o programa bolsa famÍlia no brasil e...

31
O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO BRASIL E SUAS CARACTERÍSTICAS NO MUNICÍPIO DE EWBANK DA CÂMARA Leonardo José de Souza Resende RESUMO O Programa Bolsa Família, é um programa social de transferência direta de renda “condicionada”, criado em outubro de 2003 no Governo Lula. O programa surgiu com o objetivo de combater a pobreza e a extrema pobreza. Neste estudo foram levantados dados do programa a nível nacional, através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Além disso, foi realizado um levantamento sobre os beneficiários do programa no município de Ewbank da Câmara localizado na Zona da Mata do Estado de Minas Gerais. O objetivo deste trabalho é levantar informações e analisar o perfil dos beneficiários do programa em Ewbank da Câmara e fazer um paralelo com algumas informações pesquisadas para o Brasil. O programa atende a 206 pessoas, correspondendo a 15,96% dos domicílios do município. As bolsas variam de R$ 18,00 a R$ 172,00, sendo responsável por participar com valores entre 1,4% e 100% da renda total das famílias beneficiárias. Além disso, cerca de 50% dos beneficiários recebem bolsas de até R$70,00 por mês. Por fim, a maior freqüência de beneficiários possui 4ª série incompleta do ensino fundamental e não trabalha. Tem-se portanto, um programa de elevada importância municipal. Palavras-chave: Programa Bolsa Família. Renda. Pobres.

Upload: lenga

Post on 09-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO BRASIL E SUAS

CARACTERÍSTICAS NO MUNICÍPIO DE EWBANK DA CÂMARA

Leonardo José de Souza Resende

RESUMO

O Programa Bolsa Família, é um programa social de transferência direta de renda “condicionada”, criado em outubro de 2003 no Governo Lula. O programa surgiu com o objetivo de combater a pobreza e a extrema pobreza. Neste estudo foram levantados dados do programa a nível nacional, através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Além disso, foi realizado um levantamento sobre os beneficiários do programa no município de Ewbank da Câmara localizado na Zona da Mata do Estado de Minas Gerais. O objetivo deste trabalho é levantar informações e analisar o perfil dos beneficiários do programa em Ewbank da Câmara e fazer um paralelo com algumas informações pesquisadas para o Brasil. O programa atende a 206 pessoas, correspondendo a 15,96% dos domicílios do município. As bolsas variam de R$ 18,00 a R$ 172,00, sendo responsável por participar com valores entre 1,4% e 100% da renda total das famílias beneficiárias. Além disso, cerca de 50% dos beneficiários recebem bolsas de até R$70,00 por mês. Por fim, a maior freqüência de beneficiários possui 4ª série incompleta do ensino fundamental e não trabalha. Tem-se portanto, um programa de elevada importância municipal. Palavras-chave: Programa Bolsa Família. Renda. Pobres.

13

INTRODUÇÃO

O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa social do Governo Federal,

vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS). Este

programa foi criado em outubro de 2003, com o objetivo de combater a pobreza e a extrema

pobreza. O PBF é um dos pilares que integra o Programa Fome Zero e atende atualmente mais

de 11 milhões de famílias em todo o país.

Nesse estudo procurou-se levantar informações primárias do município de Ewbank da

Câmara, localizado na mesorregião da Zona da Mata de Minas Gerais. Foram também

levantadas informações secundárias de diversas outras fontes. O município possui atualmente

grande dependência do Fundo de Participação Municipal (FPM). A atividade econômica local

ainda é muito pequena e o Produto Interno Bruto per capita é inferior a média das diversas

regiões político-administrativas do Brasil. A oferta de trabalho também é restrita e a cidade

não consegue atender a demanda por trabalho de seus moradores.

Como metodologia para elaboração desse estudo, utilizou-se, levantamento de

informações secundárias sobre o Programa Bolsa Família no Brasil. Além disso, houve a

elaboração e aplicação de questionários na região de estudo e por fim, tabulação e análise dos

dados.

Este estudo está dividido em quatro partes, além da conclusão. Na primeira parte fez

uma caracterização geral do PBF e do município estudado. Em seguida, descreveu-se a

metodologia empregada para alcançar os objetivos propostos. Na terceira parte houve a

análise dos dados primários e secundários levantados e por fim, a conclusão.

O objetivo geral dessa pesquisa foi levantar informações sobre o Programa Bolsa

Família e analisar o perfil dos beneficiados no município de Ewbank da Câmara. Além disso,

procurou-se fazer um paralelo com informações do programa a nível nacional.

Como objetivos específicos citam-se:

• levantar a participação do PBF na renda total dos domicílios;

• quantificar os valores mínimos, máximos e médios pagos pelo PBF no município

de Ewbank da Câmara;

• levantar o perfil educacional e os estado civil dos beneficiários do PBF em

Ewbank da Câmara;

14

• comparar o percentual de domicílios que recebem o PBF em Ewbank da Câmara,

com os valores das Unidades da Federação e do Brasil.

15

1 CARACTERIZAÇÃO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E PERFIL

DO MUNICÍPIO DE EWBANK DA CÂMARA

1.1 O Programa Bolsa Família

O Programa Bolsa Família é um programa social do Governo Federal, vinculado ao

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), de transferência direta de

renda condicionada, que tem como objetivo romper o círculo de perpetuação da miséria e

emancipar economicamente e socialmente as famílias em situação de risco (MDS, 2008). O

programa foi criado em outubro de 2003 pela lei nº. 10.836/04 e beneficia famílias pobres,

com renda mensal per capita que varia de R$ 60,00 até R$ 120,00, e extremamente pobres,

com renda per capita inferior a R$ 60,00. O PBF unificou alguns programas sociais do

Governo Federal (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação e o Auxílio Gás) e

atende atualmente cerca de 11,1 milhões de famílias, em todos os municípios brasileiros.

O PBF é um dos pilares que integra o Programa Fome Zero e possui três dimensões

essenciais à superação da fome e da pobreza, conforme MDS (2008): 1) promoção do alívio

imediato da pobreza, por meio da transferência direta de renda à família; 2) reforço ao

exercício de direitos sociais básicos nas áreas de Saúde e Educação, por meio do cumprimento

das condicionalidades, o que contribui para que as famílias consigam romper o ciclo da

pobreza entre gerações; 3) coordenação de programas complementares, que têm por objetivo

o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários do Bolsa Família consigam

superar a situação de vulnerabilidade e pobreza.

Podem fazer parte do Programa Bolsa Família as famílias com renda mensal de até R$

120,00 (cento e vinte reais) por pessoa devidamente cadastrada no Cadastro Único para

Programas Sociais (CadÚnico). A renda da família é calculada a partir da soma do dinheiro

que todas as pessoas da casa ganham por mês, como salários e aposentadorias. Esse valor

deve ser dividido pelo número de pessoas que vivem no domicílio, obtendo assim a renda per

capita da família. Nessa conta não entram os benefícios de outros programas como o

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e Agente Jovem, portanto uma família

pode obter benefício de mais de um programa social. Famílias que se encontram na faixa de

16

renda de até meio salário mínimo - R$ 207,50 per capita - também podem se cadastrar, pois

existem outros programas sociais, tanto no nível Federal, quanto Estadual e Municipal,

destinados a essa faixa de renda (MDS, 2008).

A seleção das famílias beneficiárias do PBF é feita com base nas informações

inseridas pelo município no CadÚnico. Cada município tem uma estimativa de famílias

pobres, considerada como a meta de atendimento do Programa naquele território. Essa

estimativa é calculada com base em uma metodologia desenvolvida com apoio do Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e tem como referência os dados do Censo de 2000 e da

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2004, ambos do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE). Todavia, o cadastramento não implica na entrada imediata

dessas famílias no Programa e no recebimento do benefício. Com base nas informações

inseridas no CadÚnico, o MDS seleciona, de forma automatizada, as famílias que serão

incluídas no Programa a cada mês. O critério principal é a renda per capita da família e são

incluídas primeiro as famílias com a menor renda.

Os valores pagos pelo PBF variam de R$18,00 a R$172,00, de acordo com a renda

mensal por pessoa da família e o número de crianças e adolescentes até 17 anos1. No caso de

famílias que migraram de programas remanescentes (Programas Bolsa Escola, Bolsa

Alimentação, Cartão Alimentação e Auxílio-gás) o valor do benefício pode ser maior, tendo

como base o valor recebido anteriormente. É de grande importância que os benefícios sociais

sejam em dinheiro.

Suplicy (2002, p.141) diz que:

“Se o objetivo é erradicar a fome e a miséria, é preciso compreender que a pessoa pobre necessita mais do que matar a fome. Se está fazendo frio, precisa comprar um agasalho ou um cobertor. Se a telha ou a porta de sua casa estão avariadas, é preciso consertá-las. Se um filho ficou doente, é preciso comprar remédio com urgência. Se é o dia do aniversário de uma filha, é possível que a mãe queira lhe dar de presente um par de sapatos. Se a vizinha está vendendo um tipo de alimento muito barato, é bom comprar, porque vai sobrar mais outras coisas.”

Os benefícios financeiros estão classificados em dois tipos, de acordo com a

composição familiar (MDS, 2008): i) básico: no valor de R$ 58,00, concedido às famílias

com renda mensal de até R$ 60,00 por pessoa, independentemente da composição familiar; ii)

1 No dia 25 de junho de 2008 os valores concedidos pelo Programa Bolsa Família, foram reajustados em 8% (oito por cento). Os valores pagos hoje variam de R$ 20,00 (vinte reais) a R$ 182,00 (cento e oitenta e dois reais).

17

variável: no valor de R$ 18,00, para cada criança ou adolescente de até 15 anos, no limite

financeiro de até R$ 54,00, equivalente a três filhos por família.

Existe ainda o Benefício Variável de Caráter Extraordinário (BVCE), que é concedido

às famílias dos Programas Remanescentes, cuja migração para o PBF implique perdas

financeiras à família. Nestes casos, o valor concedido é calculado caso a caso e possui prazo

de prescrição, além do qual deixa de ser pago, nos termos da Portaria MDS/ GM nº 737, de

15/12/2004.

A tabela abaixo mostra os valores de benefícios que as famílias integrantes do

Programa podem receber:

Tabela 1 - Critérios de Elegibilidade e Benefícios do PBF

Critério de Elegibilidade

Situação das

Famílias

Renda Mensal per

capita

Ocorrência de

crianças /

adolescentes

0-15 anos,

gestantes e

nutrizes

Quantidade e

Tipo de

Benefícios

Valores do

Benefício

(R$)

1 Membro (1) Variável 18,00

2 Membros (2) Variável 36,00 Situação de

Pobreza

De R$ 60,01 a

R$ 120,00 3 ou +

Membros

(3) Variável 54,00

Sem ocorrência Básico 58,00

1 Membro Básico + (1)

Variável

76,00

2 Membros Básico + (2)

Variável

94,00

Situação de

Extrema

Pobreza

Até R$ 60,00

3 ou +

Membros

Básico + (3)

Variável

112,00

Fonte: MDS, 2008. Elaboração do autor.

18

Apesar da oferta de serviços públicos existentes no Brasil, geralmente as políticas

públicas, em especial as políticas sociais, são acessadas em maior medida e com mais

intensidade pelas famílias menos pobres do que pelas famílias pobres ou extremamente

pobres. Em grande parte, isso deve-se ao histórico do desenho da oferta pública de serviços de

saúde, educação e assistência social, com base em um modelo de espera que fornece serviços

e benefícios àqueles grupos que os demandam. Esse modelo também pressupõe que aqueles

que não demandam esses serviços e benefícios não necessitam deles (MDS, 2008).

O grupo da população que se encontra em condições de maior pobreza tem

tradicionalmente mais dificuldade para acessar os serviços e benefícios sociais de que

necessitam. Esse problema ocorre, em parte, devido à dificuldade na acessibilidade da oferta

existente e, em parte, à situação de desvinculação dessas famílias das redes sociais existentes.

Com base nesse diagnóstico, conclui-se, então, que seria necessário desenvolver

estratégias que, de um lado, facilitassem o acesso das famílias mais pobres aos serviços e

benefícios disponibilizados para elas pelo Estado, e, de outro, as vinculassem às redes sociais

existentes. A estratégia escolhida pelo Bolsa Família foi condicionar a transferência monetária

a compromissos socias que deveriam ser cumpridos pela família e garantidos pelo poder

público no âmbito da saúde e da educação (MDS, 2008).

Portanto, as condicionalidades foram propostas como um mecanismo para elevar o

grau de efetivação de direitos sociais por meio da indução da oferta e da demanda por

serviços de saúde e de educação na esfera municipal. Para as famílias beneficiárias, o

cumprimento da agenda de condicionalidades visa à indução aos cuidados essenciais com a

saúde e a promoção de avanços na escolarização. Para o poder público, as condicionalidades

servem para estimular a ampliação da oferta local de serviços públicos de saúde e de

educação, monitorar as políticas executadas em âmbito municipal e identificar as famílias em

situação de maior vulnerabilidade e risco social, para que se dirijam a elas ações específicas.

1.2 O Município de Ewbank da Câmara

Ewbank da Câmara pertenceu ao Município de Juiz de Fora – MG, como povoado do

distrito de Paula Lima, até a criação e instalação do distrito. No dia 06 de Janeiro de 1926

através da emenda n° 119, apresentada pelo então Senador José Vieira Marques, e por decisão

19

do então Exmo.Sr. Governador de Minas Gerais, Raul Soares, o distrito de Ewbank da

Câmara foi anexado ao município de Palmyra, hoje, Santos Dumont.

Em virtude dos documentos apresentados à Comissão Especial de Divisão

Administrativa do Estado de Minas Gerais, pelo então Deputado Estadual Wilson Modesto

Ribeiro, conforme consta do processo nº. 162, datado de 13/02/1962, foi o distrito de Ewbank

da Câmara incluído no Projeto de Lei nº. 5.225, oriundo da Assembléia Legislativa do Estado

de Minas Gerais e transformada na Lei Estadual nº. 2.764, sancionada pelo então Governador

de Minas Gerais, doutor José de Magalhães Pinto, no dia 30/12/1962, criando o Município de

Ewbank da Câmara (PREFEITURA, 2008).

O município de Ewbank da Câmara está localizado na zona da mata mineira, fazendo

parte da micro-região 65 (Juiz de Fora), sendo esta formada por 33 municípios. Com uma área

de 104 km² o município responde por cerca de 1,9% da superfície da micro-região, tendo uma

densidade demográfica de 34,29 hab/km² (BRASIL CHANNEL, 2008; IBGE, 2008; IGA,

2008).

Na Figura 1, o município de Ewbank da Câmara está localizada na posição nº. 134 da

mesorregião da Zona da Mata de Minas Gerais. O município está localizado a cerca de 40 Km

de Juiz de Fora, a 14,9 km de Santos Dumont e 243 Km de Belo Horizonte. A população total

do município é de 3.567 habitantes, segundo estimativa do IBGE (2008).

Fonte: Brasil Channel (2008). Figura 1 – Municípios da Zona da Mata e Destaque para Ewbank da Câmara

20

O município possui atualmente grande dependência do Fundo de Participação

Municipal (FPM). A atividade econômica local ainda é muito pequena e baseia-se

praticamente na agropecuária, indústrias de pequeno porte e prestação de serviços, sendo este

último o mais representativo. O Produto Interno Bruto (PIB), a preço de mercado, do

município foi de R$ 13.121 mil em 2005, sendo desagregado em: Agropecuária, R$ 1.421

mil; Indústria, R$ 1.659 mil; Serviço R$ 9.374 mil. Com isso, o PIB per capita do município

está em torno de R$ 3.678 reais por ano, bem abaixo da média brasileira e de Minas Gerais

que foi de R$11.657 e R$ 10.012, respectivamente em 2005 (IBGE, 2007).

A oferta de trabalho ainda é muito restrita e a cidade não consegue atender a demanda

por trabalho de seus moradores, ocorrendo um deslocamento diário para cidades vizinhas.

Assim, o município de Ewbank da Câmara caracteriza-se como uma cidade pendular ou

dormitório, ou seja, há uma migração diária de grande parte de sua população até os postos de

trabalho.

O Programa Bolsa Família fechou o ano de 2007 com um número de 206 famílias

beneficiadas no município. O número de domicílios cadastrados atualmente no município gira

em torno de 1.290 registros, sendo assim, um em cada seis domicílios recebe o benefício do

PBF.

21

2 METODOLOGIA

A metodologia empregada nessa pesquisa pode ser divida em quatro partes principais.

Na primeira parte procurou-se levantar informações sobre o Programa Bolsa Família no

Brasil. Para isso foi feito um levantamento bibliográfico e pesquisas oficiais relativas ao tema.

A principal fonte de informação nessa etapa foi a Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios (PNAD) realizada pelo IBGE (2006). Também foram consultados sites, cartilhas

disponibilizadas pelo MDS, arquivos históricos e livros, tendo como âncora a obra do

Senador Eduardo Suplicy, Renda de Cidadania a Saída é Pela Porta (2002).

Em seguida procurou-se elaborar um questionário para levantamento do perfil dos

beneficiários do PBF no município de Ewbank da Câmara. A estruturação do questionário foi

uma adaptação do CadÚnico, que contem informações socioeconômicas das famílias que

possuem uma renda mensal de até meio salário mínimo per capita. O questionário aplicado

encontra-se no Anexo 1 e possui variáveis qualitativas e quantitativas.

A terceira etapa constou da aplicação dos questionários no município de Ewbank da

Câmara e ocorreu durante o mês de julho de 2008. Do total de 206 famílias que foram

atendidas pelo PBF em 2007, aplicou-se o questionário em 157, ou seja, 76,2% dos

beneficiários. Ressalta-se que todas as localidades do município foram visitadas e os

questionários foram aplicados em residências de todas as ruas do município.

A quarta e última etapa foi a tabulação e análise dos dados. Assim, os dados foram

tabulados no Microsoft Excel e exportados para o software estatístico SPSS for Windows

13.0. Com isso algumas medidas estatísticas foram calculadas, como freqüência, média,

mediana, valores máximos e mínimos e percentis.

Em paralelo a essas, etapas, algumas iniciativas foram tomadas e que trouxeram

benefícios para o estudo. Assim, foram feitas visitas aos gestores e assistentes sociais

responsáveis pela coordenação e execução do programa no município. Houve também a

participação em seminário regional sobre o programa Bolsa Família que ocorreu nos dias 12 e

13 de março de 2008 na escola de governo do município de Juiz de Fora – Mg (SEMINÁRIO,

2008). Neste seminário, estiveram presentes representantes das diversas esferas de governo,

entre eles o Ministério do Desenvolvimento Social. Durante o evento foram discutidos temas

22

em relação ao PBF no que tange a gestão regional e municipal do programa e também em

relação a questões no âmbito da gestão nacional.

23

3 RESULTADOS

3.1 Análise dos Programas Sociais no Brasil

A avaliação sintetizada de alguns programas sociais baseou-se na Pesquisa Nacional

de Amostragem por Domicílio do IBGE (2006). Entre os programas sociais governamentais,

das esferas federal, estadual e municipal, encontram-se aqueles que visam a dar suporte às

unidades domiciliares com rendimentos mais baixos por meio de transferência em dinheiro.

São exemplos disso o Programa Bolsa-Família, o Benefício Assistencial de Prestação

Continuada e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI.

É interessante notar que em um grupo familiar pode existir mais de uma pessoa

recebendo programa social. O fato de existir uma pessoa recebendo, por exemplo, o Benefício

Assistencial de Prestação Continuada, não impede que outro idoso ou portador de deficiência

física residente no mesmo domicílio solicite e passe a receber esse benefício. Esta situação é

conseqüência de que o recebimento de um programa social não é incluído no cômputo do

rendimento familiar, que é usado como parâmetro para determinar a inclusão ou não de outro

morador, ou da família, como beneficiário de outro programa.

Do total estimado de 54,7 milhões de domicílios particulares a partir da PNAD (IBGE,

2006), em cerca de 10 milhões houve recebimento de dinheiro de programa social do Governo

Federal, o que correspondia a 18,3% dos domicílios particulares do País em 2006 (Figura 2).

Na observação regional, os percentuais mais elevados de domicílios em que houve

recebimento monetário de programa social por algum morador em 2006 foram registrados no

Nordeste (35,9%) e Norte (24,6%). Também, em 2004, as parcelas de domicílios com

recebimento de dinheiro de programas foram maiores no Nordeste (32,0%) e Norte (18,2%),

seguidas pelo Centro-Oeste (14%). Essa ordenação foi mantida em 2006, com o Centro-Oeste

alcançando 18%, sendo que a proporção registrada na Região Sudeste se ampliou de 7,9%

(2004) para 10,3% (2006), o que a aproximou da participação observada no Sul (10,5%, em

2004, e 10,4%, em 2006). Assim, excetuando-se o Sul, onde houve estabilidade desses

percentuais, em todas as demais regiões foram observados crescimentos expressivos, de 2004

24

para 2006, da parcela de domicílios em que se houve recebimento de programas sociais por

algum morador.

24,60%

15,60%18,20%

7,90%

32%

10,50%

14%

35,90%

10,40%

18%18,30%

10,30%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

2004

2006

Fonte: IBGE (2006).

Figura 2 – Percentual de Famílias que Recebem Dinheiro de Programas Sociais do Governo, por Grandes Regiões – 2004 e 2006

Em termos estaduais, verifica-se que o percentual de domicílios que recebem dinheiro

de programas sociais é maior em Rondônia, Maranhão e Piauí, todos acima de 40% dos

domicílios (Figura 3). Por outro lado, São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina registraram

percentuais de moradias que recebem programas sociais inferiores a 10%. No Estado de

Minas Gerais cerca de 19,1% dos domicílios receberam o benefícios de algum programa

social, ficando muito próximo do valor médio observado para o Brasil. O Estado de Minas

Gerais é o décimo primeiro estado com menor participação de domicílios recebendo

benefícios de programas sociais.

25

50%

41,30%

40,20%

39%

37,90%

36,80%

34,90%

33,50%

33,30%

31,40%

28,20%

24,70%

24,60%

24%

21,50%

20,10%

19,10%

18,30%

16,20%

16%

13,80%

13,20%

12,40%

11,80%

11%

7,60%

6%

5,80%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Roraima

Maranhão

Piaui

Ceará

Paraíba

Alagoas

Pernambuco

Rio Grande do Norte

Bahia

Tocantins

Acre

Pará

Sergipe

Amazonas

Goiás

Mato Grosso do Sul

Minas Gerais

Brasil

Rondônia

Espirito Santo

Mato Grosso

Amapá

Paraná

Distrito Federal

Rio Grande do Sul

São Paulo

Rio de Janeiro

Santa Catarina

Fonte: IBGE (2006).

Figura 3 – Percentual de Famílias que Recebem Dinheiro de Programas Sociais do Governo, por Unidade da Federação em 2006

26

Em 2006, comparando três importantes programas e mais o somatório dos registros de

outros programas, observou-se a marcante supremacia do Programa Bolsa-Família que foi

referido por 14,9% do total de domicílios no País (Tabela 2). Entre as regiões, o percentual

dos domicílios que receberam dinheiro desse programa pode ser assim classificado: Nordeste

(31,3%); Norte (19,4%); Centro-Oeste; Sudeste (8,2%) e por fim, a região Sul (8,0%).

O recebimento do Benefício Assistencial de Prestação Continuada ocorreu em 2,2%

dos domicílios e do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil em 0,5% dos domicílios. O

agrupamento de outros programas de governo foi citado por 2,2% dos domicílios. No

contexto de cada uma das cinco regiões brasileiras, os percentuais de domicílios em que

houve rendimentos a partir do Programa Bolsa-Família foram superiores aos dos demais

programas. Destaca-se a maior diferença relativa entre aquele programa e os demais nas

regiões Norte e Nordeste. Em referência ao Benefício Assistencial de Prestação Continuada,

observaram-se dois patamares de percentuais de domicílios em que houve recebimento, um

primeiro para Norte (3,8%), Nordeste (3,9%) e Centro-Oeste (3,1%) e um segundo, mais

baixo, para o Sudeste (1,3%) e o Sul (1,2%).

Tabela 2 - Distribuição dos Domicílios Segundo o Recebimento de Dinheiro de Programas Sociais em 2006 (em %)

Grandes Regiões Recebimento de dinheiro de programa social do governo Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Bolsa-Família 14,9 19,4 31,3 8,2 8,0 9,5 Benefício Assistência de Prestação Continuada

2,2 3,8 3,9 1,3 1,2 3,1

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

0,5 0,8 1,0 0,1 0,4 0,8

Total de Programas 18,3 24,6 35,9 10,3 10,4 18,0

Fonte: IBGE (2006). Elaboração do autor.

A transferência de renda que ocorre através dos programas sociais, tem como objetivo

principal alcançar as famílias com os menores rendimentos. O rendimento médio mensal

domiciliar per capita, estimado em 2006 foi de R$ 601,00 para o total de domicílios

particulares (Tabela 3). Já o valor estimado para aqueles domicílios em que houve

recebimento de dinheiro por programas foi de R$ 172,00. Para os que não são atendidos pelos

programas sociais analisados, o rendimento foi de R$ 699,00. Partindo de uma análise

regional sobre o rendimento médio mensal per capita dos domicílios em que houve

recebimento de programa social, pode-se observar que nas regiões Nordeste (R$ 145,00),

27

Norte (R$ 177,00) ocorreram os menores valores, seguidos pelas regiões Sul (R$ 197,00),

Sudeste (R$ 200,00) e Centro-Oeste (R$231,00). O PBF está presente nos domicílios de

acordo com a seguinte ordem em que o rendimento médio per capita foi de: R$ 129,00

(Nordeste), R$ 154,00 (Norte), R$ 175,00 (Sudeste e Sul) e R$ 190,00 (Centro-Oeste).

Tabela 3 - Rendimento Médio Mensal Domiciliar per capita, por Grandes Regiões, Segundo o Recebimento de Dinheiro de Programa Social e o Tipo de Programa em 2006

Rendimento médio mensal domiciliar per capita dos domicílios particulares (R$) Grandes Regiões

Recebimento de dinheiro

de programa social do governo,

no mês de referência, e tipo de programa social do governo

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Total (1) 601 402 361 727 694 662 Houve 172 177 145 200 197 231

Bolsa-Família 149 154 129 175 175 190 Benefício

Assistencial de Prestação Continuada

- BPC

302 283 265 345 323 360

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil -

PETI

147 158 131 169 170 170

Outro Programa Social

198 192 160 210 217 224

Não Houve 699 475 483 790 753 757 Fonte: IBGE (2006). Nota: 1. Em um mesmo domicílio pode haver recebimento de dinheiro de mais de um programa social de transferência de renda do governo. (1) Inclusive as informações dos domicílios sem declaração de recebimento de dinheiro de programa social do governo, no mês de referência.

Do total de domicílios pesquisados em que houve recebimento de dinheiro, através de

programas sociais por algum morador, em 25,1% das residências os rendimentos mensais per

capita foram inferiores a ¼ de salário mínimo, em 36,5% dos domicílios ficou entre ¼ e

menos de ½ salário mínimo, em 28% entre ½ e 1 salário mínimo, em 8,5% entre 1 e menos de

2 salários mínimos e 0,9% equivalente a 2 salários mínimos ou mais (Figura 4).

28

28%

4,70%

25,10%

36,50%

10,30%

24,30%

31,70%

8,50%

26,70%

0,90%0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

Houve Não Houve

Sem rendimento a menos de 1/4 do sálario mínimo

1/4 a menos de 1/2 salário mínimo

1/2 a menos de 1 salário mínimo

1 a menos de 2 salários mínimos

2 salários mínimos ou mais

Fonte: IBGE (2006).

Figura 4 - Distribuição dos Domicílios Particulares, por Recebimento de Dinheiro de Programa Social do Governo, Segundo as Classes de Rendimento Mensal Domiciliar per capita no Brasil em 2006 (em %)

Por fim, o número médio de moradores por domicílio no Brasil foi de 3,4. As regiões

Sul e Sudeste apresentam domicílios menores, de 3,2 moradores. Os domicílios com maior

número de moradores estão localizados nas regiões Nordeste e Norte, com 3,7 e 4,0

moradores por domicílio, respectivamente. No entanto, quando se compara o número de

moradores em domicílios onde houve recebimento de programa social com aqueles em que

não houve recebimento, o primeiro grupo aparece com maior número de moradores, tanto no

caso do Brasil quanto para as diversas regiões.

29

Tabela 4 - Número Médio de Moradores em Domicílios Particulares Permanentes, por Grandes Regiões, Segundo o Recebimento de Dinheiro de Programa Social do Governo em 2006

Número de moradores em domicílios particulares permanente Grandes Regiões

Recebimento de dinheiro de programa social do governo Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-

Oeste Total (1) 3,4 4,0 3,7 3,2 3,2 3,3

Houve 4,6 5,1 4,7 3,2 3,2 3,3 Não houve 3,2 3,6 3,2 3,1 3,1 3,2

Fonte: IBGE (2006). Elaboração do autor. (1) Inclusive os moradores em domicílios sem declaração de recebimento de dinheiro de programa social do governo.

3.2 Análise do Bolsa Família em Ewbank da Câmara

Nos imóveis onde o Programa Bolsa Família está presente, 94,3% dos domicílios se

encontram na área urbana, correspondendo a um total de 148 domicílios, enquanto que 5,70%

dos imóveis ficam na área rural, somando um total de 9 domicílios. Foram levados em conta

todos os questionários válidos dando um total de 157, sendo que cada questionário

corresponde a uma única residência. Da Figura 5 conclui-se que o programa, atende em sua

grande maioria no município, moradores do perímetro urbano da cidade.

94,30%

5,70%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%

Urbanos Rurais

Imoveis

30

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor.

Figura 5 - Localização dos Domicílios Beneficiários do Programa Bolsa Família

A maioria dos imóveis em que os beneficiados do PBF moram são próprios, ou 71,3%

do total pesquisado. Isso totaliza 112 residências. Cerca de 19,7% são imóveis cedidos à

família, o que dá um total de 31 residências e 8,9% dos imóveis são alugados, correspondendo

ao um somatório de 14 residências. Sendo assim pode-se concluir que, apenas uma pequena

parcela da população, menos de 10%, possui gastos com moradia, o que acaba sendo um bom

indicador, já que grande parte dos beneficiados pode direcionar sua renda mensal para outros

gastos (Figura 6).

71,30%

19,70%

8,90%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

Próprio Cedido Alugado

Imóveis

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor.

Figura 6 - Situação dos Imóveis dos Beneficiários do Programa Bolsa Família

Os responsáveis pelo recebimento do programa em sua grande maioria são casados

representando uma parcela de 48,40% (76 pessoas), os solteiros aparecem na segunda posição

com 31,80% (50 pessoas) da população, os separados judicialmente e os viúvos apresentaram

números percentuais bem próximos, 10,2% (16 pessoas) e 9,6% (15 pessoas) respectivamente

(Figura 7).

31

48,40%

31,80%

10,20% 9,60%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

Casado Solteiro Separado Viúvo

Estado Civil

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor. Figura 7 - Estado Civil dos Responsáveis pelo Recebimento do Programa Bolsa Família

Quanto a raça ou a cor dos responsáveis pelo recebimento do PBF, 44,6% (70 pessoas)

são pardas, que representa a grande maioria dos beneficiados, 32,5% (51 pessoas) são brancas

e 22,9% (36 pessoas) representando a menor parcela, são negras (Figura 8).

22,90%

32,50%

44,60%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

45,00%

50,00%

Parda Branca Negra

Raça ou Cor

32

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor. Figura 8 - Raça ou Cor dos Responsáveis pelo Recebimento do Programa Bolsa Família

Os níveis escolares dos responsáveis por estarem recebendo o programa se

apresentaram muito baixos em sua grande maioria, 31,8% (50 pessoas) não apresentaram a 4º

série completa, 23,6% (37 pessoas) concluíram a 4º série, 17,8% (28 pessoas) tem de 5º a 8º

série incompleta, 10,2% (16 pessoas) são indivíduos analfabetos, 6,4% (10 pessoas) possuem

o ensino médio completo, 5,1% (8 pessoas) concluíram o ensino fundamental, 3,8%

(6pessoas) tem o ensino médio incompleto e apenas 1,3% (2 pessoas) chegaram ao ensino

superior, mas ainda não o concluíram. Através deste levantamento, pode-se concluir que

realmente o grau de instrução dos responsáveis por estar recebendo o benefício ainda é muito

baixo (Figura 9).

1,30%

3,80%

5,10%

6,40%

10,20%

17,80%

23,60%

31,80%

0,00

%

5,00

%

10,00

%

15,00

%

20,00

%

25,00

%

30,00

%

35,00

%

Superior Incompleto

Ensino Médio Incompleto

Ensino Fundamental Completo

Ensino Médio Completo

Analfabeto

5º a 8º Série Incompleta

4º Série Completa

4º Série Incompleta

Nível Escolar

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor. Figura 9 - Nível Escolar dos Responsáveis pelo Recebimento do Programa Bolsa Família

Dos responsáveis por estar recebendo o programa 45,9% (72 pessoas) não trabalham,

27,4% (43 pessoas) possuem uma outra ocupação informal no mercado de trabalho, 12,1%

(19 pessoas) são aposentados ou pensionistas, 8,3% (13 pessoas) atuam no mercado de

33

trabalho formalmente, ou seja, possuem a carteira de trabalho devidamente “assinada”, 4,5%

(7 pessoas) dos beneficiados atuam no mercado de trabalho e recebem salário, más não tem a

carteira de trabalho regularizada, e apenas 1,9% (3 pessoas) trabalham mas se encontravam

desempregadas até o fechamento da pesquisa (Figura 10).

1,90%

4,50%

8,30%

12,10%

27,40%

45,90%

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00%

Desempregado

Assalariado semCarteira

Assalariado comCarteira

Aposentado ouPensionista

Outro

Não Trabalha

Situação no Mercado de Trabalho

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor. Figura 10 - Nível Situação no Mercado de Trabalho dos Responsáveis pelo Recebimento do Programa Bolsa Família

No total dos domicílios pesquisados atendidos pelo Programa Bolsa Família, em

apenas 28% ou 44 domicílios, houve renda de aposentadoria ou pensão por algum morador

residente, enquanto em 72% dos domicílios, o que representa um número de 113 residências,

nenhum morador possui renda advinda de aposentadoria ou pensão (Figura 11).

34

72%

28%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Não Sim

Aposentadoria ou Pensão

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor.

Figura 11 - Renda de Aposentadoria ou Pensão Presente nos Domicílios Atendidos Pelo Programa Bolsa Família

Nos domicílios em que residem os beneficiados pelo PBF, apenas 1,9% (3 domicílios)

das residências, algum morador recebe seguro desemprego. Na sua grande maioria nenhum

dos moradores das residências recebem seguro desemprego, estes representam uma parcela de

98,1% (154 domicílios) conforme tabela 5.

Tabela 5 - Renda de Seguro Desemprego Presente nos Domicílios Atendidos pelo Programa Bolsa Família

Freqüência Percentual Percentual Valido Percentual Acumulado

Não 154 98,1 98,1 98,1 Sim 3 1,9 1,9 100,0 Total 157 100,0 100,0

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor.

Apenas 3,8% (6 pessoas) dos responsáveis por estarem recebendo o PBF receberam

renda advindas de pensão alimentícia, e uma maioria esmagadora de 96,2% (151 pessoas) não

possuem esse tipo de renda (Tabela 6).

35

Tabela 6 - Renda de Pensão Alimentícia Presente Recebida pelos Beneficiados pelo Programa Bolsa Família no Município de Ewbank da Câmara

Freqüência Percentual Percentual Válido

Percentual Acumulado

Não 151 96,2 96,2 96,2 Sim 6 3,8 3,8 100,0 Total 157 100,0 100,0

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor.

Nas residências onde o Programa Bolsa Família está presente, em 68,2% o que

representa um número de 107 domicílios, houve uma renda informal participando das

despesas da casa. Por outro lado, em 31,8% ou 50 residências não houve nenhuma outra renda

participando do dia a dia familiar. Portanto, pode-se dizer que mesmo possuindo uma renda

fixa mensal, as famílias sentem a necessidade de complementar os ganhos financeiros a fim

de melhorarem suas condições de vida (Tabela 7).

Tabela 7 - Renda Informal Presente nos Domicílios Atendidos pelo Programa Bolsa Família no Município de Ewbank da Câmara

Freqüência Percentual Percentual Válido

Percentual Acumulado

Não 50 31,8 31,8 31,8 Sim 107 68,2 68,2 100,0 Total 157 100,0 100,0

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor.

Nas residências pesquisadas verifica-se que a renda média das famílias que possuem

algum membro recebendo benefício do PBF é de R$447,28 (equivalente a 1,07 salário

mínimo). Nesse grupo a renda varia de zero a R$1.245, ou seja, até no máximo três salários

mínimos (Tabela 8).

O valor médio do benefício Bolsa Família recebido é de R$72,85, equivalente a 17,5%

do salário mínimo. Neste caso os valores mínimo e máximo estão entre R$ 18 a R$ 142 por

mês. Em relação ao salário mínimo essas representam de 4% a 34% do valor do salário. Por

fim, a participação média do benefício na renda total da família está em torno de 21,68%,

variando de 1,4% da renda familiar a 100% da renda familiar. Ou seja, em alguns domicílios a

única renda existente é do Bolsa Família.

36

Tabela 8 - Renda Total Familiar, Renda do Bolsa Família e Participação do Benefício na Renda Familiar em 2007

N Mínimo (R$)

Máximo (R$)

Média (R$)

Renda Total 157 0 1245 447,28

Renda do Bolsa Família 157 18 142 72,85

Participação do Bolsa Família na renda total 157 1,4 100,0 21,684

Valid N (listwise) 153

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor.

Analisando a distribuição do benefício nos percentis, verifica-se que 25% dos

beneficiários recebem bolsa de até R$36 e para estes 25% o Bolsa Família participa com até

8,65% na renda total (Tabela 9). Nessa mesma linha, cerca de 50% dos beneficiários recebem

bolsa de até R$76 e está participa com até 18,31% da renda total familiar. Por fim, 75% dos

beneficiários ou três em cada quatro beneficiários recebem bolsa de até R$94 e esta bolsa

representa até 29,56% da renda total familiar.

Tabela 9 - Renda do Bolsa Família e Análise dos Percentis

Renda do Bolsa

Família Participação do Bolsa

na Renda Total Valid 157 153 N

Missing 0 4

25 36,00 8,651

50 76,00 18,313

Percentiles

75 94,00 29,561

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor.

3.3 Análise Comparativa: Ewbank versus Brasil

A tabela 10 ilustra alguns dados comparativos do município de Ewbank da Câmara

com o Brasil e regiões político-administrativas. No que tange ao PIB per capita, verifica-se

que o município de Ewbank apresenta valor bem aquém da média nacional e das demais

37

regiões. Mesmo as regiões mais carentes de renda, como Norte e Nordeste, apresentam PIB

per capita superior a do município de Ewbank.

No âmbito da renda média dos beneficiários o resultado é diferente, indicando que os

beneficiários do PBF no município possuem renda média familiar superior ao verificado no

Brasil e nas demais regiões. Em parte isso pode ser explicado pela existência de famílias

relativamente grande no município.

Já com relação ao benefício do programa vale destacar que o valor médio pago no

município é bem inferior ao ocorrido nas outras partes do país, sendo por exemplo, a metade

do valor do benefício médio nacional. Ou seja, enquanto a população brasileira recebe em

médio uma bolsa de R$149, em Ewbank este valor é de apenas R$70, indicando certa

defasagem em relação ao país.

Com relação ao percentual de domicílios atendidos, o município possui um valor

próximo ao do Brasil. No entanto, o valor da bolsa, conforme já comentado é a metade do

existente no país. Além disso, o percentual de domicílios atendidos no município está muito

aquém do verificado no Norte e Nordeste, regiões que possuem PIB per capita superiores ao

de Ewbank da Câmara. No Nordeste, cujo PIB per capita é de R$ 5.498, o percentual de

famílias atendidas é de 31,3% do total. Já em Ewbank da Câmara, apenas 15,9% dos

domicílios recebem o bolsa família para um PIB per capita de R$ 3.678.

Por fim, o número médio de moradores por domicílio onde existe algum beneficiário

do PBF em Ewbank da Câmara é de 4,8 habitantes e perde apenas para a região Norte do

Brasil, que possui 5,1 habitantes por domicílio. Portanto, verifica-se que os domicílios do

município são bastante densos em termos populacionais. Nas regiões Sudeste e Sul existem

cerca de 3,2 moradores por domicílio e no Centro-Oeste, 3,3 habitantes.

Tabela 10 - Indicadores Comparativos do Município de Ewbank, Brasil e Regiões

Indicador Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- Oeste Ewbank

PIB per capita - 2005 (R$) 11.658 7.247 5.498 15.468 13.208 14.604 3.678 Renda média da família – 2006 (R$)(1)

172 177 145 200 197 231 429

Renda do bolsa família – 2006 (R$)(1)

149 154 129 175 175 190 70

Moradores por família (unid.) 4,6 5,1 4,7 3,2 3,2 3,3 4,8 Percentual de domicílios atendidos (%)

14,9 19,4 31,3 8,2 8,0 9,5 15,9

Fonte: Pesquisa. Elaboração do autor. (1) Os dados de Ewbank foram deflacionados pelo IPCA-IBGE e colocados a preços de 2006

38

CONCLUSÃO

O programas sociais estão em forte expansão, hoje cerca de 18,3% dos domicílios

particulares do Brasil recebem algum benefício, o que gira em torno de 10 milhões de

residências.

Dentro de um aspecto regional os percentuais mais elevados de domicílios em que

houve recebimento monetário de programa social por algum morador em 2006 foram

registrados no Norte e Nordeste.

No município de Ewbank da Câmara cerca de 15,96% das residências são atendidas

pelo Programa Bolsa Família, e recebem valores que variam de R$ 18,00 a R$ 172,00, o que

equivale por participar com valores entre 1,4% e 100% da renda total das famílias

beneficiárias. E em alguns domicílios chega ser a única fonte de renda. Alem disso, cerca de

50% das famílias beneficiadas recebem bolsas de até R$ 70,00 mensais.

Ficou registrado nesta pesquisa o baixo nível escolar dos responsáveis por estarem

recebendo a quantia monetária repassada pelo programa. A maioria dos beneficiários possui

4ª série incompleta do ensino fundamental e não trabalha.

Dos beneficiários do PBF, menos de 10% possuem gastos com moradia, em sua maior

parte moram em imóveis próprios ou cedidos. Sendo que 94,3% das residências ficam dentro

do perímetro urbano da cidade e o restante na área rural.

O PIB per capita, observado no município apresentou um valor bem abaixo da média

nacional e das demais regiões. Más no que tange a renda média dos beneficiados, o resultado

é diferente, mostrou que as pessoas que recebem o programa no município têm uma renda

média familiar superior ao verificado no Brasil e nas demais regiões. Em parte isso pode ser

explicado pela existência de famílias com um número relativamente maior de moradores. O

número médio de moradores por unidade domiciliar no município é bem alta (4,8 habitantes)

e perde apenas para a região Norte do país (5,1 habitantes).

O percentual de domicílios atendidos pelo PBF no município é bem similar ao

constatado no país. Porém, os valores monetários que são concedidos pelo PBF no município

é a metade da média nacional.

Verificou-se também um número maior de bolsas concedidas mesmo em regiões que

possuem um PIB per capita bem superior ao registrado em Ewbank da Câmara.

39

Por fim, o Programa Bolsa Família é importante para seus beneficiados e também para

o município no entanto, outros aspecto podem ser analisados em futuras pesquisas. Será que o

programa tem ajudado na inclusão social? Será que seus beneficiários tendem a procurar

emprego ou se acomodam com a renda recebida? Quais os impactos do programa nas finanças

do país? Portanto, esses são apenas alguns dos problemas reais que podem ser futuramente

avaliados e respondidos.

40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL CHANNEL. Municípios. Disponível em: <http://www.brasilchannel.com.br/municipios/index.asp?nome=Minas%20Gerais&regiao=Zona%20da%20Mata>; Acesso em: 15 jun. 2008. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php>. Acesso em: 21 jul. 2008. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Acesso a Transferências de Renda de Programas Sociais, 2006. Rio de Janeiro. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/>; Acesso em: 01 jun. 2008. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contas regionais do Brasil 2002-2005. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasregionais/2002_2005/default.shtm/>; Acesso em: 01 jun. 2008. IGA – Instituto de Geociências Aplicadas. Mg Mapas. Minas Gerais. Disponível em: <http://licht.io.inf.br/mg_mapas/mapa/cgi/iga_comeco1024.htm>; Acesso em: 15 jun. 2008. MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. O Programa Bolsa Família, 2008. Brasília – Distrito Federal, 2008. Disponível em: < http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/>. Acesso em: 5 mai. 2008. MDS. Guia de Políticas e Programas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Brasília, DF, 2008. MDS. Manual de Gestão de Condicionalidades do Programa Bolsa Família. Brasília, DF, 2006. MDS. Praticas Inovadoras na Gestão do Programa Bolsa Família. Brasília, DF, 2006. MDS. Programa Bolsa Família Guia do Gestor. Brasília, DF, 2006. PREFEITURA MUNICIPAL DE EWBANK DA CÂMARA. Arquivos Históricos. Ewbank da Câmara, MG, 2008. SEMINÁRIO REGIONAL DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA, 1º., 2008, Juiz de Fora . Anais...Prefeitura de Juiz de Fora: Escola de Governo, 2008. SUPLICY, Eduardo Matarazzo. Renda de Cidadania: a saída é pela porta/ Eduardo Matarazzo Suplicy. São Paulo: Cortez: Fundação Perseu Abramo, 2002.

41

ANEXO - QUESTIONÁRIO APLICADO NA PESQUISA DE CAMPO

PESQUISA AMOSTRAL PROBABILISTICA DOS DOMICÍLIOS ATENDIDOS PELO PROGRAMA SOCIAL BOLSA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE EWBANK DA

CÂMARA – MG

1- Tipo de localidade do domicílio: ( ) Urbano ( ) Rural 2- Situação do domicílio: ( ) Próprio ( ) Cedido ( ) Outra ( ) Alugado ( ) Invasão ( ) Arrendado ( ) Financiado 3- Quantidade de pessoas residentes no domicílio: 4- Estado civil do responsável pelo recebimento do programa: ( ) Solteiro(a) ( ) Divorciado(a) ( ) Viúvo(a) ( ) Casado(a) ( ) Separado(a) 5- Número de Filhos que residem no domicílio:

6- Raça ( ) Branca ( ) Parda ( ) Negra ( ) Indígena 7- Grau de Instrução ( ) Analfabeto ( ) Ensino médio completo ( ) Até 4º série incompleta do ensino fundamental ( ) Superior incompleto ( ) Com 4º série completa do ensino fundamental ( ) Superior completo ( ) De 5º a 8º série incompleta do ensino fundamental ( ) Especialização ( ) Ensino fundamental completo ( ) Mestrado ( ) Ensino médio incompleto ( ) Doutorado

8- Situação no mercado de trabalho do responsável pelo recebimento do programa: ( ) Empregador ( ) Aposentado/ Pensionista ( ) Assalariado com carteira de trabalho ( ) Trabalhador rural ( ) Assalariado sem carteira de trabalho ( ) Empregador rural ( ) Autônomo com previdência social ( ) Não trabalha ( ) Autônomo sem previdência social ( ) Outro ( ) Desempregado

42

9- A família Possui renda de aposentadoria ou pensão: ( ) Sim ( ) Não 10- A família Possui renda de seguro desemprego: ( ) Sim ( ) Não 11- A família Possui renda de pensão alimentícia: ( ) Sim ( ) Não 12- A família Possui alguma outra renda: ( ) Sim ( ) Não 13- Renda total mensal da família:

14- Despesa total mensal da família:

15- Renda do bolsa família: