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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA
FACULDADE DE ENGENHARIA AGRONÔMICA
O PRONAF MULHER NO CONTEXTO DA
TRANSAMAZÔNICA: ESTUDO DE CASO NO
MUNICÍPIO DE BRASIL NOVO – PARÁ
Aline Patrícia Silva da Luz
Altamira – Pará - Brasil
2011
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA
FACULDADE DE ENGENHARIA AGRONÔMICA
O PRONAF MULHER NO CONTEXTO DA
TRANSAMAZÔNICA: ESTUDO DE CASO NO
MUNICÍPIO DE BRASIL NOVO – PARÁ
Discente:
Aline Patrícia Silva da Luz
Orientadora:
Profª Dra. Maria Ivonete Coutinho Silva
Altamira – PA
Agosto de 2011
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
UFPA – Campus de Altamira - Biblioteca
Luz, Aline Patrícia Silva da
O Pronaf - Mulher no contexto da Transamazônica: estudo de caso no município de Brasil Novo-Pará/ Aline Patrícia Silva da Luz;
orientadora, Profº Drª.Maria Ivonete Coutinho da Silva.— 2011.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Federal do Pará, Campus Universitário de Altamira, 2011
1.Agricultura Familiar – Brasil Novo(PA). 2.Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Brasil).I.Título.
CDD: 338.1098115
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus por seu cuidado, sua fidelidade e amor na minha vida, obr igado por
iluminar os meus caminhos e por ter me guiado até aqui, meu coração se alegra com a
tua presença, sem ti eu nada seria e de nada valeria as tantas bênçãos recebidas de tuas
mãos. A ti toda honra e glória.
Minha eterna gratidão à minha família, em especial, aos meus pais: Valdelúcio Soares
da Luz pelo exemplo de trabalho, coragem, força, superação e de amor, a minha mãe
Raimunda Ivoneide Silva da Luz, não tenho palavras para expressar o quanto eu me
orgulho de ser sua filha, sua garra, perseverança e otimismo me levaram a crer que o
melhor de Deus para as nossas vidas sempre virá no momento certo, seus incentivos e
apoio sempre foram importantes para minha formação, essa conquista também é para
vocês.
As minhas irmãs que estiveram tão presentes em todos os momentos, vocês são minhas
primeiras e melhores amigas, esse amor que sinto por vocês vai para eternidade.
A minha orientadora, Professora Ivonete carinhosamente chamada de Netinha, me
orientando para que eu pudesse desenvolver um trabalho eficiente, obrigado pelo
incentivo e apoio em momentos que vão além da minha formação.
Aos meus antigos e novos amigos com quem pude contar de diferentes formas nesta
caminhada: Heldi, Valdelice, Dyene, Geane, Madson, Alcir, Micaelle, Eliomar.
Obrigado pelos sorrisos, pelas orações, por dividirem momentos tão especiais comigo,
essas lembranças guardarei para sempre.
À Universidade e todos os Professores e colegas do curso.
LISTA DE SIGLAS
ADA – Agência de Desenvolvimento da Amazônia.
BASA – Banco da Amazônia.
CEPLAC – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira.
CONTAG – Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura.
CUT – Central Única de Trabalhadores.
DAP – Declaração de Aptidão ao PRONAF.
EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa agropecuária.
EMBRATER – Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural.
FAO – Food Administration Organization.
FNO – Fundo Constitucional do Norte.
FVVP – Fundação Viver Produzir e Preservar.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
INCRA – Instituto de Colonização e Reforma Agrária.
INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
LAET – Laboratório Agroecológico da Transamazônica.
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário.
MPST – Movimento pela Sobrevivência da Transamazônica.
PIC – Projeto Integrado de Colonização.
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.
SAF – Secretaria da Agricultura Familiar.
SAF’s – Sistemas Agroflorestais.
STTR – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.
SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia.
SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste.
UFPA – Universidade Federal do Pará.
GRET – Groupe de Recherches et d’Echanges Technologiques.
SUMARIO
RESUMO......................................................................................................... 08
ABSTRAT........................................................................................................ 09
INTRODUÇÃO............................................................................................... 10
CAPÍTULO 1- AGRICULTURA FAMILIAR E SEU HISTÓRICO NA
TRANSAMAZÔNICA – UMA REVISÃO TEÓRICA.......................................
12
CAPITULO 2 - HISTÓRICO DO CRÉDITO NO BRASIL E EVOLUÇÃO DO
PRONAF: INTRÍNSECA RELAÇÃO COM AGRICULTURA FAMILIAR......
26
2.1 - Programa Nacional de Agricultura Familiar- PRONAF............. 29
CAPÍTULO 3 - O PRONAF MULHER E SUA CONFIGURAÇÃO NO
CONTEXTO DE BRASIL NOVO E TRANSAMAZÔNICA..............................
39
3.1 - PRONAF Mulher no Município de Brasil Novo............................ 42
3.2 – O PRONAF e as Mulheres Agricultoras de Brasil Novo............. 44
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 54
RESUMO
Este trabalho apresenta uma revisão teórica sobre a agricultura familiar no Brasil,
destacando a importância do papel da mulher para o desenvolvimento da agricultura
familiar na colonização da Transamazônica até os dias atuais. Discutimos a criação do
PRONAF como um programa destinado a financiar as atividades produtivas da
agricultura familiar, com linhas de crédito que são disponibilizadas de acordo com a
renda anual da unidade familiar, dentre essas linhas de crédito está incluído o PRONAF
mulher, com recursos destinados para fomentar atividades produtivas exercidas por
mulheres agricultoras. Neste trabalho foi realizado um estudo de caso no município de
Brasil Novo, onde se verificou a participação das mulheres agricultoras no sindicato de
trabalhadores e trabalhadoras de Brasil Novo, se tinham conhecimento da linha de
crédito para mulheres, e quais tem sido as principais dificuldades encontradas pelas
mulheres agricultoras de Brasil Novo para acessar a linha de crédito PRONAF mulher.
PALAVRAS-CHAVE: Agricultura familiar, Dificuldades, PRONAF mulher.
ABSTRACT
This paper presents a theoretical review of family farming in Brazil, highlighting the
importance of women's role in the development of family farming in the Trans
colonization to the present day. We discussed the creation of PRONAF as a program
to finance productive activities of the family farm, with lines of credit that are
available according to the annual income of the family unit, among these facilities is
included PRONAF woman, with resources allocated to foster productive activities
carried out by women farmers. In this paper we present a case study in the city of
Brasil Novo, where he searched for the participation of women farmers in the union,
whether they were aware of the credit line for women, and which has been the main
difficulties faced by women farmers from Brasil Novo to access the credit line
PRONAF woman.
KEYWORDS: Family agriculture, PRONAF woman, difficulties.
INTRODUÇÃO
Um dos principais problemas enfrentado pela mulher em não ser reconhecida
como sujeito participativo, consiste na luta pelo seu espaço enquanto trabalhadora com
direitos e deveres, pelo trabalho que desenvolvem no âmbito doméstico e pelos serviços
prestados na sociedade. Ainda quando é reconhecido que o seu trabalho é importante,
ainda assim, é subtendido como uma ajuda no orçamento familiar, ou ainda, como uma
obrigação do seu papel de ser mulher, OLIVEIRA (2010).
Esta leitura pode ser ampliada quando passamos a analisar as políticas públicas
destinadas para a agricultura familiar, principalmente quando se trata das linhas de
crédito para produção das mulheres no campo da agricultura. Com este olhar e na
perspectiva de aprofundar as questões que permeiam as questões de gênero no campo da
agricultura familiar o presente trabalho apresenta uma revisão teórica sobre a agricultura
familiar no Brasil, destacando a importância do papel da mulher para o
desenvolvimento da agricultura familiar na colonização da Transamazônica até os dias
atuais.
Discutimos a criação do PRONAF como um programa destinado a financiar as
atividades produtivas da agricultura familiar, com linhas de crédito que são
disponibilizadas de acordo com a renda anual da unidade familiar, dentre essas linhas de
crédito está incluído o PRONAF mulher, com recursos destinados para fomentar
atividades produtivas exercidas por mulheres agricultoras. Abordando também a
importância do papel da mulher nas famílias na comunidade rural e no processo de
colonização da Transamazônica, bem como sua desvalorização, relacionando-se à
divisão sexual do trabalho na agricultura familiar.
Nessa perspectiva, no primeiro capítulo faço uma revisão teórica sobre a
agricultura familiar no Brasil, e sua configuração na Transamazônica, e suas
especificidades formadas a partir de suas relações de trabalho na terra, adaptação as
condições locais de clima, solo, diversidade de culturas dos colonos colonização dos
agricultores na região ao longo do tempo. Também, apresento os avanços na agricultura
familiar, alcançado por meio das reivindicações do movimento social, buscando romper
as limitações através da organização dos agricultores, aliado à produção de
conhecimento técnico e científico específico a agricultura familiar na Transamazônica
como alternativa para um novo modelo de desenvolvimento regional.
No segundo capitulo, é apresentado um breve histórico do PRONAF - Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, que surgiu para atender uma
agricultura familiar que não tinha o reconhecimento das políticas públicas. O crédito
rural para a agricultura familiar significou, a valorização e visibilidade do trabalho
familiar, e sua importância produtiva e econômica na agricultura.
Considerando as desigualdades de gênero existentes em nossa sociedade,
verifica-se, contudo que o incentivo ao crédito para a agricultura familiar ao longo dos
anos pouco tem significado em termos de melhorias nas condições de vida das mulheres
rurais. Pois embora a princípio as mulheres se encontrem contempladas no crédito para
a família rural o PRONAF, na prática quase sempre o crédito que é acessado, é
distribuído segundo as necessidades e interesses dos homens, chefes de família. ALVES
(2006).
O terceiro capítulo apresenta o estudo de caso sobre o acesso ao PRONAF
mulher em Brasil Novo, e para melhor demonstrar as questões apresentadas no decorrer
da pesquisa, investigamos a participação das mulheres agricultoras integradas ao
Sindicato de trabalhadores e trabalhadoras rurais desse município, no sentido de
verificar se elas tinham conhecimento da linha de crédito para mulheres, e quais eram as
principais dificuldades encontradas pelas mulheres agricultoras de Brasil Novo para
acessar a linha de crédito PRONAF mulher.
Para o levantamento de dados para este trabalho foi feita pesquisa de campo no
STTR de Brasil Novo, tomando por base entrevistas com mulheres associadas ao
sindicato, e assim pode-se levantar e discutir algumas questões importantes como a
relação da mulher, nos diversos lugares e níveis sociais, além da estrutura de
subordinação da mulher na hierarquia familiar, a falta de conhecimento sobre as linhas
de crédito, o papel do sindicato para que os agricultores e agricultoras possam acessar o
crédito.
O texto de forma específica aponta para mulher como sujeito importante
histórico-social, econômico, e político no meio rural. Desta forma, espero que este
trabalho venha estimular um novo olhar as práticas das mulheres agricultoras ao longo
da Transamazônica, no sentido de valorizar o trabalho das mulheres, estas que por
muitas vezes foram/são ignoradas pelas políticas públicas, mas que querem ser vistas
não só como reprodutora, mas como cidadã, trabalhadora, produtora de alimentos, e que
precisa de políticas públicas como crédito, assistência técnica, que atenda a questão de
gênero e contemple as especificidades concernentes a trabalhadora rural.
CAPÍTULO 1- AGRICULTURA FAMILIAR E SEU HISTÓRICO NA
TRANSAMAZÔNICA – UMA REVISÃO TEÓRICA
Para melhor compreender as mudanças ocorridas na agricultura familiar no Brasil
e na Amazônia, este trabalho fará uma breve revisão teórica dos conceitos de agricultura
familiar, tendo em vista que o termo agricultura familiar vem no decorrer das últimas
décadas ganhando novas configurações, de tal modo que para reconhecer a importância
desse fenômeno social é necessário que se tenha clareza dos significados a ele
associados.
O conceito de agricultura familiar é relativamente recente no Brasil, a partir de
1970 ao se referir à agricultura familiar, falava-se em pequena produção e a este
conceito foram sendo acrescentados novos termos como pequeno agricultor, agricultura
de baixa renda ou de subsistência e ate mesmo o termo camponês. A substituição desses
termos ocorre tanto a partir das transformações sofridas por esta categoria, quanto por
sua evolução no contexto social e também pela percepção de sujeito do campo como
dono de uma identidade construída a partir de um modo de viver e produzir próprio.
Para melhor apreendermos o desenvolvimento da agricultura familiar, se faz
necessário observar as diversas formas de produção e seus níveis de sustentabilidade
através de revisão teórica dos diversos conceitos de agricultura familiar. Nesse trabalho
o conceito de agricultura camponesa e agricultura familiar serão usados como análogos,
pois ambos trazem à baila a predominância da força de trabalho familiar na produção e
nas decisões de produção e de consumo, bem como de comercialização da produção.
Neste contexto OLIVEIRA (2000) diz que a lógica de funcionamento das
explorações familiares, baseada na associação dos objetivos de produção, consumo e
acumulação patrimonial, resulta num espaço de reprodução social cujas características
de diversidade e integração de atividades produtivas vegetais e animais, ocupação de
força de trabalho dos membros da família e controle decisório sobre todo o processo
produtivo são sensivelmente mais vantajosos ao desenvolvimento de uma agricultura
ambientalmente sustentável que as explorações capitalistas patronais.
É na esteira da discussão sobre desenvolvimento e sua caracterização no meio
rural que surge a expressão “agricultura familiar” para designar a especificidade da
agricultura praticada pelos pequenos agricultores nas sociedades modernas ou
capitalistas; no sentido de qualificar a principal diferença existente entre a racionalidade
econômica destes agricultores e a racionalidade econômica dos agricultores
empresariais, o uso do trabalho familiar pelos primeiros, em contraposição ao uso do
trabalho assalariado pago por esses últimos, conforme explica JÉAN HÉBETTE et. al
(2002).
Registramos que a história dos produtores de alimentos do Brasil está diretamente
ligada à trajetória de quatro grupos: índios, negros, mestiços e imigrantes europeus.
Cada um a sua maneira exercia atividades de produção agrícola como forma de
sobrevivência e a esporádica venda do produto excedente, ocupando assim uma posição
secundária dentro do modelo de desenvolvimento agrícola do país. No Pará há estudos
que registram a presença indígena na produção de alimentos nos primeiros dois séculos
de colonização. As missões jesuítas que incentivaram os índios na produção de
alimentos foram responsáveis pela formação de importantes núcleos de produção de
alimentos. O excedente dessa produção contribuía para o abastecimento de alimentos
em Belém e de outras cidades amazônicas. (ALTAFIN, s/d).
No entanto há que se observar que desde sua origem o modelo de
desenvolvimento pensado pelo governo esteve voltado para a grande propriedade e a
monocultora de exportação, para tal fornecia estímulos e garantias governamentais a
essa pequena parcela proprietária, em contraponto o mosaico de formas camponesas
ligadas a cultivos alimentares dirigidos ao abastecimento interno era colocado á margem
das políticas públicas. No projeto de desenvolvimento governamental não havia
incentivo agrícola aos pequenos produtores visto que as terras produtivas estavam nas
mãos dos grandes proprietários que primavam pela monocultura, dessa forma
promovendo a expropriação desses trabalhadores e o contínuo êxodo rural.
Diante dessas dificuldades os pequenos produtores passaram a se organizar em
fortes movimentos no campo em busca de apoio e incentivo do governo para a pequena
agricultura, porém, mesmo diante dessas lutas organizadas de trabalhadores rurais o
governo ainda continuava a priorizar a produção de produtos para exportação, e os
proprietários patronais que “poderiam” oferecer mais garantias e gerar maiores divisas a
economia brasileira.
Pouca coisa mudou na forma de se pensar em desenvolvimento no Brasil,
sobretudo no que se refere à política agrícola; um governo atrás do outro repetem
sempre as mesmas receitas e modelos de desenvolvimento, apesar desse descaso e falta
de efetivas políticas destinadas à agricultura familiar, esta forma de produção por sua
característica peculiar continua exercendo sua capacidade de produção, sobrevivência e
reprodução garantindo a continuidade de uma categoria social “camponês ou agricultor
familiar” que tem como principal recurso a força do trabalho familiar e a terra como
meio de sustentabilidade.
Ressalta-se que a concepção de desenvolvimento rural no Brasil sempre adotou o
modelo “produtivista”, que criava a necessidade da integração da agricultura com os
capitais industriais, financeiros (crédito agrícola) e comerciais (grande produção para
exportação) BUAINAIN et al 2003. Fazia parte desse modelo de desenvolvimento
manter a maior parte da concentração de terras para poucos produzirem, com incentivo
a formação de complexos agroindustriais. Essa distorção da estrutura fundiária no Brasil
se evidencia a má distribuição de terras que remonta a herança clássica de um país
Colônia cuja produção agropecuária se concentra na mão de poucos e se sujeita a
demanda de um mercado externo.
Seguindo essa mesma lógica, assim como em todo país se pensou para a
Amazônia um conjunto de ações e de programa que visavam à exploração e ocupação
das terras nessa região, denominadas de “vazios demográficos”, a ocupação era uma
estratégia de soberania e desenvolvimento do país. Nesta perspectiva a chamada
operação Amazônia instaurada em 1966 se propunha a inaugurar uma nova política
desenvolvimentista para esta região, e para este fim lançou mão de uma série de
instrumentos legais e medidas administrativas, tendo como carro chefe a política de
incentivos fiscais, associada ao binômio governo/setor privado. PANDOLFO (1994).
Na Amazônia durante séculos, extrativistas tradicionais e agricultores itinerantes
como os grupos indígenas, caboclos e ribeirinhos, foram os grupos populacionais mais
importantes na Amazônia rural, eram os pequenos produtores dessa região. Com a
grande imigração de colonos do nordeste e do sul do Brasil depois da abertura da
Amazônia através dos novos eixos rodoviários, e os programas de colonização oficiais e
os grandes projetos foi à base para a formação de um novo campesinato. HURTIENNE
(2006).
Na década de setenta o governo federal em parceria com empresas privadas e
órgãos estatais promulgam um programa de integração e desenvolvimento para a
Amazônia, que tinha como carro chefe a abertura das estradas Belém – Brasília, Cuiabá
– Santarém, Cuiabá – Porto Velho e BR 230, a Transamazônica, seguida da distribuição
de terras para trabalhadores que foram arregimentados de outros estados brasileiros pelo
projeto de colonização implementado pelo governo.
O modelo de distribuição de terras em larga escala, como projeto governamental
não significava uma reforma agrária conforme reivindicava algumas entidades de
trabalhadores (CONTAG, CUT) e alguns partidos políticos de esquerda (PCdoB, PCB
entre outros). Nessa época foi criada a Superintendência de desenvolvimento da
Amazônia – SUDAM, hoje transformada na Agência de Desenvolvimento da Amazônia
– ADA, e do Banco da Amazônia.
Para o programa de integração da Amazônia o escopo principal era ocupar esta
região e interligá- la via estrada a outras regiões do país. Dessa forma viabilizando a
entrada e investimento de grandes empresas nacionais e internacionais para exploração
dos recursos naturais em abundancia nesta região, como extensas áreas de terras para
agropecuária, exploração de madeira, de minérios e dos recursos hídricos para geração
de energia. Com este fim e para estimular a implantação dos empreendimentos que
viriam a se instalar na região amazônica o Governo dispunha 70% de incentivo fiscal às
empresas empreendedoras.
Como se pode observar neste modelo desenvolvimentista não havia políticas que
beneficiassem a agricultura familiar. O trabalhador recebia a terra e com ela todas as
dificuldades de produção, escoamento e comercialização de seus produtos. A falta de
estrada, de incentivo agrícola, de transportes e a ausência de estruturas sociais como
escola, postos de saúde entre outras dificuldades próprias de uma região em processo de
ocupação levaram muitos a desistir da terra e vendê- la por um preço muito baixo aos
grandes proprietários que iam se instalando na região.
O governo federal ao estabelecer os projetos de colonização na Amazônia
tentava ocupar os espaços “vazios” no território nacional, nessa ótica de ocupação os
objetivos era “ocupar para não entregar”, pois os grandes projetos na Amazônia como a
construção da Rodovia Transamazônica devia garantir a segurança nas fronteiras, além
da intenção de “integrar” a Amazônia (“atrasada”) ao resto do país (ao centro sul
“desenvolvido”); retirando as pessoas de áreas super povoadas, ou em situação de
pobreza no caso do nordeste afetado por uma grande seca, e assim transferi- las em
massa a Amazônia, ofertando “terras sem homens, para homens sem terra”, slogan
muito mencionado por diversos estudiosos sobre a Amazônia.
A presença de vários órgãos do governo como INCRA, EMBRAPA, EMATER,
CEPLAC e outros até o final dos anos oitenta, favoreceu a consolidação da agricultura
familiar na Transamazônica, os colonos do PIC Altamira I receberam os títulos de
propriedade de 100 hectares e amplo acesso ao crédito rural com prazos de até 20 anos
para serem pagos, ajuda de custo no primeiro ano agrícola e com assistência técnica
para culturas perenes.
Esses migrantes denominados de colonos se estabeleceram com suas famílias as
margens da rodovia Transamazônica, o INCRA distribuiu as famílias em lotes que
estavam em filas indianas ao longo da estrada, e receberam inicialmente apoio do
governo através do INCRA na forma de assistência técnica e financiamento para iniciar
a derrubada da floresta, o início da atividade agrícola, e construção da moradia, mas
todas essas ações governamentais foram de forma provisória, pois depois de alguns anos
esses colonos foram deixados de lado, e o governo não mais passou a dar o apoio como
no inicio. Esses migrantes enfrentaram muitas dificuldades, principalmente para se
adaptar ao isolamento, as péssimas condições de transporte e o escoamento da
produção.
A agricultura familiar estabelecida na Transamazônica, através das políticas
agrárias disponibilizadas nos primeiros anos de colonização teve a seguinte dinâmica de
produção estabelecida pelo modelo de desenvolvimento apresentado pelo Governo
nessa colonização, preconizava a derrubada e queima da floresta, em seguida a
implantação de culturas anuais como o arroz, milho, feijão, mandioca, para a
subsistência da família e o excedente era vendido para pagar as parcelas do empréstimo
ao banco. Na década de 70 as culturas anuais como o arroz trouxeram muito dinheiro
para as famílias, devido o incentivo do INCRA e a implantação das culturas anuais em
ampla escala, essa região chegou a ser a maior produtora de arroz do Estado. As
primeiras lavouras perenes introduzidas na região foram a pimenta-do-reino, depois o
cacau.
Quando os colonos vieram ocupar essa região, ninguém vinha pensando em
implantar culturas como o cacau e pimenta, esse arranjo produtivo, era um pacote
apresentado pelo governo, que disponibilizava amplo crédito para financiamento dessas
culturas. A pecuária, inicialmente era praticada para que a família tivesse
disponibilidade de carne e leite, e poucos colonos iniciavam essa atividade, pois o
financiamento no banco priorizava as culturas anuais e perenes, por isso a maior parte
da força de trabalho da família colona era destinada a implantação e trato culturais das
culturas provisórias e permanentes.
No período inicial de ocupação e de desenvolvimento da produção na terra
adquirida toda a família ia para roça trabalhar, era a família que fazia a derrubada,
queima, plantio, os tratos culturais até a colheita. Dessa forma, sem saber esses colonos
estavam exercendo estratégicas características da agricultura familiar, só que praticadas
sobre contexto intrínseco da ocupação da Transamazônica.
A partir de 1976, como as iniciativas de maior desenvolvimento rural no
contexto da agricultura na Transamazônica, o Banco do Brasil propôs créditos de
implantação subsidiados além da assistência técnica fornecida pela EMATER. No
entanto, a política de crédito estabelecida para a os colonos da Transamazônica já vinha
com pacotes tecnológicos já estabelecidos e culturas pré-determinadas que viessem
estabelecer uma agricultura tecnificada parecida com a agricultura altamente
industrializada e voltada para exportação da região sudeste.
Nesta perspectiva o crédito era para incentivar a abertura de novas áreas de
cultivo e implantação primeiro de culturas anuais, depois de culturas perenes. Na época
a região foi considerada grande produtora de arroz no estado do Pará, e as culturas
perenes trouxeram muito lucro aos agricultores, contudo ao final dos anos 80 e 90
houve a crise dos cultivos perenes, primeiramente pelos preços, depois pelas doenças
que se espalharam como fusariose na pimenta, e vassoura-de-bruxa no cacau.
SABLAYROLLES (2003)
Com a diminuição do montante obtido nas produções de cacau1 e a pimenta-do-
reino, que em muitos casos os agricultores abandonaram o plantio desta cultura por
causa das grandes perdas por fusariose. Com a baixa do plantio da pimenta favoreceu o
crescimento da pecuarização na região, pois o gado passou a ter preço estável no
mercado. Diante desta conjuntura as tomadas de decisão em relação aos sistemas de
produção foram mudando na região, muitos agricultores resolveram investir na
pecuária, usando parte da renda das culturas perenes para financiar essa atividade, que
na linguagem dos colonos o gado era visto como uma “poupança viva”. Demonstrando
dessa forma uma forte característica da agricultura familiar que prima pela
diversificação na produção, combinando produção animal com produção vegetal, para
garantir sua sobrevivência e desenvolvimento e bem-estar da família.
É importante lembrar que comumente quando se fala de colonização na
Transamazônica e se estuda agricultura familiar, há uma tendência de masculinizar todo
o processo, COUTINHO SILVA (2008) em sua pesquisa sobre as mulheres migrantes
da Transamazônica usa o termo colonização sexuada, para ressaltar que o projeto de
colonização oficial priorizava a entrega de terra a famílias numerosas, não se via
mulheres solteiras conseguindo terra, era o homem casado que tinha maior facilidade de
1 A queda de preço do cacau a partir de 1987 é agravada pela resolução da Cacex -161/88. Somente
autorizando a exportação do cacau tipo Amazônia 1 e Ama zônia 2, sendo os demais considerados como
refugo, que na época era considerada a maior parte do cacau produzido na região. SABLAYROLLES e
ROCHA ,2003
obter terra, mas, contava-se com a mulher para povoar, produzir e reproduzir nesta área
de ocupação. Nos anos que iriam seguir a ocupação, além de desenvolver as atividades
do âmbito doméstico e agrícola, a mulher desempenhava um importante papel de
reprodutora, tanto no campo das relações sociais, quanto da peculiar reprodução
biológica. Neste sentido para o INCRA a presença da família nuclear, significaria a
instalação permanente, de fixação na terra e da força de trabalho para garantir a sua
produção.
Na agricultura de um modo geral a mulher exerce um papel decisivo ela
contribui para a manutenção do funcionamento do estabelecimento familiar, pois é um
elemento que transita por todos os setores de produção familiar, enfrentando jornada de
trabalho dupla, pois ela participa da criação dos filhos, cuida da casa, trabalha na roça,
cuida das criações de animais, participa de atividades na comunidade seja na escola, na
igreja, no sindicato. A mulher foi uma peça essencial para fortalecer essa agricultura
que se estabelecia na Transamazônica, mesmo assim havia áreas em que pouco podia
opinar, o homem era o chefe da família e ele que decidia o que se plantar, ele que ia ao
banco negociar, a mulher cabia as atividades do lar e na agricultura trabalho muitas
vezes visto como obrigação, uma “ajuda” e não como trabalho de fato.
Durante a história a figura feminina tem influenciado a sociedade em que está
inserida. Esse parêntese aberto para descrever o papel da mulher na colonização da
Transamazônica serve para destacar a importância da mulher nesse processo e também
para a agricultura familiar de um modo geral. Assim como a agricultura familiar não era
alcançada pelas políticas públicas, tão pouco se tinha políticas específicas para a mulher
agricultora, suas necessidades, suas atividades, sua presença quase sempre se via
condicionada, e sempre associada à figura do marido. Dessa forma não se pode falar em
agricultura familiar sem evidenciar a importância do papel da mulher na produção
familiar, na manutenção da vida e da permanência e desenvolvimento da família no
campo.
Assim, a discussão sobre agricultura familiar que emergiu, sobretudo no campo
acadêmico a partir da década de oitenta, vem para respaldar um modo de produção
agrícola tradicional na qual homens, mulheres e jovens assumem papéis fundamentais.
Destaca-se que a dualidade do trabalho feminino na esfera agrícola se acentua, ao dar
conta dos trabalhos domésticos e extra-doméstico no setor agrícola. Em consonância
com a discussão de agricultura familiar na Amazônia assim como em todo Brasil a qual
foi ganhando força e visibilidade a partir da década de noventa, as atividades agrícolas
na região da Transamazônica também foi ganhando outra configuração e novas
estratégias de produção.
A partir de 1987 surgem novas estratégias de produção dessa agricultura familiar
praticada na Transamazônica, o agricultor sai do papel figurativo do modelo tradicional
e se torna agente decisivo na construção de um novo tipo de desenvolvimento que não
significa ter que desmatar, ou produzir por produzir, mas um desenvolvimento que
considera o interesse, as necessidades e os sonhos dos agricultores, que considera a
floresta como fundamental para a reprodução econômica, ambiental e social das
famílias.
O surgimento dos movimentos sociais na Transamazônica veio pela necessidade
de apoio que os colonos tinham de enfrentar as difíceis condições de sobrevivência
ocasionada pelo isolamento, à ausência do Estado em forma e políticas públicas que
garantisse serviços básicos como saúde, educação e segurança. FVPP (2006). O apoio
da igreja católica com as comunidades de Base – Cebs, especialmente entre 1972 a
1985, foi crucial para o nascimento das organizações e formação de líderes locais, os
momentos de discussão e reflexão sobre os problemas da região, incentivaram o
trabalho coletivo, provocando uma reação de indignação em relação as políticas que os
trouxeram para Transamazônica, era imprescindível a mudança na forma de se pensar o
desenvolvimento para a região.
As ações implementadas pela prelazia do Xingu e as pastorais contribuíram
muito para promover o debate sobre a necessidade de organização dos trabalhadores,
ressaltando a importância de se conquistar o sindicato como espaço de representação da
categoria de trabalhadores rurais, uma vez que os sindicatos eram controlados pelos
militares, e vinha amortecendo as reivindicações e as lutas dos agricultores da
Transamazônica.
No final dos anos 80 os movimentos sociais se unem para realizar um
diagnóstico da região, foram realizados encontros regionais para debate e deliberação de
estratégias de sobrevivência para a população da região. O primeiro encontro regional
ocorreu em Medicilândia, reunindo as lideranças de Pacajá até Itaituba e da Rodovia
Cuiabá-Santarém, cujo objetivo era encontrar saídas para a recuperação dos projetos de
colonização, através da regionalização das reivindicações e da formulação de propostas.
Para tanto, foi necessário a realização de uma pesquisa sócio-econômica que levantasse
indicadores que respaldassem o discurso do movimento.
O segundo encontro foi para apresentar o resultado dessa pesquisa de campo
realizada pelas próprias lideranças do movimento com apoio de alguns pesquisadores da
UFPA, objetivava e a partir dos dados reais, mobilizar os agricultores para se unirem
organizando atos públicos, debates com a sociedade civil organizada e não organizada
nessa luta que era regional.Esta pesquisa revelou que havia 2.840 km de estradas e
vicinais habitadas sem conservação, e que pessoas morriam no fundo dos travessões por
falta de assistência médica, havia apenas nove médicos para uma população de 500 mil
habitantes, num raio de 1000 km de distância, que mais de 70% da população adulta era
analfabeta ou semi- analfabeta, e nenhum dos municípios, com exceção de Altamira, e
mesmo assim de forma precária, dispunha de energia elétrica. FVPP (2006).
Em 1990 houve mais um encontro com lideranças de toda a região, mas pela
primeira vez na Transamazônica debateu o crédito agrícola do Fundo Constitucional do
Norte – FNO e a necessidade de atender aos pequenos agricultores rurais e não só aos
grandes produtores, como vinha acontecendo desde a sua criação. A agricultura familiar
da Transamazônica reconhecia que tinha suas peculiaridades e carecia de uma atenção
especifica para as suas demandas em relação ao créd ito agrícola, a infra-estrutura ao
meio ambiente, educação, saúde, e através das ações regionais promovidas pelos
movimentos sociais, e de todo processo de diagnostico, debate e reflexão da situação
dos colonos na Transamazônica, essa agricultura familiar instalada na região passou a
pensar em políticas públicas regionais.
O evento onde surgiu a denominação Movimento pela Sobrevivência da
Transamazônica – MPST teve duração de oito dias, aconteceu em Altamira em 1991
com participação de vários segmentos da sociedade: agricultores, prefeitos, vereadores,
estudantes, Ong’s, professores da UFPA, entre outros. Naquele momento tinha-se o
objetivo de denunciar o abandono da Transamazônica, também se debateu o Projeto
Global de Desenvolvimento da Transamazônica elaborado nos encontros regionais, esse
projeto tinha como objetivo garantir a participação da população no processo de
desenvolvimento global da região, criando condições que reduzissem o êxodo das
famílias agricultoras, desencadear um processo de discussão, através de um projeto
alternativo para a Transamazônica que não agredisse ao meio ambiente, promovesse a
pessoa humana e garantisse melhorias sócio-econômicas e culturais ás populações
sofridas, além de apresentar propostas para a questão agrária e fundiár ia, a agricultura e
meio ambiente, a saúde e a educação, a melhoria das estradas, a energia elétrica e o
crédito rural. FVPP (2006).
A visão de luta, a forma de organização, as características geográficas da região,
os problemas da colonização na Transamazônica, marcaram o processo de construção e
fortalecimento do Movimento pela Sobrevivência da Transamazônica, pois ao invés de
apenas reivindicar, apresentava propostas alternativas para os problemas da região a
partir do ponto de vista do agricultor.
Ao se elaborar o projeto alternativo de desenvolvimento para a Transamazônica,
registra-se a contribuição de professores/pesquisadores ligados a UFPA e ao laboratório
Agroecológico da Transamazônica – LAET. Os pesquisadores e técnicos da UFPA e o
LAET desenvolveram em parceria com os movimentos sociais, ações de suporte técnico
e científico as atividades desenvolvidas nas propriedades.
O Programa Agroecológico da Transamazônica – Paet, coordenado pelo LAET,
permitiu que os agricultores tivessem acesso a novas técnicas de administração e
gerenciamento da propriedade, e de propostas técnicas para a produção como
intensificação da produção de pimenta-do-reino a partir de mudas sadias, cobertura
vegetal no café, introdução de leguminosas na rotação de culturas, intensificação no uso
de esterco e de matéria orgânica em geral, o manejo da floresta, plantio de espécies
florestais com alto valor de mercado como o mogno, o cedro (SABLAYROLLES,
2003). Toda essa experiência fez com que os agricultores compreendessem o verdadeiro
papel da assistência técnica, onde o conhecimento teórico não é mais importante que a
técnica e vice-versa.
Ressalta-se neste contexto a formação de profissionais formados na área. O
primeiro curso de Licenciatura em Ciências Agrárias da Amazônia surgiu a partir das
discussões e do esforço conjunto dos MPST, da UFPA, LAET, com objetivo de formar
profissionais para atuarem nos programas de educação rural, nas casas familiares rurais,
com intuito de transmitir conhecimento técnico aos agricultores e filhos de agricultores.
No ano 2000 é criado no Campus universitário de Altamira – UFPA, o curso de
Agronomia também para formar profissionais que pudessem pensar e executar ações
para a agricultura familiar, dessa forma contribuindo para o desenvolvimento da
agricultura na região. Estes profissionais a maioria moradores da região e conhecendo a
realidade local, suas características e entraves, desenvolveram/desenvolvem projetos e
atividades de extensão respondendo as demandas levantadas pelos movimentos sociais e
as expectativas de produção e organização agrícola na Transamazônica. Assim,
mostram que é possível viabilizar um novo modelo de desenvolvimento para a região.
Essas ações no sentido da formação de profissionais ao aliar a prática do
agricultor á teoria acadêmica proporcionou aos agricultores a possibilidade de troca de
experiências e apropriação dos resultados das pesquisas realizados na região,
fortalecendo a idéia de desenvolvimento adequada à realidade da região. Contribuíram
com esta inovadora realidade pesquisadores da UFPA, Embrapa Amazônia Oriental,
GRET, LAET, INPA, entre outros de instituições diversas, dentre estes destacamos:
Philippe Sablayrolles, agroeconomista, publicou a pesquisa Agroambiental na
Transamazônica, contribui com gestão do estabelecimento, políticas rurais, manejo de
cacau. Tipologia de sistemas de produção como subsídio à definição de políticas
agrícolas (1995). O livro Desenvolvimento Sustentável da agricultura familiar na
Transamazônica, foi organizado por Philippe Sablayrolles e Carla Rocha, que reuniram
nessa obra as pesquisas realizadas pelos profissionais da Embrapa, UFPA, LAET na
região da Transamazônica, dando subsídios para a criação de novas tecnologias para o
contexto da região em relação ao uso do solo, os sistemas de produção, a intensificação
do cultivo da pimenta-do-reino, cacau, café, utilização de leguminosas, preparo de
mudas sadias, implantação de SAF’s, criação de animais, recuperação de pastagens.
Dentre os autores que contribuíram com suas pesquisas no desenvolvimento da
agricultura na região e na elaboração do livro estão os pesquisadores Aquiles Simões,
Carla Rocha, Maristela Marques, Soraya Carvalho, Lecir Peixoto, Juliete Alves,
Celestino Filho, Afonso Flohic, Serginando Reis, Gutemberg Guerra, entre outros.
Carla Rocha Engenheira Agrônoma, professora da UFPA, pesquisadora do
LAET que publicou trabalhos como o: Aspectos físicos e socioeconômicos da
agricultura na região Transamazônica (1996). Pimenta-do-reino: produção e mudas
sadias e manejo de pimentais (2001), nas temáticas dos sistemas de produção,
intensificação das culturas, produção de mudas e tratos culturais da pimenta do reino,
gestão sustentável da floresta, sistemas agroflorestais - SAF’s.
A pesquisadora Leci Peixoto Engenheira Agrônoma, produziu trabalhos na área
da agricultura familiar discutindo políticas públicas e falando sobre o crédito rural na
Transamazônica, o FNO especial que apoiou os agricultores para investir na pecuária,
em um contexto de recessão econômica e preços baixos das culturas perenes do cacau,
pimenta-do-reino e café, o gado foi visto como produto principal para investimento.
Crédito rural para a agricultura familiar (2002).
Aquiles Simões, Engenheiro Agrônomo da UFPA fez um diagnóstico sobre
intensificação de culturas Agricultura familiar: Diagnóstico este preliminar da
agricultura familiar (1998) juntamente com CASSTELLANET e CELESTINO FILHO.
Métodos e experiências de pesquisa-desenvolvimento (2001). Pedro Celestino Filho,
engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa fez importantes trabalhos de pesquisa
sobre pimenta-do-reino, café, leguminosas, SAF’s.
Soraya Carvalho, zootecnista, pesquisadora da UFPA/LAET, apresenta
pesquisas sobre a pecuária de corte e de leite na agricultura familiar da Transamazônica,
de forma a diagnosticar os fatores limitantes no sistema de criação, destacando o manejo
de pastagens, tratos sanitários dos animais, o crédito para investimento na criação de
animais e recuperação das pastagens degradadas. Todas essas pesquisas são de sensível
relevância no contexto regional, pois apontam as limitações e as potencialidades dos
sistemas de criação nas propriedades da agricultura familiar. A produção leiteira na
Transamazônica (2000). Condições Econômicas da Intensificação da Agricultura e seu
Efeito no Desmatamento da Transamazônica. (2003). Criação de bovinos e a
degradação de pastagens em duas localidades em Altamira-Pará (2010).
Maristela Silva, professora da UFPA, com pesquisas sobre agroecologia. Fez
mestrado com o tema roça sem queimar, suas pesquisas vinham com uma proposta de
uma agricultura alternativa, uma nova perspectiva de produção na propriedade onde o
objetivo seria manter o mínimo de desmatamento associado a produção, dessa forma se
desconectando da forma tradicional de cultivo que ainda é aplicado, o corte e queima.
Muitas ações como a recuperação de áreas degradas, SAF’s sistemas agroflorestais para
aproveitar a floresta sem derrubar- la, mas sim a valorizando mais, bem como o manejo
do solo, manejo dos recursos hídricos, manutenção das áreas de preservação permanente
nas nascentes, igarapés e rios. Projeto Roça sem queimar: uma alternativa de manejo
agroecológico para região da Transamazônica. (2005). Certificação do Cacaueiro
Orgânico no Município de Medicilância, (2008).
O sistema de Produção de Corte e Queima desenvolvido pelos agricultores
familiares na Região da Transamazônica - Pará. Revista Brasileira de Agroecologia
(2009). O processo de Organização da Cooperativa de Produtos Orgânicos da Amazônia
(COOPOAM), no município de Medicilândia - Pará, (2009). Todas essas pesquisas
foram incorporando aos poucos novas práticas alternativas, novos conhecimentos para o
agricultor familiar da Transamazônica.
Juliete Miranda Alves, professora/pesquisadora da UFPA, desenvolveu
pesquisas com as seguintes temáticas: assentamentos rurais, mediação política,
memória, trajetórias e populações tradicionais. Projeto Político Pedagógico do Curso de
Licenciatura em Ciências Agrárias. (1997). (Projeto). Parentesco, vizinhança e
organização profissional na formação da fronteira Amazônica (2002). Assentamentos
rurais e Engajamento político. Athena. O papel da mulher nos espaços de produção da
agricultura familiar, Altamira-PA. In: VIII Congresso da Sociedade Brasileira de
Sistemas de Produção, 2010, São Luis - MA. Agricultura familiar: crise alimentar e
mudanças climáticas globais, 2010. Revista Científica de Educação (Online) 2009.
A professora/pesquisadora da UFPA Maria Ivonete Coutinho da Silva em sua
tese de doutorado (2008) discute a problemática da agricultura familiar na região da
Transamazônica sob uma perspectiva de gênero. Apesar de seu trabalho não trazer
como temática central a linha da agricultura familiar, a pesquisadora adentra nesta
temática ao abordar a mulher agricultora e as dificuldades que estas enfrentam para
serem reconhecidas no âmbito das políticas públicas destinadas ao trabalhador rural,
bem como, a falta de incentivo para que as mulheres agricultoras consigam produzir de
forma mais sistemática e em maior escala para que seus produtos também possam ser
comercializados. Sem dúvida, este trabalho lança um olhar diferenciado para um ângulo
da agricultura familiar que merece maior atenção dos setores governamentais. Esta
discussão será aprofundada no terceiro capitulo quando se fará uma abordagem do
PRONAF- Mulher.
Como podemos perceber, esses profissionais de diversas áreas de atuação e
tantos outros pesquisadores contribuíram significativamente e participaram
efetivamente do processo de pesquisa acerca da agricultura familiar na Transamazônica
e de suas perspectivas de desenvolvimento. Através de suas pesquisas buscaram analisar
e discutir as diversas facetas do campesinato nesta região. Os resultados dessas
pesquisas deram suporte para publicação de relatórios e de trabalhos técnicos e técnico-
científico, dados importantes que colaboraram em prol do desenvolvimento da
agricultura familiar na Transamazônica.
Estes estudos possibilitaram também a formação de novos técnicos e cursos de
treinamentos para os agricultores, e em alguns casos levaram algumas das tecnologias
testadas nos campos experimentais para os lotes dos agricultores, como no caso da
pimenta-do-reino, manejo do solo, controle e implantação de leguminosas na rotação de
culturas, e implantação de SAF’s, permitindo melhorias significativas na produção da
roça, dos animais, melhorando as condições de renda e da própria alimentação da
família.
Ressaltamos que a contribuição desses profissionais em consonância com a
participação dos agricultores na construção do desenvolvimento permitiu o
fortalecimento da agricultura familiar na Transamazônica. Os frutos desses trabalhos
certamente seguirão sendo colhidos no decorrer do tempo, uma vez que este é um
processo continuo em que novas estratégias poderão ser incorporadas a fim de garantir o
desenvolvimento rural tão almejado pelas famílias agricultoras que ao longo dos anos
vem investindo sua força de trabalho na terra como meio de produção e de reprodução
social.
Nesta perspectiva acredita-se que o investimento nas linhas de crédito com
maior incentivo ao agricultor, para que este tenha acesso aos recursos de forma mais
acessível e sem tanta burocracia, contribuirá significativamente para o aumento da
produção agrícola tanto para o consumo quanto para comercialização dos produtos
agrícolas excedentes. O capitulo que segue faz uma leitura do histórico das linhas de
crédito rural de cunho governamental, enfocando com maior abrangência a criação e a
trajetória do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar-PRONAF.
CAPITULO 2 - HISTÓRICO DO CRÉDITO NO BRASIL E EVOLUÇÃO DO
PRONAF: INTRÍNSECA RELAÇÃO COM AGRICULTURA FAMILIAR
A unidade familiar de produção (...) não é apenas uma forma e produzir safras e criações; é uma forma de produzir gente - boa gente. (ABRAMOVAY, 1999)
A política de crédito nacional foi criada na década de 60 para financiar a atividade
agropecuária brasileira, mas especificamente para apoiar a lavoura cafeeira que
destacava o Brasil como maior produtor de café do mundo. Com a lei n.º 4.829 de
novembro de 1965, e regulamentada pelo Decreto n.º 58.380, de 1966, acontece à
institucionalização do crédito rural, o financiamento agrícola deveria oferecer recursos
financeiros aos produtores rurais ou às suas cooperativas. E estes recursos deveria m ser
aplicados em atividades como: custeio da produção, beneficiamento e industrialização
dos produtos agropecuários, armazenamento, tendo em vista o aumento da
produtividade e assim poder viabilizar o fortalecimento econômico dos produtores
rurais, principalmente os pequenos e médios produtores.
O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) era constituído pelos seguintes
intermediários financeiros: Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, bancos regionais
de desenvolvimento, bancos estaduais, bancos privados, caixas econômicas, sociedades
de crédito, financiamento e investimento, cooperativas e órgãos de assistência técnica e
extensão rural.
No artigo 9º da lei n.º 4.829 de novembro de 1965, foram especificadas as
modalidades de crédito: custeio, investimento, comercialização e industrialização de
produtos agropecuários.
1. Custeio, quando destinados a cobrir despesas normais de um ou mais
períodos de produção agrícola ou pecuária;
2. Investimento, quando se destinarem a inversões em bens e serviços cujos
desfrutes se realizem no curso de vários períodos;
3. Comercialização, quando destinados, isoladamente, ou como extensão do
custeio, a cobrir despesas próprias da fase sucessiva à coleta da produção,
sua estocagem, transporte ou à monetização de títulos oriundos da venda
pelos produtores;
4. Industrialização de produtos agropecuários, quando efetuada por
cooperativas ou pelo produtor na sua propriedade (posteriormente, esta
modalidade foi colocada como uma das formas do crédito de custeio).
Essa política de crédito visava dar impulso a modernização no meio rural, com
novas tecnologias através do crédito rural. Apesar de significar um avanço nas políticas
públicas voltadas para a agricultura brasileira, surgiram diversos problemas como a
discriminação na distribuição dos recursos destinados aos financiamentos rurais, os
quais excluíam os pequenos produtores, visto que esses dispunham de uma parcela
menor das terras e os grandes produtores chamados patronais, tinham mais garantias a
oferecer aos bancos e por isso tinham mais facilidades de acesso ao crédito.
Havia uma predileção por financiar produtos agrícolas que eram voltados à
exportação ou que substituíssem importações e havia uma discriminação das culturas
que abasteciam o mercado interno. Essas culturas eram comumente produzidas pelos
pequenos produtores, que produziam basicamente para o autoconsumo, somente o
excedente da produção era comercializado, por conta disso, seus produtos obtinham
baixa participação nos contratos de crédito beneficiado e do crédito fornecido para os
produtos do tipo exportação.
Nas décadas de 70 e 80 com a expansão da fronteira agrícola para a região
amazônica o crédito rural foi amplamente usado para financiar inicialmente os
agricultores participantes dos projetos de colonização da rodovia Transamazônica
dirigido pelo Governo Federal. Neste contexto, a agricultura familiar tomou rumos
diversificados, inicialmente ficando a mercê da iniciativa própria e da força de trabalho
de cada família, uma vez que o Governo disponibilizou recursos para essa modalidade
de produção agrícola, somente para iniciar a colonização.
Do ponto de vista da política governamental o crédito agrícola estava mais
direcionado aos grandes projetos de “desenvolvimento agrário” como SUDAM,
SUDENE, esses grandes projetos faziam parte do conjunto de estratégias do governo
para ocupar e desenvolver a Amazônia. A política de crédito vigente nesse período não
atendia as especificidades dos agricultores familiares, e assim não garantia condições
para que os pequenos produtores agregassem valor aos seus produtos e entrassem no
cenário de mercado em nível de qualidade e quantidade para competir com os demais
produtores.
Segundo NUNES (2007), no inicio dos anos 90, a agricultura brasileira passou por
um processo de abertura comercial, colocando seus produtos em concorrência com os
países do MERCOSUL. O crédito rural se tornou escasso, foi desativada a Empresa
Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER) e a inflação
apresentava curva crescente. Era o cenário diferente do período que foi até o início dos
anos 80, quando o Estado Nacional desenvolveu uma política de modernização agrícola,
baseada em crédito abundante e em investimentos em pesquisa e assistência técnica. A
inflação e os juros altos que não estimulavam o aumento na produção para os
agricultores familiares e a intensificação do processo de abertura comercial
(principalmente ao MERCOSUL) corroíam a renda agrícola.
Foi nesse contexto que os movimentos sociais organizados cobraram a criação do
PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), o que
significou uma das grandes medidas para a transformação do meio rural brasileiro no
decorrer dos anos, conforme afirma NUNES (2007).
É histórico o fato de que desde que se foi pensado a política de crédito nacional,
os agricultores familiares normalmente pequenos agricultores encontram dificuldades
para obter o crédito agrícola. Geralmente estes ficam em desvantagem em relação aos
grandes agricultores, pois não conseguem apresentar as garantias q ue os bancos
financiadores exigem para a liberação do crédito, comprometendo o trabalho e a
produção da agricultura familiar que como característica a produção para manutenção
da propriedade e para autoconsumo da família, se distanciando do modelo produtivista e
de rentabilidade estabelecido no padrão de desenvolvimento agrícola no período
chamado de “revolução verde” que era altamente produtivista e sustentado na
tecnificação.
Durante muito tempo a produção familiar pouco se pensava em venda e obtenção
de lucros, se visava principalmente à segurança alimentar e a garantia da reprodução
social da família. E mesmo tendo uma quantidade expressiva de agricultores incluídos
nessa categoria, os agricultores familiares não estavam inclusos nas políticas de crédito
o que interessava para a economia brasileira era a agricultura patronal que gerava
maiores divisas para o País. Somente após reivindicações dos movimentos sociais, a
agricultura familiar obteve uma linha de credito destinada exclusivamente a ela, isso
somente aconteceu na década de noventa, com linhas de Crédito do Programa Nacional
de Agricultura Familiar – PRONAF, sobre o qual passamos a leitura.
2.1 - Programa Nacional de Agricultura Familiar- PRONAF
O desenvolvimento da agricultura familiar no Brasil traz em seu histórico as lutas
e embates políticos que mostram como os movimentos exercem a sua força e
capacidade de transformação. A determinação na busca de seus objetivos e a
organização, demonstram os frutos de sua perseverança, das suas ações, um exemplo
como resultado dessa mobilização é a criação do PRONAF, pois até a década de 90 a
agricultura familiar era alijada das políticas públicas apesar da sua importância
econômica e social como geradora de emprego e renda na zona rural.
A partir da iniciativa dos movimentos sociais organizados e sindicalizados rurais,
ligados à CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e ao
Departamento Nacional de Trabalhadores Rurais da Central Única de Trabalhadores-
CUT, nas chamadas “Jornadas Nacionais de lutas” e que depois foram denominadas
“Grito da Terra Brasil”, os quais pressionaram o Governo demandando políticas
especificas aos pequenos produtores com juros mais baixos e apoio institucional. A
partir de então que uma política de crédito para agricultores familiares passou a ser
afirmada no cenário social e político brasileiro. No governo de Itamar Franco foi criado
então o PROVAP (Programa de Valorização do agricultor) que tinha como objetivo
oferecer crédito com juros mais acessíveis aos agricultores familiares, mais tarde passa
a ser intitulado como PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar), considerado um avanço histórico no país.
Segundo MATTEI (2001), O PRONAF surge como uma alternativa que
possibilite o aumento da capacidade produtiva e a elevação da renda, visando à melhoria
da qualidade de vida dos produtores familiares, que faziam parte de um setor importante
da agricultura, mas que ainda não era compreendida como agricultura familiar, sendo
tratada com uma definição conceitual muito imprecisa, pois a mesma era chamada de
formas distintas: pequena produção, produção familiar, produção de subsistência, etc. O
PRONAF proporcionou visibilidade e reconhecimento a esta categoria de trabalhadores
rurais que mesmo sendo pequenos produtores de fato exercem grande importância na
economia brasileira.
Em 1995 o Programa nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF), entra em execução pela Resolução CMN/BACEN nº2.191 de 24 de agosto,
com finalidade de conceder crédito de custeio e investimento na atividade produtiva
familiar onde os beneficiários eram pequenos agricultores que apresentaram Declaração
de Aptidão ao PRONAF e o limite e financiamento de projetos grupais ou coletivos era
de R$ 50.000 respeitando o limite individual de R$ 10.000, as taxas de juros de 16% ao
ano e rebate de 25% MDA (2002).
Em 1996 foi oficializado o Programa Nacional de fortalecimento da Agricultura
Familiar (PRONAF) pelo Decreto Nº. 1.946, de 28 de junho pelo Ministério de
Agricultura e Abastecimento (PRONAF 1996), em 1999 passou para a competência do
Ministério de Desenvolvimento Agrário - MDA. E se obteve uma redução na taxa de
juros para 12% ao ano, com ampliação do limite de crédito individual e coletivo. O
crédito era distribuído conforme a renda familiar anual.
A dinâmica do programa consiste em oferecer linhas de créditos abertas aos
estabelecimentos familiares com a finalidade de suprir a necessidade de capital para as
atividades agropecuárias na propriedade durante o ciclo produtivo, exemplo é o crédito
de custeio da produção, bem como a necessidade de capital para o investimento
necessário na terra, para viabilizar a manutenção, a expansão e a também a
competitividade dos produtos da unidade familiar.
Em 1997 houve a Inclusão de novos beneficiários como pescadores artesanais,
aqüicultores e seringueiros extrativistas, diminuindo um pouco mais a taxa de juros para
6,5% ao ano e criação de novas linhas de financiamento, inclusive modalidade destinada
a melhorar a infra-estrutura e os serviços comunitários rurais e em 1998, houve redução
da taxa de juros para 5,75% ao ano e criação da linha PRONAF AGREGAR, sendo que
no ano 2000, a taxa de juros caiu para 4% ao ano.
Nos anos seguintes houve considerada queda na taxa de juros, o que permitiu que
mais agricultores tivessem a cesso ao crédito e conseguissem quitar suas dividas com
mais facilidade, em relação às taxas de juros no inicio de execução do PRONAF que
chegaram a 16% ao ano, conforme podemos verificar nos gráficos a seguir.
Figura 1. Histórico de juros do PRONAF de 1995 a 2000. Fonte: MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – PRONAF.
Observamos que ao longo dos anos foram sendo criados dentro do PRONAF
novos grupos. Esse aperfeiçoamento foi acontecendo visando atender os diversos
públicos e contextos sociais que iam sendo identificados durante os anos de execução
do programa, dessa forma pode-se ampliar o atendimento a cada vez mais agricultores
familiares, principalmente aos mais pobres.
Cada linha de crédito sempre irá variar em relação ao limite do empréstimo, aos
prazos e pagamentos estabelecidos, se diferenciando de região para região e de cada
categoria beneficiada, o crédito é oferecido aos agricultores familiares sob a forma de
grupos chamados de A, B, C, D, e E, com exceção do grupo A, a participação nos
outros grupos se deve a renda familiar anual do solicitante. PRONAF (2006)
Em 2001, se obteve a elevação do limite de financiamento, com aumento de até
05 anos do período de carência para projetos de investimento. Em seguida em 2002, se
elevou o limite de crédito em projetos iniciais para beneficiários do grupo “A”, porém
houve suspensão do financiamento à cultura do fumo.
O que se pode perceber no crédito para agricultura familiar é novamente a
tendência de colocar o homem como beneficiário do crédito, quando se pensou em
PRONAF se idealizou crédito considerando o homem como chefe da família, a mulher
poderia obter crédito, mas com maiores dificuldades de acesso a esse incentivo
16%
12%
6,50%5,75% 5,75%
4%
1995 1996 1997 1998 1999 2000
JUROS
JUROS
financeiro. Somente em 2004 houve a inclusão de novas linhas de financiamento, como
o PRONAF Mulher, PRONAF Jovem, PRONAF grupo “E”.
Tabela 1. Categorias e limite de crédito e prazos de pagamentos atuais (Plano safra 2010/2011).
GRUPO ÁREA RENDA
BRUTA
ANUAL
MÃO-DE-
OBRA
RENDA
FAMILIAR
A e A/C 4 Mód.
Até R$ 6 mil
Familiar
30% B 4 Mód.
AGRICULTURA
FAMILIAR
4 Mód.
R$ 6 mil –
110 mil
Até 2
contratados
70%
Fonte: MDA, 2011.
Houve a extinção dos grupos C, D, e E do PRONAF se constituiu uma única
categoria intitulada agricultura familiar, os grupos A (reforma agrária) e B (microcrédito
rural) não foram alterados.
O grupo A são agricultores familiares assentados da reforma agrária e do crédito
fundiário, para o grupo A/C é preciso apresentar DAP para o grupo A/C, ter contratado
a primeira operação no grupo A e não ter contraído custeio exceto no grupo A/C. O
grupo B tem características semelhantes ao grupo A, pois ambos devem ter quatro
módulos rurais, ter no mínimo 30% da renda proveniente da atividade agropecuária e
com renda bruta anual de até 6 mil reais.
O Governo Federal, através do Ministério do Desenvolvimento Agrário,
credenciou diversas entidades representativas dos trabalhadores familiares, para
fornecer- lhes o documento que lhes habilita ao financiamento, denominada DAP –
Declaração de Aptidão ao PRONAF. A DAP é gratuita.
O agricultor deve procurar, por exemplo, o sindicato rural que é filiado, uma
entidade de assistência técnica e extensão rural (EMATER, CEPLAC, etc) para
obtenção da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP). Em seguida este deve
procurar a empresa de ATER do município para elaborar o Projeto Técnico de
Financiamento e assim definir a atividade produtiva a ser financiada. Com o projeto
elaborado e a DAP em mãos, ele pode encaminhar o projeto para análise de crédito e
aprovação do agente financeiro. Então o banco analisará a renda obtida pela família e o
que será produzido para aprovar ou não o financiamento; caso seja aprovado o
agricultor irá fazer a negociação do financiamento junto ao banco.
A DAP é utilizada como instrumento de identificação do agricultor familiar para
ter acesso ao credito rural concedido atraves do Pronaf, para obtê-la, o agricultor
familiar deve dirigir-se a um órgão ou entidade credenciado pelo MDA, munido de CPF
e de dados acerca de seu estabelecimento de produção (área, número de pessoas
residentes, composição da força de trabalho e da renda, endereço completo). SAF/MDA
Existem duas alternativas para emissão de DAP: em papel ou pela via eletrô nica.
A primeira é válida somente quando utilizado formulário produzido pela SAF,
distribuido para a rede de agentes emissores, por intermédio as Delegacias Federais do
Desenvolvimento Agrário. Pela via eletrônica, existem dois caminhos de acesso: os
Aplicativos homologados pela SAF e o aplicativo desenvolvido pela SAF, o DAPweb.
(SAF/MDA).
Para os agricultores participarem do programa de fortalecimento da agricultura
familiar (PRONAF) deve se enquadrar em algumas condições impostas à unidade
familiar rural são estabelecidas algumas condicionantes que irão habilitar a unidade
familiar para receber o crédito do PRONAF: o/a agricultor/a deve explorar a terra como
proprietário/a, posseiro/a, arrendatário/a, parceiro/a ou concessionário/a do Programa
Nacional de Reforma Agrária; Possuir no máximo quatro módulos fiscais2 ou seis
módulos fiscais, no caso de atividade pecuária; residir na propriedade ou em local
próximo; ter o trabalho familiar como base da exploração do estabelecimento; ter renda
bruta anual compatível com a exigida para cada grupo do PRONAF.
Desde sua criação o PRONAF vem sofrendo mudanças tanto institucionais como
financeiras, para tentar corrigir problemas quanto à distribuição de recursos por classe
de agricultores e por região, pois as regiões como o norte e nordeste que tem os
agricultores mais pobres, pouco conseguiam acessar o crédito, enquanto que para a
região sul o PRONAF disponibilizava altos valores, para minimizar essas desigualdades
ia sendo ajustada a distribuição dos recursos juntamente com diminuição de juros e
aumento de montante disponível por safra agrícola.
2 O módulo fiscal serve de parâmetro para classificação do imóvel rural quanto ao tamanho, na forma da
Lei nº 8.629 de 25 de Fevereiro de 1993. Pequena propriedade – o imóvel rural de área compreendida
entre 1 (um) e 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais. Serve também de parâmetros para definir os
beneficiários do PRONAF (pequenos agricultores de economia familiar, proprietários, meeiros, posseiros,
parceiros ou arrendatários de até 4 (quatro) módulos fiscais).
O módulo fiscal utilizado na Região da Transamazônica é de 75 a 100 hectares.
Ano a ano, o investimento feito na agricultura familiar, através do PRONAF vem
apresentando resultados positivos, de fato o crédito disponível para o agricultor familiar
tem gerado mudanças no setor produtivo da agricultura familiar. Esta realidade já pode
ser verificada em vários setores agrícolas e unidades de produção da região da
Transamazônica.
A solicitação do crédito pelo agricultor familiar pode se realizar de forma
individual, coletiva ou institucional. Durante os 15 anos de PRONAF, houve um
crescimento continuo no número de municípios atendidos, no gráfico a seguir pode-se
observar o comportamento das taxas de contratação de crédito dos projetos para se
beneficiar do PRONAF, e constatar que também cresceu o montante disponibilizado aos
agricultores, cada vez mais famílias estão tendo acesso ao crédito e podem investir nas
atividades que serão desenvolvidas em suas propriedades.
Figura 2. Montante disponibilizado em milhões X taxa de contratação de crédito. Fonte: SAF/MDA.
Acessado no link: http://portal.mda.gov.br/portal/saf/programas/pronaf/2259286.
E importante notar que em dado momento histórico o Estado brasileiro reconhece
a agricultura familiar como um segmento produtivo e de grande importância para a
economia do país criando a Lei 11.326 de 24 de Julho de 2006, estabelecendo assim,
uma tentativa de definir o conceito de agricultura familiar. Dessa forma acredita que
através desta lei pode representar a garantia de políticas de crédito, infra-estrutura e
serviços a agricultura familiar. Neste caso a delimitação do conceito de agricultura
familiar é feita através de critérios que levam em consideração o tamanho da
propriedade, onde se sobressaia à mão-de-obra familiar e que toda a gestão da
propriedade agrícola seja realizada pela família.
[...] a partir de três características centrais:
a) A gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são feitos
por indivíduos que mantém entre si laços de sangue ou casamento;
b) A maior parte do trabalho é igualmente fornecida pelos membros da família;
c) A propriedade dos meios de produção (embora nem sempre da terra) pertence
à família e é em seu interior que se realiza sua transmissão em caso de
falecimento ou aposentadoria dos responsáveis pela unidade produtiva.
INCRA/FAO (1996:4).
Diante desta leitura podemos observar que a agricultura familiar vem mostrando
sua força de produção, de organização, e sua capacidade de adaptação as diversas
situações que tem se deparado no decorrer dos anos. Apesar de todas as dificuldades e
conjunturas políticas essa categoria tem exercido grande influencia no modo de
produzir, permitindo o desenvolvimento e qualidade de vida de muitas famílias, sendo
apresentada como uma alternativa viável de reconstrução das bases econômicas, sociais
e ambientais peculiares das unidades familiares.
Reforçando esta realidade Alberto Duque Portugal (2004) comenta que a
agricultura familiar é constituída por pequenos e médios produtores que representam a
imensa maioria de produtores rurais no Brasil. São cerca de 4,5 milhões de
estabelecimentos, dos quais 50% no Nordeste. Os segmentos detêm 20% das te rras, e
responde por 30% da produção global. Em alguns produtos básicos da dieta do
brasileiro como o feijão, arroz, milho, hortaliças, mandioca e pequenos animais, sendo
responsável por 60% da produção. Em geral, são agricultores que tem baixo nível de
escolaridade e diversificam os produtos cultivados para diluir custos, aumentar a renda e
aproveitar as oportunidades de oferta ambiental e disponibilidade de mão-de-obra.
O censo Agropecuário de 2006 aponta a agricultura familiar como
importantíssima para a economia brasileira, pois esta categoria de pequenos e médios
produtores é responsável pela maior parte da produção dos alimentos que chegam
diariamente à mesa dos brasileiros, mesmo ocupando apenas 24,3% de toda área
destinada à produção agropecuária, pois a agricultura familiar tem maior produtividade
que a agricultura patronal e responde a 38% a renda gerada na zona rural. A cada 100 ha
utilizados, a agricultura familiar ocupa e/ou contrata 15,3 pessoa enquanto a agricultura
patronal utiliza 1,7 pessoa durante todo o processo produtivo.
Figura 3. Participação da agricultura familiar no Brasil. Fonte: Censo agropecuário 2006. IBGE
Observa-se que os estabelecimentos agropecuários familiares existentes no Brasil
são no total de 4.367,902, o que corresponde a 84,4% do número de estabelecimentos
agrícolas do país.
A renda Total por hectare, a agricultura familiar mostra-se muito mais eficiente
que a patronal, produzindo uma média de R$104,00/ha/ano contra apenas
R$44,00/ha/ano dos agricultores patronais. Essa constatação refere-se ao rendimento do
fator terra, a logística de uso da terra dos agricultores familiares revela-se mais
eficientes, pois utilizam maior parte de sua área em sistemas intensivos, tentando
aproveitar ao máximo sua área total. Os agricultores patronais, pelo contrário, possuem
terra em abundância, logo a tendência é a utilização da melhor parte de sua terra com
um sistema intensivo, e o restante da área a um sistema mais extensivo.
84,475,7 74,4
38
15,624,3 25,6
62
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Agricultura familiar
Agricultura patronal
Figura 4. Geração de renda agricultura familiar x agricultura patronal. Fonte: IBGE.
Em relação ao uso do fator trabalho, os agricultores patronais fazem um uso
mais intensivo da mão-de-obra, já que esse é um fator escasso para essa categoria, em
contra partida os agricultores familiares fazem um uso mais extensivo, já que possuem
muita gente da família, e estas são alocadas nos trabalhos agrícolas. Para o agricultor
familiar quanto maior a disponibilidade de área, maior a participação de sistemas
extensivos (cana, pecuária de corte). Nestes casos, a prioridade do produtor é introduzir
sistemas que irão garantir uma boa produtividade do trabalho, mesmo que isso
signifique baixa rentabilidade por unidade de área.
Segundo SCHNEIDER (1999), além das estratégias de ocupar a mão-de-obra
familiar em atividades agrícolas e não-agrícolas, os agricultores familiares
freqüentemente conciliam a mão-de-obra familiar com a contratada (temporária ou
permanente) nas atividades produtivas dentro das propriedades, quando há carência de
mão-de-obra familiar, sendo que isso geralmente ocorre em casos como quando os
filhos não estão em idade de participar das atividades agrícolas, a mão-de-obra familiar
já perdeu seu potencial produtivo (predominância de idosos) e quando a propriedade
pratica atividade produtiva altamente intensiva em mão-de-obra.
Esta leitura nos permite dizer que o PRONAF veio para fortalecer e valorizar a
agricultura familiar, oferecendo não só crédito para o desenvolvimento da produção
agricultura, geração de renda e agregando valor aos produtos desses agricultores, mas
R$ 667,00
R$ 358,00
Renda por hectare
Agricultura familiar
Agricultura patronal
Agricultura familiar 89% mais
produtiva
oferecendo oportunidade para essas famílias alcançarem sua independência econômica,
social e, sobretudo a fixação na terra.
Consideramos que a trajetória das famílias agricultoras no Brasil sempre foi de
muita luta e conquistas, também de extrema superação. O agricultor familiar vive e
sobrevive com pouca terra, diversifica a sua produção e apresentam modos diferentes de
se relacionar com a natureza, ele se adapta ao ambiente em que se estabelece. Por isso,
todos os investimentos que são feitos e ofertados para a agricultura familiar são
facilmente justificados. Investir na agricultura familiar é investir no desenvolvimento,
na sustentabilidade da economia, pois através de sua atividade produtiva essas famílias
conseguem se sustentar e movimentam a roda da economia nacional, produzindo mais,
gerando renda, emprego e riqueza para o país.
CAPÍTULO 3 - O PRONAF MULHER E SUA CONFIGURAÇÃO NO CONTEXTO
DE BRASIL NOVO E TRANSAMAZÔNICA
As políticas públicas têm impactos diferenciados entre homens e mulheres nos diferentes contextos, tanto no contexto rural como no urbano. (Hernández, 2010)
Neste capitulo vamos discutir a distribuição regional dos recursos agrícolas entre
as categorias de agricultores e destacar a participação das mulheres agricultoras nas
atividades agrícolas, bem como nas políticas públicas, especificamente em relação ao
acesso ao crédito rural – PRONAF- Mulher.
MELO (2004) e CARNEIRO (2001) afirmam em diversos estudos sobre
Agricultura Familiar e linhas de crédito que desde a primeira formulação do PRONAF,
as ações pensadas e executadas neste programa tinham a predominância de ações
propostas no masculino, não dando visibilidade e reconhecimento à mulher agricultora,
como sujeito do processo social no meio rural, assim conforme essas autoras mostram
que não havia/há uma perspectiva de gênero nas linhas de crédito propostas pelo
PRONAF.
Como já foi exposto nos capítulos anteriores, esta linha de crédito específica para
mulher é fruto das exigências e pressões do movimento de mulheres e de outros
movimentos sociais. O PRONAF Mulher foi criado com a portaria nº121 de 22 de maio
de 2001, com o objetivo de facilitar o acesso para mulheres agricultoras rurais aos
recursos do PRONAF. Os movimentos de mulheres entre outras entidades exigiram a
inclusão dessa uma linha de crédito para mulher agricultora, alegando que incorporasse
o gênero, nas discussões e ações no contexto rural, onde homens e mulheres têm
diferentes necessidades, as quais precisam ser consideradas, distintamente no
planejamento das políticas agrícolas.
A falta de acesso das mulheres a terra, aos recursos naturais produtivos para
fomento das atividades agrícolas e não agrícolas, aos direitos trabalhistas e
previdenciários e aos serviços de assistência social são limitações para se obter o
desenvolvimento rural sustentável. In: folheto firmado por várias entidades de classe,
como :CONTAG; FETAGs; STRS; CUT; entre outras no documento intitulado “Pauta
de Reivindicações da Marcha das Margaridas” (10.08.2000).
Mesmo após ter sido validado em 2001 através de portaria a “facilitação” de
acesso ao crédito do PRONAF para as mulheres, por decisão do MDA em liberar
recursos para as mulheres agricultoras, esta ação praticamente não saiu do papel, pois as
mulheres, os movimentos sociais, as agencias bancárias não tiveram o conhecimento da
medida adotada pelo ministério nesse período. MELO (2004). No entanto, esta medida
ainda não incluía as mulheres no PRONAF, somente após varias reivindicações dos
movimentos sociais e cobranças do movimento de mulheres, que o Governo determina a
inclusão de gênero no PRONAF.
Então no Plano safra 2003/2004, se cria o PRONAF mulher, que ainda não era
uma linha de credito especifico para as mulheres, mas sim um valor adicional de 50%
ao montante que já era oferecido as famílias, onde o homem era o requerente do crédito
junto ao banco, e ele que fazia a solicitação do acréscimo de 50%, muitas vezes para
financiar atividades de interesse dele usando a mulher como escusa.
Esse acréscimo poderia ser usado no investimento de alguma atividade a ser
desenvolvida pela mulher, o que, porém ainda não atendia as especificações e
exigências feitas pelo movimento social, pois da forma como estava sendo
disponibilizado esse “crédito”, muitas mulheres trabalhadoras rurais ainda não eram
contempladas por essa política de crédito,visto que não se sentiam vistas, apreciadas, e
ainda enfrentavam muitas restrições e dificuldades para obter crédito e assim investir e
produzir em suas propriedades.
Muitas dessas mulheres almejavam ter crédito para empregar em uma atividade
que elas elegessem para executar, mas a priori o acréscimo de até 50% do valor de
crédito oferecido às famílias era basicamente investido nas atividades já estabelecidas
pelo marido.
A princípio quando os movimentos sociais exigiam o crédito especial para
mulheres era para servir como subsidio da produção de alimentos saudáveis, para
recuperarem o valor e produzir sementes crioulas, investir em ervas medicinais,
hortaliças, frutas, ajardinamento, investir na criação de pequenos animais, proteger e
recuperar mananciais de água, mas acima de tudo porque as mulheres desejam ser
reconhecidas como sujeitas, com participação ativa na produção, comercialização e
industrialização de tudo que é produzido na propriedade.
Nessas reivindicações quem poderia ter acesso a essa linha de crédito seriam as
pequenas proprietárias, assentadas, arrendatárias, parceiras, meeiras, pescadoras
artesanais, extrativistas, quebradeiras de coco. Esse crédito deve garantir a mulher
produtora rural acesso ao crédito independente de seu estado civil, que a mulher tenha
autonomia de acesso mesmo que seu marido já tenha solicitado outro crédito, liberação
de crédito sendo a mulher titular ou não da posse da terra, que o aval seja solidário no
grupo de mulheres e que o crédito seja subsidiado. Neste sentido o objetivo do
PRONAF mulher como linha de crédito era/é de aumentar a capacidade produtiva,
melhorar a qualidade de vida, na aplicação do exercício de cidadania das mulheres a
partir da ampliação de sua autonomia, participação econômica e política, no seu
contexto familiar e social. MDA/NEAD (2005).
O Banco Central através da resolução nº3 ele define a cota de participação das
mulheres no crédito rural, e estas passam a ter disponibilizado 30% do total do crédito
do plano safra da agricultura anual. Essa conquista foi de grande importância para
viabilizar a autonomia de muitas mulheres que são chefes de família, que coordenam as
atividades de sua propriedade, que precisam de capital para desenvolver atividades que
gerassem renda, mas poucas mulheres conseguiram obter esses recursos, pois, ainda há
muitos problemas e dificuldades em adquirir o crédito rural, e esses empecilhos se
tornam maiores quando se trata da questão de gênero, o que impede que grande número
de mulheres tenha acesso ao PRONAF mulher.
Na safra 2003-2004 do PRONAF mulher, 60% das restrições as mulheres para o
acesso ao crédito (SAF/MDA), refere-se à ausência de documentação como registro
civil e CPF. As desigualdades entre homens e mulheres estruturam as relações sociais e
se manifestam na obtenção da cidadania formal, pois sem documentos as mulheres não
conseguem acessar as demais políticas públicas como acesso a terra e crédito para a
produção.
A partir de 2003, o Programa Nacional e Reforma Agrária do INCRA, buscou
ampliar os direitos das mulheres à terra. As mulheres foram incluídas desde a inscrição
até a relação de beneficiário da terra, sendo os nomes da mulher e do homem
independente de seu estado civil, pois se levou em consideração as mulheres chefe de
família. Esse foi um dos avanços nas políticas públicas para as mulheres camponesas,
conferindo- lhes o direito a terra e a titulação em seu nome, pois a realidade é que as
instituições que fazem a distribuição de credito usavam e ainda utilizam critérios que
excluem em vários níveis as mulheres de usufruir os benefícios do Crédito Rural. Isto
ocorre porque historicamente os programas de crédito foram formulados de forma
tradicional, considerando sempre o homem como o chefe da família, então quando surge
o caso de mulheres que são chefes de família, estas acabam não se enquadrando no
perfil estabelecido de beneficiado.
Geralmente, quando as mulheres vão a busca de crédito para programar ações
produtivas na sua propriedade, são privadas, limitadas, tolhidas, pois se vêem diante de
dificuldades como maiores taxas de juros com valores menores de crédito do qual é
ofertado a homens, prazos menores para pagar o financiamento, baixa porcentagem de
abatimento do valor da divida com adimplência. Com isso entendemos que as políticas
ainda não são adequadas corretamente às questões de gênero, pois é preciso
entendimento da existência de especificidades que necessitam de atenção especial.
Por exemplo, se uma mulher não tiver marido e desejar obter crédito para levar
adiante algum projeto de desenvolvimento de atividade produtiva em sua propriedade
não poderá obter valores semelhantes aos dos homens, os bancos exigem garantias
como o título definitivo no nome da beneficiária, e muitas mulheres por não terem
passam ser excluídas do programa. Tanto é verdade que o próprio PRONAF mulher é
mais como um complemento a outros financiamentos realizados na propriedade, pelo
marido, ou outro membro da família.
Neste contexto observamos que a participação da mulher no crédito rural de forma
geral nos mostra que houve um avanço nas mudanças presentes nas relações sociais de
gênero, mas que ainda precisam ser aprimoradas, para que não permaneçam as
desigualdades e o impedimento às mulheres trabalhadoras rurais de exercerem as
atividades que elencarem importantes para o desenvolvimento e funcionamento
agrícola. Neste contexto neste capitulo iremos discutir especificamente sobre as
principais dificuldades encontradas pelas mulheres associadas ao sindicato rural de
Brasil Novo para acessar o PRONAF mulher.
3.1 - PRONAF Mulher no Município de Brasil Novo
Brasil Novo inicialmente era uma Agropólis do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária - INCRA, (sede administrativa e de apoio à colonização) criada
devido à distância da cidade de Altamira e a necessidade de desenvolvimento e
integração da Transamazônica. Na década de 70, vieram migrantes de vários Estados do
país para a região, e trouxeram seus costumes, culturas, valores e organização social.
Com o fim da ditadura militar e a volta da democracia, o Pará criou novos
municípios no início dos anos 90, dentre os quais, Brasil Novo. O Município de Brasil
Novo (PA) nasceu a partir de uma área desmembrada dos municípios de Medicilândia,
Altamira e Porto de Moz; possui uma área territorial de 6.368,25 km², foi criado pela
Lei Estadual n.º 5.962 de 13/12/1991, está situado no sudoeste do Estado, sua sede está
localizada às margens da Rodovia Transamazônica, (BR-230) km 46, abrangendo
ambas as margens dessa Rodovia.
Figura 5. Mapa do município de Brasil Novo.
A população de Brasil Novo está composta de 17.960 habitantes, desses, 61,51%
vivem na zona rural, e 38,49% na sede do Município (IBGE, CENSO 2010). É servido
por 15 vicinais (travessões), que interligadas dão acesso à sede urbana, tendo como eixo
principal a Rodovia Transamazônica (em forma de espinha de peixe). Na tabela abaixo
mostro alguns dados atuais referentes ao município, e assim melhor delinear suas
configurações.
A economia de Brasil Novo atualmente se baseia na pecuária extensiva de corte,
extração de madeira de lei, comércio e prestação de serviços básicos, agricultura perene
(cacau, café, pimenta-do-reino, frutas) e culturas agrícolas anuais como feijão, arroz,
milho, mandioca, e algumas indústrias artesanais. O Município apresenta solos
diversificados sendo predominantemente arenoso/argiloso tendo faixas de terra roxa.
3.2 – O PRONAF e as Mulheres Agricultoras de Brasil Novo
Após a conquista das mulheres agricultoras em relação à garantia de uma linha de
crédito específica, entende-se que ainda existem lacunas a serem preenchidas no que diz
respeito ao acesso ao PRONAF mulher. Desta forma iremos retratar como tem sido
operado o PRONAF mulher em Brasil Novo, e se as mulheres associadas ao STTR tem
conseguido acessar essa linha, bem como levantar e discutir as principais dificuldades
encontradas por elas junto aos bancos na hora de obter o crédito.
Por regra geral, para o agricultor e agricultora acessarem o PRONAF, estes
primeiramente devem obter a DAP. Em Brasil Novo quem emite a DAP é o Sindicato
de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, ele emite essa declaração por um cadastro
online que a instituição faz junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA,
porém ela só emite essa declaração apenas aos associados do sindicato.
Para ser associado é necessário que a pessoa seja comprovadamente agricultor
rural, e se tiver outra atividade que a renda obtida nesta atividade não seja maior que a
renda agrícola. O sindicato faz a fiscalização para saber se esses agricultores ainda
moram em suas propriedades, e se ainda exercem atividades agrícolas nos seus
estabelecimentos. Pois muitos entram no sindicato apenas para obter benefício do INSS,
como aposentadoria, auxilio – maternidade, entre outros e não são de fato agricultores.
Para se associar é preciso ser trabalhador ou trabalhadora rural, ter de 0 a 300 ha,
ter uma carta de apresentação sindical, exigência tanto para os homens como para as
mulheres, esta carta de apresentação é concedida por um delegado sindical, nomeado
pela direção do sindicato, esses delegados sindicais moram em propriedades rurais
localizadas nas diversas vicinais de Brasil Novo, e eles são os responsáveis de dar a
carta de apresentação, onde assinam essa carta se responsabilizando pela veracidade dos
dados apresentados pelo colono que quer se associar.
No decorrer da história de colonização da Transamazônica se observou que o
papel de reivindicador dos sindicatos foi sendo mesclado com o de buscar alternativas
junto com seus associados para melhorar a qualidade de vida desses agricultores e
agricultoras. O sindicato é quem orienta e apóia os agricultores sobre a obtenção de
crédito rural.
O sindicato de trabalhadores e trabalhadoras rurais de Brasil Novo foi criado em
1993, até 1999 não havia nenhuma mulher associada, e os associados eram todos
homens. A partir de 2000 o sindicato iniciou uma política de inclusão para estimular a
participação das mulheres nas reuniões, nas discussões sobre os problemas enfrentados
na agricultura familiar em Brasil Novo, e assim trazer essas mulheres para fazerem parte
do sindicato. O resultado dessa ação é a participação significativa das mulheres no
sindicato, atualmente são 1989 mulheres associadas cerca de 47,75 % e 2176 homens
associados sendo 52,25 % do total de associados.
È comum que se tenha pouca participação das mulheres nas assembléias, elas
chegam a ser 40% dos associados presentes na p lenária. O que se constatou é que as
mulheres que participam dizem achar importante ir as reuniões para ficarem informadas,
tirar suas dúvidas e contribuírem de alguma forma junto ao sindicato. A predominância
da presença masculina revela que a maioria das mulheres que não participam das
reuniões é porque ficam em casa e espera o marido trazer as notícias quando voltar, elas
ficam cuidando das crianças, dos afazeres domésticos, da propriedade, alem do que
algumas mulheres ainda acham que é o homem que tem que participar desses encontros
e que ela não se encaixa nesses espaços.
No contexto rural da Transamazônica, assim como em acontece em quase todo
Brasil, a mulher ainda vem sendo considerada como coadjuvante e ligada apenas a
atividades de bastidores na propriedade rural, o homem é visto como o “provedor” que é
envolvido no trabalho produtivo fora do lar, que engloba a pecuária a agricultura e tudo
que envolva as decisões e atividades de mercado tomadas no dia-a-dia da propriedade,
porém a mulher cabe ser responsável do papel reprodutivo e das tarefas domésticas.
Em sua tese de doutorado (2008) a professora Ivonete Coutinho discute a
importância da mulher para o desenvolvimento da região, e discute a permanente
invisibilidade da contribuição das mulheres no cenário social da Transamazônica, onde as
formas de silenciamento e esquecimento, historicamente produzidas por mecanismos que
reforçam a divisão de papéis sociais com base na autoridade e visibilidade do homem,
deixam a mulher como personagem secundária e complementar das ações masculinas. Na
Transamazônica essa realidade se evidencia quando se observa a generalizada ausência de
reconhecimento do trabalho da mulher na agricultura e, principalmente nas atividades
sociais que contribuíram para a história dessa região. COUTINHO SILVA (2008).
HEREDIA (2006) acrescenta a esta discussão que para a mulher rural em regime
de economia familiar, o trabalho agrícola é uma extensão das suas tarefas domésticas É
comum que para a própria mulher todo trabalho que ela exerce na propriedade, mesmo
que se estenda para as lavouras e pecuária, este passará a ser incluído como atividade
parte de sua função doméstica.
Neste Sentido BRUMER (2004) discute que para as mulheres são deixadas as
atividades como cuidar da casa, criação dos filhos, preparação das refeições, criação de
pequenos animais e pequenas lavouras destinadas à produção de alimentos voltados
para o autoconsumo. Aos homens compete atividades como a organização da produção
destinada à venda administrando recursos e tecnologias necessários para a mesma.
HEREDIA et AL (1984), quando analisam unidades domésticas camponesas
constatam que o lugar do homem é na roça, enquanto que o da mulher é em casa e em
seus arredores, ou seja, ocorre uma divisão sexual do trabalho, mais que isso, uma
inversão dos papéis. Nesse contexto, a roça é de domínio masculino, enquanto que a
casa e a produção de alimentos voltados para o autoconsumo seriam de domínio
feminino.
Na agricultura familiar fica a idéia de que o homem trabalha e a mulhe r só o
ajuda, mais que isso, o trabalho da mulher é considerado leve e o do homem trabalho
pesado. O esforço da mulher não é considerado de fato trabalho. Nesse contexto
BRUMER (2004), discute a desvalorização do trabalho a partir do gênero, onde as
mulheres que trabalham junto e em proporção muitas vezes equivalente, realizando as
mesmas atividades que os homens, não têm visibilidade desse trabalho que muitas vezes
nem é considerado trabalho.
Com o passar dos anos foi se transmitindo a idéia de que a mulher agricultora
apenas ajuda, em contra partida ao homem é atribuída a responsabilidade pela produção
e pelas tomadas de decisão referente a ela. A abordagem sociocultural propõe que as
diferenças são produzidas pela socialização transmitida de geração a ge ração; nesse
sentido, “gênero é considerado como a forma pela qual cada sociedade trata as
diferenças entre os sexos, criando estereótipos e valorizando diferentemente seus
atributos próprios”. GONÇALVES (1998)
“O trabalho da mulher está em toda parte, tudo que se ver na propriedade tem o
dedo da mulher, a mulher trabalha quando prepara a comida, quando limpa a casa,
quando lava roupa, na costura da roupa, na organização e na gerencia do lar, na criação
dos filhos, na criação das galinhas, dos porcos, na horta, no roçado familiar, ou na
“ajuda” ao marido.” JIOVANA LUNELLI - PRESIDENTE DO STTR DE BRASIL
NOVO.
Da mesma forma que o trabalho da roça acaba sendo visto como trabalho
masculino, o participar do crédito rural ainda é visto como “negócio de homem”. O que
se pode observar sobre a relação das mulheres agricultoras de Brasil Novo e o crédito
rural é que ainda existe uma grande subordinação das mulheres aos maridos e neste caso
a mulher reproduz a situação de desigualdade ao reconhecer no homem a capacidade de
lidar com a esfera pública, sob alegação de sua inexperiência e até “incompetência” para
realizar a atividade de negociação.
Tanto que nas reuniões no sindicato quando o tema é crédito rural os homens são
maioria. O próprio marido impõe limitação da mulher ao acesso a informação e a
administração da propriedade, é o marido que gerencia as atividades da propriedade, faz
compra de produtos agrícolas, medicamentos para os animais, e inclusive faz a
negociação no banco para obtenção de crédito. Colocou-se na cabeça que mulher não
sabe negociar, que é mais frágil, ingênua, portanto mais propensa a ser enganada nas
negociações agrícolas. Essa representação “naturalizada” do homem como chefe de
família e responsável pela produção, resulta na desvalorização e marginalização das
atividades realizadas pelas mulheres na esfera produtiva e reprodutiva. ALVES (2006).
O sindicato reuniu todos os associados em plenária, enfatizando a presença das
mulheres associadas para discutir o PRONAF mulher, foi apresentado todo o programa,
o limite de crédito, os juros a serem cobrados, e tentou se debater com as mulheres
propostas de ações produtivas na sua propriedade que poderiam ser financiadas pelo
PRONAF mulher, mas o que se percebeu é que os maridos estavam falando ao ouvido
de suas esposas, influenciando-as a questionar sobre o uso do PRONAF mulher para
comprar gado, fazer pasto, investir no cacau, o que na verdade não expressava a opinião
real da mulher agricultora e sim do seu marido, que tentava manipular de alguma fo rma
um possível destino para o uso do PRONAF mulher, caso suas esposas pudessem ter
acesso.
É importante salientar que a maioria desses homens já contraiu divida com crédito
agrícola, e vêem essa oportunidade como uma forma de obter o dinheiro do crédito da
mulher e pagar as parcelas do crédito anterior. Porém, nenhuma mulher associada ao
sindicato conseguiu tirar PRONAF mulher de fato.
“Quando chamamos os associados para discutir o PRONAF mulher logo os
maridos estavam cochichando no ouvido das mulheres, dizendo que bom mesmo seria
usar esse dinheiro para comprar gado e plantar cacau, tentamos conversar só com as
mulheres mas os homens ficavam vigiando para ver o que as mulheres iam dizer,
conseqüência disso é que praticamente ninguém fala de PRONAF mulhe r, os homens
querem pegar crédito maior, que dê mais dinheiro.” JIOVANA LUNELLI – Presidente
do Sindicato de trabalhadores de Brasil Novo.
Em pesquisa de campo ao banco da Amazônia e Banco do Brasil em Altamira
informaram-me que não havia operações do PRONAF mulher em Brasil Novo até o
exato momento. O gerente do banco do Brasil esclareceu que havia sido solicitado oito
operações até 2010, mas nenhum dos projetos haviam sido aprovados, por falta de
documentação, ou porque o projeto não foi aprovado (viabilidade econômica), o banco
considerou que não havia possibilidade da agricultora executar o projeto, os valores
solicitados eram valores baixos até 3 mil reais por projeto, para investir em gado,
mandioca, criação de pequenos animais, mas mesmo assim não foram aprovados, o
banco coloca a culpa no solicitante ou seja no agricultor rural, dizendo que não elaborou
direito o projeto e que portanto não poderá executá- lo e pagar as parcelas.
Verificamos então que Em Brasil novo nenhuma mulher associada ao sindicado
de trabalhadores rurais conseguiu acessar o PRONAF mulher, apenas algumas mulheres
tiveram acesso a outras linhas do PRONAF, como o PRONAF B para investir em
mandioca, sendo esta apenas uma agricultora contemplada com o valor de R$ 1500.
A maior reclamação das mulheres é quanto a burocracia dentro do banco do
Brasil, as dificuldades de acesso ao crédito já começam pelo fato de ser mulher, ou
porque o marido já ter acessou crédito e por não ter pagado a divida está inadimplente
junto ao banco, como o Pronaf é um crédito oferecido a unidade familiar a DAP
acessória ficar limitada a DAP titular que está devedora, logo a mulher que não tem o
lote no seu nome, é excluída do processo por causa do marido.
O banco não dá crédito em todos os sentidos a mulher, não acredita que a mulher
possa pagar a dívida, nem mesmo executar o projeto, normalmente as mulheres não são
donas do lote, estes estão no nome do marido, e ela precisa de uma DAP acessória, que
fica alienada a adimplência do marido como já foi falado.
10% das mulheres associadas ao sindicato são mulheres chefe de família. Estas
conseguem tirar outros créditos como o FNO mais alimento, somente quando o lote esta
mesmo no nome dela tira um PRONAF B, dificilmente uma mulher irá conseguir
crédito maior. O banco tem a lógica de financiamentos voltados a atender
principalmente grandes empreendedores, que possam oferecer mais garantias de
pagamento.
A mulher chefe de família costuma ser também “mães – de - família”: acumulam
uma dupla responsabilidade, ao assumir o cuidado da casa e das crianças juntamente
com o sustento material de seus dependentes. A mulher é melhor pagadora que o
homem, as que conseguem o crédito não retiram o total de recursos disponíveis, pelo
contrário para garantir o compromisso assumido, de forma preventiva, deixa guardada
uma parte do dinheiro para poder pagar as primeiras parcelas. Normalmente as mulheres
chefes de família que conseguiram financiamento no mais alimento, por ser um
empréstimo de baixo valor, a mulher garante o pagamento da d ívida com os proventos
da aposentadoria, caso possua, da criação de galinhas, porcos, bois, para saldar a dívida
bancária.
“A mulher não tem praticamente nada no seu nome, talvez seu RG e CPF, porque
o lote fica no nome do marido na certidão de casamento a própria mulher não coloca
como agricultora, ela acha que só o marido é agricultor ela é dona de casa, por causa
desse jeito de pensar muitas associadas tiveram muitos problemas na hora de obter
benefício no INSS, se tudo está no nome do marido mesmo ela sendo agricultora rural
seu pedido é indeferido”. JIOVANA LUNELLI – Presidente do Sindicato dos
trabalhadores rurais de Brasil Novo.
Na pesquisa realizada no sindicato de Brasil Novo, constatou-se que as principais
dificuldades encontradas pelas mulheres para acessar o PRONAF Mulher ou qualquer
outra linha de crédito do PRONAF, se inicia pela documentação básica, pois é
necessário a mulher ter o lote em seu nome, ou então obter a DAP acessória, mas muitas
vezes essa DAP não é liberada, pois o titular do lote, o marido, está com a DAP titular
com parcelas atrasadas do financiamento. Esse endividamento familiar, contraído
exclusivamente pelo marido, na maioria das vezes é desconhecido pelas mulheres e
impossibilita seu acesso ao crédito.
Depois tem de fazer o projeto a ser financiado, o que acontece é que os agentes de
assistência técnica e extensão rural responsáveis por elaborar os projetos, muitas vezes
não são sensíveis a questão de gênero e acabam produzindo projetos de baixa qualidade,
e que não conseguem transmitir a real necessidade da mulher agricultora ao banco
financiador.
A realidade do PRONAF mulher em Brasil Novo, é que nenhuma mulher
conseguiu acessar o crédito, todos os projetos foram indeferidos, falta de credibilidade
da mulher junto aos agentes financiadores e a explicação do banco é que a mulher não
vai conseguir pagar a dívida ou executar o projeto como previsto, e em seguida recusam
o crédito sem mais explicações.
Esta realidade que observamos em Brasil Novo se estende para toda região
agrícola da Transamazônica conforme pudemos observar esta discussão no III Encontro
de Mulheres Agricultoras da Transamazônica realizado em Medicilândia em Junho de
2010. Este encontro que tinha como temática “Cidadania e direitos às Mulheres
Agricultoras” incluindo a discussão das linhas de crédito, contou com a participação de
mais de 100 mulheres de toda região e palestrantes discorreram sobre essa temática.
Observamos que a palestra que mais chamou a atenção das mulheres foi sobre o
PRONAF mulher ministrada pelo gerente do Banco da Amazônia de Altamira, o qual
apresentou uma consistente discussão sobre o PRONAF mulher e as dificuldades e
entraves que impediam as mulheres de acesso a esta linha de crédito.
As mulheres presentes neste encontro questionaram enfaticamente o gerente do
BASA e apresentaram as suas queixas e fatos concretos que impediram muitas delas,
que já haviam buscado obter esta linha de crédito, dentre as dificuldade mais
apresentadas foi a burocratização, a falta de informação e a imposição masculina sobre a
sua forma de acesso ao crédito. Assim, percebemos que o PRONAF mulher nesta região
ainda não passou do discurso que assegura a inserção do gênero no campo da
agricultura familiar, e que infelizmente ainda há muitos entraves a serem enfrentados,
um deles é a desburocratização desta linha de crédito e maior divulgação e orientação
para que as mulheres de fato cheguem a usufruir dessa política agrícola.
Concluímos que a inclusão efetiva da mulher na linha de crédito do PRONAF é
uma questão de justiça para com a trabalhadora rural que participa ativamente da
agricultura familiar, pois é necessário que se dê a visibilidade merecida ao seu trabalho
na agricultura familiar. Considerando que a mulher agricultora da Transamazônica
enfrentou e ainda enfrenta muitos obstáculos para produzir em sua propriedade, o
PRONAF mulher deveria, portanto ser mais acessível as suas destinatárias, e os bancos
deveriam conceder um pouco mais de credibilidade a essas mulheres, que vivem na
terra, e do que dela produz.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho foi realizado através do estudo bibliográfico sobre a agricultura
familiar no Brasil, articulado com a discussão sobre o papel da mulher agricultora no
contexto da Transamazônica. A princípio, foi realizada uma releitura dos autores que
definiram agricultura familiar, desta forma se fez necessário o levantamento histórico do
PRONAF.
O PRONAF como política pública representa um avanço sem precedentes que
reconhece a agricultura familiar como forma social de produção e de trabalho. Este
programa tem sofrido sucessivas modificações que hora ajudam, hora atrapalham os
agricultores, e para atender as demandas são criadas novas linhas de crédito, dessa
forma para contemplar as mulheres agricultoras foi criado o PRONAF mulher.
Na realização deste trabalho foram encontradas algumas dificuldades no sentido
de obter informações sobre o PRONAF mulher na região. Os bancos não
disponibilizaram dados quantitativos sobre as operações do PRONAF nos municípios
ao longo da Transamazônica, especificamente em Brasil Novo. Sabe-se apenas que
nenhuma operação de PRONAF mulher foi executada durante os cinco anos, poucos
projetos foram encaminhados aos bancos, porém nenhum aprovado, normalmente a
justificativa da instituição financeira era a inviabilidade econômica do projeto, ou que a
mulher não conseguiria levar o projeto a diante seguindo todas as etapas de execução,
além de não se acreditar que a mulher poderia pagar as parcelas em dia, com as
atividades produtivas escolhidas por elas.
A instituição financeira e o projeto produtivo tendem a ser vistos como local e
atividade de e para homens, o que dificulta de várias maneiras o acesso das mulheres ao
crédito, criando barreiras, tanto por parte dos agentes de crédito e seus representantes,
que em muitos casos não reconhecem a importância do crédito para as mulheres rurais,
por vezes as desqualificando para o mesmo, quanto delas próprias, que diante disto, se
não tem uma reflexão e amadurecimento sobre o sentido do que pretendem conquistar e
sobre seus direitos, tendem a não levar adiante suas iniciativas. LAURENTIS (1994).
De maneira geral no Brasil existe falta de apoio das associações e dos sindicatos
rurais às iniciativas das mulheres relacionadas aos projetos produtivos e para acessar o
crédito rural, pois tendem a priorizar os projetos dos homens. Mas o que se pode
constatar no município de Brasil Novo é que o sindicato tem estimulado a participação
política da mulher através dos sindicatos rural, por ser esta uma condição para que as
mesmas possam ter acesso ao financiamento. Verificamos que inúmeras são as
dificuldades encontradas pelas mulheres agricultoras, desde a documentação exigida
pelos bancos, dificuldade para conseguir a DAP e até a sujeição a escolha de atividades
influenciadas pelo marido. Poucas são as que conseguem acesso a outras linhas de
crédito como o PRONAF B, uma espécie de microcrédito que financia pequenas
quantias.
A partir da analise dos dados colhidos no Sindicato de trabalhadores e
trabalhadoras rurais de Brasil Novo, e das entrevistas com as lideranças e as mulheres
associadas, podemos concluir que nenhuma agricultora rural deste município conseguiu
acesso ao PRONAF mulher, apenas uma agricultora teve acesso ao microcrédito
PRONAF B, das dez mulheres entrevistadas, todas afirmaram que participam
ativamente da produção familiar inclusive de todo o processo de produção do cacau,
criação de gado e as demais culturas.
O acesso ao PRONAF por mulheres em Brasil Novo tem sido pouco significativo,
e nenhuma mulher acessou o PRONAF mulher. Para estas mulheres poder acessar
algum tipo de crédito traz a elas a possibilidade de mostrar a capacidade de gestão, de
poder produzir, gerar renda.
Reconhecer a mulher como agricultora é o primeiro passo para se tentar combater
a cegueira de gênero na produção rural e nas políticas públicas. Espero que este trabalho
venha contribuir com a discussão de políticas de crédito que contemplem as questões de
gênero na agricultura familiar, bem como incentivar outras ações que valorizem o
trabalho da mulher rural e suas iniciativas produtivas, na tentativa de mostrar os
entraves que dificultam o acesso dessas mulheres ao crédito agrícola e a seu
reconhecimento pela sua participação efetiva na unidade de produção.
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