deles, a vida profissional; se havia histórico de adoção na
família e quais eram as suas expectativas em relação à adoção. Entrevistamos no total 6
casais, sendo que apenas 5 casais participaram do grupo, pois um casal tinha condições
muito específicas e portanto, foi encaminhado para atendimento de casal.
1º casal: A.M e M.
A. M. (48 anos) decidiu adotar em Março de 2011, porque pela idade dela, não
conseguiram ter filhos naturalmente. Ela fez três inseminações artificiais, mas não teve
sucesso, sendo que duas delas foram em seu primeiro casamento. A.M. disse que vêm de
uma família grande de 03 irmãs, 06 sobrinhos e 3 sobrinhos-netos, e que o pai é português e
a mãe descendente de espanhóis, e que, portanto, gosta de família grande. É formada em
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Direito e hoje exerce a função de Diretora Comercial na empresa do pai. M., já foi casado
anteriormente, mas não teve filhos, tem 01 irmã e 01 sobrinho, considera sua família de
professores de matemática como pequena, é engenheiro e presta consultoria para empresas.
Desde o primeiro casamento, A.M. já pensava em adotar, mas seu ex-marido não
gostava da idéia. A. M. faz terapia há 12 anos e disse que por isso sabe que “a criança
precisa da verdade, precisa saber que não é filho biológico, mas é filho do coração.” (s.i.c.).
A. M. conheceu M. (40 anos) pouco tempo depois de se separar, mas como ambos tinha se
divorciado há pouco tempo disseram que não pensavam em casamento, embora tenham ido
morar juntos em poucos meses. Casaram-se há um ano (2010), mas moram juntos há 03
anos. Em relação ao perfil da criança, preferem crianças de 1 a 3 anos e de cor clara que
seja próxima da cor do casal, dizendo que eles não têm preconceito, mas é devido ao
preconceito da sociedade.
2º casal: M.B. e V.
M.B. (38 anos) e o marido V. (35 anos) são cozinheiros e se conheceram em 1997
na empresa em que ambos trabalhavam. Na época M.B. era casada, ficou casada por 05
anos, mas era apenas amiga de V. enquanto estava casada. Depois de algum tempo M.B.
separou-se e iniciou um relacionamento com V., que era muito seu amigo, e estão morando
juntos há 6 anos.
M.B. disse que sempre pensou em ter filhos, mas que não tinha dado certo, pois ela
teve 4 gravidezes, sendo duas no primeiro casamento, e uma delas foi ectópica na tuba
uterina. Recentemente, em novembro de 2010, teve uma gestação que foi interrompida aos
8 meses quando sua bolsa rompeu devido a hipertensão gestacional, e a criança morreu.
Essa criança chamada de G. continua sendo motivo de muita tristeza para o casal, sendo
lembrada constantemente. M.B. disse que só tem hipertensão durante as gestações e que
sempre quis adotar e mesmo se engravidar novamente quer adotar.
V. tem 02 sobrinhos de 10 anos gêmeos, e tem um ótimo relacionamento com as
crianças. M.B. tem feito tratamento por conta da pressão alta, mas como só tem hipertensão
quando está gestante, fica ansiosa e temerosa pela possibilidade de engravidar novamente e
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ter outro problema. Com relação ao perfil de criança, desejam meninos de 0 a 5 anos e cor
indiferente.
3º casal: M.F. e J.C.
M.F (47 anos) e J. C (46 anos) são um casal homoafetivo masculino. Eles dizem ter
feito o processo inverso de adoção, por optarem por adoção tardia e já terem escolhido uma
criança. Eles também disseram que foram reconhecidos como um casal e que na certidão de
nascimento irá constar o nome de ambos como os pais. A criança que estão adotando é
M.S. que tem 08 anos. J.C. disse que eles fazem visita a um abrigo frequentemente e que lá
conheceram M.S. em uma Festa junina da instituição. J.C. foi casado por 15 anos com uma
mulher, teve dois filhos B. de 13 e A.C. de 16 anos, mas, a relação com os filhos não é boa.
Separou-se em 2005, logo após conheceu M.F. e estão juntos desde então.
M.F. foi casado por 06 anos com uma mulher, mas não teve filhos por opção de
ambos e se separou em 2004. M.F é atualmente diretor de uma escola de Educação infantil
(EMEI). Há 25 anos trabalha com educação infantil e é formado em Matemática. J.C é
empresário e tem uma empresa de equipamentos cirúrgicos, a sua ex-esposa era diretora
financeira da empresa. Em 2009 contratou uma empresa de auditoria e descobriu fraudes na
empresa que envolviam a ex-mulher, depois desse acontecimento sua relação com seus
filhos ficou ainda mais difícil. Posteriormente a entrevista, enquanto participaram do grupo
adotaram o M.S. e mais um menino o V.O. que era do mesmo abrigo.
4º casal: J. e FR.
J. (34 anos) disse que é filha única, tem 02 irmãos por parte de pai, mas não tinha
boa relação com os irmãos e o pai, somente voltou a falar com o pai depois de 15 anos
quando ele adoeceu. Atualmente não trabalha, mas é bacharel em direito, trabalhou em um
banco e saiu recentemente do emprego. J. está casada com F. (41 anos) há 9 anos e
tentaram fazer fertilização, pois ela parou de tomar anticoncepcional e não engravidava.
Fizeram 3 tentativas de fertilizações in vitro sem sucesso. J, repetiu várias vezes de forma
agressiva durante a entrevista inicial que o marido era infértil por ter Oligospermia Severa
(redução grave no número de espermatozoides), e que por este motivo optaram pela
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adoção. J. tem a crença que após adotar há uma grande possibilidade de engravidar e espera
que isso ocorra com ela.
F. disse que sua mãe adotou seu irmão por parte de pai e que ele tem 3 ou 4 primos
que também já adotaram. F. trabalha como vendedor em uma empresa há mais de 20 anos.
J. tem 05 afilhados que adoram ir na casa deles, um deles é um menino de 04 anos filho da
ex-empregada, e J. diz ser uma criança muito carente. O perfil para adoção do casal é uma
criança branca de “0 a 06 meses no máximo” (s.i.c.).
5º casal: F.R. e A.
F. R. (45 anos) é bombeiro militar, foi policial militar por cerca de 25 anos e foi
casado por 17 anos. Deste relacionamento teve 3 filhos (22, 18 e 17 anos), fez vasectomia
quando seu último filho nasceu e diz que se arrependeu, achando que iria ficar para sempre
com a ex mulher. O casal contou que estão casados há 6 anos e que se conheceram no
quartel. F.R. era policial no quartel e A. trabalhava na limpeza. F. disse que seus filhos
acham que A. foi a responsável pela separação, mas F. R. afirma que ele e sua ex-esposa só
moravam juntos, mas que já estavam separados há muito tempo, e que os filhos não
aceitam o relacionamento dele com A.
A. (31 anos) foi casada por 2 anos mas não quis falar sobre isso, por ter sido “uma
experiência ruim” (s.i.c.), trabalhou com limpeza e disse que atualmente é autônoma e
vende produtos de limpeza. A. disse que em Janeiro de 2011 resolveram fazer uma
fertilização in vitro, mas não tiveram sucesso, e disseram que querem adotar um bebê de até
6 meses, moreno, parecido com o casal.
2.2. Descrição sumarizada das sessões e atividades realizadas
1º Encontro – Enquadre e Apresentação do grupo
Neste encontro inicial, realizamos um enquadre do grupo e solicitamos aos casais que
se apresentassem. Os casais ficaram livres para se apresentar como quisessem e nós os
estagiários íamos somente complementando as informações necessárias e pontuando alguns
aspectos importantes.
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2º Encontro – Desenhos: 1) “Ser pai é, ser mãe é...” e 2) “Família Ideal”
Neste encontro solicitamos que os participantes desenhassem o que é ser pai e o que é
ser mãe. Para isso o casal deveria utilizar uma única folha de sulfite e compartilhar as
informações. Quando eles terminaram o desenho foi solicitado que desenhassem em outra
folha de sulfite o que o casal imaginava ser a família ideal. Novamente era importante que
o casal compartilhasse as informações entre si. Cada casal expôs os motivos pelos quais
optou pela adoção.
3º Encontro – Exibição e Discussão do Filme “O que o destino me mandar”
Neste encontro foi exibido o filme “O que o destino me mandar” (2006) que mostra
depoimentos de crianças em situação de abrigo em Santa Catarina. Em seguida, foi
promovida uma discussão com os casais acerca do filme. Dentre os diversos assuntos que
surgiram, muitos participantes associaram as histórias das crianças com sua própria
infância.
4º Encontro – Dinâmica “Construindo o filho ideal”
No 4º encontro, inicialmente foram discutidos assuntos que emergiram devido à
exibição do filme na sessão anterior. Dentre esses assuntos foram discutidos a questão de
tempos cronológico, jurídico e psicológico; a construção e reedição dos vínculos e a
possibilidade da troca de nomes das crianças adotadas. Em seguida, os casais receberam um
pedaço de argila e foi solicitado que construíssem “o filho ideal”. Após a construção do
“boneco” solicitou-se que dessem um nome a esse filho. Em seguida, nós os estagiários nos
intitulamos os “juízes” e dissemos que os filhos seriam trocados. As trocas foram feitas de
modo a atender ao sexo de criança esperada pelos casais e ao mesmo tempo frustrá-los pela
impossibilidade de ficar com o que era idealizado materializado na argila. Foram tiradas
fotos durante todo o processo que foram entregues aos casais para que eles construíssem
um de álbum de família com seus filhos adotados.
5º Encontro – Dinâmica “O que é Adoção” e “Parceiros ideais”
Neste encontro inicialmente discutimos o que significava o termo “Adoção” e
posteriormente fizemos uma dinâmica sobre os parceiros ideais, buscando discutir a
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questão do perfil de crianças adotadas. Assim, entregamos folhas sulfites aos casais que
ficaram sentados separadamente de seu par e escreveram o que seria um parceiro ideal. Em
seguida, começamos a ler os papéis individualmente a fim de que eles descobrissem de
quem era o parceiro ideal. Posteriormente foi discutido como o perfil ideal é sempre
diferente do real, assim como na adoção.
6ª e 7ª Sessão – Apresentação e Discussão do Filme “Ensinando a Viver”
Exibimos o filme “Ensinando a Viver” (2008) e interrompemos em uma cena problema,
para que os casais escrevessem como imaginavam ser o final da história. Logo após,
passamos o final do filme e discutimos com eles sobre aspectos relacionados ao filme
acerca da adoção e dos temas já discutidos anteriormente. Devido à necessidade de tempo
para atividade às duas sessões foram feitas no mesmo dia.
8ª Sessão – Dinâmica “Dar limites é, dar limites não é”
Entregamos diversas frases sobre educação dos filhos, imposição de limites e condutas
parentais pouco saudáveis. Pedimos para que em grupo, os participantes, decidissem e
classificassem as frases em “dar limites é” e “dar limites não é”. Logo após entregamos
bexigas e pedimos para que fizessem uma competição, tentando estourá-las o mais
rapidamente possível. Em seguida, relacionamos as duas dinâmicas, associados os limites
físicos da bexiga com a questão dos limites da criança e dos próprios pais. Solicitamos por
fim que lessem a Cartilha Adoção Passo a Passo para discussão no próximo encontro.
9ª Sessão e 10ª sessão – Discussão da apostila “Cartilha Passo a Passo” e de casos;
Dinâmica das flores de seda; devolutiva e encerramento do grupo
Neste encontro, primeiramente discutimos um pouco sobre a cartilha Adoção Passo a
Passo. Em seguida, apresentamos um caso que atendemos no semestre anterior, do casal S.
e F., que adotaram 3 crianças e depois devolveram duas. Logo após, fizemos uma dinâmica
das flores de seda, em que uma folha de papel é amassada e depois se transforma em uma
flor. Associamos essa dinâmica com as experiências de vida e experiências do grupo e
fizemos uma devolutiva da sessão. Logo após, fizemos um coffe break e os casais
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conheceram V.O. e M.S. que são as crianças adotas por M.F. e J.C.. As duas sessões
aconteceram no mesmo dia devido ao tempo necessário para as atividades.
2.3 Análise dos dados
Durante todas as sessões realizávamos anotações sobre comportamentos, dúvidas,
angústias, emoções, acontecimentos, falas que revelassem aspectos importantes da
evolução do grupo e que pudessem ser utilizados nas sessões seguintes. Esses dados foram
analisados à luz da Psicologia Social Comunitária e categorizados como está explicitado a
seguir.
2.3.1. Motivos da adoção
Foi possível perceber que como descrito na literatura, muitos casais optam pela
adoção como uma forma de reparar a impossibilidade de terem filhos biológicos. Assim
pudemos ver falas que ilustram o sofrimento pelo qual os pais passam e o luto que
vivenciam. Também observamos o próprio questionamento dos casais acerca de sua
motivação para a adoção, como nos seguintes relatos:
“temos que ter muito claro se você está adotando por você ou pela
criança.”
“depois que cuidei das feridas, estou bem melhor agora e me sinto
preparada e decidida a adotar.
Conforme Weber (1998), a adoção tem sua imagem exclusivamente associada aos
interesses dos adotantes. O que faz com que pensemos também sobre as reais motivações
de quem adota, evidenciando a importância de pensar nos interesses das crianças. Em
alguns relatos podem-se evidenciar elementos nesse sentido como:
"adotar é um ato de coragem do casal em acolher uma criança”.
“[adoção é uma] Forma de fazer a constituição de uma nova
família, amor, carinho, nova chance para a criança que vai ter
uma família.”. [grifo nosso]
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No entanto, com o avanço das intervenções, pudemos perceber outros relatos que
evidenciaram outro modo de enxergar a adoção como:
“´Não importa o perfil ou o passado. Eu quero um filho para
amar”
“Adoção é um ato de amor, doação, troca recíproca de
experiência”.
Em um estudo feito por Costa (2003), mostrando quais são os principais motivos
para adoção, o que ficou em primeiro lugar na pesquisa foi o “desejo de exercer a
maternidade/paternidade”, seguido por “ajudar o próximo”. Além disso, foram apontados
outros motivos como; substituir um filho natural falecido; preencher a solidão, dentre
outras. Nos relatos obtidos em nosso grupo, pudemos evidenciar algumas falas que vão ao
encontro dos resultados encontrados por Costa. Assim:
“quando eu perdi o nenê, nós tivemos que enterrar porque já tinha
oito meses. E eu não tinha nem forças para levantar da cama.”
"Eu agora desisti [de tentar engravidar], o que não era para ser
não vai ser, vou ter um filho de qualquer jeito, não vai ser da minha
barriga, mas vai ser do coração".
Nessas falas de M.B. e V. pudemos evidenciar que durante as intervenções no grupo
eles foram vivenciando o luto e refletindo sobre como ao adotarem ou até mesmo terem um
filho biológico teriam uma nova criança e não o filho falecido. Esse caminho que eles
percorram de elaborar essa experiência foi em grande parte também compartilhado pelos
demais membros do grupo, tanto no que se refere a ajudarem ao casal M.B. e V. como
também de elaborarem suas próprias experiências, o que discutiremos mais adiante sobre o
sentimento de pertença grupal.
2.3.2. Mito do amor materno
Acreditamos que a discussão sobre o mito do amor materno, foi importante neste
trabalho, pois em todos os encontros tivemos angústias com relação à maternidade
biológica e a maternidade “não-natural”. Por diversas vezes observamos falas que iam ao
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encontro da maternidade ideologizada, como se o amor materno e paterno fossem naturais e
só pudessem ocorrer com um bebê. Assim, trabalhamos ativamente sobre esse assunto sob
diferentes formas que proporcionaram mudanças de ideologia, manifestas pelo discurso
oral dos participantes, e uma compreensão maior sobre as ideologias nas quais se
fundamentam aquilo que julgamos como “natural”. A tentativa de naturalizar o amor
materno se manifestou nas falas em diferentes momentos, mas principalmente no início das
atividades em que ouvíamos falas como as seguintes:
"Amor é incondicional, os filhos tem que amar os pais, amor é
primeira vista”.
"[durante a sessão em que realizaram o filho de argila] me senti
na sala de ultra-som. É como se cada dia aqui fosse um pré-natal."
Em outras situações nos deparamos com a idéia que se tem que adotar bebê, para
ensinar os hábitos, valores da família desde pequeno, se não pode vir com problemas da
outra família. Nesse sentido são muitas as frases que escutamos em vários encontros e
geralmente eram ditas por J., que manteve essas ideias até no último dia de encontro,
seguem algumas frases:
“tem que adotar bebê, é muito mais fácil”
“Depois de grande já é mais difícil, vem com manias”
Com o avanço das intervenções pudemos observar falas que evidenciavam como o
amor e, sobretudo o amor materno se trata de um processo e é uma construção social. Nesse
sentido:
“O amor é como uma plantinha tem que regar sempre, se regar
demais morre, se regar de menos também morre”
2.3.3. Diferenças entre filhos biológicos e adotivos
Podemos perceber que em situações típicas de uma criança como o fato de uma cena de
birra os pais biológicos interpretam como apenas uma birra, mas os adotivos podem pensar
se é algo referente à relação “não normal” que tem com a criança que gerou aquilo; podem
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achar que a criança não os ama ou que não quer viver com eles mais. No entanto segundo
Weber (1998), isso tudo faz com que pequenos problemas no cotidiano dessas famílias
sejam vivenciados como muito mais graves e angustiantes nas famílias adotivas.
Com isso enfatizamos a importância da participação em grupos após a adoção para que
os casais continuassem a discutir suas dúvidas. E realizamos diversas discussões sobre
como os filhos adotivos não são diferentes dos filhos biológicos, a não ser pela condição já
evidente de cunho biológico. A seguir alguns exemplos de falas dos participantes:
"os filhos são bem diferentes um do outro e dão muito trabalho,
independente se é adotivo ou biológico".
"fica claro que nós iremos moldar a criança com os nossos
costumes, não importa se é biológico ou adotivo”.
Um momento marcante foi o da troca dos filhos na atividade da argila no 4º encontro.
Devido à expectativa e o desejo que se cria com relação aos filhos, os casais foram
surpreendidos pela troca que realizamos. Assim, discutimos sobre como um desejo, uma
idealização são sempre da própria pessoa e que a criança adotada virá com outros aspectos
que o casal não esperavam, assim como a biológica também viria. Por isso a importância da
discussão sobre as fantasias e desejos que esperamos do outro e não sendo possível recebê-
la do modo que achávamos que seria. Nesse sentido, após a troca alguns casais disseram:
"nossa não esperava essa troca, vocês pegaram a gente de
surpresa, mas foi perfeita, porque esperamos algo que não irá vir
do jeito que desejamos”.
“mas eu tinha feito com tantos detalhezinhos, tinha enfeitado
tanto. Tudo bem agora eu vou cuidar dela do meu jeito.”
Houve uma dúvida que surgiu com relação à possibilidade de modificar o nome da
criança adotada. Essa dúvida está muito relacionada com a tentativa de reparar a
impossibilidade de se ter um filho biológico, já que a escolha do nome carrega consigo uma
série de expectativas dos pais com relação ao filho e, portanto, escolher um novo nome
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seria o mesmo que “criar” esse novo filho do “zero”. Nesse sentido um exemplo de como
pensavam é a frase abaixo:
“se fosse bebê não teria problema, mas se fosse maior não seria
legal mudar o nome”.
Após nossas discussões sobre a essa dúvida os casais pareceram concordar que o
nome é edificante da nossa história e, portanto recomenda-se não modificá-lo. Além disso,
esse nome faz parte de um passado que não deve ser esquecido, já que todos temos
passados. Desse modo, muitas discussões foram realizadas sobre como é importante que os
filhos adotivos saibam de sua origem. A.M. contou, por exemplo, sobre um primo seu que
descobriu aos 18 anos que era adotado:
“ficou sem o chão, ele perdeu toda a história dele e nem confia
mais na mãe” (s.i.c.).
2.3.4. Crianças abrigadas
No grupo observamos que poucos casais conheciam abrigos e a situação das
crianças abrigadas. No 3º encontro em que passamos um vídeo sobre as crianças de um
abrigo em Santa Catarina, percebemos que este vídeo causou uma mal estar no grupo,
principalmente pelos discursos das crianças. Eles se espantavam porque as crianças mesmo
tendo sofrido algum tipo de violência, queriam voltar para a família, causando no grupo
muitas dúvidas. Alguns comentários nesse sentido são:
“deu para perceber o quanto essas crianças sofreram e não
entendo porque mesmo assim, ainda querem voltar para a sua
família”
“as crianças querem voltar para a família, por mais que tenham
sofrido”.
No vídeo também foram apresentadas crianças que não querem ser adotadas,
mostrando que estão felizes na instituição. Assim, J.C. comentou que como ele e o M.
visitam há algum tempo abrigos, eles sabem que as crianças de abrigo são muito bem
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cuidadas, nem sempre as crianças querem ser adotadas e contou sobre o menino M.S. que
estavam aguardando a liberação para adotar.
"o M.S. é uma delas [crianças] e que não queria ser adotado, mas
aos poucos foi gostando da ideia”.
Discutimos essa questão conforme Arpini (2003) demonstra que nem sempre as
instituições são vistas como algo “ruim”, assim como as famílias nem sempre é o melhor
local, mais privilegiado e seguro. O que também não significa que todos os abrigos são
bons.
2.3.5. Educação dos filhos: limites e regras
Atrelado aos assuntos anteriores, um tema recorrente foi o referente à educação dos
filhos. Muito se discutiu em diversos encontros sobre como os pais devem e podem educar
seus filhos. As dúvidas foram as mais diversas, assim como as opiniões. De tal modo que
utilizamos o conceito de estilos educativos parentais (GOMIDE, 2003; SARGIANI, 2009),
dissemos que existem vários estudos sobre maneiras como os pais normalmente educam
seus filhos, e mais além de como adultos educam as crianças e os efeitos produzidos por
esse estilo de educação.
Explicamos que essas denominações (estilos educativos parentais) se referem a uma
visão macroscópica, isso é, de vários pais e não de um especifico, e que normalmente nós
acabamos misturando esses estilos, embora predomine um sobre o outro. Também
dissemos que esses estilos educativos em geral se aplicam aos pais por isso recebem esse
nome, mas que todos nós acabamos usando isso com qualquer criança, pois educamos o
tempo todo.
Apresentamos aos participantes as classificações de Gomide (2003) que divide os
estilos educativos parentais em positivos e negativos. Os positivos tendem a favorecer o
desenvolvimento de comportamentos pró-sociais, que são próprios para o bom convívio em
sociedade, enquanto os negativos favorecem o desenvolvimento de comportamentos anti-
sociais, como o de delinquência. Dentre os estilos positivos se encontram:
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• Monitoria Positiva: estratégias de educação adotadas pelos pais que envolvem o
uso adequado de atenção, supervisão e regras bem estabelecidas e controladas;
Alguns exemplos de falas nesse sentido:
“é importante saber separar o lazer, brincando muito com seu
filho, as responsabilidades e dizer o não quando for preciso.
• Comportamento Moral: são as estratégias adotadas que envolvem a aprendizagem
de empatia, senso de justiça, responsabilidade. A transmissão de valores sociais. No
grupo apareceram relatos nesse sentido como:
“os relacionamentos são como cristais que tem que ser lapidados, é
troca e suporte”.
“criança precisa conhecer os seus limites e os limites daqueles que
estão a sua volta, tudo é novidade para uma criança, e ela tem
necessidade de conhecer tudo”
Com relação aos estilos negativos podem ser classificadas como:
• Negligência: esta se refere à posição adotada pelos pais de completa ausência de
cuidados, atenção, afeto para com os filhos;
• Abuso Físico e Psicológico: uso de práticas corporais negativas, surras, ameaças,
chantagens.
“psicotapa, às vezes é necessário, em algumas situações resolve
mais do que qualquer conversa” [essa colocação foi criticada pelos
demais membros do grupo]
• Disciplina Relaxada: o estabelecimento de regras que podem ser ou não
cumpridas; As crianças não podem fazer algo hoje, mas amanhã podem e depois
não podem novamente.
“Tudo tem que se combinado. Se falar que pode ir em três
brinquedos no parque, é só três. Até pode deixar ir no quarto, mas
daí chega, porque senão vai querer ir no quinto”
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• Monitoria Negativa: excesso de supervisão e de regras. É o oposto da Monitoria
positiva, nessa a um excesso de controle da vida dos filhos. (SARGIANI, 2009;
GOMIDE, 2003). Alguns relatos ilustram esse excesso de monitoria:
“Pressionei muito a Valentina [boneca de argila] por isso ficou
amassada”
• Punição Inconsistente: uso de punições mais graves ou menos graves para uma
mesma infração, de acordo o humor de quem avalia;
“nem todos os dias são bons dias, tem o dia da bronca, pois amar é
também colocar limites”.
2.3.6. Relacionamento do casal
Tivemos uma atividade no 5º encontro em que o propósito foi o de trabalhar a
questão do perfil de crianças a serem adotadas, mas, além disso, também trabalhamos com
essa atividade o parceiro ideal e, por conseguinte os relacionamentos dos casais. E foi
interessante que o assunto tornou-se muito polêmico, pois evidenciamos o quanto
idealizamos alguém que não existe, buscando construir um modelo de ideal.
Nesse mesmo sentido para Sarti (2005) ainda que a família continue sendo objeto de
profundas idealizações, nos dias atuais, as influências pelas quais vem passando tem
tornado praticamente impossível que se possa aceitar a idéia de um único modelo
“adequado” de família. Assim:
”e o peso está tudo sobre a mulher, o homem não sofre”.
“a diferença é que não é o homem que leva as agulhadas, mas sofre
junto” (contestando a afirmação anterior)
Segundo Sarti (2005) houve mudanças muito significativas que se devem,
principalmente, as inovações tecnológicas que surgiram e que modificam a reprodução
humana. Atualmente é possível ter filhos a partir de inseminação artificial e rebuscadas
técnicas laboratoriais, por exames de DNA se obriga ao reconhecimento da paternidade etc.
O avanço dos estudos de genética já nos possibilitam estimativas futuras como soluções
para a infertilidade e escolha de características físicas dos filhos, que alteram
22
significativamente a visão natural da família. Assim, F. e J. discordaram muito nesse 5º
encontro, abaixo temos um relato de F.:
“no início eu não concordava com a fertilização, porque é algo
forçado, não é algo natural, não é coisa de Deus, preferia a
adoção”.
Este tema foi muito interessante de ser trabalhado, pois ele não estava no
cronograma, mas percebemos que o grupo precisava deste momento de escuta e discussão,
principalmente por dificuldades no relacionamento entre F. e J. Todo o grupo participou
com comentários, conforme percebiam dificuldades no entendimento do casal F. e J.
Acreditamos que abrimos um espaço de reflexão, para o grupo ter um olhar mais cuidadoso
com quem está do seu lado. No entanto trabalhar com famílias requer a abertura para uma
escuta, a fim de localizar os pontos de vulnerabilidade, mas também os recursos
disponíveis. Sendo que é importante se destacar que assim como o amor materno, a família
ideal também se trata de uma ideologia e que precisa ser desnaturalizada.
2.3.7. Sentimento de pertença grupal
No início as pessoas estavam se conhecendo, percebíamos uma fragilidade entre
alguns casais, a angústia, o medo, as dúvidas, mas, a partir do terceiro encontro houve uma
interação muito forte no grupo, que foi se fortalecendo a cada encontro. Todos
participavam das discussões e nas atividades, sempre com respeito pelo outro, independente
da classe social, todos eram iguais, com um único objetivo adotar um filho.
Assim, Lane (1984), afirma que toda ação transformadora da sociedade só pode
ocorrer quando indivíduos se agrupam. A função do grupo é definir papéis, e
consequentemente, a identidade social do indivíduo, garantir a produtividade social.
Podemos perceber a produtividade do grupo a partir das falas abaixo:
“foi a melhor coisa ter participado do grupo, nos últimos tempos eu
tenho me sentido muito emocionada, mas é bom. Antes eu não tinha
nem forças para falar sobre o que aconteceu com a gente, mas de
uns tempos para cá eu to falando mais e não tá doendo mais
tanto.”
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“foi uma prazer vir para cá todos os sábados e é uma pena que
acabou, durante a semana eu ficava conversando com todo mundo
sobre o que discutíamos aqui, até com meus pais no almoço de
domingo. No começo eu pensei que ia ser mais uma questão
burocrática, mas quando começamos eu vi que não era isso”.
O grupo tinha diversas culturas, valores e história de vida diferente, mas como
afirma Lane (1984) quando existe um propósito em comum, podemos discutir experiências,
perceber que todos têm problemas, mas, cada um tem atitudes diferentes em lidar com
algumas situações, como nas falas que iremos mencionar abaixo:
“nosso sofrimento não é tão grande assim. Eu achava que meu
problema era o maior do mundo. Quando conheci outras pessoas
eu vi que meu problema era um grãozinho de arroz.”
Podemos afirmar, então, que o grupo se consolidou como um grupo independente
conforme mencionado por Lane (1984). Os grupos independentes são aqueles em que a
liderança é amplamente distribuída, pois o grupo já acumulou experiências e
aprendizagens. De tal modo, que os recursos materiais aumentam e as metas fundamentais
quando são alcançadas possibilitam novas metas que objetivam o desenvolvimento pleno
dos membros do grupo. Dessa forma vimos ao longo das semanas os assuntos sendo
renovados e não se esgotando permitindo sempre que um novo olhar ou uma nova
informação fosse agregada, discutida e partilhada por todos.
O sentimento de pertença ao grupo fez com que cada um dos participantes se sentisse parte
de uma unidade maior e que, portanto deveriam contribuir com esta sem se sentirem
menosprezados ou inferiores. O espaço foi rico e proveitoso, permitindo a discussão não só
de temas referentes a adoção como outros que se referiam a relacionamentos do próprio
casal. Esse sentimento de pertença grupal foi o que possibilitou a ação transformadora do
grupo.
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3 .Considerações Finais
Como evidenciamos em nossa fundamentação teórica, várias transformações
ocorreram no decorrer da história em relação ao cuidado das crianças. Desde uma infância
negada (que não existia) até os dias atuais são inúmeras as mudanças que possibilitaram o
reconhecimento dos direitos infantis (ARIÈS, 1981). Aqui no Brasil, por exemplo, isso
culminou na promulgação do ECA (Estatuto da criança e do adolescente) e na criação dos
Conselhos Tutelares. Ainda assim, após todas essas mudanças, temos muitas crianças
sofrendo diversas violências, físicas, psicológicas, sendo uma das mais comuns, o
abandono.
Os números de crianças abandonadas são alarmantes e por outro lado também
observamos o alto número de famílias que se interessam pela adoção. Todavia, de modo
geral, essa escolha é marcada por sofrimento, angústia, dor e expectativas dos casais que
buscam a adoção por diversos motivos. Sendo, que dentre os motivos mais comuns, o
maior deles, ou pelo menos o mais comum, é a impossibilidade de ter filhos biológicos, ou
ainda, a tentativa de substituir um filho perdido (morto). O que faz com que a adoção seja,
na maioria das vezes, uma expectativa de reparação para casais que gostariam de ter um
filho e que não podem por diferentes motivos e por outro lado uma expectativa por parte
das crianças de terem uma nova família. Evidentemente que a partir de nossa perspectiva
teórica, não consideramos isso como uma regra, mas como algo que acontece de maneira
mais frequente, considerando-se o contexto sócio-histórico no qual estamos inseridos.
Nesse sentido, percebemos que muitos mitos permeiam a opção pela adoção, por
exemplo, o mito de que após a adoção torna-se mais fácil engravidar, o que gera uma
expectativa infundada. Além desse, há ainda outros mitos como o de que crianças mais
velhas não devem ser adotadas porque “já aprenderam coisas ruins, não podem mudar”.
Bem como são comuns as tentativas de se adotar um bebê parecido com o casal para evitar
que a sociedade comente que a criança é adotada, como se isso fosse algo prejudicial ou de
menor valia em uma relação entre pais e filhos. Todos esses mitos surgiram e foram
discutidos no grupo com o objetivo de desmistificá-los.
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Nesse mesmo sentido, destacamos que a visão da psicologia por muito tempo esteve
atrelada a consolidação e divulgação de muitas ideologias que favoreceram a cristalização
desses mitos, como bem ressalta Martín-Baró (1987). Assim, desde o princípio nosso
esforço foi o de caminhar no sentido oposto ao de uma psicologia naturalizante e promover
a reflexão sobre essas ideias “naturais”. De tal modo que discutimos o papel da psicologia
de maneira crítica em todas as supervisões das quais participamos, a fim de que
pudéssemos também ao falar com o grupo tentar mostrar outro olhar da psicologia sobre a
questão da maternidade, paternidade, filiação e adoção. Tanto é que alguns relatos
manifestados no grupo foram ao encontro do que nos estávamos discutindo em supervisão,
dizendo, por exemplo, que imaginavam que a Psicologia iria falar outra coisa e ressaltar o
papel da mãe biológica e do aleitamento materno como fundamentais na constituição
humana. Embora não neguemos tal importância não lhes atribuímos papel fundamental,
indispensável e central como na abordagem psicanalítica ou ainda em uma perspectiva
rousseauniana (BADINTER, 1985), e que, portanto, seriam “prejudiciais” em caso de
adoção.
Ainda acreditamos ser importante ressaltar que a criança adotada não deve ocupar o
lugar de uma criança que partiu ou que nem chegou, e sim de uma criança que pode ser
amada e participar de uma nova família, ocupando o seu próprio lugar de filho. Por isso
ressaltamos a importância dos casais participarem do grupo preparatório de adoção, e
enfatizamos a relevância do tema dentro da perspectiva da Psicologia Social Comunitária,
bem como também enfatizamos a participação dos adotantes em grupos de
acompanhamento pós-adoção.
Nossa ênfase na participação dos grupos se explica, porque evidenciamos com esse
trabalho como o sentimento de pertença grupal foi fundamental e edificante na história de
cada um dos casais que participaram, permitindo não só que continuassem a participar dos
grupos, mas com que também se apoiassem, se compreendessem, trocassem informações e
experiências e se fortalecessem. Esse sentimento de pertença grupal também foi
fundamental para que pudéssemos realizar as discussões de maneira que todos
participassem ativamente e sem julgamentos. Principalmente ao considerarmos a
heterogeneidade do grupo.
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Assim, podemos afirmar que o grupo foi satisfatório pela interação, respeito,
carinho e admiração que os membros tiveram uns com os outros, sem julgamentos. O que
fez com que os encontros tenham sido ricos de conteúdo e esclarecimentos para e pelo
próprio grupo. O que é também uma premissa da Psicologia Social Comunitária, já que as
comunidades devem elas mesmas construir o seu saber e o Psicólogo é apenas um
catalisador que auxilia nessa construção (MONTERO, 2002).
Por isso, um de nossos esforços foi para que os participantes do grupo percebessem
as contradições que se relacionavam com essas ideologias cristalizadas sobre a forma de
mitos, tal como o mito do amor materno. No grupo, aos poucos os membros foram
percebendo que o amor não é espontâneo e nem natural, mas sim construído. Desse modo, a
adotar não é reparar uma impossibilidade, mas é criar um novo caminho. Encerramos o
presente relatório não apenas com conclusões, mas com possibilidades também,
possibilidades de continuação e de divulgação desse conhecimento que foi de extrema
relevância para essas famílias e para nós mesmos enquanto Psicólogos.
4 . Apresentação do local e condições nas quais a atividade de estágio aconteceu
O núcleo de estudo e atendimento psicológico (NEAP), foi criado a partir da
implantação do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul, tendo em vista as
exigências da Lei nº 4119 de 27-08-62, que regulamenta a profissão de psicólogo e dispõe
sobre o curso de psicologia, no qual também se delimita a organização e oferta de serviços
clínicos e de aplicação à educação e da psicologia. Dessa maneira, o núcleo de estudo e
atendimento psicológico é um centro de estudos interdisciplinares e multidisciplinares que
agrupa projetos, mantidos em parceria com o Núcleo Jurídico e a Clínica de Odontologia.
A forma de trabalho proposta pela Universidade desenvolve estágios de atendimento
em todas as áreas. Representando 480 horas de atuação entre o 9º e 10º semestre,
distribuídos em: supervisão, pesquisa, atendimento. Todos os serviços, regras e organização
estão regulamentados por um regimento interno. Os projetos de atendimentos recebem
orientação dos professores, entre um grupo de no máximo 10 alunos, em 6 horas-aulas em
cada área, por semana. O NEAP procura oferecer aos alunos avaliação e desenvolvimento
de habilidades que vão ser utilizadas na prática quando da atuação profissional.
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5. Referências Bibliográficas
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crianças e adolescentes. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 23, n. 1, março 2003. Disponível
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29
6. Memorial
Desde a nossa escolha do tema até a entrega do relatório final foram muitas alegrias,
preocupações, expectativas e horas de dedicação. Considerando o papel que tínhamos
enquanto estagiários de psicologia, responsáveis por vidas, por famílias, por decisões,
entendemos que nosso trabalho, desde o início, deveria ser pautado pelo rigor científico,
pelo cuidado ético e pelos nossos esforços pessoais que deveriam ir além do que era
exigido. Assim, participamos de cursos extras de preparo para candidatos a adoção, pois
queríamos vivenciar as suas angustias, medos e expectativas. Isso foi muito importante,
pois ao conduzirmos o grupo nossa experiência já era ampla em exemplos e experiências.
Nesse mesmo sentido, embora não tenhamos conseguido formar um grupo com
nosso primeiro objetivo (adoção tardia), não desistimos do tema e cada uma das entrevistas
que realizamos foi compondo, então, nosso repertório de experiências. Posteriormente esse
conhecimento adquirido foi utilizado em benefício do grupo que fizemos, como quando
utilizamos essas experiências para discutir os casos com os participantes. Durante todo o
ano, nós nos percebemos cada vez mais envolvidos com o tema da adoção, sua relevância
social e com a área da Psicologia Social Comunitária. Nosso envolvimento foi além das
horas de supervisão ou de estágio e o tema fazia parte de nosso cotidiano, nós vivemos
intensamente essa experiência e isso foi importante e notado pelos próprios participantes do
grupo.
Para finalizar gostaríamos de dizer que somos gratos pela oportunidade de ter feito
parte deste trabalho tão rico e importante. Nosso estágio foi vivo, no sentido que a demanda
se transformou diferentes vezes, como ficou evidenciado no relato, a cada semana era algo
totalmente novo e nós tínhamos de nos adaptar, pelo grupo e com o grupo. Embora nós
tenhamos nos orientado pela noção de desnaturalização da maternidade, enfatizamos em
nosso título também o processo grupal que foi sem dúvida o ensinamento que o grupo nos
proporcionou. Unidos pelo mesmo objetivo no grupo éramos uma só unidade. Esse estágio
nos enriqueceu sobremaneira em nossa formação enquanto Psicólogos. Ao mesmo tempo
em que percebemos a gratidão e a satisfação na participação pelos membros do grupo, nós
também nos percebemos muito gratos pelo carinho e pelos ensinamentos que nos
propuseram em todos os encontros, foi uma imensa satisfação fazer parte deste estágio.